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domingo, 8 de fevereiro de 2015

A lenda da origem do povo Inca.



As origens do povo inca são particularmente obscuras e a lenda leva a melhor sobre a História. E a lenda tal como a consignou o cronista peruano Garcilaso Inca de la Veja, autor de Comentários reales, publicados em Lisboa em 1609, relata que aquele que será o primeiro soberano inca, Manco Capac, os seus irmãos e as suas irmãs brancos, saíram de Paracec-Tambo, (a caverna do futuro, no primeiro dia em que o sol tomou lugar no céu). Eis por que se chamavam Churi-Inti, os filhos do sol; adoravam e veneravam o Deus-Sol como seu pai. O primeiro inca teria, pois sido Manco Capac, esse semideus branco que tinha por esposa a sua própria irmã, Mama Ocllo Huaco. E a lenda apresenta:

Chegaram ao vale de Cuzco. Sobre a eminência que tem hoje o nome de Huanacauti, o Inca  plantou no solo o seu bastão de ouro; no mesmo instante, o bastão mergulhou na terra e desapareceu. O Inca disse: “Nosso pai, Inti (o Sol servo de Viracocha o grande deus branco criador do esplendor original), ordena-nos que fiquemos neste vale, que aqui nos estabeleçamos e reinemos...” Partindo de Huanacauti, desceram ao vale, o príncipe para norte, a princesa para sul. Assim que os homens viram os dois incas cobertos de magníficas vestes e que pelas suas palavras e pela sua pele clara os reconheceram neles. O inca ordenou aos homens que cultivassem o campo da comunidade, para evitar que a fome os expulsasse de novo para a floresta; a outros, ordenou que construíssem choupanas e casas, e foi assim que povoou a nossa cidade real. Pelo seu lado, a rainha ensinou as mulheres a fiar e a tecer.

O povo , esse é governado com mão de ferro. No reino, não há dinheiro nem comércio. O trabalho é distribuído e remunerado em gêneros, pelos governadores. As colheitas, as ceifas, tudo pertence ao Inca, que tudo divide em três partes: uma para ele, outra para o Deus-Sol, outra para os camponeses. Estes não podem possuir tecidos finos, nem a mínima parcela de ouro. Não há trégua nem repouso para o agricultor: mal termina o trabalho nos campos, tem de passar para a construção ou manutenção das estradas, ou ainda à das fortalezas.


Os etnólogos, esses, sustêm, na sua maioria, uma tese de que os Incas de pele clara, como se afirma na lenda não teriam sido os primeiros habitantes do Peru. Tanto mais que falam uma língua que os indígenas não compreendem. Talvez fossem sobreviventes do cataclismo que, quase no florescer da humanidade, aniquilou um continente inteiro. Em todo caso, uma coisa é certa: existem mais do que simples analogias entre certos vocábulos de raízes quichas, utilizados pelos incas e palavras de raízes indo-europeias.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

A Lenda da fundação do Camboja, berço da civilização Khmer.


Há muitíssimos séculos, o Camboja era um deserto de areia e de rochedos; não se via o mínimo traço da mais  pequena gota de água, não se ouvia o leve rumor  do mais pequeno riacho. Por todo o lado, enormes montanhas, semelhantes a feras acocoradas, eram calcinadas por um sol ardente. Por vezes, ventos terríveis varriam a terra e engolfavam-se pelas estreitas passagens abertas entre as montanhas, erguendo tornados de poeira. As falésias, pouco a pouco escavadas por estes turbilhões rugidores, abriam-se em cavernas, que imediatamente se enchiam de areia. A própria areia modelava as montanhas, dando-lhes a forma de um leão rugidor ou de uma rã prestes a saltar, esculpia as agulhas entre as quais brincava a luz.

A natureza parecia artificial, demasiado estranha para ser verdadeira. Um dia, dois olhos secos de lágrimas, cobertos por longas pesanas, vagos e desprovidos de sensibilidade, dois olhos que podiam ser os de um cadáver, contemplaram esta paisagem aterradora. Tinham seguido uma pista sem fim, tinham visto inúmeras paisagens, do mar à neve, mas jamais tinham contemplado uma natureza como aquela. Talvez fossem os olhos de um ser humano, talvez os de uma alma sem corpo. Por fim, pela primeira vez desde que abandonara o seu país natal, um sorriso apareceu nos  seus lábios finos e descoloridos. Kambu Svayambhuva tinha finalmente chegado ao termo da sua peregrinação, à terra  onde desejava morrer; a vida era-lhe  demasiado pesada desde que perdera Mera, a mulher que Shiva, a terceira pessoa da Trindade hindu, lhe tinha dado.

Kambu chegou a um vale dominado por rochedos de formas fantásticas e viu m estreito trilho que conduzia a um buraco aberto numa falésia. Entrou numa gruta escura, cujas paredes estavam cobertas de humidade. O sol, a despeito de todo o seu poder, não chegava até ali. Olhou em torno. Estalactites e estalagmites formavam colunas polidas. Acendeu um archote, avançou pela caverna e não tardou em chegar junto de um lago subterrâneo. Deslizou por uma estreita passagem, depois visitou um caos de pedras enormes, por entre as quais murmuravam riachos subterrâneos. A vida, no entanto, não estava ausente dali. Kambu distinguiu incontáveis serpentes, cujos olhos o fixavam. O príncipe era corajoso. Em vez de fugir, puxou da espada e avançou, de arma na mão, para a maior das serpentes, quando esta, para seu grande assombro, se pôs a falar;

---- Quem és tu estrangeiro, que ousas penetrar nas cavernas dos Nagas, os senhores deste País?

----  Sou Kambu Svayambhuva, rei dos Arya-Desha. A minha esposa chamava-se Mera, a mais bela de todas as mulheres. O próprio deus Shiva tinha-me dado. Deixou este mundo, e eu abandonei a minha pátria para morrer no deserto mais selvagem que pudesse encontrar. Acabo de encontra-lo. Agora, podes matar-me.

Esperou a morte com calma, mas, em vez de esmaga-lo entre os seus anéis, a serpente falou novamente:

---- Não conheço o eu nome, estrangeiro, mas falaste de Shiva. Shiva é o meu rei, e eu sou o rei dos Nagas, as serpentes gigantes. Pareces-me corajoso. Fica conosco, neste país que escolheste, e põe fim ao teu desgosto.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

The Second Sphinx Theory




Dream Stele 

After Cheops came Khephren (2020 BC.) and built the second pyramid on Giza Plateau which from one spot appears higher than the Cheops pyramid, but this is due to it being built over a higher plateau.

The causeway and tomb entrances were always protected by double sphinxes flanking the entrance. Consequently, there is a great chance that there was, or is, another sphinx parallel to the one which exists today, only in very poor condition due to air pollution and underground water erosion.

I here offer my humble theory that there is a second sphinx, located on the other side of the causeway.


On the internet, a radar image of the Giza plateau was downloaded which benefits the Second Theory. The process was named SIR-C/X-SAR imagery works by NASA. Simply stated, it is a colored analysis of the different geological layers of the Giza Plateau and its constructions, those layers which are toward the Southside of the existing sphinx across the causeway, reflect a yellow signal indicating the existence of a structure. This radar  signal is normally received in the form of pulses at particular microwave wavelengths in the range of I cm to I m, which in turn corresponds to a frequency range of about 300 MHz to 30 GHz and polarizations. The echoes are converted to a digital data which then is displayed as an image. This image is composed of many dots or elements of a picture, each represents the radar back scatter for a particular area on the ground. In our case it is the remaining of the "Second Sphinx."

I firmly believe its existence is conspicuous beyond the shadow of a doubt. I believe it lies buried under the sand, its suffocated and dilapidated remains not rivaling the state of preservation of the existing sphinx. Perhaps it was not buried throughout time as the existing one, which aided in its destruction. If we were to calculate its measurements, aided by newly excavated ruins, we should find it to be 66 feet high, 240 feet long, the mouth 7 feet 7 inches, the ears 4 feet 6 inches and the nose 5 feet 7 inches. Exactly the same typical measurements of the existing sphinx. The second sphinx is mind boggling in its simplicity and common sense.

I here offer you the research that aided in the discovery of this new theory:

In the Egyptian Museum there is a stela called the "Inventory Stela", which proves that Cheops saw the sphinx and it also mentions that lightening struck the tail of the nemes headdress of the sphinx and destroyed it. To the south the lightening also burnt a sycamore tree. The area between the sphinx and the tree is empty today (I believe this is where a second sphinx lays buried), it could have also been struck by the same lightening causing it great destruction.


Horus sphinxes at Edfu.

The scene symbol of the word "Hill" or mound and/or pyramidal shaped construction is  or . According to the ancient Egyptian cult which rose up from Heliopolis (a suburb in northern Cairo today), the god of creation commenced his deeds from this spot. The Priests of the chief temple of the sun wrote the basic text which all religious texts came to depend upon. Pyramid texts, sacred utterances and religious doctrines were al developed from the concept of creation. The complete one, "Atum" (the high god) rose up as a high hill like the solar disk. In utterance 600 it says, "O Atum, when you came into being you rose up as a high hill, you shown as the ben ben stone in the temple of the phoenix in Heliopolis." The primeval mound (the mound of the first time) took many forms and shapes, for example,  and that is the shape of the so-called "Mastabah tomb" , also  which is the shape of the step pyramid or any pyramid before it is outer cased with a smooth layer.



If we return to the Heliopolitan cut, the first two gods that Atum created were Shu and Tefnut. They were in the form of two lion cubs. Atum the sun enriched the scene with his light as before he rose up from the waters of the primordial ocean (called Nun) there was nothing, there was darkness. So yesterday was darkness. By creating the two lions, Atum became "one lion and two lions". He became identified with the protective force that the lion represents. Equally the two lions became associated with the sun the strong fierce burning power that it is. This makes sense from a practical point, as astronomy, the zodiac sign, "LEO" always dominates in the summer when Atum, the sun, is in his best form, able and burning. Also, it is the time of the flooding of the Nile and from here came the relationship between the lion and fertility. In one sentence when the lion appears in the sky (as Leo) the black land will be visited by the water of the flooding to fertilize the green land.(symbolically , it is the resurrection of the dry land. once the sun sets it begins its journey of the under world , the voyage from west to east. This is brought about by the two lions, the one on the west holds the sun between his jaws and passes it to the second lion situated in the east who pushes it to the sunrise. The rebirth of the sun needed essentially two lions to accomplish the mighty divine reappearance . They were called yesterday and today . Ancient Egyptian artisans and priests always drew and depicted them guarding the two primeval mounds connected with each other forming the sign of Aket fig7.gif (1205 bytes) which with the sun in the middle forms the hieroglyphic word for "horizon" . That is where the shrine of the GOD was situated . The sun between the two lions flanking the two hills are yesterday and today waiting to transport the sun with their jaws from the west to east . They were also responsible for guarding the eastern and western boundaries. .The sun is heading toward the edge of the world was the same sign in hieroglyphics fig1 which if repeated on the other side fig7 forms the Akh horizon scene . If we assemble all the previously mentioned information and correlate it with the historical topographical scene of the Giza Plateau, we will find a wonderful surprise . A surprise , who's positive fascination with the truth I hate being away from . If you stand today facing the sphinx there are behind it the three pyramids of ,(from right to left ), khufu (Cheops), KHA-F-RA (Chephren), Min-kaw-ra (Mycerinus) you will be able, with no difficulty to identify the following:

Two hills or pyramidal shaped constructions, similar in height and size and connected by a land valley. So it must be the two pyramids of khufu and kha-f-ra , as the height of khufu is 146 meters while kha-f-ra is 143,5 meters high, almost identical in height . If we measure the side of these two pyramids we find Khufu to be 230 meters and Kha-f-ra is 214.5 meters. Bearing in mind the weathering and erosion, these two pyramids could easily, from a distance be alike in everything including size . Respecting the fact that you cannot appreciate the similarity and resemblance unless from a distance. The perfect spot for this is facing the existing sphinx.

A bird s eye view of the second pyramid complex will confirm that the causeway coming from the mortuary temple to the valley temple had to diverge its path to the south to avoid the already existing sphinx. The causeway ends in the valley temple, opening into its north side, not into its middle, as usual. The workers were trying to avoid another sacred untouchable statue on the south side, which is the vanished sphinx. If we consider the sphinx temple and the valley temple. We can deduct that both temples are similar in design, height, square weathering, erosion and time destruction. This suggests that it was one temple dedicated to the belief of the Horizon, the shrine of the God. When the vestibule came, it divided it into two equal temples, each one dedicated to one lion of Ruti, which is according to Ani's papyrus, meaning yesterday and today. Bear in mind that the pink granite which walled up some parts of the valley temple took place later in time, decades after the temple construction. This fact is proven beyond a shadow of a doubt when you notice how the granite is embedded in the cavities caused by time and weathering. So, if there are two mounds, two temples denoting the two boundary edges of the world on the east and west and two shrines of the god (sphinx temple) and one temple is protested by a recumbent lion sphinx, why then is the second shrine of the god (valley temple) not protected and guarded by having a sphinx behind it? Why ? Remember Atum, the sun appears between the two pyramids on a certain day with a certain angle. The "Aker" scene depends, in addition to its religious connotation, on its artistic harmony and a very symmetrical nature. If you draw a line in the middle, it works like a mirror reflection. "Aker" is often depicted as two lions bodies with human heads (similar to the head of the sphinx) opposite each other or with lion heads which is what I think the sphinx was before it was re-carved into the head of a pharaoh. This would explain why the human head of the sphinx is small in comparison to the body of the lion. Ancient Egyptians never would fall into such a native mistake of ratio and proportion. I believe it was harmonically correct with the body size originally and later carved into the head of a human (the pharaoh).

Religious texts say, "Hail, Atum I am the double lion." , Also "The accustomed offering cake is still yours, O Atum and double lion! You two that have created your own divine selves and powers! This is Shu and Tefnut, the pair who engendered the gods and put them in their proper places". The double lion is a manifestation of Shu and Tefnut. There are, I believe, two sphinxes of Giza, one on each side of the causeway.

The ancient Egyptians never protected one entrance, or any sacred temple or tomb, from one side only. That would be against:

The common sense of the idea of protection.

The double lion theory of RUTI

One side of the shrine of Atum would be exposed to danger.

The two lions who are symbolic of yesterday and today protecting the pyramid.
If only one exists that means that the time is not complete. If there is only today and there is no yesterday the cult is incomplete. How would he explain the emergence of Atum from the primeval ocean of Nun in the time of yesterday? Yesterday was dark and when Atum came he brought light, if there was no darkness (one lion only) then how can light be appreciated, also, how would we appreciate Atum himself in the cult if he came with no positive impressive entry. Simply, if there was no yesterday then today is like any day, not highly special. Moreover, the two lions in the collection of the "spells of coming forth by day," Reu Nu pert em-hru" which was wrongly interpreted by Richard Lepsius in 1842, when he published the Turin Papyrus and gave it the name "The Book Of The Dead", are symbolic of Osiris and Ra and sometimes Atum. The absence of one of them spells chaos, crisis and a great disorder. "Mine is yesterday, I know tomorrow".

If the sun critically needs two lions to take it from the west to east, and as our present day sphinx sits exactly in the border line between the desert (no life) and vegetation (life), then how will the journey of the eternal rebirth of the sun be completed and unmistakably accomplished if there is only one lion? who will take care of its transportation from the west to the aim?. Reaching the target of the resurrection of the sun is impossible, unless there are two lions.

The two sides, profile lions flanking the "Aket" horizon are the two sphinxes behind the sphinx temple symbolizing the western boundary and the valley temple symbolizing the eastern boundary, where the sun will be resurrected just as the land turns green in the valley due to the rich Nile flooding. The ancient Egyptian artists believed in the profile and seldom used the full face. So, if we full face the two lions of the scene, illustrating the theory, you will see exactly two lions flanking the causeway dividing the one temple into two for the cut purposes. In the background two pyramids, Kha-f-re's pyramid base is carved from the bed rock to give us the scene of the primeval mound  then the solar disk comes between to complete the immaculate the scene of the "Reu No pert emhru", "Spells of the coming forth by day" which was we know depends on the coffin texts which in turn came originally from the pyramid texts. If you notice in ancient Egyptian art, it always depends on the harmony between the ratio and the proportion of the scene. The forms must be symmetrical. The final result which is produced after a great effort and combining forces of the priests to select a special text, the artist in development of the accompanying scene to fit it must be harmonious. In the case of repetition it means multiplicity. For example, if there is Isis as a falcon on one side of the scene, parallel to it, equal in size and perfectly similar but for the head crown which distinguishes between one deity and the other, is the second Isis. In sculpture, always a double dogma dominated the religious construction. The double avenue of ram headed sphinxes of Ramses II in Karnak or that of the human headed sphinxes of Necta Nebo in Luxor temple. Two seated statues flank the entrances of temple. One side is always equal to the other. Thus, far no excavation has shown us otherwise.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Balaão, o profeta exortado por uma jumenta!



Bíblia Sagrada; Livro de Números, capítulos 22-24.

Os israelitas partiram e acamparam nas planícies de Moabe, a leste do rio Jordão e na altura de Jericó, que ficava no outro lado do rio.

O rei de Moabe, Balaque, temia uma invasão dos israelitas às suas terras. Por isso ele mandou chamar o profeta Balaão e ofereceu muitas riquezas, para amaldiçoar o povo de Israel.

Balaão ficou tentado por causa das riquezas que ele iria receber, mas Deus não deixou que o povo fosse amaldiçoado. Mas por causa da insistência de Balaão em se encontrar com Balaque, Deus permitiu que ele partisse para falar com Balaque.

No dia seguinte Balaão se aprontou, pôs os arreios na sua jumenta e foi com os chefes moabitas.

De repente, o Anjo de Deus se pôs na frente dele no caminho, para barrar a sua passagem.

Quando a jumenta viu o Anjo parado no caminho, com a sua espada na mão, saiu da estrada e foi para o campo.

Aí Balaão bateu na jumenta e a trouxe de novo para a estrada.

E o anjo apareceu mais duas vezes, fazendo a jumenta parar. E Balaão ficou com tanta raiva, que surrou a jumenta com a vara. Aí Deus fez a jumenta falar, e ela disse a Balaão:

— O que foi que eu fiz contra você? Por que é que você já me bateu três vezes?

Ele respondeu: — Foi porque você caçoou de mim. Se eu tivesse uma espada na mão, mataria você agora mesmo!

Então a jumenta disse a Balaão:

— Por acaso não sou a sua jumenta, em que você tem montado toda a sua vida? Será que tenho o costume de fazer isso com você?

— Não — respondeu ele.

Aí Deus fez com que Balaão visse o anjo, que estava no caminho com a espada na mão. Balaão se ajoelhou e encostou o rosto no chão.

Então o anjo de Deus disse: — Por que você bateu três vezes na jumenta? Ela me viu e se desviou três vezes de mim. Se ela não tivesse feito isso, eu já teria matado você.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O rei Dom Afonso Henriques, fundador de Portugal.



D. Afonso Henriques, nascido por volta de 1109, era filho do Conde D. Henrique de Borgonha e de sua esposa, D. Teresa. Pelo pai, era neto do Duque Henrique de Borgonha e trineto de Roberto II, Rei de França.

Sua mãe era filha ilegítima de Afonso VI, Rei de Leão e de Castela. Este confiara ao genro o Condado Portucalense, que se estendia do sul do Minho às proximidades do Tejo.

Sucedendo a seus pais no governo do Condado Portucalense (em 1130), o jovem D. Afonso Henriques empenhou-se em fazê-lo independente, por meio de repetidas lutas contra Afonso VII, que sucedera a Afonso VI no trono de Leão.

Desde então começou a intitular-se Rei de Portugal. Afonso VII reconheceu-lhe esse título em 1143, na conferência de Zamora, à qual assistiu o Cardeal Guido de Vico, Legado do Papa Inocêncio II.

Para esse resultado concorreu o juramento de vassalagem que D. Afonso Henriques havia prestado ao Papa na pessoa do Legado, talvez ainda antes da conferência.

Na carta de enfeudamento que escreveu a Inocêncio II nesse mesmo ano, prometeu o tributo anual de quatro onças de ouro, com a condição de gozar da proteção pontifícia para si e seus sucessores, e não reconhecer nenhum outro senhorio espiritual ou temporal além do Papa e seus legados.

Devido a reclamações de Afonso VII contra esse enfeudamento, só em 1179 Alexandre III reconheceu D. Afonso Henriques como Rei, tomando a ele e a seus sucessores sob a proteção da Cúria Romana.

A paz com os leoneses permitiu ao novo Rei prosseguir a cruzada contra os mouros. Em 1147 liberta Santarém e Lisboa, esta com o auxílio de um grande exército de cruzados que seguia para a Terra Santa.

Depois toma os castelos de Sintra, Almada e Palmeda, a praça de Alcácer do Sal (1158), Évora e Beja (1159). Perde estas duas últimas cidades, e as retoma em 1162.

Em 1165 e 1166, Giraldo "Sem Pavor" conquista Trujillo, Cáceres, Serpa e Juromeña para o Rei de Portugal. Em 1184, tendo o Rei 90 anos de idade, sua chegada a Santarém bastou para pôr em fuga os infiéis que ameaçavam a cidade.

D. Afonso faleceu em 1185, tendo reinado 57 anos. Foi casado com D. Mafalda de Sabóia.

Além de guerreiro consumado, foi "político enérgico e tenaz, que bem conhecia os meios de se afirmar e vencer", como escreve um historiador.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Marcha Fúnebre (Madrugada do Espírito,1931)



O mundo moderno perdeu o senso puro da alegria. Porque confundiu a alegria com o prazer. E tendo esgotado todos os prazeres, caminhou para a morte e o aniquilamento.

A liberdade política transformou-se em liberdade moral e essa criou a liberdade dos instintos. O subconsciente cresceu sobre o consciente e clamou pelos seus direitos. Era o mundo ignorado, o segundo plano confuso e impreciso que se trans¬portava ampliando-se como uma escuridão que avulta sobre a inteligência.

Proclamada a libertação de todos os limbos desconhecidos, entrou pela alma do homem moderno o tropel alucinante das formas de pensamento, em estado de elaboração, fantasmal e trágico. O mundo subconsciente (caos gerador ensaiando as expressões em lineamentos disparatados como fetos informes e monstruosos) veio dominar o sentido da vida contemporânea com a violência de forças brutais desencadeadas.

Forças sem governo, forças desordenadas, heterogêneas, sem direção. Forças telúricas do mundo interior, amorfas, nebulosas, de ritmos fragmentários, dissociantes.

* * *
O fenômeno que se dera com as antigas civilizações arra¬sadas pelos bárbaros repetiu-se de maneira inversa, dentro do próprio homem. Pois todo esse caos que a consciência disciplinava era contido pela pressão de uma força exterior dominadora. O século da máquina virou a alma pelo avesso, porque, tendo-se esta libertado do que se denominou o "terror cósmico", que mantinha o equilíbrio contendo a deflagração das energias interiores, viu-se, subitamente, dominada pelos estranhos duendes larvais, dos instintos desenfreados.

A alma foi invadida pelos hunos dos seus próprios recessos...

A isso fora o homem levado pela sede de liberdade. Essa liberdade chegou às suas últimas conseqüências. E de tal forma, que o pobre títere humano perdeu o sentido dela.

O homem já não sabe exatamente o que significa ser livre.

Pugnando pela progressão infinita do direito de se afirmar e de agir, acaba negando a própria personalidade e adotando o senso do coletivismo, aceita a subordinação do indivíduo à feição de um grande todo social.

Esse mesmo homem, que ergueu audaciosamente a cabeça para negar a metafísica, e substituiu a teologia pela crítica, o espiritualismo pelo materialismo, o sentimento da disciplina pela utilidade da disciplina, foi prosseguindo de tal forma que acabou por aceitar uma nova metafísica, criando o deus-coletividade, o misticismo da negação, o cativeiro social em nome de uma coisa tão vaga como o paraíso sonhado e uma humanidade mecânica.

* * *

De sorte que o homem moderno retornou ao estado de espírito anterior ao monoteísmo e à revelação cristã, para viver apavorado diante dos elementos. Pois, se hoje já não treme diante dos trovões e dos raios começa a tremer e vai até ao delírio, sentindo o rumor "freudiano" do seu subconsciente em tropel, que ele procura decifrar através da psicanálise, como outrora os povos primitivos procuravam conhecer o mundo ex¬terior através dos seus sortilégios e superstições.

E, do mesmo modo que o troglodita recuava apavorado diante de uma tempestade, o "gentleman" recua hoje atordoado diante do seu próprio complexo, que é tão grande ou tão pe¬queno, ou pelo menos tão incondicional à inteligência, como as complexas nebulosas no infinito do tempo e do espaço.

* * *

Quem ouvir um marxista, dos mais conhecedores da sua doutrina, discorrer sobre a teoria dos movimentos e das relações da matéria, sobre os processos dialéticos, sobre a concepção evolucionista da natureza, ficará pasmado diante das abstrações a que a sua inteligência é conduzida e dos planos metafísicos em que o raciocínio vai agir, usando da mesma força criadora com que o homem da caverna, perdida a luz da graça, ideali¬zava os seus primeiros deuses. E quem atentar melhor sobre os sentimentos que animam o prosélito de Marx, verificará que esse sentimento, analisado à luz crua da crítica, tem muito de misticismo e até de feiticismo.

É o homem, de novo, sob o domínio do terror, que pre¬cedeu o monoteísmo e o cristianismo e de onde se originou todo o pavor do infinito.

Tal é o fundo espiritual desta civilização, que finge desde¬nhar do problema da causa e do fim. Essa a expressão do burguesismo libertário, do capitalismo científico, do anarquismo e do socialismo.

* * *

O equilíbrio do Homem e do seu "sentimento do Universo" provinha exatamente do equilíbrio entre as duas forças, uma que está dentro, outra que está fora de si.

Anulada uma, desaparecida a pressão exterior, rompe-se o equilíbrio e efetiva-se o desdobramento dos planos interiores. É o mundo dos instintos, são as formas larvares do pensamento, que passara a dominar sobre o homem moderno.

Esses espectros de ideias conduzem o homem contemporâneo à interpretação errônea da alegria e do sentimento do prazer e da dor.

Tudo se indefine. O prazer passa a ser uma forma de sensação, sem limites bem traçados com a dor. É uma dor bastarda, como afirmaria um notável escritor brasileiro. E, como todos os planos morais, estéticos e políticos se baseiam na concepção do bem e do mal do agradável e do desagradável, do útil e do inútil, do feio e do belo, e uma vez que o mundo caótico dos instintos estabeleceu o tumulto crítico, a Humanidade vai hoje caminhando sem disciplina, entregue a essas forças bárbaras que arrastam a todas as degradações e a todos os crimes.

* * *

Não admira que se afirme que a moral é um ponto de vista. Não admira que se dê hoje ao amor entre o homem e a mulher uma finalidade puramente egoísta. Não admira que se queira anular a personalidade em nome do individualismo. Nem que se queira fazer uma coletividade infeliz, em holocausto a uma pura ideia abstrata, a uma pura concepção ideal de coletividade feliz. Nem, ainda, que se persigam as religiões em nome da liberdade. Que se venham mais tarde a perseguir os próprios indivíduos que clamarem pela liberdade, em nome dessa própria liberdade. Que se atente contra a afirmação integral do amor entre o homem e a mulher, em nome da liberdade do prazer. Que se negue o direito dos pais, em nome da justiça social e dos interesses de uma ideal coletividade. Não admira ainda que se suprima a propriedade em nome dos próprios direitos da propriedade, como faz o capitalismo, como pretende fazer o comunismo. Nem espanta que desapareçam todas as garantias da lealdade e da honra, quando todos estão certos que a moral não passa de um ponto de vista.

É que o Homem perdeu o senso do equilíbrio. E, perdendo esse equilíbrio, torna-se um instrumento imperfeito de interpretação do Universo e dos seus fenômenos.

* * *

Estamos vivendo o grande período humano da confusão. E, nesse estado de espírito, o Homem é triste. Profundamente triste. Todas as suas barulhentas expressões exteriores não passam de dissimulações.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Anasazi, “a tribo dos antigos”.



Chaco Canyon, Chetro Keti, Grande Praça Kiva (National Park Service). Imagem: Obiviousmag.

            Os Anasazi eram um antigo povo indígena do sudeste norte americano que viveram apartir do ano 1.200 a.C. e desapareceram repentinamente por volta de 1300 d.C. Este antigo povo desenvolveu uma civilização complexa de grandes comunidades inter-relacionadas. Os Anasazi evoluíram de nômades, que viviam em habitações temporárias, até se tornarem agricultores. Com o tempo, criaram enormes construções de pedra com algumas de até cinco andares e moradias em penhascos. Não se sabe o que os levou a abandonar tudo. Alguns pensam que uma grave seca ocorrida em 1275-1300 d.C foi um fator importante na sua partida. O pó do deserto no sudoeste da América, a arte da cerâmica, o som harmônico da flauta e lugares de culto relembram uma das civilizações indígenas mais antigas – os Anasazi. O rasto destes antepassados procura água, paz e sobrevivência pelos Estados de Utah, Colorado, Arizona e Novo México.

            Siga as pegadas e conheça o ADN desses gênios da arquitetura, artesãos e potenciais astrônomos. Anasazi é o termo utilizado para designar “os antigos” ou “antigos inimigos” pelos Navajos, uma tribo indígena da América do Norte. Possíveis antecessores e detentores das instruções genéticas dos índios Hopi, os Anasazi são também rotulados como Hisatsinom (“os antigos”). Os nômades do sudoeste dos atuais EUA (Utah, Arizona e Novo México) testam a sua sobrevivência em lugares inóspitos, desertos e montanhosos.

            No Novo México encontra-se o berço da civilização pré-histórica Anasazi: Canyon Chaco. É aqui que estão as primeiras habitações desta tribo. Pueblo Bonito é não só a maior casa, como também a mais conhecida. Pedra e madeira eram transportadas pela própria comunidade a fim de edificar todas estas obras de uma engenharia, desenho e geometria complexa. Conta-se que estas amplas habitações circulares atraíam pequenos povos agrícolas que sobreviviam à base do cultivo de cereal e procuravam água. O cenário de Canyon Chaco nem sempre foi desértico e o lugar chegou a ser popular em períodos de mais chuva. No interior de Pueblo Bonito, há diferentes compartimentos que funcionam como o epicentro de rituais religiosos – as Kivas. Aqui ouviam-se os sons dos tambores e cânticos divinos, sentia-se o calor da fogueira e acompanhavam-se os ritmos das danças. Rezas de chuva e campos férteis invocavam o desejo pelo alimento. Porém, não eram só os rituais que sustentavam as suas crenças. Era, também, a arquitetura baseada nas estrelas.
            Alguns investigadores como, Gary David, em The Orion Zone, e arqueólogos defendem que a disposição geográfica das kivas, das janelas e o desenho da construção dos Anasazi espelham os movimentos dos corpos celestes, representando a constelação Orion. As habitações monitorizam as posições do sol e advinham o (des)equilíbrio da Terra, como um calendário arquitetônico-celestial. É possível que o povo Anasazi tenha, ainda, obervado a supernova que formou a Nebulosa do Caranguejo. Os Anasazi tiveram que partir quando Canyon Chacon cobriu-se de pó e a seca predominou. A leitura dos anéis dos troncos das árvore ainda presentes no monumento revelam que tem decrescido o valor da precipitação desde o ano de 1130. O clima desfavorável, a perda da estrutura de poder do povo e o acreditar que estavam em desequilíbrio com a Natureza apresentam-se como possíveis razões da sua migração para outro local.

            Próxima parada? Novo México, Aztec. O povo Anasazi voltou a reconstruir as suas habitações. Contudo, a natureza arbórea e verdejante não foi suficientes para esta civilização estabelecer raízes no local.   Sul do Colorado, Mesa Verde. As terras são férteis mas o local que enraíza a população é de difícil acesso. Apesar das típicas portas em forma de T e da presença das Kivas, Mesa Verde acaba por ser uma compressão das habitações em Canyon Chaco e Aztec. Escadas em pedra dão acesso ao aperto dos diferentes compartimentos. Que medos e inseguranças esconde esta comunidade? A resposta talvez se encontre em imagens simbólicas, fatos e mitos gravados nas rochas – os petróglifos. Combates, pontas de lança, escudos, guerreiros e caveiras são algumas das imagens. Alguns dos elementos são objetos de atração da chuva. Mas há segredos nesta sociedade desesperada, levada ao limite. Há quem se aproveitasse da bruxaria e das forças malignas para desenvolver práticas de canibalismo. O destino final é a floresta de Utah, onde se encontram os últimos vestígios desta comunidade. Neste local há as mesmas escadas pré-históricas, a aproximação aos recursos naturais, os petróglifos e a mesma cultura vibrante e defensiva.

            As pegadas de Anasazi param neste local, em meados do século XIV d.C. A tribo Hopi ainda mantém contacto com a época dos seus antepassados. A arte de trabalhar a cerâmica, a dança do búfalo, o equilíbrio do vaso na cabeça das mulheres para transportar água e os amuletos fazem parte desta cultura. Já se falou que o povo Zuni e Hopi – índios pueblo – seriam descendentes dos Anasazi, porém nunca foi provada a ligação genética entre eles. 

domingo, 11 de janeiro de 2015

Arqueologia brasileira: do privado ao público


            A Arqueologia brasileira do século XIX se encerra dentro do contexto nacionalista romântico, da valorização das origens de um povo. Na prática, seu objetivo era conferir nobreza ao passado de um lugar chamado Brasil, nação recém-nascida a quem o governo imperial procurava atribuir caráter de civilização (BARRETO, 1999-2000; FERREIRA, 2003; FUNARI, 2003; GUIMARÃES, 1988). As pesquisas arqueológicas da época dedicavam-se, portanto, a estudar povos indígenas e a buscar os vestígios de arquitetura monumental que confirmariam a tese de que os indígenas seriam a degeneração de uma grande civilização do passado. Esta suposta civilização seria a colonizadora do continente, e esta ideia delimitava temática e temporalmente as pesquisas arqueológicas. O estudo de épocas anteriores caberia à História Natural, ciência que buscava compreender do ponto de vista paleoambiental a evolução ou sucessão de eras geológicas.

            Dessa forma, a construção da ideia de uma pré-história americana, no século XIX, esbarrava em limitações metodológicas, mas, sobretudo em impedimentos de ordem ideológica. Isto pois, por mais que se considerasse alheios ao pensamento mitológico, quase não havia espaço entre os pressupostos da ciência da época que admitisse uma ocupação humana do continente americano em tempos remotos.

          A prática arqueológica era realizada por colecionadores, intelectuais amadores, curiosos e museus, que o faziam sem leis específicas ou regulamentações, mesmo após a elevação da Arqueologia ao status científico, conferido pelo IHGB em 1847. No âmbito privado, era encarada como uma atividade de prestígio, um hobby, mas também um indicador de refinamento. Não era incomum o trânsito internacional de peças arqueológicas raras, oriundas de escavações pela Grécia ou Egito, por exemplo, a fim de adornarem galerias e salões particulares.

            Por outro lado, as explorações arqueológicas científicas eram essencialmente fundamentadas em hipóteses criacionistas. Os princípios norteadores destas pesquisas buscavam quase sempre constatar a veracidade dos relatos bíblicos da criação, ainda que vestígios paleogeológicos testemunhassem fortemente contra a cronologia estabelecida pela Bíblia e pela Igreja. Quando Peter Lund realizou suas primeiras descobertas no carste de Lagoa Santa (MG), nos idos da década de 1840, seus achados atestaram evidências da convivência de seres humanos com “as grandes bestas extinctas”. Suas teses foram tão rapidamente difundidas quanto refutadas pela comunidade científica nacional e internacional (LUNA FILHO, 2007, p. 128).

            Entre o amadorismo e a cientificidade estavam, portanto, paleontólogos e arqueólogos no século XIX. Para a Ciência, de modo geral, a existência de seres humanos em eras anteriores à “atual” era hipótese descartada. Dessa forma, a relevância da pesquisa em sítios pré-históricos para o delineamento das primeiras ocupações do território brasileiro foi ignorada e a manutenção e preservação destes sítios foi severamente negligenciada. Mesmo no período republicano, o debate acerca da proteção do patrimônio arqueológico, a despeito de inúmeros esforços e projetos de lei, apenas em 1961 resultou em uma lei mais abrangente e em âmbito federal. Esta década é caracterizada pelo fortalecimento das instituições de pesquisa. Entretanto, Em um momento que não havia diferenças significativas entre “profissionais” e “amadores”, a categoria de “arqueólogo profissional” foi construída no bojo da campanha de proteção dos sítios e em oposição aos “amadores”. […]

            [Estes] foram proibidos de continuar o trabalho de coleta de dados, e sítios foram totalmente destruídos sem que houvesse qualquer tipo de registro. Por outro lado, os “arqueólogos” desenvolveram uma linguagem restrita à comunidade científica, sem qualquer compromisso com a divulgação dos resultados de pesquisa para a sociedade brasileira (GASPAR, 2004, p. 18-19). Assim, o estabelecimento da Arqueologia como ciência apenas será compreendido se considerarmos o processo de concepção de seus pressupostos científicos, além das influências sociais, políticas e ideológicas desta época. Mas é a partir da relação peculiar entre estes fatores que podemos entender a questão patrimonial no Brasil atual.

Patrimônio arqueológico sob a ótica legal

            No Brasil, a formalização legal da proteção a sítios arqueológicos foi resultado de um processo de décadas. Foram diversos esforços originários de várias instituições, políticas e intelectuais, entre o primeiro e já tardio projeto de lei, proposto pela Sociedade Brasileira de Belas Artes em 1920, defendendo a nacionalização dos recursos, até a lei atual, nº 3924/1961.

            Entretanto, o decurso da subordinação da questão às leis entre as décadas de 1920 e 1960 esbarrou na indefinição do valor pré-histórico dos sambaquis. Segundo Paulo Duarte (1968, p. 5), o primeiro Código de Minas (Decreto-Lei nº 1985/1940), assinado durante o Estado Novo, classificou indiscriminadamente terraços e sambaquis como “jazida mineral natural”, o que trouxe graves prejuízos à Arqueologia no Brasil. De fato, nesse contexto, a nacionalização das jazidas minerais, antes de visar a proteção de sítios pré-históricos, coadunava com as políticas desenvolvimentistas do período varguista. Dois anos depois, o Decreto-Lei nº 4146/1942 estabeleceu uma vaga discriminação entre as explorações econômicas e científicas. Duarte afirma ainda que “Em São Paulo, porém, graças à vigilância implacável do Instituto de Pré-História, a lei [nº3924/1961] vigora” (1968, p. 5). A particularidade da Lei nº nº3924/1961 é que esta abrange qualquer monumento pré-histórico ou arqueológico, a estatização destes bens, a preservação por parte do Estado e a insubmissão destes às regras gerais da propriedade privada.

           

sábado, 10 de janeiro de 2015

Ética e a Filosofia da Educação

              


              O presente trabalho tem por objetivo analisar a ética segundo seu conceito e estudos relacionados com a Filosofia da Educação e sua importância para a sociedade como um todo, e igualmente para o individuo como membro dessa sociedade. Veremos sua influências e desse modo aprenderemos sua importância para a coexistência e crescimento do individuo humano consigo mesmo e com o outro.

              O que motiva os indivíduos como seres humanos diante do sofrimento de seus semelhantes, de modo a moverem-se e lutarem por seus direitos e do próximo? Porque sentimos indignação diante das injustiças cometidas pelo mais forte diante do mais fraco? Nessas situações entra em ação nosso senso moral e nossa consciência moral, pois são perguntas que necessitam de explicação para nós e para a sociedade, razões para que assumamos suas consequências.

              São os valores éticos que nos guiam como uma bússola oferecendo garantia de nossa condição de sujeitos e não objetos, pois como sujeitos os seres humanos tem capacidade de racionalizar, livre-arbítrio, capacidade comunicativa e a interação com outros de seu grupo. Um objeto é uma coisa sem expressão ou vontade própria que pode ser usado e manipulado a bel-prazer de alguém, e a ética é quem proíbe que humanos sejam tratados como objetos através da moralidade.

              O campo ético é composto pelos valores e obrigações do sujeito moral que é formado pelo conteúdo das condutas morais. Segundo a ética para que o sujeito moral exista é necessário que seja consciente, capaz de refletir e reconhecer sua existência, e a do próximo como semelhante. Deve possuir vontade, sendo capaz de controlar e escolher seus desejos e sentimentos conforme a consciência. O individuo deve ser responsável, ciente de seus direitos e deveres para com a sociedade e para com o próximo. Ele deve ser livre, não estar submetido à vontade de terceiros, ele deve ser possuidor de autodeterminação. Assim concluímos que o campo ético é composto pelo sujeito moral e os valores morais que se interacionam de modo que se completam.

              O sujeito moral vem a existir a partir do momento que começa a ser educado para os valores morais, uma educação que visa colocar-nos em harmonia com os valores de nossa sociedade.

              Para entendermos melhor as razões da existência da moral em sua cultura é necessário que exista a filosofia moral, pois ela é que fará as pessoas refletirem como seres críticos sobre os valores éticos, interpretando seus valores e os problematizando de forma que se houver discrepância entre o escrito ou dito e o praticado pela cultura em questão, seja motivo para a entrada da filosofia moral. A filosofia moral faz com que nossa ética não seja algo mecânico, como uma simples repetição daquilo que nos foi ensinado desde a infância, os costumes.

              Segundo Marilena Chaui, podemos resumir a ética dos antigos em três aspectos principais: “1. O racionalismo: a vida virtuosa é agir em conformidade com a razão, que conhece o bem, o deseja e guia nossa vontade até ele; 2. O naturalismo: a vida virtuosa é agir em conformidade com a Natureza (o cosmo) e com nossa natureza (nosso ethos), que é a parte do todo natural; 3. A inseparabilidade entre ética e política: isto é, entre a conduta do indivíduo e os valores da sociedade, pois somente na existência compartilhada com outros encontramos liberdade, justiça e felicidade.” (CHAUI, 2002. p. 342.).

              A ética cristã surge com um diferencial em relação as religiões da antiguidade que eram nacionais e políticas, pois ela prega a religião de indivíduos independente  de sua nacionalidade ou questões políticas. Considerando o ser humano por si só incapaz de realizar o bem, baseados nessa visão de mundo o cristianismo institui uma nova visão dentro da moral: o conceito de dever. Dever que vem por meio das Leis de Deus, e as Revelações dos Profetas. E a ética cristã não se resumia somente aos atos, mas também as intenções de realizar atos que contrariam a ética cristã, isto é intenções invisíveis.

              Rousseau, um filosofo que surge após o renascimento, afirmava que a consciência moral era parte da natureza humana, segundo ele quando o dever passa a se tornar obrigação é por que a bondade da natureza humana foi corrompida.  Já no mesmo período temos as ideias de Kant, que afirmava que nascemos com nossa natureza humana má e sem consciência moral e por isso necessitamos do dever para podermos nos tornar seres dotados de consciência moral.  Como afirma a autora: “Rousseau e Kant procuraram conciliar o dever e a ideia de uma natureza humana que precisa ser obrigada à moral.” (CHAUI, 2002. P. 347).

              Uma questão atual que está presente na filosofia é a natureza e o respeito ao meio ambiente. A ética humana em relação ao respeito com o meio-ambiente como habitat da espécie humana. Essa nova ética que o autor Leonardo Boff define como novo ethos que ele defino assim: “[...] a casa humana, vale dizer, aquela porção do mundo que reservamos para organizar, cuidar e fazer o nosso habitat. Temos que reconstruir a casa humana comum – a Terra – para que nela todos possam caber. Urge modelá-la de tal forma que tenha sustentabilidade para alimentar um novo sonho civilizacional.” (BOFF, 2002.p. 27). Segundo o que temos observado essa ética visa proteger nosso planeta e tornar os seres humanos mais envolvidos com a coletividade, mais voltados para a espiritualidade, que surge da própria profundidade da natureza humana, e é onde se encontra esse novo ethos. Vemos que é no cuidado para com o próximo e a nossa casa, o planeta Terra e toda sua biodiversidade que iremos encontrar o ethos que precisamos para a civilização humana desenvolver-se de forma construtiva.

              Então podemos ver que na Filosofia da Educação, o filosofo é aquele que desestabiliza certezas e questiona o que é convencional. Usando a dúvida como desencadeadora desse processo crítico. Refletindo e tomando o próprio pensamento, pensado e voltar para si e coloca-lo em questão o que já se conhece, buscando as raízes das questões, explicando os fundamentos do pensar e do agir. E, por conseguinte ao questionarmos os fundamentos da educação pedagógica, fazemos filosofia da educação. Buscando dessa forma caminhos possíveis para aqueles que serão os futuros educadores e para que esses futuros educadores possam filosofar sobre a educação.

sábado, 3 de janeiro de 2015

Miguel Reale – Cronologia


            Seguindo nossos estudos trago nesta postagem a cronologia de Miguel Reale, um brasileiro que contribuiu com suas ideias para o desenvolvimento de nossa sociedade. Foi poeta, jurista, filosofo e educador, reconhecido no Brasil e no exterior por suas obras e palestras. Recebeu dezenas de prêmios e condecorações nacionais e internacionais. Fundou ao lado de Plínio Salgado a Ação Integralista Brasileira, o primeiro partido político no Brasil que atingiu todos os territórios da nação.

1910 – Nasce Miguel Reale na cidade de São Bento de Sapucaí em 6 de novembro.

1930 - Ingressa no bacharelado em Direito pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.

1932 - Adere à Revolução Constitucionalista de 1932, ingressando no Batalhão Ibrahim Nobre, junto com seus colegas de curso, participando das batalhas ocorridas no sul do estado.

1932 - Inaugura, ao lado de Plínio Salgado, a Ação Integralista Brasileira, movimento cultural a princípio, mas que se tornaria político, sendo um de seus principais dirigentes.

1933 – Escreve sua obra “O Estado Moderno”.

1934 – Escreve “A Política Burguesa”.

1934 – Formou-se em Direito na Universidade de São Paulo.

1935 – Escreve “O ABC do Integralismo”.

1941 – Tornou-se professor Catedrático de Direito da Universidade de São Paulo.

1942-1944 - Membro do Conselho Administrativo do Estado.

1947 - Secretário da Justiça do Estado de São Paulo. Cria a primeira Assessoria Técnico-Legislativa do Brasil.

1949 - Funda o Instituto Brasileiro de Filosofia, o qual presidiu até sua morte em 2006.

1954 - Funda a Sociedade Interamericana de Filosofia, da qual foi duas vezes presidente.

1975 – A partir desse ano ocupou a cadeira 14 da Academia Brasileira de Letras.