Estudar a história da
América antes da invasão europeia é uma tarefa difícil, pois
muitas sociedades ameríndias não deixaram textos escritos, e os documentos
encontrados até hoje sofreram diversas interpretações, o que dificulta um
percepção adequada de como os nativos americanos viviam. Devemos destacar ainda
que inúmeros povos desapareceram sem deixar muitos vestígios, tornando o estudo
complexo e sujeito a constantes revisões.
A procura e interpretação
desses vestígios feitos pelos arqueólogos que buscam, em
objetos, pinturas e outros registros, indícios de costumes, cultos religiosos,
hierarquia social, alimentação, hábitos funerários, entre outras pistas
possibilita-nos entender melhor as sociedades ameríndias anteriores à chegada
dos europeus. Durante um longo período, o continente americano foi povoado por
caçadores e coletores. Somente por volta de 5000 a.C. iniciou-se na região um
processo que culminou na agricultura. Esse processo não abrangeu todas as
sociedades, e aquelas que desenvolveram a agricultura não o fizeram da mesma
forma.
Enquanto alguns grupos de
nativos americanos mantiveram a caça e a coleta como
atividades principais – como foi o caso dos esquimós, que habitavam as regiões
geladas, outros incorporaram também a agricultura a suas atividades, por
exemplo, algumas sociedades indígenas brasileiras. Outras sociedades, como a
dos maias, astecas e incas, por sua vez, organizaram-se em torno de Estados,
com uma hierarquia bem definida e construção de grandes centros habitacionais e
áreas agrícolas capazes, inclusive, de produzir excedentes utilizados em
relações de troca de produtos.
Quando os europeus chegaram
à América no século XV, encontraram sociedades organizadas
vivendo na região da América do Norte, da Mesoamérica (terras do atual México e
parte da América Central) e na região andina (atuais territórios do Peru,
Equador, norte do Chile e Bolívia). Algumas
dessas culturas apresentavam sistemas de escrita, desenvolvimento
matemático e astronômico, calendários (muitos deles mais precisos que os dos
europeus) e grandes centros habitacionais que chegaram a surpreender os recém
chegados.
►Os maias: A
civilização maia desenvolveu-se na Península de Yucatán, onde hoje é o sul do
México, Guatemala, Belize e partes de El Salvador e Honduras. A data mais
antiga de uma inscrição maia e de 292 a.C., e foi encontrada em Tikal, atual
Guatemala. Contudo, sabe-se que essa civilização começou a se desenvolver muito
antes e foi influenciada culturalmente por povos que os antecederam na região,
destacando-se os olmecas, zapotecas e teotihuacanos. Sabe-se da existência de
mais de 50 centros maias que se sucederam em importância durante vários
períodos.
→ De 250 a 900, denominado
pelos historiadores de Período Clássico:
Tikal, Uaxactún e Piedras Negras, na Guatemala; Nakum, em Belize; Copán, em
Honduras; Palenque, Bonampak e Yaxchilán, no estado mexicano de Chiapas.
→ De 900 a 1250, (Período
Pós-Clássico), destacaram-se, na Península de Yucatán, os centros de
Chichén Itzá e Uxmal. A hegemonia de Chichén Itzá foi quebrada por volta de
1250 d.C. pela cidade de Mayapán.
A base da economia maia era
a agricultura. As terras eram cultivadas coletivamente, porém os camponeses
tinham de pagar tributos pelo seu uso, já que, em última instância, elas pertenciam
ao Estado. Do ponto de vista político, os centros urbanos estavam ligados a
vários tipos de ‘confederações’ ou ‘reinos’. Uma elite de sacerdotes e
militares detinha o poder e executava as cerimônias religiosas. Á frente dos
‘reinos’, estava o halac uinic (o ‘homem
verdadeiro’), uma espécie de rei-sacerdote. Corporações de artistas,
artesãos, camponeses e escravos completavam o quadro social. Os maias eram politeístas, sua religião
deificava a natureza e seus cultos eram singulares. Em falta de registros
precisos, não podemos afirmar com segurança quais foram os motivos que levaram
ao declínio da sociedade maia. Mas acreditasse que um processo de
desestruturação social iniciado em 900 d.C, levou a população a abandonar os
grandes centros urbanos e a dispersar-se. Somado isso a um período de seca que
assolou a América Central nesse período a fragmentação gradativa da sociedade
maia foi uma questão de tempo.
►Os astecas: ao
chegar ao México, vindos da região de Aztlán,
os astecas (ou mexicas),
guerreiros conquistadores, foram paulatinamente influenciados pelas culturas
toltecas e zapotecas, que já estavam em declínio. Por volta de 1325, os mexicas
fundaram Tenochtitlán, que se tornou uma das mais importantes cidades astecas.
Depois de violentas lutas durante o reinado de Itzcoatl (Serpente de
Obsidiana), este, em aliança com o governador de Texcoco, formou a Tríplice
Aliança (Tenochtitlán, Texcoco e Tlacopán). O fortalecimento militar, combinado
com a confiança que tinham em seu próprio destino, possibilitou a contínua
expansão política e econômica. Povos de línguas e costumes diferentes foram
submetidos pelos mexicas (Astecas). Com relação a estrutura social sabe-se que
a sociedade asteca era estratificada e diretamente relacionada com a hierarquia
política e econômica. O grupo dominante, dividido em vários níveis
hierárquicos, referencias e cargos e títulos diversos, controlava os altos
cargos administrativos e não pagava tributos. Ciosos de seus privilégios, os
nobres teriam forjado a imagem de que eles eram os responsáveis pela
urbanização e embelezamento da cidade, pelo estabelecimento de rotas
comerciais, por artes e ofício, pela propagação da língua náhuatl,
pela boa administração e pela manutenção e renovação do Sol e da humanidade por
intermédio das oferendas, cujo objetivo era a restauração da energia divina. O
poder político era centralizado e o tlatoani (aquele que comanda) era eleito
vitaliciamente pela elite mexica. Os mexicas estabeleceram uma intensa área de
comércio. Os comerciantes
chamados pochtecas,
constituíam um grupo social a parte, que, além dos produtos trazidos pelos
mercadores recebiam tributos pagos pelos povos dominados.
Os astecas adotavam um calendário solar
com 18 meses de 20 dias, mais um décimo nono mês de cinco dias, perfazendo 365
dias.
Sua arquitetura era
grandiosa sofisticada. A cidade de Tenochtitlán tinha pontes,
canais, calçadas, praças e avenidas. Os
manuscritos hieroglíficos e pictográficos (chamados códices) atestam a
habilidade dos escribas-pintores.
Já a
religião mexica caracterizou-se pela variedade de manifestações, pelo
politeísmo, pela origem heterogênea e pelos sacrifícios aos deuses. Os astecas
empreendiam as chamadas ‘guerras floridas’ para conseguir prisioneiros que,
depois, seriam sacrificados.
►Os incas: Na
região da Cordilheira dos Andes, na
costa oeste da América, desenvolveu-se um grande império: ou Império de Tawantinsuyu – que significa
‘quatro caminhos’ -, também chamado de Império Inca. A origem dos incas é
incerta, mas sabe-se que eles estabeleceram na região a partir do século XIV,
tendo Cuzco como o centro de seu
império. Ao longo do século XIV, uma
série de monarcas guerreiros conquistou a hegemonia local e Cuzco passou a
ser o centro do mundo incaico. A maioria da população inca vivia em uma
multiplicidade de pequenas coletividades agropastoris. O chefe do ayllu era o kuraka, que, entre outras funções, distribuía terras, organizava os
trabalhos coletivos e era responsável pela resolução dos conflitos. O
território do ayllu chamava-se marca. Cada família tinha, para usufruto, lotes
de terra. Extensas áreas de estepes eram utilizadas coletivamente para a
atividade agropastoril, com a criação da alpaca e da lhama animais típicos da
região. A terra, em última instância,
pertencia ao Império Inca, que recebia parte da produção e tinha o direito
de exigir a prestação de serviços dos súditos. Todos tinham de trabalhar,
somente os inválidos e doentes estavam dispensados. Os instrumentos de trabalho
eram simples, como a enxada de madeira chamada taclla. Cultivavam cerca de 300 variedades de batatas, plantavam
milho nos vales mais quentes, produziam uma bebida chamada chicha. Nas áreas úmidas produziam a coca, a mastigação dessa
planta reduzia a fome e o cansaço e possuía importância em seus rituais
religiosos. Produziam a quinoa o arroz
andino. As técnicas agrícolas eram avançadas, com a construção de terraços
e canais. O guano (excremento de ave
marinha) era utilizado como fertilizante.
A sociedade inca era
hierarquizada e subdividia-se: No topo da pirâmide social
estava o sapa inca ( o ‘único inca’), soberano absoluto e adorado como um deus.
Os incas construíram estradas pavimentadas, criaram um sistema de correio. Os
templos e palácios bem como as fortalezas, destacavam-se, ainda hoje, pelas
técnicas de construção. Os incas integraram as construções às paisagens
andinas, como podemos observar em Machu
Picchu e Ollantaitambo.
Produziam cerâmica e tecidos. Quanto a religião, os incas eram politeístas e
idólatras. Cultuavam o deus Sol (Inti) que
ocupava um lugar de destaque no panteão andino. Acreditavam em um deus criador Viracocha, cultuavam os mortos e
realizavam sacrifícios principalmente de animais, mas também de humanos. Os
soberanos eram mumificados e guardados no templo do Sol. Procissões,
sacrifícios, danças, jejum e abstinência sexual caracterizavam o ritual dos
diversos festivais religiosos.