General Ion Antonescu em 1940. Imagem: Altermedia.
Após um breve período de
relativa neutralidade, a Romênia une-se
às Forças do Eixo em junho de 1941, sob o governo de Ion Antonescu. Um golpe em
agosto de 1944, liderado pelo rei Miguel, depõe a ditadura de
Antonescu e coloca a Romênia no lado dos Aliados pelo resto da guerra. Apesar
dessa associação com o lado vencedor, a “Romênia Maior” não sobreviveria à
guerra, perdendo territórios tanto para a Bulgária como para a União Soviética.
Na trilha imediata à perda
da Transilvânia Setentrional, em 4 de
setembro de 1940, a Guarda de Ferro
(liderada por Sima) e o General
(posteriormente Marechal) Ion Antonescu se uniram para formar um governo de
um "Estado Nacional Legionário”, que
forçou a abdicação de Carol II em favor de seu filho de 19 anos, Miguel. Carol
(e Lupescu) partiram em exílio, e a Romênia (apesar da recente traição sobre
cessões territoriais) voltou-se fortemente na direção do Eixo.
A Guarda
de Ferro ou em romeno, Garda de Fier foi um movimento nacionalista
romeno, logo convertido em partido político, que existiu desde 1927 até 1945. O
movimento foi fundado por Comeliu Zelea Codreanu, em 24 de julho de 1927, sob o
nome de Legião de São Miguel Arcanjo, e foi liderado por Codreanu até
sua morte, em 1938. Os adeptos e membros do movimento eram chamados
"legionários".
Em
março de 1930, Codreanu formou a Guarda de Ferro, um ramo paramilitar e
político da Legião, cujo nome chegou a ser aplicado à Legião inteira. Mais
tarde, em junho de 1935, a Legião mudou oficialmente sua denominação, passando
a chamar-se partido "Totul pentru Ţară" ("Tudo para o
País"). A Guarda de Ferro teve grande penetração entre as camadas
populares romenas. Seus membros usavam uniformes verdes (considerados símbolo
de rejuvenecimento) e por isso receberam o apelido de "camisas
verdes". Entre eles, saudavam-se como os antigos romanos. O símbolo
principal utilizado pela Guarda de Ferro era uma cruz tripla, representando
barras de prisão (como símbolo do martírio), às vezes chamada "cruz do
arcanjo Miguel".
Ion Victor Antonescu,
nasceu em na cidade de Piteşti, em 15 de junho de 1882 e faleceu em Jilava, em
1 de junho de 1946. Foi um político romeno, primeiro-ministro e "conducător" (condutor) de seu país
durante a Segunda Guerra Mundial de 4 de setembro de 1940 a 23 de agosto de
1944.
Perdas territoriais da Romênia em 1940 após o ultimato soviético, do Tratado de Bucareste e dos Acordos de Craiova. Imagem: Atlas da II Guerra Mundial.
Antonescu
nasceu em uma família burguesa de tradições militares. Ele serviu em escolas
militares em Craiova e Iaşi, graduou-se
na Escola de Cavalaria em 1904 e na Academia Militar em 1911.
Como
tenente, Antonescu participou da repressão de uma revolta de camponeses em 1907
nos arredores da cidade de Galati. Em
1913 lutou na Guerra dos Balcãs contra a Bulgária: Nesse momento o exército
búlgaro lutava contra os sérvios e gregos, a entrada a Romênia forçou a
Bulgária a pedir a paz. Como resultado da guerra o território do quadrilátero
(parte meridional da Dobruja) passou a fazer parte da Romênia, Antonescu recebeu a mais alta condecoração
militar da Romênia.
Antonescu atuou no exército romeno
durante a Primeira Guerra Mundial. Em agosto de 1916 o exército
romeno cruzou as montanhas do Cárpatos, numa tentativa de capturar a
Transilvânia (território que pertencia ao Império Austro-Húngaro, porém era
majoritariamente habitado por romenos), mas sua ofensiva foi interrompida pelo
exército austro-húngaro com ajuda alemã.
O
desastre na batalha, mostrou que as tropas romenas não estavam prontas para a
guerra. As tropas alemãs e búlgaras pressionavam por Dobruja e as tropas russas
recuavam (suas ordens eram para proteger a linha do Danúbio) o que acabou por
forçar as tropas romenas a se retirarem da Transilvânia e defender as bordas do
Cárpatos.
Depois
que inimigo cruzou as montanhas, Antonescu recebeu ordens para criar um plano
de defesa para a capital romena, Bucareste. A batalha na capital foi perdida -
o exército inimigo capturou um oficial romeno que possuía os planos para a
batalha. A corte real romena, o exército e políticos foram forçados a recuarem
para a Moldávia. Antonescu participou da
defesa da Moldavia em 1917, quando o exército romeno, liderados pelo General
Alexandru Averescu e instruído pelos franceses, tentava parar o avanço das
tropas alemãs, liderada pelo marechal-de-campo Mackensen.
Porém,
em 1917 acontece a Revolução Russa. A Rússia de imediato faz a paz com a
Alemanha, deixando a Romênia sozinha contra o inimigo no front do leste. Diante
disso, a Romênia se vê obrigada a fazer a paz com a Alemanha e suas aliadas. Em
1918, um dia antes da rendição alemã, a Romênia rompe o tratado de paz e
novamente declara guerra aos Impérios Centrais. A guerra para a Romênia continuou até 1919. Aproveitando-se do caos que
se passava no Império austro-húngaro, a Romênia recuperou a Transilvânia.
Entre 1922 e 1926 Antonescu ocupou cargos
diplomáticos na França e no Reino Unido. Após retornar a Romênia ele foi comandante da "Şcoala Superioară
de Război" (Escola Superior de Guerra) entre 1927 a 1930, foi do
Estado-Maior entre 1933 e 1934 e Ministro da Defesa entre 1937 e 1938.
Ion Antonescu (esquerda) e Horia Sima, líderes do Estado Nacional Legionário. Imagem: Interpek.
O general Antonescu foi indicado ao cargo
de primeiro-ministro pelo rei Carol II em 4 de setembro de 1940
depois que Romênia perdeu territórios reclamados pela URSS, Hungria e Bulgária.
Em 5 de setembro, aceitando o pedido de
Antonescu, o rei Carol suspendeu a constituição de 1938, dissolveu o parlamento
e deu amplos poderes a Antonescu. No mesmo dia ele forçou o rei Carol II a
abdicar e deixar o país. O príncipe Miguel I é proclamado o novo rei, porém
seus poderes eram essencialmente cerimoniais. Antonescu proclama-se o conducător (condutor) e assume com poderes
ditatoriais.
Os
partidos democráticos da Romênia se recusaram a fazer parte do novo governo,
então Antonescu aproxima-se da Guarda de Ferro oferecendo vagas no seu governo
(15 de setembro de 1940). Antonescu
queria a Guarda de Ferro sob seu controle direto, porque suas atividades
paramilitares estavam prejudicando a autoridade do estado. O período que se
seguiu ficou conhecido como Estado
Nacional Legionário. Em 21 de janeiro de 1941 depois que as demandas de
maiores poderes para a Guarda de Ferro foram recusadas por Antonescu esta
rebelou-se e com ajuda da Alemanha a revolta foi rapidamente reprimida e seus
líderes aprisionados.
Antonescu
aliou-se ao Terceiro Reich, garantindo assim a estabilidade de materiais
estratégicos como as grandes reservas de petróleo da Romênia que puderam ser
usadas pelo Eixo. Além disso, Antonescu estava satisfeito com os rumos da
guerra contra a URSS e esperava
reconquistar os territórios da Bessarábia e Bucovina. Ao participar da guerra
no front do leste Antonescu esperava persuadir Hitler a entregar parte da
Transilvânia quando as hostilidades cessassem. Ele foi informado por Hitler
sobre a Operação Barbarossa dez dias antes de ser iniciada.
As tropas romenas se juntaram a Wehrmacht
em seu ataque contra a União Soviética (21 de junho de 1941) e recuperaram os
territórios perdidos. A província de Transnístria também ficou sob domínio romeno.
Depois
da captura da Bessarábia e Bucovina, Antonescu mandou o exército romeno para
dentro do território da União Soviética, determinado a seguir as tropas alemãs
até a conquista completa do exército vermelho.
A
decisão foi recebida com desaprovação pelos políticos romenos (dos partidos
tradicionais) e pelos Aliados. Embora Antonescu tenha dedicado a maior parte de
seu tempo para os assuntos militares ele falhou ao preparar o exército romeno
para uma campanha prolongada. Depois que os alemães e romenos sofreram grandes
perdas na Batalha de Stalingrado e os russos iniciaram sua ofensiva que só
terminaria em Berlim, a popularidade de Antonescu caiu rapidamente.
Em
1943, representantes de Antonescu (membros dos partidos tradicionais)
aproximaram-se dos britânicos e norte-americanos para discutir a possibilidade
de paz, mas os Aliados exigiram que Antonescu primeiro fizesse a paz com os
russos. Antonescu recusou a rendição incondicional aos russos, mas continuou a
negociar com eles através de seus representantes em Estocolmo. Em agosto de
1944, quando os russos já tinham entrado no território romeno, Antonescu
recebeu uma proposta de cessar-fogo através da Madame Kolontay (Agente de
Stalin em Estocolmo). Esse cessar-fogo propunha que a Alemanha teria quinze
dias para deixar a Romênia, os Russos passariam apenas pelo norte do país (o
sul e a capital ficaria livre de interferência russa) e oferecia reconhecimento
sobre a ocupação romena na Hungria e norte da Transilvânia. Considerando a
superioridade das forças soviéticas, essa oferta generosa seria interpretada de
duas maneiras; permitiria os exército soviético continuar sua ofensiva contra o
exército alemão ou era um blefe.
Em 22
de agosto de 1944 o exército soviético atacou territórios romenos, determinado
a ocupar a capital antes que qualquer acordo de cessar-fogo pudesse ser
assinado. Antonescu preparou nove
divisões de elite para que lutassem contra a ofensiva do exército soviético
durante semanas até que um acordo pudesse ser aprovado por ambas as partes.
O telegrama de Estocolmo chegou em 22 de agosto, mas foi interceptado pelo
líder da oposição Iuliu Maniu, que planejava junto com o rei Miguel, membros
opositores e com o Partido Comunista da Romênia a queda do regime de Antonescu.
Em 23
de agosto de 1944, Miguel convidou Antonescu para ir ao seu palácio real.
Depois de explicar sobre a situação no front de guerra, o rei perguntou se ele
assinaria a rendição incondicional com os russos. Antonescu contou ao rei sobre
o cessar-fogo que estava prestes a assinar, embora ele não tivesse provas disso
(como o telegrama). Ele também declarou que “assinar a rendição incondicional
com os russos é como pular de um avião sem um pára-quedas”. O rei dispensou
Antonescu de seu gabinete, ao mesmo tempo soldados prenderam Antonescu e seu
ministro, Mihai Antonescu. Depois eles foram entregues aos comunistas.
Nesse
momento, o rei Miguel declarou o cessar-fogo do lado romeno. Porém o exército
soviético não estava interessado em interromper a luta, ao romper a linha
defensiva romena os russos aprisionaram cerca de seiscentos mil soldados. Os
alemães não reconheceram a autoridade do novo governo e atacaram a capital.
Alguns dias depois os soviéticos ocuparam Bucareste. O tratado de paz, de fato,
a rendição incondicional só foi assinada em 12 de setembro de 1944.
Em maio de 1946 Antonescu estava sob
julgamento pelo Tribunal Popular de Bucareste, dominado pelo governo comunista.
Foi culpado de aliciar o povo romeno aos benefícios da
Alemanha Nazista, subjugação política e econômica da Romênia à Alemanha,
cooperação com a Guarda de Ferro, assassinato de opositores políticos,
assassinato em massa de civis, crimes contra a paz e por participar da invasão
na URSS. Ele foi sentenciado a morte e executado em 1 de junho de 1946 na
prisão de Jilava.
“Quando um país está em guerra, o exército
desse país deve ir até o fim do mundo para vencer. Esse é um dos princípios
básicos da guerra, que foi aplicado desde o tempo dos romanos até os dias de
hoje. Procure-se na história das guerras, qualquer nação, qualquer século e se
poderá ver que ninguém pára o exército nas fronteiras, mas vão adiante, com o
objetivo de destruir o exército inimigo. Assim fez Scipio Africanus quando
levou seu exército para destruir Cartago, assim fez Napoleão quando se dirigia
para o centro da Rússia, assim fez Alexandre I quando ia para Paris.”
Declaração de Antonescu sobre a invasão da Rússia durante seu
julgamento.
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