

Poema escrito por Egil Skallagrimsson filho do viking Skalla-Grímr e de Bera (nascido na Islândia no povoado de Borg em 910 – 990 dC), um anti-herói escandinavo conhecido pelo nível de sua brutalidade até mesmo para um viking. Para exemplificar esse guerreiro berserker (Homem Fera) matava homens como pobres moscas no campo de batalha. E na falta de uma espada ou outra arma, Egil pulava no pescoço do inimigo, arrancando-lhe a carne e o sangue com seus dentes.
Apesar de ser o mais cruel dos guerreiros bárbaros, no entanto, por mais bizarro e contraditório que pareça, foi também um célebre poeta viking, um Skald (denominação dada aos membros de um grupo de poetas da corte dos líderes da Escandinávia e Islândia durante a era Viking que compunham e apresentavam suas interpretações sobre aspectos que, hoje, é conhecido como poesia nórdica antiga.) - massacrava e recitava poesias, antes, durante e depois de suas carnificinas. Abaixo descrevo um poema escrito por ele em louvor ao Rei Erik, o vermelho.
Egill em holmgang, em combate com Berg-Önundr; pintura de Johannes Flintoe.
Resgate da Cabeça
1. Por mar ao oeste fui,
E de Odin obtive
O sumo da poesia
Assim sempre tenho feito
Em meu navio carreguei
Quando nele embarquei
Fardos de poesia
Já o gelo s fundia.
2. Hospedagem o rei me concedeu,
Devo louvá-lo eu:
De Odin trago hidromel
Na Inglaterra agora é sorvido
Ao rei elogiei,
Na verdade cantei.
Uma canção de louvor preparei,
Se está a ouvi-la rápido.
3. Agora o rei recebe
O poema que cede
O poeta, o recita
Se o silêncio suscita
Conhecidas do senhor
Suas lutas e seu ardor
Odin foi expectador
Dos mortos e do fragor.
4. As espadas soavam
Escudos golpeavam
Feroz luta surgiu
Quando o rei atacou
Então se ouvia
O Sangue corria
Das armas o estrondo
Como ondas rompendo.
5. Uma trama de lanças
Lá se lança
Golpeiam com pujança
Chocam sem erro
De sangue já pleno
Estão os terrenos
As ondas serenas
As bandejas pretas.
6. Os homens caíam,
Os dardos lhes feriam.
Grande fama ganhava
Erik e se agraciava.
7. mais fatos contarei,
Das mortes direi,
Mais longa é minha história
De sua grade memória.
Sua fama se acresce,
Assim orei a merece,
Rompe-se o ferro fiel
Sobre o azul do broquel.
8. Quebrou-se o aço
Contra o ferro arremesso,
A ponta ensanguentada
Chocou contra outra espada
A que pende do talim
Matou a tantos ali,
De Odin os guerreiros
No jogo morreram.
9. Grande fama ganhava
Quando o dardo soava.
A espada talhava,
E Erik se agraciava.
10. Tingiu o rei a espada
De sangue, devorada
Por corvos, era achada
A carne destroçada
Por lobos, e a lança
A Hel guerreiros lança,
Da Escócia o adversário
Nutre assim o sanguinário.
11. Devora da ferida
O néctar da vida
Nos mortos aninha
A boca avermelhada,
O corvo voava
Bebia sangue carminado,
O lobo desgarrava
A carne que sangrava.
12. Ficou alegre isso é certo
O assassino esperto.
Ao lobo entrega o morto,
Junto ao mar aberto.
13. Despertava o guerreiro
O proprietário do aço
Do escudo a beira
Rachou-se primeiro,
As bordas se quebraram
Os gumes cortavam,
Os dardos voavam
Quando ao arco esticavam.
14. O dardo voador
Adiante flutuou
O arco esticado
Ao lobo alegrou
As ânsias de Hel
Venceu o guerreiro fiel,
O arco estalou
Os gumes golpeando.
15. O rei esticou seu arco
Nas sendas do barco.
As flechas voaram,
Ao lobo alimentaram.
16. Ainda mais contarei,
Aos homens direi
As façanhas do rei,
Componho com ardor.
Regala ardente ouro,
Reparte seu tesouro,
A ele se deve louvar,
Governar sem poupar.
17. Os braceletes divide,
Seus presentes não mede,
Não ama a avidez,
Reparte sem mesquinhez.
Abundante tesouro
Possui peças em ouro,
Sempre alegra o marinheiro
Com o metal verdadeiro.
18. Seu escudo defende
Da lâmina que brande,
De sua mão o desprende
Erik, o excelente.
Sei muito bem como era,
Aqui, lá onde impera,
Pelo mar se tem sabido
Que sua fama tem crescido.
19. Ante o rei tenho cantado
Os versos que tenho formado,
De coração tenho falado,
Atento me tem escutado,
Com minha boca recitei
Um poema que imaginei
De Odin o hidromel,
Ao guerreiro fiel.
20. Ao rei devo exaltar,
Recitar sem errar,
Em casa de senhores
Bem sei cantar louvores.
Agora desde o peito
Ao rei um canto tenho feito.
Disse assim meu poema,
Houve atenção suprema.
Estátua de Egil Skallagrimsson em uma praça na Islândia. Na Islândia existe até um dia de celebração a sua memória, 9 de dezembro. Ele é considerado um herói nacional.
Tradução de Ariadne Guedes.
Você quer saber mais?
Seganfredo, Carmen; Francini. A. S. Fúria Nórdica: Sagas Vikings. Porto Alegre, Editora Artes e Ofícios, 2011.
(Para meditação)
No cenário do tempo de paz, o homem público detém o papel principal. (...). De repente, a guerra retira um outro dos bastidores, impele-o ao primeiro plano, projeta sobre ele o facho das luzes: surge o chefe militar. Tem início uma peça na qual o político e o militar irão representar juntos. (...).
O político se esforça para dominar a opinião do monarca, do Conselho do povo, pois é de lá que ele extrai a ação. (...). Inconstante companheira, a opinião o segue com um passo caprichoso, (...).Toda sua vida, toda sua obra têm um caráter instável, agitado, tumultuoso que o opõe à do soldado.
Este tem por profissão o emprego das armas, (...). A partir do dia em que as empunha, o soldado é submetido a uma disciplina que não mais o deixa. (...).
A esse preço, porém, ela lhe abre o império da força. Por isso, se muitas vezes sofreu sob a disciplina, ele a mantém, melhor ainda: a ama e se glorifica daquilo que ela lhe custa, dizendo: “É minha honra!”(...).
O político e o soldado trazem ao empreendimento comum características, procedimentos e cuidados muito diferentes. (...).
Dessa desigualdade resulta alguma incompreensão. (...).
(...), o gosto pelo sistema, a segurança, a rigidez, pelos quais o espírito da profissão e as suas longas coações imprimiram no soldado como que uma segunda natureza, ao político parecem incômodos e sem atrativos. (...).
Essa falta de simpatia recíproca entre o político e o militar não é, em essência, deplorável (...).
Contudo é necessário que se possam entender. Políticos e soldados têm de colaborar, mesmo que não queiram. (...).
Durante os longos períodos em que a pátria não está diretamente ameaçada, a opinião pública opõe-se aos encargos militares. (...). Tem-se muitas vezes por desperdício tanto dinheiro consagrado às forças que não combatem. (...).
Cedo ou tarde, porém, prevista ou não, desencadeada de propósito ou suportada com horror, eis a guerra. No primeiro brilhar das espadas a ordem dos valores se subverte. Saindo da penumbra o chefe militar é investido imediatamente de uma autoridade estarrecedora. Em um piscar de olhos, seus direitos como deveres atingem limites extremos. (...). O futuro da pátria depende imediatamente daquilo que ele decide. (...).
(...), transformados pela abnegação e preocupados com o exemplo a dar, o governante e o soldado se entendem, (...).
Mas eis que a guerra desencadeia o seu cortejo de lutos e decepções. As paixões das massas se elevam ao paroxismo. Essa onda terrível, (...), não é entendida pelos homens de Estado sem vacilação. O sangue e as riquezas do povo que eles levam aos campos de batalha e pelos quais, afinal de contas, respondem, outros chefes tem de utilizá-los, e o governante deve responsabilizar-se pelo destino dos cidadãos, assim como pelo país e pelo seu próprio, e até mesmo pelo dos homens distantes, cuja arte ciumenta não admite intrusos. Essa angústia, (...), constitui em tais momentos a pior prova do poder.(...).
Se a vitória não se faz esperar o mal-estar é rapidamente apagado. (...). Porém, se o perigo cresce, o azedume se espalha, exaspera-se, na proporção do tumulto público.(...).
Transtornados pela crise, o político e o soldado, de repente, acham insuportável essa dependência recíproca na qual se vêem acorrentados. (...). Eis rompido o equilíbrio, desdenhada a ordem, esmagados os ímpetos. A ação, daí em diante, torna-se incoerente. O desastre acorre.
(...). Certamente, a condução da guerra pertence ao homem de Estado; as operações, ao militar. Mas onde cada um deve parar? Em que medida a estratégia e a política reagirão uma sobre a outra? (...). Basta considerar como o jogo foi conduzido em muitas ocasiões sancionadas pela vitória, para se constatar como o talento dobra à necessidade e às circunstâncias a doutrina e os procedimentos, e que não se acorrentam por fórmulas as contingências da ação.
(...), o caráter de crise brutal que reveste a guerra confere ao comandante militar a maior parte dos atributos próprios do governo.
Este porém [o político], fixadas as frentes, retoma o primeiro plano. É o povo que ele deve utilizar. Aumentar efetivos, mobilizar a indústria, administrar o moral dos cidadãos, ajustar-se com os aliados, tal é, desde então, o maior assunto. (...). Do mesmo jeito, estreita-se a dependência mútua da direção da guerra e das operações. A necessidade de limitar as perdas de homens tutela a estratégia. (...). O estado moral do Exército depende do estado moral do povo.
(...), a conduta da guerra consiste acima de tudo em manter a vontade nacional à altura do perigo. A mais justa glória consagra o homem de Estado que a isso soube dedicar-se sem cuidar de mais nada.
(...): nada se faz de grande sem grandes homens, e esses o são por o terem querido. (...).
Que os políticos e os soldados queiram, pois, a despeito das obrigações e preconceitos contraditórios, começar a se habituar do seu interior à filosofia que convém, e se verão, quando preciso, belas harmonias. (...): não há nas armas carreira ilustre que não tenha servido a uma política importante, nem uma glória de homem de Estado que não tenha dourado o brilho da defesa nacional.(O Fio da Espada – Charles de Gaulle)
Você quer saber mais?
Foi encontrado em 1912 por Wilfrid M. Voynich, um colecionador de livros raros no Colégio Jesuita de Vila Mondragone, em Frascati, Itália.
Alguns alquimistas reclamam para si a autoria da obra alegando ser um livro alquímico medieval...Seja como for, ninguém provou nada ainda. Tire você mesmo as suas conclusões...
Você quer saber mais?