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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Construção e queda do Muro de Berlim


Em 13 de agosto de 1961, guardas da Alemanha Oriental começaram a separar com arame farpado e concreto os lados oriental e ocidental de Berlim, isolando Berlim Ocidental dentro do território da Alemanha Oriental.

Início da construção do maior símbolo da Guerra Fria

O funcionário do Serviço de Defesa da Constituição de Berlim que estava de plantão no segundo final de semana de agosto de 1961 não esperava ocorrências extraordinárias. Mas já na madrugada de sábado para o domingo, dia 13, ele foi surpreendido à 1h54 pela notícia de que o tráfego de trens entre Berlim Ocidental e Berlim Oriental fora suspenso.


A abrangência do fato, porém, só ficou clara quando o dia amanheceu. A República Democrática Alemã (RDA) dera início à construção de um muro entre as duas partes de Berlim, cortando o acesso de 16 milhões de alemães ao lado ocidental. "A fronteira em que nos encontramos, com a arma nas mãos, não é apenas uma fronteira entre um país e outro. É a fronteira entre o passado e o presente", era a interpretação ideológica do governo alemão oriental.

Queda após 28 anos

A RDA via-se com razão ameaçada em sua existência. Cerca de 2 mil fugas diárias haviam sido registradas até aquele 13 de agosto de 1961, ou seja, 150 mil desde o começo do ano e mais de 2 milhões desde que fora criado o "Estado dos trabalhadores e dos camponeses". O partido SED puxou o freio de emergência com o auxílio de arame farpado e concreto, levantando um muro de 155 quilômetros de extensão que interrompia estradas e linhas férreas e separava famílias.

Ainda dois meses antes, Walter Ulbricht, chefe de Estado e do partido, desmentira boatos de que o governo estaria planejando fechar a fronteira: "Não tenho conhecimento de um plano desses, já que os operários da construção estão ocupados levantando casas e toda a sua mão de obra é necessária para isso. Ninguém tenciona construir um muro".


Nos bastidores, porém, corriam os preparativos, sob a coordenação de Erich Honecker e com a bênção da União Soviética. Guardas da fronteira e batalhões fiéis ao politburo encarregaram-se da tarefa. Honecker não tinha a menor dúvida: "Com a construção da muralha antifascista, a situação na Europa fica estabilizada e a paz, salvaguardada".

As potências ocidentais protestaram, mas nada fizeram. Para os berlinenses de ambos os lados da fronteira, a brutalidade do muro passou a fazer parte do cotidiano. Apenas 11 dias após a construção, morreu pela primeira vez um alemão-oriental abatido a tiros durante tentativa de fuga. A última vítima dos guardas da fronteira foi Chris Gueffroy, morto em fevereiro de 1989.

Reação às fugas

Até 1989, o Muro de Berlim foi o símbolo por excelência da Guerra Fria, da bipolarização do mundo e da divisão da Alemanha.

Ainda no início de 1989, Honecker, no poder desde 1971, manifestava confiança em sua estabilidade: "O muro ainda existirá em 50 ou em cem anos, enquanto não forem superados os motivos que levaram à sua construção".


Apenas dez meses depois, em 9 de novembro daquele ano, os habitantes de ambas as partes da cidade caíam incrédulos nos braços uns dos outros, festejando o fim da muralha que acabou sendo derrubada pouco a pouco e vendida aos pedaços como suvenir.

Menos de um ano depois, o país dividido desde o fim da Segunda Guerra foi unificado, mas a verdadeira integração entre as duas partes é um processo que ainda não terminou.

1962: Peter Fechter morria ao tentar pular o Muro de Berlim

Em 17 de agosto de 1962, jovem de 18 anos foi morto ao tentar fugir para Berlim Ocidental pulando o Muro. Ele foi baleado por soldados de fronteira da Alemanha comunista e morreu de hemorragia na "zona da morte".


Atingido por tiros, jovem de 18 anos foi carregado por guardas de fronteira da RDA

O Muro de Berlim dividia a cidade há apenas um ano, quando um incidente chocou a opinião pública alemã. Sob o olhar de centenas de pessoas indignadas, o jovem alemão oriental Peter Fechter, de 18 anos, morreu baleado na chamada "faixa da morte", próxima ao Checkpoint Charlie. Junto com seu colega de trabalho de mesma idade, o pedreiro havia planejado fugir de Berlim Oriental para Berlim Ocidental.


Ele queria procurar sua irmã, que vira pela última vez pouco antes da construção do Muro. Por volta do meio-dia de 17 de agosto de 1962, eles tentaram executar o plano. Pularam a primeira cerca de arame farpado sem serem percebidos mas, quando corriam os últimos metros para chegar ao Muro, foram descobertos.

Morte acompanhada pela multidão

O colega conseguiu saltar o Muro sem ser ferido. Mas Peter levou vários tiros na barriga e nas costas e caiu a poucos metros do Muro. Centenas de berlinenses ocidentais chegaram perto do local e imploraram aos guardas de fronteira que socorressem o jovem gravemente ferido, mas ninguém fez nada. Os soldados da tropa de ocupação norte-americana não podiam intervir, e os guardas alemães orientais visivelmente esperavam uma ordem superior.



Os estojos de primeiros-socorros jogados por cima do Muro chegaram tarde para Peter Fechter. Por volta das 15 horas, ele foi recolhido, morto, pelos guardas de fronteira e levado para um hospital militar. O resultado da autópsia, mais tarde, seria destruído pelas autoridades. Os soldados responsáveis pela morte de Fechter receberam prêmios em dinheiro – como era comum.

Número desconhecido de vítimas

domingo, 24 de novembro de 2013

Socialismo é bom?


Ta certo que o capitalismo não é lá essas coisas, mas veja como esse professor de economia convenceu seus alunos que o socialismo não funciona.

Um professor de economia em uma universidade americana disse que nunca havia reprovado um só aluno, até que certa vez reprovou uma classe inteira.

Esta classe em particular havia insistido que o socialismo realmente funcionava: com um governo assistencialista intermediando a riqueza ninguém seria pobre e ninguém seria rico, tudo seria igualitário e justo.

O professor então disse, “Ok, vamos fazer um experimento socialista nesta classe. Ao invés de dinheiro, usaremos suas notas nas provas.” Todas as notas seriam concedidas com base na média da classe, e, portanto seriam ‘justas’. Todos receberão as mesmas notas, o que significa que em teoria ninguém será reprovado, assim como também ninguém receberá um “A”.

Depois de calculada a média da primeira prova todos receberam “B”. Quem estudou com dedicação ficou indignado, mas os alunos que não se esforçaram ficaram muito felizes com o resultado.

Quando a segunda prova foi aplicada, os preguiçosos estudaram ainda menos – eles esperavam tirar notas boas de qualquer forma. Já aqueles que tinham estudado bastante no início resolveram que eles também se aproveitariam do trem da alegria das notas. Como um resultado, a segunda média das provas foi “D”. Ninguém gostou.


Depois da terceira prova, a média geral foi um “F”. As notas não voltaram a patamares mais altos, mas as desavenças entre os alunos, buscas por culpados e palavrões passaram a fazer parte da atmosfera das aulas daquela classe. A busca por ‘justiça’ dos alunos tinha sido a principal causa das reclamações, inimizades e senso de injustiça que passaram a fazer parte daquela turma. No final das contas, ninguém queria mais estudar para beneficiar o resto da sala. Portanto, todos os alunos repetiram aquela disciplina… Para sua total surpresa.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Agentes de fronteira da Stasi tinham ordens para matar fugitivos


Documento da polícia secreta da Alemanha Oriental mostra que agentes não deveriam hesitar em utilizar armas de fogo contra fugitivos mesmo que entre eles houvesse crianças.

Um documento que se tornaram público mostram que agentes de fronteira da Stasi, a polícia secreta da antiga Alemanha Oriental, tinham ordens de atirar para matar contra fugitivos do regime comunista alemão. O documento foi encontrado nos arquivos regionais da cidade de Magdeburg e tem data de 1º de outubro de 1973.

"Não hesite em utilizar armas de fogo mesmo que a fuga pela fronteira ocorra ao lado de mulheres e crianças, o que traidores já utilizaram com freqüência", está escrito no documento, que é dirigido a agentes da Stasi que agiam incógnitos entre guardas da fronteira na região de Magdeburg e tinham por missão identificar soldados que estivessem dispostos a fugir.

Em muitos casos, as tentativas de fuga aconteciam com a família. Historiadores calculam que mais de 2,8 mil soldados tenham desertado e fugido para a Alemanha Ocidental. Já o número de pessoas que foram mortas durante tentativas de fuga é impreciso e varia entre 270 e 780.

A revelação da existência do documento foi feita pelo jornal Magdeburger Volksstimme e ocorreu às vésperas do aniversário de 46 anos (2007) da construção do Muro de Berlim.

Controvérsia

O achado provocou controvérsias na imprensa alemã. Um porta-voz do escritório responsável pela administração dos arquivos da Stasi, Andreas Schulze, confirmou a informação do jornal e apresentou o documento como sendo a primeira prova de que havia uma ordem do governo da Alemanha Oriental para matar fugitivos.

Após vários relatos na imprensa de que um texto praticamente igual já havia sido tornado público em 1997, numa antologia publicada pelo historiador Matthias Judt, os responsáveis pelos arquivos da Stasi reconheceram neste domingo que a descoberta de Magdeburg não é inédita.

Stasi: a polícia secreta da Alemanha Oriental - Oito histórias inacreditáveis.


Ministério para Segurança do Estado.

Vinte anos depois da queda do Muro de Berlim, os alemães ainda se espantam com as histórias e técnicas da Stasi, a polícia secreta da Alemanha Oriental. Veja abaixo 8 exemplos de como o governo comunista vigiava e perseguia seus próprios cidadãos por Texto Vanessa Vieira 

1. Um espião para cada 60 moradores

Se houve uma nação que materializou o Estado onisciente descrito por George Orwell no livro 1984, esta nação foi a Alemanha Oriental. No país comunista, o Ministério para Segurança do Estado, mais conhecido como Stasi, representava o papel de Big Brother, o Grande Irmão de Orwell, munido de câmeras e escutas para espionar todos os cidadãos. Para vigiar a população e evitar movimentos organizados contra a política comunista aliada à União Soviética, a polícia secreta da República Democrática da Alemanha adotou meios que ainda hoje impressionam. "Absolutamente nada era sagrado para a polícia secreta. Pequenos buracos eram perfurados nas paredes de apartamentos e de hotéis para que a Stasi filmasse seus suspeitos. Até os banheiros eram penetrados pelos voyeurs comunistas", afirma o escritor e jornalista Joseph Koehler em seu livro Stasi: the Untold Story of the East German Secret Police ("Stasi: a história não contada da polícia secreta da Alemanha Oriental", sem edição no Brasil).

Os alemães orientais estavam acostumados à ostensiva vigilância por meio de microfones camuflados, câmeras fotográficas, vídeos e milhares de colaboradores. Agentes eram colocados em tempo integral nas fábricas para reportar tudo o que acontecia. Em cada condomínio de apartamentos, havia um responsável por anotar e relatar toda a rotina - que visitas cada morador recebeu, se algum visitante passou a noite no local. Essa estrutura de vigilância exigia muitos, muitos funcionários.


Em 1989, a Stasi empregava 90 mil agentes e mantinha 175 mil informantes para monitorar 17 milhões de habitantes. Ou seja, havia um espião para cada 63 habitantes. Alguns especialistas, levando em conta os colaboradores ocasionais, estimam que um em cada 6 alemães orientais passava informações à Stasi. É um número maior até mesmo que a polícia secreta anterior, a temível Gestapo dos tempos nazistas, que tinha cerca de 40 mil oficiais para vigiar 80 milhões de pessoas. O resultado de tamanha vigilância é que 6 milhões de pessoas, ou mais de um terço da população, tinham sua ficha nos enormes arquivos da Stasi.

Mais do que os números, o que chama atenção é a constatação de que amigos, colegas de trabalho, de faculdade e até familiares delatavam seus pares. As razões para colaborar eram diversas - iam desde a fidelidade na ideologia comunista à coação e à ameaça, passando pelo oferecimento de privilégios, como promoções e permissões para viajar, ou mesmo o bom e velho pagamento em dinheiro, na melhor tradição capitalista.

Muitos cidadãos só descobriram que eram espionados depois da queda do Muro, consultando os arquivos que restaram. A deputada federal Vera Lengsfeld descobriu que a polícia sabia até que marca de sabonete ela usava. Informações repassadas por 49 informantes que a monitoravam - entre eles o próprio marido dela, pai de seus dois filhos. Vera acabou encarcerada na prisão de Hohenschönhausen, hoje transformada em museu. História parecida com a do ator Ulrich Muehe, protagonista do filme A Vida dos Outros, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2007, que ilustra as páginas desta reportagem. Muehe, morto há três anos de câncer no estômago, também descobriu que sua ex-mulher havia repassado informações sobre ele durante os 6 anos de seu casamento.

2. O quebra-cabeças de 600 milhões de peças

A maior parte das informações que se tem sobre a Stasi vem da própria instituição. Como era uma organização muito burocrática, produzia relatórios em série sobre as observações de milhares de informantes alemães e estrangeiros. Se toda a documentação produzida pela polícia secreta fosse enfileirada, alcançaria facilmente a distância de 110 quilômetros.

A Stasi bem que tentou se livrar de parte dessa montanha de papel dias antes da queda do Muro. Nas cidades menores, documentos começaram a ser queimados. Nas cidades maiores, para não chamar atenção, os agentes optaram por picotar freneticamente pilhas e pilhas de papéis. O material rasgado foi armazenado em 17 200 sacolas, que seriam descartadas. Mas acabou sendo descoberto quando os quartéis da Stasi foram invadidos pela população. Os arquivos destruídos representam apenas 5% do total de documentação produzido pela polícia secreta durante sua existência. Apenas esses pedaços de papel se constituem num quebra-cabeças de mais de 600 milhões de peças - os fragmentos de documentos produzidos durante 4 décadas. Entre eles, há cartas feitas de papéis de diferentes texturas, fotografias, folhas de carbono, recortes de jornal.

Dois funcionários gastaram 8 meses para organizar os papéis de apenas uma das 17 200 sacolas. O trabalho foi recompensado com o levantamento de provas de que a Alemanha Oriental abrigou terroristas, financiou programas de doping e praticou espionagem industrial contra os vizinhos europeus, além de revelar o nome de vários informantes - entre religiosos, intelectuais e altos funcionários da Alemanha Ocidental.

Hoje, para trazer à luz os tempos escuros da polícia secreta, os alemães empreendem um gigantesco esforço para remontar os papéis cortados. Não restam dúvidas de que o material merece ser examinado. O grande desafio é como fazê-lo de forma produtiva e rápida. No ritmo de uma sacola anual por funcionário, estimava-se que seriam necessários 700 anos para concluir a missão.

Desde 2006, um supercomputador, ainda em teste, tenta reunir os fragmentos com as mesmas características - como tipo de papel, cor e padrão de escrita - para facilitar a montagem do quebra-cabeças. Para colocar o sistema em funcionamento em larga escala, serão necessários US$ 30 milhões.

3. Catálogo de cheiros

No museu da Stasi Runde Ecke, em Leipzig, ficam em exposição fileiras de potes de vidro contendo flanelas amarelas. São parte de uma coleção de milhares de amostras de cheiro coletadas pelos agentes da Stasi para identificar e rastrear suspeitos de agir contra os interesses do governo. "Era uma forma primitiva de conseguir provas científicas contra supostos infratores, numa época em que o exame de DNA não estava disponível", diz Jonathan Zatlin, professor de História Moderna da Alemanha na Universidade de Boston.

Se encontrassem panfletos jogados no chão, pincéis usados para afixar cartazes ou latas de spray de pichação, os agentes depositavam flanelas sobre esses objetos para obter as amostras de cheiro. O pano era guardado dentro de um pote de vidro. Quando a Stasi encontrava algum suspeito de ser o responsável pela ação, procurava, secretamente, obter uma amostra de cheiro para comparar com a recolhida anteriormente. Uma das táticas era chamar o suspeito para uma conversa na delegacia. Ao sentar-se na cadeira, a pessoa impregnava, sem saber, uma flanela escondida no assento. Cães eram usados para farejar as duas amostras e dar sinal caso elas coincidissem. "Em 1988, a Stasi mantinha 26 cães treinados para farejar e rastrear pessoas e outros 15 para diferenciar amostras de cheiro", diz a pesquisadora Kristie Macrakis.

Outra técnica desenvolvida pelos cientistas a serviço da Stasi foram perfumes feitos com substâncias como almíscar e hormônios de plantas para facilitar o monitoramento de dissidentes. A essência era aplicada nos pneus do carro da pessoa a ser seguida. Assim, cães podiam rastrear carros e sujeitos facilmente - a distância ou no meio de uma multidão.

4. Radiação para seguir suspeitos

Logo depois da queda do Muro de Berlim, correu na Alemanha a lenda de que os agentes oficiais usavam radiação para marcar e monitorar suspeitos. Com a abertura dos arquivos confidenciais da Stasi, essa aparente lenda urbana foi revelada como verdadeira. Até 1989, mais de 1 000 pessoas foram vigiadas dessa forma. A radiação era borrifada, com um spray, sobre o cidadão suspeito de ser um dissidente, ou pelo uso de alfinetes impregnados de radiação, escondidos em casacos e maletas. Com isso, o suspeito seria identificado por aparelhos que contam o nível de raios gama. Em vez de apitar, os aparelhos vibravam sempre que o suspeito irradiado se aproximava. Um dos átomos instáveis mais usados era o scandio 46, que permanece ativo por mais de 80 dias.

Para monitorar carros, usavam-se balas de chumbo impregnadas com prata radioativa. As balas eram disparadas contra o pneu do veículo a uma distância de 25 metros. A partir daí, era possível seguir o carro a centenas de metros, mesmo no tráfego de Berlim. O césio 137 marcava carros suspeitos de atravessar a fronteira entre as duas Alemanhas. "Por ser muito penetrante, o césio é mais perceptível aos contadores de radiação, mesmo que o alvo esteja protegido por paredes de concreto", diz Kristie Macrakis, historiadora da Universidade Estadual de Michigan, nos EUA.

Essas ferramentas foram criadas pelo programa Cloud, liderado pelo físico nuclear Franz Leuteriz nos laboratórios técnicos da Stasi. Na década de 1970, 100 operações com radiação eram realizadas por ano pela Stasi, afirma o físico Klaus Becker no estudo Uso ilegal de fontes de radiação pelo governo. Suspeita-se que a prática esteja ligada à morte, por câncer, de dissidentes que haviam sido espionados quando o muro estava em pé.


5. A polícia da paranoia

A abertura dos arquivos da Stasi frequentemente provoca surpresas. Não por trazerem à luz fatos inesperados de biografias, mas por revelarem a mesquinhez de algumas ações da Stasi. Diversas tinham como único objetivo intimidar e desacreditar pessoas disseminando a paranoia.

Uma das vítimas foi o escritor, psicólogo e ativista Jürgen Fuchs. Foi o que revelou um documento de setembro de 1982, narrando o que vinha sendo feito para colocá-lo sob pressão. Fuchs recebia chamadas anônimas durante a madrugada; táxis e ambulâncias apareciam em seu apartamento durante o dia ou à noite, reuniões e serviços comerciais eram marcados em seu nome sem que ele soubesse. Depois de ler seus arquivos, a também ativista Ulrike Poppe descobriu que agentes haviam sido escalados para missões como roubar o carrinho de bebê da filha dele ou esvaziar os pneus de sua bicicleta. "Após banir o uso de violência física, mais comum nos anos 50, a Stasi usou essa tática contra os investigados, tanto para desacreditá-los aos olhos de seus amigos e colegas, quanto para fazê-los duvidar de sua própria sanidade", afirma o historiador Konrad Jarausch, professor da Universidade da Carolina do Norte, nos EUA.

Outras técnicas para instaurar o estado de paranoia consistiam em invadir a casa do dissidente trocando objetos de lugar, segui-lo ou plantar mentiras entre seu círculo de amigos. "Vazava-se a informação de que a pessoa recebia privilégios do governo, ou que teria delatado um amigo ou que traía seu cônjuge. Destruíam-se relacionamentos até a vítima ficar isolada", diz o historiador Zatlin. Era uma forma de neutralizar os colaboradores do Ocidente. "Tendo de suportar tanta pressão, alguns sofriam de pânico e colapsos nervosos", diz Zatlin.  

6. Quase tudo era crime

O código criminal da Alemanha Oriental afirmava, em sua introdução, que o objetivo do conjunto de leis era "salvaguardar a dignidade humana, sua liberdade e direitos". Pura ironia. Muitos dos crimes atribuídos a cidadãos da RDA, característicos de regimes totalitários, iam contra esses princípios. Os chamados "crimes de traição" são um bom exemplo disso, já que serviram de amparo legal para prisões de segurança máxima ou de trabalho forçado por infrações como pedir vistos de saída do país ou consultar um consulado ocidental sobre os procedimentos para imigração.

Existem vários exemplos da arbitrariedade da Justiça na interpretação do que era ou não crime. Um rapaz foi apresentado às autoridades por agentes da Stasi após afirmar que as fortificações na fronteira entre as duas Alemanhas eram "um absurdo". No tribunal, ele admitiu assistir a programas ocidentais na TV e falar sobre eles com amigos. Foi condenado por "propaganda hostil" a um ano e meio de trabalho forçado.

Por ter pendurado um cartaz na janela do apartamento em protesto depois que o governo negou seu visto de saída, um jovem foi sentenciado com um ano e dez meses na penitenciária por "interferência nas atividades do Estado". Uma carta escrita a um amigo ocidental pedindo assistência para emigrar legalmente e outra, com o mesmo conteúdo, enviada ao chefe de Estado da RDA, renderam a seu autor uma pena de 4 anos, por "estabelecimento de contatos ilegais e calúnia pública". Dava cadeia até mesmo frequentar a igreja (parasitismo social) e reclamar de problemas da cidade, como buracos de rua (incentivo ao negativismo social).


Reunião do Congresso Stasi.

Os documentos disponíveis até o momento mostram que 40 mil pessoas foram condenadas por crimes políticos durante a existência da Alemanha Oriental. Mas o Centro de Coleta de Evidência Documental, entidade que há anos reúne material sobre a repressão na Alemanha Oriental, acredita que esse número poderia chegar a 300 mil. Por trás das condenações estava a ação de colegas, vizinhos e amigos que trabalhavam como informantes.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

124 anos de República. E o que temos a comemorar?


Novamente as emissoras de televisão irão fazer as mesmas pesquisas perguntando ao brasileiro comum das grandes cidades se ele sabe o que está se comemorando neste feriado de 15 de novembro. E, mais um ano seguido, teremos milhares de pessoas sem saber o motivo deste feriado. Mas, se antes eu criticava, agora dou total razão a estas pessoas.

Por que temos que lembrar e comemorar esta data? O que tanto temos a festejar no 15 de novembro, feriado em comemoração à “Proclamação da República”?

Acredito que os atuais dias da nossa prematura República não são os mais promissores e muito menos os mais admirados pelos brasileiros. Escândalos de corrupção assolam todos os níveis políticos e todos os três poderes da República brasileira. Novos velhos políticos, que antes andaram pela direita, hoje caminham de braços dados com pseudo-comunistas da disfarçada esquerda. Velhos apoiadores da ditadura militar defendem a irrestrita democracia e total liberdade de expressão, enquanto os perseguidos pelo regime totalitário, que colocaram em risco a própria vida em prol da liberdade individual, de imprensa e política são os primeiros a colocar “a liberdade de expressão como o maior problema do Brasil”. Quanta ironia!

Mas esta “ironia” republicana se arrastou nos seus 124 anos de história. Na escola, com certeza você aprendeu que Marechal Deodoro acordou um belo dia e resolveu “dar liberdade ao povo”, proclamando a República. Mas ninguém lhe contou que o ocorrido não foi uma proclamação e sim um golpe de Estado. Deodoro, era amigo do Imperador, tanto que nem teve a coragem de entregar-lhe a carta de deposição, e confessou anos mais tarde que ter instalado o sistema republicano foi um grande erro. Mas o erro de Deodoro foi repetido por diversas vezes.

Se perguntarem qual a característica mais marcante desses anos de República, poderíamos responder acertadamente que foi o período com maior número de golpes e contragolpes da história do país. Nunca tantos Presidentes foram depostos por grupos políticos que não concordavam com sua linha de atuação. A marca de nossa história republicana foi a instabilidade, tanto política, quanto econômica. Começou com Deodoro, passou por Getúlio em 1930, outro golpe dele próprio em 1938 quando instaurou o Estado Novo, a sua deposição em 1945 e, por fim, o golpe militar em 1964 do qual ficamos 20 anos sob um regime ditatorial militar.

Aliás, está aí mais um ponto que aprendemos na escola: a de que a República implantada em 1889 nos trouxe liberdade e democracia. Pois, vale então recorrer à história novamente. Durante os quase 50 anos em que D. Pedro II esteve no poder, nenhum jornal foi censurado, nenhum jornalista foi preso ou torturado por escrever contra o governo e contra o Imperador. Ao assumir, uma das primeiras medidas de Deodoro foi estabelecer um órgão de censura aos veículos de comunicação, exercendo uma repressão ferrenha aos jornais e jornalistas que fossem contrários às medidas do governo. Floriano Peixoto, nosso 2º presidente utilizou de práticas nada ortodoxas para “colocar na linha” os opositores de sua forma de governar.

Esta repressão e censura seguiu por toda a história. Getúlio, que subiu no poder “nos braços do povo”, como gostava de dizer, foi o primeiro a decretar uma ditadura no país, fechar jornais, rádios, prender escritores, jornalistas, políticos e extirpar os partidos de oposição. E tudo se repetiu alguns anos mais tarde com o regime militar, onde sofremos o mais duro golpe à liberdade individual e ao direito de expressão. Foram os famosos “anos de chumbo”. O que mais me espanta é ver alguns dos maiores opositores da ditadura militar defendendo a criação de órgãos que regulamentam o trabalho da imprensa e colocando a liberdade de expressão como “problema” do Brasil. O que essas pessoas aprenderam com o passado? O que elas têm tanto a temer?

Realmente, quando olho para trás e vejo tudo o que foi feito nesses 124 anos, desde aquele 15 de novembro, quando Deodoro resolveu derrubar a Monarquia e mudar o regime do país, sou obrigado a refletir quanto tempo perdemos com a mesquinharia de governantes que estavam mais preocupados com a manutenção do seu poder político do que com os interesses do país.

Quantas oportunidades perdemos de nos transformar em um país de primeiro mundo, respeitado verdadeiramente no exterior, com uma população bem assistida pelo Estado, minimamente instruída e capaz de fazer esta mesma reflexão? Mas, o que mais me preocupa é pensar no futuro e questionar quantos anos e oportunidades teremos que perder para repensarmos o caminho que estamos trilhando.

Para efeito de comparação, há alguns outros números interessantes. Se considerarmos o valor per-capita, ou seja, quanto cada cidadão deveria pagar para manter o “luxo” de seus governantes, teremos os britânicos gastando cerca de US$ 1,21, enquanto os brasileiros dispondo nada menos de US$ 1,65. Vale ressaltar que o Reino Unido é composto por 60,6 milhões de pessoas e o Brasil por mais de 184 milhões, ou seja, três vezes mais contribuintes.

Aonde está o luxo que muita gente enxerga nos sistemas monárquicos? Onde está aquele rei que esbanja o dinheiro do povo, sem compromisso algum com as contas públicas? Com certeza está no sistema republicano presidencialista do Brasil.

A tal “res publica”


Por Abdon Marinho

Hoje, 15 de novembro, é feriado, comemora-se a proclamação da República, fato ocorrido há 124 anos. Em termos históricos, temos uma república, digamos, adolescente. Para a maioria da população, inclusive para aqueles que formaram um engarrafamento de 309, as 18 horas de ontem na cidade de São Paulo, seja apenas mais um feriadão, o último do ano, antes dos festejos natalinos e da virada do ano.

Em anos anteriores escrevi sobre isso. Hoje acordei mais reflexivo. Como diz o amigo Diogo, há motivo para comemorar um golpe? Não. Decerto que não. Não temos como mudar a história. Temos como refletir sobre ela. Qual o legado dos últimos 124 anos? O saldo é positivo, negativo, empatamos? O que tem sido a República brasileira ao longo dos anos?

O Brasil tem umas coisas engraçadas. Alguns historiadores sustentam por exemplo, que Deodoro da Fonsêca, era monarquista e que D. Pedro II, o imperador que sofreu o golpe (?) era republicano. A partir desta equação ilógica nasceu o modelo político que temos hoje, uma república presidencialista. Ela tem sido boa para o Brasil? Temos bons exemplos e motivos para nos orgulhar desde a sua proclamação aos dias de hoje? Ou para festejar?

Não vou aqui abrir esse debate, demandaria muitas linhas e já me disseram que lêem textos longos. Apenas suscito a reflexão. O que se propõe é o pensar sem amarras, a análise histórica sem preconceitos, sem os tabus que nos incutiram desde sempre. E124 anos é um espaço de tempo relativamente curto para se analisar, é possível estabelecer um olhar crítico sobre os acontecimentos. Desde o golpe da proclamação (?) em 1889. Basta dizer que já em 1891 tivemos o golpe da renúncia de Deodoro; em 1930 o golpe de Vargas, em 1945 a redemocratização; em 1964 o golpe militar, em 1969 o golpe dentro do golpe; em 1985 a nova república. Só para citar os principais e emblemáticos acontecimentos. Em meio a tudo isso os momentos estanques de uma democracia vacilante.

Hoje, olho o quadro político nacional e não posso conter a insatisfação. O que temos? Uma nação sem qualquer projeto de futuro onde as eleições e não o interesse público é que dão as cartas. Em torno do interesse eleitoral deste ou daquele aliado se acha lícito sangrar os cofres públicos. Cadê o zelo pela “coisa pública”, pela “res publica”. Querem só um exemplo? a máfia dos fiscais de São Paulo, fazem tudo para que o tal escândalo não chegue ao gestor anterior, aliado de primeira hora dos donos do poder. Basta dizer que a própria presidente da nação foi a sede do partido para receber o apoio do indigitado. Movem céus e terras para estancar o estrago. Os malfeitores do atual governo não podem nem dizer que herdaram o armário da propina do governo anterior. Sobre os mensageiros falarei noutro post.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Antes de Hollywood, a URSS

A atuação russa foi a mais decisiva para a derrota da Alemanha nazista durante a Segunda Guerra. O papel dos americanos foi sobrevalorizado posteriormente, com a Guerra Fria e o fim do regime comunista.


Infantaria soviética em posição de defesa: resistência feroz aos nazistas definiu, mais do que qualquer outro fator, os rumos do conflito.

Decorridos quase 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) não resta mais dúvida entre os historiadores sobre qual das potências participantes do conflito deu a maior e mais importante contribuição para a derrota da Alemanha nazista: a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Das 783 divisões de diversos tipos (infantaria, blindada, paraquedista, etc.) que a Alemanha e os países que com ela se aliaram foram capazes de mobilizar, nada menos de 607 (77,5%) foram destruídas pelos soviéticos. Os demais países participantes da coalizão que venceu a guerra (os “Aliados”) foram responsáveis pela destruição das outras 176 divisões (22,5%).

Esses fatos contrastam com a percepção que a maioria das pessoas, mesmo as bem informadas e que mantêm interesse permanente pela história, tem daquele conflito. Para um grande número de membros da audiência dos filmes rodados em Hollywood desde o fim da Segunda Guerra Mundial, foram os Estados Unidos da América (EUA) que mais contribuíram para a der-rota do nazismo. Para essas pessoas, o desembarque na Normandia teria decidido a guerra e promovido o início da libertação da Europa do nazismo. No limite, teriam sido os norte-americanos a matar o próprio Adolf Hitler. No início do século XXI pode-se afirmar que a memória da contribuição ocidental – em especial dos EUA – à vitória na luta contra o nazi-fascismo ofuscou as lembranças afetas à decisiva participação dos soviéticos.

Uma avaliação objetiva da contribuição dos aliados ocidentais (EUA, Grã-Bretanha, etc.) para a derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial pode ser feita a partir de diferentes indicadores. No que diz respeito à produção de armas veículos e munições – fundamental para a vitória numa prolongada guerra entre coalizões de países na era industrial –, não pode haver dúvida sobre a importância central dos EUA. Sendo a maior potência industrial do planeta, somente os Estados Unidos poderiam ter alcançado a capacidade de fabricar um navio por dia e um avião a cada cinco minutos, como de fato o fizeram durante quase toda a guerra, abastecendo suas forças e as dos países aliados. A própria URSS recebeu alimentos, matérias-primas, fábricas inteiras, tanques, barcos e aviões dos Aliados. As estimativas sobre a participação dessas doações na composição do total dos efetivos soviéticos variam entre 10 e 15%.

Embora o volume de produção industrial dos EUA fosse superior ao de qualquer outra nação, os demais países aliados também deram contribuições expressivas. No crítico ano de 1942, os Aliados produziram 101.519 aviões, dos quais 47.836 norte-americanos (47,12%), 25.436 soviéticos (25,05%), 23.672 (23,31%) britânicos e 4.575 (4,5%) fornecidos pelos países da Comunidade Britânica. A Alemanha nazista, em contrapartida, produziu apenas 15.409 aparelhos naquele ano. Via de regra, dali por diante, em se tratando das principais armas empregadas naquele conflito (tanques, canhões autopropulsados, artilharia, etc.), a produção alemã seria equivalente apenas à metade do que produziam os soviéticos.

O ano 1943 é considerado como o mais decisivo para o desfecho da guerra, por conta das decisivas batalhas que foram travadas na frente russa: a rendição final das tropas alemãs cercadas em Stalingrado (2 de fevereiro) e a Batalha de Kursk, o maior combate de tanques da história (4 a 22 de julho). A essas batalhas tidas como definidoras, sob todos aspectos, devem-se acrescentar as importantes operações militares desenvolvidas pelos russos que culminaram na libertação da maior parte do território da URSS, o fim do prolongado cerco de Leningrado pelos nazistas (de 8 de setembro de 1941 a 27 de janeiro de 1944) e a destruição de tropas alemãs em escala maciça. Foi também em 1943 que americanos, com apoio dos britânicos, invadiram a Europa ocupada pelos nazistas pela primeira vez, com o início da campanha da Itália.

Ainda assim era na frente russa que a Alemanha nazista mantinha a grande maioria dos seus efetivos todo o tempo. Em 1943, havia pouco mais de 4 milhões de militares alemães e 283 mil soldados de países aliados da Alemanha combatendo 5,5 milhões de militares soviéticos. Na mesma época, havia outros 3 milhões de soldados alemães em tropas de ocupação na Europa, onde havia diferentes graus de resistência armada ao domínio nazista. A outra frente de combate aberta contra a Alemanha nazista foi a invasão anglo-americana da Itália. A península italiana apresentava características geográficas e climáticas que muito dificultavam o avanço aliado. Ali, os alemães foram capazes de oferecer uma resistência extremamente eficaz ao avanço inimigo, destinando à defesa da região àquela época apenas 412 mil soldados.

Tão pequena foi a contribuição da campanha italiana à derrota nazista que até mesmo os historiadores anglo-britânicos se recusam a se referir a esse teatro de operações como sendo a abertura de uma “segunda frente”. Para os fins práticos, a tão aguardada abertura de uma segunda frente de luta contra o nazismo foi mesmo o desembarque aliado na Normandia, em 6 de junho de 1944. Mas, mesmo os Aliados tendo desembarcado forças consideráveis na França ocupada pelos nazistas, o front principal continuava a ser o russo. Na França, os Aliados enfrentavam cerca de 58 divisões alemãs de diversos tipos, enquanto que os russos se confrontavam com 179 divisões alemãs e outras 49 de países aliados dela.

A tão propalada campanha aérea de bombardeios anglo-americanos contra o Terceiro Reich deu resultados muito menores do que os estimados na época. Embora tenham conseguido infligir considerável sofrimento humano à população alemã (600 mil civis alemães foram mortos em ataques aéreos dos Aliados, ou seja, dez vezes o número de cidadãos britânicos mortos em bombardeios aéreos alemães), o regime nazista conseguiu manter e até ampliar sua produção de material bélico. De fato, o auge da produção alemã de tanques e aviões, por exemplo, se dá em 1944 – justamente quando a campanha de bombardeios atingia o seu ápice em intensidade e eficácia. Onde os bombardeios ditos “estratégicos” que britânicos e americanos praticavam contra a Alemanha nazista deu algum resultado foi na in-versão de prioridades da indústria de armamentos alemã. Na fase final da guerra, nada menos de um terço da produção armamentista do Terceiro Reich era composta de armas e aeronaves dedicadas à defesa antiaérea (aviões de caça, canhões antiaéreos), em vez de armas ofensivas (tanques, aviões de bombardeio, etc) que permitissem à Alemanha retomar a iniciativa contra seus inimigos.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

A história da única experiência de administração comunista do Brasil: Natal, no Rio Grande do Norte, foi governada por revolucionários, na única experiência de administração soviética no Brasil.


Ilustração Sergio Bergocce

Durante quatro dias, o Brasil viveu a experiência de um governo comunista. Foi em 1935, em Natal, no Rio Grande do Norte. Após um levante militar ocorrido no Batalhão do Exército, a capital potiguar caiu nas mãos dos rebeldes, que destituíram os governantes locais dos seus cargos - incluindo o governador do estado e a Assembleia - e assumiram o poder com apoio do Partido Comunista Brasileiro (PCB), liderado por Luís Carlos Prestes. Sob o lema "pão, terra e liberdade", os revolucionários almejavam dar o pontapé inicial para a instalação de um regime soviético no Brasil.

O levante começou na manhã de 23 de novembro, um sábado. O dia em Natal, que contava com cerca de 40 mil habitantes, começou calmo e prometia poucas novidades. A principal notícia era a formatura de um grupo de contabilistas do Colégio Santo Antônio no Teatro Carlos Gomes, à noite, que contaria com a presença do governador Rafael Fernandes.

No quartel militar do 21º Batalhão de Caçadores (21º BC) o dia também corria tranquilo até que chegou a informação de que o general Manuel Rabello, comandante da 7ª Região Militar, no Recife, havia autorizado o licenciamento de alguns cabos, soldados e tenentes que estavam com tempo vencido na carreira militar e a expulsão de outros, acusados de envolvimento em incidentes de rua ocorridos dias antes em Natal, incluindo assaltos a bondes.

O documento com a ordem de expulsão precipitou um movimento que estava sendo articulado havia vários dias entre lideranças militares e sindicatos locais junto com membros do PCB estadual. O objetivo era apoiar a revolução nacional que estava sendo preparada pela Aliança Nacional Libertadora (ANL), no Rio.

"Havia uma preparação para o levante sob a direção do Partido Comunista, que atuava no 21º Batalhão de Caçadores e em vários sindicatos locais. Eles apenas aguardavam as orientações do comitê central", afirma Homero de Oliveira Costa, professor de ciências políticas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e estudioso da insurreição de Natal. Somando-se a isso, Costa lembra que a cidade já vivia momentos de tensão política desde o ano anterior. "O Rio Grande do Norte teve uma das mais tumultuadas eleições do país, com diversos conflitos de ruas, assassinatos, prisões e repressão. Isso criou uma situação muito tensa no Estado, e em Natal em particular", diz.

Os acontecimentos daquele sábado se precipitaram de tal maneira que não houve tempo nem de avisar a ANL, cujos líderes (incluindo Prestes) aguardavam o melhor momento para eclodir a revolução em nível nacional. Em função das expulsões ordenadas pelo comando militar no Recife, o PCB estadual e os integrantes do Batalhão decidiram dar início ao motim naquele mesmo dia.


Por volta das 19h30, um grupo de militares rebeldes, liderados pelo sargento Quintino Clementino de Barros, rendeu os oficiais de plantão do quartel e, com fuzis apontados para a cabeça dos soldados, ordenaram: "Os senhores estão presos em nome do capitão Luís Carlos Prestes". Não houve resistência e, a partir daí, os revolucionários, liderados por Quintino e apoiados por grupos civis organizados (como o sindicato dos estivadores, que era muito forte na cidade), tomaram o quartel e ocuparam locais estratégicos: o palácio do governo, a Vila Cincinato - residência oficial do governador -, a central elétrica, a estação ferroviária e as centrais telefônica e telegráfica.

Informado sobre a confusão e a organização dos amotinados ainda na cerimônia dos contabilistas, o governador e demais autoridades civis e militares fugiram e se esconderam na casa de aliados, inclusive na do cônsul da Itália no Rio Grande do Norte. No quartel da Força Pública, cuja sede ficava próxima ao batalhão rebelado, ensaiouse uma resistência legalista com policiais fiéis ao governo, vencida pelos militares rebeldes, no momento mais organizados e bem-armados.

Na manhã seguinte, Natal estava completamente dominada. Na residência do governador, sede dos rebelados, formou-se uma junta provisória de governo, autodenominada Comitê Popular Revolucionário, que era formada pelo sapateiro José Praxedes (secretário de Abastecimento); sargento Quintino Barros (Defesa); Lauro Lago (Interior e Justiça); estudante João Galvão (Viação); e José Macedo (Finanças), este último funcionário dos Correios e Telégrafos.

Em seguida, o Comitê Revolucionário começou a tomar medidas práticas. A primeira foi um decreto com a destituição do governador do cargo e a dissolução da Assembleia Legislativa "por não consultar mais os interesses do povo". As tarifas de bondes foram extintas e o transporte coletivo tornou-se gratuito. Na segunda-feira, o comércio e os bancos não abriram. À tarde, foi ordenado o saque dos cofres da agência do Banco do Brasil e Recebedoria de Rendas. O dinheiro foi confiscado em nome do governo revolucionário e parte dele distribuído à população, que adorou a novidade, mesmo sem ter muita noção do que estava acontecendo.


Pura farra

"A população confraternizava com os rebeldes. Era mais uma festa popular ou um carnaval exaltado, do que uma revolução", explica o historiador Hélio Silva em seu livro 1935 ¿ A Revolta Vermelha. "Casas comerciais foram despojadas de víveres, roupas e utensílios domésticos que aquela gente não podia comprar. Houve populares que, pela primeira vez, comeram presunto", de acordo com o historiador.

Um dos líderes do movimento, João Galvão, relatou posteriormente o que aconteceu naqueles dias: "O povo de Natal topou a revolução de pura farra. Saquearam o depósito de material do 21º BC e todos passaram a andar fantasiados de soldado. Minha primeira providência como 'ministro' foi decretar que o transporte coletivo seria gratuito. O povo se esbaldou de andar de bonde sem pagar".


Para se comunicar com a população, um avião foi confiscado no aeroporto e sobrevoou a cidade despejando milhares de folhetos. No curto período em que se mantiveram no poder, os revolucionários também distribuíram o primeiro ¿ e único ¿ número do jornal A Liberdade, impresso nas oficinas da Imprensa Oficial do Estado. Nele, foi publicado o expediente do novo governo e um manifesto, inspirado no programa do PCB e sob o lema "todo poder à ANL".


Cada um por si

Segundo o professor Homero Costa, o pouco tempo em que permaneceram no poder impediu que os revolucionários tomassem outras medidas práticas. "Houve boatos de que na Vila Cincinato estavam distribuindo alimentos à população, o que levou muita gente a se deslocar para lá, mas não era verdade", diz Costa.

Mesmo assim, algumas medidas típicas de regimes de exceção foram tomadas naquele começo de semana, como salvo-condutos para circulação nas ruas e ordens para que o comércio e os bancos funcionassem normalmente, o que, claro, não aconteceu. "Os comerciantes foram orientados a negociar como de costume, sem estocarem alimentos para elevar os preços. Caso isso ocorresse, os estoques seriam confiscados pelo governo", diz Elias Feitosa, professor de história do Brasil do Cursinho da Poli, lembrando que alguns gêneros alimentícios, como o pão, também tiveram o preço reduzido.

O levante não ficou restrito a Natal. Houve uma interiorização do movimento no Rio Grande do Norte rumo a Mossoró e à divisa com a Paraíba. "Foram formadas três 'colunas guerrilheiras' que ocuparam 17 dos 41 municípios do estado, destituindo prefeitos e nomeando outros", diz Homero Costa. Pequenas localidades, como São José de Mipibu, Ceará Mirim e Baixa Verde foram ocupadas sem resistência e os prefeitos substituídos por simpatizantes da ANL. Agências bancárias e do governo (as coletorias de renda) foram saqueadas e o dinheiro enviado para a capital. Na terça-feira, a intentona potiguar começou a revelar sua fragilidade com a movimentação de tropas do Exército da Paraíba e de Pernambuco rumo a Natal para debelar o movimento e restabelecer a ordem.

Em uma localidade chamada Serra do Doutor, um dos grupos da ANL foi preso por tropas leais a Getúlio Vargas. Informados de que tropas federais entrariam em Natal e com a possibilidade de bombardeamento aéreo, os líderes do "governo revolucionário" fugiram na base do cada um por si. Um deles, Praxedes, viveu foragido durante anos. Os demais foram capturados e enviados para o Rio de Janeiro com outros presos políticos, como o escritor Graciliano Ramos.

O mesmo aconteceu nas cidades do interior. Com a fuga, os militares enviados pelo governo federal não tiveram dificuldades de controlar a situação. O governador Rafael Fernandes foi reconduzido ao cargo e, a partir de quarta-feira, dia 27 de novembro, a vida voltou ao normal na cidade que, durante cerca de 90 horas, abrigou, como escreveu Hélio Silva, "o primeiro, único e fugaz governo soviete na história do Brasil."


No mesmo dia em que o "governo comunista" era encerrado no Rio Grande do Norte, o movimento tenentista deflagrava, no Rio de Janeiro, uma insurreição para derrubar o presidente Getúlio Vargas e instaurar um regime comunista no Brasil. Liderado por Luís Carlos Prestes, o levante ficou conhecido como Intentona Comunista, ou Revolta Vermelha. Os amotinados se rebelaram em vários regimentos e batalhões do Rio, mas foram rapidamente sufocados pelas forças de segurança nacional.

A insurreição estava sendo preparada desde o ano anterior. No final de 1934, Prestes, que estava na União Soviética havia três anos, retornou ao Brasil para organizar a revolução comunista. Acompanhado de sua mulher, Olga Benário, militante do partido comunista alemão, eles desembarcaram clandestinamente com os nomes falsos de Antônio Villar e Maria Villar. Além do casal, vieram outros estrangeiros para ajudar na revolução. Entre eles, o argentino Rodrigo Ghioldi e sua mulher, Carmen; o casal alemão Elisa Sabarowski e Arthur Ewert; os belgas Lion Valle e sua mulher, Alphonsine; o alemão Franz Gruber e o norte-americano Victor Allen Baron.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

A origem da internet: A história da rede de computadores criada na Guerra Fria que deu início à Terceira Revolução Industrial.



Equipe da empresa BBN Technologies que desenvolveu o servidor IMP, o que viabilizou o funcionamento da Arpanetpor.

A internet revolucionou o funcionamento tradicional das sociedades modernas como o fizeram, há seu tempo, a imprensa, a máquina a vapor, a eletricidade ou a telegrafia sem fio (rádio). Hoje parece normal fazer cursos on-line, preencher formulários administrativos a distância ou expressar opiniões em fóruns de discussão. Segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada em 2009 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 67,9 milhões de brasileiros estavam conectados à internet ou seja, o número de domicílios com acesso à internet no Brasil cresceu 71% entre 2005 e 2009. No entanto, poucos conhecem sua história e as razões de sua criação.

De acordo com o dicionário Houaiss, internet é “rede de computadores dispersos por todo o planeta que trocam dados e mensagens utilizando um protocolo comum”. Ela nasceu no final dos anos 1960, em plena Guerra Fria, graças à iniciativa do Departamento de Defesa americano, que queria dispor de um conjunto de comunicação militar entre seus diferentes centros. Uma rede que fosse capaz de resistir a uma destruição parcial, provocada, por exemplo, por um ataque nuclear.

Para isso, o pesquisador Paul Baran concebeu um conjunto que teria como base um sistema descentralizado. Esse cientista é considerado um dos principais pioneiros da internet. Ele pensou em uma rede tecida como uma teia de aranha (web, em inglês), na qual os dados se movessem buscando a melhor trajetória possível, podendo “esperar” caso as vias estivessem obstruídas. Essa nova tecnologia, sobre a qual também se debruçaram outros grupos de pesquisadores americanos, foi batizada de packet switching, “troca de pacotes”.

Em 1969, a rede ARPAnet já estava operacional. Ela foi o fruto de pesquisas realizadas pela Advanced Research Project Agency (ARPA), um órgão ligado ao Departamento de Defesa americano. A ARPA foi criada pelo presidente Eisenhower em 1957, depois do lançamento do primeiro satélite Sputnik pelos soviéticos, para realizar projetos que garantissem aos Estados Unidos a superioridade científica e técnica sobre seus rivais do leste.

A ARPAnet a princípio conectaria as universidades de Stanford, Los Angeles, Santa Barbara e de Utah. Paralelamente, em 1971, o engenheiro americano Ray Tomlinson criou o correio eletrônico. No ano seguinte, Lawrence G. Roberts desenvolveu um aplicativo que permitia a utilização ordenada dos e-mails. As mensagens eletrônicas se tornaram o instrumento mais utilizado da rede. A ARPAnet seguiu sua expansão durante os anos 1970 – a parte de comunicação militar da rede foi isolada e passou a se chamar MILnet.


O engenheiro da computação Leonard Kleinrock posa junto ao Arpanet Outras redes, conectando institutos de pesquisas, foram criadas nos Estados Unidos, Grã-Bretanha e França.

Faltava estabelecer uma linguagem comum a todas. Isso foi feito com o protocolo TCP/IP, inventado por Robert Kahnet e Vint Cerf em 1974. A ARPAnet adotou essa padronização em 1976. E assim começou a aventura da web com seu primeiro milhar de computadores conectados. O afluxo de usuários engendrou um fenômeno de sobrecarga. Em 1986, uma nova rede foi lançada pela National Science Foundation. A ARPAnet se juntou a ela quatro anos mais tarde.

Uma etapa decisiva foi superada em 1990 com a criação, por um pesquisador do Conselho Europeu para a Pesquisa Nuclear em Genebra (Cern), Tim Berners-Lee, do protocolo HTTP (Hyper Text Transfer Protocol) e da linguagem HTML (Hyper Text Markup Language), que permitem navegar de um site a outro, ou de uma página a outra. A World Wide Web (www) lançou seu voo, e a internet se abriu ao público, empresas particulares e privadas. Uma multidão de sites apareceu.

Com uma infraestrutura de comunicação teoricamente desprovida de autoridade central, a internet, todavia, seria gerida de um contrato com o governo americano, que havia financiado sua criação, e diversos órgãos que assegurariam seu crescimento. Foi o caso da Internet Assigned Numbers Authority (IANA), responsável pela gestão dos nomes dos domínios, o DNS (Domain Name System). Graças a ele, os endereços IP, constituídos de uma série de códigos (o endereço numérico atribuído a cada computador conectado à rede) são traduzidos em letras que compõem nomes identificáveis e memorizáveis.

Apesar de gerido pela IANA, o DNS sempre esteve sob controle do Departamento de Comércio dos Estados Unidos. Em 1998, sua gestão foi confiada a uma organização californiana de direito privado, a Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (Icann). Em 2009, os contratos que ligavam a Icann ao Departamento de Comércio americano expiraram, e a empresa passou a ter mais autonomia. Sua missão é assegurar, dos Estados Unidos, a coordenação técnica do sistema de denominação. Deve promover também a concorrência e garantir a representação global das comunidades na internet. Os interessados em política mundial da rede podem participar de seus trabalhos, por meio de fóruns acessíveis em seu site na web.

Esse controle técnico e administrativo da internet nos Estados Unidos causa, porém, tensões internacionais. Desde 2003, a Organização das Nações Unidas (ONU) reclama uma gestão “multilateral, transparente e democrática, com a plena participação dos Estados, do setor privado, da sociedade civil e das organizações internacionais”. Em 2006, em decorrência de tal demanda, foi instituída uma estrutura de cooperação internacional, o Internet Governance Forum (IGF). Mas essa instância tem apenas papel consultivo. Ela deve, também, velar pela liberdade de difusão das inovações tecnológicas e ideias. Uma questão essencial, pois a internet se baseia no princípio de neutralidade, que exclui qualquer discriminação da fonte, destinatário ou conteúdo transmitido na rede.


Há três anos, a China criou uma "sub-rede", diretamente controlada pelo governo: ações como essa contrariam a ideia de uma internet livre para todos Já existem mais de 2 bilhões de internautas no mundo, ou seja, um terço da população planetária.

Os progressos da informática, associados aos do audiovisual e das telecomunicações, permitiram a criação de novos serviços. Depois do desenvolvimento de redes de banda larga com fio (ADSL e fibra óptica) e sem fio (wifi, Bluethooth e 3G), e da internet móvel (WAP), desenvolveram-se outras tecnologias e produtos da chamada “web 2.0”. Essa segunda geração se caracteriza por suas aplicações interativas (blogs, wikis, sites de compartilhamento de fotos e vídeos ou redes sociais), que renovaram a relação entre os usuários e os serviços de internet, criando o princípio de uma cultura compartilhada em rede.