O arqueólogo João Zilhão defende a tese de que nossos parentes, de reputação intelectual duvidosa, compartilhavam as mesmas aptidões cognitivas.
Por João Zilhão
[continuação]
SA: Então, o comportamento moderno – conforme representado pela decoração do corpo, peças de arte e assim por diante – é o produto da necessidade de se comunicar ou de se identificar com os membros de uma população crescente?
JZ: Sim, em um mundo em que os encontros com estranhos ocorresse em uma frequência que tornasse necessário criar maneiras de distinguir um amigo de um inimigo, alguém a quem seus parentes devessem favores ou alguém que os devesse a você.
SA: Mas acredita que algo teve de mudar no hardware, no cérebro, em algum momento na linhagem humana antes do aparecimento do comportamento
moderno?
JZ: Sim, acredito que isso aconteceu de 1,5 milhão a 2 milhões de anos atrás – ou cerca de 500 mil a 1 milhão de anos atrás, no máximo –, quando o tamanho médio do cérebro atingiu a dimensão atual. Se pudéssemos clonar um ser humano que viveu há 500 mil anos, colocá-lo num útero substituto e, então, após o nascimento, nutri-lo como um ser humano atual, ele conseguiria pilotar um avião? Talvez alguns de meus colegas possam dizer que não, mas a minha resposta seria afi rmativa.
SA: Se o homem de Neandertal da Espanha fabricava ornamentos 10 mil anos antes de o primo moderno ter chegado à Europa, você acredita que, em vez de os neandertais copiarem o homem moderno, pode ter ocorrido o inverso?
JZ: Antes de entrar na Europa, o homem moderno não perfurava nem entalhava os dentes de mamíferos como os encontrados em Châtelperronian, tampouco perfurava conchas bivalves como as encontradas na Espanha. Mas, assim que chegou à Europa, isso passou a acontecer. De onde o homem moderno obteve esses ornamentos? Se estivéssemos falando dos povos da Idade do Cobre, concluiríamos que os imigrantes os obtiveram dos habitantes locais. Por que deveríamos ter uma lógica diferente para os objetos neandertais?
Você quer saber mais?
http://www2.uol.com.br/sciam/
JZ: Sim, em um mundo em que os encontros com estranhos ocorresse em uma frequência que tornasse necessário criar maneiras de distinguir um amigo de um inimigo, alguém a quem seus parentes devessem favores ou alguém que os devesse a você.
SA: Mas acredita que algo teve de mudar no hardware, no cérebro, em algum momento na linhagem humana antes do aparecimento do comportamento
moderno?
JZ: Sim, acredito que isso aconteceu de 1,5 milhão a 2 milhões de anos atrás – ou cerca de 500 mil a 1 milhão de anos atrás, no máximo –, quando o tamanho médio do cérebro atingiu a dimensão atual. Se pudéssemos clonar um ser humano que viveu há 500 mil anos, colocá-lo num útero substituto e, então, após o nascimento, nutri-lo como um ser humano atual, ele conseguiria pilotar um avião? Talvez alguns de meus colegas possam dizer que não, mas a minha resposta seria afi rmativa.
SA: Se o homem de Neandertal da Espanha fabricava ornamentos 10 mil anos antes de o primo moderno ter chegado à Europa, você acredita que, em vez de os neandertais copiarem o homem moderno, pode ter ocorrido o inverso?
JZ: Antes de entrar na Europa, o homem moderno não perfurava nem entalhava os dentes de mamíferos como os encontrados em Châtelperronian, tampouco perfurava conchas bivalves como as encontradas na Espanha. Mas, assim que chegou à Europa, isso passou a acontecer. De onde o homem moderno obteve esses ornamentos? Se estivéssemos falando dos povos da Idade do Cobre, concluiríamos que os imigrantes os obtiveram dos habitantes locais. Por que deveríamos ter uma lógica diferente para os objetos neandertais?
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