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sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Arqueologia Proibida: A História Oculta Da Raça Humana



By Michael A. Cremo and Richard L. Thompson Published by BBT Science Books, 1996. ISBN: 0-89213-294-9. Hardbound, 952 pages.

INTRODUÇÃO

Em 1979, pesquisadores em Laetoli, Tanzania, em um sítio da África Oriental descobriram pegadas em depósitos de cinza vulcânica com idade superior a 3,6 milhões de anos. Mary Leakey e outros disseram que as pegadas eram indistingüíveis das humanas atuais. Para estes cientistas, isso apenas significa que os ancestrais do homem de 3,6 milhões de anos atrás tinham pés incrivelmente modernos.

Mas, de acordo com outros cientistas, como o antropólogo físico R.H. Tuttle da Universidade de Chicago, ossos fósseis dos australopithecos conhecidos de 3,6 milhões de anos atrás demonstram que eles tinham pés que eram claramente próximos dos pés de um macaco. Assim, são incompatíveis com as pegadas de Laetoli. Em um artigo da edição de março de 1990 da revista ‘Natural History’, Tuttle confessou que “estamos frente a um mistério”. Parece admissível, portanto, considerar a possibilidade que nem Tuttle nem Leakey mencionaram - que criaturas com corpos humanos anatomicamente modernos, que combinassem com seus pés humanos anatomicamente modernos, existiram há 3,6 milhões de anos atrás na África Oriental. Talvez, como sugerido na ilustração da página oposta, eles coexistiram com criaturas simiescas. Intrigante como possa parecer essa possibilidade arqueológica, as idéias atuais sobre a evolução humana a proíbem.

Pessoas sensatas irão alertar para a consideração da existência de humanos anatomicamente modernos há milhões de anos com base, simplesmente, nas pegadas de Laetoli. Mas há mais evidências. Durante as últimas décadas, cientistas na África descobriram ossos fósseis que parecem consideravelmente humanos. Em 1965, Bryan Patterson e W. W. Howells acharam um úmero (osso do braço) surpreendentemente moderno em Kanapoi, Kenya. Os cientistas avaliaram sua idade em 4 milhões de anos.

Henry M. McHenry e Robert S. Corruccini, da Universidade da Califórnia, disseram que o úmero de Kanapoi era “dificilmente distinguível do osso de um Homo sapiens atual”. Similarmente, Richard Leakey disse que o fêmur ER 1481 do Lago Tukana, Kenya, achado em 1972, era indistinguível do de um humano moderno. Os cientistas normalmente associam o fêmur ER 1481, que tem cerca de 2 milhões de anos, ao pré-humano Homo habilis. Mas, desde que o ER 1481 foi achado isoladamente, não se pode descartar a possibilidade de que o resto do esqueleto fosse, também, anatomicamente moderno. De forma interessante, em 1913 o cientista alemão Hans Reck descobriu, em Olduvai Gorge, Tanzania, um esqueleto humano completo, anatomicamente moderno, em um estrato de mais de um milhão de anos, gerando décadas de controvérsias.Aqui, novamente, alguns nos alertarão para que não exagerarmos o valor de alguns poucos e controversos exemplos em contraste com a grande quantidade de evidências não controversas demonstrando que os humanos atuais evoluíram de criaturas simiescas bastante recentemente - por volta de 100.000 anos para cá, na África, e na visão de alguns, em outras partes do mundo também. Mas acontece que não esgotamos nossas fontes com as pegadas de Laetoli, o úmero de Kanapoi e o fêmur ER 1481. Pelos últimos oito anos, Richard Thompson e eu, com a assistência de nosso pesquisador Stephen Bernath, acumulamos um extenso corpo de evidências que desafia as teorias atuais sobre a evolução humana. Algumas dessas evidências, como as pegadas de Laetoli, são bem recentes. Mas boa parte delas foi registrada por cientistas no século dezenove e começo do século vinte. E, como você pode ver, nossa discussão sobre essas evidências podem constituir um livro muito grande.

Sem mesmo olhar para esse antigo conjunto de evidências, alguns assumirão que deve haver algo errado com ele - que foi convenientemente descartado há muito pelos cientistas, por razões muito boas. Richard e eu checamos bem essa possibilidade. Concluímos, no entanto, que a qualidade dessas evidências controversas não é melhor ou pior que as supostamente não controversas, usualmente citadas em favor das atuais teorias sobre a evolução humana.

Mas “Arqueologia Proibida” é mais do que um bem documentado catálogo de fatos não usuais. É, também, uma crítica sociológica, filosófica e histórica ao método científico, da forma como é aplicado à questão das origens da humanidade. Não somos sociólogos, mas nossa abordagem é similar à praticada pelos adeptos da sociologia do conhecimento científico (SSK), como Steve Woolgar, Trevor Pinch, Michael Mulkay, Harry Collins, Bruno Latour, and Michael Lynch.

Cada um desses estudiosos tem uma perspectiva única da SSK, mas todos provavelmente concordariam com o seguinte enunciado programático. As conclusões dos cientistas não correspondem de forma idêntica as estados e processos de uma realidade objetiva natural. Ao invés, tais conclusões refletem os reais processos sociais dos cientistas, mais do que o que acontece na natureza/meio ambiente.

A abordagem crítica que fazemos em “Arqueologia Proibida” também assemelha-se à usada pelos filósofos da ciência, como Paul Feyerabend, que afirma que a ciência alcançou uma posição por demais privilegiada no campo intelectual, e por historiadores da ciência, como J. S. Rudwick, que explorou em detalhes a natureza da controvérsia científica. Como Rudwick, em “A Grande Contovérsia Devoniana”, usamos a narrativa para apresentarmos nosso material, que engloba não uma mas muitas controvérsias - controvérsias há muito resolvidas, não resolvidas ainda e em formação. Para isso foram feitas muitas citações de fontes primárias e secundárias, e fornecidas descrições detalhadas das reviravoltas dos complexos debates paleoantropológicos. Para os que trabalham com disciplinas relacionadas com as origens da humanidade e antiguidade, “Arqueologia Proibida” provê um bem documentado compêndio de relatórios livres das muitas referências atuais, não facilmente conseguido de outra forma.

Um dos últimos autores a discutir o tipo de relatório achado em “Arqueologia Proibida” foi Marcellin Boule. Em seu livro “Fossil Men” (1957), Boule traz uma conclusão decididamente negativa. Mas, ao examinar os relatórios originais, percebemos que o ceticismo de Boule não é justificado. Em “Arqueologia Proibida”, fornecemos material oriundo de fontes primárias que irão permitir aos leitores atuais formarem suas próprias opiniões sobre as evidências que Boule desacreditou. Também introduzimos vários casos que Boule deixou de mencionar.

Das evidências que colhemos, concluímos algumas vezes em linguagem desprovida do experimentalismo ritual, que as hipóteses atualmente dominantes sobre as origens do homem necessitam de uma drástica revisão. Também concluímos que um processo de filtragem de conhecimentos deixou os estudiosos com uma coleção de fatos radicalmente prejudicada e incompleta.

Antecipamos que muitos estudiosos acharão em “Arqueologia Proibida” um convite a discursos produtivos sobre (1) a natureza e tratamento das evidências no campo das origens do homem e (2) as conclusões que podem ser mais logicamente alcançadas a partir de tais evidências.

No primeiro capítulo da Parte I, pesquisamos a história e o atual estado em que se encontram as idéias sobre a evolução do homem. Também discutimos alguns dos princípios epistemológicos que usamos em nosso estudo nesse campo. Principalmente, estamos interessados em duplo padrão no tratamento das evidências. Identificamos dois principais corpos de evidências. O primeiro é um conjunto controverso (A), que demonstra a existência de humanos anatomicamente modernos no ‘não muito confortável’ passado distante. O segundo é um conjunto de evidências (B) que pode ser interpretado como comportando as atuais visões dominantes de que o homem evoluiu bem recentemente, de 100.000 anos para cá, na África, e talvez em outros lugares.Também identificamos padrões empregados na avaliação das evidências paleoantropológicas. Depois de um estudo detalhado, descobrimos que se estes padrões forem aplicados igualmente para A e B, então devemos aceitar a ambos ou rejeitar a ambos. Se aceitarmos tanto A quanto B, então temos evidências colocando humanos anatomicamente modernos vivendo há milhões de anos atrás, coexistindo com humanóides simiescos. Se rejeitarmos a ambos, eliminamos a possibilidade de usarmos a base fática disponível para formularmos qualquer hipótese sobre as origens do homem e a antiguidade. Historicamente, um significativo número de cientistas profissionais já aceitou as evidências do grupo A. Mas um grupo mais influente, que aplicou padrões mais rígidos a A do que a B, estabeleceu a rejeição de A e a preservação de B como dominante. Esse uso de padrões diferenciados para a aceitação ou rejeição de evidências constitui um filtro de conhecimentos que obscurece a verdade sobre a evolução humana. No corpo da Parte I (Capítulos 2-6), checamos a vasta quantidade de evidências controversas que contradiz as idéias correntes sobre a evolução do homem. Narramos em detalhes como elas foram sistematicamente suprimidas, ignoradas ou esquecidas, mesmo sendo qualitativamente (e quantitativamente) equivalentes às atualmente aceitas. Quando falamos em supressão de evidências, não nos referimos a cientistas conspiradores levando a cabo um plano satânico para enganar o público.

Ao contrário, falamos sobre a existência de um processo sociológico de filtragem de conhecimento que aparenta ser bem inócuo mas que tem, em verdade, um substancial efeito cumulativo. Certas categorias de evidências simplesmente desapareceram, em nossa opinião injustificadamente.

O Capítulo 2 trata de ossos anormalmente antigos e conchas que exibem marcas e sinais de ruptura intencional. Até hoje, cientistas consideram tais ossos e conchas como uma importante categoria de evidências, e muitos sítios arqueológicos foram estabelecidos com base apenas nesse tipo de achado.Nas décadas posteriores à apresentação da teoria de Darwin, numerosos cientistas descobriram ossos animais quebrados ou com incisões, e conchas sugerindo que humanos que usavam ferramentas ou precursores dos humanos existiram no Pliosceno (2-5 milhões de anos atrás), no Miosceno (5-25 milhões de anos atrás), e até antes. Ao analisar os ossos e conchas, os descobridores cuidadosamente consideraram e estabeleceram explicações alternativas - como a ação de animais ou pressão geológica - antes de concluir que os humanos eram os responsáveis. Em alguns casos, ferramentas de pedra foram achadas juntamente com os ossos e conchas. Um exemplo particularmente impressionante nesta categoria é um concha exibindo uma rude, porém reconhecível, face humana esculpida em sua superfície externa. Registrada pelo ologista H. Stopes à Associação Britânica para o Avanço da Ciência em 1881, essa concha, de uma formação rochosa do Pliosceno, na Inglaterra, tem mais de 2 milhões de anos.

De acordo com os padrões aceitos, humanos capazes de tal nível de artifício não chegaram à Europa antes de 30.000 ou 40.000 antos atrás. Além disso, eles nem mesmo surgiram em seu berço, a África, antes de 100.000 anos atrás. Em relação às evidências do tipo reportado por Stopes, Armand de Quatrefages escreveu em seu livro “Hommes Fossiles et Hommes Sauvages” (1884): “As objeções feitas à existência do homem no Pliosceno e Miosceno parecem ser habitualmente mais relacionadas a considerações teóricas do que à observação direta”.

As mais rudimentares ferramentas de pedra, as eoliths (“as pedras da aurora”) são o assunto do Capítulo 3. Esses instrumentos achados em contextos geológicos inesperadamente antigos, inspiraram prolongados debates no final do século dezenove e começo do século vinte.

Para alguns, as eoliths não eram sempre facilmente reconhecíveis como ferramentas. As eoliths não tinham forma simétrica. Ao contrário, a borda de uma lasca de pedra natural era quebrada para fazê-la servir para uma determinada tarefa, como raspar, cortar ou talhar. Freqüentemente a ponta ostentava sinais do uso. Os críticos disseram que as eoliths resultaram de eventos naturais, como o rolar no fundo de rios. Mas os defensores da outra tese ofereceram contra-argumentos convincentes no sentido de que as forças naturais não poderiam causar o gasto similar ao conseguido na pedra lascada - unidirecional em apenas um lado da pedra. No final do século dezenove, Benjamin Harrison, um arqueologista amador, descobriu eoliths no Platô de Kent, no sudeste da Inglaterra. Evidências geológicas sugerem que as eoliths foram produzidas em meados ou no final do Ploisceno, por volta de 2 a 4 milhões de anos atrás. Entre os que apoiavam a tese decorrente da descoberta de Harrison estavam Alfred Russell Wallace, co-fundador com Darwin da teoria da evolução pela seleção natural; Sir John Prestwich, um dos mais eminentes geologistas ingleses; e Ray E. Lankester, um diretor do Museu Britânico (História Natural). Embora Harrison tenha descoberto a maior parte de suas eoliths em depósitos superficiais de cascalho do Pliosceno, ele também descobriu muitas em níveis mais abaixo, durante uma escavação financiada e dirigida pela Associação Britânica para o Avanço da Ciência. Além das eoliths, Harrison achou, em vários lugares no Platô de Kent, ferramentas de pedra mais avançadas (paleoliths) de antigüidade plioscênica similar.

No começo do século vinte, J. Reid Moir, um membro do Instituto Real de Antropologia e presidente da Sociedade de Pré-História da Anglia Oriental, descobriu eoliths (e ferramentas de pedra mais avançadas) na formação inglesa de Red Crag. As ferramentas tinham por volta de 2 a 2,5 milhões de anos. Algumas das ferramentas de Moir foram achadas nos leitos de detritos de Red Crag e poderiam ter entre 2,5 e 55 milhões de anos.

Os achados de Moir ganharam o apoio de um dos maiores críticos das eoliths, Henri Breuil, então considerado como uma das mais proeminentes autoridades em ferramentas de pedra antigas.

Outro patrocinador foi o paleontologista Henry Fairfield Osborn, do Museu Americano de História Natural de Nova Iorque. E, em 1923, uma comissão internacional de cientistas viajou até a Inglaterra para investigar as principais descobertas de Moir e as consideraram genuínas. Mas, em 1939, A. S. Barnes publicou um artigo de muita influência, no qual analisava as eoliths descobertas por Moir e outras em termos do ângulo de quebra observado. Barnes afirmava que seu método podia distinguir entre o processo de lascar feito por humanos do produzido por forças naturais. Desde então, os cientistas têm usado o método de Barnes para negar a manufatura por homens de outras ferramentas de pedra. Mas, em anos recentes, autoridades em ferramentas de pedra, como George F. Carter, Leland W. Patterson e A. L. Bryan têm contestado a metodologia de Barnes e sua aplicação. Isso sugere a necessidade de reexame das eoliths européias. Significativamente, ferramentas de pedra muito antigas, da África, como aquelas dos níveis mais baixos de Olduvai Gorge, aparentam serem idênticas às eoliths européias rejeitadas. Ainda assim, são aceitas pela comunidade científica sem questionamentos. Isso se dá, provavelmente, porque elas se encaixam e ajudam a apoiar a teoria da evolução do homem atualmente aceita.

Mas outras manufaturas eolíticas de antigüidade inesperada continuam a encontrar forte oposição. Por exemplo, na década de 1950, Louis Leakey descobriu ferramentas de pedra de mais de 200.000 anos em Calico, nos sul da Califórnia. De acordo com a visão padrão, os humanos não penetraram nas regiões subárticas do Novo Mundo antes de aproximadamente 12.000 anos atrás. Os cientistas acabaram por responder à descoberta de Calico, previsivelmente, afirmando que, ou eram produto das forças naturais, ou não tinham realmente 200.000 anos. Mas há razões suficientes para se concluir que as descobertas de Calico são artefatos de produção genuinamente humana. Embora a maior parte das ferramentas fossem rudes, algumas, inclusive uma em forma de bico, eram mais avançadas.

No Capítulo 4, discutimos uma categoria de implementos que chamamos de paleoliths rudes. No caso das eoliths, a parte lascada localiza-se perfeitamente na borda trabalhada de um pedaço de pedra naturalmente quebrada. Mas os fabricantes dos paleoliths rudes deliberadamente golpearam as rochas, lascando, então, os pedaços até alcançar formas reconhecíveis como ferramentas. Em alguns casos, rochas inteiras foram lascadas até formarem ferramentas. Como vimos, as paleoliths brutas são encontradas juntamente com as eoliths. Mas, nos sítios discutidos no Capítulo 4, as paleoliths são dominantes no conjunto. Na categoria das paleoliths brutas, incluímos ferramentas do Miosceno (5 a 25 milhões de anos) achadas no final do século dezenove por Carlos Ribeiro, chefe do Instituto de Pesquisa Geológica de Portugal. Em uma conferência internacional de arqueologistas e antropologistas, em Portugal, um comitê de cientistas investigou um dos sítios onde Ribeiro havia achado as ferramentas. Um dos cientistas achou um peça de pedra mais avançada que os melhores espécimes de Ribeiro. Comparável às peças aceitas como do final do Pleistoceno, do tipo Mousterian, estava firmemente encravada em conglomerado do Miosceno, em circunstâncias tais que confirmavam sua antigüidade mioscênica. Paleoliths brutas também foram achadas em formações mioscênicas em Thenay, França. S. Laing, um escritor de ciências inglês, escreveu: “Em seu conjunto, a evidência desses implementos do Miosceno parece ser bastante conclusiva, e as objeções parecem não se situarem de outra forma a não ser como simples relutância em admitir a grande antigüidade do homem”.

O texto prossegue enumerando evidências da manipulação, por parte do establishment, das convicções dos homens acerca de sua própria história.

O pensamento livre, a dignidade do ser humano, a verdade, enfim, se expressou através dos signatários da DECLARAÇÃO DE VENEZA.

DECLARAÇÃO DE VENEZA

Comunicado final do Colóquio “A Ciência Diante das Fronteiras do Conhecimento” Veneza, 7 de março de 1986.

Os participantes do colóquio “A Ciência Diante das Fronteiras do Conhecimento”, organizado pela UNESCO, com a colaboração da Fundação Giorgio Cini (Veneza, 3-7 de março de 1986), animados pôr um espírito de abertura e de questionamento dos valores de nosso tempo, ficaram de acordo sobre os seguintes pontos:

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A cidade de Paris: da Antiguidade à atualidade.


Do vilarejo galo-romano à cidade do século XXI, Paris viveu profundas mudanças ao longo dos séculos. Capital política, econômica e artística, ela mantém, apesar da ação do tempo e da história, um patrimônio arquitetônico único, que faz dela uma das cidades mais visitadas do mundo e a porta de entrada da França para diversos turistas.

Lutécia, o vilarejo da antigüidade : Os primeiros ocupantes das margens do rio Sena ali se instalaram há cerca de 2.000 anos. No entanto, estavam longe de ocupar todo o território atual da cidade de Paris: o vilarejo em que viviam se limitava à île de la Cité e à margem esquerda do rio, não muito longe do jardim de Luxemburgo.


As grandes mudanças da Idade Média

Os primeiros limites da cidade se impõem por volta do ano de 1200, com a construção de um muro ao seu redor e do castelo do Louvre. Cidade mais populosa da Europa no século XIV, ela viveu em seguida um declínio relativo, posto que os reis passaram a ter mais interesse pelos vilarejos próximos do rio Loire.


França tem uma extensa história na qual estao inseridas personalidades impressionantes da História da Europa. tais como Luís XIV, Napoleao Bonaparte, Clodoveo, Rei dos Francos, Charles de Gaulle entre outros.

A história de Paris remonta-se aos Parisi, um povo gaulês da época pré-romana que lutou contra a ocupação do Império de Júlio César. A cidade foi fundada por volta de 300 Anos Antes de Cristo. Esta primeira colonização realizou-se na Ilha de Cité, rodeada pelo Rio Sena, um lugar ideal sobretudo para a defesa da Cidade.

Posteriormente, os romanos finalmente tomaram a cidade e chamaram-na de Lutetia, e estenderam-na para a outra margem do Rio Sena. Com a caída dos romanos, a cidade toma atualmente o seu nome com o reinado de Clodoveo, o Rei dos Francos, que permaneceriam nesta terra durante séculos. A vitória frente aos romanos teve lugar nos finais do Século V e princípios do Século VI. Paris começou a sua expansão e viveu séculos de tranquilidade e prosperidade até que nos finais do século IX foi atacada pelos normandos.

No século XI foram os Capetos que ficam com o comando e trono de França e o controlo de Paris, sendo que é Filipe Augusto que a converte, no século XII, a capital de França. Passaram por aqui reis como Carlos V, Enrique IV e Luís XIII que construíram, ao longo dos tempos, muralhas e edifícios emblemáticos, chegando depois Luís XIV, já no século XVIII.

Com Luís XIV, Luís XV e Luís XVI começa-se a construir o momento histórico na história francesa, tendo com Luís XVI acontecido um dos marcos mais importantes da história da França, a tomada da Bastilha, acontecimento que derrubou a Monarquia e instaurou a República.

Depois, um golpe de Estado de Napoleão Bonaparte muda o rumo da França, da República para o Império. Durante a época de Napoleão, a cidade de Paris sofrer uma mudança importante, sendo que os edifícios mais antigos foram derrubados para outros mais modernos serem construídos. Durante a segunda metade do Século XIX, a cidade também começou a ser um centro de atenção europeia, com numerosas exposições e eventos artísticos.

Vercingetórix: herói legendário da guerra dos Gauleses.


Vercingetórix (72 a.C. - 46 a.C.), chefe do povo dos Avernos, herói legendário da guerra dos Gauleses, foi, como seu nome em língua celta indica, "o grande rei dos guerreiros". Conseguiu reunir ao redor de si a maior parte dos povos que constituíam a Gália, até lá dividida entre diversos povos rivais, e dirigir durante dez meses a unidade da resistência contra as legiões de César, na  época o maior exército do mundo, submetendo César a uma derrota esmagadora na Gergóvia, antes de ser vencido em Alésia.

Quando César invade a Gália, em 58 a.C., o pai de Vercingetórix, Celtill, que preparava-se para assumir a liderança da Gália contra os romanos, foi assassinado pela aristocracia averna, que desconfiava que ele havia a intenção de tornar-se rei. Depois de sua morte, Vercingetórix serve o exército de César como aliado durante seis anos, antes de juntar-se novamente a seu povo no início da primeira rebelião gaulesa, em Cenabum (Orléans), em 52 a.C., um motim geral que conseguiu liderar.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Agentes de fronteira da Stasi tinham ordens para matar fugitivos


Documento da polícia secreta da Alemanha Oriental mostra que agentes não deveriam hesitar em utilizar armas de fogo contra fugitivos mesmo que entre eles houvesse crianças.

Um documento que se tornaram público mostram que agentes de fronteira da Stasi, a polícia secreta da antiga Alemanha Oriental, tinham ordens de atirar para matar contra fugitivos do regime comunista alemão. O documento foi encontrado nos arquivos regionais da cidade de Magdeburg e tem data de 1º de outubro de 1973.

"Não hesite em utilizar armas de fogo mesmo que a fuga pela fronteira ocorra ao lado de mulheres e crianças, o que traidores já utilizaram com freqüência", está escrito no documento, que é dirigido a agentes da Stasi que agiam incógnitos entre guardas da fronteira na região de Magdeburg e tinham por missão identificar soldados que estivessem dispostos a fugir.

Em muitos casos, as tentativas de fuga aconteciam com a família. Historiadores calculam que mais de 2,8 mil soldados tenham desertado e fugido para a Alemanha Ocidental. Já o número de pessoas que foram mortas durante tentativas de fuga é impreciso e varia entre 270 e 780.

A revelação da existência do documento foi feita pelo jornal Magdeburger Volksstimme e ocorreu às vésperas do aniversário de 46 anos (2007) da construção do Muro de Berlim.

Controvérsia

O achado provocou controvérsias na imprensa alemã. Um porta-voz do escritório responsável pela administração dos arquivos da Stasi, Andreas Schulze, confirmou a informação do jornal e apresentou o documento como sendo a primeira prova de que havia uma ordem do governo da Alemanha Oriental para matar fugitivos.

Após vários relatos na imprensa de que um texto praticamente igual já havia sido tornado público em 1997, numa antologia publicada pelo historiador Matthias Judt, os responsáveis pelos arquivos da Stasi reconheceram neste domingo que a descoberta de Magdeburg não é inédita.

Stasi: a polícia secreta da Alemanha Oriental - Oito histórias inacreditáveis.


Ministério para Segurança do Estado.

Vinte anos depois da queda do Muro de Berlim, os alemães ainda se espantam com as histórias e técnicas da Stasi, a polícia secreta da Alemanha Oriental. Veja abaixo 8 exemplos de como o governo comunista vigiava e perseguia seus próprios cidadãos por Texto Vanessa Vieira 

1. Um espião para cada 60 moradores

Se houve uma nação que materializou o Estado onisciente descrito por George Orwell no livro 1984, esta nação foi a Alemanha Oriental. No país comunista, o Ministério para Segurança do Estado, mais conhecido como Stasi, representava o papel de Big Brother, o Grande Irmão de Orwell, munido de câmeras e escutas para espionar todos os cidadãos. Para vigiar a população e evitar movimentos organizados contra a política comunista aliada à União Soviética, a polícia secreta da República Democrática da Alemanha adotou meios que ainda hoje impressionam. "Absolutamente nada era sagrado para a polícia secreta. Pequenos buracos eram perfurados nas paredes de apartamentos e de hotéis para que a Stasi filmasse seus suspeitos. Até os banheiros eram penetrados pelos voyeurs comunistas", afirma o escritor e jornalista Joseph Koehler em seu livro Stasi: the Untold Story of the East German Secret Police ("Stasi: a história não contada da polícia secreta da Alemanha Oriental", sem edição no Brasil).

Os alemães orientais estavam acostumados à ostensiva vigilância por meio de microfones camuflados, câmeras fotográficas, vídeos e milhares de colaboradores. Agentes eram colocados em tempo integral nas fábricas para reportar tudo o que acontecia. Em cada condomínio de apartamentos, havia um responsável por anotar e relatar toda a rotina - que visitas cada morador recebeu, se algum visitante passou a noite no local. Essa estrutura de vigilância exigia muitos, muitos funcionários.


Em 1989, a Stasi empregava 90 mil agentes e mantinha 175 mil informantes para monitorar 17 milhões de habitantes. Ou seja, havia um espião para cada 63 habitantes. Alguns especialistas, levando em conta os colaboradores ocasionais, estimam que um em cada 6 alemães orientais passava informações à Stasi. É um número maior até mesmo que a polícia secreta anterior, a temível Gestapo dos tempos nazistas, que tinha cerca de 40 mil oficiais para vigiar 80 milhões de pessoas. O resultado de tamanha vigilância é que 6 milhões de pessoas, ou mais de um terço da população, tinham sua ficha nos enormes arquivos da Stasi.

Mais do que os números, o que chama atenção é a constatação de que amigos, colegas de trabalho, de faculdade e até familiares delatavam seus pares. As razões para colaborar eram diversas - iam desde a fidelidade na ideologia comunista à coação e à ameaça, passando pelo oferecimento de privilégios, como promoções e permissões para viajar, ou mesmo o bom e velho pagamento em dinheiro, na melhor tradição capitalista.

Muitos cidadãos só descobriram que eram espionados depois da queda do Muro, consultando os arquivos que restaram. A deputada federal Vera Lengsfeld descobriu que a polícia sabia até que marca de sabonete ela usava. Informações repassadas por 49 informantes que a monitoravam - entre eles o próprio marido dela, pai de seus dois filhos. Vera acabou encarcerada na prisão de Hohenschönhausen, hoje transformada em museu. História parecida com a do ator Ulrich Muehe, protagonista do filme A Vida dos Outros, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2007, que ilustra as páginas desta reportagem. Muehe, morto há três anos de câncer no estômago, também descobriu que sua ex-mulher havia repassado informações sobre ele durante os 6 anos de seu casamento.

2. O quebra-cabeças de 600 milhões de peças

A maior parte das informações que se tem sobre a Stasi vem da própria instituição. Como era uma organização muito burocrática, produzia relatórios em série sobre as observações de milhares de informantes alemães e estrangeiros. Se toda a documentação produzida pela polícia secreta fosse enfileirada, alcançaria facilmente a distância de 110 quilômetros.

A Stasi bem que tentou se livrar de parte dessa montanha de papel dias antes da queda do Muro. Nas cidades menores, documentos começaram a ser queimados. Nas cidades maiores, para não chamar atenção, os agentes optaram por picotar freneticamente pilhas e pilhas de papéis. O material rasgado foi armazenado em 17 200 sacolas, que seriam descartadas. Mas acabou sendo descoberto quando os quartéis da Stasi foram invadidos pela população. Os arquivos destruídos representam apenas 5% do total de documentação produzido pela polícia secreta durante sua existência. Apenas esses pedaços de papel se constituem num quebra-cabeças de mais de 600 milhões de peças - os fragmentos de documentos produzidos durante 4 décadas. Entre eles, há cartas feitas de papéis de diferentes texturas, fotografias, folhas de carbono, recortes de jornal.

Dois funcionários gastaram 8 meses para organizar os papéis de apenas uma das 17 200 sacolas. O trabalho foi recompensado com o levantamento de provas de que a Alemanha Oriental abrigou terroristas, financiou programas de doping e praticou espionagem industrial contra os vizinhos europeus, além de revelar o nome de vários informantes - entre religiosos, intelectuais e altos funcionários da Alemanha Ocidental.

Hoje, para trazer à luz os tempos escuros da polícia secreta, os alemães empreendem um gigantesco esforço para remontar os papéis cortados. Não restam dúvidas de que o material merece ser examinado. O grande desafio é como fazê-lo de forma produtiva e rápida. No ritmo de uma sacola anual por funcionário, estimava-se que seriam necessários 700 anos para concluir a missão.

Desde 2006, um supercomputador, ainda em teste, tenta reunir os fragmentos com as mesmas características - como tipo de papel, cor e padrão de escrita - para facilitar a montagem do quebra-cabeças. Para colocar o sistema em funcionamento em larga escala, serão necessários US$ 30 milhões.

3. Catálogo de cheiros

No museu da Stasi Runde Ecke, em Leipzig, ficam em exposição fileiras de potes de vidro contendo flanelas amarelas. São parte de uma coleção de milhares de amostras de cheiro coletadas pelos agentes da Stasi para identificar e rastrear suspeitos de agir contra os interesses do governo. "Era uma forma primitiva de conseguir provas científicas contra supostos infratores, numa época em que o exame de DNA não estava disponível", diz Jonathan Zatlin, professor de História Moderna da Alemanha na Universidade de Boston.

Se encontrassem panfletos jogados no chão, pincéis usados para afixar cartazes ou latas de spray de pichação, os agentes depositavam flanelas sobre esses objetos para obter as amostras de cheiro. O pano era guardado dentro de um pote de vidro. Quando a Stasi encontrava algum suspeito de ser o responsável pela ação, procurava, secretamente, obter uma amostra de cheiro para comparar com a recolhida anteriormente. Uma das táticas era chamar o suspeito para uma conversa na delegacia. Ao sentar-se na cadeira, a pessoa impregnava, sem saber, uma flanela escondida no assento. Cães eram usados para farejar as duas amostras e dar sinal caso elas coincidissem. "Em 1988, a Stasi mantinha 26 cães treinados para farejar e rastrear pessoas e outros 15 para diferenciar amostras de cheiro", diz a pesquisadora Kristie Macrakis.

Outra técnica desenvolvida pelos cientistas a serviço da Stasi foram perfumes feitos com substâncias como almíscar e hormônios de plantas para facilitar o monitoramento de dissidentes. A essência era aplicada nos pneus do carro da pessoa a ser seguida. Assim, cães podiam rastrear carros e sujeitos facilmente - a distância ou no meio de uma multidão.

4. Radiação para seguir suspeitos

Logo depois da queda do Muro de Berlim, correu na Alemanha a lenda de que os agentes oficiais usavam radiação para marcar e monitorar suspeitos. Com a abertura dos arquivos confidenciais da Stasi, essa aparente lenda urbana foi revelada como verdadeira. Até 1989, mais de 1 000 pessoas foram vigiadas dessa forma. A radiação era borrifada, com um spray, sobre o cidadão suspeito de ser um dissidente, ou pelo uso de alfinetes impregnados de radiação, escondidos em casacos e maletas. Com isso, o suspeito seria identificado por aparelhos que contam o nível de raios gama. Em vez de apitar, os aparelhos vibravam sempre que o suspeito irradiado se aproximava. Um dos átomos instáveis mais usados era o scandio 46, que permanece ativo por mais de 80 dias.

Para monitorar carros, usavam-se balas de chumbo impregnadas com prata radioativa. As balas eram disparadas contra o pneu do veículo a uma distância de 25 metros. A partir daí, era possível seguir o carro a centenas de metros, mesmo no tráfego de Berlim. O césio 137 marcava carros suspeitos de atravessar a fronteira entre as duas Alemanhas. "Por ser muito penetrante, o césio é mais perceptível aos contadores de radiação, mesmo que o alvo esteja protegido por paredes de concreto", diz Kristie Macrakis, historiadora da Universidade Estadual de Michigan, nos EUA.

Essas ferramentas foram criadas pelo programa Cloud, liderado pelo físico nuclear Franz Leuteriz nos laboratórios técnicos da Stasi. Na década de 1970, 100 operações com radiação eram realizadas por ano pela Stasi, afirma o físico Klaus Becker no estudo Uso ilegal de fontes de radiação pelo governo. Suspeita-se que a prática esteja ligada à morte, por câncer, de dissidentes que haviam sido espionados quando o muro estava em pé.


5. A polícia da paranoia

A abertura dos arquivos da Stasi frequentemente provoca surpresas. Não por trazerem à luz fatos inesperados de biografias, mas por revelarem a mesquinhez de algumas ações da Stasi. Diversas tinham como único objetivo intimidar e desacreditar pessoas disseminando a paranoia.

Uma das vítimas foi o escritor, psicólogo e ativista Jürgen Fuchs. Foi o que revelou um documento de setembro de 1982, narrando o que vinha sendo feito para colocá-lo sob pressão. Fuchs recebia chamadas anônimas durante a madrugada; táxis e ambulâncias apareciam em seu apartamento durante o dia ou à noite, reuniões e serviços comerciais eram marcados em seu nome sem que ele soubesse. Depois de ler seus arquivos, a também ativista Ulrike Poppe descobriu que agentes haviam sido escalados para missões como roubar o carrinho de bebê da filha dele ou esvaziar os pneus de sua bicicleta. "Após banir o uso de violência física, mais comum nos anos 50, a Stasi usou essa tática contra os investigados, tanto para desacreditá-los aos olhos de seus amigos e colegas, quanto para fazê-los duvidar de sua própria sanidade", afirma o historiador Konrad Jarausch, professor da Universidade da Carolina do Norte, nos EUA.

Outras técnicas para instaurar o estado de paranoia consistiam em invadir a casa do dissidente trocando objetos de lugar, segui-lo ou plantar mentiras entre seu círculo de amigos. "Vazava-se a informação de que a pessoa recebia privilégios do governo, ou que teria delatado um amigo ou que traía seu cônjuge. Destruíam-se relacionamentos até a vítima ficar isolada", diz o historiador Zatlin. Era uma forma de neutralizar os colaboradores do Ocidente. "Tendo de suportar tanta pressão, alguns sofriam de pânico e colapsos nervosos", diz Zatlin.  

6. Quase tudo era crime

O código criminal da Alemanha Oriental afirmava, em sua introdução, que o objetivo do conjunto de leis era "salvaguardar a dignidade humana, sua liberdade e direitos". Pura ironia. Muitos dos crimes atribuídos a cidadãos da RDA, característicos de regimes totalitários, iam contra esses princípios. Os chamados "crimes de traição" são um bom exemplo disso, já que serviram de amparo legal para prisões de segurança máxima ou de trabalho forçado por infrações como pedir vistos de saída do país ou consultar um consulado ocidental sobre os procedimentos para imigração.

Existem vários exemplos da arbitrariedade da Justiça na interpretação do que era ou não crime. Um rapaz foi apresentado às autoridades por agentes da Stasi após afirmar que as fortificações na fronteira entre as duas Alemanhas eram "um absurdo". No tribunal, ele admitiu assistir a programas ocidentais na TV e falar sobre eles com amigos. Foi condenado por "propaganda hostil" a um ano e meio de trabalho forçado.

Por ter pendurado um cartaz na janela do apartamento em protesto depois que o governo negou seu visto de saída, um jovem foi sentenciado com um ano e dez meses na penitenciária por "interferência nas atividades do Estado". Uma carta escrita a um amigo ocidental pedindo assistência para emigrar legalmente e outra, com o mesmo conteúdo, enviada ao chefe de Estado da RDA, renderam a seu autor uma pena de 4 anos, por "estabelecimento de contatos ilegais e calúnia pública". Dava cadeia até mesmo frequentar a igreja (parasitismo social) e reclamar de problemas da cidade, como buracos de rua (incentivo ao negativismo social).


Reunião do Congresso Stasi.

Os documentos disponíveis até o momento mostram que 40 mil pessoas foram condenadas por crimes políticos durante a existência da Alemanha Oriental. Mas o Centro de Coleta de Evidência Documental, entidade que há anos reúne material sobre a repressão na Alemanha Oriental, acredita que esse número poderia chegar a 300 mil. Por trás das condenações estava a ação de colegas, vizinhos e amigos que trabalhavam como informantes.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

65 anos do Nakba: A limpeza étnica da Palestina e as responsabilidades ocidental e brasileira.


Imagens do êxodo palestino em 1948.

No dia 29 de novembro de 1947, as Nações Unidas recomendaram a partilha da Palestina em dois Estados, um judeu e um árabe. Esse plano jamais foi integralmente implementado, no entanto, criou o cenário da guerra de 1948, durante a qual Israel foi unilateralmente estabelecido como um Estado judeu no dia 15 de maio, mediante a limpeza étnica de mais de três quartos do povo palestino, confiscando suas terras e impedindo o seu retorno. Essa guerra é lembrada pelos palestinos como a Nakba (catástrofe) e deu início a mais longa ocupação no mundo contemporâneo, a qual já dura 65 anos. Desde então, as políticas e práticas israelenses violam a lei internacional, incluindo a Quarta Convenção de Genebra e a Convenção Internacional de Supressão e Punição do Crime de Apartheid.

I- A Palestina Árabe

A derrota que os árabes impuseram ao domínio bizantino na Palestina, confirmado entre os anos 633 e 638 da era cristã, foi bem recebida pela população local, tanto por cristãos como por judeus e samaritanos, que ainda eram grupos numericamente importantes na região. Estes últimos grupos tinham todos os motivos para preferir a organização árabe, vítimas que já eram da intensa perseguição cristã, que só pioraria com os séculos (aliás, no início do período árabe na Palestina—que se estenderia pelos próximos 1.300 anos–, uma pequena população judaica voltaria a se estabelecer em paz em Jerusalém, depois de 500 anos de ausência, que datavam da sangrenta expulsão que os romanos lhe haviam imposto no segundo século da era cristã). O período árabe também foi bem recebido pelos cristãos da região, que “eram arameus [e] não ficaram incomodados pela organização árabe, pois a etnia era semelhante, de origem semítica”, não tendo eles “motivos para gostar da administração bizantina, de origem romana, não semítica”1. Na Palestina árabe, apesar de um imposto específico para judeus e cristãos, eles gozavam de proteção como “Povos do Livro”, e a atmosfera não tinha muito em comum com o regime de terrorífica perseguição que se instalaria nas regiões controladas pelo Cristianismo. A Sura 2 de Maomé explicitamente rejeita a conversão e o proselitismo violento: “Não obrigueis ninguém em assuntos de religião”. A violência sectária só voltaria a se disseminar na Terra Santa com as empresas cristãs de conquista conhecidas como Cruzadas, a primeira das quais foi proclamada pelo Papa Urbano II em 1095 e resultou no estabelecimento do “Reino de Jerusalém”, em 1099, uma fortaleza de reduzidas relações com seu entorno árabe, ironicamente semelhante, neste aspecto, ao enjaulamento que as construções israelenses ilegais hoje impõem a Jerusalém.

As cruzadas à Palestina enfrentariam os muçulmanos locais aos invasores cristãos, com a pequena população judaica da região frequentemente lutando ao lado daqueles contra estes, como em 1099, em Jerusalém, e em 1100, em Haifa. No século XII, na época da Segunda Cruzada, os muçulmanos se reunificam politicamente sob o comando do General Saladino, curdo nascido em Cairo. Saladino recupera Damasco (1174), Acre, Jafa, Beirute, e a própria Jerusalém, em 1187. Na Terceira Cruzada, Ricardo Coração de Leão derrotaria Saladino, forçando-o a negociar e celebrar o tratado de paz que “abriu caminho a um período de calmaria militar e tolerância religiosa na Palestina”2, permitindo aos cristãos visitar os lugares sagrados. A Quarta Cruzada (1199) planejava tomar o Egito por mar, mas fez um desvio para a região da atual Turquia, instalando o Império Latino de Constantinopla. A Palestina só voltaria a ser afetada pela Cruzada de Federico II que, conhecedor da língua árabe, foi capaz de “obter do sultão a entrega pacífica, embora condicionada, de várias terras e das cidades de Belém, Nazaré e Jerusalém, onde o imperador entrou e foi coroado em 1229”3. Já em 1244, Jerusalém voltaria ao poder dos árabes, e o último reduto cristão na Palestina, São João de Acre, cairia em 1291. O controle de toda a área entre o Jordão e o Mar Mediterrâneo—os atuais territórios de Israel e da Palestina Ocupada—permaneceria em mãos árabes até a invasão turco-otomana, em 1517. Mesmo durante o período marcado pela sua incorporação ao Império Turco-Otomano (de 1517 até 1917, com uma interrupção egípcia durante a década de 1830), a Palestina manteria sua enorme maioria árabe, organizada segundo laços sociais bem arraigados na região, que o império turco não alteraria significativamente.

As sucessivas demonstrações de desmemória na política ocidental para o Oriente Médio contrastam com o forte arraigo que certos eventos históricos possuem na reminiscência das massas árabes. Em 1993, acusado de estar celebrando com os israelenses, em Oslo, um tratado que não concedia nada aos palestinos e o instalava na posição de cão de guarda de Israel, o líder Yasser Arafat insistia, um pouco pateticamente (dadas as condições em que negociava), que ele não celebraria qualquer paz, mas “a paz de Saladino”. O leitor dos EUA não tinha a menor noção do que se referenciava ali, mas o povo árabe não deixava de notar a ironia involuntária da impotente insistência de Arafat na menção a Saladino. Antes de entrar no período histórico que imediatamente influencia o curso dos acontecimentos que nos ocupam, portanto, é boa ideia lembrar alguns fatos que se desprendem desse esquemático sumário de alguns séculos de história palestina. Inicia-se no século VII uma intensa arabização da região, que já era visível em séculos anteriores a Maomé, mas que solidifica suas raízes com a chegada dos árabes a Jerusalém, em 638, e a construção da mesquita Al-Aqsa. Durante os próximos 1.300 anos os árabes serão a grande maioria em toda a região da Palestina. No período das Cruzadas, estima-se que havia em torno de 1.000 famílias judias na região.4 Em 1914, já depois das primeiras ondas migratórias estimuladas pelo sionismo, a Palestina (ainda, naquele momento, sob domínio otomano) tinha uma população de 657.000 árabes muçulmanos, 81.000 árabes cristãos e 59.000 judeus.5 De acordo com o censo da Palestina de 1922, feito pelos britânicos, a população era 78% muçulmana, 9,6% cristã (árabe, claro) e 11% judaica. No entanto, no jornalismo “ponderado” sobre a região, mesmo depois de 60 anos de limpeza étnica e 43 anos de ocupação ilegal, você verá desinformados funcionários da grande mídia dissertando, “mui ponderadamente”, sobre os “direitos” dos dois povos sobre a Palestina.

O domínio otomano sobre a Palestina dura de 1517 a 1917, com uma interrupção de 10 anos de administração egípcia na década de 1830. A submissão ao império turco não altera de forma significativa o regime de posse baseado na renda agrícola das terras, já visível no período do sultanato, anterior aos otomanos. Esse sistema relativamente descentralizado de vilas e aldeias, com arrecadação por senhores de terras e trabalho de cultivo por lavradores, arraiga-se na região e ajuda a explicar o terror dos palestinos com—e sua impotência para se defender contra—a violenta campanha de confisco de terras e separação de raças que se inicia com o armamento dos sionistas, nas décadas que antecedem a fundação do estado de Israel. Nas primeiras décadas do século XX, o sionismo armado traria à região um modelo eminentemente europeu de organização territorial e compreensão do espaço, caracterizado pela acumulação, posse e construção de barrreiras fronteiriças. Munidos desse olhar que historicamente relativiza os fatos, nos preparamos para explicar alguns “mistérios” que cercam a história recente: como foi possível que metade de uma população árabe palestina que já se media em bem mais de um milhão tenha sido expulsa tão rapidamente por algumas dezenas de milhares de colonos sionistas? Como foi possível que o nascente estado judeu tenha adquirido uma supremacia tão incontestável no conflito com seus vizinhos árabes e com os palestinos? Para repetir a pergunta que abre um artigo já clássico de Walid Khalidi: Por que os palestinos foram embora?6Observando a realidade relativamente fluida de comunicação entre as aldeias árabes, a intensa organização acumuladora de terras e de armas entre os colonos sionistas e o papel das grandes potências–particularmente da Grã-Bretanha—no processo, começamos a vislumbrar a explicação, que só se completará, claro, com um estudo do que aconteceu em 1948. A compreensão dessa diferença nos regimes de posse da terra, no entanto, é parte da explicação da vitória sionista. Essa explicação, aliás, não tem a menor necessidade de recorrer a estereótipos antissemitas do judeu mais esperto ou conspirador, nem a estereótipos antissemitas do árabe mais atrasado ou indolente, nem a falsificações da mitologia oficial israelense, que repetiram durante décadas que os palestinos saíram voluntariamente ou obedecendo a misteriosas ordens radiofônicas dos próprios árabes, mentiras já cabalmente corrigidas pela própria historiografia israelense. 



531 aldeias palestinas foram destruídas no Nakba. 


II – Da Declaração de Balfour (1917) à Palestina do Mandato Britânico (1922-48)

Quando se estuda o processo histórico pelo qual se chegou à atual, desastrada situação na Terra Santa, salta aos olhos a responsabilidade das potências ocidentais que, ao longo do século XX (para nos atermos à história mais recente), jogaram um jogo duplo, perigoso e marcado pela reversão do que se havia dito antes. Pensando em seu próprio interesse e em completa desconsideração pelo destino de milhões de civis inocentes, a Grã-Bretanha literalmente toca fogo na região, ao fazer promessas contraditórias aos povos árabes e ao movimento sionista. O reino de Sua Majestade não possui sequer a desculpa de que se tratava de uma causa nobre. Era 1916 e 1917, e tratava-se da consolidação de sua coalizão na Primeira Guerra Mundial. Ao contrário da Segunda Guerra, defensável como reação legítima à agressão nazi-fascista, a Primeira é um típico conflito napoleônico-clausewitziano moderno, um choque entre impérios. A Turquia, aliada dos alemães, mantinha a Palestina árabe sob o seu império otomano (como se viu acima, um jugo relativamente frouxo, onde a vida palestina seguia com considerável autonomia, situação que nem de longe tinha nada em comum com o horror das posteriores expulsão e ocupação israelenses). Interessada em atrair os árabes, a Grã-Bretanha promete para depois da guerra, em correspondência oficial entre Sir Henry Mac Mahon e o xeque Hussein, de Meca, a criação de um estado independente nas províncias do império turco em que se falava o árabe. A luta dos árabes contra a dominação otomana acabaria sendo decisiva para a vitória de seus aliados britânicos naquele front. Toda a evidência histórica demonstra que as lideranças árabes esperavam que os britânicos cumprissem sua palavra e confirmassem o estado árabe independente depois da guerra. Não foi o que aconteceu.

Ter prometido algo aos árabes não impediu que a Grã-Bretanha celebrasse com a sua aliada França um tratado contraditório com a promessa anterior. Os acordos de Sykes-Picot, de 1916, entre Grã-Bretanha e França, reservavam aos franceses a Síria e o Líbano. Em 1917, as forças otomanas se rendem ao general britânico Allenby em Jerusalém e em 1918 se confirma o fim do regime otomano na Palestina. O Tratado de Versalhes, de 1919, selaria o arranjo de Sykes-Picot entre França e Grã-Bretanha, deixando aos britânicos a área da Jordânia (então chamada de Transjordânia), do Iraque e da Palestina. A Liga das Nações, fundada depois da guerra, avalizaria esse arranjo, segundo o qual as duas potências ocidentais se responsabilizariam por um “mandato” temporário sobre essas regiões, até a sua independência formal. Em 22 de julho de 1922, a Liga das Nações aprova o mandato britânico na Palestina, que deixaria como legado o progressivo armamento dos colonizadores sionistas e a catástrofe palestina de 1948.

Ao mesmo tempo em que prometia independência aos árabes, o império britânico fazia sua famosa promessa ao movimento sionista internacional, a Declaração de Balfour (1917), patentemente contraditória com a promessa feita aos árabes e com o próprio arranjo subjacente a Sykes-Picot e a Versalhes. Enviada pelo secretário exterior britânico Arthur James Balfour ao Barão Rotschild, para transmissão à Federação Sionista da Grã-Bretanha e da Irlanda, a declaração mudaria a história do Oriente Médio: “O governo de Sua Majestade vê favoravelmente o estabelecimento na Palestina de um lar nacional para o povo judeu, e usará seus melhores esforços para facilitar a realização desse objetivo, ficando claramente entendido que nada será feito que possa prejudicar os direitos civis e religiosos das comunidades não judias existentes na Palestina, ou os direitos e status político desfrutados por judeus em qualquer outro país”. Apesar de que a declaração mencionava a preservação de todos os direitos da população nativa, é evidente que “Balfour não tinha nenhum interesse em consultar os árabes da Palestina acerca de seu futuro”7. Em suas memórias, Lloyd-George, primeiro-ministro em 1917, se refere à declaração como uma recompensa a Chaim Weizmann, um dos líderes sionistas mais importantes daquele momento (depois primeiro presidente de Israel) e químico que havia desenvolvido um método de sintetizar a acetona na produção de pólvora. A declaração também está inserida na tentativa de mobilizar as comunidades judaicas da Rússia e dos EUA no apoio aos esforços de guerra britânicos, e termina sendo um enorme estímulo ao movimento sionista. Depois da vitória aliada, o próprio Chaim Weizmann participaria da Conferência de Paz de Paris, em 1919, clamando por uma “Palestina tão judia como a Inglaterra é inglesa”8, num momento em que os judeus representavam não mais que 10% da população da Palestina. No ano seguinte, fundava-se na Palestina a Hagana, organização paramilitar judaica depois responsável pelo extermínio ou limpeza étnica de centenas de aldeias palestinas.

Só depois de três décadas (1880-1910) de migração, compra de terras e armamento sionistas é que aparecem os primeiros registros de preocupação entre as lideranças palestinas. Em 06 de maio de 1911, o palestino e membro do parlamento otomano, Said al-Husayni, apontava que “os judeus planejam criar um estado na área que incluirá a Palestina, a Síria e o Iraque”9. Segundo o historiador israelense Ilan Pappe, já entre 1905 e 1910 há alguma evidência de discussão, entre líderes palestinos, do fenômeno do sionismo como movimento político que acumulava poder e terra. Mas só a partir da queda do regime otomano na Palestina (1917) e o começo do período britânico (ocupação em 1918, mandato da Liga das Nações em 1922), o movimento sionista se lançaria paulatinamente a um plano de limpeza étnica dos árabes. Ali passa a ser visível a preocupação sistemática e, por vezes, o pânico das lideranças palestinas com as ondas migratórias, a acumulação de terras e a violência física que se iniciava. Mas ao longo das duas últimas décadas do século XIX e das duas primeiras do século XX, a imigração sionista não esteve entre as grandes preocupações dos palestinos.


Campo de refugiados Nahr al-Barid, Líbano, inverno de 1948

Na década de 1920, os palestinos representavam ainda uma maioria de 80% a 90% na região. A tentativa inglesa de construir estruturas paritárias que reconciliassem as promessas contraditórias feitas por eles ao povo árabe e ao movimento sionista encontrou compreensível resistência entre os palestinos, que “se recusaram, no começo, a aceitar a sugestão britânica de paridade, especialmente uma paridade que os colocava na prática em desvantagem—o que incentivou os líderes sionistas a endossarem-na”10. Começa a se desenhar ali um paradigma que seria reconhecível até os dias de hoje: 1) instala-se uma mediação ocidental que recomenda uma solução patentemente favorável ao sionismo; 2) os árabes protestam, apontando, como no caso em questão, que a paridade entre um povo que representa 90% da população e outro que totaliza 10% contraria o mais elementar princípio da democracia; 3) a liderança sionista, com intenso trabalho de relações públicas, manifesta concordância tática com a solução apresentada, sabendo que a recusa árabe os coloca na posição de, ao mesmo tempo, aceitar um plano e não se comprometer com ele; 4) enfraquecidos politica e militarmente, os representantes árabes voltam atrás e aceitam a solução originalmente apresentada pela potência ocidental; 5) ante a concordância árabe com o plano, é a vez da liderança sionista dizer que a solução lhe é inaceitável, o que lhe permite arrastar o impasse e, a partir de sua posição de força, aboncanhar mais e mais, ao mesmo tempo em que adia outra vez uma solução definitiva; a vitória não impede que a liderança sionista prolongue o impasse, reinstalado por um aumento das suas exigências; 6) esse prolongamento faz com que todo o ciclo se reinicie, com mais concessões árabes e mais impasse, até o ponto a que chegamos hoje, em que a população palestina já não tem o que oferecer, exceto alguma forma mágica de desaparição. Esse filme se repete com macabra previsibilidade, ante o olhar conivente das potências cúmplices (Grã-Bretanha e, depois, os EUA), desde 1928, vinte anos antes da fundação do estado de Israel. É a data em que as lideranças palestinas, “apreensivas com a crescente imigração judia ao país e com a expansão de seus assentamentos colonizadores, concordam com a fórmula [paritária] como uma base para as negociações”11. É a data em que os sionistas já não a aceitam e os britânicos permanecem de braços cruzados. Esses mesmos sete passos se repetirão em 1947-48, no episódio que os apologistas da ocupação israelense descrevem como o momento em que as Nações Unidas ofereceram um plano de partição “que os judeus aceitaram e os árabes recusaram”. Já veremos adiante todo o contexto que essa frase omite.

Entre 1924 e 1928 chegam mais 67.000 judeus (metade dos quais oriundos da Polônia), elevando a população judaica para 16% do total da Palestina do Mandato. Naquele momento, os judeus são donos de 4% da terra na Palestina. O censo de 1931 registra uma população de 1,03 milhão de almas, 16,9% judeus. A não implementação, por parte da Grã-Bretanha, da fórmula paritária que ela própria havia proposto, leva à rebelião árabe de 1929, o primeiro grande sinal de descontentamento com a política imposta no Mandato. Imagine um povo que representa quase 85% da população se rebelando, em sua própria terra, para ter a paridade que lhe havia sido proposta com os outros 15% que acabavam de chegar. Agora imagine que a autoridade administrativa responsável pela proposta se beneficiara da colaboração desse povo, como aliado seu, numa guerra mundial, e que a moeda de troca oferecida por essa colaboração não era paridade nenhuma, mas um estado seu, autônomo, em suas terras. Com isso você terá os elementos centrais para entender a primeira rebelião de desobediência civil árabe na Palestina moderna. Os confrontos em torno ao Muro das Lamentações em 1929 levam à morte de 133 judeus e 116 árabes, a maioria por mãos inglesas.12 Em 1931, funda-se o Irgun, outra organização paramilitar judia que se caracterizaria pelos ataques sangrentos aos árabes.

Ao se completar uma década e meia da queda do regime otomano e uma década da implantação do Mandato Britânico na Palestina, vão se configurando os elementos que produziriam a tragédia: 1) o fim da ameaça otomana ao sionismo, que depois de 15 anos já não tem que temer qualquer eventual expulsão sua da Palestina vinda do regime de Istambul; 2) o pesado armamento de grupos paramilitares sionistas como a Hagana e o Irgun, que vão acentuando a escolha por conquista e violência; 3) a perplexidade das lideranças palestinas, arraigadas em séculos de organização social descentralizada e não equipadas por sua experiência para se contrapor de forma efetiva à ofensiva territorial e armamentista do sionismo; 4) a incapacidade de setores das elites árabes de perceber a natureza do fenômeno sionista, vendo-o muito mais como uma “tentativa irresponsável por parte da Europa de transferir ao país o seu povo mais pobre e sem estado”13; e evidentemente 5) a subida ao poder do Partido Nacional Socialista alemão, que em menos de uma década alçaria 19 séculos de antissemitismo a níveis jamais vistos, com a intensa campanha de perseguições, agressões bélicas e matanças que culmina, já numa Europa em guerra, com o genocídio de 6 milhões de judeus. 


Poster da organização paramilitar judaica Irgun, 1937.

Qual é, então, a Palestina que assiste à invasão hitlerista da Polônia que dá início à Segunda Guerra Mundial em 1939? Robert Fisk acerta ao descrevê-la como presa a uma “atmosfera de suspeita, paranóia e intenso sofrimento”, tanto para árabes como para judeus, “os primeiros com medo de a Grã-Bretanha acabar autorizando a fundação do estado israelense em suas terras, e os segundos observando a aniquilação de sua raça na Europa”14. Não há dúvidas de que, na medida em que vão ficando visíveis as dimensões do Holocausto judeu na Europa, reforça-se a percepção sionista de que a implantação de seu estado na Palestina é uma questão de sobrevivência. Mas antes mesmo do início da Segunda Guerra Mundial, em 1938, a voz de historiadores como George Antonius já se levantava contra a eventual “resolução” do problema às custas dos árabes palestinos:

O tratamento dado aos judeus da Alemanha e outros países europeus é uma vergonha para seus autores e para a civilização moderna; mas a posteridade não exonerará nenhum país que não consiga enfrentar sua parte dos sacrifícios necessários para aliviar o sofrimento e a angústia dos judeus. Impor a maior parte da carga à Palestina árabe é uma miserável forma de esquivar-se das responsabilidades que deveriam recair sobre todo o mundo civilizado. Também é moralmente vergonhoso. Nenhum código moral pode justificar a perseguição de um povo em uma tentativa de pôr fim à perseguição de outro. O remédio para a expulsão dos judeus da Alemanha não deve ser buscado na expulsão dos árabes de sua pátria; e também não se conseguirá o alívio da angústia dos judeus às custas da angústia de um povo inocente e pacífico.15

Seria difícil formular o protesto em termos mais claros e moralmente firmes que os de Antonius. Suas palavras datam de 1938 e são, portanto, anteriores à guerra e aos horrores dos fornos crematórios nazistas; precedem, em uma década inteira, a fundação do estado de Israel e a expulsão de 750.000 palestinos de suas terras. Mais de sete décadas depois de enunciadas, elas ainda ecoam em sua atualidade e retidão ética. 

III – A responsabilidade da diplomacia brasileira no Nakba: Oswaldo Aranha

Antes de transferir a questão da Palestina às mãos das Nações Unidas, em fevereiro de 1947, os ingleses apresentaram a proposta de um estado binacional, rejeitada pelos sionistas. Na mitologia oficial israelense, é frequente a referência à rejeição árabe do plano de partição apresentado pela ONU em 1947, mas é muito menos comum qualquer menção à rejeição sionista do plano inglês de um estado binacional. Já antes da transferência da questão à ONU, a liderança sionista tinha bastante claro que a Grã-Bretanha saía da Segunda Guerra Mundial como uma potência de segunda ordem, muito mais interessada, portanto, em abandonar o imbróglio da Palestina que em ajudar a resolvê-lo. Também já estava claro para os sionistas que só restavam os britânicos entre eles e a execução do plano de limpeza étnica, e que a saída britânica da região era iminente. O imperialismo ocidental mais uma vez largava um desastre de sua criação nas mãos de uma população nativa não equipada para resolvê-lo. Qualquer semelhança com o Iraque atual não é mera coincidência.

O Brasil também tem sua responsabilidade histórica no arranjo que produz a catástrofe palestina. Foi Oswaldo Aranha, diplomata brasileiro, quem presidiu as discussões que levariam à fundação do estado de Israel. Até mesmo a hagiográfica biografia de Aranha escrita pelo norte-americano Stanley Hilton dá alguma ideia do que foram as manobras do diplomata brasileiro. Convocado pelo general Dutra em 1947, Aranha seria o representante brasileiro no Conselho de Segurança da recém fundada Organização das Nações Unidas. Depois, seria eleito presidente da sessão especial da Assembleia Geral encarregada de discutir o problema da Palestina. Aranha prometeria aos representantes árabes “plena liberdade de discussão” do tema, logo depois que a Assembleia rejeitara uma proposta árabe para que se incluísse na agenda a questão da independência da Palestina. Não foi o que aconteceu. Ante a observação do Grã Mufti de Jerusalém, de que “os judeus queriam se apoderar da Palestina para sua maior expansão na região”, Aranha retrucou que “a opinião do Mufti não me interessa”16. A recomendação do comitê enviado à Palestina foi favorável ao ponto de vista sionista, ou seja, a partilha, por uma maioria de sete votos (num total de onze). Mas na Asssembleia Geral, vinte países se abstiveram e a recomendação não teve os dois terços necessários. Hilton relata que os últimos dias de novembro foram de crescente tensão, e que apesar das declarações públicas de Aranha, de que não exerceria nenhuma influência, sua atuação nos bastidores era fortemente alinhada com os sionistas, fato reconhecido por Abba Eban, membro da equipe negociadora da Agência Judaica na ONU17.

Quando a liderança sionista percebe que ainda não detinha a maioria, inicia uma manobra pelo adiamento da votação. Aranha “inteirado da situação, usou de sua autoridade para ajudar: quando terminaram alguns discursos protelatórios encomendados, anunciou ‘com irreverência’ que, sendo período de férias nos Estados Unidos, seria justo que a Assembleia o respeitasse e suspendeu a sessão”18. Quando se reabriram os trabalhos, no dia 29 de novembro, eram os árabes que sentiam que haviam perdido terreno. Tentaram adiar o voto. Aranha ignorou uma moção do Irã, que pedia um reexame da questão palestina e um adiamento dos trabalhos para janeiro de 1948. Aranha, que tinha “a mão mais rápida no martelo que já vi”, segundo a expressão de Abba Eban, procedeu a conduzir a votação, que aprovou a partição da Palestina por 33 votos a favor, 13 contra e 10 abstenções. Note-se aí, claro, a limitada representatividade da ONU naquele momento anterior à descolonização na África e Ásia. Os árabes, num padrão que se repetiria ao longo do anos, deixaram o espaço livre para os sionistas ao se retirarem do recinto. Chaim Weizmann, que seria o primeiro presidente de Israel, testemunhou a Aranha que “a sessão da Assembleia não poderia ter terminado com esta decisão histórica [...] se não fosse vosso esforço persistente e vossa devoção como presidente”19. 


Musa Kazim al-Husseini, ex-prefeito de Jerusalém, espancado por tropas inglesas.

Em 29 de novembro de 1947, quando a ONU adotou a resolução de partição da Palestina, os árabes representavam dois terços da população da região. Eles eram aproximadamente 90% no início do Mandato Britânico, em 1922. A partição proposta pelo Comitê Especial das Nações Unidas para a Palestina (UNSCOP, pela sigla em inglês) concedia ao terço judeu nada menos que 56% do território, deixando aos dois terços árabes somente 44% da terra. Por pressões do Vaticano e das nações católicas, a resolução da partição reservava à cidade de Jerusalém (de população de 200.000 pessoas, divididas mais ou menos igualmente entre árabes e judeus) a condição de área internacionalmente governada. A divisão demográfica dos dois putativos países era bizarra: no estado árabe, deveriam viver 818.000 palestinos, hospedando 10.000 judeus. No estado judeu, viveriam 438.000 palestinos entre 499.000 judeus. Esse estado detinha a esmagadora maioria das terra férteis e, das 1.200 aldeias palestinas, aproximadamente 400 estavam incluídas em seu interior, sob soberania sionista20. 

Elaborada pelo UNSCOP, cujos membros não sabiam muito sobre a Palestina, a partição se transformaria na Resolução 181 da ONU. Não é de se estranhar que a liderança palestina do momento a rejeitasse. Com o boicote palestino ao UNSCOP, com certeza um erro político grave, a liderança sionista, de ampla superioridade bélica, se viu livre para dominar também o jogo diplomático.

A amarga ironia da história, quando a vemos do ponto de vista árabe, é que, como já argumentou a própria historiografia israelense (Simcha Flapan, por exemplo), se os palestinos tivessem aceitado a partição, a liderança sionista com certeza a teria rejeitado21. Basta examinar as comunicações entre Ben-Gurion e a hierarquia sionista para ver como a rejeição árabe ao plano de partição permitiu ao sionismo aceitá-lo publicamente e ao mesmo tempo trabalhar contra ele. Logo depois da adoção da Resolução 181, Ben-Gurion afirmava ao círculo da liderança sionista que a rejeição árabe ao plano significava que “não há fronteiras territoriais para o futuro estado judeu” e que as fronteiras “serão determinadas pela força e não pela resolução de partição” (p.37). Respondendo a um líder sionista e ministro do exterior (Moshe Sharett) acerca das possibilidades de defender o seu território, Ben-Gurion afirmava: “seremos capazes não só de nos defendermos, mas de infligir golpes letais aos sírios em seu próprio país—e tomar a Palestina como um todo” (p.46). Essas comunicações, disponíveis para consulta nos próprios arquivos israelenses, demonstram claramente que a liderança sionista viu o plano de partição como uma conquista tática, que colocava em definitivo sobre a mesa a legitimidade de um estado judeu na Palestina e estabelecia um trampolim para conquistas posteriores. Essas conquistas, é certo, foram facilitadas pelo perplexo boicote palestino ao Comitê da ONU. Reitere-se, então, que as citações de Ben-Gurion acima são parte de uma ampla documentação que prova que a liderança sionista jogou um jogo duplo e não se comprometeu com a partição como fórmula definitiva. Isso jamais é mencionado pelos apologistas da ocupação de Israel que repetem a consigna de que “os judeus aceitaram a partição de 1947 e os árabes a rejeitaram” como justificativa dos crimes cometidos por Israel em 2010, e bem além dos limites dessa partição.

Antes de descrever a expulsão dos palestinos de suas terras, mais um elemento do xadrez político legado pelo Mandato Britânico deve ser explicado: o acordo sionista-jordaniano que deixa os palestinos sem o apoio do principal exército árabe na Guerra de 1948 e à mercê do superior poder bélico sionista. Aliada dos ingleses na Primeira Guerra Mundial, a família real Hashemita havia recebido os reinos da Jordânia e do Iraque como recompensa por seus serviços. O que passou a ser conhecido como Transjordânia “era um pouco mais que um principado desértico e árido ao leste do Rio Jordão, cheio de tribos beduínas e aldeias circassianas” (p.43). As férteis terras da Palestina situadas a oeste do Rio Jordão, no que hoje é conhecido como Cisjordânia (ou seja, o grosso do território do que é, legalmente, a Palestina atual), passaram a ser objeto da cobiça da família real Hashemita. Havia poucos judeus ali, e entre 1946 e 1947 a realeza jordaniana e a liderança sionista chegaram um acordo: os jordanianos não interfeririam na guerra árabe-israelense que se avizinhava—promessa que os jordanianos cumpriram—e a região da Cisjordânia seria anexada pelo reino dos Hashemitas, sem interferência sionista—promessa que os israelenses quebraram em 1967, ao ocupar o território e mantê-lo sob seu controle, picotagem policial e colonização armada até hoje. Também ali se instalaria um paradigma repetido incontáveis vezes desde 1948. Acuados pelo poder superior dos sionistas, as elites árabes vizinhas rifavam os palestinos, deixando-os entregues à própria sorte num jogo no qual não tinham nenhuma chance. É mais um elemento da tragédia do Oriente Médio.

Revisando os diários de Ben-Gurion e os arquivos israelenses posteriores à partição, o historiador Ilan Pappe encontra certa surpresa e júbilo entre a liderança sionista com o caráter limitado da reação palestina ao recorte de suas terras. Seguindo-se à Resolução 181, os palestinos se limitam a convocar uma greve geral de três dias, durante a qual a repressão inglesa foi duríssima. As revoltas árabes que aconteceram entre 1936 e 1939 deram também à organização paramilitar judia Hagana sua primeira experiência na execução das táticas militares aprendidas com a Grã-Bretanha. A destruição da liderança política palestina seria decisiva para o rumo posterior dos acontecimentos. O quadro que precede a guerra de 1948 é de intenso armamento sionista, coincidindo com um momento de particular fragilidade da liderança palestina, destroçada pela repressão britânica à revolta de 1936-39. No jogo diplomático, começa a pesar a consciência culpada da Europa, em choque com as dimensões gigantescas do Holocausto judeu, recém perpetrado. Quebrar as promessas feitas aos árabes era preço relativamente pequeno para expiar, às custas de outrem, a culpa européia pelo judeocídio. No xadrez político da região, o acordo sionista-jordaniano neutralizava o principal exército árabe. Em pânico com os constantes ataques dos grupos paramilitares judeus (Hagana, Irgun e Stern), a população autóctona, já em 1947, começa a perceber o poderio sionista como uma força imbatível. Estava aberto o caminho para a limpeza étnica da Palestina. 

IV – A preparação da expulsão

Toda sorte de distorções e mitos já foram circulados sobre o que aconteceu na Palestina entre o final de 1947 e o começo de 1949. Na mitologia oficial israelense, no senso comum, no jornalismo mais venal ou preguiçoso, nas Wikipédias e até mesmo em livros embalados como se fossem de pesquisa historiográfica séria, essas distorções foram sedimentando uma coleção de narrativas que recorrem a falsificações não raro contraditórias entre si: 1) que o povo palestino como tal não existia; 2) que ele existia mas que saiu voluntariamente de suas terras em 1948; 3) que não saiu voluntariamente, mas que tampouco foi vítima do sionismo, pois abandonou suas aldeias atendendo a ordens radiofônicas dos próprios árabes; 4) no ramo da pseudo-historiografia sem-vergonha, paga para mentir, já apareceram até livros sobre como os palestinos não eram tão antigos assim na região, já que eles teriam chegado também em imigração recente. Essas diferentes versões da mitologia oficial vão se sucedendo ou se combinando, a gosto do freguês, formando uma geleia geral de enganação empacotada. Acompanham-na algumas frases que, até corretas em si mesmas, omitem um universo de contexto que lhes transforma o sentido, como é o caso de “os sionistas aceitaram a partição proposta pela ONU, os árabes, não”, analisado acima, e “a guerra de 1948 foi iniciada pelos palestinos”, mantra que é essencial em todo mascaramento do processo.


Expulsão em aldeia palestina durante o Nakba.

Como se sabe agora, a liderança militar sionista ficou surpresa com o caráter limitado dos protestos palestinos que se seguiram ao decreto da partição, em novembro de 1947. Afinal de contas, seu território havia sido rachado com uma comunidade minoritária de colonos, que receberam não só um naco de 56% do território, desproporcional à sua representação na população, mas um naco que continha pelo menos 400 aldeias palestinas, nas quais 800.000 palestinos deviam seguir vivendo sob soberania imposta e recém chegada. Ao longo dos dias que se seguem à partição, o comando sionista se reúne para encontrar formas de ataque possíveis, ante a ausência de pretextos. Os arquivos estudados por Ilan Pappe, das reuniões a liderança judaica na Palestina, dão amplo testemunho do planejamento da limpeza étnica. Os fazendeiros dos Kibbutzim transformavam suas cooperativas em postos militares, enquanto nas aldeias palestinas a vida seguia seu curso, no qual a “normalidade era a regra e a agitação a exceção”, segundo os informes do próprio Palti Sela, membro de uma unidade de inteligência sionista. Ao longo do mês de dezembro de 1947, anterior à guerra propriamente dita, as aldeias palestinas sofrem uma campanha de terror e intimidação das organizações paramilitares judias que representam o primeiro capítulo da limpeza étnica da Palestina.

A linguagem da ameaça foi prática comum naquele momento, como mostra o exemplo citado por Ilan Pappe, de panfletos lançados às aldeias sírias e libanesas na fronteira palestina: “Se a guerra for levada até você, ela causará expulsão massiva de aldeões, com suas mulheres e crianças … haverá matança sem piedade, sem compaixão” (p.56). Lembremos que nesse momento o sionismo já possui um mapa completo das aldeias palestinas, incluindo-se informação sobre água, possíveis defesas e indivíduos vinculados à resistência árabe durante os protestos de 1936-39. Esse mapeamento seria chave na destruição das centenas de aldeias palestinas e na expulsão de centenas de milhares de habitantes autóctonos da região No mês de dezembro se disseminam as ações que a Hagana chamava de “reconhecimento violento” (hassiyur ha-alim): invadir uma aldeia à noite, instaurar toque de queda, atirar em qualquer um que ouse sair de casa, permanecer durante algumas horas e ir embora. A aldeia de Deir Ayyub foi uma das vítimas de dezembro de 1947. Com aproximadamente 500 habitantes, ela acabava de comemorar a abertura de uma escola. Foi invadida por tropas judaicas que passaram a atirar indiscriminadamente nas casas. Deir Ayyub ainda seria atacada três vezes antes de ser destruída em sua totalidade em abril de 1948 (p.56). No nordeste da Galileia, na aldeia de Khisas, algumas centenas de muçulmanos coexistiam pacificamente há tempos com uma centena de cristãos. Até que no dia 18 de dezembro de 1947, tropas judaicas a invadiram e passaram a explodir casas durante a noite, provocando a morte de quinze aldeões, pelo menos cinco crianças. Ações como estas proliferaram ao longo de dezembro de 1947, e não costumam ser mencionadas pelos que justificam as atrocidades de Israel com o argumento de que “os palestinos iniciaram a guerra” em janeiro de 1948.