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quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Santos Dumont – Cronologia


            Dando seguimento ao nosso estudo sobre os grandes brasileiros, Homens e mulheres que fizeram a diferença entre a realidade de suas épocas, uma diferença que ecoa até os dias de hoje por meio de suas ideias e invenções que ajudaram o Brasil a crescer e continuar crescendo.  Nas próximas postagens continuarei trazendo outros nomes, alguns bem conhecidos de todos nós, outros nem tanto. Mas isso não os diferencia no fato de terem sido grandes pessoas que não se importaram em ir contra aquilo que era considerado absoluto e correto, mas seguiram em frente para o bem do Brasil e de toda a civilização humana.

1873 – Julho, 20. Nasce Alberto Santos Dumont, no lugar denominado Cabangu, cuja cabeça de comarca se chmava João Gomes, mudando depois para Palmira, Minas Gerais. Seu pai era o engenheiro Henrique Dumont e a mãe, d. Francisca Santos Dumont.

1874/79 – Vai morar com a família em Casal, fazenda de café do avô materno, que o pai administra, e que fica perto de Valença, Estado do Rio de Janeiro.

1879 – Muda-se, com a família, para Arinvdeúva, fazenda de café que o pai adquire, próxima a Ribeirão Preto, São Paulo.

1888 – Vê, pela primeira vez, um balão cativo na capital de São Paulo. O balão devia fazer parte de alguma exposição, ou possivelmente pertencia a algum aeronauta, profissional de parque de diversão.

1890 – O pai torna-se hemiplégico e vende a fazenda, que possuía cerca de 5 milhões de cafeeiros.

1891 – Aos 18 anos, viaja com a família para a França, a bordo do ‘Elbe’, onde o pai pretende curar-se da hemiplegia frequentando as termas de Lamalou-les-Bains. Visitando com o pai, em Paris, uma exposição de máquinas no Palácio da Indústria, descobre um motor a petróleo. Novembro, pelo ‘Portugal’, regressa com a família ao Brasil e vai residir uma casa da rua Helvetia, em São Paulo.

1892 – É emancipado pelo pai, que também lhe entrega uma fortuna em títulos. Acompanhado dos pais, volta à Europa, onde pretende estudar em Paris. Mas Henrique Dumont, chegando a Portugal, sente-se pior de saúde e volta ao Brasil. Agosto, 30. O pai falece no Rio de Janeiro. Promove, no velódromo de Parc des Princes uma corrida de mototriciclos.

1897 – Descobre, numa livraria do Rio, o livro de Lachambre e Machuron: André au Pôle Nord em Ballon. Volta a Paris e pela primeira vez sobe em balão esférico, pertencente à firma Lachambre et Machuron.

1898 – Em Vaugirard sobe com passageiros em balão esférico. Torna-se um voluntário piloto de balão, para a firma Lachambre et Machuron. Encomenda à mesma firma um pequeno balão para seu próprio uso, a que dá o nome de ‘Brasil’. Descobre o motor do triciclo a petróleo. Participa da corrida de automóveis Paris-Amsterdã, em carro adaptado com motores de triciclo. Constrói  o seu primeiro balão dirigível, o ‘Santos Dumont n.°1’. Setembro, 18. Experiência mal sucedida com o ‘Santos Dumont n.°1’.Setembro, 20. Navega pela primeira vez no ‘Santos Dumont n.°1’, tendo descida acidentada em Bagatelle, com ameaça do balão dobrar-se ao meio.

1899 – Maio, 11. Ensaio fracassado com o ‘Santos Dumont n.°2’ que se dobra ao meio no momento da elevação. Novembro, 13. No ‘Santos Dumont n.°3’ faz uma feliz ascensão, partindo do Campo de Marte, contornando a torre Eiffel, descendo no Parc des Princes. Manda construir em Saint-Cloud um hangar para os seus balões.

1900 – Agosto, 1.°. Termina a feitura do ‘Santos Dumont n.°4’. A comissão Científica do Aeroclube concede-lhe o ‘prêmio de Encorajamento’, de 4 mil francos. Com o dinheiro do prêmio, instituiu o ‘Prêmio Santos Dumont’, como incentivo aos pesquisadores da aerostação de dirigíveis.

1901 – Julho, 12. No ‘n.°5’ voa sobre Longchamps e contorna a torre Eiffel. Julho, 13. Concorrendo ao Prêmio Deutsch, de 100 mil francos, ao contornar a torre Eiffel um golpe de vento violento o atira contra as árvores do parque Rothschild. Agosto, 8. Insistindo na prova Deutsch, o balão perde gás e vai cair, explodindo sobre as paredes de um edifício do Trocadero. Preso às cordas e à quilha do balão, é retirado, ileso, pelos bombeiros. Outubro, 19. No ‘Santos Dumont n.°6’ ganha o Prêmio Deutsch, partindo de Saint-Cloud, contornando a torre Eiffel e voltando ao ponto de partida no espaço de 29 minutos e 30 segundos (30 minutos era o tempo estimado para a prova).

1902 – Janeiro, 29. Sobe no ‘n.°6’ em Monte Carlo, onde passa uma temporada naquela cidade. A convite do príncipe Dino, que mandou construir no blulevar de La Condamine um aeródromo e hangar para os seus balões. Fevereiro, 14. Acidente com o ‘n.°6’, que soçobra nas águas da baia de Mônaco. Primavera-verão. Visita Londres, Nova York e São Luis. Falece, em Portugal, sua mãe, d. Francisca Santos Dumont. Constrói neste ano os dirigíveis n.°s 7, 9 e 10.

1903 – Julho, 14. No dirigível ‘n.°7’, chamado de La Balladeuse, toma parte na grande parada militar de 14 de Julho.

1904 – Escreve Dans l’Air (Os Meus Balões). Recebe do governo francês a comenda de Cavaleiro da Legião de Honra.

1905 – Escreve artigo para a revista Je Sais Tout. Projeto do Santos Dumont n.°11. Agosto. Ascensão, em Trouville, do ‘Santos Dumont n.º14. numa corrida de lanchas na Côte d’Azur, toma conhecimento do motor ‘Antoinette’, e seu fabricante, Levavasseur.

1906 – ‘Santos Dumont n.°12, helicóptero, 2 hélices. ‘Santos Dumont n.°14’. Constrói um tipo de aeroplano aquático com asas do tipo de  ‘papagaio celular de Hargrave’. Experimenta o aparelho como planador, conseguindo, para isso, prendê-lo a uma corda e esta a um barco-automóvel, que o impulsiona. Constrói novo aparelho – um biplano – e para testar seu equilíbrio e direção, prende-o sob o dirigível ‘n.°14, desprendendo, depois, deste. Mas o biplano fica conhecido por ’14-Bis”. Setembro, 7. Campo de Bagatelle. Consegue elevar-se no biplano por um segundo. Setembro, 13. Campo de Bagatelle. Faz no biplano (’14-Bis’) um pequeno voo de 8 metros. Setembro, 30. Participa da Taça Gordon Bennet para balões livres, mas ferindo o braço numa transmissão teve que aterrissar perto de Bernay. Outubro, 23. Campo de Bagatelle. Consegue elevar-se do solo a uma altura de cerca de um metro e a uma distância de 60 metros, ganhando a Taça Archdeacon, ofertada ao piloto que em sua máquina, e por seus próprios recursos, conseguisse voar através de um percurso de 25 metros. Novembro, 12. Campo de Bagatelle. Novamente pilotando o seu ’14-Bis’ consegue voar 220 metros.

1907 – Março, 21. Sobe no ‘n.º 15, biplano do tipo celular. Abril, 4. O ’14-Bis’ é inutilizado em desastre. Agosto, 10. Sobe no balão ‘Aigle’ com pilotos do Aeroclube de França e os amigos brasileiros Antônio Prado Júnior e senhora, d. Eglantina. Constrói o monoplano ‘n.°19’. Constrói o monoplano, ‘n.°20’, conhecido por ‘Demoiselle’.

1908 – Exposição da ‘Emoiselle’ no Salão da Aeronáutica.

1909 – Passeia com sua ‘Demoiselle’ pelos céus da França.

1910 – Abandona a aeronáutica. Deixa de voar.

1913 – É erguido em Saint-Cloud monumento em sua homenagem.

1914/15 – Passa-o entre Brasil, Europa e novamente Brasil. A convite dos Estados Unidos viaja para Washington, para participar de um congresso científico.

1916 – Parte para o Chile a fim de participar de Conferência Pan-Americana a realizar-se em Santiago. Julho. Vai à Argentina, para o centenário da Assembleia de Tucuman.

1917 – Em Petrópolis constrói a casa ‘Encantada’.

1918 – O sítio de Cabangu, em Minas Gerais, lhe é doado pelo governo brasileiro. Na ‘Encantada’. Na ‘Encantanda’ escreve o livro ‘O que Vi, o que nó Veremos’.
1920 – Volta a Paris.
1922 – Manda erguer um túmulo para seus pais e para si mesmo, no Cemitério de São João Batista, do Rio de Janeiro. O túmulo é uma réplica do ícaro de Saint-Cloud.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Rui Barbosa – Cronologia



            Venho através desta nova empreitada trazer aos leitores do CHH uma coleção de postagens que tratam da cronologia da vida de grandes brasileiros. Iniciarei o trabalho trazendo até vocês Rui Barbosa. Um homem que se preparou para ser doutor, mas a sua maior vocação era a política, pois a medicina parecia uma ciência exata demais para o seu temperamento apaixonado.

1849 – Nasce Rui Barbosa em Salvador, Bahia, em 5 de novembro.

1865 – Forma-se no Ginásio Baiano do Dr. Abílio Borges. Faz um discurso de grande sucesso. Parte para o Recife, a fim de cursar a faculdade de direito.

1866 - Morre Maria Adélia, mãe de Rui. Troca de Recife por São Paulo, onde continua o curso jurídico.

1870 – Termina o curso, a 28 de outubro. Até 1872 mora em Plataforma, enfermo, e pouco trabalha na advocacia.

1872 – Começa a colaborar no Diário da Bahia, de Manuel Dantas.

1873 – Vai a Paris e a Enghiens-les-Bains tratar da saúde abalada desde o fim do curso.

1874 – Morre João José Barbosa de Oliveira, pai de Rui. Rui trabalha na Santa Casa de Misericórdia, no Diário da Bahia e no escritório de advocacia, para pagar as dividas do pai, que assume espontaneamente.

1875 – Bate-se contra o serviço militar obrigatório. Morre Maria Rosa, sua noiva, a 8 de dezembro.

1876 – Fica noivo de Maria Augusta Viana Bandeira. Casa-se Brites, irmã de Rui. Rui vem para o Rio tentar a fortuna. Traduz e prefacia O Papa e o Concílio. Volta a Bahia e casa-se, em dezembro, com Maria Augusta.

1877 – É publicado O Papa e o Concílio. Regressa à Bahia para tentar a carreira política.

1878 – Rui é eleito deputado provincial pelo Partido Liberal.

1879 – É eleito deputado geral e parte para o Rio de Janeiro. Morre Brites na Bahia. Defende o Gabinete de Sinimbu contra o ataque de Silveira Martins. Grande sucesso. Discursa sobre a eleição direta.

1880 – Saraiva assume o poder e escolhe Rui para elaborar o projeto de reforma eleitoral.
1881 – O projeto de Rui é aprovado tornando-se conhecido como Lei Saraiva. Pronuncia o Elogio do Poeta na comemoração do decenário da morte de Castro Alves. É reeleito deputado geral pela Bahia por pequena margem de votos.

1882 – Martinho Campos sucede Saraiva. Rodolfo Dantas, filho de Manuel Dantas e amigo de Rui, é ministro do Império. Rui trabalha no seu parecer sobre a reforma do ensino. Caí o Ministério em julho. Rui apresenta á Câmara seu parecer e retira-se temporariamente da vida política. Casa-se Rodolfo Dantas.

1883 – Concentra-se no trabalho no escritório de advocacia que mantém com Rodolfo Dantas e Sancho Pimentel.

1884 – Manuel Dantas é o novo chefe do governo. Rui é preterido na formação do Ministério. Rui líder do governo na Câmara. É apresentado à Câmara o projeto de emancipação dos escravos sexagenários, de autoria de Rui. O projeto não passa. Dissolvido o Parlamento, Rui disputa a reeleição com Inocência Góis e perde.

1885 – Dantas cai. Saraiva é o novo chefe do governo. Rui critica a vacilação de Saraiva no caso da lei dos sexagenários. Compromete-se  cada vez mais com a luta abolicionista. O escritório de advocacia progride bastante. Rui começa a saldar definitivamente as dívidas do pai. Candidata-se novamente à Câmara e é outra vez derrotado.

1886 – Dedica-se ao estudo e á família. Continua como escritório de advocacia. Morre José Bonifácio, o Moço. Rui é o orador da sessão cívica promovida em São Paulo. Enorme sucesso.

1888 – Agrava-se a Questão Militar. Cotegipe, que sucedera a Saraiva, demite-se. Sobe ao poder João Alfredo. Em 13 de maio é abolida a escravatura no Brasil. Rui assume a direção do Diário de Notícias, onde trabalha com Azevedo, seu grande amigo, daí em diante.

1889 – Congresso do Partido Liberal. As teses de Rui são derrotadas e Rui é desde 1888 o maior propagandista da federação. João Alfredo cai e é substituído pelo visconde de Ouro Preto. Rui é convidado para o Gabinete, mas não aceita por não constar no programa do governo a ideia da federação. Cresce a conspiração republicana. O marechal Deodoro da Fonseca aceita liderar o movimento. Rui é chamado a conspirar. Em 15 de novembro é proclamada a República. Instala-se o Governo Provisório. Rui é o ministro da Fazenda.

1890 – Grandes reformas financeiras de Rui. As alterações são muito criticadas. Rui trabalha no projeto da Constituição. Em 15 de novembro instala-se a Constituinte.

1891 – Renúncia coletiva do Ministério, em janeiro. Em fevereiro é aprovada a Constituição. Deodoro é eleito presidente da República. Seu vice é o marechal Floriano Peixoto. Em 23 de novembro, pressionado, o presidente renuncia, Floriano assume.

1892 – Começam os atos arbitrários de Floriano. Rui o combate na imprensa e nos tribunais.

1893 – revolta da Armada, liderada por Custódio de Mello. Rui é obrigado a se exilar em Buenos Aires, e depois em Londres.

1894 – Prudente de Morais é eleito e toma posse na Presidência. Morre Floriano.

1895 – Rui volta ao Brasil. É eleito para o Senado.

1896 – Rui defende-se no Senado de acusações sobre sua alegada desonestidade no Ministério da Fazenda. É reeleito para o Senado, pela Bahia, contra o desejo de Prudente. Toma posse Campos Sales, sucessor de Prudente de Morais.

1898 – Lança o jornal A Imprensa.

1901 -  Cessa a publicação do jornal. Rodolfo Dantas morre em Paris. Morre Francisco de Castro, médico particular e grande amigo de Rui.

1902 – Apresenta ao Senado o Parecer sobre a redação do projeto de Código Civil. Trava a esse propósito grande polêmica com Carneiro Ribeiro. Lança a Réplica, que consagra como o conhecedor da língua. Toma posse Rodrigues Alves. É o mais brilhante dos períodos presidenciais da República Velha. Rui o apoia. Rui estreita sua amizade com Pinheiro Machado, homem forte do regime.

1903 – Colabora com Rio Branco na questão de fronteiras com a Bolívia.

1904 – Início da vacinação obrigatória, sob a direção de Oswaldo Cruz. Rui é contra. Levanta-se a Escola Militar contra a vacinação. Atuação firme do marechal Hermes da Fonseca, sobrinho de Deodoro, evita a queda do governo.

1905 – Forma-se a coligação para impedir que Rodrigues Alves indique seu sucessor. Pinheiro Machado é o líder. Rui o acompanha.

1906 – É eleito Afonso Pena. Rui aproxima-se do novo presidente.

1907 – Segunda conferência da Paz em Haia. Atuação destacadíssima de Rui.

1908 – Começam a registrar-se divergências entre Afonso Pena e Rui quanto à sucessão.

1909 – Pinheiro Machado aceita a candidatura de Hermes da Fonseca à Presidência. Rui rompe com Pinheiro. Morre Afonso Pena. A Presidência é ocupada pelo vice, Nilo Peçanha. A candidatura de Rui é lançada pela Bahia e por São Paulo. Começa a campanha civilista.

1910 – Hermes é fraudulentamente eleito. Rui inicia violenta oposição.

1914 – Sobe à Presidência Venceslau Brás. Começa a Primeira Guerra Mundial. Rui toma posição ao lado dos aliados.

1916 – Pinheiro Machado é assassinado pelas costas no Hotel dos Estrangeiros. Rui representa o Brasil nos festejos do centenário da Independência da Argentina. Denuncia a neutralidade frente à guerra, em discurso de enorme repercussão.

1917 – O Brasil entra na guerra. Festeja-se o Jubileu Cívico de Rui Barbosa.

1918 - Termina a guerra. Rodrigues Alves é mais uma vez eleito para a Presidência. Morre antes de tomar posse.

1919 – Rui concorre à sucessão de Rodrigues Alves. É derrotado por Epitácio Pessoa. Em novembro vai à Bahia apoiar o candidato a governador, o juiz Paulo Fontes. A intervenção militar no Estado, decretada pelo governo federal, impede a vitória certa.

1920 – Paraninfo dos bacharelandos da Faculdade de Direito de São Paulo. Escreve a Oração aos Moços.

domingo, 28 de dezembro de 2014

Sambaquis, Parte III: Sepultamentos nos Sambaquis e Conclusão - Relatório de Arqueologia.

Não deixe de ler a primeira e segunda postagens sobre o tema para ficar inteirado de todas as informações:



SEPULTAMENTOS NOS SAMBAQUIS 
              Quando durante as escavações os arqueólogos chegavam em profundidades que correspondiam aos primeiros sepultamentos, os arqueólogos encontraram covas com uma grande quantia de buracos de estacas que revelam o que um dia foi uma estrutura de madeira, hoje já decomposta, que demarcava o local onde estava o morto, na cova. Encontramos também grossas camadas de conchas que separam grupos de sepultamentos em níveis, algo que reflete sepultamentos de pessoas que não possuíam laços sentimentais com os sepultamentos anteriores, essas camadas de conchas são encontradas com dezenas de anos de diferença, o que explica a falta de laços com os antigos sepultamentos, pois o grupo atual desconhecia os indivíduos sepultados anteriormente.

              Ao serem escavados, alguns sambaquis revelaram que o sepultamento em si com conchas e objetos do morto e aonde algumas vezes são encontrados alimentos para o falecido ficava logo abaixo de onde havia ocorrido a cerimonia fúnebre devidos aos vestígios de oferendas e fogo ritual que foram encontrados acima do mesmo. Quando analisamos as práticas funerárias desenvolvidas pelos grupos sambaquianos, vemos desde o principio o desenvolvimento de uma hierarquização com base nos bens depositados juntos ao corpo na sepultura e também pelo modo como o corpo do individuo é tratado após a morte, pois indivíduos de status superior recebiam um tratamento de preparação de seus corpos antes do sepultamento em si. Embora alguns arqueólogos afirmam que não havia uma relação direta entre estes aspectos de tratamento, pois são verificados dois tipos de status: um é aquele que a pessoa adquiri com seus feitos durante o decorrer de sua vida e o outro é aquele que pode ser herdado de seus ancestrais.

              Os arqueólogos ao analisar os sepultamentos de jovens aonde são encontrados um tratamento diferenciado com deposito de artefatos lindamente pintados como esculturas em pedra e osso especialmente confeccionadas com motivos do cotidiano do seu povo denota um status herdado, pois alguém tão jovem não teria tido tempo de realizar algo significante para sua sociedade segundo os padrões e expectativa de vida de seu grupo.

Crânios de sambaquianos: 12. Crânios encontrados em sepultamentos em sambaquis, os indivíduos tinham entre 40 e 50 anos. Fonte: DUARTE, 1968, p.43.

              Nos sepultamentos os ossos humanos estão muitas vezes juntos com conchas os quais acabam como matéria-prima na construção moderna, uma falta de respeito com os povos que sepultaram seus parentes nessas estruturas denominadas Sambaquis. Se esses povos possuíam uma preocupação com o sepultamento provavelmente preocupavam-se com a vida pós-morte do sepultado o que nos remete que este individuo não foi simplesmente colocado ali.   Algo que se destaque nos sepultamentos em geral são os ossos robustos dos esqueletos encontrados que nos mostram que pertenciam a pessoas que realizavam atividade física de modo rotineiro com certeza relacionados a pesca e ao remar dos seus barcos, pois sabemos que os sambaquianos tinham barcos que os levavam até ilhas no litoral.
              Alguns corpos sepultados, devido a rituais religiosos tinham seus corpos pintados de vermelho com algum corante natural, isto é verificado nos ossos dos esqueletos que aparecem cobertos com este material. Conforme os sepultamentos iam ocorrem o sambaqui crescia no decorrer de centenas de milhares de anos, aliados ao acumulo de restos alimentícios e de utensílios era um verdadeiro monumento a vida e ao cotidiano desses povos que nos seu final culminava com seus próprios corpos os principais componentes destes maravilhosos monumentos aos seus grupos sociais.

Pobres que foram humildes e grosseiros, os homens dos sambaquis eram, no entanto, acompanhados frequentemente à sepultura de seus toscos utensílios de pedra e osso, de algum alimento como se verifica da omoplata duma anta ou dum veado, com frequência ao lado dos objetos, e até de restos humanos incompletos: crânio mais comumente, às vezes dentro de cerco de pedras brutas contornando os corpos. Daí o encontro duma pedra maior, atípica, ter-se tornado, a princípio, sinal de ossada perto, quando em trabalho de pesquisa em sambaqui. (DUARTE, 1968.p.103).

            Ao serem analisados devidamente, esses sepultamentos nos mostram em parte como eram as estruturas físicas desses povos paleo-americano, podemos encontrar ossos de crânios, com dentes muito fortes, desgastados pela areia dos mariscos ou pelo mastigo de raízes e outros alimentos duros, mas, incrivelmente, sem uma só cárie, algo incrível até para a atualidade. Verificaremos como eram realizados os rituais de sepultamento, uma área de estudo responsável pela escatologia. 


Mas embora grosseiros esses túmulos primevos não deixavam de insinuar outros túmulos toscos também, perfeitamente característicos e pequenos do Egito ainda selvagem, dos clãs e das tribos nilóticas, cujo culto dos mortos evoluiria para os megálitos, tipicamente documentados pelos menhires e dólmens de tantos sítios da Europa, da Ásia e da América, e também para as sepulturas coletivas do Egito nação, para as pirâmides faraônicas, possível estilização dos mastabas, cuja forma embora mais avançada atrai claramente as longínquas origens nos grosseiros amontoados de conchas mesolíticas. Das pirâmides e das tumbas, subterrâneas ou não, ao túmulo de Máusolo ou de Cleópatra, seria apenas uma questão de tempo. [...] Resumindo: estaria no sambaqui a forma primeva de um complexo sociológico iniciado em plena era totêmica? De um lado os ritos funerários, a sepultura do chefe e indivíduos diferenciados, o Panteão. De outro, as assembleias do grupo. Para decisões coletivas, combinações de guerra ou de paz; conselho dos velhos, característico das sociedades primitivas; ritos mágicos de caça, de pesca, de instituições sociais, nascimento, casamento, alianças; festejos, danças e cantos, refeições coletivas, comemorações de todo o grupo; refúgio para segurança noturna ou defesa contra as feras e os homens. Tudo se desenrolaria no sambaqui, como à influência de um mimetismo ou contágio sociológico das grutas pintadas do Magdalense, alguns milhares de anos antes. (DUARTE, 1968, p.104-5).

            Essa reflexão de Paulo Duarte me faz pensar até aonde poderiam ter ido os grupos sambaquianos senão tivessem desaparecido. Poderiam ter-se desenvolvido e aperfeiçoado suas tradições e culturas de modo que isto seria só uma questão de tempo? Algo que muitos arqueólogos respondem positivamente.


Sepultamento: Sambaqui Ilhote do Leste, Ilha Grande, RJ. Sepultamento. Fonte: WESOLOSKY, 2000 p.162.

Enquanto em outras culturas é comum uma certa separação do espaço destinado ao sepultamento, uma vez que o cemitério é visto como um lugar a ser ignorado e/ ou evitado, os construtores de sambaquis e acampamentos litorâneos criaram um vínculo espacial claro com seus mortos ao manterem as sepulturas na mesma área do sítio, e este fato deve ser considerado como o eixo principal de todo o padrão funerário estabelecido por estes grupos. (WESOLOSKY, Verônica. Práticas funerárias Pré-históricas do litoral de São Paulo. TENÓRIO, Maria Cristina (Org.) Pré-história da Terra Brasilis, Rio de Janeiro: UFRJ, 2000, p. 190-1).
  

CONCLUSÃO
            O relatório aqui apresentado visa expor de forma clara e extremamente curiosa esses grupos sambaquianos que habitaram os litorais do Brasil e expor de forma clara suas origens e motivos de existência. Vimos que alguns sambaquis chegam a ter mais de 6 mil anos de existência e que foram construídos grupos considerados não-indígenas, pois sambaquianos não eram índios. Entendemos que os sambaquis eram monumentos erguidos durante milhares de anos gerações e gerações de grupos que habitaram e utilizaram do mesmo em seu cotidiano como abrigo, cemitério e deposito de restos alimentares e artefatos. Sendo que os principais vestígios são os restos de conchas provindos de sua alimentação diária, além de ossos de mamíferos e peixes, incluindo também restos de tubarões e outros peixes que habitavam águas mais profundas.

            Verificamos que através de estudos os grupos sambaquianos tem origem nos primeiros habitantes da América que aqui chegaram a 10 mil AP e se estabeleceram nos litorais sul-americanos com cultura material própria e que denota grande habilidade com artefatos feitos de ossos e pedra. Na análise dos sítios sambaquianos do Sul do Brasil descobrimos que os primeiros datam de 3 mil AP e que em SC no Sambaqui de Jabuticabeira-II existem mais de 43 mil sepultamentos. Por meio dessa complexidade vemos que os grupos que habitavam o litoral brasileiro eram organizados em estruturas sociais hierarquizadas com redes de troca entre outros grupos, e com uma população alta se comparada com outros grupos e que eram sedentários. Não eram simples agrupamentos humanos, mas existia uma estrutura cultual envolvida em suas relações diárias entre si e o mundo que os rodeia. Possuidores de uma indústria lítica aonde eram preparados machados, armas (incluindo pontas de flecha e outros), moedores e outros artefatos como um grande número de artefatos lascados e lascas de quartzo. Registraram-se raspadores, furadores, pontas-de-arremesso triangular, facas, quebra-cocos, percutores, talhadores e alisadores. Não podemos esquecer é claro dos zoólitos, que são esculturas feitas de osso ou pedra com a forma dos animais das regiões onde habitavam, alguns zoólitos tem forma de animais marinhos, aves e raramente, mas existem alguns com forma humana. Mas a característica mais marcante dessa cultura sambaquiana é o hábito de acumular todas essas coisas é o que diferencia seu grupo de tantos outros que ocuparam o território brasileiro. Eles consideravam os restos alimentares como material construtivo e os acumulavam, dia a dia, erguendo uma plataforma que, com o passar do tempo, mais se destacava na paisagem.

            Esse costume de acumular restos alimentares e usa-los para erguer construções não é um costume que deva ser entendido segundo a visão pratica, pois se relaciona com o prestígio dos moradores de cada local em relação aos vizinhos.  Os sambaquis eram locais de moradia, sabemos disso, pois, são encontrados diferentes artefatos e nos mostram sua relação com o cotidiano desses povos e sua vida. Outro indicio importante é que nunca foi encontrado outro local de habitação dos povos sambaquianos além do sambaqui em si. Mesmo realizando muitas atividades do dia-a-dia no próprio sambaqui os seus construtores exploravam muito todos os locais nos arredores do sambaqui.

Autor: Leandro Claudir. Criador e administrador do Projeto Construindo História Hoje e Acadêmico de História.

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REFERÊNCIAS

CADASTRO NACIONAL DE SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS, sítio RS-LN-19: Capão Alto, sambaqui localizado no município de Xangri-lá/Rio Grande do Sul. Disponível em: http://www.iphan.gov.br/sgpa/cnsa_detalhes.php?11993. Acessado em 13 de nov. de 2014.
CUNHA, Manuela Carneiro da Cunha. Os mortos e os outros. São Paulo: Hucitec, 1978.
DUARTE, Paulo. O sambaqui visto através de alguns sambaquis. São Paulo: Instituto de Pré-história da Universidade de São Paulo, 1968. p.100-105.
FERREIRA, C. C.; TORRES, F. R.; BORGES, W. R. Cubatão: Caminhos da História. Cubatão: do autor, 2007.
GASPAR, Maria Dulce. Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
GASPAR, Maria Dulce. Os ocupantes Pré-históricos do litoral brasileiro. TENORIO, Maria Cristina (Org.) Pré-história da Terra Brasilis. Rio de Janeiro: UFRJ, 2000.
SCHMITZ, Pedro Ignácio. Pré-história do Rio Grande do Sul: arqueologia do Rio Grande do Sul, Brasil 2º Edição. São Leopoldo: Instituto Anchietano de Pesquisas, 2006.
WESOLOSKY, Verônica. Práticas funerárias Pré-históricas do litoral de São Paulo. TENÓRIO, Maria Cristina (Org.) Pré-história da Terra Brasilis, Rio de Janeiro: UFRJ, 2000.
Sambaqui Figueirinha I. Disponível em:
Sambaqui Figueirinha II. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Sambaqui#mediaviewer/File:Figueirinha_II_Areia.JPG> Acesso em 10 de nov. de 2014.
Modelo de estratificação das camadas de um sambaqui do litoral sul catarinense, no Brasil. Disponível em:
Sambaqui MAE-USP. Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo. Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sambaqui,_MAE-USP_(2).JPG> Acesso em 11 de nov. de 2014.
Zoólitos. Disponível em: <http://atmosferasapiente.blogspot.com.br/2013/08/sambaquis-arqueologia-no-litoral.html>. Acessada em 11 de nov. de 2014.
Rara escultura de pedra em forma humana: Disponível em:
Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville/MASJ. Disponível em:


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