Autor: Leandro Claudir Pedroso, formado em
licenciatura Plena em história pela Ulbra e Pós-graduado em Metodologia do
Ensino em História e Geografia pela Uninter.
Li está antiquíssima obra em 2012, porém em minhas
leituras faço inúmeras marcações, para o caso de precisar usar novamente as informações
contidas no livro, poderei encontrá-las com facilidade, pois me foram
relevantes no passado e poderão vir a ser no futuro. A República (Politeia, no
original), foi escrita em 380 a.C e trata-se de um diálogo socrático, aonde tenta reproduzir as conversas de Sócrates
com seus discípulos e Platão (427 a.C- 347 a.C), autor desta obra era um dos
seus mais brilhantes pupilos. O personagem principal deste diálogo é Sócrates,
e o tema central é justiça, o filósofo idealiza uma cidade ideal chamada Kallipólis,
que em grego significa “cidade bela”.
I
Podemos ver no decorrer do diálogo entre Sócrates e
Polimarco a presença de afirmações como está: “Riqueza alguma poderá
proporcionar paz a um homem mal”. Justiça é ajudar os amigos e prejudicar os
inimigos, mas o homem justo deve fazer isto em casos de guerra, lutando com uns
e aliando-se a outros. E a mesma também é útil na paz, e o uso dela na paz pode
ser realizado por contratos comerciais. Em relações que envolva dinheiro o
homem justo é mais útil que qualquer outro. E o diálogo entre ambos se confirma
diante da dúvida sobre a justiça deve pertencer aos amigos e não aos inimigos.
E se isto seria justo prejudicar os maus e ajudar os bons? O mesmo se
desenvolve sobre a premissa de descobrir quem é amigo e quem é inimigo. Sendo o
amigo aquele que parece e é realmente honesto, e o inimigo é o que aparenta,
mas é desonesto. O interessante é que segundo o que lemos não devemos praticar
o mal contra nossos inimigos, mesmo eles sendo desonestos, pois isto os
deixaria piores ainda, pois a justiça é uma virtude humana, e não deve o homem
justo prejudicar os inimigos e ajudar só os amigos. Pois “não é lícito fazer o mal a ninguém em nenhuma ocasião".
No decorrer do diálogo, Sócrates trata a questão da
justiça junto a Trasímaco que considera a mesma nada menos que o interesse do
mais forte e que cada governo faz leis
para seu próprio interesse e desta maneira acredita que isto é assim em todas
as cidades, o justo é a mesma coisa, nada mais nada menos do que aquilo que é
vantajoso para o governo, que é o mais forte, ele concluí que justiça se iguala força. Os governos visam
apenas seus interesses e sua justiça e a desvantagem daquele que obedece a suas
leis.
Sócrates discorre sobre os mais virtuosos governantes,
que governam sem amor às glorias e ao dinheiro. Declara que uma cidade que
surgisse baseada em homens bons,
fugir-se-ia do poder, saberiam que não deveriam visar seus próprios interesses,
mas sim daqueles que por eles são governados. A justiça alimenta a concórdia e
a amizade e da injustiça nasce toda sorte de dissenções. Sendo deste modo a
justiça uma virtude da alma humana, e a injustiça nada menos do que um vício
pernicioso.
II
Os homens decidiram
criar suas convenções e leis para evitar que cometam injustiça e a sofram
também, pois chegaram à conclusão que devíamos ter uma situação aonde houvesse
impotência em cometer injustiça. Glauco um dos personagens do diálogo conta uma
história do pastor que se torna invisível graças a um anel e começa a fazer
tudo quanto lhe apraz, tanto justas como injustas. Ele acrescenta que ninguém é
justo por vontade própria, mas por obrigação, entende que são os fatores
limitadores que impedem as pessoas de fazerem injustiças e a extrema injustiça
é parecer justo não o sendo. O homem justo e generoso é aquele que não quer
somente parecer bom, ele deseja ser bom, como nos ensina Ésquilo. Pois a
aparência violenta a verdade! Adimanto interpõem que somente os deuses e os
homens da ciência tem aversão pela injustiça, que no mais ninguém é justo por
vontade própria.
Faço um adendo aqui,
pois me recordei do que ocorreu com o povo alemão durante o regime nazista, o
povo mais culto da Europa e menos antissemita entregou-se completamente as
injustiças contra seu semelhante quando todas as travas morais que consideram
outros povos como humanos foram retiradas e vemos as barbáries que este povo
foi capaz de cometer.
Adimanto conclui que a justiça é um bem alheio e a
injustiça é vantajosa somente para si mesma e nociva para os mais fracos. Ele concorda com Sócrates que a justiça é um
atributo também das cidades e nelas fica mais visível examina-la. Decidem
procurar os atributos da justiça primeiro nas cidades e depois no individuo. As
cidades existem, pela incapacidade dos indivíduos de se bastarem por si mesmo,
necessitando de outros para lhes auxiliar. Debatem se é mais proveitoso para
uma cidade se cada indivíduo executasse um só ofício ou não. Concluí que devem
existir indivíduos responsáveis por tarefas no mercado, na compra e troca de
produtos, existem também aqueles que prestam serviço salariado. Nesta cidade
haveria pessoas que levariam uma vida mais e se satisfariam com ela e haveria
pessoas que teriam uma vida mais requintada. A cidade cresceria e logo
necessitaria de mais espaço vital, e como conclui Glauco, acabaríamos indo a
guerra e a necessidade de guerra criaria o oficio de guerreiros.
Os cidadãos devem ter seus espíritos alimentos desde
pequenos pelas fábulas de suas amas e mães, mas não serão qualquer fabulas,
estas fábulas devem ser as mais belas e mais adequadas a ensinar-lhes a
virtude. Compete aos fundadores conhecer os modelos que devem seguir os poetas.
Estes modelos visaram mostrar que sempre houve harmonia em nossa cidade e que Deus
é essencialmente bom. Proibiram toda e qualquer fábula que denigra a imagem dos
deuses por ser isto prejudicial para o desenvolvimento da juventude da cidade.
III
Sócrates inicia um novo diálogo aonde declara que os
cidadãos destinados à guerra, a serem os defensores da cidade não devem ser
homens de lamentos, mas pessoas que devem se bastar em si mesmas, deixando as
lamentações para as mulheres e os fracos. As crianças e os homens dessa
civilização devem recear mais a escravidão do que a morte e implicaria em uma
grande responsabilidade para os guardiões. De seu meio deveriam ser tirados
todos os nomes odiosos que trazem medo e arrepios, que remetem as regiões do
Hades. Do mesmo modo que evitam as lamentações, não devem ser propensos demais
ao riso, pois provoca transformações excessivas. Os guerreiros não deveram
receber presentes, tampouco ter ambições, pois as mesmas corrompem o homem.
Serão homens que respeitaram e temem aos deuses, diferente de homens como
Áquiles e Peleu que desprezavam os deuses. Os guardiões devem ser eximidos de
qualquer outra responsabilidade que não seja há de defender a independência de
nossa cidade, não deveram imitar outras coisas, mas se imitarem que imitem
unicamente as virtudes: coragem, sensatez, pureza e liberalidade, mas nunca
imitar a baixeza como aqueles perversos e covardes que falam mal, zombam uns
dos outros e dizem coisas indecentes, quer na embriaguez, quer sóbrios.
Sobre as coisas que devem ser consideradas licitas dizer
ou não aos homens, uma delas está relacionada aos poetas e prosadores que não
devem desestimular a justiça dizendo que os justos são desafortunados e os
injustos felizes! Os governantes
da cidade devem impedir que artesãos e outros introduzissem vícios,
incontinências, baixeza e feiura em qualquer arte e contaminem nossos guardiões
e isto se torne um grande mal em suas almas. Tudo que seguem a eles deve emanar
das obras belas, tal como uma brisa transporta a saúde de regiões salubres, e
predispondo-os a imitar e amar o que é reto e razoável. A educação musical será
a principal, pois o ritmo e harmonia tem a capacidade de penetrar e tocar
fortemente a alma. Pois é a alma boa que torna o corpo bem constituído. No seu
meio não haverá embriagues, a mesma deixa o defensor incapaz de seu mister. Sua
alimentação será alternada constantemente entre bebidas e comidas para que
conservem a saúde e tenham os sentidos apurados.
As pessoas se
vangloriam, por vulgaridades de ser hábeis em cometer a injustiças, em poder
usar todos os subterfúgios, escapar de todas as maneiras e dobrar-se como o
vime, para evitar o castigo? E isso por interesses mesquinhos e desprezíveis,
porque não sabem quanto é belo e melhor ordenar a vida de modo a não ter
necessidade de um juiz? As pessoas honradas são simples na sua juventude e facilmente
enganas pelos perversos por não haver nelas sentimentos que compreendam a
postura dos maus.
Estabeleceremos médicos
e juízes em nossa cidade que trataram os cidadãos que são bem constituídos de
corpo e alma, e quanto aos outros deixaremos para eles a condenação. A beleza
do canto pode tornar o homem distraído, suavizando o elemento irascível de sua
alma e sua coragem dissolve-se, tornando o guerreiro sem vigor, impressionável
e predisposto a irritar-se e a acalmar-se em vez de corajoso, será colérico e
cheio de mau humor. Torna-se inimigo da razão e amigo da violência, selvageria,
como um animal passa a viver na ignorância sem harmonia e inútil para a cidade.
Os guardas serão homens
de boa vontade, proveitosos para a cidade, e nunca consentiram e agir em
detrimento do Estado. Serão observados em todas as idades para vermos se se manterão
fieis a está máxima de trabalhar para o maior bem da cidade e não serem
seduzidos com facilidade por qualquer espirito de rebelião.
Para realizar a divisão
de atividade na cidade recorremos as fábulas, ensinaremos que na cidade todos
são irmãos, mas que deus os formou e misturou ouro na composição de alguns que
deveriam comandar, prata na forma dos auxiliares e bronze e ferro nos
lavradores e outros artesãos e em geral procriareis gerando filhos semelhantes
a vós, mas visto que são todos parentes pode nascer da prata um rebento de ouro
e as mesmas transmutações possam se produzir nos outros metais que os
constituem. De certa maneira seria uma cidade gerida por castas que por
eventuais acontecimentos um individuo poderia migrar de uma casta para outra. E
isto lhes servirá para inspirar maior dedicação à pátria e aos seus
concidadãos.
Nenhum dos defensores
terá propriedades exclusivas, exceto objetos de primeira necessidade, sua
alimentação será suprida pelos cidadãos da cidade, bem como seus salários não
deverá faltar e nem sobrar. Isso deverá ser dessa maneira para que não venham a
se tornar mercadores, lavradores e proprietários de terras, abandonando sua
função de guardiões e tornando-se impuros e inimigos dos outros cidadãos,
gerando a ruína da cidade.
Os cidadãos de Kallipólis
deveram evitar a doença que assola as pessoas destemperadas que consideram seu
pior inimigo aquele que lhes diz a verdade, isto é, que, enquanto não
renunciarem a embriaguez, glutonaria e libertinagem de nada lhes servirão os
remédios, amuletos e simpatias que utilizam.
IV
A ciência será a
responsável por conservar o Estado, e encontra-se nos magistrados, chamados de
guardiães perfeitos. Será a classe menos numerosa, pois nela estarão aqueles
que governam a cidade, fundada sobre homens raros que participam da ciência da
sabedoria. Na cidade os guerreiros serão
submetidos aos magistrados como cães aos pastores, pois em casos de sedição é a
cólera que pega em armas a favor da razão. Os filósofos chegam à conclusão de
que na alma humana e na cidade existem princípios que são correspondentes de
maneira igual. E que para tudo funcione de maneira efetiva na cidade, ela deve
ser governada pela razão e por meio dela estabelecer uma imagem de justiça nas
relações entre os ofícios não permitindo que um intrometa-se nas atividades do
outro. A justiça só iria imperar na cidade se cada uma das três classes de
cidadãos ocupasse somente da suas tarefas, os artífices e comerciantes cuja
virtude é a temperança, os guerreiros cuja virtude é a coragem e os filósofos
cuja virtude é a sabedoria.
Em certo momento do diálogo com Glauco, Sócrates explica
os três elementos da alma, o racional, irracional e a concupiscência. O
racional seria a parte da alma mais desenvolvida pelos governantes, os
magistrados/filósofos, o irracional seria mais forte na alma dos guerreiros que
deveriam proteger a cidade e a concupiscência seria mais forte na alma dos
comerciantes, agricultores e artesãos. Sendo a injustiça advinda da rebelião
dos três elementos da alma, uma usurpação das suas respectivas atividades. Pois
todas as boas ações levam irremediavelmente a virtude e más aos vícios.
Ao analisar as formas de governo proposta por Platão nas
palavras de Sócrates vemos que existem três formas de governo:
Monarquia - governo
de um, virtude da unidade.
Aristocracia –
governo dos melhores, virtude da qualidade.
República -
governo de muitos, virtude da liberdade.
Mas estas formas ditas como formas “Puras de Governo”
podem se degenerar em formas “Impuras de Governo”.
Tirana
Oligarquia
Democracia
V
Para o bem da sociedade é melhor que homens e mulheres participem
de todas as atividades, ainda que a mulher seja mais fraca que o homem isso não
impede que tenha as mesmas aptidões naturais. Existem mulheres aptas para
algumas atividades e outras não, como os homens. Desta maneira elas poderão ser
guerreiras e habitarão com os guerreiros, mas elas não pertencerão a um único
guerreiro e deste modo seus filhos serão de todos. Aqueles que tiverem domicílio
em comum farão suas refeições e não possuirão nada seu, mas tudo lhes será em
comum, estudarão e se exercitarão juntos!
Os indivíduos membros da elite deveram ter seus filhos
educados nas mais altas artes das letras, mas aos filhos das classes inferiores
lhes será negada esta instrução para que o rebanho atinja a mais elevada
perfeição. Podemos ver que a estratificação social em Kallipólis será algo
marcante, pois os magistrados criaram abismos sociais entre os indivíduos. A
população da cidade deveria se manter em uma taxa de substituição populacional
ao ponto que a população não cresça nem diminua. As uniões serão decididas
pelos magistrados, conferindo privilégios aos homens com distinção no combate,
podendo os mesmos unir-se com mais liberdade às mulheres, de modo que a maioria dos filhos provenha deles e herdem as
características heroicas dos pais. Os filhos destas uniões serão criados em
lares comuns, aonde serão criados por homens e mulheres com responsabilidades
iguais para com eles e assistidos por amas. A procriação dos filhos deverá ser
realizada na flor da idade, quando todas as funções de seus corpos estiverem em
seu máximo vigor! Todos os nascimentos deverão ser autorizados pelos
magistrados e por eles santificados.
A cidade deverá ser fundamentada na comunhão de
interesses comuns, como se fosse um corpo com todas as suas partes cooperando
em harmonia. Os filósofos serão os reis e soberanos na cidade, armados com as
armas da razão repeliram toda a oposição que leva ao caos e ruína das cidades.
Buscando constantemente a sabedoria e amando o espetáculo da verdade,
mergulhando constante na ciência e nos estudos, os filósofos são os homens mais
adequados para governar a cidade.
Em certo momento do dialogo Sócrates analisa a
necessidade dos filósofos conhecerem o intermediário entre a ciência e a
ignorância, se como ele diz algo assim existir, que fica entre o não ser da
ignorância e o ser da ciência, sendo a opinião este intermediário como nos
concluí Glauco.
VI
Os magistrados de nossa cidade baseada na forma de
governo da república serão escolhidos entre os homens capazes de zelar pelas
leis e pelas instituições de Kallipólis. Serão homens sinceros com tendência
natural a verdade, pois poderemos encontrar alguma coisa que se ligue melhor a
ciência do que a verdade. Suas almas são justas e brandas, apegados a moderação
e jamais feitas de ferocidade. Homens amadurecidos pela educação e pela idade,
consagrados aos estudos filosóficos.
Enquanto as cidades não forem governadas por homens
assim, os males que afligem as cidades nunca terá fim. Segundo Sócrates a
verdade acompanha a pureza e a justiça, que são juntas a coragem, grandeza de
alma, facilidade de aprender e memória são às características que compõem o
temperamento dos filósofos.
Segundo Sócrates em seu diálogo com Adimanto, mesmos as
almas bem-dotadas se forem influenciadas por uma má educação, se tornam extremamente
más, pois os grandes crimes provem destas almas que teriam tudo para ser
grandiosas e são corrompidas, passando a usar seus dons para mal ao invés do
bem. São estás almas que recebendo a educação adequada se tornaram os filósofos
que governaram a cidade. Sendo estas almas dotadas de todos os pendores
necessários para o bom filosofo, enumero-as como a facilidade de aprender, a
coragem e a grandeza da alma. Estes elementos constituem a alma do filósofo,
mas podem ser deteriorados por uma má educação, afastando as pessoas de sua
vocação. São destes homens que saem os maiores males e os maiores benefícios para
a cidade, tudo dependerá da educação que a pessoa tiver.
Sócrates junto com Adimanto conclui que a união entre
pessoas de trabalho serviu e as de alma nobre, como as bem-dotadas pelo
espirito filosófico devem ser proibidas para que não aja uma deterioração das famílias.
O Estado deve agir para que a filosofia não pereça,
conservando em nossa República o espirito que inspirou a elaboração das leis. Proporcionaram
aos jovens e às crianças uma educação e cultura adequada a sua idade, cercados
de todo cuidado com seus corpos de forma a prepara-los para servir a filosofia.
Ensinando-os a estar em contato com o sagrado, respeitaram os limites da
natureza humana, Kallipólis só será feliz se seus planos, digo suas leis e
estatutos estiverem em harmonia com o sagrado e tornando a população imaculada
pelos princípios que a regerão. Esforçando-os para serem homens divinos como
aqueles dos modelos de Homero.
Adimanto acredita que talvez todos os males da cidade
serão extintos quando os filósofos governarem, pois estes formaram homens que
respeitaram a Constituição e a manterão. Embutindo em suas almas o amor a
pátria, de tal modo que não importar-se-ão com as dores que tiverem que passar
para guardar seu Estado e os magistrados serão cumulados de distinção na vida e
na morte para servi de exemplo a todos.
Dois grandes grupos presentes na cidade e dos quais nos
fala Sócrates, são os intelectuais e os guerreiros, uns dotados de facilidade
de aprender e inteligência serão nossos magistrados, os outros embrutecidos e
lentos em compreender serão hábeis na guerra, pois possuíram caráter firme e
sólido.
VII
No livro VII Sócrates
discorre sobre o “Mito da Caverna”, aonde fala de uma caverna na qual homens
estão presos desde sua infância e tudo que sabem sobre o mundo são as sombras
daqueles que passam numa estrada ascendente, aqueles que passam nesta estrada
são iluminados por uma fogueira acesa numa colina atrás deles. Se um destes
prisioneiros for solto, sofrerá com a luz do Sol que machucará seus olhos e
considerará as sombras de sua caverna mais verdadeiras. Demorará um tempo até
que seus olhos se acostumem com a luz do Sol e depois considerará este lugar
verdadeiro e as imagens refletidas falsas. Então este homem é colocado em seu
antigo lugar na caverna, seus olhos ficarão cegos pela escuridão, afastados da
luz do Sol. Antes que seus olhos se acostumem com a escuridão tentará convencer
os outros que ficaram presos sobre o mundo exterior, mas estes não acreditaram
nele. Neste mito Platão nos ilustra nas palavras de Sócrates a elevação da alma
humana, a pessoa só poder ter sua alma retirada das trevas para luz por meio da
educação, e mesmo aqueles que não possuem temperamentos propícios poderão ser
disciplinados desde a infância e libertos dos pesos que corrompem a alma.
Os filósofos que governam a cidade Estado de Kallipólis
deverão ser diferentes dos filósofos de outras cidades, pois eles serão
capacitados para descerem as moradas comuns da cidade e se acostumarem com as
trevas que ali reinam, pois nela poderão ver mil vezes melhor que os habitantes
locais e conheceram a natureza de cada sombra que contemplam. Conhecendo a
realidade daqueles que não foram iluminados pela luz da educação será mais
fácil descobrir suas necessidades.
Glauco conversa com Sócrates sobre a educação das
crianças e mesmo há mais de dois mil atrás concluem que não se deve usar
de violência na educação das crianças, mas que aprendam brincando e assim
desenvolveram facilmente suas tendências naturais.
Os homens que se destacarem na cidade em relação as
ciências, a guerra e nos trabalhos prescritos na lei ao completarem 30 anos
devem ser afastados dos outros jovens e experimentando-os por meio da dialética,
os que são capazes de elevar o próprio Ser pelo poder da verdade. Ao atingirem
os 50 anos os que tiverem se saído bem e tiverem distinção em tudo quanto forem
provados e elevarem a parte luminosa de sua alma ao Ser que ilumina todas as
coisas. Estes serão os modelos com o qual se organizará a cidade, passaram a
maior parte de sua vida estudando filosofia. Quando chegar sua vez destinar-se-ão
a trabalhar na administração da cidade e verão nisto um dever indispensável,
estes serão os governantes modelados pela filosofia que foram esculpidos pela
boa educação.
VIII
Neste capitulo os diálogos se desenvolvem sobre as formas
de governos e suas características. Sendo as outras formas de governo falhas e
a República sendo a boa. Aqui ele discorre sobre outras quatro formas de
governo: Monarquia hereditária,
Oligarquia, Democracia, Timocrácia e Tirania. Também trata neste capitulo
sobre a população da cidade que deve manter um número controlado de cidadãos e
as uniões bem como os nascimentos devem ser ordenados de acordo com as
necessidades e propósitos da cidade, caso contrários os filhos de uniões
desenfreadas serão uma geração menos culta advinda da mistura das raças,
resultando em uma mistura defeituosa da qual resulta todas as discórdias e
guerras. Não deixo observar nas palavras de Platão algo que chamamos hoje de
Eugenia ou raça pura, uma busca pelas uniões dentro da pureza de uma elite
racial que é dotada de todas as nobres qualidades humanas e mantê-la pura é
manter o Estado.
Platão nas palavras de Sócrates nos cita algumas raças
pelo nível de pureza, como a raça de Hesíodo, do Ouro, Prata, Bronze e Ferro,
sendo as duas últimas as mais inferiores que não devem aspirar enriquecer nem física
ou intelectualmente enquanto as duas primeiras devem almejar e buscas estas
duas metas. A raça do Ferro e Bronze ao possuírem riquezas se apegam nelas e se
fartaram dos prazeres, desprezando a dialética e filosofia.
Discorrem os diálogos seguintes sobre as características de
alugns tipos de governos:
Monarquia:
governo do Rei-filósofo.
Oligarquia:
governo em que os ricos mandam e os pobres não participam do poder, somente os
que possuem fortunas ascendem aos cargos públicos. O cumprimento de suas leis e
feito através das forças das armas. Seu sistema político funciona pela divisão
entre pobres e ricos, jogando constantemente uns contra os outros, vivem em
constate conspiram. Exteriormente parecerá ser um governo bom, mas não possuí
uma alma uma e harmoniosa.
Democracia:
forma em seu meio homens de bem, preocupados com a política da cidade, pessoas benevolentes.
Um governo agradável, anárquico e variado, que dispensa uma espécie de
igualdade, tanto ao que é desigual como ao que é igual.
Tirania: sua
origem está na democracia, nas perversões advindas do excesso de liberdade. Pais
se assemelhando a filhos, não respeitando e nem temendo seus genitores, mestre
recearam seus discípulos que fazem pouco caso deles. O resultado de todos estes
abusos é uma população melindrosa que a mínima aparência de opressão causa
revolta. Seu governante suscitará as guerras constantes, eliminará toda a oposição
para poder manter-se no poder, manterá uma guarda fiel de mercenários (homens
pagos) ou escravos libertos, isto devido ao ódio de seus súditos.
Timocrácia:
designa-se a transição entre a constituição ideal e as três formas mais
tradicionais (oligarquia, democracia e tirania). Platão se pergunta se esta forma
de governo não estaria situada entre a Aristocracia e a Oligarquia.
Cito diretamente está
excelente frase:
“Sócrates – Desse modo, o
excesso de liberdade conduz a um excesso de servidão, tanto no indivíduo como
no Estado.”
IX
Neste capitulo Platão discorre sobre a Tirania, afirma
que a alma tiranizada ficará cheia de perturbações e remorsos e serão
arrastadas por todas formas de desejos violentos. O tirano segundo Sócrates
nada mais é do que um homem que governa mal a si próprio é semelhante a um
doente que não tem domínio do corpo e passa a vida a bater-se com os outros. Na
verdade é um escravo, condenado a uma baixeza e servidão extremas, assim
define-se o Tirano. Os filósofos Glauco e Sócrates estabelecem em um diálogo
que o governo mais feliz é a monarquia e o mais infeliz a tirania, por ser o
mais injusto.
Trata
em seus dilemas filosóficos a existência de um estado da alma humana aonde não
se sente nem alegria e nem tristeza, um estado igualmente afastado destes dois
sentimentos, um estado de repouso.
X
Segundo
o que nos ensina Sócrates sobre o equilíbrio é que devemos manter sempre a
calma durante os períodos de infelicidade, pois nestes momentos não conseguimos
distinguir bem as coisas e confundimos o bem
e o mal, não ganhamos nada nos indignando, mas sim mantendo a calma e
não nos afligindo para que saibamos ver quando estão vindo em nosso socorro. Devemos
tratar as feridas, erguer-se e seguir em frente, calando os lamentos. Assim prosperarão
em nossa cidade os homens nobres e fortes. Acusam neste capitulo de vários
males causados pela poesia, e um deles é o de corromper as pessoas honestas. Para
comprovar sua opinião sobre a imortalidade da alma, neste capitulo Sócrates nos
conta a história de Er, um homem que morreu em batalha e teve seu corpo
encontrado no campo após vários dias de sua morte ainda estava intacto, ao
levarem para casa e o colocarem na pira funerária ele ressuscitou. E após
recobrar os sentidos contou tudo o que viu no além, o relato é extenso e vou me
manter em alguns pontos que considerei mais importante. Sócrates usa o relato
de Er para deixar um aviso aos seus concidadãos de que devem se manter longe
dos excessos, tanto nesta vida quanto na vida futura no Hades, pois é isto que
se liga a maior felicidade humana. Os homens que ao nascerem nesta vida se aterem
aos caminhos da filosofia terão vidas felizes nesta terra como no outro mundo
terão sua passagem não pelo subterrâneo, mas pelas vias do céu. Discorre sobre
vários personagens do passado que escolheram retorna ao mundo como animais
devido ao desgosto pelo gênero humano, como Agamenom e Ulisses. Fala de várias
crenças de sua rica mitologia e termina o livro afirmando sua posição sobre a
imortalidade da alma e capaz de se manter na pratica da justiça e da sabedoria.
Estando assim de acordo com os deuses tanto neste mundo quanto no além.
Você quer saber mais?
PLATÃO, República. Tradução de
Enrico Corvisieri. Editora Best Seller: São Paulo, 2002.