INTRODUÇÃO
Para dar inicio ao meu relatório farei
primeiramente uma pequena exposição sobre a ciência que estuda os sambaquis: a
Arqueologia é a ciência que procura entender os monumentos e vestígios de
civilizações antigas e é uma ciência relativamente nova. Na segunda metade do
século XIX, o campo e a prática dessa disciplina se firmaram e definiram suas
bases. A arqueologia tem várias vertentes, cada uma voltada para uma área, com
a arqueologia dos monumentos e obras de arte. A linha de seguimento
arqueológico que nos interessa nesse relatório e a arqueologia pré-histórica
cujas raízes remontam o século XVI, e foram fortalecidos no século XVII, com a
multiplicação de achados associáveis a tempos remotos da história humanidade.
No século XIX deu-se a cristalização da disciplina, com a formulação de
princípios metodológicos.
O presente relatório tem por
objetivo apresentar as pesquisas e estudos presentes sobre os Sambaquis do Litoral brasileiro. Suas origens e motivos de existência,
quem os construíram e o mais importante o porquê os construíram e desse modo
traçar um padrão das descobertas referentes aos mesmos. Por ser um tema muito
importante para a arqueologia brasileira. Pois os sambaquis são praticamente
encontrados em todo o litoral de nossa nação. Embora o que realmente importa é
sabermos realmente o que é um Sambaqui e o porquê de sua construção.
Compreendidos muitas vezes como
sobras da alimentação dos homens Pré-históricos, e passam ainda sendo vistos
como uma espécie de lixeira dos povos que ali próximos habitavam ou um acúmulo
de detritos nos quais predominam conchas e ostras, misturadas costumeiramente com
instrumentos de pedra e osso, esqueletos ou parte de esqueletos de animais e
humanos, provas de que nos dão a certeza de não estarem definitivamente
decifrados os significados plenos desses monumentos artificiais. Mais um dos mistérios a ser revelado pelos
estudos dos sambaquis é o fato de além de serem depósitos de restos alimentares
são também monumentos funerários, aonde encontramos ossadas humanas e até
sepulturas.
Por definição, sambaquis – também conhecidos
como casqueiros, concheiros, terraços, berbigueiros ou ostreiras – são grandes
montes artificiais compostos por restos faunísticos característicos da região
litorânea (mariscos, berbigões, conchas e ossos de aves e de pequenos
mamíferos) que, acumulados ao longo de milhares de anos, conformaram enormes
monumentos que serviram de acampamentos ou cemitérios, mas, sobretudo, como
marcos paisagísticos para os colonizadores do litoral brasileiro, anteriores
aos povos ceramistas dos quais descendem as comunidades indígenas atuais
(GASPAR, 2004).
Muito
trabalho tem sido feito por parte dos arqueólogos exigindo, dos políticos a
criarem leis que regulamentem a preservação dos sambaquis, pois os sambaquis do
Brasil podem atingir até uma idade de 10.000 A.P.
A escatologia pode
ser definida como um conjunto de representações
relativas ao destino post mortem do homem.
Tal conjunto faz parte
de uma herança cultural, de uma acervo da sociedade, e não pode portanto, como assinala Max Gluckman (1937:117) ser tido como uma reposta
individual à ideia de morte. (CUNHA,
1978, p.112).
Nós, povos da atualidade,
responsáveis por essas descobertas, deveríamos no mínimo respeitar a história
destes povos que foram ancestrais de muitos de nós. Mesmo não sendo os
monumentos mais velhos da Pré-história brasileira luta-se há muitos anos para
defender a integridade dos sambaquis como reserva para a pesquisa cientifica.
Este relatório será elaborado
tendo em vista os sambaquis do litoral brasileiro e em particular os sambaquis
do Sul do Brasil, e seu motivo de ser na história dos povos pré-históricos que
habitavam os litorais do Brasil. Escolhi esse tema por diversas vezes ver os
nativos das terras brasileiras serem considerados índios menos inteligentes ou
desenvolvidos que os demais grandes impérios da América como os Incas, Maias e
Astecas. Acredito que os Sambaquis possam ser o inicio de grandes descobertas
que serviram para uma análise mais critica sobre essa opinião acerca da distinção
cultura entre as tribos nativas do Brasil e os impérios da América
pré-colombiana. Dou, por exemplo, a recente descoberta da hierarquização dos
sambaquis pela altura. Quanto mais alto mais importante e respeitada era a
tribo. Além do fato que esses nativos persuadiam outros povos com menos poder a
deixarem seus restos materiais, alimentares em seu sambaqui, desse modo com
mais pessoas cooperando mais rápido e maior eles ficavam. Como disse esse é só
um pequeno nuance do que acredito que realmente tenha ocorrido pelo Brasil
Pré-colonial. Conhecemos apenas uma ínfima parte da grande história que é a
história dos nativos brasileiros.
Sambaqui Figueirinha I: Santa
Catariana, com cerca de 18 metros de altura. Fonte: Wikipédia.
Sambaqui Figueirinha II: Santa
Catarina, na praia de Nova Camboriú. Fonte: Wikipédia.
1.
ORIGENS DOS SAMBAQUIS.
Encontramos os sambaquis mais
antigos entre os Estados de Paraná e São Paulo. Onde alcançam uma idade de até
4.000 anos a.C. Seguindo em direção norte e em direção ao sul desse ponto, os
sambaquis são cada vez menos antigo, estimando que se os primeiros sambaquis
surgidos em Torres tenham sido construídos mais ou menos a uns dois mil anos
a.C.
Quem foram seus fundadores e como
essa adaptação ao litoral aconteceu ainda está por ser descoberta. Definimos os
sambaquis como o acúmulo de conchas, ossos de peixes e outros resíduos de
atividade humana, como resultado da ocupação do litoral marítimo por grupos especializados em sua exploração
para alimentação, resíduos
volumosos produzidos por população pré-histórica brasileira. Podendo chegar a
formar morros de 30 metros da altura, ao longo de lagoas, lagunas, mangues,
pântanos ou baías, onde os alimentos eram ricos, mas dificilmente são
encontrados ao longo de praias retilíneas, onde o conjunto de alimentos
calóricos é consideravelmente pouco.
Modelo
de estratificação das camadas de um sambaqui do litoral sul catarinense, no
Brasil: Fonte: Wikipédia.
Podemos
concluir que os homens que construíram os sambaquis, da região de Iguape, e
Cananéia, viveram nesses lugares, entre 2 a 10 mil anos; ignoravam a olaria, e
a agricultura, a domesticação de qualquer espécie, mesmo o cão, que os índios
atuais conhecem. Viviam principalmente da pesca e da coleta e eram pouco ativos
em relação à caça. Perante os estudos realizados nos sambaquis chegou-se a
conclusão que não produziam instrumentos de grande eficácia para arremesso,
como arcos e propulsores, devido a esse fator a caça terrestre era colocada em
segundo plano.
Artefatos
Líticos: 4. 1 a 4- Machados ou bifaces. 5 a 7- Afiadores. 8- Fragmento filito
com depressões circulares artificiais. Uso hipótetico. 9 e 10- Machados de
diabásio. Fonte: DUARTE, 1968. p. 24.
Os
sambaquis são monumentos artificiais construídos no decorrer do tempo por
tribos que habitavam a região em tempos pré-históricos e que permanecem como
seu legado a nossa civilização.
Artefatos
líticos e ósseos: 1- Berloque de osso. 2,3 e 4 - Furadores. 5- Goiva de osso de
mamífero. 6- Lâmina feita com osso de mamífero. 7 e 8- Agulhas com fundo. 9, 10
e 11- Pontas de osso. 12, 13 e 14 peças de osso sem perfuração. 15 e 17 -
Goivas de osso. 16- Berloque de chifre de cervídeo. 18- Peça de osso. 19- Peça
de osso com dimensão de 82 mm. 20- Peça longa feita com osso de Beleia, afiada
numa das extremidades. Fonte: DUARTE, 1968. p. 33.
A
grande maioria dos sambaquis está localizada no litoral e são feitos de conchas
marinhas, as praias eram uma das bases de aquisição de recursos alimentares do
litoral, devendo-se isto ao farto fornecimento de fauna mamífera marinha, tais
como cetáceos e penípedes, mesmo que seja raro encontrar vestígios em sítios da
tradição Tupi-guarani desta espécie. Fragmentos de ossos de mamíferos
calcinados foram encontrados nos sítios do Parque Nacional da Lagoa do Peixe.
Tanto é a antiguidade
dessas Ostreiras […] que a umidade pelo decurso dos tempos veio a dissolver as
conchas de algumas delas, […] petrificando-se pouco a pouco com o calor, formou
pedras tão sólidas […] Destas conchas dos mariscos que comeram os índios […] Na
maior parte delas ainda se conservam inteiras as conchas e n'algumas acham-se
machados (o dos índios eram de seixo muito rijo) pedaços de panelas quebradas,
e ossos de defuntos, pois que se algum índio morria ao tempo da pescaria,
servia de cemitério a Ostreira, na qual depositavam o cadáver e depois cobriam
de conchas (Memórias para a História da Capitania de São Vicente apud FERREIRA
et al., 2007, p.9).
Entretanto
são nos sambaquis marinhos que foram registradas significativas quantidades de
ossos de fauna marinha descartada. Mas há sambaquis no interior, á margem de
grandes e pequenos rios, cujas conchas provêm de moluscos fluviais e até
terrestres. Todas as pessoas medianamente cultas têm notícia do que, em linhas
gerais, seja um sambaqui. Os primeiros cronistas do século XV a XVIII tiveram
já a sua atenção chamada para esses depósitos, atribuindo-os ao índio aqui
encontrado. Não são poucas as referencias de Anchieta, Nobrega, Fernão Cardim,
Gabriel Soares, Madre de Deus, e outros, aos numerosos sambaquis do Cubatão, de
Itanhaem, alguns ao lado de São Paulo e, ainda hoje, o sítio chamado Casqueiro,
na estrada São Paulo-Santos, conserva esse nome por causa dos sambaquis
espalhados pelo Egá-guaçu, que é toda a baixada do Cubatão e Santos, área parte
do Paleoarquipélago de alguns milhares de anos entre o oceano e a Serra do Mar.
No próprio sambaqui pode haver grande diferença de idade, entre a última
camada, no cume, e a primeira, na base, essa diferença pode atingir um longo
período. Devido a isso, acontece, com frequência, que as camadas superiores
sejam inteiramente diversas das demais, pela cultura diferente e até tipos
humanos variados. A análise de todas essas descobertas, principalmente dos restos
dos índios, tem conduzido a muita especulação disparatada, inclusive a de
confundirem-se tais depósitos com a cultura do índio, quando o Homem do
Sambaqui é muito anterior ao aqui encontrado. Essa informação somente os
sambaquis dirão um dia se o índio do século XVI, do qual restam hoje muitos
poucos, são descendentes do Homem do Sambaqui ou um invasor.
Sambaqui
MAE-USP: acervo do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São
Paulo. Fotografia de Eliel Bragatti e Renata Martins Rocha. Fonte: Wikipédia.
O que temos por fato é que
numerosos sambaquis continuam a existir como necrópole de nativos e em suas
camadas superiores aparece, com frequência sepulturas dos selvagens atuais ou
extintos pelo colonizador, cujos ossos e instrumentos são dados etnológicos e
antropológicos ligados aos índios, de raça, cultura, cronologia, diferentes dos
achados nas camadas inferiores, estes, sim, correspondentes aos sambaquianos,
que pode ser colocado na categoria paleo-americana, em quase tudo diferente dos
outros nativos.
A verdade é que a atividade normal
dos sambaquis terminou bem antes da chegada dos colonizadores europeus aqui na
América. Pelo que sabemos os sambaquianos não teve olaria ou cerâmica, nem arco
e flecha, talvez extinguiram-se devido a outros povos tecnicamente mais bem
equipados e estes recém-chegados das migrações neolíticas, mais bem armados,
portadores de uma cultura mais avançada marcaram o fim da Era dos Sambaquis.
Se considerarmos o
problema apenas de um ponto de vistalógico, poderemos distinguir duas opções
(1) entre outras ossíveis para uma sociedade: ela pode, por um lado, enfatizar a oposição vivos/mortos e
coloca-los sempre como divisão primária. Mas pode também fazer prevalecer a
continuidade dos consanguíneos e relegar a oposição vivos/mortos ao segundo
plano. A última opção poderá vir expressa – mas não virá necessariamente – em
grupos de descendência unilineares e será consistente com existência de ancestrais
concebidos como prolongamento senão parte integrante da sociedade. (CUNHA,
1978, p.142).
Concentrados
num único ponto estão os sambaquis lacustres que estão, nas margens da Lagoa
dos Patos, enquanto que os marinhos distribuem-se ao longo da face intermareal.
Isso ocorre porque naquele ponto da lagoa a salinidade é menor, favorecendo a
proliferação do molusco e na praia a salinidade é homogênea em toda sua
extensão, ocorrendo os sambaquis por uma área maior. Ao analisarmos a porção
central da planície costeira, as áreas de captação de recursos estão inseridas
em diferentes habitats e, às vezes, no mesmo nicho ecológico. Como exemplo, o
marisco cujo habitat é a zona de arrebentação, está num mesmo nicho ecológico
que os peixes, ou seja, a beira do mar. Existe
uma relação entre populações e recursos, que para determinarem
estratégias particulares de exploração constatam a disponibilidade das fontes
alimentares e seu potencial energético. Já na planície costeira central, entre
os municípios de São José do Norte e Mostardas, as áreas que mostram melhores
condições de habitabilidade e alimentação para a tradição Tupi-guarani são
aquelas contíguas e próximas à Lagoa do Peixe, isto é, os campos de dunas
vegetadas, as matas ciliares e a proximidade entre as lagoas internas e as
matas insulares, pois a fauna é mais abundante e o solo mais fértil.
Em ambiente lacustre, destaca-se o
molusco bivalve Erodona mactroides, que possui concha relativamente pequena.
Provavelmente usados na confecção de adorno e para a alimentação e pode ser
obtido através de coleta. Os sambaquis lacustres que possuíam cerâmica
Tupiguarani em superfície eram compostos destas bivalves. Em sambaquis muito
grandes, compostos principalmente de conchas, os sepultamentos parecem formar a
menor parte dos restos; em sambaquis rasos os sepultamentos são muito
evidentes.
Não temos uma ideia clara se há
sambaquis realmente pequenos, levantados por poucos indivíduos. Os arqueólogos
dão uma média de 50 a 100 indivíduos como responsáveis por todos os restos de
um sítio médio; para sítios grandes ou muito grandes o total da população,
proveniente de numerosas gerações sucessivas, poderia chegar a 600 indivíduos.
Isto daria, em qualquer um dos casos, uma ocupação simultânea de poucas
famílias no topo e arredores do sambaqui, unidas provavelmente por laços de
parentesco biológico ou social, típico dos pequenos bandos de caçadores e
coletores. Para os Tupi-guaranis por exemplo a religião e o idioma, são os dois
pontos mais importantes para a identidade do seu povo. Independente de cor da
pele e nascimento. O que vale é a cultura. Falar seu idioma é importantíssimo
para os índios. A crença em seus deuses e rituais também é um fator aglutinador
desses povos. Embora existam particularidades regionais e temporais, dados
arqueológicos apontam para a persistência de um conjunto bem estabelecido de
regras sociais no espaço e no tempo, a partir das quais foram definidos o local
de implantação dos sítios, suas características estruturais, seu processo
construtivo, sua função, e seu próprio significado simbólico. A complexidade
interna da sociedade sambaquiana, assim como a complexidade estrutural destes
sítios litorâneos devem, necessariamente, ser levadas em consideração antes de
se utilizar datações destes sítios como indicadores de variações do nível
relativo do mar.
Outra questão importante são os
debates mais antigos que perduram sobre os sambaquis se eram ou não uma jazida
natural ou artificial, não eram feitas por Paleontologistas nem
Pré-historiadores, nem Geólogos. Exceto pouquíssimos, em geral, engenheiros,
topógrafos, no máximo geógrafos e ninguém considerava sério ainda o estudo
desses discutidas jazidas. Hoje se pode afirmar a existência de ambas as
coisas, os depósitos naturais, os terraços e os sambaquis, que são monumentos
artificiais feitos gradualmente por nativos sambaquianos.
CONTINUA NA PRÓXIMA POSTAGEM: Sambaquis, Parte II. Os Povos Sambaquianos!
Autor: Leandro Claudir. Criador e administrador do Projeto Construindo
História Hoje e Acadêmico de História.
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REFERÊNCIAS
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Xangri-lá/Rio Grande do Sul. Disponível em: http://www.iphan.gov.br/sgpa/cnsa_detalhes.php?11993.
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CUNHA, Manuela Carneiro da Cunha. Os
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DUARTE, Paulo. O sambaqui visto
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FERREIRA,
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GASPAR, Maria Dulce. Sambaqui:
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Acessada em 11 de nov. de 2014.
Rara
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<http://www.museunacional.ufrj.br/exposicoes/arqueologia/exposicao/sambaquis>
.Acessado em 10 de novembro de 2014.
Museu Arqueológico de Sambaqui de
Joinville/MASJ. Disponível em:
<http://museusambaqui.blogspot.com.br/search?updated-max=2014-04-09T07:27:00-07:00&max-results=30>.
Acessada em 10 de novembro de 2014.
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