Faraó Mentuhotep I. Imagem:
História Geral da África de G. Mokhtar (Org.), pg. 54.
Não
é perda de tempo conhecer o ponto de vista dos principais envolvidos. Como os
antigos egípcios viam a si mesmos? Em que categoria étnica se colocavam? Como
denominavam a si mesmos? A língua e a
literatura que os egípcios da época faraônica nos deixaram fornecem respostas
explícitas a essas questões, que os acadêmicos insistem em subestimar,
distorcer e “interpretar”.
KMT = “os negros”(literalmente). Imagem: História Geral da África de G. Mokhtar (Org.), pg. 56.
Os
egípcios tinham apenas um termo para designar a si mesmos: KMT = “os negros” (literalmente). Esse é o
termo mais forte existente na língua faraônica para indicar a cor preta; assim,
é escrito com um hieróglifo representando um pedaço de madeira coma ponta
carbonizada e não com escamas de crocodilo. Essa palavra é a origem etimológica
da conhecida raiz KAMIT, que proliferou na moderna literatura antropológica.
Dela deriva, provavelmente, a raiz bíblica KAM. Portanto foi necessário
distorcer os fatos para fazer com que essa raiz atualmente signifique “branco”
em egiptologia, enquanto, na língua-mãe faraônica de que nasceu, significava “preto-carvão”.
Na
língua egípcia, o coletivo se forma a partir de um adjetivo ou de um
substantivo, colocado no feminino singular. Assim, KMT, do adjetivo SI = KM = preto,
significa rigorosamente “negros”, ou, pelo menos, “homens pretos”. O termo é um
coletivo que descrevia, portanto, o conjunto do povo do Egito faraônico como um
povo negro.
KMTJW = os negros, os homens pretos (literalmente). Imagem: História Geral da África de G. Mokhtar (Org.), pg. 59.
Em
outras palavras, no plano puramente gramatical, quando, na língua faraônica, se
deseja indicar “negros”, não se pode usar nenhuma outra palavra senão a que os
egípcios usavam para designar a si mesmos. Além disso, a língua nos oferece um
outro termo KMTJW = os negros, os homens pretos (literalmente) = os egípcios,
opondo-se a “estrangeiros”, que vem da mesma raiz, KM, e que os egípcios também
utilizavam para descrever a si mesmos como um povo distinto de todos os povos
estrangeiros. Esses são os únicos adjetivos de nacionalidade usados
pelos egípcios para designarem a si mesmos, e ambos significam “negro” ou “preto”
na língua faraônica.
RMT KMT = os homens do país dos homens negros ou os homens do país negro. Imagem: História Geral da África de G. Mokhtar (Org.), pg. 59.
Os acadêmicos raramente os mencionam ou, quando o fazem,
traduzem-nos por eufemismo, tais como “os egípcios”, nada dizendo sobre seu
sentido etimológico. Eles preferem a expressão RMT KMT = os homens do país dos
homens negros ou os homens do país negro.
No alto da imagem à esquerda Ramsés II e um Batutsi moderno. (Fonte: C. A. Diop. 1967. PR. XXXV). Abaixo à Esfinge, tal como foi encontrada pela primeira missão científica francesa no século XIX. Presume-se que esse perfil, tipicamente negróide, represente o faraó Khafre ou Quefrén (cerca de -2600, IV Dinastia), construtor da segunda pirâmide de Gisé. O perfil não é nem helênico nem semita: em bantu. (Fonte: C. A. Diop. 1967. pr. XIX.) Imagem: História Geral da África de G. Mokhtar (Org.), pg. 57.