O
HINO A ATON
"Apareces cheio de beleza no
horizonte do céu, disco vivo que iniciaste a vida.
Enquanto te levantaste no horizonte
oriental, encheste cada país da tua perfeição. És formoso, grande, brilhante,
alto em cima do teu universo.
Teus raios alcançam os países até ao
extremo de tudo o que criaste.
Porque és Sol, conquistaste-os até aos
seus extremos, atando-os para teu filho amado. Por longe que estejas, teus
raios tocam a terra.
Estás diante dos nossos olhos, mas o
teu caminho continua a ser-nos desconhecido. Quando te pões, no horizonte
ocidental, o universo fica submerso nas trevas, como morto. Os homens dormem
nos quartos, com a cabeça envolta, nenhum deles podendo ver seu írmão...
Mas na aurora, enquanto te levantas
sobre o horizonte, e brilhas, disco solar, ao longo da tua jornada, rompes as
trevas emitindo teus raios...
Se te levantas, vive-se; se te pões,
morre-se. Tu és a duração da própria vida; vive-se de ti.
Os olhos contemplam, sem cessar, tua
perfeição, até o acaso; todo o trabalho pára quanto te pões no Ocidente.
Enquanto te levantas, fazes crescer
todas as coisas para o rei, e a pressa apodera-se de todos desde que
organizaste o universo, e fizeste com que surgisse para teu filho, saído da
tua pessoa, o rei do Alto e do Baixo Egito, que vive de verdade, o Senhor do
Duplo País, Neferkheperuré Uaenré, filho de Rá, que vive de verdade, Senhor
das coroas, Akhenaton.
Que seja grande a duração de sua vida!
e à sua grande esposa que o ama, a dama do Duplo País, Neferneferuaton
Nefertiti, que lhe seja dado viver e rejuvenescer para sempre, eternamente.”
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SALMO
104
1 Bendize, ó minha alma, ao SENHOR!
SENHOR Deus meu, tu és magnificentíssimo; estás vestido de glória e de
majestade.
2 Ele se cobre de luz como de um
vestido, estende os céus como uma cortina.
3 Põe nas águas as vigas das suas
câmaras; faz das nuvens o seu carro, anda sobre as asas do vento.
4 Faz dos seus anjos espíritos, dos
seus ministros um fogo abrasador.
5 Lançou os fundamentos da terra; ela
não vacilará em tempo algum.
6 Tu a cobriste com o abismo, como com
um vestido; as águas estavam sobre os montes.
7 Å tua repreensão fugiram; à voz do
teu trovão se apressaram.
8 Subiram aos montes, desceram aos
vales, até ao lugar que para elas fundaste.
9 Termo lhes puseste, que não
ultrapassarão, para que não tornem mais a cobrir a terra.
10 Tu, que fazes sair as fontes nos
vales, as quais correm entre os montes.
11 Dão de beber a todo o animal do
campo; os jumentos monteses matam a sua sede.
12 Junto delas as aves do céu terão a
sua habitação, cantando entre os ramos.
13 Ele rega os montes desde as suas
câmaras; a terra farta-se do fruto das suas obras.
14 Faz crescer a erva para o gado, e a
verdura para o serviço do homem, para fazer sair da terra o pão,
15 E o vinho que alegra o coração do
homem, e o azeite que faz reluzir o seu rosto, e o pão que fortalece o
coração do homem.
16 As árvores do SENHOR fartam-se de
seiva, os cedros do Líbano que ele plantou,
17 Onde as aves se aninham; quanto à
cegonha, a sua casa é nas faias.
18 Os altos montes são para as cabras
monteses, e os rochedos são refúgio para os coelhos.
19 Designou a lua para as estações; o
sol conhece o seu ocaso.
20 Ordenas a escuridão, e faz-se noite,
na qual saem todos os animais da selva.
21 Os leõezinhos bramam pela presa, e
de Deus buscam o seu sustento.
22 Nasce o sol e logo se acolhem, e se
deitam nos seus covis.
23 Então sai o homem à sua obra e ao
seu trabalho, até à tarde.
24 O SENHOR, quão variadas são as tuas
obras! Todas as coisas fizeste com sabedoria; cheia está a terra das tuas
riquezas.
25 Assim é este mar grande e muito
espaçoso, onde há seres sem número, animais pequenos e grandes.
26 Ali andam os navios; e o leviatã que
formaste para nele folgar.
27 Todos esperam de ti, que lhes dês o
seu sustento em tempo oportuno.
28 Dando-lho tu, eles o recolhem; abres
a tua mão, e se enchem de bens.
29 Escondes o teu rosto, e ficam
perturbados; se lhes tiras o fôlego, morrem, e voltam para o seu pó.
30 Envias o teu Espírito, e são criados,
e assim renovas a face da terra.
31 A glória do SENHOR durará para
sempre; o SENHOR se alegrará nas suas obras.
32 Olhando ele para a terra, ela treme;
tocando nos montes, logo fumegam.
33 Cantarei ao SENHOR enquanto eu
viver; cantarei louvores ao meu Deus, enquanto eu tiver existência.
34 A minha meditação acerca dele será
suave; eu me alegrarei no SENHOR.
35 Desapareçam da terra os pecadores, e
os ímpios não sejam mais. Bendize, ó minha alma, ao SENHOR. Louvai ao SENHOR.
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sábado, 13 de junho de 2020
O HINO A ÁTON E O SALMO 104
Pré-história? Era da Agricultura!
Apesar
de necessária para a compreensão e o estudo da história, há muitas críticas
quanto à periodização clássica utilizada. Uma dessas críticas, diz sobre o
período da vida humana anterior à chamada Idade Antiga, que corresponde, aliás,
a milhões de anos. Dentro de uma concepção estreitamente relacionada ao
positivismo ou à história-relato, esse enorme período é denominado, nos livros,
Pré-história. Define-se que a História só tem inicio com a invenção da escrita.
Mas, então – pode-se questionar, povos sem escrita (ágrafos) não têm história?
É evidente que possuem História, pois não apenas documentos escritos dispõe o
historiador. Se determinado grupo humano não chegou a criar símbolos
reconhecidos como forma de escrita para registrar os acontecimentos de sua
vida, isso não impede que tenhamos condições de compreendê-la. Afinal, esse
grupo deixou uma infinidade de outros documentos: instrumentos de trabalho,
joias, brinquedos, entre outros, com os quais o historiador pode elaborar a sua
pesquisa.
No seguinte texto será
justificada a nova nomenclatura dada a Pré-história a partir do olhar da teoria
histórica da Escola de Annales.
Baseados nos dados analisados
teremos como nome ao período “Era da
Agricultura”, devido a grande importância que a agricultura teve para a
evolução humana desde seu descobrimento no período Neolítico, a mesma permitiu
ao ser humano andar em grupos mais numerosos, já que no período Paleolítico nós
simplesmente comíamos oque encontrávamos o que impedia que andássemos em
grandes grupos, pois a comida acabava muito rápido se houvesse muitas pessoas
juntas no mesmo lugar. A agricultura também permitiu termos moradias fixas e a
criação de animais, pois agora plantávamos oque comíamos, impedindo que
houvesse falta de alimentos. O que mais tarde desencadeou na Idade dos Metais,
as organizações sociais, sendo mais numerosas ainda, dando início também à
fabricação de ferramentas e armas de metais.
Ao fim concluímos que a
agricultura levou o ser humano a capacidade de inúmeras evoluções e descobrimentos
que levaram a sociedade ao que é hoje, sendo um grande marco para nossa
espécie, está mais do que justificado chamarmos esse período de “Era da
Agricultura”.
Autora:
Isabel Cristina S. Pedroso, colaborada do Construindo História Hoje.
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ESCOLA DE ANNALES,
PRÉ-HISTÓRIA
quarta-feira, 27 de maio de 2020
ÁTILA, O REI DOS HUNOS. “EGO SUM FLAGELLUM DEI”
O
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relato
da vida e morte de Átila, o Rei dos Hunos, como consta nos texto do historiador
romano Priscus.
Apesar de ser um individuo com
uma personalidade agressiva e desconfiada, Átila permitiu-se acompanhar por
romanos durante os períodos de paz entre ambos os povos. Foi nesses períodos
que Priscus pode conhecer melhor o homem por detrás do “flagelo de Deus”
(Flagellum Dei), era dessa forma que Átila se autointitulava.
Os hunos moravam em complexos
murados semelhantes a povoados muito grandes. Como observou Priscus: “dentro da
muralhas haviam um numeroso grupo de prédios, alguns feitos de tábuas e
construídos próximos para fins
decorativos, outros eram feitos de troncos de madeira cuja casca havia sido
arrancada, e haviam sido planejados em seguida. Eram dispostos em colunas
circulares feitas de pedra, que começavam no chão e chegavam a uma altura
moderada”.
Átila morava na maior
residência, que era embelezada com torres para diferenciá-la das demais. Os
aposentos eram acarpetados com tapetes que pareciam ser de lã e as mulheres
hunas faziam bordados coloridos e delicadas roupas de cama e mesa. Os hunos
jantavam em sofás, no mesmo estilo dos romanos. Tapeçarias e trabalhos
ornamentais multicoloridos eram pendurados para decorar os quartos. Embora os
guerreiros hunos praticassem a poligamia, estima-se que as mulheres tivessem um
status superior entre os hunos em comparação com a maioria das sociedades
nômades, das estepes ou orientais.
Apesar de uma sociedade guerreira, o caráter
masculino era superior e algumas das descrições de Priscus mostram que as
mulheres desempenhavam um papel de “embelezar” os rituais e trabalhos nas
casas.
A entrada de Átila na sua sala de jantar é
assim descrita:
“Quando
Átila estava entrando, as moças vieram vê-lo e se perfilaram diante dele
caminhando sob estreitas tiras de tecidos de linho branco, sustentadas pelas
mãos de mulheres dos dois lados. Essas faixas de tecido eram esticadas de tal
forma que sob cada uma delas caminhavam pelo menos sete moças. Havia muitas
fileiras de moças sob os tecidos e elas cantavam canções citas.”
O
próprio Átila não impressionou tanto Priscus à primeira vista: Baixo, de peito
largo, rosto desmedido e corpo atarracado, tinha olhos pequenos e profundos, um
nariz achatado e uma barba rala levemente grisalha. Caminhou
ao longo da parede com um arrogante modo de andar, obsevando com altivez de um
lado para o outro. Inconstante, melancólico, desconfiado, Átila parecia ser abstêmio em relação ao vinho e sem senso de humor: os bufões faziam os
outros hunos rirem, mas Átila sentava lá, remoendo, taciturno e com a cara
amarrada.
O
único momento em que revelava um lado humano era quando seu filho caçula,
Ernac, entrava no salão de banquetes. Priscus notou que os olhos
rijos de Átila se enterneciam imediatamente; ele chamava o menino e acariciava
sua bochecha. Por que ele era o preferido, perguntou-se Priscus? Parecia que um
vidente lhe dissera certa vez que sua família entraria em decadência após sua
morte, mas que Ernac restabeleceria a riqueza dos hunos. Profundamente supersticioso, habituado a presságios,
oráculos, xamãs e curandeiros, Átila levou isso muito a sério.
No entanto, a despeito da sua figura, quanto
mais Priscus o observava, mais ficava impressionado. Ele não era apenas um
assassino brutal e um tirano cruel, mas revelava sagacidade e até sabedoria:
“Embora
um amante da guerra, não era propenso à violência. Era um conselheiro muito
sábio, misericordioso para com quem o
aceitava como amigo”.
Não tinha a riqueza como
objetivo, exceto como um meio de controle político e social, e seus próprios
gostos tendiam à austeridade em vez do visível consumo. Novamente nas palavras
de Priscus:
“Enquanto
para os outros bárbaros e para nós, só havia pratos preparados generosamente
servidos em travessas de prata, para Átila havia somente carne em um prato de
madeira...Copos de ouro e prata eram entregues para os homens no banquete,
enquanto o dele era de madeira. Sua roupa era simples e não era nada diferente
das demais, com exceção do fato de ser limpa. Nem a espada que ficava pendurada
na lateral de seu corpo, nem as fivelas de suas botas bárbaras e nem as rédeas
de seu cavalo eram decorados com ouro ou pedras preciosas, como aqueles de
outros citas.”
Átila estava assim enviando
uma mensagem sutil. Não precisava das manifestações externas e ornamentos do
poder, tendo em vista que estava muito seguro de seu próprio destino. Também
estava dizendo para aqueles que o apoiavam que ele nunca poderia ser comprado com
o ouro romano, e que só a austeridade dava origem a grandes guerreiros. Átila
era cruel e liquidava inimigos conhecidos num abrir e fechar de olhos, mas
também era inteligente e percebeu que a simples brutalidade acabava afastando
até os discípulos próximos: conhecia suficientemente a história de Roma para se
lembrar dos imperadores que tinham sucumbido por causa de sua crueldade
insensata: Calígula, Nero, Domiciano, Commodus, Elagabulus. Seus seguidores
tinham de saber que ele era duro, e ele lhes dava muitas provas disso; mas eles
também precisavam perceber que ele era capaz de moderação, conciliação e
respeito por parte de seus subordinados, o que faria valer a pena estabelecer
uma parceria com ele para a vida toda.
Foi
por volta do ano de 451 d.C, quando em sua campanha na França, Átila invadiu a
cidade de Troyes. O bispo Lupus de Troyes foi pedir rendição conciliatória a
Átila e disse-lhe ser um homem de Deus. Átila então respondeu EGO SUM FLAGELLUM
DEI (eu sou a cólera de Deus), e isso se tornou parte das duradouras histórias
de luta dos reinos cristãos sobre Átila.
No retorno para a Hungria de
sua campanha na Itália por volta de 452-453d.C, Átila planejava outra guerra de
conquista, agora contra os bizantinos. Foi nesse contexto que o polígamo Átila
fez outro casamento político, acrescentando uma princesa alemã chamada Ildico a
seu pequeno grupo de esposas. Os hunos davam muito valor à posse de mulheres
bem-nascidas, considerando-as como um acréscimo essencial para seu prestígio e
exigindo frequentemente princesas e “damas” como parte do tributo pagos pelos
inimigos conquistados. Uma requintada festa de casamento foi realizada no
início de 453d.C.
Segundo o historiador romano
Priscus foi durante essa festa de casamento que Átila morreu subitamente e de
forma estranha. Segue o relato de Priscus:
“Pouco
antes de morrer, ele (Átila), se casou com uma moça muito bonita chamada
Ildico, depois de outras inúmeras esposas, como era o costume de seu povo. Ele
se entregou ao regozijo excessivo na festa de casamento, e quando se deitou de
costas, cheio de vinho e de sono, um fluxo de sangue superficial, que deve ter
saído de seu nariz, desceu pela garganta e o matou, uma vez que foi impedido de
passar pelas vias normais. No dia seguinte , de manhã, os criados reias
suspeitaram de algum mal,e, depois de grande alvoroço, irromperam nos
aposentos. Descobriram que a morte de Átila estava consumada por um
derramamento de sangue, sem nenhum ferimento, e a moça com o rosto abatido,
chorando por detrás do véu.”
Essa é a versão convencional
sobre a morte de Átila, geralmente aceita pelos historiadores. Os sintomas
descritos sugerem ou a ruptura de uma úlcera do aparelho digestivo,
possivelmente provocada pelo profundo estresse pelo qual Átila estava passando,
ou hipertensão em uma veia importante do corpo – varizes na garganta provocadas
pelo excesso de alcoolismo. Se uma dessas veias se rompe, o sangue vai direto
para os pulmões, no caso dele, que estava deitado de costas; se ele estivesse
de pé ou sóbrio, o ataque não teria sido fatal.
Os hunos prantearam seu grande
líder. É assim que Priscus descreve os ritos fúnebres:
“No
meio de uma planície seu corpo ficou deitado em uma tenda de seda, e um
espetáculo extraordinário foi apresentado solenemente. Os melhores cavaleiros
de todo o povo huno fizeram um círculo em torno do local onde seu corpo jazia,
como nos jogos circenses, e recitaram suas façanhas em um canto
fúnebre...Quando eles prantearam com tais lamentos, com grande folguedo
celebraram no seu túmulo o que eles chamam strava, e deixaram-se abandonar em
uma mistura de alegria e luto...Entregaram seu corpo à terra no sigilo da
noite...Acrescentaram as armas dos inimigos conquistadas em combate, adornos
para cavalos brilhando com várias pedras preciosas e ornamentos de tipos
variados, as marcas da glória real. Além disso, para que essas grandes riquezas
fossem mantidas a salvo da curiosidade humana, aqueles que tiveram a tarefa de
arrumar tudo foram recompensados com a morte.”
Alguns detectaram “demasiados
protestos” no hino funeral, ao se declamar as conquistas de Átila, depois
prosseguindo: “ quando ele tinha
conquistado tudo isso favorecido pela sorte, caiu não por causa do adversário,
nem em virtude da traição de seus
amigos, mas no meio de seu povo em paz, alegre em seu regozijo e sem nenhuma
sensação de dor. Há até quem chame isso de morte e ninguém acredita que seja
uma vingança”.
Todavia, a versão oficial da
morte de Átila é problemática em vários níveis. Véus, noivas chorosas, nenhum
grito, portas fechadas à chave –tudo isso se parece demais com um mistério; a
descrição preparada não convence. A versão recebida pode ser criticada em
vários níveis diferentes. Priscus, o
historiador em quem devemos confiar para tudo o que diz respeito a Átila, nem
estava na Europa quando o grande líder huno morreu, uma vez que se encontrava
em missão diplomática no Egito. Seu relato é de segunda mão ou até de terceira.
Não traz nenhuma relação com aquele feito em primeira mão por Priscus, a
respeito do banquete em 449 d.C. na sua descrição, o historiador fala que os
outros hunos estavam bebendo e se divertindo, mas afirma que Átila estava
distante, abstêmio, bebendo aos pouquinhos, enquanto os outros davam grandes
goles. Em poucas palavras o caráter de Átila apresentado por Priscus na
qualidade de observador é muito distante da personalidade revelada na última
descrição de sua morte. Naturalmente, era do interesse dos filhos de Átila e
dos logades conspirar para dar a ideia de uma morte repentina e natural; a
última coisa de que eles precisavam para poder ter uma sucessão pacífica era
uma investigação lenta sobre um plano de assassinato. Se essa versão é
suspeita, quais são as prováveis circunstâncias da morte de Átila? Aqui a suspeita se volta contra o imperador
bizantino Marciano, um inimigo implacável, subestimado por Átila. Os bizantinos
estavam bem preparados para usar o assassinato como um instrumento político. O
segundo motivo diz que o germano Edeco, pai de Odoacro, era um seguidor leal de
Bleda, irmão de Átila, assassinado pelo mesmo. Edeco teria planejado uma
vingança a longo prazo. Assim sendo, a morte de Átila, em 453 a.C, estaria
relacionada ao assassinato de Bleda, em 445 d.C. Edeco poderia ter sido um
autêntico agente duplo, ou pode ter sido “transformado” pelos bizantinos em
algum momento.
Quanto
ao meio usado para o assassinato, é mais provável que o envenenamento lento
tenha sido fatal para Átila, possivelmente até a ingestão de bebidas em
pequenos goles durante o banquete do casamento.
McLYNN, Frank. Heróis e Vilões: Por dentro da Mente dos Maiores Guerreiros da
História. São Paulo: Larousse do Brasil, 2008.
“De origine actibusque Getarum” do Historiador romano Jordanes, traduzido para o
espanhol por: MARTÍN, José, María Sánhez. Origen y
gestas de los godos Madri, Cátedra, 2001.
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sexta-feira, 15 de maio de 2020
CRO-MAGNON DAS ILHAS CANÁRIAS
O
|
Museu das Canárias, na Ilha Grã-Canária, se
orgulha de possuir a maior coleção do mundo de crânios do homem de Cro-Magnon. Interessante também é o terraceamento para
agricultura em torno de elevações arredondadas pela erosão, de origem
desconhecida, que se encontra por todas as ilhas.
Na
Ilha Tenerife existe um complexo piramidal feito de pedra negra vulcânica. As
técnicas de arquitetura e engenharia empregadas na construção dessas pirâmides
de seis “degraus” são similares àquelas encontradas no México, no Peru e na
antiga Mesopotâmia.
Os
arqueólogos da Universidade de La Laguna e o Dr. Thor Heyerdahl provaram que as
estruturas são obra humana. A escavação revelou que elas foram erguidas
sistematicamente com blocos de pedra, cascalho e terra. Escadas construídas
cuidadosamente no lado oeste de cada pirâmide levam ao cume, uma plataforma
perfeitamente plana, coberta de cascalho. Descobriu-se que o principal complexo
piramidal, inclusive as esplanadas diante delas, é astronomicamente orientado
para o poente no solstício de verão da mesma maneira que as pirâmides do Egito
foram orientadas segundo os pontos cardeais.
Quem
as construiu é um mistério, e nenhuma teoria é empurrada à força aos visitantes
da cidade de Guimar e suas pirâmides. Um cartaz com um único ponto de
interrogação rotula a exposição:
“OS
HABITANTES CONHECIDOS MAIS ANTIGOS DE TENERIFE SÃO OS GUANCHES (hoje em dia
extintos como cultura), QUE NÃO SABIAM DIZER QUANDO AS PIRÂMIDES FORAM
CONSTRUÍDAS NEM POR QUEM”.
Entretanto, como veremos, os
guanches provaram ser um elo cultural entre sociedades antigas e modernas. Quando
os primeiros europeus modernos chegaram às Ilhas Canárias durante o início do
século XIV, ficaram surpresos com as características físicas de seus habitantes
guanches, que não eram muito diferentes daquelas das populações brancas nas
regiões ao sul do Mediterrâneo. Investigadores do século XX ficaram ainda mais
surpresos pela similaridade entre os esqueleto do homem de Cro-Magnon de 40 mil
anos encontrado na Dordonha, França, e os restos mortais dos guanches. Alguns pesquisadores acreditam que as
similaridades não eram apenas físicas, mas também culturais como evidenciam as
pinturas nas cavernas em Gáldar, Belmaco, Parque Cultural La Zarza e Los
Letreros, por exemplo. Assim como as culturas Cro-Magnon, os guanches adornaram
as cavernas com zigue-zagues, quadrados e símbolos espirais usando tinta
vermelha ou preta. Os guanches continuaram pintando cavernas até o século XIV.
De acordo com a antropóloga
alemã Ilse Schwidetzky, as Ilhas Canárias oferecem um extraordinário campo para
investigações antropológicas. A população pré-histórica que vivia lá enterrava
seus mortos em cavernas, o que proporcionou um material extraordinariamente
abundante no que diz respeito a esqueletos. A despeito do fato de que os
guanches não existem mais como cultura, grupos pré-hispânicos sobreviveram até
o presente, mesmo depois do processo de cristianização e aculturação. Vários
estudiosos dedicaram-se a identificá-los nos séculos XVIII, XIX e XX.
Em um estudo de 1984, o
professor Gabriel Camps, da Universidade de Provença, foi bastante explícito
quando à questão de identificar corretamente os naturais das Ilhas Canárias e
seus predecessores. Nessa pesquisa, ele concentrou-se na antiga população
Cro-Magnon da África do Norte, à qual ele se referia especificamente como
iberomaurusianos. Esses iberomaurisianos eram uma cultura de 16 mil anos de
idade do noroeste da África, que habitavam a planície costeira e o interior do
que são hoje a Tunísia e o Marrocos. Viviam da caça do gado selvagem, gazelas,
antílopes e carneiros-da-Barbária, e da coleta de moluscos. Hoje em dia,
características físicas Cro-Magnono são raras nas populações da África do
Norte. As características gerais ali pertencem a diferentes variedades de tipos
mediterrâneos. No máximo, o grupo com características semelhantes às do homem
de Cro-Magnon representa 3% da atual população do Magreb (Marrocos, Argélia e
Tunísia). Mas são muito mais numerosos nas Ilhas Canárias.
O termo “iberomaurusiano” se
refere à fabricação de implementos no final da Idade do Gelo caracterizados por
ferramentas e armas de pedra menores, se comparadas às das culturas anteriores,
e que apresentam pequenas lâminas com uma das extremidades sem corte, para que
fosse possível segurar o instrumento daquele dão, ao manuseá-lo. Os fabricantes dessas ferramentas estavam
presentes em muitos pontos do Magreb africano, como AfalouBou-Rhummel, La
Mouillah, Caverna Taza I e Taraforalt, entre 20 e 10 mil anos atrás. Muitos
desses sítios encontram-se aglomerados em cavernas e abrigos rochosos ao longo
do litoral do Magreb. Tinham esqueletos fortes que se pareciam como do
Cro-Magnon europeu, embora tivessem as feições mais duras e outros tipos de
diferenças. As origens do Cro-Magnon da África do Norte são desconhecidas.
Estudiosos sugerem que eles tenham vindo da Europa, oeste da Ásia, ou de outro
ponto da África, ou que tenham se desenvolvido na própria África do Norte. Eram
relativamente altos (1,73 m para os homens e 1,62 m para as mulheres), e
possuíam feições muito marcantes, rosto largo e forte, e um crânio alongado e
estreito. Esse tipo de conformação craniana é referida como dolicocéfalo.
MALKOWSKI, Edward F. O Egito Antes dos Faraós: e suas misteriosas origens pré-históricas. São
Paulo: Editora Cultrix, 2010.
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domingo, 3 de maio de 2020
CIVILIZAÇÕES ESQUECIDAS: HARAPPA
A
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primeira civilização da Índia e uma das
maiores da Antiguidade, foi tão desenvolvida quanto o Egito e a Mesopotâmia.
Mas sua história está apenas começando a ser desvendada.
O
vaivém de peregrinos é intenso, frenético, louco. Eles chegam aos montes,
vindos de pequenos vilarejos vizinhos, nos vales ao leste do Paquistão. As
ruas, tomadas por mercadores itinerantes, ganham, aos poucos, o colorido dos
artistas performáticos e das trupes de circo. Músicos ajudam a entreter as
multidões. Luzes e sons misturam-se. Mulheres gazeteando pelas vias procuram
peregrinos mais experientes, para dar a eles as oferendas religiosas que serão
repassadas a divindades de lugares distantes – tudo para garantir que, no
futuro, seus filhos sejam saudáveis e – preferencialmente – do sexo masculino.
À primeira vista, este é apenas mais um tradicional ritual de cultura popular,
desses que o tempo insiste em manter vivos.
E
é mesmo. Conhecido por sang – algo como “feira de encontro” –, é realizado até
hoje nas grandes cidades do vale do rio Indo, perto da fronteira entre o
Paquistão e a Índia. Mas esconde uma curiosidade. Remete a uma das civilizações
mais desenvolvidas de toda a Antigüidade, um povo que viveu ali, na mesma
região, há milhares de anos. Não eram egípcios, nem mesopotâmios, tampouco
chineses. Esse povo esquecido atingiu um surpreendente grau de desenvolvimento,
comparável inclusive ao dos célebres vizinhos. A diferença é que não ficaram
tão conhecidos – pelo menos nos dias de hoje –, embora tenham interagido
profundamente com algumas dessas culturas avançadas. Eles eram a civilização do
Vale do Indo, ou civilização harappiana, nome derivado de sua principal cidade,
a capital Harappa.
Por
volta de 3000 a.C., numa época em que Egito, Mesopotâmia e China começavam a
esbanjar desenvolvimento e a ocupar o centro do mundo, os harapiannos
floresciam no vale do rio Indo. Como as potências vizinhas, também dominavam
técnicas e conhecimentos inimagináveis para aquele período da história. No seu
auge, entre 2600 a.C. e 1900 a.C., espalharam-se por mais de 1500 vilas e
estenderam-se por uma área duas vezes maior que o próprio Egito antigo e a
Mesopotâmia. Ergueram cidades amplas e muito bem planejadas, com sistemas de
drenagem sofisticados e prédios muitos complexos, e já conheciam as técnicas de
fundição a mais de 930°C. Eram artesãos habilidosos que se destacavam
principalmente por seus trabalhos com cerâmica e argila.
O
conhecimento traçou os rumos de Harappa. Seus habitantes abriram rotas
comerciais que os levaram ao Golfo Pérsico, à Ásia Central e à Mesopotâmia. Por
outro lado, as cidades harappianas viraram centros de comércio do mundo antigo.
O artesanato local espalhou-se, tendo sido encontrado até nos sítios
arqueológicos mesopotâmios. Textos antigos desta civilização, as inscrições
cuneiformes, também comprovam o contato entre as duas culturas. Falam sobre o
comércio com povos originários da distante Índia, que costumavam chamar de
Meluha e Makkan. Assim como ainda acontece atualmente, naquela época os
moradores dos pequenos vilarejos harappianos iam para as grandes cidades em
dias de festivais – ou feiras de encontro, para comprar, vender ou trocar
produtos, participar de cerimônias e até para rever familiares.
Democracia e Religião
Apesar
de ser a maior das quatro civilizações da Antigüidade, o Vale do Indo só foi
descoberto em 1920, quando arqueólogos escavaram parte das ruínas de Harappa e
Mohenjo-daro, as duas maiores cidades da região, áreas que hoje correspondem às
províncias paquistanesas de Punjab e Sindh, respectivamente. Mesmo assim, ainda
há muito a ser escavado e, principalmente, desvendado. Questões básicas sobre
estes povos continuam sem respostas. Vários sítios arqueológicos permanecem intocados,
incluindo grandes cidades, e sua escrita está longe de ser decifrada. Alguns
pontos, porém, são dados como certos.
A
semelhança entre as plantas e a arquitetura das cidades harappianas, por
exemplo, mostram que o Vale do Indo mantinha uma estrutura social e econômica
uniforme. A economia era baseada na produção agrícola e nas atividades
comerciais. Ou seja, comerciantes e artífices tinham grande influência na
sociedade e, muito provavelmente, compunham a elite dominante. O povo era
pacífico e não apresentava uma cultura belicosa, embora possuísse armas como
lanças e espadas. Não havia reis nem teocratas – prova disso é a inexistência
de palácios e templos suntuosos, mesmo nas ruínas das grandes cidades. As
maiores construções eram mercados e prédios de banhos públicos, algo tão
sofisticado para época que nem mesmo no Império Romano, dois mil anos depois,
este tipo de facilidade chegava às classes mais baixas. “As principais
edificações não são voltadas para os líderes, mas sim para a população. Isso
sugere, inclusive, que havia um possível exercício arcaico de democracia,
baseado principalmente em valores econômicos”, comenta o professor de cultura
da Índia e língua sânscrita Carlos Eduardo Barbosa, do Instituto Narayana, de
São Paulo.
Essa
organização social não exclui, no entanto, a participação e a influência de
líderes religiosos na sociedade. É provável que eles tenham sido a chave para
manter unida uma civilização tão abrangente, que não tinha como característica
usar a força para subjugar outros povos. Apesar de não haver provas
arqueológicas da existência destes líderes, existem estudos que indicam que
eles formavam uma elite dominante, que manteve a hegemonia por meio da religião
e de rituais sagrados. “É o que aconteceu mais tarde com o hinduísmo, em que
milhões de pessoas permaneceram unidas não pelo uso da força, mas sim da
persuasão”, pondera Iravatham Mahadevan, do Conselho de Pesquisa Histórica da
Índia, que há mais de 30 anos estuda a escrita do Vale do Indo. “Além disso,
existem selos encontrados nos sítios arqueológicos que mostram a prática de
rituais sagrados, com adorações a deuses nus, sentados em posição de yoga”,
acrescenta Mahadevan.
Apogeu e decadência
Embora
não se saiba muito da cultura do povo harappiano, sabe-se que a cidade de
Harappa viveu seu boom econômico entre os séculos 2800 a.C. e 2600 a.C. Foi
nesse período que os artesãos desenvolveram técnicas avançadas de manipulação
de argila e outras matérias-primas, criando tijolos simétricos de barro e
objetos refinados de cerâmica cobertos por uma espécie de esmalte. A fabricação
de produtos têxteis também decolou aí. Enquanto os egípcios notabilizavam-se
pela manufatura de peças de linho, os harappianos teciam com algodão. Surgiu
nessa época ainda o sistema formal de escrita local, estampada em vários vasos
e selos de argila encontrados nos sítios arqueológicos. Estes objetos,
ilustrados com figuras geométricas ou representações de animais, parecem ter
tido uso comercial ou administrativo. Seriam usados basicamente pela elite dominante
e funcionavam como um mecanismo de controle econômico e demonstração de poder
político.
Alguns
pesquisadores, como Mahadevan, acreditam que eles também indicavam os títulos
de seus usuários e até nomes e profissões. Para os harappianos, seria algo útil
numa cidade que chegou a ter cerca de 80 mil habitantes, segundo as estimativas
do arqueólogo Jonathan Mark Kenoyer, professor de antropologia da Universidade
de Wisconsin e um dos líderes dos grupos de escavações dos sítios
arqueológicos. Esses e outros segredos de Harappa, no entanto, continuam
escondidos atrás de um enigma: a indecifrável escrita do Vale do Indo.
Depois
de quase dois mil anos de existência, a civilização do Vale do Indo começou a
entrar em declínio. Várias teorias explicam esta fase, mas nenhuma é unânime. A
mais aceita combina uma série de motivos. O primeiro deles seria a incapacidade
da elite em manter a ordem num território tão vasto e povoado, que por volta de
1900 a.C. já se estendia para além das planícies do rio Ganges. “Essa falta de
autoridade levou a uma reorganização da sociedade, não apenas em Harappa mas em
toda a região do Vale do Indo”, escreveu Kenoyer em artigo publicado na revista
Scientific American. Prova disso é o desaparecimento gradual de símbolos
característicos da região, como os selos, vasos e pesos usados na taxação e
comércio de produtos.
Outro
fator importante para a queda da civilização harappiana foram as alterações
climáticas que ocorreram ao longo dos séculos, possivelmente causadas pelo
crescente desflorestamento para obtenção de matérias-primas. Em 2000 a.C., um
dos mais importantes rios da região, o Sarasvati, começou a secar e deixou
várias cidades sem uma base viável de subsistência. Estas populações teriam
migrado para áreas agrícolas e cidades como Harappa e Mohenjo-daro,
superpovoando lugares que não tinham estrutura para receber mais pessoas. Por
conseqüência, os mecanismos de manutenção das rotas comerciais acabaram
comprometidos.
Uma
das teorias mais antigas, porém, conta outra história. Teria havido uma simples
dispersão da população para outras regiões. Mas esta é uma hipótese pouco
considerada pelos estudiosos atualmente. “Vestígios arqueológicos encontrados
em escavações recentes mostram que as cidades continuavam habitadas entre 1900 a.C.
e 1300 a.C.”, escreveu Kenoyer. Uma terceira tese atesta ainda que os
harappianos foram aniquilados pelos indo-arianos a partir do segundo milênio
antes de Cristo. De fato, o período entre o ano 2000 a.C e o ano 1300 a.C. foi
bastante conturbado, com guerras eclodindo em várias partes do mundo. Além
disso, existem indícios de batalhas nos sítios arqueológicos do Vale do Indo.
Mesmo
assim, é pouco provável que os indo-europeus tenham destruído toda a
civilização. A maioria dos especialistas acredita que a imigração ariana
aconteceu depois que os harappianos entraram em declínio – e a relação entre
estes povos foi muito provavelmente pacífica. “Quando chegaram à região, os
indo-europeus tornaram-se sedentários e seus rebanhos ajudaram a fertilizar os
campos agrícolas. Em troca, seus cavalos alimentavam-se da palha da cevada que
era produzida pelos agricultores”, argumenta Barbosa. E por fim há uma hipótese
indiana ultra-nacionalista, que acredita no caminho inverso ao ensinado pelo
etnocentrismo europeu. Ela defende a idéia de que a civilização do Vale do Indo
deu origem aos védicos, povos que surgiram logo em seguida aos harappianos e
formularam o Rig Veda, a mais antiga escritura sagrada hindu. De acordo com a
tese, eles conquistaram os sumérios e teriam expandido seus domínios para o
oeste, influenciando também os povos do Ocidente. Ufanismo? Pode ser. Mas esta
também é mais uma pergunta que continua sem resposta.
Altos e baixos no Vale do Indo
Os harappianos deixaram uma herança para a
Índia
3300 a.C. – 2800 a.C.
É
a primeira fase da civilização harappiana, chamada de Ravi. No começo deste
período, plantam trigo, cevada e leguminosas. Técnicas especializadas de
artesanato avançam pelo vale do rio Indo e as primeiras rotas comerciais
começam a se desenvolver, com pequenos vilarejos formando-se ao seu redor. Na
mesma época, sumérios construíam os primeiros zigurates e egípcios enterravam
seus mortos junto com suas riquezas em túmulos de tijolos de barro.
2800 a.C. – 2600 a.C.
Período
conhecido como Kot Diji. Harappa torna-se um próspero centro econômico, dando
início à urbanização. Artesãos aprimoram suas técnicas e produzem peças
refinadas de cerâmica esmaltada, trabalhando com fornos em altas temperaturas.
Aumenta a quantidade de matérias-primas que chegam à cidade, em carroças e
barcos. Rodas feitas de terracota surgem neste período.
2600 a.C. – 1900 a.C.
É
o apogeu da civilização do Vale do Indo, com mais de 1.500 vilas espalhadas por
uma área muito maior do que a de todas as antigas civilizações juntas, com
exceção da China. As rotas comerciais chegam até o Golfo Pérsico, à Ásia
Central e à Mesopotâmia. Cidades amplas e bem planejadas multiplicam-se, com
sistemas de drenagem e prédios sofisticados.
1900. a.C. – 1300 a.C.
Uma
série de fatores ocasiona a queda de Harappa. Entre os motivos estão até
variações climáticas, que provocaram a seca do rio Sarasvati. Há indícios de
batalhas nos restos arqueológicos, mas pesquisadores não acreditam que a
civilização tenha sido aniquilada por outros povos. A cultura em torno do
Ganges assume a hegemonia.
1300 a.C. – 1000 a.C.
Uma
nova ordem social entra em vigor. Seguidores da religião védica, que falam
línguas indo-arianas, como o sânscrito, povoam o subcontinente indiano. O
urbanismo e a arte harappiana, no entanto, sobrevivem. Artesanatos continuam
sendo produzidos na regiãodo Vale do Indo, embora adaptados a novas exigências.
Surgem garrafas e contasde vidro. Mais tarde, desenvolvem, paralelamente ao
Ocidente, o aço.
A
sociedade das castas
Com
o fim de Harappa, a Índia foi retalhada. Surgiu em cena o modelo que bagunça a
estrutura social do país até hoje.
A
divisão da sociedade indiana em castas surgiu da turbulência social e das
invasões do subcontinente, logo após o declínio de Harappa. Foram criadas pelos
védicos (hindus), na tentativa de instaurar a ordem e acalmar os ânimos das
diferentes lideranças. A idéia era instituir territórios culturais das
linhagens familiares. No início, quatro castas foram estabelecidas a partir da
observação das aptidões naturais de cada grupo: brâhmanes, a classe dos sábios,
sacerdotes e professores, incumbidos da orientação espiritual e aconselhamento
dos governantes; kshatrias, a casta guerreira, encarregada de manter a ordem
política e garantir a proteção social; vayshias, composta por comerciantes,
artesãos e grandes proprietários de terras, responsáveis pela economia da
sociedade; e shudras,ou trabalhadores braçais,que deveriam seguir os desígnios
das outras três classes. De acordo com a teoria da invasão indo-ariana, esta
era a casta dos harappianos, depois que foram assimilados pelos védicos. Com o
passar dos anos, as castas multiplicaram-se e, hoje, estima-se que haja mais de
2000. Surgiram, por exemplo, os párias, cujo grau mais baixo é o dos chantalas
– ou intocáveis, pessoas sem função social, como mendigos e andarilhos. O
sistema das castas durou com relativa organização até o século 17, quando foram
declaradas hereditárias. Até então, havia alguma mobilidade e pessoas de uma
determinada classe poderiam ascender socialmente. Com a nova medida, a bagunça
foi geral. Chegou a tal ponto que, no século 19, o guru hindu Sri Ramakrishna
declarou o fim das estratificações. Oficialmente, porém, a estranha divisão da
sociedade perdurou até 1960, quando as castas foram finalmente banidas por lei.
Mas, na prática, a história é diferente. Até hoje elas são mantidas vivas pelo
preconceito e por iniciativas do próprio governo indiano, que cria empregos,
por exemplo, apenas para castas menos privilegiadas.
Que língua é essa?
Como
ninguém consegue decifrar o harappiano, a civilização do Vale do Indo permanece
envolta em mistérios que estão longe de serem desvendados.
O povo
de Harappa deixou ruínas de grandes cidades como herança arqueológica, mas a
única forma de escrita encontrada pelos pesquisadores são as pictografias dos
selos e outros ornamentos artesanais. Decifrá-las segue sendo o desafio de
estudiosos mundo afora. Primeiro, porque não existe – ou, pelo menos, não foi
descoberta – uma Pedra de Roseta que contenha inscrições em duas línguas para
ajudá-los a quebrar o código. Além disso, a variação de sinais dos milhares de
selos achados pelos arqueólogos é muito pequena – há uma média de cinco por
objeto, apenas, repetidos em outras peças. "Tudo indica que a disposição é
totalmente aleatória. Se alguém encontrar uma placa de automóvel daqui a
milhares de anos, por exemplo, dificilmente vai dizer que se trata de uma forma
de escrita", compara o professor Carlos Eduardo Barbosa.
É
certo que estes sinais foram amplamente difundidos na maioria das cidades da
civilização harappiana, por causa da unidade cultural e das necessidades
econômicas desses povos. A maior parte dos selos reproduz, também, figuras de
animais e objetos usados em rituais. A imagem de unicórnios é a mais comum
(aparece em 65% das peças), mas há desenhos de elefantes, búfalos, tigres,
rinocerontes e outros animais.
Uma
possibilidade sustentada por pesquisadores é a de a escrita harappiana ser a
forma arcaica de alguma língua dos dravidianos, que habitaram o norte e
noroeste do subcontinente. Como o balúchi por exemplo, que ainda é falado no
Baluchistão e em algumas partes do Irã. "Mas isso é apenas uma teoria. A
única coisa que podemos dizer é que são sinais escritos da direita para a
esquerda, assim como o árabe e ao contrário do sânscrito", avalia o
estudioso indiano, Iravatham Mahadevan. Mas ele ainda tem esperança de
encontrar a chave da antiga civilização. "Sempre existe a possibilidade de
se descobrir algo novo, um objeto ou mesmo uma tábua de argila bilíngue, em
lugares como o Oriente Próximo. Os harappianos fundaram espécies de colônias
por lá e é bem capaz de terem fabricado objetos com traduções na língua
local".
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(HARAPPA)
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quinta-feira, 16 de abril de 2020
A História dos zoológicos humanos
Zoológico humano de senegaleses na Bélgica.
Autora: Isabel Cristina S. Pedroso, estudante e colaboradora do Construindo História Hoje.
Os
zoológicos humanos surgiram em 1874, ano o qual o mundo vivia o
Neocolonialismo. Neste ano um vendedor de animais selvagens chamado Karl
Hagenbeck, resolveu apresentar à visitantes, nativos de Samoa e da Lapônia.
Diante do sucesso que obteve com essa exibição e outras, resolveu em 1876
encaminhar seu ajudante ao Sudão egípcio, com o objeto de trazer novos animais
para sua atração. Esse novo modelo de negócio se estendeu por variados países,
como Alemanha, Inglaterra, Noruega, França e entre outros. Assim, com essa
popularidade uma exibição qualquer recebia em torno de 300 mil espectadores, e
era perceptível que para a população ocidental os nativos eram inferiores e selvagens.
Esses visitantes arremessavam alimentos e itens sem valor, sem contar que falavam
sobre suas fisionomias, o comparando-os com primatas. As exposições tinha como objetivo
saciar o sadismo europeu que se consideravam superiores a outros povos, e estavam
cada vez mais espalhando pelo mundo, uma imagem de inferioridade dos nativos. Com
essa errônea animalização de outro ser, é absurdo perceber o quanto
jornalistas,
políticos ou
até cientistas não se comoveram com a atual situação dos nativos, em relação às
precárias condições sanitárias e moradia.
Até mesmo publicações
científicas apresentam o povo nativo como uma conquista colonial e um povo
medíocre, por exemplo a obra do Conde de Gobineau concretiza a desigualdade
racial, onde aponta diferenças da inteligência, força física e beleza das
formas, criando as noções de “raças superiores” e “raças inferiores”. O médico
Samuel George Morton afirmava que os crânios possuem diferentes tamanhos, e
quanto maior forem, maior o cérebro e a inteligência contida. Assim, Samuel,
abordava que os crânios de europeus e americanos eram significamente maiores do
que os de africanos, mongóis, tasmanianos e entre outros. Com isso, eram
considerados raças inferiores podendo serem escravizados e torturados, Samuel e
diversos outros médicos realizavam o racismo científico, trazendo abordagens
para os povos negros serem considerados "estranhos" e inferiores.
O
desenvolvimento científico na análise da espécie humana, fez com que fosse
visto a espécie humana como um todo, e diferentes etnias dentro da mesma, e
junto com a criação de universidades e colégios, auxiliou com que muitas
pessoas possuíssem consciência sobre isso. Hoje em dia não temos mais situações
como ao zoológico humano, mas pessoas negras ainda enfrentam diferentes
problemas na sociedade, como falta de empregabilidade, olhares de julgamentos,
falas desnecessárias sobre o cabelo ou cor de pele, e entre outras. Atos como
esses de 1874 jamais serão aceitos e cometidos novamente, já que hoje em dia
possuímos leis sobre os direitos humanos, como a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, criada após a Segunda Guerra Mundial em resposta às
atrocidades cometidas com os Judeus.
Isabel Cristina S. Pedroso
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