quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Posição Oficial da Igreja Evangélica Luterana do Brasil em relação ao Movimento Nova Era



O que é o Movimento Nova Era? O que a Igreja Luterana diz a seu respeito? Imagem: Amigos de Cristo.

1.Nem sempre, quando se fala numa nova era de progresso no país ou no mundo, se está falando especificamente do movimento “Nova Era”. O movimento “Nova Era”, apesar de não ser novo, procura unir a crendice popular com projetos políticos, econômicos e científicos modernos. Alimenta-se do fascínio místico que reaparece com intensidade no limiar de um novo milênio e que promete resolver todos os problemas da humanidade nesta suposta “Era de Aquário”. Também é conhecido como “Nova Ordem”.

2. Na realidade o ser humano, apesar da sua sede de liberdade, se encontra sempre apenas sob uma de duas determinantes: ou tem a verdadeira fé e tem Jesus Cristo como Senhor, ou é escravo de religiões falsas que imitam a fé cristã. Lutero usou uma ilustração no seu tratado sobre “O Servo Arbítrio”. Disse que:

 “ou o homem é montado por Deus, ou é montado pelo diabo”, pois este sempre imita a Deus.

3. Há duas correntes no movimento “Nova Era”: do ocultismo e do humanismo. Mas sua filosofia básica é substituir Deus pela evolução humana. Esta evolução mostraria que as qualidades anteriormente atribuídas a Deus agora já podem ser verificadas na humanidade evoluída. Na realidade é uma mistura de secularismo, psicologia, religião oriental, superstição, bruxaria e panteísmo.

4. A corrente oculta usa todas as crendices antigas e novas para aliviar a angústia básica da pessoa humana. Embora o vazio da pessoa humana seja do tamanho de Deus que se revelou em Jesus Cristo, a “Nova Era” apela para a reencarnação, uma antiga ilusão grega, para interpretar as diferenças de classe e sofrimento, com a ilusão de que exista um “karma” que precisa se realizar de qualquer maneira, afastando todo o consolo do perdão e da nova vida em Jesus cristo. “karma” é um termo do sânscrito que significa “obra, ação”. É usado no hinduísmo para descrever a soma de atos bons e maus que precisam ser compensados numa próxima reencarnação até se esgotarem. Assim o mal que agora existiria na vida da pessoa seria consequência de atos maus em encarnações anteriores. Não se conhece perdão, nem se aceita o serviço social. A solução é sofrer até apagar o “karma” em futuras reencarnações. A “Nova Era” também aceita a volta de espíritos dos falecidos através de médiuns. Exploram a crendice dos discos voadores e dos seres extra-terrestres Buscam a valorização e a interpretação do destino pessoal através de cristais, pirâmides, runas, cartas, búzios, horóscopos, quiromancia e astrologia. Liberam os instintos para ficarem sob o controle de forças ocultas, gnósticas e, às vezes, satânicas.

5. A corrente humanística pretende desenvolver ao máximo o potencial humano, limitado por uma ética apenas responsável à própria humanidade. Quer integrar o conhecimento e a ciência com manifestações pseudo-científicas e crendices, para criar (algumas palavras são incompreensíveis) que utiliza um misticismo oriental na sua doutrinação. O partido verde da Europa, quando nega um Deus Criador, também contribui para a “Nova Era”. Marilyn Ferguson e a atriz Shirley MacLaine promovem a “Nova Era” pela literatura e pela arte. A própria igreja se torna culpada quando o papa ora com todos os cristãos e não cristãos em Assisi , na Itália (1986), ou quando afirma que “todos estamos no mesmo caminho”, incluindo os cultos orientais.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Dança e Música Moderna na Igreja.


Banda Mais Viver iniciou suas atividades em abril de 2004, nos Cultos das terças, que na época aconteciam na Capela Universitária da Ulbra Canoas/RS às 18h30. Desde então, atua em diversos momentos na Universidade e fora dela, com música e mensagem cristã contemporânea. Imagem: http://www.ulbra.br/pastoral/banda-mais-viver/

A dança e a música, sem dúvida, são dons maravilhosos que Deus colocou na vida humana, também do cristão. As Escrituras Sagradas mencionam inúmeras vezes estes dons. Lutero os exalta e usa com alegria na sua liberdade cristã. Não há uma palavra bíblica que condene estes dons.

Lutero reconhece que a dança era usada na sua época para providenciar uma oportunidade para os jovens se conhecerem para eventual casamento. Quando a dança era feita de maneira honrada e honesta ela não podia ser condenada (W2, I, 1682, III, 379, 380). Mas Lutero reconhece que a dança também pode dar ocasião para sinais de adultério (W2, III, 1310). Porém não condena a dança quando é feita para alegria dos jovens e por ocasião de casamentos (W2, III, 379-380).

Todos os dons de Deus, como a dança e a música, o cinema e o teatro, os livros e revistas, comida e bebida podem ser demonizados. Cada liberdade cristã pode ser mal usada por causa da velha natureza que ainda possuímos, mesmo como cristãos. No entanto, quando somos filhos de Deus recebemos o Espírito Santo que sustenta em nós um novo espírito, ou, como pedimos com o salmista em todos os cultos, “um espírito voluntário” (Sl 51.12, que quer acertar e fazer cada vez melhor as escolhas certas). Quando o cristão decide, não com a velha natureza, mas com o novo homem de “espírito voluntário”, pode evitar a demonização das coisas e usar os dons que Deus colocou a sua disposição para uso. Assim o cristão pode dançar e fazer ou usar a música, mesmo que seja moderna e originada em desafio de alguma coisa.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Posição da Igreja Evangélica Luterana do Brasil em relação aos Sepultamentos


Anjo segura uma faixa com epitáfio em alemão: Abençoados são os que morrem no senhor. Imagem: Cemitério Luterano em Porto Alegre/RS.

A.Considerações Gerais.
B.Sepultamento de Pessoas não Luteranas.
C.Sepultamento de Suicidas.

A.   Considerações Gerais

O sepultamento é a última cerimônia associada à existência humana aqui no mundo e, mesmo fora do cristianismo, à condição humana sente a necessidade de solenizar o evento com cerimônias próprias que reflitam o valor e a dignidade humana.

2. A Escritura Sagrada nada prescreve a respeito de cerimônias fúnebres. A igreja cristã, porém, procurou desde cedo tratar do assunto dentro de um contexto que testemunhasse a fé e esperança que a religião cristã professa.

3. Desde cedo os cristãos demonstraram zelo pelos mortos. A igreja se tornou responsável pelo sepultamento de seus membros. Velas, incenso e salmos expressavam a alegre esperança da ressurreição. O sepultamento sempre deveria ser expressão da fé na ressurreição, um conforto para os vivos, antes do que um serviço para os mortos.

4. Lutero enfatizava o conforto, o perdão dos pecados, o descanso, o sono, a vida e a ressurreição (WA 35, 478-479). Também manteve o ensinamento de ser tarefa da igreja providenciar um sepultamento cristão para os seus membros (WA 44, 203).

5. As características de um sepultamento luterano são: a proclamação da esperança de que os que morrem na fé ressuscitarão para a vida eterna, manifestação de amor, lembrança da certeza da morte, e a necessidade de preparação para a mesma, cantos, orações e mensagem proferida pelo pastor (Lutheran Cyclopedia, p. 119-20).

6. A igreja luterana, com o passar dos anos, manteve o mesmo zelo para com os seus membros falecidos. Para tanto incluiu na sua liturgia oficial uma Ordem do Sepultamento Cristão, destinada a ser usada na casa mortuária, na igreja e junto à sepultura. (Liturgia Luterana, p. 216-239).

B.Sepultamento de Pessoas não Luteranas

7. Com frequência pastores luteranos são requisitados para oficiar sepultamentos de pessoas que não são membros de suas congregações. Às vezes, alguém que foi assistido pelo pastor no hospital, outras vezes, um parente, vizinho ou amigo de membro. Nestes casos, precisamos ter em mente que o único conforto que Deus oferece está intrínseca e inseparavelmente unido à morte e ressurreição de Cristo e, por isso, o pastor precisa estar convicto de que a pessoa faleceu na fé salvadora. Se o pastor, ou testemunhas confiáveis, tiverem esta convicção, o pastor poderia, de boa consciência, consentir em conduzir uma cerimônia fúnebre.

8. O pastor sempre deve ter em mente que ele representa a igreja e a posição teológica que sua denominação professa e na qual se fundamenta. Oficiando um sepultamento (mesmo não usando vestimentas litúrgicas e nem a liturgia oficial), o pastor, em essência, atesta o fato de que a pessoa falecida morreu na fé cristã. E realizar, indiscriminadamente, cerimônias fúnebres contribuiu, tão somente, para o sincretismo religioso tão difundido em nossos dias.

9. No entanto, pelo fato de uma cerimônia fúnebre ser dirigida para os vivos e não aos mortos, o pastor deve procurar o conselho da diretoria em todas as circunstâncias incomuns que surgirem.

C.Sepultamentos de Suicidas.

10. O suicídio é transgressão do 5º Mandamento e, como regra geral, a igreja cristã não realiza o sepultamento de suicidas. No entanto, a assistência espiritual aos familiares e enlutados é imprescindível e especialmente importante nestes casos.

11. Existem, também, situações especiais, quando uma pessoa sofre de esquizofrenias, desequilíbrios mentais e quando uma pessoa está sendo submetida e tratamento clínico com a utilização de medicamentos e drogas que inibem a resistência volitiva do paciente. Nestas situações a pessoa não tem consciência de seus atos e não pode ser, humanamente, responsabilizada por eles.

12. Antes, porém, de o pastor realizar qualquer sepultamento de uma pessoa vítima de suicídio deverá fazer um cuidadoso inquérito, não tanto para encontrar um motivo para não realizar o sepultamento, mas para encontrar um motivo (mesmo se fraco) para aceitar a oportunidade. É especialmente importante nestes casos estabelecer a condição mental do (a) falecido(a) e se ele(ela) estava consciente de seus atos.

13. Existem, ainda, outros fatores importantes que devem ser avaliados pelo pastor, juntamente com a diretoria de sua congregação ou paróquia:

a) Toda a cerimônia fúnebre deve sempre visar o benefício dos vivos e deve ser um testemunho por parte da congregação. A morte é especialmente difícil para os familiares de um suicida (geralmente é um pai, uma mãe, um filho, um avô, etc). E, quase sempre, a família carrega um grande sentimento de culpa, que um pastor ou congregação excessivamente legalistas, ao recusarem o sepultamento, apenas aumentam.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Implicações Éticas no uso de Células-Tronco Embrionárias


Embriões criopreservados. Imagem: Arquivo CHH.

O início da vida humana

O desenvolvimento de um novo ser humano começa com a fecundação. Esperma e óvulo, em si mesmos incapazes de crescer, unidos para formar algo novo: uma célula que carrega as características genéticas de ambos pai e mãe e que estabelece a maioria das características de um novo ser humano. Dado o tempo e ambiente apropriados, esta nova célula irá ser submetida a constantes mudanças, sendo seu desenvolvimento contínuo marcado pelos termos embrião, feto, infante, criança, adolescente, adulto.

Apesar de a Bíblia não afirmar explicitamente que a vida humana inicie na concepção, ela fala do relacionamento que Deus tem com a criança no útero da mãe (Sl 139.16; Jr 1.5). Deus nos criou. Durante o processo da concepção recebemos de nossos pais nosso corpo, alma e todos os membros. O Salmo 51 afirma que nascemos na iniquidade e em pecado fomos concebidos; portanto, o oócito (óvulo) fertilizado é corpo e alma corrompido pelo pecado.

A vida humana começa no momento em que o espermatozóide fertiliza o oócito (óvulo) dando origem a uma nova célula geneticamente diferente das duas células anteriores, iniciando a partir daí um processo de divisão celular e desenvolvimento ininterrupto até a morte deste ser humano. Qualquer tentativa de estabelecer o início da vida humana em outro estágio posterior de seu desenvolvimento, torna-se subjetiva e é geralmente empregada para justificar moralmente a perda de vidas humanas na pesquisa científica em embriões humanos, na manipulação de embriões em técnicas de reprodução humana assistida, na criopreservação de embriões, na seleção genética e consequente destruição de embriões menos “viáveis” e no aborto. Deus é o criador da vida humana (Sl 139.13-16; Sl 51.5; Jó 10.8-12; Lc 1.44) desde o seu momento mais objetivo: a concepção. E a partir daí a vida humana é valorizada e dignificada não por ter valor intrínseco, mas pela dignidade a ela atribuída por Deus em sua obra criadora e redentora.

Fertilização In Vitro

A técnica de reprodução humana assistida, chamada de Fertilização In Vitro, quando envolver descarte de embriões classificados como menos “viáveis”, após escaneamento genético, torna-se um procedimento cuja utilização por parte de um casal cristão não pode ser recomendada por tratar-se da eliminação de vidas humanas criadas por Deus e, por isso, pecado contra o 5º mandamento.

A produção ilimitada de embriões em laboratório e a consequente sobra de embriões que não foram implantados no organismo da mãe, e agora precisam ser criopreservados, também é um procedimento que quando utilizado na fertilização in vitro é questionável à luz do 5º mandamento, pois a criopreservação (congelamento de embriões humanos em nitrogênio líquido a -196° C) envolve perda de vidas humanas, já que aproximadamente 7% a 57% dos embriões morrem no processo de descongelamento antes da implantação. Os embriões restantes que não forem descongelados para implantação morrerão em alguns anos.

A eliminação de embriões ou a experimentação com eles significa a manipulação ou eliminação de seres humanos. Se nossa posição é que a vida começa com a concepção, então a eliminação do embrião descartável precisa ser chamada com o nome correto conforme o 5º. Mandamento. Em vez de acolher o sofrimento com a certeza de que o amor de Deus em Cristo supera qualquer sofrimento e assim ajudar os outros a viver, o homem declara sua autonomia de Deus e continua a criar e aumentar o sofrimento no mundo. O cristão precisa ajudar o próximo a viver, reconhecendo a dignidade do ser humano como criatura redimida e amada por Deus. As circunstâncias da Fertilização in Vitro, embora se trate da geração de uma vida, não permitem a nossa participação com consciência tranquila.

A seleção genética e congelamento de embriões expressam uma visão da vida humana como um produto, uma comodidade, um meio para se chegar a um fim 5. Seres humanos adultos não são intencionalmente congelados em nitrogênio líquido. Por que, então, congelamos seres humanos em seu estágio embrionário se a vida humana é um ato contínuo?

Utilização de embriões humanos em pesquisa com células-tronco

Antes mesmo da questão da utilização e destruição de embriões para pesquisa, o que está em jogo é a supremacia de uma visão naturalista, que não aceita nem leva em conta a importância de um Criador e Mantenedor da vida humana.

Posição da Igreja Evangélica Luterana do Brasil referente ao Batismo de crianças de pais em situação irregular



Batismo. Imagem: Arquivo CHH.

1. Consulta da Paróquia Evangélica Luterana de Leme, São Paulo:

 “Sabemos que, em princípio, não podemos negar o batismo a uma criança trazida a Cristo. Mas há complicações perante a sociedade quando os pais são separados, a mãe é solteira, desquitados, enfim, as crianças são filhos de pais em situação irregular. Pode a igreja negar batismo por medo de a situação dos pais escandalizar os fracos na fé e a sociedade? Ou se deve fazer o batismo (como, aliás, fazemos) e orientar os fracos e a sociedade com respeito ao valor do batismo?” (Cf. carta de 10 de junho de 1995).

2. Colocações da CTRE:

a) Cristo constituiu a igreja para fazer discípulos de todas as nações, instituindo o batismo como um dos meios para a realização desta missão (Mt 28.19)

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

A expressão “Pura e Santa Virgem Maria” empregada nos Artigos de Esmalcalde. PARTE II.



Santa Maria com Cristo Jesus recém nascido. Imagem: Cleofas.

1 – O parecer de 26 de outubro de 1988 sobre “A Expressão „Pura e Santa Virgem Maria Empregada nos Artigos de Esmalcalde” enfatiza que todas “as referências a Maria nas Confissões Luteranas visam à glorificação de Cristo e não de Maria”. Os autores da consulta, no entanto, queriam “a nossa decisão, a nossa posição firme e transparente acerca da questão” e, caso isto não seja possível, levantam a hipótese de “suprimir simplesmente esses dois polêmicos adjetivos („pura e „santa)”, o que, concordam, é impossível. O assunto certamente merece um parecer adicional.

2 – A expressão “pura e santa virgem Maria” (AS I,4) deve ser entendida de acordo com o “usus loquendi” das Confissões. “Pura e Santa” são adjetivos que precisam ser entendidos de acordo com o contexto. Em nenhum momento as Confissões aceitam a possibilidade de haver uma pessoa que tivesse pureza e santidade inatas, com exceção de Jesus Cristo. Todas as outras formas de pureza e santidade são adquiridas pelo pecador através da fé em Jesus Cristo. Desta forma Maria é “pura e santa” por causa da sua fé na redenção por Jesus Cristo, como todos os cristãos.

3 – Mas Maria tem um honra especial: uma parte do seu corpo que foi usado por Deus Espírito Santo para formar o corpo do Santo Filho de Deus participou da pureza e santidade inatas de Jesus Cristo. Já não era dela esta parte, mas do seu Santo Filho.

4 – Os textos de Lutero citados na nota de pé-de-página 36 da página 311 do Livro de Concórdia, edição de 1980, mostram que esta era a posição clara de Lutero.

a) Na 1ª citação da WA 53,640 (Vom Schem Hamphoras und vom Geschlecht Christi, 1543) Lutero diz: “(...) von der Erbsunde erlöset und gereiniget, (...)”. Com isso diz que Maria só foi “pura e santa” por redenção. Isto aconteceu pela fé em Jesus Cristo.

b) Na 2ª citação da WA 52,39 (Hauspostille, 1544. Sermão de 1532, dia do Natal) diz Lutero: “(...) das sie on alle sünd gewesen ist, da sie den Herrn Jesum empfangen und getragen hat.” A referência é bem específica: era sem pecado na concepção e na gestação, isto é, naquelas partes que transferiu para o próprio Senhor Jesus. Estas partes já não lhe pertenciam, eram do Filho de Deus, santo e sem pecado.

c) Na 3ª citação da WA 36 (Sermão de 1532, Domingo de Ramos) Lutero enfatiza este ponto: “(...) Fleisch und blut gehalten und warhafftig mensch draus gemacht, aber die sunde draus gefeget, ut sit jam mater eins reineskindes, qi non mit sunden begifft”. A carne e o sangue usados para gerar o Filho de Deus não tinham mais pecado, pois não eram mais de Maria. Eram de Jesus.

d) Na 4ª citação da WA 39,2,107 (Die disputation de divinitate et humanitate Christi, 1540) Lutero inclui Maria como pecadora, quando diz: “Omnis homo obnoxius est vitiis peccati originalis excepto Christo. (...) et in conceptione purgata tota illa caro et sanguis Mariae est, ut nihil peccati sit reliquum. (...) alioque omne sêmen excepta Maria fuit vitiatum.” Aqui Lutero enfatiza que somente a “semente” de Maria foi santa, pois aquela parte da carne e do sangue de Maria que formaram Jesus foi sem pecado. Já era carne e sangue de Jesus. Só Jesus foi sem pecado, embora nascesse de Maria que tinha também pecado, mas foi perdoada e santificada pela redenção em Cristo.

5 – As expressões “pura e santa” são condicionadas pela fé na misericórdia de Deus e não pelo fato de ser a “virgem Maria”. Ser “virgem” não se identifica com ser “puro e santo”. As Confissões são muito claras nesta posição. Não é correto afirmar com Ernst Kinder (Kie Erbsünde, p.48) que “fica aberta (indecidida) a questão do sentido de „pura
nas Confissões Luteranas, isto é, se significa sem relações sexuais ou livre de pecado original”.

6 – As Confissões entendem uma pureza interior e outra exterior. A pureza exterior das obras só existe com a pureza interior da fé (Ap IV, 283). Sem a pureza interior da fé não há pureza exterior. Assim “a virgindade é imunda nos ímpios” e “o matrimônio nos piedosos é puro” (Ap XXIII, 34). Mesmo “pode acontecer que o coração de um marido, como Abrão ou Jacó, que foram polígamos, seja mais puro e arde menos em desejos do que o de muitas virgens, ainda que deveras continentes” (Ap XXIII, 64). A “pureza de coração” consiste na “concupiscência mortificada” e no “arrependimento” que acompanha a fé (Ap XXIII, 35, 64). Deus certamente requer que “esteja puro o coração, se bem que, enquanto aqui vivermos, não podemos alcançá-lo (CM I,310). O homem é justo “não em razão de sua pureza, mas por misericórdia, por causa de Cristo” (AP IV, 86).