PESQUISE AQUI!

domingo, 25 de agosto de 2024

Período Regencial (Brasil Império)

     Obrigado a intervir nos acontecimentos de Portugal, dom Pedro perdeu cada vez mais apoio na política interna do Brasil. Procurando recuperar a popularidade perdida, em 1829 reformou o ministério, acusado de favorecer o absolutismo. 

        O episódio, conhecido como Noite das Garrafadas, marcou o início de uma série de conflitos entre oposicionistas e partidários do imperador. No dia 6 de abril dom Pedro destituiu seu ministério composto apenas por brasileiros e o substituiu por outro, formado por defensores do absolutismo. Em resposta, a população do Rio de Janeiro, juntamente com tropas do Exército, concentrou-se no Campo de Santana e exigiu a volta do ministério deposto. Enfraquecido e sem apoio militar, o imperador abdicou do trono em favor do filho, o príncipe Pedro de Alcântara, de apenas 5 anos. Era o dia 7 de abril de 1831, Uma semana depois, o ex-imperador partiu rumo a Portugal. Deixava no Brasil dom Pedro de Alcântara sob a tutela de José Bonifácio.

        No Brasil, tal como previa a Constituição, ainda em abril de 1831 formou-se uma Regência Trina Provisória para governar o país. Pela primeira vez, a elite nacional assumia plenamente o controle da nação. Estava previsto na Constituição. Em caso de morte ou abdicação do imperador, e estando seu herdeiro impossibilitado de assumir o trono por razões de menoridade, o governo seria entregue a uma Junta de três regentes indicados pela Assembleia Geral (Câmara de Deputados e Senado), até que o jovem príncipe atingisse a maioridade, ao completar 18 anos.  Foram escolhidos José Joaquim Carneiro de Campos, ex-ministro de dom Pedro I, da corrente conservadora; o senador Nicolau Vergueiro, latifundiário de São Paulo e ligado aos liberais moderados; e um representante do Exército, o brigadeiro Francisco de Lima e Silva. A Regência Trina Provisória governou até 17 de junho de 1831, quando a Assembléia Geral elegeu a Regência Trina Permanente. 

        Para a nova regência foram escolhidos João Bráulio Muniz, representando as províncias do Norte, e José da Carvalho, pelas do Sul. Ambos eram ligados aos liberais moderados. Mantido no cargo, o brigadeiro Francisco de Lima e Silva continuava a ser o terceiro nome da Regência. O novo governo assumiu em meio a um clima de tensão em diversos pontos do país. O Ato Adicional de 1834 criou também a Regência Una, que deveria substituir a Regência Trina Permanente, determinando a eleição do regente por meio do voto popular para um mandato de quatro anos.

        Realizadas em abril de 1835, as eleições para regente contaram com a participação de cerca de 6 mil eleitores (pouco mais de 0,1 por cento da população, estimada em 5 milhões de pessoas). Venceu o ex-ministro da Justiça, padre Diogo Antônio Feijó. Feijó assumiu a Regência Una em outubro de 1835, em meio a uma crise de grandes proporções. Em algumas províncias, a situação era de guerra civil, como ocorria no Pará, com a rebelião conhecida como Cabana em (1835-1840), e no Rio Grande do Sul, com a Guerra dos Farrapos (1835-1845) sobre as rebeliões na Regência. Em setembro de 1837 Feijó renunciou à Regência. O cargo de regente foi, então, ocupado interinamente pelo ministro do Interior, Pedro de Araújo Lima. No pleito realizado meses depois, o próprio Araújo Lima, apoiado pelos regressistas, foi eleito regente.

       Em abril de 1840 formou-se o chamado Clube da Maioridade, cuja presidência foi entregue ao liberal Antônio Carlos de Andrada e Silva, irmão de José Bonifácio. A campanha foi para as ruas, com a distribuição de panfletos e a criação de quadrinhas defendendo a maioridade do jovem príncipe. O próprio dom Pedro apoiava a proposta. Depois de muitos debates, no dia 23 de julho de 1840, a Câmara e o Senado aprovaram o projeto liberal, concedendo a maioridade a dom Pedro de Alcântara, então com 14 anos de idade, e declarando-o imperador do Brasil como dom Pedro II. O episódio ficaria conhecido como Golpe da Maioridade. No dia seguinte, o soberano organizou seu ministério, composto de representantes do Partido Liberal. Era o início de um reinado que iria se estender pelos 49 anos seguintes.

Você quer saber mais?

ARRUDA, José Jobson de A; PILETTI, Nelson. Toda a História: História Geral e História do Brasil-9º edição. São Paulo: Ed. Ática, 1999.

AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo. História: Volume Único. São Paulo: Ed. Ática, 2011. 

VAINFAS, Ronaldo; FERREIRA, Jorge; FARIA, Sheila de Castro; CALAINHO, Daniela Buono. História.doc. São Paulo: Ed.Saraiva, 2015.

JÚNIOR, Alfredo Boulos. Coleção História: Sociedade & Cidadania. São Paulo: FTD, 2004.

COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral-8º edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2005, pg.71.

COTRIM, Gilberto; RODRIGUES, Jaime. Historiar- 2º ediçaõ. São Paulo: Editora Saraiva,  2015, pg.206-209.

VICENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História para Ensino Médio: História Geral e do Brasil. São Paulo: Editora Scipione, 2005.

REZZUTTI, Paulo. D.Pedro I:  A história não contada. O homem revelado por cartas e documentos inéditos. São Paulo: Leya, 2020.





quarta-feira, 21 de agosto de 2024

A Guerra Fria

 A Segunda Guerra Mundial chegou ao final em 1945. Mas o ato final dessa guerra ocorreu com a explosão de duas bombas atômicas no Japão. O mundo, a partir daí, não seria mais o mesmo. Dos escombros da Segunda Guerra, surgiram dois poderosos países, com diferentes regimes políticos, em constantes conflitos e armados com artefatos nucleares de enorme capacidade destrutiva.

Ao final da guerra na Europa, ocorreu uma terceira reunião, a Conferência de Potsdam, na Alemanha. O primeiro-ministro inglês, Winston Churchill, e o novo presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, não se mostravam dispostos a cumprir os acordos anteriores. Eles não queriam que os países do Leste europeu ficassem sob a influência soviética. 

Winston Churchill, em 1946, usou uma expressão que ficou muito conhecida: “Uma cortina de ferro abateu-se sobre o continente”. Nessa referência à Europa, ele criticava a dominação soviética sobre o Leste europeu e países aprisionados em uma “cortina de ferro”. Também era uma crítica ao comunismo. Mas o discurso mais duro contra a União Soviética e ao comunismo foi proferido pelo presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, um ano depois. O discurso ficou conhecido como Doutrina Truman. Para ele, o mundo estava dividido em dois sistemas que abrangiam aspectos políticos, econômicos, sociais e ideológicos. Foi nesse contexto internacional que teve início a chamada Guerra Fria. Era uma guerra política e ideológica, mas sem o calor das armas. Cada lado se autoelogiava e criticava o outro. 

A Guerra Fria tem origem na ambição dos Estados Unidos e da União Soviética de manterem suas áreas de influência no mundo. Os Estados Unidos tinham como aliados os países da Europa Ocidental, como a Inglaterra, a França e a Itália, entre outros. Tinha também como aliados o Japão e os países da América Latina. A União Soviética, por sua vez, exercia domínio sobre os países da Europa Oriental. O mundo, a partir de 1947, conheceu uma ordem mundial bipolar, com dois poderosos países exercendo domínio econômico, político e ideológico em suas áreas de influência. Durante 40 anos, Estados Unidos e União Soviética viveram em antagonismo, e conflitos periódicos. Na época da Guerra Fria, o debate político e ideológico entre os defensores do capitalismo e do socialismo soviético foi intenso. Os partidários do sistema capitalista apoiavam a propriedade privada, a liberdade de iniciativa dos empresários, o livre mercado e as liberdades individuais. Na política, defendiam a democracia liberal, embora muitos países capitalistas vivessem sob ditaduras. Os que apoiavam o modelo de socialismo existente na União Soviética - também chamado de comunismo — afirmavam que o Estado investia fortemente em saúde, educação e habitação, além de garantir o igualitarismo social.

A Guerra Fria ficava cada vez mais acirrada. No entanto, os Estados Unidos tinham um trunfo: a bomba nuclear. A União Soviética ainda não dominava essa tecnologia; mas, em 1949, explodiu a sua primeira bomba nuclear. Em 1952, os militares estadunidenses explodiram um novo tipo de bomba nuclear: a de hidrogênio, cujo poder destrutivo era muito mais devastador. A explosão foi no atol de Bikini. Ela era mil vezes mais potente que a bomba lançada sobre Hiroshima. Mas, em 1958, os soviéticos explodiram a sua própria bomba de hidrogênio. 

Para evitar que crises como essa provocassem uma guerra, no ano seguinte foi instalada uma linha telefônica entre a Casa Branca, sede do governo dos Estados Unidos, e o Kremlin, centro do poder soviético, de modo a colocar em contato direto os lideres das duas superpotências em momentos de grande tensão internacional, Essa linha era conhecida como telefone vermelho. 

Em 1957,o mundo foi surpreendido com o lançamento do primeiro satélite artificial da Terra — o Sputnik, de fabricação Soviética. Era o começo da corrida espacial entre as duas superpotências. Os soviéticos saiam na frente. Uma semana depois, foi colocado em órbita o Sputnik 2, com a cadela Laika, primeiro ser vivo a ir para o espaço. O governo dos Estados Unidos reagiu em 1958, com a criação da Nasa, órgão responsável pelo programa espacial norte-americano e o lançamento do Explorer 1 no mesmo ano. 

A partir de 1960, o principal objetivo das viagens espaciais passou a ser o envio de seres humanos ao espaço. Novamente a União Soviética saiu na frente: em 1961, enviou Yuri Gagarin na cápsula espacial Vostok 1, que percorreu cerca de 40 mil quilômetros em volta da Terra numa única órbita. A viagem durou 1 hora e 48 minutos. Em 1962, os norte-americanos enviaram John Glenn ao espaço. Apesar da vantagem inicial soviética, foram astronautas norte-americanos os únicos seres humanos a chegar à Lua até agora. Em 20 de julho de 1969, o módulo lunar da nave Apollo 11 pousou no solo do satélite. Neil Armstrong, um de seus três tripulantes, tornou-se, então, o primeiro ser humano a pisar na superfície lunar.

Você quer saber mais?

ARRUDA, José Jobson de A; PILETTI, Nelson. Toda a História: História Geral e História do Brasil-9º edição. São Paulo: Ed. Ática, 1999.

AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo. História: Volume Único. São Paulo: Ed. Ática, 2011. 

VAINFAS, Ronaldo; FERREIRA, Jorge; FARIA, Sheila de Castro; CALAINHO, Daniela Buono. História.doc. São Paulo: Ed.Saraiva, 2015.

JÚNIOR, Alfredo Boulos. Coleção História: Sociedade & Cidadania. São Paulo: FTD, 2004.

COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral-8º edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2005, pg.71.

COTRIM, Gilberto; RODRIGUES, Jaime. Historiar- 2º ediçaõ. São Paulo: Editora Saraiva,  2015, pg.206-209.

VICENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História para Ensino Médio: História Geral e do Brasil. São Paulo: Editora Scipione, 2005.

REZZUTTI, Paulo. D.Pedro I:  A história não contada. O homem revelado por cartas e documentos inéditos. São Paulo: Leya, 2020.




sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Sete de setembro e o Império que nasce

 “Faça patente ao público as minhas ideias acerca do comércio da escravatura, que, segundo penso, é uma das causas do atrasamento em que, por ora estamos. […]” D. Pedro I

D. Pedro partiu do Rio de Janeiro para São Paulo em 14 de agosto para apaziguar a situação, pois parte do governo provincial tinha se aliado às Cortes de Portugal, mas um dia antes publicou um decreto redigido por José Bonifácio, mediante o qual nomeava D. Leopoldina regente em seu lugar, sendo-lhe autorizado despachar com os ministros, os secretários e o Conselho de Estado enquanto o príncipe estivesse viajando.

O Príncipe Regente vinha acompanhado por uma pequena escolta, mas durante a viagem a comitiva engrossou, recebendo a adesão de cidadãos notáveis da região do Vale do Paraíba. No dia 25 a comitiva entrou em São Paulo, segue o relato de uma testemunha: “ele era um moço bonito, de olhar alegre e de barbas ‘suíças’. Quando apeou do cavalo, então, causava admiração. Alto, elegante e sem luxo”.

No dia de setembro, subiu de Santos a São Paulo pela estrada de ligação entre o litoral e o planalto. D. Pedro não vestia farda de gala na ocasião, e sim uma fardeta azul de polícia, sem luxo algum. Trajava calças da mesma cor, botas grandes e envernizadas e um chapéu armado. Também levava sua espada. Ia montado em uma égua possante. De acordo com as memórias deixadas pelo primeiro comandante de sua guarda de honra, o coronel Antônio Leite Pereira da Gama Lobo: “Após subir a serra e assim que chegaram ao planalto chegou um correio vindo do Rio de Janeiro alcançou o príncipe e entregou-lhe um ofício e cartas enviadas pela regência. Ao lê-los, disse-me que as Cortes queriam massacrar o Brasil”.

Chegando ao ribeirão do Ipiranga, a guarda parou junto a uma casinhola que ficava à beira da estrada, à margem daquele riacho. Ao longe a comitiva viu chegar dois viajantes que logo reconheceram ser oficiais da Secretaria do Supremo Tribunal Militar, que a mandado de José Bonifácio vinha do Rio de Janeiro apressadamente, procurando D. Pedro. 

Os correios traziam despachos do governo de Portugal e notícias das cortes, além de cartas de José Bonifácio e de D. Leopoldina. Em 28 de agosto, chegara ao Rio de Janeiro o navio Três Corações, que deixando Portugal em 3 de julho, trazia informações a respeito do que se passava em Lisboa. Soube-se, talvez por nota dos deputados brasileiros no congresso, extratos da ata ou algum resumo das decisões que seriam adotadas em relação ao Brasil. Somente em 21 de setembro, pelo navio Quatro de Abril, chegariam as cartas régias obrigando a que fossem cumpridas. 

As resoluções, debatidas nas Cortes em junho de 1822 e votadas em 1° de julho, negavam a petição enviada do Brasil para que se repensasse a fragmentação do reino em províncias ligadas diretamente a Portugal. Além do mais, as Cortes consideravam violenta e injuriosa a linguagem usada pelo governo provisório de São Paulo  em carta a D. Pedro de dezembro de 1821, na qual pedia que não obedecessem às ordens de deixar o Brasil. Os membros do governo, incluindo José Bonifácio, agora ministro, deveriam ser presos, processados e julgados. Todas as decisões do príncipe ficavam anuladas, inclusive a criação do Conselho de Procuradores. Para piorar, D. Pedro e a família deveriam cumprir as ordens anteriores e retornar à Europa. Além disso, vinham também informações, da princesa e de José Bonifácio, do desembarque de tropas na Bahia e da chegada prevista de reforços portugueses, que fariam do local uma ponta de lança para varrerem do restante das províncias brasileiras quem se posicionasse com o príncipe pela unidade do Brasil.

Os despachos vindos do Rio de Janeiro ainda davam conta de uma reunião do Conselho de Estado, convocado e presidido por D. Leopoldina em 2 de setembro, no palácio de São Cristovão. Segundo o cronista Melo Morais, cita-se:

“Ali se deliberou sem discussão, depois de José Bonifácio ter feito uma exposição verbal do estado em que achavam os negócios públicos, e de concluir, e de concluir, dizendo ter chegado a hora de acabar com aquele estado de contemporizar com os seus inimigos, que o Brasil tinha feito tudo quanto humanamente era possível fazer para conservar-se unido com dignidade a Portugal, mas que Portugal em vez de acompanhar e agradecer a generosidade com que o Brasil o tratava, insistia nos seus nefastos projetos de o tornar à miserável condição de colônia, sem nexo e nem centro de governo, que portanto ficasse com ele a responsabilidade da separação. Propôs que se escrevesse ao sr. D. Pedro para que seu Alteza Real houvesse de proclamar a independência sem perda de tempo. A princesa real, que se achava muito entusiasmada em favor da causa do Brasil, sancionou com muito prazer a deliberação do Conselho sobre a separação do Brasil de Portugal”.

D. Leopoldina e o marido já haviam conservado sobre isso antes e ela estava ciente que o marido ratificaria sua decisão. Junto as despachos havia uma carta de José Bonifácio que entre outras coisas dizia:

“Ministro fiel, que arrisquei tudo por minha pátria e pelo meu príncipe, servo obedientíssimo do senhor D. João VI, que as Cortes têm na sua detestável coação, eu como ministro, aconselho a Vossa Alteza que fique e faça do Brasil um reino feliz, separado de Portugal, que é hoje escravo das Cortes despóticas. Senhor, ninguém mais que sua esposa deseja a sua felicidade, e ela lhe diz em carta que com esta será entregue que Vossa Alteza deve ficar e fazer a felicidade do povo brasileiro, que o deseja como seu soberano, sem ligações e obediências às despóticas Cortes portuguesas que querem a escravidão do Brasil e a humilhação do seu  adorado príncipe regente. Fique, é o que todos pedem ao magnânimo príncipe que é Vossa Alteza, para o orgulho e felicidade do Brasil. Se se não ficar, correrão rios de sangue nesta grande e nobre terra, tão querida do seu pai, que já não governa em Portugal pela opressão das Cortes, nesta terra que tanto estima a Vossa Alteza e a quem tanto Vossa Alteza estima”.

D. Leopoldina dizia ao marido:

“Pedro, o Brasil está como um vulcão. Até no paço há revolucionários. Até oficiais das tropas são revolucionários. As Cortes Portuguesas ordenam vossa partida imediatamente, ameaçam-vos e humilham-vos. O Conselho do Estado aconselhava-vos para ficar. Meu coração de mulher e de esposa prevê desgraças, se partirmos agora para Lisboa. Sabemos bem o que tem sofrido nossos pais. O rei e a rainha de Portugal não são mais reis, não governam mais, são governados pelo despotismo das Cortes que perseguem e humilham os soberanos a quem devem respeito. […] O Brasil vos quer para seu monarca. Com o vosso apoio ou sem o vosso apoio fará a separação. O pomo está maduro, colhei-o já, senão apodrece. […] Fazei, pois. Terei o apoio do Brasil inteiro e,  contra a vontade do povo brasileiro, os soldados portugueses que aqui estão nada podem fazer”.

Após as cartas e os despachos  terem sido entregues pelos correios a D. Pedro, pediu para o padre Belchior lesse em voz alta o conteúdo do material recebido. D. Pedro, após se ajeitar, amassou as cartas e as jogando ao chão, de onde foram recolhidas e guardadas pelo religioso. Ele virou-se para o padre e disse:

___ E agora, padre Belchior? 

E o padre respondeu:

___Se Vossa Alteza não se faz rei do Brasil será prisioneiro das Cortes e talvez deserdado por elas. Não há outro caminho senão a independência e a separação.

D. Pedro então cavalgou em direção a uma venda onde se achavam quase todos os Dragões da Guarda. Havia de ser quatro horas da tarde, mais ou menos. Vinha o príncipe na frente. Vendo-o voltar-se para o nosso lado, a tropa saiu ao seu encontro. Diante da Guarda que descreveu um semicírculo, estacou o seu animal e de espada desembainhada bradou, segundo relata o padre Belchior:

“Amigos, as Cortes portuguesas querem escravizar-nos e perseguem-nos. De hoje me diante, nossas relações estão quebradas. Nenhum laço nos une mais”. ___ E arrancando (o príncipe) do chapéu o laço azul e branco decretado pelas Cortes, como símbolo da nação portuguesa, atirou-o ao chão dizendo: “Laços fora, soldados! Vivam a independência, a liberdade e a separação do Brasil”! Respondemos com um viva ao Brasil independente e separado, e um viva a Pedro. O príncipe desembainhou a espada, no que foi acompanhado pelos militares, os paisanos tiraram os chapéus. E D. Pedro disse: “Pelo meu sangue, pela minha honra, pelo meu Deus, juro fazer a liberdade do Brasil”. E todos responderam “juramos”.

D. Pedro embainho a espada, no que foi imitado pela guarda, pôs-se à frente da comitiva e voltou-se, ficando em pé nos estribos: “Brasileiros, a nossa divisa de hoje em diante será Independência ou Morte!”

Você quer saber mais?

REZZUTTI, Paulo. D. Pedro- a história não contada. São Paulo: Ed. LeYa, 2020.

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

O muro da vergonha comunista, o muro de Berlim!

 A maldade do comunismo não é, nele, mero acidente, que tanto poderia existir como não existir. É uma consequência necessária de suas concepções filosóficas e morais. 

O Muro de Berlim foi erguido pela socialista República Democrática da Alemanha no dia 13 de agosto de 1961 e só foi derrubado pelo povo no dia 9 de novembro de 1989. Foram o equivalente a 28 anos, dois meses e 27 dias dividindo famílias, amigos, companheiros de trabalho e conterrâneos dentro da capital alemã. Hoje, os berlinenses já estão reunificados por mais tempo do que foram mantidos separados pelo socialismo.

Esta data constitui uma excelente ocasião não apenas para celebrar a restauração das liberdades mais básicas para os berlinenses, como também para denunciar novamente a monstruosidade em que, necessariamente, todos os regimes socialistas acabam se transformando.

No entanto, o muro da vergonha socialista não foi nenhum acidente histórico: foi, isso sim, a consequência natural e inexorável de uma ideologia que institucionalizava a exploração do homem pelo homem, ao mesmo tempo em que, paradoxalmente, dizia estar abolindo essa exploração.

Ao passo que o socialismo promete criar o paraíso na Terra, ele entrega apenas o inferno político, social e econômico do qual a maioria da população ardorosa e desesperadoramente deseja fugir.

No dia 13 de agosto de 1961, começou a construção do Muro de Berlim. O muro era constituído de tijolo e concreto, e levou dois anos para ser totalmente finalizado. Quando concluído, ele tinha 45 quilômetros de extensão e 2,74 metros de altura, com arame farpado no topo. Os guardas do lado oriental estavam sempre armados com metralhadoras e atiravam em qualquer um que tentasse cruzar o muro. Havia também uma área de 183 metros, entre o primeiro obstáculo e o muro, coberta de minas terrestres e patrulhada por cães policiais.

O número de mortos ao longo das fronteiras entre Ocidente e Oriente varia de 270 a 780. Apenas no muro, calcula-se que 140 pessoas tenham morrido, de acordo com o Memorial do Muro de Berlim, entre 1961 e 1989.

Você quer saber mais?

GADDIS, John Lewis. História da Guerra Fria. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.

HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

https://mises.org.br/artigos/2823/o-muro-de-berlim-nao-foi-um-acidente-historico

https://www.ipco.org.br/ha-25-anos-da-derrubada-muro-de-berlim-o-muro-da-vergonha

domingo, 11 de agosto de 2024

Origem da civilização romana

 A Loba Capitolina - o símbolo de Roma.  A lenda dos irmãos Rômulo e Remo originou uma escultura que veio a se tornar o símbolo de Roma: a Loba Capitolina.

O Império Romano é considerado o maior civilização da história ocidental. Durou cinco séculos: começou em 27 a.C. e terminou em 476 d.C. Estendia-se do Rio Reno para o Egito, chegava à Grã-Bretanha e à Ásia Menor. Assim, estabelecia uma conexão com a Europa, a Ásia e África. Uma das estórias sobre a fundação de Roma é a célebre lenda dos irmãos gêmeos, Rômulo e Remo, que viveram em 753 a.C.   Segundo historiadores, Roma surgiu a partir de um grupamento de pastores que viviam às margens do Rio Tigre. É essa a região geográfica que corresponde hoje à Itália. No decorrer do século VI a.C., Roma ficou sob a direção dos etruscos, de origens gregas. A liberdade foi conquistada gradualmente, quando se transformou numa cidade-estado onde a forma de poder exercida era a monarquia. Com as constantes desavenças entre os reis, os romanos experimentaram a república, entre 509 a.C. e 30 a.C. Nesta época, Roma passou a exercer forte poder colonial, político e militar.

Rômulo e Remo

Rômulo e Remo são dois irmãos gêmeos que, segundo a mitologia romana, estão diretamente ligados à fundação de Roma, tendo sido Rômulo especificamente o fundador da cidade. Segundo a lenda, filhos do Rei Marte e de Reia, os irmãos foram atirados a um rio para morrerem afogados. No entanto, acabaram por sobreviver e foram encontrados na margem do Rio Tibre por uma loba que passou a amamentá-los. Posteriormente, foram encontrados por um pastor de ovelhas chamado Fáustulo, que os criou como filhos.

A história de Rômulo e Remo

De acordo com a lenda de Rômulo e Remo, eles eram filhos do Deus grego Ares (também chamado de Marte) e de Reia Sílvia, mortal filha de Numitor, Rei de Alba Longa. Numitor havia sido deposto por Amúlio, seu próprio irmão, que obrigou sua sobrinha Reia a integrar o grupo das Virgens Vestais.  As vestais eram sacerdotisas com idade entre os 6 e os 10 anos, que cultuavam a deusa romana Vesta e faziam voto de castidade, servindo a ela durante 30 anos.  A intenção de Amúlio era dar fim a qualquer descendência de Numitor, evitando que sua sobrinha pudesse gerar futuros requerentes do trono, já ele próprio tinha interesse em reinar. No entanto, seduzida pelo Deus Marte, Reia acabou por engravidar e deu à luz os gêmeos Rômulo e Remo. Furioso, Amúlio ordenou que os bebês fossem atirados ao rio para morrerem afogados. 

O cesto onde estavam os bebês, no entanto, foi parar à margem do rio e os irmãos foram encontrados por uma loba que passou a amamentá-los. Posteriormente, um pastor de ovelhas chamado Fáustulo encontrou os irmãos perto da entrada de uma caverna e, com sua esposa, criou os meninos como filhos.

Quem são os fundadores de Roma na mitologia?

Segundo a mitologia romana, embora Rômulo e Remo estejam diretamente ligados à fundação de Roma, o fundador propriamente dito foi Rômulo. Já em idade adulta, Remo teve um desentendimento com um pastor local e, por esse motivo, foi entregue ao então Rei Amúlio, que fez dele prisioneiro.  Com isso, o pai adotivo Fáustulo falou sobre a ascendência dos irmãos ao gêmeo de Remo, Rômulo, que partiu para resgatar o irmão.  Depois de libertar Remo, Rômulo matou o então regente Amúlio e os cidadãos locais ofereceram a coroa de Alba Longa aos irmãos, que preferiram devolver o trono ao avô Numitor e fundar uma cidade própria em outro local.  Os irmãos entraram em desacordo sobre qual seria o local ideal; enquanto Rômulo escolheu a região do Monte Palatino, Remo optou pelo Monte Aventino.  Como não chegaram a um consenso, os irmãos optaram por decidir através de um auspício, que consiste no ato de observar as aves de forma a receber resposta através de um sinal dos deuses.  Rômulo afirmou ter visto 12 pássaros sobre o Monte Palatino, enquanto Remo afirmou ter visto 6 sobre o Monte Aventino, o que veio a significar a vitória de Rômulo.

A morte de Remo e o reinado de Rômulo

Na disputa pela decisão do local ideal para a construção de uma nova cidade, Remo não aceitou de bom grado a vitória do irmão, que prontamente começou a construção de uma muralha ao redor do local de sua escolha: o Monte Palatino. Remo respondeu à construção do irmão com bastante ironia, debochando e rindo constantemente dela e da cidade do irmão.  Em dado momento, chegou a subir na muralha com uma atitude jocosa e irônica, o que despertou a fúria de Rômulo que acabou por matar o irmão.  Algumas versões da morte de Remo apresentam um desfecho diferente. Uma afirma que quem matou Remo foi um apoiador de Rômulo e outra relata que, na verdade, Remo acabou por cair da muralha vindo a falecer. Essa versão é interpretada como um sinal do poder dos deuses de Roma.  No dia da morte de Remo, em 21 de abril de 753 a.C. acontece a fundação de Roma pelas mãos de Rômulo.

Você quer saber mais?

ALFÖLDY, Géza. A História Social de Roma. Lisboa: Editorial Presença, 1989.

ARAÚJO, Sônia Rebel de; CARDOSO, Ciro Flamarion. A Sociedade Romana do Alto Império. In: MENDES, Norma Musco; SILVA, Gilvan Ventura da. (Orgs.). Repensando o Império Romano: perspectiva socioeconômica, política e cultural. Rio de Janeiro: Mauad; Vitória, ES: EDUFES, 2006.

AZEVEDO, Sarah Fernandes Lino de. Tácito e a História Magistra Vitae: Um historiador do Império? In: FAVERSANI, Fábio; JOLY, Fábio Duarte (Orgs.). As formas do Império Romano. Mariana: UFOP, 2014.

BARTH, Fredrik. Introducción. In: BARTH, F. (org.), Los grupos étnicos y sus fronteras. México: Fondo de Cultura Económica 1976.

BENARIO, Herbert W. The Annals. In: PAGÁN, Victoria Emma (Ed.). A Companion to Tacitus. Oxford: Blackwell Publishing, 2012.

BIRLEY, Anthony Richard. The Agricola. In: WOODMAN, Anthony John. (Ed.). The Cambridge Companion to Tacitus. Cambridge: Cambridge University Press, 2009.

BRAUND, David. Ruling Roman Britain: kings, queens, governors and emperors from Julius Caesar to Agricola. Abingdon: Routledge, 1996.

BUSTAMANTE, Regina Maria da Cunha. Práticas Culturais no Império Romano: entre a unidade e a diversidade. In: MENDES, Norma Musco; SILVA, Gilvan Ventura da. (Orgs.). Repensando o Império Romano: perspectiva socioeconômica, política e cultural. Rio de Janeiro: Mauad; Vitória, ES: EDUFES, 2006.

CATROGA, Fernando. Memória, História e Historiografia. Coimbra: Quarteto, 2001.

quarta-feira, 31 de julho de 2024

A colonização portuguesa na América

A ocupação das terras americanas só se tornou possível na medida em que a cana-de-açúcar mostrou-se adaptável ao clima e ao solo da região tropical. Mas, sobretudo, quando se percebeu que o açúcar era um produto rentável, de grande aceitação no mercado europeu e capaz de gerar bons lucros. A exploração da colônia portuguesa, com o cultivo da cana-de-açúcar, assumiu três características básicas: grande propriedade, monocultura e trabalho escravo.  A disponibilidade quase ilimitada de terras ajudou na formação de grandes fazendas produtoras. Os custos de produção, desbravar o terreno, plantar, colher, transportar a cana e fabricar o açúcar, exigiam grandes plantações para se obter retornos lucrativos. A monocultura também era essencial, pois facilitava a especialização e a concentração de recursos e esforços em uma única atividade. 

A opção pela monocultura da cana-de-açúcar em grandes propriedades era decorrência natural da política mercantilista. Os esforços coloniais deveriam estar voltados para a aquisição de produtos que pudessem ser comercializados com as nações europeias. Essa condição era preenchida pela lavoura de gêneros agrícolas tropicais, como a cana-de-açúcar. O chamado pacto colonial, segundo o qual as colônias só poderiam comerciar com suas metrópoles, complementava os propósitos dessa política econômica.  Quanto à mão-de-obra, tentou-se a princípio o uso do trabalho indígena. Os índios tinham colaborado na extração do pau-brasil e o colonizador julgava que isso poderia se repetir com o trabalho agrícola. Entretanto, os índios não se submeteram facilmente às condições exigidas pela nova atividade. A extração do pau-brasil podia ser realizada de forma esporádica e livre; a atividade agrícola exigia trabalho sistemático, disciplina, organização e vida sedentária.

Para estabelecer essas condições de trabalho, foi necessário aumentar a vigilância sobre os índios. Em pouco tempo, generalizou-se a escravização dos nativos. A antiga relação pacífica se tornou conflituosa. A escravização dos povos indígenas foi um problema que percorreu todo o período colonial e opôs colonos, governo e Igreja. Pressionado pela Igreja, o governo português proibiu o apresamento de índios. Em 1570, uma Carta Régia autorizava a escravização apenas dos indígenas presos em guerra justa, isto é, em conflitos iniciados pelos próprios índios ou promovidos pelos colonos contra povos hostis. Essa autorização permitiu que o apresamento indígena continuasse. Por uma série de circunstâncias, a escravidão africana acabou se impondo como solução para o problema da mão-de-obra. 

O engenho 

Desde 1526, livros da Alfândega de Lisboa acusavam a entrada de açúcar vindo da ilha de Itamaracá, no atual estado de Pernambuco. Mas a grande produção só começou de fato em 1533, com o engenho de Martim Afonso de Sousa em São Vicente, que nesse mesmo ano foi comprado pelo capitalista holandês Erasmo Schetz.

As capitanias hereditárias 

Em 1534, El-rei dom João II dividiu a colônia americana em quinze faixas de terra com largura entre 200 e 650 quilômetros, indo do litoral à linha do Tratado de Tordesilhas. Eram as capitanias hereditárias, mesmo sistema utilizado nas ilhas do Atlântico. Elas foram entregues a senhores chamados de capitães donatários. Hereditárias, as capitanias deveriam passar de pai para filho. Aos donatários foi atribuída grande soma de poder: podiam distribuir terras a colonos, nomear autoridades administrativas e judiciárias, escravizar e vender índios, fundar vilas, cobrar tributos pela navegação dos rios, etc. Os donatários só não tinham poder sobre os impostos reais e deviam arcar com todas as despesas da colonização. A constituição político-administrativa das capitanias tinha por base jurídica a Carta de Doação e o Foral. Pela primeira, o rei confiava à administração perpetua e hereditária ao donatário. No Foral, estavam fixados os direitos, foros e tributos que a população pagaria ao rei e ao donatário. Apesar do fracasso, o sistema de capitanias perdurou até 1759 e conviveu com outras estruturas administrativas criadas pelo governo português, como os governos-gerais. Diante do insucesso, muitas acabaram compradas pelo governo, outras incorporadas por abandono.

O Governo-Geral 

Um dos grandes problemas enfrentados pelos donatários das capitanias foi o isolamento, que dificultava, por exemplo, a defesa contra os índios, em luta por suas terras e contra a escravização. Diante dos problemas, a Coroa portuguesa criou o cargo de governador-geral em 1548. O objetivo da medida era centralizar a defesa do território e a administração da colônia.  Para sede do Governo-Geral foi escolhida a capitania da Bahia de Todos os Santos, comprada ao donatário. O primeiro governador-geral a ser nomeado foi Tomé de Sousa. Em 1549, para instalar seu governo, Tomé de Sousa fundou Salvador, que se transformou na primeira cidade da colônia.

As Câmaras Municipais 

Com o surgimento das primeiras vilas e cidades, organizou-se a administração municipal, que foi entregue às Câmaras Municipais, compostas de três ou quatro vereadores. Estes eram escolhidos pelos homens bons, como eram chamados os proprietários de terras, a elite do lugar. Um juiz, eleito da mesma forma, presidia a Câmara.

Você quer saber mais?

ARRUDA, José Jobson de A; PILETTI, Nelson. Toda a História: História Geral e História do Brasil-9º edição. São Paulo: Ed. Ática, 1999.

AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo. História: Volume Único. São Paulo: Ed. Ática, 2011. 

VAINFAS, Ronaldo; FERREIRA, Jorge; FARIA, Sheila de Castro; CALAINHO, Daniela Buono. História.doc. São Paulo: Ed.Saraiva, 2015.

JÚNIOR, Alfredo Boulos. Coleção História: Sociedade & Cidadania. São Paulo: FTD, 2004.

COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral-8º edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2005.

COTRIM, Gilberto; RODRIGUES, Jaime. Historiar- 2º ediçaõ. São Paulo: Editora Saraiva,  2015.

VICENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História para Ensino Médio: História Geral e do Brasil. São Paulo: Editora Scipione, 2005.

REZZUTTI, Paulo. D.Pedro I:  A história não contada. O homem revelado por cartas e documentos inéditos. São Paulo: Leya, 2020.