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domingo, 21 de outubro de 2018

As melhores histórias da mitologia Asteca, Maia e Inca.



Comecei agora a ler o livro “As melhores Histórias da Mitologia Asteca, Maia e Inca de A.S Francini e é incrível tal como a mitologia Asteca (Mexica) a similaridade de seus mitos com personagens e inclusive histórias presentes na Europa e Oriente Médio. Histórias sobre um dilúvio universal que extinguiu a última civilização humana anterior a nossa, águas de um rio que se abrem para o povo sagrado passar (etnia quiche Maia), um rei asteca monoteísta que prega o fim dos sacrifícios humanos e o culto a um único Deus, o mesmo constrói um templo sem ídolos dedicado ao deus único e espiritual. Um deus branco chamado Votan pelos maias (tal qual o Wotan germânico), o deus civilizador Quetzalcoatl (para os Astecas) e Kukulcan (para os Maias) um deus que veio de Tula no oriente pelo mar e para lá retornou prometendo voltar. Tula a cidade que ninguém consegue localizar seja na geografia mitológica ou factual. 
São tantas as similaridades com histórias que conhecemos serem baseadas no Velho Mundo que chega a ser um disparate não considerar um contato anterior a 1492, seja pelos Vikings ou outro povo. Uma grande "coincidência" foi que a chegada de Hernaz Cortez  na América Central coincidiu com o ano do retorno de Quetzalcoatl, a serpente emplumada, um deus asteca que prometeu retornar ao seu povo após partir. Isso se deu no ano de 1519 da era Cristã que coincidiu com o calendário asteca de 52 anos cíclicos!

Leandro Claudir Pedroso


domingo, 7 de outubro de 2018

Música tema do Construindo História Hoje



Música de banda militar escocesa tocada com gaitas de fole e tambores durante o festival de verão em Edinburgh na Inglaterra em 2013. Música tema do Construindo História hoje!

Mitologia egípcia e o conhecimento através dos números. (Continuação)!




Para os egípcios, o maior mistério de todos era a “transformação” (o número nove) do Criador de Não visto para Visto, o Um que se manifesta como muitos. Essa transformação foi revelada através de sucessivos estágios: Atum (ou Rá) em Heliópolis, Ptah em Mênfis, Toth em Hermópolis e Amun em Tebas. Segundo o Papiro de Qenna do Museu de Leyden, escrito durante a décima oitava dinastia:

“Os deuses ao todo são três: Amun, Rá e Ptah, que não têm iguais. Aquele cuja natureza (literalmente, “cujo nome”) é um misterioso, sendo Amun; Rá é a cabaça, Ptah o corpo. Suas cidades na terra, estabelecidas para sempre são: Tebas, Heliópolis e Mênfis (estáveis) para sempre. Quando uma mensagem vem do céu, é ouvida em Heliópolis, repetida em Mênfis para Ptah, e transformada em carta escrita com letras de Toth (em Hermópolis) para a cidade de Amun (Tebas)”.

Essa ideia de mensagem representa o progresso da “transformação” de Céu para Terra. Porque Heliópolis era considerada o “ouvido do coração”, foi lá que a mensagem do ouvida. Nos textos sagrados, como o Sol era tido como o coração do sistema solar, então Heliópolis era o coração do Egito, a cidade do Sol. O nome Heliópolis, como é usado nos textos funerários, significa “a origem absoluta das coisas”, o que não quer dizer que isso se referia estritamente à cidade física de mesmo nome. Quando se diz em textos egípcios: “vim de Heliópolis” ou “vou para Heliópolis”, significa que “eu procedo do início” ou “estou retornando para a Fonte”.

Segundo os ensinamentos em Heliópolis, o Um que iniciou a “transformação“ é Atum, cujo nome significa “tudo” e “nada” e representa o potencial de criação imanifesto. Atum é “um” com Nun, que é o oceano cósmico e indefinível. O primeiro ato de Atum foi se distinguir de Nun, conforme é descrito na mitologia egípcia. Assim que Atum (o Todo ou Absoluto) tomou consciência de si, emergiu de Nun como a colina primordial e criou Shu, o princípio de espaço e ar, e Tefnut, o princípio do fogo, que, segundo os textos da Pirâmide de Saqqara, ele cuspiu para a existência (os textos da Pirâmide de Saqqara são um conjunto de hieróglifos, datando da quinta e da sexta dinastias do Antigo Império, aproximadamente 2350 a 2175 AEC, e que foram inscritos nas paredes das pirâmides, embora se acredite que tenha sido composto muito antes, por volta de 3000 AEC).

Em outra versão, ele se autocriou projetando o seu coração, formando os oitos princípios primários conhecidos como a Grande Enéade de Heliópolis. A Grande Enéade era composta pelos nove grandes deuses osirianos: Atum, Shu, Tefnut, Geb, Nut, Osíris, Ísis, Seth e Néftis. O termo também é usado para descrever o grande conselho de deuses e também como uma designação coletiva para todos os deuses. Osíris, Ísis, Seth e Néftis representam a natureza cíclica da vida, morte e renascimento, sendo que nada disso é dissocidado de Atum, segundo os Textos da Pirâmide.

Atum representa a “Causa” inescrutável. Pode ser pensado em termos do conceito ocidental de deus. A partir dele tudo foi criado. Está no topo da Enéade. Dele, todos os demais princípios do universo emanam. De Atum nasceram Shu (ar/vento) e Tefnut (água/umidade), os elementos mais importantes para a vida, representando o estabelecimento da ordem social. Shu apresenta o principio da Vida e Tefnut, o principio da ordem. De Shu e Tefnut, foram criados Geb e Nut, terra e céu. De Geb nasceu o Sol. Quando Nut e Geb encontraram Tefnut, ocorreu a escuridão. De Nut e Geb nasceram Osíris, Ísis, Seth e Néftis.

A aplicarmos os quatro princípios (umidade, dualidade, conciliação e o conceito de matéria), Osíris representa a encarnação e reencarnação, vida e morte, que é renovação. Seth é o princípio de oposição, ou antagonismo.

Esses acontecimentos da criação têm lugar fora dos limites do tempo terreno, além da esfera temporal. Ocorrem no céu, não na terra. De acordo com Schwaller, esses mistérios não são para serem entendidos pelos processos de raciocínio da inteligência mental. É um mistério que não é compreendido pela mente racional e só pode ser percebido pelo que os simbolistas chamam de “inteligência do coração”. Trata-se de fato, do mistério primordial de deus e sua criação, Atum, que se tornou um, dois, e assim por diante até chegar a oito.

“Eu sou Um que se transformou em
Dois. Eu sou Dois que se transformou em Quatro. Eu sou Quatro que se transformou em Oito. Depois disso eu sou Um”.

Sarcófago de Pentamon, Museu do
Cairo, [artefato] n°1160.

Essa manifestação ou proliferação de um em muitos, que ocorreu em Heliópolis, é o princípio abstrato da criação. Em Mênfis, Ptah leva mais longe essa abstração e traz para a Terra fogo do céu. Em Hermópolis o fogo divino começa a interagir com o mundo terreno. Em Tebas, a reiteração desses três processos é combinada em um, representado pela tríade de Amun.

Segundo John Anthony West, em Serpent in the Sky, a Grande Enéade emana do Absoluto, ou “fogo central”. Os nove neteru (princípios) são contidos pelo Um (o absoluto), que se torna tanto um e dez, e é a simbólica semelhança da unidade original. A Grande Enéade é a repetição e um retorno à fonte, que é vista na mitologia egípcia como Hórus, o divino filho que vinga o assassinato e desmembramento do seu pai, Osíris.

Os egípcios propugnavam uma filosofia holística, natural, que descrevia a criação do homem não como um ser lançado num mundo perigoso e violento, mas como a encarnação do divino num sentido espiritual. O homem era o Cosmo e o papel do indivíduo era de perceber isso, para alcançar a eternidade. Pitágoras compreendeu essa filosofia e descreveu-a de maneira muito coerente em seus escritos e ensinamentos. Os egípcios falavam disso na forma de mitos que encerravam uma verdade espiritual.


Leandro Claudir Pedroso

Referências:

MALKOWSKI, Edward F. O Egito Antes dos Faraós: e suas misteriosas origens Pré-históricas. São Paulo: Cultrix, 2010.


Mitologia egípcia com misticismo numérico.



A história mítica de Hórus e Seth caracteriza as estruturas rítmicas da dualidade. Das menores parcelas da realidade – o próton e o elétron – à vida orgânica e a nós, humanos, homens e mulheres – há um ritmo constante de dualidade na vida natural. É assim que o mundo funciona, tanto o animado quanto o inanimado. O próton atrai o elétron para criar uma realidade física. O macho e a fêmea, de toda a vida animal, são atraídos um pelo outro para assegurar a continuidade da vida. A dualidade está contida dentro da unidade absoluta. Eis o significado do número dois. Todo o ser humano experimenta essa dualidade já que o mundo natural reflete isso com a divisão em macho e fêmea de toda vida orgânica. Contudo, essa divisão deve encontrar conciliação, como fizeram Hórus e Seth. Essa conciliação é representada no número três.

O número três representa a relação e a conciliação entre a causa absoluta (um) e a dualidade (dois) que ela cria de si mesma. Existe meramente em um plano espiritual. Com esse decreto filosófico existe uma inegável associação entre causa e dualidade. Podemos entender isso como o que poderíamos chamar de “efeito”. Esforçamo-nos a valer para afetar pessoas e acontecimentos, muitos de nós por meio de preces ou pensamentos positivos quando as ações diretas não são ou não podem ser bem-sucedidas. Os antigos egípcios comportavam-se do mesmo modo. Em vez de chamar de prece ou pensamento positivo, eles chamavam a isso de magia.

O número quatro, representando a ideia do mundo material, era recorrente no simbolismo egípcio – as quatro regiões do céu, os quatro filhos homens de Hórus, o quatro filhos de Geb, os quatro canopos nos quase os órgãos dos mortos eram depositados no funeral. Segundo o mito egípcio, Geb se casou com sua irmã Nut, a deusa do céu, sem a permissão do poderoso deus sol, Rá. Rá ficou zangado com Nut e Geb que forçou o pai deles, Shu, o neter do ar, a separá-los: por isso a terra é separada do céu. Além disso, Rá proibiu que Nut tivesse filhos em qualquer mês do ano. Felizmente, Toth, o divino escriba, decidiu ajudar e induziu a Lua a jogar damas com ele, sendo que o prêmio era a luz da Lua. Toth ganhou tanta luz que a lua foi obrigada a acrescentar cinco novos dias ao calendário oficial. E Nut e Geb tiveram quatro filhos: Osíris, deus dos mortos, Seth, deus do caos, Ísis, deusa mãe e feiticeira, Néftis, deusa do lar.

O entendimento do número cinco, ou vida, pelos egípcios, pode ser visto no conceito do homem consciente, unido com o Absoluto e alcançando unidade com a Causa (deus). Ele se tornaria uma estrela, e “se tornaria um na companhia de Rá”. Nos hieróglifos, o símbolo para estrela era desenhado com cinco pontas. Visto como sagrado em diversas culturas, o pentagrama e o pentágono também refletem o valor místico do cinco.

Os egípcios escolheram simbolizar os fenômenos temporais e espaciais com o número seis, o número do mundo material, do tempo e do espaço. O seis representa, as divisões básicas temporais, como às 24 horas do dia, os trinta dias do mês, e os doze meses do ano, todos múltiplos de seis. O seis também é visto no cubo egípcio, o símbolo de volume, com suas seis direções de extensão (para cima, para baixo, para a frente, para trás, para a esquerda, para a direita). O faraó assentava-se em seu trono, que era um cubo, onde o homem é colocado inequivocamente na existência material.

O número sete, significando a união entre o espírito e a matéria, é expresso na pirâmide, que é uma combinação da base quadrada – simbolizando os quatro elementos – e os lados triangulares – simbolizando os três modos de espírito (4 lados na base + 3 lados triangulares = 7). Não é apenas simbólica, mas também é prevalecente em outras culturas do antigo Oriente.

O Xamã da Ásia central acreditava que a “árvore cósmica” tinha sete ramos e que também havia sete céus planetários. Era um conceito em que o Xamã, em sua busca ritualista, subiria ao céu ao longo do eixo do mundo. Segundo Mircea Eliade, em Shamanism: Archaic Technique of Ectasy, a árvore cósmica é uma ideia arcaica e universa. O mito do arco-íris, com suas sete cores sendo a estrada dos deuses e a ponte entre o céu e a terra, existia tanto nas crenças religiosas da Mesopotâmia quanto na tradição japonesa. As sete cores do arco-íris também foram incorporadas na ideia e no simbolismo dos sete céus. Tradições como essas são encontradas na Índia e na Mesopotâmia, e também no judaísmo.

Durante o Médio Império, o número oito era retratado na Ogdóadaoito entidades que formam outra variação da mitologia egípcia da criação. Embora esses seres fossem adorados principalmente em Heliópolis, aspectos da criação eram combinados com alguns mitos. Cada entidade ou aspecto é um membro de um par masculino/feminino (ou marido/ mulher), e cada par representa um aspecto do caos primordial do qual o mundo físico foi criado.

Nun e Naunet representam as águas primordiais; Kuk e Kauket, a escuridão infinita; Hu e Hauhet, o espaço vazio; e Amum e Amaunet, os poderes secretos da criação. Os deuses eram normalmente representados com homens com cabeças de cobras, e as deusas como mulheres com cabeças de rãs. Eles construíram uma ilha no vasto vazio em que o ovo “cósmico” foi colocado. Desse ovo veio Atum, o deus sol, que iniciou o processo de criação do mundo, que corresponde ao mundo físico como a humanidade o experimenta. Às vezes, a Ogdóada era representada como babuínos anunciando o primeiro nascer do sol, mostrando sete dos deuses da Ogdóada e Hórus, o falcão representando o deus Ra-Harakhty. O lugar referido como “ilha da chama” viu o nascimento do deus Sol e também era chamado de Khemenu, ou Cidade dos Oito. Os gregos a chamavam de Hermópolis.

Continua...


Leandro Claudir

Referências:

MALKOWSKI, Edward F. O Egito Antes dos Faraós: e suas misteriosas origens Pré-históricas. São Paulo: Cultrix, 2010.



Mitologia e Lendas brasileiras, Boitatá: a Cobra de Fogo!



As lendas são estórias contadas por pessoas e transmitidas oralmente através dos tempos. Misturam fatos reais e históricos com acontecimentos que são frutos da fantasia. As lendas procuraram dar explicação a acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais.
Os mitos são narrativas que possuem um forte componente simbólico. Como os povos da antiguidade não conseguiam explicar os fenômenos da natureza, através de explicações científicas, criavam mitos com este objetivo: dar sentido as coisas do mundo. Os mitos também serviam como uma forma de passar conhecimentos e alertar as pessoas sobre perigos ou defeitos e qualidades do ser humano. Os deuses, heróis e personagens sobrenaturais se misturam com fatos da realidade para dar sentido à vida e ao mundo.
Boitatá
Representada por uma cobra de fogo que protege as matas, florestas e os animais. Possui a capacidade de perseguir e matar aqueles que desrespeitam a natureza. Acredita-se que este mito é de origem indígena e que seja um dos primeiros do folclore brasileiro. Foram encontrados relatos do Boitatá em cartas do padre José de Anchieta, em 1560. Na região Nordeste do Brasil, o boitatá é conhecido como Fogo que Corre.
Também conhecido como "fogo que corre", o boitatá, no folclore brasileiro, é uma grande cobra de fogo. Este bicho imaginário foi citado pela primeira vez em 1560, num texto do padre jesuíta José de Anchieta. Na língua indígena tupi, "mboi" significa cobra e "tata" fogo.
A lenda no Norte e Nordeste 
De acordo com a lenda, o Boitatá protege as matas e florestas das pessoas que provocam queimadas. O Boitatá vive dentro dos rios e lagos e sai de seu “habitat" para queimar as pessoas que praticam incêndios nas matas. De acordo com esta lenda, o Boitatá possui a capacidade de se transformar num tronco de fogo.
A lenda no Sul 
Numa lenda do sul do Brasil, a explicação para o surgimento da Cobra de Fogo está relacionada ao dilúvio (história bíblica que fala sobre a chuva que durou 40 dias e 40 noites). Após o dilúvio, muitos animais morreram e as cobras ficaram rindo felizes, pois havia alimento em abundância. Como castigo, a barriga delas começou a pegar fogo, iluminando todo o corpo.
Em 1560 registrou o Padre José de Anchieta:

    "Há também outros (fantasmas), máxime nas praias, que vivem a maior parte do tempo junto do mar e dos rios, e são chamados baetatá, que quer dizer cousa de fogo, o que é o mesmo como se se dissesse o que é todo de fogo. Não se vê outra cousa senão um facho cintilante correndo para ali; acomete rapidamente os índios e mata-os, como os curupiras; o que seja isto, ainda não se sabe com certeza." (in: Cartas, Informações, Framentos Históricos, etc. do Padre José de Anchieta, Rio de Janeiro, 1933).

No folclore brasileiro, o Boitatá é uma gigantesca cobra-de-fogo que protege os campos contra aqueles que o incendeiam. Vive nas águas e pode se transformar também numa tora em brasa, queimando aqueles que põem fogo nas matas e florestas.

A causa desse mito pode ser explicada com uma reação química, ossos de animais, como bois, cavalos etc. que são ricos em fósforo branco, que é um material inflamável (diferente do fósforo vermelho que é usado como medicamento), se aglomeram em um lugar, o osso começa a se decompor, e sobra apenas o fósforo. Quando um raio ou faísca, entra em contato com os ossos semi-decompostos causa uma enorme chama.

A palavra, de origem indígena como a lenda, tem o significado de cobra (mboi) de fogo (tata), sendo Mbãetata em sua lingua original. Pensaram entao, em juntar as duas palavras (mboi e tata) para transforma-las neste mito: Boitatá.

Na obra Lendas do Sul, de João Simões Lopes Neto, há um conto com este nome que descreve bem o que seja a lenda. Há registro de que a primeira versão da história foi feita pelo padre José de Anchieta, que o denominou com o termo tupi Mbaetatá - coisa de fogo.

A ideia era de uma luz que se movimentava no espaço, daí, "Veio a imagem da marcha ondulada da serpente". Foi essa imagem que se consagrou na imaginação popular Descrevem o Boitatá como uma serpente com olhos que parecem dois faróis, couro transparente, que cintila nas noites em que aparece deslizando nas campinas, nas beiras dos rios. Em Santa Catarina, a figura aparece da seguinte maneira: um touro de "pata como a dos gigantes e com um enorme olho bem no meio da testa, a brilhar que nem um tição de fogo".

A versão que predominou foi a do Rio Grande do Sul. Nessa região, narra a lenda que houve um período de noite sem fim nas matas. Além da escuridão, houve uma enorme enchente causada por chuvas torrenciais. Assustados, os animais correram para um ponto mais elevado a fim de se protegerem. A boiguaçu, uma cobra que vivia numa gruta escura, acorda com a inundação e, faminta, decide sair em busca de alimento, com a vantagem de ser o único bicho acostumado a enxergar na escuridão.

Decide comer a parte que mais lhe apetecia, os olhos dos animais e de tanto comê-los vai ficando toda luminosa, cheia de luz de todos esses olhos. O seu corpo transforma-se em ajuntadas pupilas rutilantes, bola de chamas, clarão vivo, boitatá, cobra de fogo. Ao mesmo tempo a alimentação farta deixa a boiguaçu muito fraca. Ela morre e reaparece nas matas serpenteando luminosa. Quem encontra esse ser fantástico nas campinas pode ficar cego, morrer e até enlouquecer. Assim, para evitar o desastre os homens acreditam que têm que ficar parados, sem respirar. E de olhos bem fechados. A tentativa de escapar da cobra apresenta riscos porque o ente pode imaginar fuga de alguém que ateou fogo nas matas. No Rio Grande do Sul, acredita-se que o "boitatá" é o protetor das matas e das campinas. A verdade é que a idéia de uma cobra luminosa, protetora de campinas e dos campos aparece freqüentemente na literatura, sobretudo nas narrativas do Rio Grande do Sul.
Ainda hoje, esta lenda folclórica impressiona adultos e crianças, sendo citada, inclusive, como personagem de destaque em várias obras contemporâneas como, por exemplo, “Quem tem medo do Boitatá?”, de Manuel Filho, lançada em 2007. Nesta história infanto-juvenil, o avô do protagonista, Sandrinho, é cego pelo próprio Boitatá.
A serpente também é relembrada na história de José Santos, “O casamento do Boitatá com a Mula-sem-cabeça”, onde o autor descreve de forma lúdica a união de vários seres do nosso folclore. Nas referidas obras, assim como em muitas outras, o ser fantástico é citado como “o Boitatá”, mas é possível encontrar citações como “a Boitatá” tal como ocorre na obra recente de Alexandra Pericão, "Uaná, um curumim entre muitas lendas", em que a serpente, também comedora de olhos, é descrita de um jeito bem contemporâneo, com citações divertidas como “Mas ninguém, até hoje, e isso é o mais espantoso de tudo, conseguiu colocar uma foto sua na internet.Apesar do tamanho gigante, a serpente é tão discreta, que só conseguem vê-la aqueles que ela mesmo captura”.
Também José Simões Lopes Neto, em obra supramencionada, refere-se ao ser no gênero feminino, valendo citar o trecho: “Foi assim e foi por isso que os homens, quando pela primeira vez viram a boiguaçu tão demudada, não a conheceram mais. Não conheceram e julgando que era outra, muito outra, chamam-na desde então, de boitatá, cobra do fogo, boitatá, a boitatá!”.
Explicação científica:
Pesquisadores afirmam que esta lenda está associada aos incêndios, que ocorrem espontaneamente em função da queima de gases oriundos da decomposição de material orgânico.

Referências:





Anchieta, José de. Carta de São Vicente (X), em Cartas, informações, fragmentos históricos e sermões, v.3 das Cartas jesuíticas. Rio de Janeiro, Civilização brasileira, 1933, p.128

Cascudo, Luís da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. Rio de Janeiro, Instituto Nacional do Livro, 1954 | 9ª edição: Rio de Janeiro, Ediouro, sd | Geografia dos mitos brasileiros. 2ª ed. São Paulo, Global Editora, 2002, p.143-147

 Lopes Neto, João Simões de. Contos gauchescos e lendas do sul. 3ª ed. Porto Alegre, Globo, 1965.

 Magalhães, Couto de. O selvagem. Rio de Janeiro, Tipografia da Reforma, 1876, p.138

• Silveira, Valdomiro. Mixuangos. Rio de Janeiro, 1937