Imagens
do êxodo palestino em 1948.
No dia 29 de novembro de
1947, as Nações Unidas recomendaram a partilha da Palestina em dois Estados, um
judeu e um árabe. Esse plano jamais foi integralmente implementado, no entanto,
criou o cenário da guerra de 1948, durante a qual Israel foi unilateralmente
estabelecido como um Estado judeu no dia 15 de maio, mediante a limpeza étnica
de mais de três quartos do povo palestino, confiscando suas terras e impedindo
o seu retorno. Essa guerra é lembrada pelos palestinos como a Nakba (catástrofe) e deu início a
mais longa ocupação no mundo contemporâneo, a qual já dura 65 anos. Desde
então, as políticas e práticas israelenses violam a lei internacional,
incluindo a Quarta Convenção de Genebra e a Convenção Internacional de
Supressão e Punição do Crime de Apartheid.
I-
A Palestina Árabe
A derrota que os árabes
impuseram ao domínio bizantino na Palestina, confirmado entre os anos 633 e 638
da era cristã, foi bem recebida pela população local, tanto por cristãos como
por judeus e samaritanos, que ainda eram grupos numericamente importantes na
região. Estes últimos grupos tinham todos os motivos para preferir a
organização árabe, vítimas que já eram da intensa perseguição cristã, que só
pioraria com os séculos (aliás, no início do período árabe na Palestina—que se
estenderia pelos próximos 1.300 anos–, uma pequena população judaica voltaria a
se estabelecer em paz em Jerusalém, depois de 500 anos de ausência, que datavam
da sangrenta expulsão que os romanos lhe haviam imposto no segundo século da
era cristã). O período árabe também foi bem recebido pelos cristãos da região,
que “eram arameus [e] não ficaram incomodados pela organização árabe, pois a
etnia era semelhante, de origem semítica”, não tendo eles “motivos para gostar
da administração bizantina, de origem romana, não semítica”1. Na Palestina
árabe, apesar de um imposto específico para judeus e cristãos, eles gozavam de
proteção como “Povos do Livro”, e a atmosfera não tinha muito em comum com o
regime de terrorífica perseguição que se instalaria nas regiões controladas
pelo Cristianismo. A Sura 2 de Maomé explicitamente rejeita a conversão e o
proselitismo violento: “Não obrigueis ninguém em assuntos de religião”. A
violência sectária só voltaria a se disseminar na Terra Santa com as empresas
cristãs de conquista conhecidas como Cruzadas, a primeira das quais foi
proclamada pelo Papa Urbano II em 1095 e resultou no estabelecimento do “Reino
de Jerusalém”, em 1099, uma fortaleza de reduzidas relações com seu entorno
árabe, ironicamente semelhante, neste aspecto, ao enjaulamento que as construções
israelenses ilegais hoje impõem a Jerusalém.
As cruzadas à Palestina
enfrentariam os muçulmanos locais aos invasores cristãos, com a pequena
população judaica da região frequentemente lutando ao lado daqueles contra
estes, como em 1099, em Jerusalém, e em 1100, em Haifa. No século XII, na época
da Segunda Cruzada, os muçulmanos se reunificam politicamente sob o comando do
General Saladino, curdo nascido em Cairo. Saladino recupera Damasco (1174),
Acre, Jafa, Beirute, e a própria Jerusalém, em 1187. Na Terceira Cruzada,
Ricardo Coração de Leão derrotaria Saladino, forçando-o a negociar e celebrar o
tratado de paz que “abriu caminho a um período de calmaria militar e tolerância
religiosa na Palestina”2, permitindo aos cristãos visitar os lugares sagrados.
A Quarta Cruzada (1199) planejava tomar o Egito por mar, mas fez um desvio para
a região da atual Turquia, instalando o Império Latino de Constantinopla. A
Palestina só voltaria a ser afetada pela Cruzada de Federico II que, conhecedor
da língua árabe, foi capaz de “obter do sultão a entrega pacífica, embora
condicionada, de várias terras e das cidades de Belém, Nazaré e Jerusalém, onde
o imperador entrou e foi coroado em 1229”3. Já em 1244, Jerusalém voltaria ao
poder dos árabes, e o último reduto cristão na Palestina, São João de Acre,
cairia em 1291. O controle de toda a área entre o Jordão e o Mar
Mediterrâneo—os atuais territórios de Israel e da Palestina
Ocupada—permaneceria em mãos árabes até a invasão turco-otomana, em 1517. Mesmo
durante o período marcado pela sua incorporação ao Império Turco-Otomano (de
1517 até 1917, com uma interrupção egípcia durante a década de 1830), a
Palestina manteria sua enorme maioria árabe, organizada segundo laços sociais
bem arraigados na região, que o império turco não alteraria significativamente.
As sucessivas demonstrações
de desmemória na política ocidental para o Oriente Médio contrastam com o forte
arraigo que certos eventos históricos possuem na reminiscência das massas
árabes. Em 1993, acusado de estar celebrando com os israelenses, em Oslo, um
tratado que não concedia nada aos palestinos e o instalava na posição de cão de
guarda de Israel, o líder Yasser Arafat insistia, um pouco pateticamente (dadas
as condições em que negociava), que ele não celebraria qualquer paz, mas “a paz
de Saladino”. O leitor dos EUA não tinha a menor noção do que se referenciava
ali, mas o povo árabe não deixava de notar a ironia involuntária da impotente
insistência de Arafat na menção a Saladino. Antes de entrar no período histórico
que imediatamente influencia o curso dos acontecimentos que nos ocupam,
portanto, é boa ideia lembrar alguns fatos que se desprendem desse esquemático
sumário de alguns séculos de história palestina. Inicia-se no século VII uma
intensa arabização da região, que já era visível em séculos anteriores a Maomé,
mas que solidifica suas raízes com a chegada dos árabes a Jerusalém, em 638, e
a construção da mesquita Al-Aqsa. Durante os próximos 1.300 anos os árabes
serão a grande maioria em toda a região da Palestina. No período das Cruzadas,
estima-se que havia em torno de 1.000 famílias judias na região.4 Em 1914, já
depois das primeiras ondas migratórias estimuladas pelo sionismo, a Palestina
(ainda, naquele momento, sob domínio otomano) tinha uma população de 657.000
árabes muçulmanos, 81.000 árabes cristãos e 59.000 judeus.5 De acordo com o
censo da Palestina de 1922, feito pelos britânicos, a população era 78%
muçulmana, 9,6% cristã (árabe, claro) e 11% judaica. No entanto, no jornalismo
“ponderado” sobre a região, mesmo depois de 60 anos de limpeza étnica e 43 anos
de ocupação ilegal, você verá desinformados funcionários da grande mídia
dissertando, “mui ponderadamente”, sobre os “direitos” dos dois povos sobre a
Palestina.
O domínio otomano sobre a
Palestina dura de 1517 a 1917, com uma interrupção de 10 anos de administração
egípcia na década de 1830. A submissão ao império turco não altera de forma
significativa o regime de posse baseado na renda agrícola das terras, já
visível no período do sultanato, anterior aos otomanos. Esse sistema
relativamente descentralizado de vilas e aldeias, com arrecadação por senhores
de terras e trabalho de cultivo por lavradores, arraiga-se na região e ajuda a
explicar o terror dos palestinos com—e sua impotência para se defender contra—a
violenta campanha de confisco de terras e separação de raças que se inicia com
o armamento dos sionistas, nas décadas que antecedem a fundação do estado de
Israel. Nas primeiras décadas do século XX, o sionismo armado traria à região um
modelo eminentemente europeu de organização territorial e compreensão do
espaço, caracterizado pela acumulação, posse e construção de barrreiras
fronteiriças. Munidos desse olhar que historicamente relativiza os fatos, nos
preparamos para explicar alguns “mistérios” que cercam a história recente: como
foi possível que metade de uma população árabe palestina que já se media em bem
mais de um milhão tenha sido expulsa tão rapidamente por algumas dezenas de
milhares de colonos sionistas? Como foi possível que o nascente estado judeu
tenha adquirido uma supremacia tão incontestável no conflito com seus vizinhos
árabes e com os palestinos? Para repetir a pergunta que abre um artigo já
clássico de Walid Khalidi: Por que os palestinos foram embora?6Observando a realidade
relativamente fluida de comunicação entre as aldeias árabes, a intensa
organização acumuladora de terras e de armas entre os colonos sionistas e o
papel das grandes potências–particularmente da Grã-Bretanha—no processo,
começamos a vislumbrar a explicação, que só se completará, claro, com um estudo
do que aconteceu em 1948. A compreensão dessa diferença nos regimes de posse da
terra, no entanto, é parte da explicação da vitória sionista. Essa explicação,
aliás, não tem a menor necessidade de recorrer a estereótipos antissemitas do
judeu mais esperto ou conspirador, nem a estereótipos antissemitas do árabe
mais atrasado ou indolente, nem a falsificações da mitologia oficial
israelense, que repetiram durante décadas que os palestinos saíram voluntariamente
ou obedecendo a misteriosas ordens radiofônicas dos próprios árabes, mentiras
já cabalmente corrigidas pela própria historiografia israelense.
531
aldeias palestinas foram destruídas no Nakba.
II
– Da Declaração de Balfour (1917) à Palestina do Mandato Britânico (1922-48)
Quando se estuda o processo
histórico pelo qual se chegou à atual, desastrada situação na Terra Santa,
salta aos olhos a responsabilidade das potências ocidentais que, ao longo do
século XX (para nos atermos à história mais recente), jogaram um jogo duplo,
perigoso e marcado pela reversão do que se havia dito antes. Pensando em seu
próprio interesse e em completa desconsideração pelo destino de milhões de
civis inocentes, a Grã-Bretanha literalmente toca fogo na região, ao fazer promessas
contraditórias aos povos árabes e ao movimento sionista. O reino de Sua
Majestade não possui sequer a desculpa de que se tratava de uma causa nobre.
Era 1916 e 1917, e tratava-se da consolidação de sua coalizão na Primeira
Guerra Mundial. Ao contrário da Segunda Guerra, defensável como reação legítima
à agressão nazi-fascista, a Primeira é um típico conflito
napoleônico-clausewitziano moderno, um choque entre impérios. A Turquia, aliada
dos alemães, mantinha a Palestina árabe sob o seu império otomano (como se viu
acima, um jugo relativamente frouxo, onde a vida palestina seguia com
considerável autonomia, situação que nem de longe tinha nada em comum com o
horror das posteriores expulsão e ocupação israelenses). Interessada em atrair
os árabes, a Grã-Bretanha promete para depois da guerra, em correspondência
oficial entre Sir Henry Mac Mahon e o xeque Hussein, de Meca, a criação de um
estado independente nas províncias do império turco em que se falava o árabe. A
luta dos árabes contra a dominação otomana acabaria sendo decisiva para a
vitória de seus aliados britânicos naquele front. Toda a evidência histórica
demonstra que as lideranças árabes esperavam que os britânicos cumprissem sua
palavra e confirmassem o estado árabe independente depois da guerra. Não foi o
que aconteceu.
Ter prometido algo aos
árabes não impediu que a Grã-Bretanha celebrasse com a sua aliada França um
tratado contraditório com a promessa anterior. Os acordos de Sykes-Picot, de
1916, entre Grã-Bretanha e França, reservavam aos franceses a Síria e o Líbano.
Em 1917, as forças otomanas se rendem ao general britânico Allenby em Jerusalém
e em 1918 se confirma o fim do regime otomano na Palestina. O Tratado de
Versalhes, de 1919, selaria o arranjo de Sykes-Picot entre França e Grã-Bretanha,
deixando aos britânicos a área da Jordânia (então chamada de Transjordânia), do
Iraque e da Palestina. A Liga das Nações, fundada depois da guerra, avalizaria
esse arranjo, segundo o qual as duas potências ocidentais se responsabilizariam
por um “mandato” temporário sobre essas regiões, até a sua independência
formal. Em 22 de julho de 1922, a Liga das Nações aprova o mandato britânico na
Palestina, que deixaria como legado o progressivo armamento dos colonizadores
sionistas e a catástrofe palestina de 1948.
Ao mesmo tempo em que
prometia independência aos árabes, o império britânico fazia sua famosa
promessa ao movimento sionista internacional, a Declaração de Balfour (1917),
patentemente contraditória com a promessa feita aos árabes e com o próprio
arranjo subjacente a Sykes-Picot e a Versalhes. Enviada pelo secretário
exterior britânico Arthur James Balfour ao Barão Rotschild, para transmissão à
Federação Sionista da Grã-Bretanha e da Irlanda, a declaração mudaria a
história do Oriente Médio: “O governo de Sua Majestade vê favoravelmente o
estabelecimento na Palestina de um lar nacional para o povo judeu, e usará seus
melhores esforços para facilitar a realização desse objetivo, ficando
claramente entendido que nada será feito que possa prejudicar os direitos civis
e religiosos das comunidades não judias existentes na Palestina, ou os direitos
e status político desfrutados por judeus em qualquer outro país”. Apesar de que
a declaração mencionava a preservação de todos os direitos da população nativa,
é evidente que “Balfour não tinha nenhum interesse em consultar os árabes da
Palestina acerca de seu futuro”7. Em suas memórias, Lloyd-George,
primeiro-ministro em 1917, se refere à declaração como uma recompensa a Chaim
Weizmann, um dos líderes sionistas mais importantes daquele momento (depois
primeiro presidente de Israel) e químico que havia desenvolvido um método de
sintetizar a acetona na produção de pólvora. A declaração também está inserida
na tentativa de mobilizar as comunidades judaicas da Rússia e dos EUA no apoio
aos esforços de guerra britânicos, e termina sendo um enorme estímulo ao
movimento sionista. Depois da vitória aliada, o próprio Chaim Weizmann
participaria da Conferência de Paz de Paris, em 1919, clamando por uma
“Palestina tão judia como a Inglaterra é inglesa”8, num momento em que os
judeus representavam não mais que 10% da população da Palestina. No ano
seguinte, fundava-se na Palestina a Hagana, organização paramilitar judaica
depois responsável pelo extermínio ou limpeza étnica de centenas de aldeias
palestinas.
Só depois de três décadas
(1880-1910) de migração, compra de terras e armamento sionistas é que aparecem
os primeiros registros de preocupação entre as lideranças palestinas. Em 06 de
maio de 1911, o palestino e membro do parlamento otomano, Said al-Husayni,
apontava que “os judeus planejam criar um estado na área que incluirá a
Palestina, a Síria e o Iraque”9. Segundo o historiador israelense Ilan Pappe,
já entre 1905 e 1910 há alguma evidência de discussão, entre líderes
palestinos, do fenômeno do sionismo como movimento político que acumulava poder
e terra. Mas só a partir da queda do regime otomano na Palestina (1917) e o
começo do período britânico (ocupação em 1918, mandato da Liga das Nações em
1922), o movimento sionista se lançaria paulatinamente a um plano de limpeza
étnica dos árabes. Ali passa a ser visível a preocupação sistemática e, por
vezes, o pânico das lideranças palestinas com as ondas migratórias, a
acumulação de terras e a violência física que se iniciava. Mas ao longo das
duas últimas décadas do século XIX e das duas primeiras do século XX, a
imigração sionista não esteve entre as grandes preocupações dos palestinos.
Campo
de refugiados Nahr al-Barid, Líbano, inverno de 1948
Na década de 1920, os
palestinos representavam ainda uma maioria de 80% a 90% na região. A tentativa
inglesa de construir estruturas paritárias que reconciliassem as promessas
contraditórias feitas por eles ao povo árabe e ao movimento sionista encontrou
compreensível resistência entre os palestinos, que “se recusaram, no começo, a
aceitar a sugestão britânica de paridade, especialmente uma paridade que os
colocava na prática em desvantagem—o que incentivou os líderes sionistas a
endossarem-na”10. Começa a se desenhar ali um paradigma que seria reconhecível
até os dias de hoje: 1) instala-se uma mediação ocidental que recomenda uma
solução patentemente favorável ao sionismo; 2) os árabes protestam, apontando,
como no caso em questão, que a paridade entre um povo que representa 90% da
população e outro que totaliza 10% contraria o mais elementar princípio da
democracia; 3) a liderança sionista, com intenso trabalho de relações públicas,
manifesta concordância tática com a solução apresentada, sabendo que a recusa
árabe os coloca na posição de, ao mesmo tempo, aceitar um plano e não se
comprometer com ele; 4) enfraquecidos politica e militarmente, os
representantes árabes voltam atrás e aceitam a solução originalmente
apresentada pela potência ocidental; 5) ante a concordância árabe com o plano,
é a vez da liderança sionista dizer que a solução lhe é inaceitável, o que lhe
permite arrastar o impasse e, a partir de sua posição de força, aboncanhar mais
e mais, ao mesmo tempo em que adia outra vez uma solução definitiva; a vitória
não impede que a liderança sionista prolongue o impasse, reinstalado por um
aumento das suas exigências; 6) esse prolongamento faz com que todo o ciclo se
reinicie, com mais concessões árabes e mais impasse, até o ponto a que chegamos
hoje, em que a população palestina já não tem o que oferecer, exceto alguma
forma mágica de desaparição. Esse filme se repete com macabra previsibilidade,
ante o olhar conivente das potências cúmplices (Grã-Bretanha e, depois, os
EUA), desde 1928, vinte anos antes da fundação do estado de Israel. É a data em
que as lideranças palestinas, “apreensivas com a crescente imigração judia ao
país e com a expansão de seus assentamentos colonizadores, concordam com a
fórmula [paritária] como uma base para as negociações”11. É a data em que os
sionistas já não a aceitam e os britânicos permanecem de braços cruzados. Esses
mesmos sete passos se repetirão em 1947-48, no episódio que os apologistas da
ocupação israelense descrevem como o momento em que as Nações Unidas ofereceram
um plano de partição “que os judeus aceitaram e os árabes recusaram”. Já
veremos adiante todo o contexto que essa frase omite.
Entre 1924 e 1928 chegam
mais 67.000 judeus (metade dos quais oriundos da Polônia), elevando a população
judaica para 16% do total da Palestina do Mandato. Naquele momento, os judeus
são donos de 4% da terra na Palestina. O censo de 1931 registra uma população
de 1,03 milhão de almas, 16,9% judeus. A não implementação, por parte da
Grã-Bretanha, da fórmula paritária que ela própria havia proposto, leva à
rebelião árabe de 1929, o primeiro grande sinal de descontentamento com a
política imposta no Mandato. Imagine um povo que representa quase 85% da
população se rebelando, em sua própria terra, para ter a paridade que lhe havia
sido proposta com os outros 15% que acabavam de chegar. Agora imagine que a
autoridade administrativa responsável pela proposta se beneficiara da
colaboração desse povo, como aliado seu, numa guerra mundial, e que a moeda de
troca oferecida por essa colaboração não era paridade nenhuma, mas um estado
seu, autônomo, em suas terras. Com isso você terá os elementos centrais para
entender a primeira rebelião de desobediência civil árabe na Palestina moderna.
Os confrontos em torno ao Muro das Lamentações em 1929 levam à morte de 133
judeus e 116 árabes, a maioria por mãos inglesas.12 Em 1931, funda-se o Irgun,
outra organização paramilitar judia que se caracterizaria pelos ataques
sangrentos aos árabes.
Ao se completar uma década e
meia da queda do regime otomano e uma década da implantação do Mandato
Britânico na Palestina, vão se configurando os elementos que produziriam a
tragédia: 1) o fim da ameaça otomana ao sionismo, que depois de 15 anos já não
tem que temer qualquer eventual expulsão sua da Palestina vinda do regime de
Istambul; 2) o pesado armamento de grupos paramilitares sionistas como a Hagana
e o Irgun, que vão acentuando a escolha por conquista e violência; 3) a
perplexidade das lideranças palestinas, arraigadas em séculos de organização
social descentralizada e não equipadas por sua experiência para se contrapor de
forma efetiva à ofensiva territorial e armamentista do sionismo; 4) a
incapacidade de setores das elites árabes de perceber a natureza do fenômeno
sionista, vendo-o muito mais como uma “tentativa irresponsável por parte da
Europa de transferir ao país o seu povo mais pobre e sem estado”13; e
evidentemente 5) a subida ao poder do Partido Nacional Socialista alemão, que
em menos de uma década alçaria 19 séculos de antissemitismo a níveis jamais
vistos, com a intensa campanha de perseguições, agressões bélicas e matanças
que culmina, já numa Europa em guerra, com o genocídio de 6 milhões de judeus.
Poster
da organização paramilitar judaica Irgun, 1937.
Qual é, então, a Palestina
que assiste à invasão hitlerista da Polônia que dá início à Segunda Guerra
Mundial em 1939? Robert Fisk acerta ao descrevê-la como presa a uma “atmosfera
de suspeita, paranóia e intenso sofrimento”, tanto para árabes como para
judeus, “os primeiros com medo de a Grã-Bretanha acabar autorizando a fundação
do estado israelense em suas terras, e os segundos observando a aniquilação de
sua raça na Europa”14. Não há dúvidas de que, na medida em que vão ficando
visíveis as dimensões do Holocausto judeu na Europa, reforça-se a percepção
sionista de que a implantação de seu estado na Palestina é uma questão de
sobrevivência. Mas antes mesmo do início da Segunda Guerra Mundial, em 1938, a
voz de historiadores como George Antonius já se levantava contra a eventual
“resolução” do problema às custas dos árabes palestinos:
O tratamento dado aos judeus
da Alemanha e outros países europeus é uma vergonha para seus autores e para a
civilização moderna; mas a posteridade não exonerará nenhum país que não
consiga enfrentar sua parte dos sacrifícios necessários para aliviar o
sofrimento e a angústia dos judeus. Impor a maior parte da carga à Palestina
árabe é uma miserável forma de esquivar-se das responsabilidades que deveriam
recair sobre todo o mundo civilizado. Também é moralmente vergonhoso. Nenhum
código moral pode justificar a perseguição de um povo em uma tentativa de pôr
fim à perseguição de outro. O remédio para a expulsão dos judeus da Alemanha
não deve ser buscado na expulsão dos árabes de sua pátria; e também não se
conseguirá o alívio da angústia dos judeus às custas da angústia de um povo
inocente e pacífico.15
Seria difícil formular o
protesto em termos mais claros e moralmente firmes que os de Antonius. Suas
palavras datam de 1938 e são, portanto, anteriores à guerra e aos horrores dos
fornos crematórios nazistas; precedem, em uma década inteira, a fundação do
estado de Israel e a expulsão de 750.000 palestinos de suas terras. Mais de
sete décadas depois de enunciadas, elas ainda ecoam em sua atualidade e retidão
ética.
III
– A responsabilidade da diplomacia brasileira no Nakba: Oswaldo Aranha
Antes de transferir a
questão da Palestina às mãos das Nações Unidas, em fevereiro de 1947, os
ingleses apresentaram a proposta de um estado binacional, rejeitada pelos
sionistas. Na mitologia oficial israelense, é frequente a referência à rejeição
árabe do plano de partição apresentado pela ONU em 1947, mas é muito menos
comum qualquer menção à rejeição sionista do plano inglês de um estado
binacional. Já antes da transferência da questão à ONU, a liderança sionista
tinha bastante claro que a Grã-Bretanha saía da Segunda Guerra Mundial como uma
potência de segunda ordem, muito mais interessada, portanto, em abandonar o
imbróglio da Palestina que em ajudar a resolvê-lo. Também já estava claro para
os sionistas que só restavam os britânicos entre eles e a execução do plano de
limpeza étnica, e que a saída britânica da região era iminente. O imperialismo
ocidental mais uma vez largava um desastre de sua criação nas mãos de uma população
nativa não equipada para resolvê-lo. Qualquer semelhança com o Iraque atual não
é mera coincidência.
O Brasil também tem sua
responsabilidade histórica no arranjo que produz a catástrofe palestina. Foi
Oswaldo Aranha, diplomata brasileiro, quem presidiu as discussões que levariam
à fundação do estado de Israel. Até mesmo a hagiográfica biografia de Aranha
escrita pelo norte-americano Stanley Hilton dá alguma ideia do que foram as
manobras do diplomata brasileiro. Convocado pelo general Dutra em 1947, Aranha
seria o representante brasileiro no Conselho de Segurança da recém fundada
Organização das Nações Unidas. Depois, seria eleito presidente da sessão
especial da Assembleia Geral encarregada de discutir o problema da Palestina.
Aranha prometeria aos representantes árabes “plena liberdade de discussão” do
tema, logo depois que a Assembleia rejeitara uma proposta árabe para que se
incluísse na agenda a questão da independência da Palestina. Não foi o que
aconteceu. Ante a observação do Grã Mufti de Jerusalém, de que “os judeus
queriam se apoderar da Palestina para sua maior expansão na região”, Aranha
retrucou que “a opinião do Mufti não me interessa”16. A recomendação do comitê
enviado à Palestina foi favorável ao ponto de vista sionista, ou seja, a partilha,
por uma maioria de sete votos (num total de onze). Mas na Asssembleia Geral,
vinte países se abstiveram e a recomendação não teve os dois terços
necessários. Hilton relata que os últimos dias de novembro foram de crescente
tensão, e que apesar das declarações públicas de Aranha, de que não exerceria
nenhuma influência, sua atuação nos bastidores era fortemente alinhada com os
sionistas, fato reconhecido por Abba Eban, membro da equipe negociadora da
Agência Judaica na ONU17.
Quando a liderança sionista
percebe que ainda não detinha a maioria, inicia uma manobra pelo adiamento da
votação. Aranha “inteirado da situação, usou de sua autoridade para ajudar:
quando terminaram alguns discursos protelatórios encomendados, anunciou ‘com
irreverência’ que, sendo período de férias nos Estados Unidos, seria justo que
a Assembleia o respeitasse e suspendeu a sessão”18. Quando se reabriram os
trabalhos, no dia 29 de novembro, eram os árabes que sentiam que haviam perdido
terreno. Tentaram adiar o voto. Aranha ignorou uma moção do Irã, que pedia um
reexame da questão palestina e um adiamento dos trabalhos para janeiro de 1948.
Aranha, que tinha “a mão mais rápida no martelo que já vi”, segundo a expressão
de Abba Eban, procedeu a conduzir a votação, que aprovou a partição da
Palestina por 33 votos a favor, 13 contra e 10 abstenções. Note-se aí, claro, a
limitada representatividade da ONU naquele momento anterior à descolonização na
África e Ásia. Os árabes, num padrão que se repetiria ao longo do anos,
deixaram o espaço livre para os sionistas ao se retirarem do recinto. Chaim
Weizmann, que seria o primeiro presidente de Israel, testemunhou a Aranha que
“a sessão da Assembleia não poderia ter terminado com esta decisão histórica
[...] se não fosse vosso esforço persistente e vossa devoção como
presidente”19.
Musa
Kazim al-Husseini, ex-prefeito de Jerusalém, espancado por tropas inglesas.
Em 29 de novembro de 1947,
quando a ONU adotou a resolução de partição da Palestina, os árabes
representavam dois terços da população da região. Eles eram aproximadamente 90%
no início do Mandato Britânico, em 1922. A partição proposta pelo Comitê Especial
das Nações Unidas para a Palestina (UNSCOP, pela sigla em inglês) concedia ao
terço judeu nada menos que 56% do território, deixando aos dois terços árabes
somente 44% da terra. Por pressões do Vaticano e das nações católicas, a
resolução da partição reservava à cidade de Jerusalém (de população de 200.000
pessoas, divididas mais ou menos igualmente entre árabes e judeus) a condição
de área internacionalmente governada. A divisão demográfica dos dois putativos
países era bizarra: no estado árabe, deveriam viver 818.000 palestinos,
hospedando 10.000 judeus. No estado judeu, viveriam 438.000 palestinos entre
499.000 judeus. Esse estado detinha a esmagadora maioria das terra férteis e,
das 1.200 aldeias palestinas, aproximadamente 400 estavam incluídas em seu interior,
sob soberania sionista20.
Elaborada pelo UNSCOP, cujos membros não sabiam muito
sobre a Palestina, a partição se transformaria na Resolução 181 da ONU. Não é
de se estranhar que a liderança palestina do momento a rejeitasse. Com o
boicote palestino ao UNSCOP, com certeza um erro político grave, a liderança
sionista, de ampla superioridade bélica, se viu livre para dominar também o
jogo diplomático.
A amarga ironia da história,
quando a vemos do ponto de vista árabe, é que, como já argumentou a própria
historiografia israelense (Simcha Flapan, por exemplo), se os palestinos
tivessem aceitado a partição, a liderança sionista com certeza a teria
rejeitado21. Basta examinar as comunicações entre Ben-Gurion e a hierarquia
sionista para ver como a rejeição árabe ao plano de partição permitiu ao
sionismo aceitá-lo publicamente e ao mesmo tempo trabalhar contra ele. Logo
depois da adoção da Resolução 181, Ben-Gurion afirmava ao círculo da liderança
sionista que a rejeição árabe ao plano significava que “não há fronteiras
territoriais para o futuro estado judeu” e que as fronteiras “serão
determinadas pela força e não pela resolução de partição” (p.37). Respondendo a
um líder sionista e ministro do exterior (Moshe Sharett) acerca das
possibilidades de defender o seu território, Ben-Gurion afirmava: “seremos
capazes não só de nos defendermos, mas de infligir golpes letais aos sírios em
seu próprio país—e tomar a Palestina como um todo” (p.46). Essas comunicações,
disponíveis para consulta nos próprios arquivos israelenses, demonstram
claramente que a liderança sionista viu o plano de partição como uma conquista
tática, que colocava em definitivo sobre a mesa a legitimidade de um estado
judeu na Palestina e estabelecia um trampolim para conquistas posteriores. Essas
conquistas, é certo, foram facilitadas pelo perplexo boicote palestino ao
Comitê da ONU. Reitere-se, então, que as citações de Ben-Gurion acima são parte
de uma ampla documentação que prova que a liderança sionista jogou um jogo
duplo e não se comprometeu com a partição como fórmula definitiva. Isso jamais
é mencionado pelos apologistas da ocupação de Israel que repetem a consigna de
que “os judeus aceitaram a partição de 1947 e os árabes a rejeitaram” como
justificativa dos crimes cometidos por Israel em 2010, e bem além dos limites
dessa partição.
Antes de descrever a
expulsão dos palestinos de suas terras, mais um elemento do xadrez político
legado pelo Mandato Britânico deve ser explicado: o acordo sionista-jordaniano
que deixa os palestinos sem o apoio do principal exército árabe na Guerra de
1948 e à mercê do superior poder bélico sionista. Aliada dos ingleses na
Primeira Guerra Mundial, a família real Hashemita havia recebido os reinos da
Jordânia e do Iraque como recompensa por seus serviços. O que passou a ser
conhecido como Transjordânia “era um pouco mais que um principado desértico e
árido ao leste do Rio Jordão, cheio de tribos beduínas e aldeias circassianas”
(p.43). As férteis terras da Palestina situadas a oeste do Rio Jordão, no que
hoje é conhecido como Cisjordânia (ou seja, o grosso do território do que é,
legalmente, a Palestina atual), passaram a ser objeto da cobiça da família real
Hashemita. Havia poucos judeus ali, e entre 1946 e 1947 a realeza jordaniana e
a liderança sionista chegaram um acordo: os jordanianos não interfeririam na
guerra árabe-israelense que se avizinhava—promessa que os jordanianos
cumpriram—e a região da Cisjordânia seria anexada pelo reino dos Hashemitas,
sem interferência sionista—promessa que os israelenses quebraram em 1967, ao
ocupar o território e mantê-lo sob seu controle, picotagem policial e
colonização armada até hoje. Também ali se instalaria um paradigma repetido
incontáveis vezes desde 1948. Acuados pelo poder superior dos sionistas, as
elites árabes vizinhas rifavam os palestinos, deixando-os entregues à própria
sorte num jogo no qual não tinham nenhuma chance. É mais um elemento da
tragédia do Oriente Médio.
Revisando os diários de
Ben-Gurion e os arquivos israelenses posteriores à partição, o historiador Ilan
Pappe encontra certa surpresa e júbilo entre a liderança sionista com o caráter
limitado da reação palestina ao recorte de suas terras. Seguindo-se à Resolução
181, os palestinos se limitam a convocar uma greve geral de três dias, durante
a qual a repressão inglesa foi duríssima. As revoltas árabes que aconteceram
entre 1936 e 1939 deram também à organização paramilitar judia Hagana sua
primeira experiência na execução das táticas militares aprendidas com a
Grã-Bretanha. A destruição da liderança política palestina seria decisiva para
o rumo posterior dos acontecimentos. O quadro que precede a guerra de 1948 é de
intenso armamento sionista, coincidindo com um momento de particular
fragilidade da liderança palestina, destroçada pela repressão britânica à
revolta de 1936-39. No jogo diplomático, começa a pesar a consciência culpada
da Europa, em choque com as dimensões gigantescas do Holocausto judeu, recém
perpetrado. Quebrar as promessas feitas aos árabes era preço relativamente
pequeno para expiar, às custas de outrem, a culpa européia pelo judeocídio. No
xadrez político da região, o acordo sionista-jordaniano neutralizava o
principal exército árabe. Em pânico com os constantes ataques dos grupos
paramilitares judeus (Hagana, Irgun e Stern), a população autóctona, já em
1947, começa a perceber o poderio sionista como uma força imbatível. Estava
aberto o caminho para a limpeza étnica da Palestina.
IV
– A preparação da expulsão
Toda sorte de distorções e
mitos já foram circulados sobre o que aconteceu na Palestina entre o final de
1947 e o começo de 1949. Na mitologia oficial israelense, no senso comum, no
jornalismo mais venal ou preguiçoso, nas Wikipédias e até mesmo em livros
embalados como se fossem de pesquisa historiográfica séria, essas distorções
foram sedimentando uma coleção de narrativas que recorrem a falsificações não
raro contraditórias entre si: 1) que o povo palestino como tal não existia; 2)
que ele existia mas que saiu voluntariamente de suas terras em 1948; 3) que não
saiu voluntariamente, mas que tampouco foi vítima do sionismo, pois abandonou
suas aldeias atendendo a ordens radiofônicas dos próprios árabes; 4) no ramo da
pseudo-historiografia sem-vergonha, paga para mentir, já apareceram até livros
sobre como os palestinos não eram tão antigos assim na região, já que eles
teriam chegado também em imigração recente. Essas diferentes versões da
mitologia oficial vão se sucedendo ou se combinando, a gosto do freguês,
formando uma geleia geral de enganação empacotada. Acompanham-na algumas frases
que, até corretas em si mesmas, omitem um universo de contexto que lhes
transforma o sentido, como é o caso de “os sionistas aceitaram a partição
proposta pela ONU, os árabes, não”, analisado acima, e “a guerra de 1948 foi
iniciada pelos palestinos”, mantra que é essencial em todo mascaramento do
processo.
Expulsão
em aldeia palestina durante o Nakba.
Como se sabe agora, a
liderança militar sionista ficou surpresa com o caráter limitado dos protestos
palestinos que se seguiram ao decreto da partição, em novembro de 1947. Afinal
de contas, seu território havia sido rachado com uma comunidade minoritária de
colonos, que receberam não só um naco de 56% do território, desproporcional à
sua representação na população, mas um naco que continha pelo menos 400 aldeias
palestinas, nas quais 800.000 palestinos deviam seguir vivendo sob soberania
imposta e recém chegada. Ao longo dos dias que se seguem à partição, o comando
sionista se reúne para encontrar formas de ataque possíveis, ante a ausência de
pretextos. Os arquivos estudados por Ilan Pappe, das reuniões a liderança
judaica na Palestina, dão amplo testemunho do planejamento da limpeza étnica.
Os fazendeiros dos Kibbutzim transformavam suas cooperativas em postos
militares, enquanto nas aldeias palestinas a vida seguia seu curso, no qual a
“normalidade era a regra e a agitação a exceção”, segundo os informes do
próprio Palti Sela, membro de uma unidade de inteligência sionista. Ao longo do
mês de dezembro de 1947, anterior à guerra propriamente dita, as aldeias
palestinas sofrem uma campanha de terror e intimidação das organizações
paramilitares judias que representam o primeiro capítulo da limpeza étnica da
Palestina.
A linguagem da ameaça foi
prática comum naquele momento, como mostra o exemplo citado por Ilan Pappe, de
panfletos lançados às aldeias sírias e libanesas na fronteira palestina: “Se a
guerra for levada até você, ela causará expulsão massiva de aldeões, com suas
mulheres e crianças … haverá matança sem piedade, sem compaixão” (p.56).
Lembremos que nesse momento o sionismo já possui um mapa completo das aldeias
palestinas, incluindo-se informação sobre água, possíveis defesas e indivíduos
vinculados à resistência árabe durante os protestos de 1936-39. Esse mapeamento
seria chave na destruição das centenas de aldeias palestinas e na expulsão de
centenas de milhares de habitantes autóctonos da região No mês de dezembro se
disseminam as ações que a Hagana chamava de “reconhecimento violento” (hassiyur
ha-alim): invadir uma aldeia à noite, instaurar toque de queda, atirar em
qualquer um que ouse sair de casa, permanecer durante algumas horas e ir
embora. A aldeia de Deir Ayyub foi uma das vítimas de dezembro de 1947. Com
aproximadamente 500 habitantes, ela acabava de comemorar a abertura de uma
escola. Foi invadida por tropas judaicas que passaram a atirar
indiscriminadamente nas casas. Deir Ayyub ainda seria atacada três vezes antes
de ser destruída em sua totalidade em abril de 1948 (p.56). No nordeste da
Galileia, na aldeia de Khisas, algumas centenas de muçulmanos coexistiam
pacificamente há tempos com uma centena de cristãos. Até que no dia 18 de
dezembro de 1947, tropas judaicas a invadiram e passaram a explodir casas
durante a noite, provocando a morte de quinze aldeões, pelo menos cinco
crianças. Ações como estas proliferaram ao longo de dezembro de 1947, e não
costumam ser mencionadas pelos que justificam as atrocidades de Israel com o
argumento de que “os palestinos iniciaram a guerra” em janeiro de 1948.