Reconstrução artistica da fisionomia de um Cro-Magnon das Ilhas Canárias. Imagem: Eurekabooking.
O Museu das Canárias, na Ilha Grã-Canária,
se orgulha de possuir a maior coleção do mundo de crânios do homem de Cro-Magnon.
Interessante também é o terraceamento
para agricultura em torno de elevações arredondadas pela erosão, de
origem desconhecida, que se encontra por todas as ilhas.
Na Ilha Tenerife existe um complexo
piramidal feito de pedra negra vulcânica. As técnicas de arquitetura
e engenharia empregadas na construção dessas pirâmides de seis “degraus” são similares
àquelas encontradas no México, no Peru e na antiga Mesopotâmia.
Os arqueólogos da Universidade de La Laguna e o Dr.
Thor Heyerdahl provaram que as estruturas são obra humana. A
escavação revelou que elas foram erguidas sistematicamente com blocos de pedra,
cascalho e terra. Escadas construídas cuidadosamente no lado oeste de cada
pirâmide levam ao cume, uma plataforma perfeitamente plana, coberta de
cascalho. Descobriu-se que o principal complexo piramidal, inclusive as esplanadas
diante delas, é
astronomicamente orientado para o poente no solstício de verão da
mesma maneira que as pirâmides do Egito foram orientadas segundo os pontos
cardeais.
Quem as construiu é um
mistério, e nenhuma teoria é empurrada à força aos visitantes da cidade de Guimar
e suas pirâmides. Um cartaz com um único ponto de interrogação rotula a
exposição:
“OS HABITANTES CONHECIDOS MAIS ANTIGOS DE TENERIFE SÃO OS GUANCHES (hoje
em dia extintos como cultura), QUE NÃO SABIAM DIZER QUANDO AS PIRÂMIDES FORAM
CONSTRUÍDAS NEM POR QUEM”.
Entretanto,
como veremos, os guanches provaram ser um elo cultural entre sociedades antigas
e modernas.
Quando
os primeiros europeus modernos chegaram às Ilhas Canárias durante o início do
século XIV, ficaram surpresos com as características físicas de seus habitantes
guanches, que não eram muito diferentes daquelas das populações brancas nas
regiões ao sul do Mediterrâneo. Investigadores do século XX ficaram ainda mais surpresos
pela similaridade entre os esqueleto do homem de Cro-Magnon de 40 mil anos
encontrado na Dordonha, França, e os restos mortais dos guanches. Alguns pesquisadores acreditam que as
similaridades não eram apenas físicas, mas também culturais como evidenciam as
pinturas nas cavernas em Gáldar, Belmaco, Parque Cultural La Zarza e Los
Letreros, por exemplo. Assim como as culturas Cro-Magnon, os guanches adornaram
as cavernas com zigue-zagues, quadrados e símbolos espirais usando tinta
vermelha ou preta. Os guanches continuaram pintando cavernas até o século XIV.
De
acordo com a antropóloga alemã Ilse Schwidetzky, as Ilhas Canárias oferecem um
extraordinário campo para investigações antropológicas. A população pré-histórica
que vivia lá enterrava seus mortos em cavernas, o que proporcionou um material
extraordinariamente abundante no que diz respeito a esqueletos. A despeito do
fato de que os guanches não existem mais como cultura, grupos pré-hispânicos
sobreviveram até o presente, mesmo depois do processo de cristianização e
aculturação. Vários estudiosos dedicaram-se a identificá-los nos séculos XVIII,
XIX e XX.
Pirâmide guanche. Imagem: Krish Gopal.
Em
um estudo de
1984, o professor Gabriel Camps, da Universidade de Provença, foi
bastante explícito quando à questão de identificar corretamente os naturais das
Ilhas Canárias e seus predecessores. Nessa pesquisa, ele concentrou-se na
antiga população Cro-Magnon da África do Norte, à qual ele se referia
especificamente como iberomaurusianos. Esses iberomaurisianos eram uma
cultura de 16 mil anos de idade do noroeste da África, que habitavam a planície
costeira e o interior do que são hoje a Tunísia e o Marrocos. Viviam da caça do
gado selvagem, gazelas, antílopes e carneiros-da-Barbária, e da coleta de
moluscos. Hoje em dia, características físicas Cro-Magnono são raras nas
populações da África do Norte. As características gerais ali pertencem a
diferentes variedades de tipos mediterrâneos. No máximo, o grupo com
características semelhantes às do homem de Cro-Magnon representa 3% da atual
população do Magreb
(Marrocos, Argélia e Tunísia). Mas são muito mais numerosos nas
Ilhas Canárias.
O
termo “iberomaurusiano” se refere à fabricação de implementos no final da Idade
do Gelo caracterizados por ferramentas e armas de pedra menores, se comparadas
às das culturas anteriores, e que apresentam pequenas lâminas com uma das
extremidades sem corte, para que fosse possível segurar o instrumento daquele dão,
ao manuseá-lo. Os fabricantes dessas
ferramentas estavam presentes em muitos pontos do Magreb africano, como
AfalouBou-Rhummel, La Mouillah, Caverna Taza I e Taraforalt, entre 20 e 10 mil
anos atrás. Muitos desses sítios encontram-se aglomerados em cavernas e abrigos
rochosos ao longo do litoral do Magreb. Tinham esqueletos fortes que se
pareciam como do Cro-Magnon europeu, embora tivessem as feições mais duras e
outros tipos de diferenças. As origens do Cro-Magnon da África do Norte são
desconhecidas. Estudiosos sugerem que eles tenham vindo da Europa, oeste da
Ásia, ou de outro ponto da África, ou que tenham se desenvolvido na própria
África do Norte. Eram relativamente altos (1,73 m para os homens e 1,62 m para
as mulheres), e possuíam feições muito marcantes, rosto largo e forte, e um
crânio alongado e estreito. Esse tipo de conformação craniana é referida como
dolicocéfalo.
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MALKOWSKI, Edward F. O Egito
Antes dos Faraós: e suas misteriosas origens pré-históricas. São Paulo: Editora
Cultrix, 2010.
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