Eternas, as histórias das Mil e Uma Noites se espalharam por todo o mundo, sendo contadas para crianças e adultos através dos séculos. A trama é sobre o sultão Shariar, que, após descobrir a traição da mulher, decide casar-se cada noite com uma jovem diferente, mantando-a ao amanhecer. Tal condenação só é desfeita quando Sherazade, a impetuosa filha do grão-vizir, se oferece como noiva do sultão e faz com que as noites se multipliquem ao inebriar o marido com suas histórias envolventes.
É problema
altamente controvertido a origem das Mil e Uma Noites. Massudi, que viveu no século XI e
foi um dos escritores mais viajados do seu tempo, afirmou que as Mil e Uma
Noites foram tiradas do persa HEZAR AFSANEH [mil histórias].
Está
última obra, segundo se afere de uma referência que a ela faz Firduzzi,
no prefácio de SCHANAMEH [livro dos
reis], é atribuída a um poeta persa, Rasti, que teria vivido na segunda metade do
século X. E, assim, o erudito Massudi parece
estar com a razão, pois as duas heroínas principais das Mil e uma Noites,
Sherazade e Dinazade estão com seus nomes persas nas páginas famosas de HEZAR AFSANEH.
Mas
os persas, de acordo com a opinião de Clemente Huart, foram colher na Índia, o enredo
dos principais contos que figuram no famoso Hezar Afsaneh.
O
orientalista e historiador alemão Gustavo Weill (1808-1889),
que professor de línguas orientais em Heidelberg, afirma que os contos árabes
das Mil e uma Noites diferem totalmente das primitivas formas indiana e persa.
A
difusão extrema desses contos no espaço e no tempo – universidade –
imortalidade – decorrem de condições que merecem ser frisadas. São
fundamentalmente obra de imaginação e inocência.
Antonie Galland
OQUE
CONTÉM AS MIL E UMA NOITES
O
verdadeiro livro das Mil e Um Noites, na sua forma completa, não é obra cuja
leitura possa ser aconselhada para crianças ou adolescentes. É um livro
profundamente contraindicado sobre vários aspectos, pois muitos dos seus contos
foram imaginados com a finalidade exclusiva de divertir adultos.
Este
livro, que a saudosa poetisa Cecília Meireles considerava glorioso, encerra em
suas páginas sermões bem graves: erros e anacronismos.
Quando
observado numa tradução, não escoimada da parte obscena, vamos encontrar na
imensa cadeia das Mil e uma noites:
Ø Contos maravilhosos e de aventuras;
Ø Contos de amor e intrigas de namorados;
Ø Romances de viagens;
Ø Aventuras de cavalaria e guerra;
Ø Lendas fantásticas cheias de crueldades;
Ø Cenas de zombaria contra judeus e cristãos;
Ø Contos do gênero policial;
Ø Anedotas brejeiras e pornográficas;
Ø Episódios fantásticos e obscenos;
Ø Lutas religiosas;
Ø Parábolas e apólogos;
Ø Fábulas;
Ø História de erudição (até com problemas de matemática).
E todos
os enriquecidos por delicados trechos poéticos nos quais transparece a beleza,
a suavidade e o encantamento dos versos árabes.
Rainha Xerazade pintada no século XIX por Sophie Anderson.
FONTES
DAS MIL E UMA NOITES
Em
muitos livros de histórias em séries os árabes foram buscar inspiração para os
seus contos maravilhosos. Poderíamos citar os seguintes:
v Mahabharata: poema escrito em sânscrito.
v Ramayana: poema indiano de origem muito remota.
v Dasa-Koundra: (Aventura de dois adolescentes). Livro muito popular na Índia.
v Katha-Sarit-Sagara: (Oceano infindável de histórias). Contos copilados por Samodéva.
v Tutinamesh: (Contos de um papagaio). Pequenos
apólogos que se afastam muito dos bons princípios morais.
v Contos de
Nang-Trantrai: (Contos da
jovem rendeira). Histórias da Índia antiga escritas sob influência das
religiões bramânica.
v Fábulas de Kalila
e Dina: que foi traduzido para o português
pelo professor Ragy Basile.
v Hitopadexa: (introdução útil), coleção de fábulas e apólogos morais da Índia. Para
este livro há uma excelente tradução de monsenhor Sebastião Salgado.
Sultão Shariar e Sherazade
DIVULGAÇÃO
DAS MIL E UMA NOITES
O
orientalista francês ANTOINE GALLAND, tendo tomado conhecimento, em
suas viagens a Constantinopla dos contos das Mil e Uma Noites fez deste uma
tradução que se tornou obra clássica da literatura francesa. Como agiu Galland para tornar sua tradução interessante e viva?
a)
Aproveitou apenas uma quarta parte
dos contos originais. A sua escolha foi recair sobre as lendas mais curiosas e
de enredo mais palpitante.
b)
Teve o cuidado de abolir todas as
cenas que pudessem ferir os princípios cristãos.
c)
Suprimiu do enredo dos contos todos
os versos, poemas e citações poéticas.
d)
Procurou fazer uma tradução que
fosse isenta de expressões chulas ou pouco edificantes.
A
obra de Galland alcançou, na Europa, um êxito extraordinário, sendo traduzida
para vários idiomas. Foi Galland quem teve a glória de tornar o livro das Mil e
Uma Noites conhecido no Ocidente. Ele faleceu aos 69 anos, em 17 de fevereiro
de 1715. Além da tradução das Mil e Uma
Noites, Galland deixou cerca de 15 obras, algumas das quais de grande valor
literário.
Seguindo
a trilha gloriosa de Galland, muitos escritores tentaram imitar a obra do
grande orientalista.
Além
do livro intitulado Mil e Um Dias, traduzido por Petis de La Croix, poderíamos citar
os seguintes:
ü Mil
e Um Quartos de Hora (contos tártaros).
ü Aventuras
Maravilhosas do Mandarim Fum-Hoan (contos chineses).
ü As
Sultanas de Gazarate (Contos mongóis)
ü Aventuras
de Abdallah, filho de Hanif.
Todos
esses livros, e cerca de outros 30 de mesmo gênero, não passavam de ridículas
mistificações literárias que o público não levou a sério.
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Referências:
GALLAND, Antoine (versão).
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
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