Esses “homens do norte” ou nordmanni, como eram chamados nos séculos IX e X, não eram meros selvagens que atacavam as pobres populações
cristãs indefesas. Seus objetivos eram variados; poderiam ser comerciais,
trabalhos como mercenários protegendo reinos europeus. O esquema empregado foi
o mesmo que opôs os romanos a bárbaros. Uma imagem negativa, pois revela mais
sobre as representações do “outro” por parte dos clérigos carolíngios que sobre
a realidade histórica dos próprios vikings.
O termo viking designa os
homens que surgiram no litoral da Europa ocidental no fim do século VIII. Oriundos da Escandinávia, eles
organizavam expedições a bordo de seus navios, os knorr, pelas margens do Báltico
e do Mar do Norte.
Seus objetivos eram
variados. Praticavam atividades comerciais importantes, mas também pilhavam as
populações costeiras, às vezes subindo rios como o Reno, o Sena e o Loire. A
primeira grande incursão teve como alvo as ilhas britânicas na década de 790.
Pouco depois, os vikings chegaram à costa do continente europeu.
Durante grande parte do
século IX, o reino da Frância Ocidental foi particularmente visado, e Carlos, o
Calvo, foi obrigado a lhes pagar tributo. Em certos casos, eles se instalavam
em terras estrangeiras. Foi assim com a Normandia,
concedida ao líder viking Rollo por Carlos, o Simples, em 911. Em
troca, o chefe viking comprometeu-se a proteger o litoral franco contra futuros
ataques.
No entanto, convém
relativizar a oposição entre francos e vikings. Estes não eram os únicos que
praticavam a pilhagem. No século VIII, os pipinidas, à frente do reino dos
francos, promoveram expedições contra os saxões ou os turíngios que não se
distinguiam dos ataques vikings.
O
saque representava uma ação heroica para os reis carolíngios. O butim era
frequentemente exibido como prova de valor guerreiro. Pode-se dizer que,
durante muito tempo, o "viking" foi o franco. Afinal, as pilhagens do
século IX nada tinham de novo. Incomum
foi o fato de os francos passarem a ser as vítimas.
Então por que essa imagem de
bárbaros? Ela se explica pelas fontes, essencialmente clericais e monásticas.
As igrejas e mosteiros eram o alvo privilegiado dos vikings, daí a reação
veemente dos clérigos. Alguns, como o monge inglês Alcuíno, apresentavam os
vikings como um castigo divino. Afinal de contas, faziam parte de um mundo
estrangeiro, desconhecido, assustador, no qual se costumava situar os monstros
descritos pelos autores da Antiguidade.
Certos missionários chegaram
a ver cinocéfalos (homens com cabeça de
cão) entre os pagãos do Norte.
Foi assim que se construiu uma imagem que, de certo modo, espelhava o contrário
do mundo franco. Os vikings eram apresentados como seres imundos, ímpios,
rudes, ao contrário do mundo carolíngio, que se considerava civilizado e
cristão. O esquema empregado foi o mesmo
que opôs romanos a bárbaros. Uma imagem negativa, pois revela mais sobre as
representações do “outro” por parte dos clérigos carolíngios que sobre a realidade
histórica dos próprios vikings.
Rodolphe
Keller
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