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sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Por que teorizar a História sem Marx?

Propaganda do Partido Comunista Alemão, citando a frase de Karl Marx, que acusa as religiões de serem o ópio ou seja uma droga das massas. Década de 1930. Imagem: Arquivo Pessoal CHH.
            
Saudações a todos os Construtores amigos e leitores do Construindo História Hoje, trago diante de vocês hoje com bastante ousadia um tema complexo, do qual muitos historiadores experientes fogem do assunto para não serem tidos como revisionistas ou extremistas, dentre outras classificações. Trago este tema em pauta, pois acredito que pontuar a História principalmente pela Teoria em uma análise ultrapassada e que se mostrou de todas as formas absurda, é persistir em um verdadeiro fracasso no olhar do passado. Utilizando os ensinamentos de Marx, continuaram criando uma História por demais simplista baseada na luta de classes, no confronto entre burguesia e proletariado.

Por não crer e não aceitar o que nos é ensinado seja na Universidade ou nas Escolas de Ensino Médio e Fundamental que trago está análise. Talvez seja somente uma gota de água em tal incêndio que se alastra por décadas sem fim, mas ninguém nunca vai poder dizer que fiquei calado enquanto mentiam descaradamente para estudantes. Não vou fazer parte desse grupo de indivíduos que temem perderem o respeito dos outros membros da “hierarquia dos historiadores”. O mesmo grupo de individuo que temem perderem o luxo, conforto proporcionado pelos seus salários que foram conquistando embutindo mentiras nas mentes de universitários e jovens alunos.

A miséria religiosa é, de um lado, a expressão da miséria real e, de outro, o protesto contra ela. A religião é o soluço da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, o espírito de uma situação carente de espirito. É o ópio do povo.”

Karl Marx, em Crítica da Filosofia do Direito de Hegel (1844).

Quando o sociólogo Karl Heinrich Marx realizou está infeliz alegação sobre algo que tem por base a Cultura e Tradição humanas, posso dizer isso me baseando em um principio bem simples, e dela posso expandir a interpretação errônea de qualquer teorização da História que tenha bases marxistas. Neste assunto, basta citarmos sua famosa frase que por aqueles momentos da história de uma forma ou outra, Karl Marx inspirou-se em Immanuel Kant e Ludwick Feuderback dentre outros que já há haviam utilizado com este sentido:

"A religião é o ópio do povo!" Em alemão "Die Religion ... Sie ist das Opium des Volkes".

 Coloco aqui a expressão original, pois não sendo o alemão um idioma de origem latina torna as traduções prejudicadas e muitas vezes o sentido original acaba perdendo para mais forte ou mais fraco, ao invés de entender-se a profundidade da questão empregada pelo autor ou nesse caso a gravidade da alegação feita por Karl Marx.

            Aqui podemos ver que para Marx, a religião era improdutiva e como tal uma droga, mas nós historiadores sabemos que todas as primeiras grandes civilizações humanas tiveram por base suas crenças mais primitivas. Olhemos para os Babilônicos, Egípcios, Sumérios e posteriormente para os Gregos e Romanos. Todas estas civilizações iniciaram seu processo urbano, arquitetônico tendo por base suas crenças religiosas. Através delas esses povos foram levados a romper os limites do possível e tornaram possível através da matemática e posteriormente arquitetura as maiores obras de construção que o mundo já viu. As mesmas religiões que Marx chamou de droga, levaram os humanos à matemática, poesia, música, geografia, história, enfim não existe nenhuma de nossas primeiras civilizações que começou sem explorar sua capacidade criativa advindo da fé e da capacidade que somos mais que apenas humanos, nós somos extremamente humanos e como tais sabedores de sua essência divina. E nesta crença erguemos aquilo que chamamos de civilização.

            Na seguinte citação de sua obra “O Capital”, vemos como Marx compara o modus operandi, da burguesia com a atividade da Igreja Cristã, acredito que mais claro não preciso ser sobre como tal individuo pode ter autoridade Teórica na História:

"Nada de espantar que as formas de produção social que precederam a produção burguesa sejam tratadas da mesma maneira que os Padres da igreja tratam as religiões que precederam o Cristianismo."

 Karl Marx, em O Capital (1867).

            Marx, juntamente com Friedrich Engels elaborou a Teoria da luta de classes com o objetivo de designar o confronto entre o que consideravam os opressores, a burguesia, e os oprimidos, o proletariado. Eles enquadraram a Religião como parte de um sistema ideológico onde os opressores, a burguesia utiliza-se da religião para controlar, ou seja, “oprimir” o proletariado. Muitos críticos ao seu pensamento se revelaram, classificando a sua visão de mundo como Historicista, o que traria uma intenção de prever a história de modo supostamente ineficiente. Exemplos desses críticos são Bohm-Bawerk, Karl Popper e Paul Johnson.

O historicismo constitui esse modo ineficaz de analisar a história, assim, a base de uma visão de mundo tipicamente moderna e ocidental fundamentada nas ideias de Marx e Engels. Esta se fundamenta na noção de que as configurações do mundo humano, num dado momento presente, sempre são o resultado de processos históricos de formação, os quais são passíveis de ser mentalmente reconstruídos e, portanto, compreendidos. Como tal o Comunismo e Socialismo que tem por bases as ideias de Marx tem a pretensão de dizer que sua doutrina é capaz de certa forma predizer os acontecimentos futuros. Então quando retornamos a avaliar a afirmação de Marx que diz: “A Religião...é o ópio do povo!”, não estamos somente diante de uma afirmação presente, mas ao contrário que abrange na realidade da mente ideológica comunista uma compreensão e ação no Passado, Presente e Futuro como nos mostrar os teóricos do historicismo já citados.

Então o próprio Marx e a ideologia comunista nos deixam uma base para analisarmos com detalhes sua repulsa pela religião. Deixando dessa forma claro que qualquer que seja a ideologia que utilize seus ensinos deve levar a afirmação historicista em consideração.

Seja Socialismo ou Comunismo tratando-se de Teoria da História Marx colocou a Religião em uma posição de total desprestigio em relação ao seu valor e contribuição para o bem e desenvolvimento da civilização Humana, mas será que isto é uma realidade? Consultemos os autos da História!

Posso refutar a afirmação de Karl Marx, partindo do princípio que ao colocar a Religião em tal posição diz-se nas entrelinhas que ela também não contribuiu de forma benéfica na Civilização. Falo da Tradição e Cultura. Não posso aceitar uma historiografia que usa por base essa premissa, pois esquecem que as primeiras grandes civilizações ergueram-se através de sua Tradição e Cultura que teve por base SEMPRE A RELIGIÃO!

Religião está que levaram tribos de origens distintas a se unirem e formarem a Suméria por cultuarem os mesmos deuses ou similares e sincréticos.

Religião está que levou nômades do deserto há erguerem cidades, templos, pirâmides (diga-se de passagem, a mais incrível obra da engenharia humana) e palácios em honra a seus deuses. Estabelecendo as bases da civilização egípcia que cresceu e prosperou através do comércio. Civilização que tinha como centro de todo o seu “universo” seus deuses.

Veja o trecho a seguir e como Marx compara a Religião as burguesias que são o alvo de seus constantes ataques:

"Os economistas têm uma maneira singular de proceder. Para eles existem apenas duas espécies de instituições, as artificiais e as naturais. As instituições feudais são instituições artificiais; as da burguesia são instituições naturais. Nisto assemelham-se aos teólogos, que também distinguem duas espécies de religiões: qualquer religião que não seja a sua é uma invenção dos homens, enquanto que a sua própria religião é uma emanação de Deus. Deste modo, houve história, mas já não há."

Karl Marx, Miséria da Filosofia, 1837.

Religião está que estava presente no berço da Filosofia ocidental, na Grécia, aonde vemos uma história riquíssima baseada no culto aos deuses. Através do culto aos deuses desenvolveu-se todo um sistema de leis, tratados, festivais, arquitetura, poesia, música, teatro e tantas outras obras que não teria espaço nesta pequena reflexão para coloca-las em seus merecidos lugares. Então eu me pergunto como uma DROGA, como Karl Marx definiu a Religião poderia ser capaz de ter dado origem ha própria Civilização humana e ainda ter sido a base de todos os seus principais eventos histórico. Ela estava lá há RELIGIÃO.

Religião está que estava igualmente presente em Roma, o Império que conquistou “o mundo” e levou a “Paz Romana” aos mais longínquos locais da terra. Roma levou aos quatro cantos do mundo conhecido seus deuses e junto a eles sua arte, arquitetura, comercio direito e deveres dos cidadãos e tudo isso tinha por base seus princípios religiosos.

Talvez você esteja se perguntando como isso foi possível? Mas, eu posso mostrar como Marx errou ao chamar a maior dádiva da Civilização Humana, seja ela Ocidental ou Oriental, em ópio do povo, ou seja, a droga que embriaga a mente e tornam as pessoas meros escravos da burguesia. Vejamos então:

Quando as primeiras tribos nômades do deserto do Saara tiveram que se deslocar no fim da última Era Glacial na busca de novas regiões aonde se houve água. Essas tribos já possuíam seus deuses, mitos, contos, orações e ídolos que levavam consigo aonde fossem. Sua religião mantinha se viva através da história oral. Mas ao encontrarem nas margens do Rio Nilo, todo o tipo de recursos para sua permanência sem a necessidade de deslocamento na busca de mais recursos, pois ali havia água, animais para caça e pesca, e matéria prima para seus diversos utensílios. Essas antigas tribos nômades estabeleceram-se e firmaram as bases do que seria o Grande Império Egípcio.  Consigo estava sua fé, seus deuses, e como gratidão por encontrar tal paraíso no meio do deserto começou a aperfeiçoar o culto aos deuses.

 O desejo de criar Templos em honra a aqueles que os guiaram a terras tão prospera, era o mínimo de gratidão na mente dessas pessoas. Mas, para tanto nossos ancestrais tiveram que aprender através do erro e do acerto as bases de toda nossa sociedade atual. Eles aprenderam matemática, arquitetura, engenharia, astronomia e desenvolveram a escrita, e por meio da fé criaram uma das primeiras grandes civilizações humanas.

 Dessa Revolução Religiosa foram criadas as maiores obras da engenharia humana, como as Pirâmides de Gizé, a Grande Esfinge e tantas outras que você pode encontra, pois já foram abordadas aqui no site.

Diga-me uma única civilização da grande aurora da humanidade que não se ergueu da escuridão da Pré-história para História graças aos grandes movimentos religiosos em seu povo. Não posso aceitar Teorias Históricas baseadas nas ideias de tal homem (Karl Marx), pois sua premissa de que “a religião é o ópio do povo”, para mim o torna apenas um demagogo não importa quantos livros tenha escrito, não importa quantos milhões já estiveram sob o julgo dessa nefasta ideologia, pois para mim e pelo que tenho lido há tempos ele é apenas um demagogo famoso.

Diante de todas as afirmações aqui colocadas, acredito ter deixado claro o porquê de não poder aceitar nenhuma Teoria Histórica que tenha as ideias de Karl Marx por base.
Não! Pois, para Marx, Cultura e Tradição não importavam, pois caso contrário, não teria feito tal infame afirmação sobre as Religiões.

 Para Marx o que importa e sempre importou era a criação de um povo sem identidade individual. Para Marx o que importava era coletivizar o homem para limitar sua capacidade criativa e a Religião estava em seu caminho e para ele era necessário coloca-la em uma posição de inimiga do povo e aliada da burguesia ou aquilo que ele chama de opressor.

Não! Marx e Teoria da História são uma aliança impossível. Impossível porque Marx era um ideólogo, partidário e ateu. Nunca foi e nunca poderia fazer o trabalho de um historiador. Trabalho este que em última análise deve avaliar os eventos do passado de forma neutra, realizando todo o esforço possível para tanto. Estabelecer através de análises do passado por meio da busca constante de como as pessoas que viviam naquele momento histórico viu a si mesmo e ao mundo que os cercava.

Estabelecida esta breve análise, concluo que somente indivíduos que nunca leram Karl Heinrich Marx, possam acreditar na possibilidade de uma historiografia baseada em suas ideologias. Não importa se tenha ou qual seja a graduação, Doutor, Mestre, não importa se você utiliza os escritos de Marx para ensinar História, você o está fazendo por um destes dois motivos:

1-    Manter sua posição financeira e status social dentre os outros Mestre e Doutores. Tornando-se desse modo um hipócrita, pois sabe que está mentindo para seus alunos, mas continua!

2-    Ou você realmente acredita nas palavras de Karl Marx, e realmente é um partidário da causa marxista, e assimilou seus escritos de tal forma que não consegue ver os eventos históricos por meio de outra análise, senão, através do marxismo.

Amigos Construtores, diante de um grande tema como este vos deixo essa breve análise pautada em minhas mais variadas leituras de Marx à Engels. Espero poder contribuir para que outros que pensam como eu tenha coragem de opor-se a ideias pré-estabelecidas como verdades absolutas. Coisa está que não deveria nem ser cogitada na História, pois História é feita de constantes descobertas e constantes adaptações a nossa realidade presente, aonde podemos ver o fracasso que foi o comunismo como regime político e como atividade social humana um verdadeiro desastre. Então temos novos eventos para “encaixar” e verificar que Teorizar a História por Marx não constrói fatos, mas cria mitos.

13 de setembro de 2013

Leandro Claudir é criador e administrador do Projeto Construindo História Hoje e Acadêmico de História pela Universidade Luterana do Brasil.

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Você quer saber mais? 

MARX, Karl Heinrich. Miséria da Filosofia (1837); Tradução e Introdução de José Paulo Netto. São Paulo: Global Editora e Distribuidora, 1985.

MARX, Karl Heinrich. Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, 1844.

MARX, Karl Heinrich. Salário, preço e lucro, 1865.

MARX, Karl Heinrich. O Capital, 1867.

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