Exemplar em bambu de "A Arte da Guerra" da época do reino do Imperador Qianlong, século XVIII.
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uito pouco se sabe sobre Sun Tzu. Especula-se
que ele tenha nascido por volta de 544 a.C e falecido em 496 a.C. É considerado
grande estrategista militar e é autor de A arte da guerra, uma obra clássica
sobre táticas militares. O historiador Su-ma Ch’ien, a única fonte sobre Sun
Tzu que restou, apresenta-o como tendo sido um general que viveu no Reio de Wu
no século VI a.C.Apesar de muitos puristas admitirem que a única e legítima
filosofia foi aquela que nasceu na Grécia por volta do século V a.C., ele é
considerado por muitos como um dos pilares fundamentais da chamada filosofia
oriental.
Sun Tzu, também conhecido como Sun Zi ou Sun Wu, natural do estado de
Ch'i, viveu durante o período histórico da China conhecido como o dos
"Reinos Combatentes" (476-221 a.C.). O primeiro registro da obra foi
feito pelo famoso historiador chinês Ssu-Ma Chien por volta do ano 100
a.C. Obra seminal entre os "clássicos marciais", A Arte da
Guerra foi estudada por centenas de oficiais chineses e japoneses durante
séculos a fio. Os grandes generais tinham como costume incluir notas e
comentários aos versículos do livro, que foram sendo acrescentados à cada nova
versão, até consolidar a considerada padrão, datada do fim do século XVIII.
Somente em
1772, por intermédio da tradução para o francês do padre J. J. M. Amiot, o
ocidente pode ter acesso ao texto integral de A Arte da Guerra e é bem possível
que tal publicação tenha caído nas mãos de Napoleão. Hoje é impossível existir
uma escola militar que ignore seu conteúdo. Era o "livro de
cabeceira" de Mao Tse Tung. Se existe um propósito no qual toda a evolução
tecnológica do homem é empregada com mais afinco, certamente é na criação de
artefatos bélicos. É de espantar-se então que toda academia militar que se
preze tenha como leitura obrigatória uma obra escrita quatrocentos anos antes
de Cristo, quando os homens guerreavam com armas tão rústicas quanto espadas,
flechas, paus e pedras.
Citação
direta de Sun Tzu:
Quando nos empenhamos numa
guerra verdadeira, se a vitória custa a chegar, as armas dos soldados tornam-se
pesadas e o entusiasmo deles enfraquece. Se sitiarmos uma cidade, gastaremos
nossa força e se a campanha se prolongar, os recursos do Estado não serão
iguais ao esforço. Nunca esqueça, quando as armas ficarem pesadas, seu entusiasmo
diminuído, a força exaurida e seus fundos gastos, outro comandante aparecerá
para tirar vantagem da sua penúria. Então, nenhum homem, por mais sábio, será
capaz de evitar as consequências que advirão.
Se você conhece o inimigo e
conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você
conhece a si mesmo, mas não o inimigo, para cada vitória conquistada, você
também sofrerá uma derrota. A invencibilidade está na defesa; a possibilidade
de vitória, no ataque. Quem se defende mostra que sua força é inadequada; quem
ataca, mostra que ela é abundante. A estratégia sem tática é o caminho mais
lento para a vitória. Tática sem estratégia é o ruído antes da derrota. Se você
conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem
batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha
sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo,
perderá todas as batalhas. Mantenha-os sob tensão e canse-os. A vitória é o
principal objetivo na guerra. Se tardar a ser alcançada, as armas embotam-se e
a moral baixa. Aquele que é prudente e espera por um inimigo imprudente será
vitorioso. Se numericamente és mais fraco, procura a retirada.
É preferível capturar o exército inimigo a destruí-lo. Obter uma centena de
batalhas não é o cúmulo da habilidade. Dominar o inimigo sem combater, isso sim
é o cúmulo da habilidade. O principal objetivo da guerra é a paz.
Sun Tzu, por volta do ano 400 antes de Cristo,
apresentou seu livro para Ho-lü, ou Wu Helu, rei do pequeno povo semibárbaro de
Wu. O rei, após ler os treze capítulos, chamou Sun Tzu e elogiou seu trabalho.
Perguntou se era possível utilizá-lo com suas tropas. Sun Tzu respondeu com
alegria que sim. Depois perguntou o rei, em tom de zombaria, se poderia
aplicá-lo às mulheres. O general, ressentido, disse sim. O rei imediatamente
mandou reunir suas 180 concubinas no pátio do palácio e lhes deu armas. Sun Tzu
dividiu-as em dois grupos, liderados pelas duas favoritas do rei, que a tudo assistia
do púlpito. E então perguntou:
- Vocês conhecem as posições "frente", "esquerda",
"direita" e "retaguarda"?
- Sim. Responderam as moças, que estavam dispersas e riam da situação.
- Ótimo, pois quando eu disser "frente" olhem para frente. Quando eu
disser "esquerda", "direita" e "retaguarda" olhem
nessas direções. Façam o que eu mandar. Está claro?
Mas uma vez, as moças responderam que sim por entre os risinhos.
Sun Tzu sinalizou para a guarda e falou:
- Estejam prontos para punir quem me desobedecer. - Os guardas prontamente
desembainharam suas espadas.
O general levantou sua bandeira e sinalizou, gritando a plenos pulmões:
- Frente!. - As concubinas desataram a rir, displicentes. Sun Tzu refletiu:
- A incapacidade de dar ordens claras é uma falha do comandante. Explicarei
novamente. Quando eu disser "frente", "esquerda",
"direita" e "retaguarda", olhem nessas direções.
Levantou novamente sua bandeira e apontando para o lado gritou:
- Esquerda!
As moças desataram a gargalhar.
Sun Tzu falou:
- A incapacidade de dar ordens claras é uma falha do comandante. Mas quando
elas são claras, a culpa é dos soldados.
Assim, ordenou aos guardas:
- Matem quem me desobedeceu! Poupem as moças, mas não suas líderes!
As moças, acuadas, pediram piedade ao rei, que interveio:
- Sei agora que você é um bom comandante, mas não gostaria de perder minhas
concubinas favoritas. Deixe-as ir, não as mate. - Pediu o rei, animado com a
cena.
- Não. - Retrucou Sun Tzu - Como comandante, não posso aceitar interferências
no comando das tropas.
Virou-se para os guardas e ordenou:
- Executem-nas em público! - E os soldados, sem o menor traço de piedade,
obedeceram. O rei e as concubinas assistiram ao espetáculo aflitos.
Sun Tzu escolheu mais duas moças para liderar as tropas e orientou-as
novamente. Desta vez nenhuma moça ousou rir e todas elas marcharam de acordo
com o rufar dos tambores.
O general dirigiu-se ao rei e exortou:
- Elas agoras estão treinadas e prontas para a inspeção, majestade. Podereis
usá-las como bem entender, estão prontas para realizar a tarefa mais difícil em
vosso nome.
O rei, contrariado, retirou-se. Mas reconheceu o gênio de Sun Tzu e nomeou-o General de suas tropas. Neste período o pequeno estado Wu anexou os reinos ao norte e oeste, transformando-se numa grande potência graças aos feitos de Sun Tzu.
Você quer saber mais?
TZU, Sun. A Arte da Guerra. Coleção Leitura. Rio de Janeiro: Editora Paz e
Terra, 1996.
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