"O dever do piloto de
caça é patrulhar seu setor nos céus e abater todo avião inimigo naquela área. O
resto não importa."
Manfred von Richthofen
O maior piloto de caças
militares de todos os tempos, o alemão Manfred von Richthofen, abateu 80 aviões
inimigos de seu país na 1ª Guerra Mundial. Suas principais máquinas de guerra
foram o Albatros e o triplano Fokker DR 1, que voava a até 165 km/h. Com ele,
Manfred ganhou destaque na Força Aérea Alemã e, quando foi nomeado líder de seu
esquadrão, pintou a nave com um vermelho brilhante para ser reconhecido de
longe pelos oponentes. Nascia assim o famoso apelido. Ao sobrevoar o norte da
França em 1918, o Barão Vermelho se desgarrou da esquadrilha para perseguir um
caça inglês e acabou sozinho em território inimigo, sob fogo duplo, vindo do ar
e da terra. Os britânicos comemoraram a morte do temido rival, porém
sepultaram-no com honras de herói de guerra.
Não importa a nacionalidade,
o conflito ou o número de vitórias, ninguém se iguala à sua fama na História da
Aviação Militar. A lista de grandes ases existentes é gigantesca mas, com
certeza, não só podemos dizer que nenhum deles têm o mesmo apelo que o jovem
prussiano, mas também que ele foi a sua principal inspiração. Mas quem era esse
homem que, há quase noventa anos atrás, tornou-se a primeira lenda da aviação e
era chamado pelos seus adversários como o "Barão Vermelho"?
Manfred von Richthofen é um
desses heróis cuja vida parece tirada de um roteiro de filme. Disciplina,
orgulho, habilidade para caçar, espírito nato de liderança e patriotismo
teutônico eram características que, combinadas neste homem, elevaram-no ao um
patamar de fama que ultrapassou sua própria vida. "Maldito seja você,
Barão Vermelho" freqüentemente rosnava o personagem Snoopy, nos desenhos
animados da "Turma do Minduim". Longe de ser um personagem de tira
cômica, Richthofen foi o mais eficiente piloto de caça da I Guerra Mundial,
metodicamente derrubando pelo menos 80 inimigos, antes dele mesmo tombar em um
desfecho típico das óperas de Wagner.
O
Barão Vermelho tinha a alma sombria
A cintilante luta aérea das
trincheiras lamacentas da Primeira Guerra Mundial, um avião se destacou com a
cor mordaz e desafiadora de Marte e o nome de Manfred von Richthofen
(1892-1918), o Barão Vermelho, o piloto de combate mais famoso de todos os tempos.
A sua lenda o transformou, além de uma das figuras mais emblemáticas do
conflito que comemora o centenário do seu início, em um paradigma de piloto de
caça cavalheiro, tão temido quanto admirado e respeitado por seus inimigos. No
entanto, e como só acontece com os mitos, há grandes rachaduras na
personalidade real do famoso piloto, campeão dos céus na Grande Guerra, com 80
vitórias confirmadas. Agora, a publicação, na Espanha, de suas memórias de
guerra "O avião vermelho de combate" (Macadán) e de uma extensa
biografia de 600 páginas (Almuzara), do entusiasta J. Eduardo Caamaño, que
mergulhou na monumental bibliografia sobre Von Richtofen - especialmente nos
livros do grande especialista Peter Kilduff - para colocar à disposição do
leitor um relato completo da sua vida e aventuras (inclusive as listas e as
coordenadas das suas vítimas e desenhos dos aviões que pilotou e derrubou), que
permite observar um indivíduo em toda sua dimensão, com facetas inquietantes,
desagradáveis e hostis.
O retrato real de Manfred
von Richtofen é o de um jovem (começou a carreira de piloto de caça aos 23 anos
e encerrou da pior forma, com a morte, aos 25), militarista, arrogante,
ambicioso e muito mais cruel do que a sua reputação sugere. Muita arrogância,
sede de glória, coragem e técnica e muito pouco de humanidade ou compaixão.
Para o Barão Vermelho, cuja imagem ensanguentada cortando os céus era a última
coisa que muitos rivais viram, voar significava a extensão dos prazeres da caça
terrestre de animais, pela qual era fanático desde criança. No ar,
transformou-se com muita alegria em um falcão implacável, a joia escarlate no
poleiro do Kaiser.
Nem em seu livro - escreveu
apenas outro, um manual de combate, Reglement für Kampfflieger - nem nos
relatórios ou nas cartas encontramos a sutileza, a reflexão, a comiseração, a
poesia ou a literatura, dos grandes pilotos de guerra escritores como Salter,
Richard Hillary - autor de O último inimigo - ou Saint Exupéry.
"Sou um caçador por
natureza", escreve Von Richtofen no O avião vermelho de combate.
"Quando derrubo um inglês, minha paixão pela caça se acalma por pelo menos
quinze minutos." É difícil conciliar esse comentário frívolo à realidade
dos aviadores, uivando em suas quedas desesperadas enquanto são consumidos como
tochas em seus aviões incendiados. E o Barão acrescenta: "Caçadores
precisam de troféus." Assim justifica um de seus costumes - além de matar
pessoas - que mais causa aversão: sua obsessão por recolher ou arrancar
elementos dos aviões que derrubava, metralhadoras, pás de hélices e
especialmente os números de identificação que arrancava como terríveis
lembranças das suas vitórias. Com eles, decorou um quarto na sua casa. Alguém
pode se perguntar como conseguia se sentir confortável sentado ali, entre
recordações do destino fatal de tantos aviadores, e não perceber o espectro da
morte que também o assombrava. Quando o derrubaram - já convertido em lenda -,
em uma assustadora imitação do seu costume, as mãos ávidas dos soldados aliados
arrancaram lembranças da sua máquina voadora e do seu corpo inerte, inclusive
as suas botas. Desde a sua primeira morte, Von Richtofen encomendou em um
joalheiro uma taça de prata, uma para cada inimigo abatido.
Certamente, ver tantas
mortes ao seu redor, e mesmo a sua, tão próxima, começaram a transformá-lo.
Escreveu, então, um breve texto, Gendanken in unterstand, Reflexões no meu
refúgio, não publicado até 1933 - como parte do seu livro -, no qual aponta que
pensa em escrever uma continuação do O avião vermelho de combate, cujo tom já é
mais insolente, em que explica que a guerra não é tão divertida, nem heroica,
mas um assunto "muito sério e triste." Confessa que sente angústia
cada vez que volta de um combate e a vida parece sombria. Nesse crepúsculo,
mais digno e humano, é onde brilha de verdade a luz do Barão Vermelho.
Avião
pequeno e ágil
Richthofen foi também um dos
primeiros a pilotar um triplano Fokker, que estreou nas frentes de batalha no
outono europeu de 1916. Era um avião de caça pequeno, tendo como principal arma
sua agilidade e velocidade de decolagem. Em manobras, era impossível colocá-lo
em mira, mas, se seguisse um rumo fixo, tornava-se alvo fácil. Foi isso o que
provavelmente acabou com Richthofen.
A Força Aérea alemã perdeu
7.700 pilotos na Primeira Guerra Mundial. Réplicas do triplano Fokker (que Von
Richthoffen havia mandado pintar de vermelho para provocar seus adversários)
estão expostas na maioria dos museus de tecnologia e aviação do mundo.
"Manfred von Richthofen" virou nome de esquadras, quartéis, praças e ruas
no país.
Carreira
curta
O Barão construiu sua
reputação destruindo inimigos entre 1916 e 1918 Manfred passou o início da 1ª
Guerra, em 1914, na cavalaria, fazendo reconhecimento de território. Em 1915,
conseguiu transferência para a Força Aérea. Depois de treinar como observador e
bombardeador, estreou como piloto em 1916.
Último
solo
Manfred von Richthofen
morreu em combate, às vésperas de fazer 26 anos
1.
Manhã de 21 de abril de 1918. O Barão treina seu primo mais novo, Wolfran, para
futuros combates quando se depara com uma patrulha de cinco aviões Sopwith
Camel da RAF, a Real Força Aérea britânica
2. Com
a briga iniciada nos céus, tropas entrincheiradas dos Aliados - inimigos dos
alemães - observam o Barão em perseguição a um de seus caças, pilotado pelo
tenente Wilfrid May. Quando o Barão se prepara para atacar, outro Camel, guiado
pelo capitão Roy Brown, mergulha para interceptá-lo
3. O
Barão Vermelho dispara várias vezes e o canadense Wilfrid May escapa com
manobras em ziguezague. Enquanto isso, o Fokker vermelho é abatido por tiros
disparados por Roy Brown e pela artilharia terrestre
4. O
corpo de Von Richthofen é examinado por uma junta de médicos Aliados. A causa
da morte é uma bala vinda das trincheiras. O projétil entrou abaixo da axila
direita e subiu pelo peito, causando danos mortais ao coração e aos pulmões
5. A
RAF reconhece o inglês Roy Brown como quem derrubou o maior ás da 1ª Guerra,
mas o artilheiro australiano Robert Buie reivindica ter feito o disparo. Após
uma reconstituição feita em 1998, o verdadeiro autor do tiro é revelado: o
australiano Cedric Popkin, que morreu sem saber da proeza.
Herói
Homenageado até pelo Inimigo
Depois de uma licença no
Natal de 1917, que passou caçando com o irmão Lothar na floresta de Bialowicka,
von Richthofen retomou definitivamente sua carreira de piloto de caça, mas
mantendo o "espírito esportivo". Quando ele abateu o 2nd Lieutenant
H. J. Sparks - sua 64ª vitória - ele enviou para o inglês hospitalizado, uma
caixa de charutos.