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segunda-feira, 16 de maio de 2016

Pesquisa acadêmica, pesquisa básica e pesquisa aplicada em duas comunidades cientificas.



Simon Schwartzman

(termos de referência de pesquisa, não publicado, janeiro de 1979)

O problema geral

O relacionamento entre pesquisa acadêmica, pesquisa básica e pesquisa aplicada é uma das questões fundamentais de política científica e tecnológica em todas as áreas de conhecimento. Essencialmente, esta questão tem a ver com as motivações do pesquisador e com o destino, ou a apropriação social dos frutos de seu trabalho. Para efeito desta pesquisa, entenderemos por "pesquisa acadêmica" aquela que tem por motivação a descoberta de fenômenos empíricos importantes, que possam avançar o conhecimento em determinado campo, de acordo com o consenso da comunidade de especialistas. Por "pesquisa aplicada" entenderemos aquela que tem um resultado prático visível em termos econômicos ou de outra utilidade que não seja o próprio conhecimento; e por "pesquisa básica" aquela que acumula conhecimentos e informações que podem eventualmente levar a resultados acadêmicos ou aplicados importantes, mas sem fazê-lo diretamente.

A questão do relacionamento entre as diversas formas de pesquisa científica tende a ser colocada usualmente de forma abstrata, como oposição entre dois modelos alternativos de entender e justificar o trabalho científico. O primeiro modelo privilegia a pesquisa acadêmica, como aquela mais capaz de levar ao desenvolvimento intelectual e à criatividade dos cientistas, o que levaria ao desenvolvimento dá pesquisa aplicada como sub-produto; o segundo privilegia a pesquisa aplicada, vendo nela a forma de vincular o trabalho científico com as necessidades econômicas e sociais e entendendo a pesquisa mais acadêmica como simples investimento necessário ao melhor encaminhamento dos trabalhos aplicados.

A confrontação abstrata entre estes dois modelos tende a ignorar a realidade com a qual trabalham os cientistas, que é sempre o resultado de uma combinação entre demandas, expectativas e aspirações nem sempre coincidentes ou convergentes. Cientistas são chamados a fazer pesquisas acadêmicas, a dar aulas em cursos de graduação e pós-graduação, se preocupam em contribuir para atividades socialmente relevantes, zelam por suas carreiras profissionais, e buscam trabalhos que lhes dêem rendimentos satisfatórios. Nem todas estás atividades são necessariamente convergentes: dar aulas tira tempo de pesquisa, a pesquisa acadêmica pode favorecer o reconhecimento profissional do cientista (e, por conseguinte, sua carreira a longo prazo) mas afastá-lo de trabalhos socialmente mais relevantes e melhor remunerados, e assim por diante.

O reconhecimento desta complexidade, diversidade e diferenciação da atividade científica não deve levar ao abandono dos esforços por entender e explicar o que ocorre a partir de um contexto conceitual mais sistemático e ordenado. A estratégia que utilizaremos para isto será a de considerar os dois modelos indicados acima como dois "tipos ideais" que possam servir de parâmetros para a análise; a eles acrescentaremos um terceiro, menos freqüente na literatura de sociologia da ciência, mas bastante importante, que é o modelo da ciência como atividade tecno-burocrática.

Teoria: Três modelos de ação.

Os modos alternativos de pensar a questão acima estão relacionados com dois "modelos ideais" , ou tipos ideais, a respeito da natureza do trabalho científico. Tipos ou modelos ideais, como sabemos, são " construtos" teóricos ou conceituais que tratam de reconstruir a lógica da ação humana em determinado campo de atividade a partir de seus valores e objetivos explícitos, que são depois levados a suas ultimas conseqüências lógicas. Os tipos ideais não descrevem a realidade empírica, mas permitem que sejam estabelecidos padrões de comparação e avaliação entre situações concretas e estes modelos. Mais ainda, ao partir de valores e objetivos explícitos, eles permitem entender o sentido da ação, a partir da qual situações historicamente concretas podem ser avaliadas.

I - O modelo ideal mais comumente difundido na sociologia da ciência é o da "Republica da Ciência", ou da "cidade" científica. Neste modelo, a atividade científica e essencialmente uma atividade voltada para a busca do conhecimento, com um sistema de prêmios, recompensas e punições baseado no maior ou menor sucesso nesta busca. As razões pelas quais as pessoas buscam o conhecimento são irrelevantes para o modelo: o que importa é que o conhecimento seja algo cuja posse seja considerada importante em si mesmo, e não para outros fins. A aferição da qualidade e propriedade deste conhecimento exige existência de um grupo de pessoas que tenha condição de avaliar a correção e a relevância dos conhecimentos adquiridos. Estas pessoas formam uma comunidade científica que funciona como uma corporação em suas relações com o resto dá sociedade: elas definem as regras de acesso e exclusão à comunidade e desenvolvem sua hierarquia interna de valores, prestígio e autoridade. Elas controlam suas próprias instituições - centros de pesquisa, revistas especializadas, institutos - e distribuem internamente seus recursos.

Internamente, estas comunidades são uma república meritocrática; todo o sistema de estratificação interna e distribuição de recursos é baseado em critérios de mérito intelectual, e para que isto possa ser feito existe um amplo mercado de circulação de informações. É pela disseminação dos resultados de seu trabalho que o cientista se apropria do prestígio e das demais recompensas a ele associadas que seu trabalho possa merecer. Para que este mercado possa funcionar, é necessário que exista um certo consenso dentro da comunidade a respeito do que é um trabalho científico importante ou não, e de quais são os critérios de aferição de qualidade e veracidade. Este consenso é muitas vezes referido na literatura como "paradigma", que tem sido utilizado na literatura especializada para caracterizar o conjunto de conhecimentos, metodologia, padrões dê trabalho, critérios de qualidade e supostos básicos que caracterizam uma área de conhecimento científico determinada. Dentro desta visão, um paradigma não é simplesmente uma teoria científica (como à física eisteniana, por exemplo), mas implica também um conjunto de pessoas reais trabalhando a partir de seus supostos mais gerais.

A questão sobre os diferentes tipos e modalidades de paradigmas não nos interessa neste contexto. O que e importante é a idéia de que pessoas que se dedicam à atividade científica se vinculam a comunidades relativamente reduzidas de colegas, dentro das quais são conhecidas, aonde estabelecem seu reconhecimento como profissionais, aonde aprendem o que sabem e formam novos especialistas. São estas comunidades que dão consistência e continuidade às tradições científicas, sem as quais a atividade de pesquisa não pode se desenvolver. Sociólogos da ciência tem se referido a estas comunidades como "colégios invisíveis" que, ainda que não estabelecidos formalmente, são a base para a organização e continuidade do trabalho científico.

O teorema fundamental que decorre deste modelo ideal é que a atividade científica é necessariamente uma atividade livre e auto-regulada, e que qualquer interferência em sua liberdade e mecanismos de auto-regulação significa necessariamente um prejuízo para a qualidade do trabalho científico. As conseqüências deste tipo de teorema para a área de política científica são fáceis de imaginar.

II - O segundo modelo ideal pode ser denominado de "modelo do progresso técnico". O principal axioma deste modelo e que a atividade científica, como qualquer outra forma de conhecimento humano, tem por objetivo resolver problemas práticos e utilitários vividos pelas sociedades em suas diversas etapas ou formas de desenvolvimento. A dissociação que historicamente possa ocorrer entre a pesquisa científica e a tecnologia deve ser entendida, nesta perspectiva, como processos de alienação que pode no máximo mascarar, mas não eliminar, o relacionamento necessário entre conhecimento e sua utilização social. Assim, o modelo da "República da Cincia" não seria senão uma manifestação ideológica da dissociação entre o trabalho intelectual e o trabalho manual, que seria uma das características das sociedades classistas. A sociologia do conhecimento deveria, de acordo com este modelo, ter condições de estabelecer as vinculações causais entre o conhecimento gerado por uma sociedade e suas características de organização social e econômica

Na medida em que o aspecto "mascarado' e encoberto da dissociação entre a ciência e a tecnologia, por um lado, e o desenvolvimento econômico e o progresso técnico, por outro, seja explicitado, esta dissociação perde sua razão de ser. O pesquisador escolherá sua área e seu tema de pesquisa em função de sua utilidade social, e esta utilidade determinará sua recompensa. Esta recompensa, ou remuneração, pode consistir tanto em prestígio e poder social quanto em remuneração financeira em função da utilidade do produto do conhecimento. O produto do conhecimento tem, por definição, um valor de mercado que pode ser estimado e que transcende seu mero "valor de uso" como conhecimento em si. Ele pode, assim, ser trocado por outros valores - na forma de licença, royaltíes, ou exploração monopolística de seus produtos. A relação do cientista com seu produto depende, essencialmente, da organização mais geral do sistema produtivo. Em sociedades pouco industrializada, o pesquisador pode explorar seu trabalho como empresário individual, beneficiando-se de suas invenções ou patentes individuais. Em sociedades capitalistas mais complexas, o pesquisador é como um trabalhador assalariado, cujo produto é apropriado por sua empresa.

Em resumo, o tipo ideal do "progresso técnico" vê o trabalho científico como parte da atividade econômica e produtiva mais geral. As implicações da adoção deste modelo para a determinação de uma política científica, e para a organização do trabalho de pesquisa, são também fáceis de antever.

III - O terceiro modelo, finalmente, vê a atividade científica essencialmente como parte das atividades complexas das grandes organizações contemporâneas. Sua referencia histórica não é a ciência artesanal, indívidualizada, nem a tecnologia do inventor isolado, mas as grandes organizações técnico-científicas contemporâneas. Segundo esta concepção, a atividade científica moderna se dá cada vez mais no contexto de uma complexidade técnica crescente, com uma divisão do trabalho que se aproximaria , em muitos casos, a que ocorreu na indústria com a passagem da produção artesanal à produção em série. A vinculação necessária do cientista ou pesquisador a grandes sistemas organizacionais teria feito com que os dois modelos anteriores se tornassem obsoletos. No contexto contemporâneo da big science, o cientista deixaria de ser um agente isolado, e passaria a se comportar de forma semelhante à dos que participam dás grandes organizações complexas contemporâneas. O axioma fundamental deste modelo é a concepção de Galbraith a respeito dás tecno-estruturas das grandes organizações modernas, que tende a ser adotado por todos os que se dedicam à teoria das organizações: a idéia que ás organizações tendem normalmente a crescer e a se fortalecer, estabelecendo para isto o máximo controle possível das variáveis exógenas que possam afetá-las.

Nestas organizações, a motivação do trabalho do pesquisador não seria condicionada nem pelas expectativas de seu grupo de iguais, a comunidade, nem pela lucratividade e potencialidade prática de seu trabalho, mas pela apreciação que a própria organização possa fazer deste trabalho. Ora isto depende, essencialmente, dos objetivos da organização. Instituições voltadas para a produção industrial, por exemplo, tenderiam a sancionar trabalhos mais aproximados ao modelo de progresso técnico, enquanto que instituições mais especificamente de pesquisa tenderiam a valorizar trabalhos mais próximos ao modelo acadêmico. Grandes instituições governamentais de orientação tecnológica, no entanto - ás chamadas tecno-burocracias - são ás que tipificam melhor este modelo. Institutos de energia atômica, centros de pesquisa espacial, institutos nacionais de pesquisa agro-pecuária, institutos de pesquisa médica, etc., são instituições que tendem a surgir em quase todos os países, financiadas pelos respectivos governos, mantidas à parte dos sistemas universitários e industriais, e nas quais a grande ciência se desenvolve com toda sua pujança. Estas instituições são o ambiente mais propício ao desenvolvimento da chamada "ciência básica", ainda que este não seja, evidentemente, a única forma de trabalho científico que permitem.

Duas comunidades científicas

O trabalho empírico principal da pesquisa consistirá no estudo de duas comunidades científicas contemporâneas no Brasil, a de genética e a de física de estado sólido. O problema da delimitação da amostra a ser pesquisada está intimamente relacionado com os três modelos de organização da atividade científica discutidos acima.

Essencialmente, o problema consiste em definir qual o sistema maior que integra os cientistas isolados em uma unidade social mais ampla. O modelo acadêmico postula que este sistema maior e a comunidade científica, ou seja, a rede informal de conhecimentos, troca de informações e apreciações mútuas que une e estrutura os cientistas de determinada especialidade. O modelo do progresso técnico postula que a unidade mais significativa é a unidade produtiva, que se subdivide de acordo com as normas da divisão social do trabalho, dentro da qual sê dá a atividade científica. O modelo técnico-burocrático postula que a unidade de análise mais importante é a organização.

O que a pesquisa procura determinar é exatamente em que medida estes três modelos ideais existem e funcionam de fato ou não. Para isto, a estratégia de pesquisa consistirá em supor a existência de uma comunidade científica definida a partir de um procedimento operacional qualquer, que delimite com clareza um conjunto de pessoas que trabalhem em diversos institutos, universidades, centros de pesquisa, más que mantenham certos vínculos e contatos institucionais e intelectuais informais. Uma vez definidos os grupos, a pesquisa tratará de determinar em que medida elas realmente se adaptam ao modelo acadêmico de estruturação, ou se aproximam aos outros dois. (Em princípio, qualquer um dos três princípios organizativos poderia ser tomado como ponto de partida).

Genética e Física do Estado Sólido parecem duas áreas de pesquisa científica especialmente adequadas para este tipo de estudo. Ambas são áreas cientificamente avançadas, e exigem dos pesquisadores uma formação científica sólida e um trabalho acadêmico de qualidade. Ao mesmo tempo, são áreas de aplicabilidade potencial muito grande. A genética, na produção de variedades, no controle de doenças transmissíveis, e mais recentemente, com o desvendamento do código genético, na própria criação de novas espécies economicamente relevantes. A Física do Estado Sólido e uma área de grandes aplicações na área de eletrônica, computação, e tantas outras. Finalmente, ambas são áreas que tem no Brasil grupos científicos bem constituídos e dinâmicos.

A diversidade entre estás duas áreas não impede que elas sejam estudadas com o mesmo enfoque, de tal maneira que seja possível examinar como cada uma destas comunidades se constitui, e de que maneira elas lidam com a questão do relacionamento entre o trabalho aplicado o trabalho acadêmico e a pesquisa básica, em seus diversos contextos institucionais.

A humanidade terá um futuro?



Extraído de “Has man a future?” de Bertrand Russell

            O pessimista poderia argumentar: Por que tentar preservar a espécie humana? Não deveríamos antes nos alegrar à perspectiva de um fim para a imensa carga de  sofrimento, e ódio, e medo, que tem até agora enegrecido a vida do Homem? Não deveríamos contemplar com alegria um novo futuro para nosso planeta, pacífico, dormindo tranquilo finalmente, depois de chegar ao fim do longo pesadelo de miséria e horror?

            A qualquer estudante de História que contemple o terrível registro de loucura e crueldade que tem constituído a maior parte da vida da humanidade até agora, tais perguntas devem ocorrer em momentos de compreensão. Talvez esse exame possa tentar-nos a concordar com um fim, por mais trágico e definitivo que seja, para uma espécie tão incapaz de sentir alegria.

            Mas o pessimista tem somente metade da verdade e, a meu ver, a metade menos importante. O Homem não tem apenas a capacidade para a crueldade e o sofrimento, mas possui também potencialidades de grandeza e esplendor, realizadas até agora em grau diminuto, porém evidenciando o que poderia ser a vida num mundo mais livre e mais feliz.  Se o Homem permitir a si mesmo crescer em toda a sua estatura, o que poderá conseguir está além da nossa imaginação. A pobreza, a doença e a solidão tornar-se-iam raros infortúnios. Uma razoável esperança de felicidade poderia dissipar a noite de medo na qual tantos agora vagam perdidos. 

Sofistas


Os sofistas eram considerados mestres da retórica e da oratória, acreditavam que a verdade é múltipla, relativa e mutável. Protágoras foi um dos mais importantes sofistas.

Na Grécia Antiga, haviam professores itinerantes que percorriam as cidades ensinando, mediante pagamento, a arte da retórica às pessoas interessadas. A principal finalidade de seus ensinamentos era introduzir o cidadão na vida política. Tudo o que temos desses professores são fragmentos e citações e, por isso, não podemos saber profundamente sobre o que eles pensavam. Aquilo que temos de mais importante a respeito deles foi aquilo que disseram seus principais adversários teóricos, Platão e Aristóteles.

Eles eram chamados de sofistas, termo que originalmente significaria “sábios”, mas que adquiriu o sentido de desonestidade intelectual, principalmente por conta das definições de Aristóteles e Platão. Aristóteles, por exemplo, definiu a sofística como "a sabedoria (sapientia) aparente mas não real”. Para ele, os sofistas ensinavam a argumentação a respeito de qualquer tema, mesmo que os argumentos não fossem válidos, ou seja, não estavam interessados pela procura da verdade e sim pelo refinamento da arte de vencer discussões, pois para eles a verdade é relativa de acordo com o lugar e o tempo em que o homem está inserido.

O contexto histórico e sociopolítico é importante para que se compreenda o papel e o pensamento dos sofistas para a sociedade grega. Embora Anaxágoras tenha sido o filósofo oficial de Atenas na época do regime de Péricles, não havia um sistema público de ensino superior, então jovens que podiam pagar por instrução recorriam aos sofistas a fim de se prepararem para as dificuldades que enfrentariam na vida adulta. Uma delas, imposta pelo exercício da democracia, era a dificuldade de resolver divergências pelo diálogo tendo em vista um interesse comum. O termo “sofista” não corresponde, portanto, a uma escola filosófica e sim a uma prática. Mesmo assim, podemos elencar algumas caracterizações comuns aos sofistas:

a) Oposição entre natureza (phýsis) e cultura (nómos): Pelo que sabemos, podemos dizer que a maior parte dos sofistas tinha seu interesse filosófico concentrado nos problemas do homem e da natureza. Isso significa que aquilo que é dado por natureza não pode ser mudado, como a necessidade que os homens têm de se alimentar. O que é dado por cultura pode ser mudado, como, por exemplo, aquilo que os homens escolhem como alimento. Ou seja, todos nós precisamos da alimentação para continuarmos vivos, mas na China, a carne dos cães pode fazer parte do cardápio e, na Índia, o homem não pode se alimentar da carne bovina, pois a vaca é considerada um animal sagrado.

b) Relativismo. Para os sofistas, tudo o que se refere à vida prática, como a religião e a política, era considerado fatores culturais, logo podiam ser modificados. Dessa forma, colocavam as normas e hábitos em dúvida quanto à sua pertinência e legitimidade. Como eles eram relativistas, suas questões podiam ser levadas para o seguinte sentido: as leis estabelecidas são pertinentes para essa cidade ou precisam ser mudadas?

c) A existência dos deuses. Para os sofistas, é mais provável que os deuses não existam, mas eles não rejeitam completamente a existência, como Platão, por exemplo. Portanto, eles são mais próximos do agnosticismo do que do ateísmo. A diferença entre os sofistas e aqueles que acreditavam nos deuses – e a educação grega esteve, no início, ligada à existência e interferência dos deuses nos destinos da humanidade – é que eles preferiam não se pronunciar a respeito. Mas, se os deuses existissem, eles não teriam formas e pensamentos humanos.

d) A natureza da alma. A definição de alma para os sofistas é de uma natureza passiva e podia ser modelada pelo conhecimento que vem do exterior. Isso é muito importante para a prática que eles exerciam, pois, se as pessoas possuem almas passivas, elas podem ser convencidas de qualquer discurso proferido de forma encantadora. Por isso, era preciso lapidar a técnica a fim de levar as pessoas a pensarem de um modo que favoreça o orador, ou seja, aquele que está falando para o público. A resistência que alguma pessoa oferece a algo que é dito não seria proveniente da capacidade de refletir ou questionar e sim era decorrência da inabilidade discursiva do orador.

e) Rejeitam questões metafísicas. Os sofistas estavam bastante empenhados em resolver questões da vida prática da pólis. Aquilo que contribuiria para uma vida melhor com os outros ou para atender às necessidades imediatas era o centro de suas preocupações. Por concentrarem seus esforços para pensar naquilo que consideravam útil, questões como a origem do seres, a vida após a morte e a existência dos deuses, ou seja, questões de ordem metafísica, eram rejeitadas.

f) A habilidade de argumentar, mesmo se as teses fossem contraditórias, também era um de seus fundamentos. Apesar da dura crítica feita a eles, o trabalho dos sofistas respondia a uma necessidade da época: com o desenvolvimento e a consolidação da democracia na Atenas do século V a.C., era imprescindível desenvolver a habilidade de argumentar em público, defender suas próprias ideias e convencer a maior parte da assembleia a concordar com aquilo que os beneficiaria individualmente.

g) Antilógica. Uma estratégia de ensino comum aos sofistas era ensinar os jovens a defenderem uma posição para, em seguida, defenderem seu oposto. Essa técnica argumentativa foi chamada de antilógica e foi criticada por Platão e Aristóteles por corromper os jovens com a prática da mentira. Historiadores contemporâneos, no entanto, consideram essa técnica como uma atividade característica do espírito democrático por respeitar a existência de opiniões diferentes (cf. CHAUÍ, Marilena).

Os mais conhecidos sofistas foram Protágoras de Abdera (c. 490-421 a.C.), Górgias de Leontinos (c. 487-380 a.C.), Hípias de Élis, Isócrates de Atenas, Licofron, Pródicos e Trasímaco. Vamos agora conhecer um dos mais importantes, Protágoras.
Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas”

Um dos responsáveis para que Protágoras se tornasse um dos mais conhecidos sofistas foi Platão, que dedicou a ele uma obra, o que mostra que o filósofo, mesmo sem concordar com o sofismo, respeitou o pensamento de Protágoras ao ponto de se dedicar a elaborar objeções. Além de ensinar a arte do debate aos jovens em suas muitas visitas a Atenas (lembre-se de que os sofistas eram professores itinerantes, isto é, não residiam em um lugar específico), foi nomeado por Péricles para redigir a constituição de uma colônia ateniense (cf. KENNY, Anthony).

No diálogo Teeteto, Platão traz um importante pensamento de Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas, das que são como são e das que não são como não são”. Isso significa, em outras palavras, que se uma pessoa pensa que uma coisa é verdade, tal coisa é a verdade para ela. Ou seja, a verdade é subjetiva e relativa, não objetiva e absoluta. Por exemplo, se uma pessoa está com febre, ela pensa que a temperatura do ambiente está baixa, mesmo que ela esteja em Fortaleza e os termômetros apontem 38 graus.

Como não há uma verdade objetiva a ser considerada, a verdade sempre seria relacionada aos indivíduos. Em relação à crença nos deuses (como sabemos, a sociedade grega era politeísta), o relativismo tem a consequência de que não há uma crença mais correta do que a outra, todas devem ser respeitadas, pois o homem não pode saber nada a respeito dos deuses, se existem ou como são. Quando diz isso, Protágoras se aproxima do agnosticismo. Em suas palavras, que chegaram a nós por Diogenes Laertios:

“No que diz respeito aos deuses, não posso ter a certeza de que existem ou não, ou de como eles são; pois entre nós e o conhecimento deles há muitos obstáculos, quer a dificuldade do assunto, quer a pouca duração da vida humana”.

Diogenes Laertios, ao criticar Protágoras, nota que sua obra foi queimada em praça pública por atenienses que acreditavam que ele corrompia a juventude e ironiza, dizendo que ele foi o primeiro homem a dizer que em relação a qualquer assunto há duas afirmações contraditórias. Depois, Platão objetou que se todas as crenças são verdadeiras, a crença de que nem todas as crenças são verdadeiras também é verdadeira.

Primeira Guerra Mundial 1914-1918



Vários problemas atingiam as principais nações europeias no início do século XX. O século anterior havia deixado feridas difíceis de curar. Alguns países estavam extremamente descontentes com a partilha da Ásia e da África, ocorrida no final do século XIX. Alemanha e Itália, por exemplo, haviam ficado de fora no processo neocolonial. Enquanto isso, França e Inglaterra podiam explorar diversas colônias, ricas em matérias-primas e com um grande mercado consumidor. A insatisfação da Itália e da Alemanha, neste contexto, pode ser considerada uma das causas da Grande Guerra.     
      
Vale lembrar também que no início do século XX havia uma forte concorrência comercial entre os países europeus, principalmente na disputa pelos mercados consumidores. Esta concorrência gerou vários conflitos de interesses entre as nações. Ao mesmo tempo, os países estavam empenhados numa rápida corrida armamentista, já como uma maneira de se protegerem, ou atacarem, no futuro próximo. Esta corrida bélica gerava um clima de apreensão e medo entre os países, onde um tentava se armar mais do que o outro.

Existia também, entre duas nações poderosas da época, uma rivalidade muito grande. A França havia perdido, no final do século XIX, a região da Alsácia-Lorena para a Alemanha, durante a Guerra Franco Prussiana. O revanchismo francês estava no ar, e os franceses esperando uma oportunidade para retomar a rica região perdida.

O pan-germanismo e o pan-eslavismo também influenciou e aumentou o estado de alerta na Europa. Havia uma forte vontade nacionalista dos germânicos em unir, em apenas uma nação, todos os países de origem germânica. O mesmo acontecia com os países eslavos.

O início da Grande Guerra

O estopim deste conflito foi o assassinato de Francisco Ferdinando, príncipe do império austro-húngaro, durante sua visita a Saravejo (Bósnia-Herzegovina). As investigações levaram ao criminoso, um jovem integrante de um grupo Sérvio chamado mão-negra, contrário a influência da Áustria-Hungria na região dos Balcãs. O império austro-húngaro não aceitou as medidas tomadas pela Sérvia com relação ao crime e, no dia 28 de julho de 1914, declarou guerra à Servia.

Política de Alianças

Os países europeus começaram a fazer alianças políticas e militares desde o final do século XIX. Durante o conflito mundial estas alianças permaneceram. De um lado havia a Tríplice Aliança formada em 1882 por Itália, Império Austro-Húngaro e Alemanha ( a Itália passou para a outra aliança em 1915). Do outro lado a Tríplice Entente, formada em 1907, com a participação de França, Rússia e Reino Unido.

O Brasil também participou, enviando para os campos de batalha enfermeiros e medicamentos para ajudar os países da Tríplice Entente.

Desenvolvimento

As batalhas desenvolveram-se principalmente em trincheiras. Os soldados ficavam, muitas vezes, centenas de dias entrincheirados, lutando pela conquista de pequenos pedaços de território. A fome e as doenças também eram os inimigos destes guerreiros. Nos combates também houve a utilização de novas tecnologias bélicas como, por exemplo, tanques de guerra e aviões. Enquanto os homens lutavam nas trincheiras, as mulheres trabalhavam nas indústrias bélicas como empregadas.

Fim do conflito

Em 1917 ocorreu um fato histórico de extrema importância : a entrada dos Estados Unidos no conflito. Os EUA entraram ao lado da Tríplice Entente, pois havia acordos comerciais a defender, principalmente com Inglaterra e França. Este fato marcou a vitória da Entente, forçando os países da Aliança a assinarem a rendição. Os derrotados tiveram ainda que assinar o Tratado de Versalhes que impunha a estes países fortes restrições e punições. A Alemanha teve seu exército reduzido, sua indústria bélica controlada,  perdeu a região do corredor polonês, teve que devolver à França a região da Alsácia Lorena, além de ter que pagar os prejuízos da guerra dos países vencedores. O Tratado de Versalhes teve repercussões na Alemanha, influenciando o início da Segunda Guerra Mundial.

A guerra gerou aproximadamente 10 milhões de mortos, o triplo de feridos, arrasou campos agrícolas, destruiu indústrias, além de gerar grandes prejuízos econômicos.

- A partilha das terras da África e Ásia, na segunda metade do século XIX, gerou muitos desentendimentos entre as nações européias. Enquanto Inglaterra e França ficaram com grandes territórios com muitos recursos para explorar, Alemanha e Itália tiveram que se contentar com poucos territórios de baixo valor. Este descontentamento ítalo-germânico permaneceu até o começo do século XX e foi um dos motivos da guerra, pois estas duas nações queriam mais territórios para explorar e aumentar seus recursos.

Principais causas que desencadearam a Primeira Guerra Mundial:

- No final do século XIX e começo do XX, as nações europeias passaram a investir fortemente na fabricação de armamentos. O aumento das tensões gerava insegurança, fazendo assim que os investimentos militares aumentassem diante de uma possibilidade de conflito armado na região;

- A concorrência econômica entre os países europeus acirrou a disputa por mercados consumidores e matérias-primas. Muitas vezes, ações economicamente desleais eram tomadas por determinados países ou empresas (com apoio do governo);


- A questão dos nacionalismos também esteve presente na Europa pré-guerra. Além das rivalidades (exemplo: Alemanha e Inglaterra), havia o pan-germanismo e o pan-eslavismo. No primeiro caso era o ideal alemão de formar um grande império, unindo os países de origem germânica. Já o pan-eslavismo era um sentimento forte existente na Rússia e que envolvia também outros países de origem eslava.

Referência:


domingo, 15 de maio de 2016

O mito de Lilith segundo o Zohar, o livro do esplendor.


Lilith, cultuada pelos acadianos como Ishtar.

O primeiro capitulo da Bíblia, conta a história de Adão e Eva ... mas segundo o Zohar (comentário rabínico dos textos sagrados), Eva não é a primeira mulher de Adão. Quando Deus criou o Adão, ele fê-lo macho e fêmea, depois cortou-o ao meio, chamou a esta nova metade Lilith e deu-a em casamento a Adão. Mas Lilith recusou, não queria ser oferecida a ele, tornar-se desigual, inferior, e fugiu para ir ter com o Diabo. Deus tomou uma costela de Adão e criou Eva, mulher submissa, dócil, inferior perante o homem.


De acordo com Hermínio, "Lilith foi feita por Deus, de barro, à noite, criada tão bonita e interessante que logo arranjou problemas com Adão". Esse ponto teria sido retirado da Bíblia pela Inquisição. O astrólogo assinala que ali começou a eterna divergência entre o masculino e o feminino, pois Lilith não se conformou com a submissão ao homem.

O mito de Lilith pertence à grande tradição dos testemunhos orais que estão reunidos nos textos da sabedoria rabínica definida na versão jeovística, que se coloca lado a lado, precedendo-a de alguns séculos, da versão bíblica dos sacerdotes. Sabemos que tais versões do Gênesis - e particularmente o mito do nascimento da mulher - são ricas de contradições e enigmas que se anulam. Nós deduzimos que a lenda de Lilith, primeira companheira de Adão, foi perdida ou removida durante a época de transposição da versão jeovística para aquela sacerdotal, que logo após sofre as modificações dos pais da igreja.

No Talmude, ela é descrita como a primeira mulher de Adão. Ela brigou com Adão, reivindicando igualdade em relação a seu marido, deixando-o "fervendo de cólera". Lilith queria liberdade de agir, de escolher e decidir, queria os mesmos direitos do homem mas quando constatou que não poderia obter status igual, se rebelou e, decidida a não submeter-se a Adão e, a odiá-lo como igual, resolveu abandoná-lo. Segundo as versões aramaica e hebraica do Alfabeto de Ben Sirá (século 6 ou 7). Todas as vezes em que eles faziam sexo, Lilith mostrava-se inconformada em ter de ficar por baixo de Adão, suportando o peso de seu corpo. E indagava: "Por que devo deitar-me embaixo de ti? Por que devo abrir-me sob teu corpo? Por que ser dominada por ti? Contudo, eu também fui feita de pó e por isso sou tua igual." Mas Adão se recusava a inverter as posições, consciente de que existia uma "ordem" que não podia ser transgredida. Lilith deve submeter-se a ele pois esta é a condição do equilíbrio preestabelecido. Vendo que o companheiro não atendia seus apelos, que não lhe daria a condição de igualdade, Lilith se revolta, pronuncia nervosamente o nome de Deus, faz acusações a Adão e vai embora; é o momento em que o Sol se despede e a noite começa a descer o seu manto de escuridão soturna, tal como na ocasião em que Jeová-Deus fez vir ao mundo os demônios.

Adão sente a dor do abandono; entorpecido por um sono profundo, amedrontado pelas trevas da noite, ele sente o fim de todas as coisas boas. Desperto, Adão procura por Lilith e não a encontra: Procurei-a em meu leito, à noite, aquele que é o amor de minha alma; procurei e não a encontrei" (Cântico dos Cânticos III, 1). Lilith partiu rumo ao mar vermelho (Diz-se que quando Adão insistiu em ficar por cima durante as relações, Lilith usou seus conhecimentos mágicos para voar até o Mar Vermelho). Lá onde habitam os demônios e espíritos malignos, segundo a tradição hebraica. É um lugar maldito, o que prova que Lilith se afirmou como um demônio, e é o seu caráter demoníaco que leva a mulher a contrariar o homem e o questionar em seu poder. Desde então, Lilith tornou-se a noiva de Samael, o senhor das forças do mal do Outro Lado . Como conseqüência, deu à luz toda uma descendência demoníaca, conhecida como "Liliotes ou Linilins", na prodigiosa proporção de cem por dia.

Alguns escritos contam que Adão queixou-se a Deus sobre a fuga de Lilith e, para compensar a tristeza de Adão, Deus resolveu criar Eva, moldada exatamente como as exigências da sociedade patriarcal. A mulher feita a partir de um fragmento de Adão. É o modelo feminino permitido ao ser humano pelo padrão ético judaico-cristão. A mulher submissa e voltada ao lar. Assim, enquanto Lilith é força destrutiva (o Talmude diz que ela foi criada com imundície e lodo), Eva é construtiva e Mãe de toda Humanidade (ela foi criada da carne e do sangue de Adão).

Jehová-Deus tenta salvar a situação, primeiro ordenando-lhe que retorne e, depois, enviou ao seu encalço uma guarnição de três anjos, Sanvi, Sansavi e Samangelaf, para tentar convencê-la; porém, uma vez mais e com grande fúria, ela se recusou a voltar. Lilith está irredutível e transformada. Ela desafiou o homem, profanou o nome do Pai e foi ter com as criaturas das trevas. Como poderia voltar ao seu esposo? Os anjos ainda ameaçaram: "Se desobedeces e não voltas, será a morte para ti." Lilith, entretanto, em sua sapiência demoníaca, sabe que seu destino foi estabelecido pelo próprio Jeová-Deus. Ela está identificada com o lado demoníaco e não é mais a mulher de Adão. Acasalando-se com os diabos, Lilith traz ao mundo cem demônios por dia, os Lilim, que são citados inclusive na versão sacerdotal da Bíblia. Jeová-Deus, por seu lado, inicia uma incontrolável matança dessas criaturas, que, por vingança, são enfurecidas pela sua genitora. Está declarada a guerra ao Pai. Os homens, as crianças, os inválidos e os recém-casados, são as principais vítimas da vingança de Lilith. Ela cumpre a sua maligna sorte e não descansará assim tão cedo.

Uma outra versão diz que foram os anjos que mataram os filhos que tivera com Adão. Tão rude golpe transformou-a, e ela tentou matar os filhos de Adão com sua segunda esposa, Eva.

 Lilith alegou ter poderes vampíricos sobre bebês, mas como os anjos a queriam impedir, fizeram-na prometer que, onde quer que visse seus nomes, ela não faria nenhum mal aos humanos. Então, como não podia vencê-los, ela fez um trato com eles: concordou em ficar afastada de quaisquer bebês protegidos por um amuleto que tivesse o nome dos três anjos. Não obstante, esse ódio contra Adão e contra sua nova (e segunda) mulher, Eva, resultou, para Lilith, no desabafo da sua fúria sobre os filhos deles e de todas as gerações subsequentes.


quinta-feira, 12 de maio de 2016

Obrigado! Mais de 1 milhão de acessos na página do Construindo História Hoje.


Obrigado ao Deus único e a todos que apoiaram este trabalho desde sua criação em fevereiro de 2010 e que agora no ano de 2016 chega a marca de mais de                 1 milhão de acessos segundo as próprias estatísticas do Blogger. 

E isso é só o começo. Aguardem, pois em breve trarei novidades!

O Construtor



Página de estatísticas do Blogger (clique na imagem para ampliar)! 

A Misteriosa Cidade de Nan Madol


Em Pohnpei, há um mistério fascinante: o sítio arqueológico de Nan Madol.

Nan Madol é o nome dado ao misterioso complexo arqueológico megalítico localizado à uma curta distância da ilha de Pohnpei, parte da atual Micronésia. Descoberto por desbravadores europeus no início de 1800, ficou conhecida com a Veneza do Pacífico.

A cidade cobre uma área superior a 80 hectares e é composto por mais de cem ilhotas artificiais construídas sobre corais e interligadas através de uma rede de hidrovias construídas por seus habitantes, até hoje desconhecidos.

Diversos motivos tornam este complexo de ilhas artificiais um dos maiores mistérios arqueológicos do nosso planeta.

As ruínas de Nan Madol mostram resquícios de uma arquitetura megalítica sem precedentes. Foi construído utilizando gigantescos blocos de basalto, alguns pesando mais de 50 toneladas e alcançando a marca de 10 metros de altura.

Estudiosos estimam que Nan Madol possua cerca de 250 milhões de toneladas de rocha, porém a fonte de origem dessa enorme quantidade de basalto ainda é desconhecida. Como elas foram transportadas até as ilhotas sobre os corais?

Após a Primeira Guerra Mundial, o complexo de Nan Madol foi dominado pelos Japoneses. Eles realizaram um extensivo estudo das ruínas e de uma boa porção da região sumersa mais próxima. Infelizmente, esse estudo foi perdido durante a Segunda Guerra.

Mergulhadores movidos pelo espírito de aventura, outros em busca de tesouros, regressam de mergulhos em volta de Nan Madol maravilhados com a quantidade de construções perdidas no fundo do oceano. Ainda mais surpreendente foi a descoberta de que as ilhotas mais importantes eram conectadas por meio de túneis sub-aquáticos.

Na mitologia do povo nativo da região é contada uma história sobre a construção de Nan Madol por sacerdotes que magicamente transportavam as pesadas rochas através do ar e as organizavam nas pequenas ilhas.

Os nativos praticamente não visitam Nan Madol, pois existe uma antiga lenda que afirma que a morte é certa para aquele que passar uma noite na cidade.

Algumas teorias alegam que Nan Madol é uma pequena parte remanescente do lendário continente perdido de Mu que teria abrigado uma civilização conhecida como Lemúria

Nunca ouviu falar? E essa falta de conhecimento generalizado do mundo com tal preciosidade é indicativo do quanto ainda precisamos melhorar nosso senso histórico do que é importante ser preservado… Pois Nan Madol foi uma cidade construída no meio do mar. Com ilhas artificiais e tudo. Há muitos séculos antes da chegada dos europeus na região. A área hoje é conhecida como a “Veneza do Pacífico”, pelo intricado labirinto de canais que circunda enormes construções de basalto onde um dia habitou uma civilização.

Civilização esta que devia ter um conhecimento tecnológico impressionante, pois não só conseguiram em pleno século XII construir no meio do Pacífico um dique de contenção impressionante, mas estabeleceram uma cidade inteira com prédios enormes estruturados em fundações de corais, algo ÚNICO arquitetônica e arqueologicamente no mundo. É uma espécie de Machu Pichu do meio do Pacífico, imponente e muito, mas MUITO, impressionante.

De acordo com este estudo sobre Nan Madol, essa forma de fazer paredões – com grandes pedaços de basalto intercalados por pequenos pedaços do mesmo basalto e enchimento de coral – é única no mundo.


Estudos geológicos feitos há muitas décadas mostraram que o basalto das construções em Nan Madol é de um tipo encontrado apenas no noroeste de Pohnpei – mas Nan Madol fica no sudeste, ou seja, do lado oposto da ilha, e começa aí o mistério: como essas pedras enormes, de muitas toneladas, foram levadas até o mar para fazer a construção? Não dá pra passar pelo centro super-montanhoso da ilha, que até hoje é desabitado – é uma barreira intransponível, sem túneis ou estradas. Ou seja, o transporte teve que ser feito pelo mar, ao redor da ilha. Mas como?

Há poucos anos, tentou-se fazer uma canoa típica da região para carregar apenas um pedaço de rocha equivalente aos maiores encontrados em Nan Madol, e… nada. Não conseguiram deslocar sequer uma pedra. Obviamente essas pedras foram carregadas de uma forma tecnológica pohnpeiana que se perdeu no tempo, infelizmente.

O início da construção de Nan Madol acredita-se ter acontecido no século VIII, mas a civilização dos Saudeleur (que supostamente habitava Nan Madol) floresceu mesmo do século XII ao XV. Depois disso, houve sua queda, e não sabemos se o contato com os europeus acelerou tal queda, ou se o império dos Saudeleur já estava mesmo enfraquecido por conflitos com outros povos da região – há estruturas menores no estilo de Nan Madol em Kosrae também. E… para que servia tal cidade? Era o povo Saudeleur grandes comerciantes, guerreiros ou apenas ali viviam? Como desapareceram? E por que nada sobrou de seu império a não ser a cidade? Por que os Pohnpeianos não gostam de falar deles, e acreditam que o lugar é amaldiçoado?

sábado, 2 de janeiro de 2016

Pré-história do Rio grande do Sul.



O perfil geográfico do Rio Grande do Sul foi formado por sucessivas transformações que iniciaram há cerca de 600 milhões de anos. Esse território já foi um mar, já foi um deserto, e em várias regiões aconteceram soterramentos massivos por derrames de lava. Crê-se que somente há dois milhões de anos a geografia se definiu mais ou menos como hoje a conhecemos, quando se fixou a faixa arenosa do litoral. A vida na pré-história do Rio Grande do Sul foi rica em espécies animais e vegetais.

Há apenas cerca de 12 mil anos antes do presente (AP) iniciou a ocupação humana, com a chegada de grupos de caçadores-coletores vindos do norte.Várias regiões da América do Sul nesta época já haviam sido povoadas, algumas ao que parece desde alguns milênios antes, por populações de origem asiática. A tese predominante é que elas tenham originalmente cruzado o Estreito de Behring, no extremo norte da América do Norte, que então estava seco por causa de uma glaciação global, migrando em seguida para o sul, ocupando neste percurso muitos espaços ao longo de gerações.

Os pioneiros que chegaram no território do Rio Grande do Sul encontraram uma região bastante diferente da que hoje vemos. Em 12 mil anos AP, a glaciação, que cobrira de gelo toda a Patagônia (região ao sul da Argentina atual) e esfriara o clima global, começava a regredir, e o clima da região, mais seco e frio do que no presente, se aquecia e umedecia. No entanto, provavelmente a neve ainda caía na região todos os invernos. O nível do mar subia, ao derreter o gelo glacial que se acumulara no mundo, e inundava a planície litorânea. A vegetação local provavelmente era esparsa, composta principalmente de savanas, com matas apenas nas terras altas e nas margens dos rios. A fauna local também era outra, composta de muitas espécies gigantes, como os milodontes, gliptodontes e toxodontes.

A penetração humana deu-se aparentemente através da fronteira oeste, ao longo do rio Uruguai, onde o estado hoje faz divisa com a Argentina e o Uruguai. No município de Alegrete, localizado nesta área, às margens do rio Ibicuí, foi encontrado o sítio arqueológico com vestígios humanos mais antigo do estado, cuja datação o situou com 12.770 anos. Esses primeiros povos, que compartilhavam de uma mesma cultura material, conhecida como tradição Umbu, viviam da caça e da coleta nas planícies do pampa, entre seus campos abertos e matas ciliares. Eram nômades, e devem ter estabelecido acampamentos temporários de acordo com a abundância sazonal de determinados recursos naturais, seguindo rotas de migração de animais ou épocas de amadurecimento de vegetais comestíveis.

Deixaram registros relativamente pobres. Os sítios arqueológicos incluem vestígios de assentamentos, restos de alimentação como ossos de animais e sementes, além de adornos pessoais e artefatos líticos como pontas de flecha e lança em pedra lascada, boleadeiras, cortadores, raspadores e outras ferramentas. Sua cultura predominou por cerca de 11 mil anos, ainda que exibisse adaptações regionais ao variado cenário do território, que se compõe de diferentes tipos de ecossistemas.

Deve ser lembrado que as mudanças climáticas que a região atravessou ao longo de milênios determinaram importantes modificações na composição da flora e da fauna, às quais as populações humanas precisaram se adaptar, e isso se refletiu em variações em seus costumes e culturas. Durante o ótimo climático, um período de importante elevação nas temperaturas globais ocorrido a partir de 6 mil anos AP, esses povos passaram a colonizar as matas das serras e a subir o planalto. Aparecem gravuras rupestres e ferramental adaptado ao trabalho com madeira, especialmente machados bifaciais. Formava-se ali a chamada tradição Humaitá.

Enquanto isso, se completava a conquista do litoral, formando-se uma cultura específica, a tradição Sambaqui, adaptada à vida junto ao mar e nas planícies costeiras. São característicos dessa tradição os depósitos de conchas, carapaças de crustáceos e restos de peixes que lhe deram o nome, os sambaquis, onde também são encontrados enterramentos e artefatos indicativos de sua associação com o mar, tais como anzóis e pesos de redes. Também se encontram indícios de práticas agrícolas rudimentares, sugerindo que eram sedentários pelo menos em parte do ano. Outras características que os distinguem são os assentamentos sobre colinas artificiais baixas, conhecidas como cerritos, formadas em zonas alagadiças da planície costeira.

Por volta de 3 mil anos AP o clima esfriou novamente e se estabilizou em uma condição semelhante à do presente, produzindo novas adaptações na vida selvagem e nas culturas humanas que floresciam. Nas serras e no planalto, onde o clima permaneceu relativamente frio, com nevadas e geadas frequentes, os povos da tradição Humaitá, que colonizaram a área durante o ótimo climático, precisaram se adaptar, aparecendo então típicos abrigos subterrâneos cobertos de palha, que podiam se organizar em aldeias com várias unidades.

Pouco mais tarde, coincidindo com o início da era cristã, chega a segunda grande onda humana a atingir a região, composta de indígenas Guaranis procedentes da Amazônia. Cogita-se que eles também devem ter sido impelidos à migração pelas mudanças climáticas globais. Eles tinham uma desenvolvida cultura agrícola, domesticavam animais e dominavam a técnica da terracota e da pedra polida. Colonizaram os vales florestados da depressão central, o litoral e parte das serras, evitando porém as regiões mais altas e frias, e pouco avançaram sobre o pampa, já que preferiam climas mais quentes e o ambiente florestal a que estavam acostumados no norte, mas sua influência cultural foi mais ampla. Seus sítios se distinguem das outras tradições pela forma dos assentamentos, em aldeias mais estáveis e estruturadas, e pela abundância de artefatos em pedra polida como pontas de flecha, machados, maceradores, e vasos em cerâmica de diferentes formatos e decoração, técnicas que se observa doravante aparecer nos sítios de outros grupos. A sua influência também se revelou na expansão da agricultura.

Outro grupo a descer do norte junto com os guaranis foi o dos Jês, de cultura similarmente desenvolvida, deixando uma marca maior no planalto, onde primeiro influenciaram os povos da tradição Humaitá e logo os suplantaram. Mas quando o Brasil foi "descoberto", em 1500, quase todos os índios do estado, que somavam de 100 mil a 150 mil na estimativa dos estudiosos, já eram Guaranis ou estavam misturados a eles. Os grupos menos afetados por essa invasão foram os Jês do planalto médio, e os Charruas e Minuanos, do pampa.