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segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Os egípcios construíram a Esfinge?


 Esfinge, Planalto de Gizé.

A esfinge é uma estátua enorme que fica perto das pirâmides, no planalto de Gizé, Egito, África. Praticamente todo mundo já ouviu falar, viu fotos ou jogou jogos onde aparece uma criatura com corpo de leão e cabeça humana, que propõe um enigma. Quem não resolve o enigma é morto pela esfinge.

Pois então, essa estátua, chamada Grande Esfinge de Gizé, é a maior estátua esculpida num único bloco de pedra. Foi aproveitado um penhasco que havia no local, que depois foi coberto por blocos de pedra lisa.

A esfinge que sempre aparece nos jogos tem a cabeça de uma mulher, mas, a esfinge de Gizé parece que tem a cabeça de um homem. Alguns estudiosos dizem que ela foi construída pelo mesmo faraó que fez a segunda maior pirâmide, Quefren, e que a cabeça da esfinge é a cabeça desse faraó.

Então, a esfinge tem o corpo de um leão e a cabeça humana. Entre as patas de leão, existe uma laje de granito com uma inscrição que conta sobre um sonho que o faraó Thutmose IV, que reinou na XVIII dinastia, teve.

Essa laje é uma estela, chamada de Estela do Sonho e conta o seguinte: quando jovem, Thutmose foi caçar e muito cansado, dormiu sob a sombra da esfinge. Ele então sonhou com o deus sol Ra-Harakhte, que na forma da esfinge, lhe prometeu que se ele limpasse toda a areia que cobria o monumento se tornaria faraó do Egito. E foi exatamente isso que aconteceu.


 O deus Aker da mitologia egípcia era sempre representado por dois leões que guardam os portões do além-túmulo.

Assim, ficamos sabendo que, quando Thutmose IV reinou, a esfinge já estava bastante coberta pela areia. Em 1816 o capitão Caviglia terminou a retirada da areia que novamente cobria a esfinge e registrou que o corpo da estátua era revestido em pedra e que provavelmente a esfinge tinha sido um dia, pintada com tinta vermelha.

Então, onde está o mistério?

Em primeiro lugar, ainda não se sabe com certeza, como o nariz da esfinge foi arrancado. Há diversas teorias, mas como saber a verdade?

O professor Robert Schoch, da Universidade de Boston, afirma que a esfinge é muito mais velha do que diz a História oficial. Ele acha que a erosão que existe no corpo do monumento não foi feita pelo vento ou pela areia, foi feita sim pelas chuvas. Ora, então a esfinge seria pelo menos 2 mil e 500 anos mais velha do que se pensa, quando no Egito havia muita vegetação e muitas chuvas. Será?

Muitos pesquisadores já fizeram estudos e acreditam que existem túneis e câmaras ainda não escavados sob a esfinge. Será que algum deles esconde um grande mistério?

Segundo a professora de egiptologia da Universidade Americana do Cairo, Salima Ikram, já foram encontradas múmias, escondidas sob a axila esquerda e na parte de trás da esfinge. De quem seriam essas múmias? Por que estavam dentro do monumento? Onde estão agora?

Teria havido duas esfinges?


Nas representações artísticas que fizeram, entretanto, as esfinges geralmente aparecem aos pares. A estela que Tutmósis IV (c. 1401 a 1391 a.C.) mandou fixar na frente do monumento, e que vemos ao lado numa foto do Canadian Museum of Civilization Corporation (CMCC), é um bom exemplo disso. No relevo feito no granito, a esfinge está assentada sobre uma construção complexa. Os arqueólogos dizem que o palácio gravado na estela é representação do templo que existe até hoje diante da esfinge. Entretanto, a forma do edifício representado na estela é totalmente diferente do templo da esfinge. Além disso, as regras de perspectivas usadas pelos artistas egípcios fariam com que eles colocassem o templo diante da esfinge, como realmente ele está situado, e não abaixo dela. Tais regras eram por demais rígidas e nenhum artista oficial se permitiria divergir de realidade em tal medida.

Segundo Shammaa, esta ideia de duas esfinges está bem representada na iconografia egípcia e está bem de acordo com as crenças egípcias de como o universo foi criado, as quais, fundamentalmente, se baseiam na dualidade e têm origem no período pré-dinástico. O deus Atum criou Shu e Tefnut na forma de dois filhotes de leão, um macho e uma fêmea, colocando cada um deles num dos extremos do universo. Os antigos artesãos egípcios e os sacerdotes sempre os desenharam e os descreveram vigiando os dois montes primevos interligados (akhet), os quais com o Sol no meio formam a palavra hieroglífica para "horizonte". Quando o Sol se punha, afirmava-se, o leão do ocidente pegava o Sol em suas mandíbulas e o transportava pelo mundo subterrâneo, entregando-o, finalmente, ao leão do oriente. Assim, depois de um período de escuridão, começava a amanhecer. Estes dois leões simbolizavam o "ontem" e o "amanhã". O disco solar da divindade se eleva entre os animais, os quais eram responsáveis por vigiar os limites leste e oeste, apoiando a luta da luz contra a escuridão, da ordem contra o caos, de Hórus contra Seth. A avenida de esfinges com cabeças de carneiro defronte do primeiro pilone de Karnak e as esfinges com cabeças humanas diante do templo de Luxor enfatizam esta dualidade.

Embasado nesse conceito religioso, Shammaa prossegue seu raciocínio afirmando que quando nos colocamos diante da esfinge e vemos as três pirâmides atrás dela, percebemos que há duas colinas, ou seja, duas construções de forma piramidal semelhantes em altura e tamanho, conectadas por um vale de terra. Uma vista aérea do complexo piramidal de Kéfrem confirmará que a calçada que liga o templo mortuário ao templo do vale teve que desviar seu caminho para o sul para evitar a esfinge já existente. A calçada termina no templo do vale, desembocando no seu lado norte, não no meio, como de costume. Os operários estavam tentando evitar outra estátua sagrada intocável no lado sul: a esfinge desaparecida. Se consideramos o templo da esfinge e o templo de vale, podemos deduzir que ambos são semelhantes no projeto, na altura, no desgaste, na erosão e na destruição pelo tempo. O que parece é que havia um único templo dedicado à adoração do horizonte, o santuário do deus-Sol. Com as obras posteriores o templo foi dividido em duas partes iguais, cada uma dedicada a um dos leões. Deve-se ter em mente que o granito rosa que reveste algumas partes do templo do vale foi colocado décadas depois da construção do monumento. Este fato fica demonstrado, sem sombra de dúvida, quando se observa como o granito está embutido nas cavidades causadas pelo desgaste do tempo. Assim, raciocina Shammaa, se há dois montes, dois templos que significam as duas extremidades dos limites do mundo no leste e no oeste, e dois santuários do deus e um deles (templo da esfinge) está guardado por uma esfinge de leão junto a ele, por que então o segundo santuário do deus (templo do vale) não é protegido e vigiado da mesma forma com uma esfinge a seu lado?


 De leão ao ser antropomórfico.

O deus Aker é descrito frequentemente como dois leões sentados e voltados para lados opostos. Shammaa pensa que a esfinge tinha uma cabeça de leão antes de ser refeita com cabeça de um faraó. Isto explicaria por que a cabeça humana da esfinge é pequena em comparação ao corpo do leão. Os antigos egípcios jamais incorreriam num erro tão primário da relação entre as proporções. O leão duplo é uma manifestação de Shu e Tefnut. Os egípcios nunca protegeram apenas de um lado qualquer avenida, entrada, templo ou tumba, porque isso seria contra o bom senso da idéia de proteção, já que um lado do santuário de Atum ficaria exposto ao perigo. Além disso, os dois leões no Livro dos Mortos são simbolos de Osíris, de Rá e, às vezes, de Atum. A ausência de um deles provoca caos, crise e uma grande desordem.

Se o Sol precisa de dois leões para levá-lo do oeste para leste, e como a esfinge existente está sentada exatamente na fronteira entre o deserto (nenhuma vida) e a vegetação (vida), então, como a jornada do renascimento eterno do Sol poderia ser completada se houvesse só um leão? Quem cuidaria desse transporte do oeste para seu destino? Alcançar o objetivo da ressurreição do Sol é impossível, a menos que haja dois leões. Os dois leões de perfil que ladeiam o horizonte são as duas esfinges: uma atrás do templo da esfinge, a qual simboliza o limite ocidental, e outra atrás do templo de vale, a qual simboliza o limite oriental onde o Sol renascerá, da mesma maneira que a terra se torna verde no vale devido à rica inundação do Nilo. Se olharmos de frente os dois animais da cena desenhada de perfil, veremos dois leões que ladeiam a calçada que divide um templo em dois. Veremos, ainda, ao fundo, duas pirâmides. A base de pirâmide de Kéfren (c. 2520 a 2494 a.C.) foi esculpida no leito da rocha para criar, então, a cena da monte primevo e o disco solar surge entre os dois monumentos para completar a cena do Livro dos Mortos.

A arte egípcia antiga sempre dependeu da harmonia entre a relação e a proporção da cena. As formas devem ser simétricas. O resultado final produzido deve ser harmonioso. Na escultura sempre um dogma de duplicidade dominou a construção religiosa. Exemplos: a avenida dupla de esfinges com cabeças de carneiro de Ramsés II (c. 1290 a 1224 a.C.) em Karnak, ou a de esfinges com cabeças humanas de Nectanebo I (380 a 362 a.C.) no templo de Luxor. Duas estátuas sentadas ladeiam as entradas dos templos. Um lado sempre é igual ao outro. A conclusão que o autor tira de tais considerações é a de que a existência de uma segunda esfinge no outro lado da calçada está além de qualquer dúvida. Portanto, ele acredita que os restos da segunda esfinge ainda estão lá enterrados na areia, ainda que possam se encontrar muito delapidados. Com relação à estela de Tutmósis IV que aparece no topo desta página, Shammaa afirma que não se trata de uma cena repetida em um espelho. Evidentemente o faraó está fazendo oferendas para duas esfinges diferentes. Primeiro porque está usando coroas diferentes: a coroa azul de guerra numa cena e o nemes na outra cena. Portanto, trata-se de duas situações diferentes. Em segundo lugar, porque o faraó oferece dois tipos de libações diferentes para cada cena, ou seja, ele não trata as duas esfinges de maneira igual.


Seria esta a face original da Esfinge(s)?

           Outro dos defensores da ideia de que a esfinge de Gizé tenha tido uma companheira idêntica é Michael Poe, arqueólogo formado em Los Angeles pela Universidade da Califórnia (UCLA). Apesar da assim chamada Estela do Inventário informar que a esfinge já existia no tempo de Kéops e que o faraó encontrou a esfinge em ruínas e mandou restaurá-la, pode até ser que tal estela seja uma fraude piedosa daquela época, já que se trata de um artefato datado da XXVI dinastia (664 a 525 a.C.). 

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Centenas de ossadas datadas de 2000 anos, pertencentes a um exército de guerreiros desconhecidos, são encontrados “sacrificados” na Dinamarca.


Este crânio, descoberto entre os restos de muitos outros guerreiros no Alken Enge na Dinamarca, tem uma ferida mortal na parte de trás do crânio. 

Crânios fraturados e diversos ossos de fêmur cortado ao meio, achados juntamente com machados, lanças e escudos, confirmam que o pântano em Alken Enge foi o local de conflitos violentos. "É claro que este deve ter sido um evento de grande alcance e dramático bastante para ter tido efeito profundo sobre a sociedade da época", explica o Gerente de Projetos Mads Kähler Holst, professor de arqueologia na Universidade de Aarhus.

A arqueologia é cheia de surpresas. Embora seja sempre fascinante descobrir mais sobre populações e épocas diferentes da nossa, pedaços dessas histórias podem ser assustadores.

Às vezes temos até a impressão de que os humanos eram mais cruéis no passado; mas talvez seja só isso mesmo, uma impressão, já que, apesar de sacrifícios não estarem mais em voga ou sequer serem permitidos, somos capazes de muitos outros tipos de maldade.

Recentemente, pesquisadores encontram “relíquias históricas” de aproximadamente 3,6 mil anos atrás: mãos que foram cortadas de inimigos para dar ao rei, da época em que o povo Hykso controlava parte do Egito.

Agora, mais uma escavação teve resultado macabro: em uma colaboração entre o Museu Skanderbord, o Museu Moesgård e a Universidade de Aarhus (Dinamarca), arqueólogos descobriram os restos de centenas de guerreiros que morreram violentamente cerca de 2.000 anos atrás.

A escavação atual segue um trabalho feito em 2008 e 2009, quando arqueólogos encontraram ossos individuais espalhados no leito de um lago de dois metros nas zonas úmidas de Alken Enge, perto do Lago Mosso, em East Jutland, na Dinamarca.

O local agora é um pântano, mas a pesquisa geológica indica que os achados eram restos de um exército depositados em uma pequena bacia na área que existia no local há 2000 anos, que hoje se tornou o pântano Alken Enge.

As análises também indicam que o nível de água na área mudou várias vezes. Mapear esses períodos de alta e baixa cronologicamente pode indicar as condições precisas do local no momento do sacrifício em massa.


Um machado bem preservado de ferro, medindo cerca de 75 centímetros de comprimento, que foi descoberto em Alken Enge na Dinamarca.

Sim, sacrifício, pois a evidência de violência no local é clara, segundo os arqueólogos. Eles descobriram ossos humanos danificados, incluindo uma fratura no crânio e um osso da coxa cortado ao meio, junto com machados, lanças, escudos e clavas.

Quem são esses guerreiros?

Aos poucos, os pesquisadores vão exumar os restos mortais encontrados no local, para estudá-los em busca de mais informações sobre esses guerreiros: quem eles eram e de onde vieram.


Um crânio escavado a partir do site Alken Enge neste verão. É portador de uma ferida mortal causada por uma lança ou flecha. 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Civilizações esquecidas: Reino de Tuwana.


Rei Tuwana Warpalawas, em frente ao deus das vegetações. Este relevo está datado na metade do século VIII a.C. O relevo possuí 5 m de altura e está localizado em Ivriz na Turquia.

Ao Sudeste da península da Anatólia estão os restos de um antigo reino que fazia parte da confederação hitita, ou Império Hitita. Talvez Tuwana não era um reino quando o império hitita estava em seu apogeu e o local que começou a ser escavado fornece informações do primeiro milênio, então talvez seja uma civilização neo-hitita, uma vez que o antigo império foi reduzida a pequenos estados no sudeste da Anatólia.


A escavações trazem a luz a Civilização Tuwana.

O arqueólogo italiano Lorenzo d'Afonso lidera a missão arqueológica para saber mais sobre este reino centrado em Kinik Hoyuk. Várias fontes hititas e assírias falam dele, então agora você só precisa que a arqueologia confirme o quão pouco sabemos sobre Tuwana. De acordo com o arqueólogo o sitio está intacto, por isso tudo é feito em 24 hectares, para alguns, para outros 81, o que poderia cobrir o principal centro "urbano" do reino. No Sul da Capadócia, Tuwana foi um lugar importante para controlar o acesso a Cilícia ("Portas da Cilícia") e do Oriente Próximo de Carquemis. Tuwana era um pequeno reino entre Frígia e do império assírio, e isso deve ter dado uma grande riqueza, o que parece confirmar três estelas em muito mau estado, que foram preservados, na parede da Acrópole e nos edifícios do mesmo. Das estelas que foram escavadas, encontram-se paredes da altura de 6 metros em bom estado, com gesso sobre eles e sinais de que estavam no caminho para o surgimento de um alfabeto.


As escavações tem encontrado belíssimos  entalhes em pedra.

Qual era a situação geopolítica do tempo Tuwana existiu como um reino?

Diversos reinos da Anatólia se tornaram independente após o colapso do império hitita, mas esse fenômeno não ocorreu em todas as regiões simultaneamente (Lydia, Caria, Lycia, Bitínia, Frígia, Licaônia, Paphlagonia, Cilícia, Misia ...) e no leste do grande império neo-assírio, que não vai desaparecer até o final do século VII aC nas mãos dos babilônios e medos. Com capital de Nínive, no final de sua vida, sem dúvida mantinham contatos comerciais com Tuwana.


A representação do deus das vegetações e do rei Tuwana Warpalawas está cercada por está cercada por pictogramas hititas, como podemos ver na imagem acima.


segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Civilizações esquecidas: Harappa.


Concepção artística de Harappa, baseada nas escavações arqueológicas.

A primeira civilização da Índia e uma das maiores da Antiguidade, foi tão desenvolvida quanto o Egito e a Mesopotâmia. Mas sua história está apenas começando a ser desvendada.

O vaivém de peregrinos é intenso, frenético, louco. Eles chegam aos montes, vindos de pequenos vilarejos vizinhos, nos vales ao leste do Paquistão. As ruas, tomadas por mercadores itinerantes, ganham, aos poucos, o colorido dos artistas performáticos e das trupes de circo. Músicos ajudam a entreter as multidões. Luzes e sons misturam-se. Mulheres gazeteando pelas vias procuram peregrinos mais experientes, para dar a eles as oferendas religiosas que serão repassadas a divindades de lugares distantes – tudo para garantir que, no futuro, seus filhos sejam saudáveis e – preferencialmente – do sexo masculino. À primeira vista, este é apenas mais um tradicional ritual de cultura popular, desses que o tempo insiste em manter vivos.


Portão de drenagem de água da cidade de Harappa.

E é mesmo. Conhecido por sang – algo como “feira de encontro” –, é realizado até hoje nas grandes cidades do vale do rio Indo, perto da fronteira entre o Paquistão e a Índia. Mas esconde uma curiosidade. Remete a uma das civilizações mais desenvolvidas de toda a Antigüidade, um povo que viveu ali, na mesma região, há milhares de anos. Não eram egípcios, nem mesopotâmios, tampouco chineses. Esse povo esquecido atingiu um surpreendente grau de desenvolvimento, comparável inclusive ao dos célebres vizinhos. A diferença é que não ficaram tão conhecidos – pelo menos nos dias de hoje –, embora tenham interagido profundamente com algumas dessas culturas avançadas. Eles eram a civilização do Vale do Indo, ou civilização harappiana, nome derivado de sua principal cidade, a capital Harappa.

Por volta de 3000 a.C., numa época em que Egito, Mesopotâmia e China começavam a esbanjar desenvolvimento e a ocupar o centro do mundo, os harapiannos floresciam no vale do rio Indo. Como as potências vizinhas, também dominavam técnicas e conhecimentos inimagináveis para aquele período da história. No seu auge, entre 2600 a.C. e 1900 a.C., espalharam-se por mais de 1500 vilas e estenderam-se por uma área duas vezes maior que o próprio Egito antigo e a Mesopotâmia. Ergueram cidades amplas e muito bem planejadas, com sistemas de drenagem sofisticados e prédios muitos complexos, e já conheciam as técnicas de fundição a mais de 930°C. Eram artesãos habilidosos que se destacavam principalmente por seus trabalhos com cerâmica e argila.


Uma sepultura com oferendas para o pós-morte.

O conhecimento traçou os rumos de Harappa. Seus habitantes abriram rotas comerciais que os levaram ao Golfo Pérsico, à Ásia Central e à Mesopotâmia. Por outro lado, as cidades harappianas viraram centros de comércio do mundo antigo. O artesanato local espalhou-se, tendo sido encontrado até nos sítios arqueológicos mesopotâmios. Textos antigos desta civilização, as inscrições cuneiformes, também comprovam o contato entre as duas culturas. Falam sobre o comércio com povos originários da distante Índia, que costumavam chamar de Meluha e Makkan. Assim como ainda acontece atualmente, naquela época os moradores dos pequenos vilarejos harappianos iam para as grandes cidades em dias de festivais – ou feiras de encontro, para comprar, vender ou trocar produtos, participar de cerimônias e até para rever familiares.

Democracia e Religião

Apesar de ser a maior das quatro civilizações da Antigüidade, o Vale do Indo só foi descoberto em 1920, quando arqueólogos escavaram parte das ruínas de Harappa e Mohenjo-daro, as duas maiores cidades da região, áreas que hoje correspondem às províncias paquistanesas de Punjab e Sindh, respectivamente. Mesmo assim, ainda há muito a ser escavado e, principalmente, desvendado. Questões básicas sobre estes povos continuam sem respostas. Vários sítios arqueológicos permanecem intocados, incluindo grandes cidades, e sua escrita está longe de ser decifrada. Alguns pontos, porém, são dados como certos.


Escavações no Monte AB em Harappa. 

A semelhança entre as plantas e a arquitetura das cidades harappianas, por exemplo, mostram que o Vale do Indo mantinha uma estrutura social e econômica uniforme. A economia era baseada na produção agrícola e nas atividades comerciais. Ou seja, comerciantes e artífices tinham grande influência na sociedade e, muito provavelmente, compunham a elite dominante. O povo era pacífico e não apresentava uma cultura belicosa, embora possuísse armas como lanças e espadas. Não havia reis nem teocratas – prova disso é a inexistência de palácios e templos suntuosos, mesmo nas ruínas das grandes cidades. As maiores construções eram mercados e prédios de banhos públicos, algo tão sofisticado para época que nem mesmo no Império Romano, dois mil anos depois, este tipo de facilidade chegava às classes mais baixas. “As principais edificações não são voltadas para os líderes, mas sim para a população. Isso sugere, inclusive, que havia um possível exercício arcaico de democracia, baseado principalmente em valores econômicos”, comenta o professor de cultura da Índia e língua sânscrita Carlos Eduardo Barbosa, do Instituto Narayana, de São Paulo.

Essa organização social não exclui, no entanto, a participação e a influência de líderes religiosos na sociedade. É provável que eles tenham sido a chave para manter unida uma civilização tão abrangente, que não tinha como característica usar a força para subjugar outros povos. Apesar de não haver provas arqueológicas da existência destes líderes, existem estudos que indicam que eles formavam uma elite dominante, que manteve a hegemonia por meio da religião e de rituais sagrados. “É o que aconteceu mais tarde com o hinduísmo, em que milhões de pessoas permaneceram unidas não pelo uso da força, mas sim da persuasão”, pondera Iravatham Mahadevan, do Conselho de Pesquisa Histórica da Índia, que há mais de 30 anos estuda a escrita do Vale do Indo. “Além disso, existem selos encontrados nos sítios arqueológicos que mostram a prática de rituais sagrados, com adorações a deuses nus, sentados em posição de yoga”, acrescenta Mahadevan.


Plataformas em estilo circular são comumente encontradas em toda a cidade.

Apogeu e decadência

Embora não se saiba muito da cultura do povo harappiano, sabe-se que a cidade de Harappa viveu seu boom econômico entre os séculos 2800 a.C. e 2600 a.C. Foi nesse período que os artesãos desenvolveram técnicas avançadas de manipulação de argila e outras matérias-primas, criando tijolos simétricos de barro e objetos refinados de cerâmica cobertos por uma espécie de esmalte. A fabricação de produtos têxteis também decolou aí. Enquanto os egípcios notabilizavam-se pela manufatura de peças de linho, os harappianos teciam com algodão. Surgiu nessa época ainda o sistema formal de escrita local, estampada em vários vasos e selos de argila encontrados nos sítios arqueológicos. Estes objetos, ilustrados com figuras geométricas ou representações de animais, parecem ter tido uso comercial ou administrativo. Seriam usados basicamente pela elite dominante e funcionavam como um mecanismo de controle econômico e demonstração de poder político.

Alguns pesquisadores, como Mahadevan, acreditam que eles também indicavam os títulos de seus usuários e até nomes e profissões. Para os harappianos, seria algo útil numa cidade que chegou a ter cerca de 80 mil habitantes, segundo as estimativas do arqueólogo Jonathan Mark Kenoyer, professor de antropologia da Universidade de Wisconsin e um dos líderes dos grupos de escavações dos sítios arqueológicos. Esses e outros segredos de Harappa, no entanto, continuam escondidos atrás de um enigma: a indecifrável escrita do Vale do Indo.


Areá de banho comunal, provavelmente para os grupos governantes.

Depois de quase dois mil anos de existência, a civilização do Vale do Indo começou a entrar em declínio. Várias teorias explicam esta fase, mas nenhuma é unânime. A mais aceita combina uma série de motivos. O primeiro deles seria a incapacidade da elite em manter a ordem num território tão vasto e povoado, que por volta de 1900 a.C. já se estendia para além das planícies do rio Ganges. “Essa falta de autoridade levou a uma reorganização da sociedade, não apenas em Harappa mas em toda a região do Vale do Indo”, escreveu Kenoyer em artigo publicado na revista Scientific American. Prova disso é o desaparecimento gradual de símbolos característicos da região, como os selos, vasos e pesos usados na taxação e comércio de produtos.

Outro fator importante para a queda da civilização harappiana foram as alterações climáticas que ocorreram ao longo dos séculos, possivelmente causadas pelo crescente desflorestamento para obtenção de matérias-primas. Em 2000 a.C., um dos mais importantes rios da região, o Sarasvati, começou a secar e deixou várias cidades sem uma base viável de subsistência. Estas populações teriam migrado para áreas agrícolas e cidades como Harappa e Mohenjo-daro, superpovoando lugares que não tinham estrutura para receber mais pessoas. Por conseqüência, os mecanismos de manutenção das rotas comerciais acabaram comprometidos.

Uma das teorias mais antigas, porém, conta outra história. Teria havido uma simples dispersão da população para outras regiões. Mas esta é uma hipótese pouco considerada pelos estudiosos atualmente. “Vestígios arqueológicos encontrados em escavações recentes mostram que as cidades continuavam habitadas entre 1900 a.C. e 1300 a.C.”, escreveu Kenoyer. Uma terceira tese atesta ainda que os harappianos foram aniquilados pelos indo-arianos a partir do segundo milênio antes de Cristo. De fato, o período entre o ano 2000 a.C e o ano1300 a.C. foi bastante conturbado, com guerras eclodindo em várias partes do mundo. Além disso, existem indícios de batalhas nos sítios arqueológicos do Vale do Indo.


Localização de Harappa no vale do Indo e extensão da Civilização do Vale (verde).

Mesmo assim, é pouco provável que os indo-europeus tenham destruído toda a civilização. A maioria dos especialistas acredita que a imigração ariana aconteceu depois que os harappianos entraram em declínio – e a relação entre estes povos foi muito provavelmente pacífica. “Quando chegaram à região, os indo-europeus tornaram-se sedentários e seus rebanhos ajudaram a fertilizar os campos agrícolas. Em troca, seus cavalos alimentavam-se da palha da cevada que era produzida pelos agricultores”, argumenta Barbosa. E por fim há uma hipótese indiana ultra-nacionalista, que acredita no caminho inverso ao ensinado pelo etnocentrismo europeu. Ela defende a idéia de que a civilização do Vale do Indo deu origem aos védicos, povos que surgiram logo em seguida aos harappianos e formularam o Rig Veda, a mais antiga escritura sagrada hindu. De acordo com a tese, eles conquistaram os sumérios e teriam expandido seus domínios para o oeste, influenciando também os povos do Ocidente. Ufanismo? Pode ser. Mas esta também é mais uma pergunta que continua sem resposta.

Altos e baixos no Vale do Indo

Os harappianos deixaram uma herança para a Índia

3300 a.C. – 2800 a.C.

É a primeira fase da civilização harappiana, chamada de Ravi. No começo deste período, plantam trigo, cevada e leguminosas. Técnicas especializadas de artesanato avançam pelo vale do rio Indo e as primeiras rotas comerciais começam a se desenvolver, com pequenos vilarejos formando-se ao seu redor. Na mesma época, sumérios construíam os primeiros zigurates e egípcios enterravam seus mortos junto com suas riquezas em túmulos de tijolos de barro.

2800 a.C. – 2600 a.C.

Período conhecido como Kot Diji. Harappa torna-se um próspero centro econômico, dando início à urbanização. Artesãos aprimoram suas técnicas e produzem peças refinadas de cerâmica esmaltada, trabalhando com fornos em altas temperaturas. Aumenta a quantidade de matérias-primas que chegam à cidade, em carroças e barcos. Rodas feitas de terracota surgem neste período.

2600 a.C. – 1900 a.C.

É o apogeu da civilização do Vale do Indo, com mais de 1.500 vilas espalhadas por uma área muito maior do que a de todas as antigas civilizações juntas, com exceção da China. As rotas comerciais chegam até o Golfo Pérsico, à Ásia Central e à Mesopotâmia. Cidades amplas e bem planejadas multiplicam-se, com sistemas de drenagem e prédios sofisticados.

1900. a.C. – 1300 a.C.

Uma série de fatores ocasiona a queda de Harappa. Entre os motivos estão até variações climáticas, que provocaram a seca do rio Sarasvati. Há indícios de batalhas nos restos arqueológicos, mas pesquisadores não acreditam que a civilização tenha sido aniquilada por outros povos. A cultura em torno do Ganges assume a hegemonia.

1300 a.C. – 1000 a.C.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Civilização esquecidas: Rapa Nui (Ilha de Páscoa).



Local onde eram realizados rituais religiosos pelo povo Rapa Nui. As pedras no centro possuem propriedades magnéticas.

Outra civilização que desapareceu misteriosamente foram os Rapa Nui, os antigos habitantes da Ilha de Páscoa. Além de ninguém saber ao certo como os enormes moais as esculturas de pedra que se espalham por toda a ilha foram construídos e transportados, outras questões que continuam sem resposta é como esse povo chegou até ali e o que exatamente levou ao seu desaparecimento. Atualmente se sabe que os Rapa Nui eram de origem polinésia. Alguns estudiosos acreditam ainda que esse povo teve contato com a América do Sul, introduzindo algumas plantas como a batata doce nativas da ilha.


Caverna Ana Kai Tangata, a Leste da Ilha que servia como ancoradouro de barcos pesqueiros dos Rapa Nui. 

Rapa Nui é o nome polinésio que recebeu a Ilha de Páscoa que os cientistas acreditam ter sido colonizada por volta de 900 d.C. por polinésios vindos das ilhas Marquesas e Pitcairn. Na própria tradição dos rapanui remanescentes, a ilha teria sido colonizada por uma família e seu patriarca se tornado o primeiro rei rapanui.


 Mapa da Ilha de Páscoa.

Com um tamanho de cerca e 170km² (metade da capital mineira, Belo Horizonte) e uma elevação de no máximo 510m (Cerro Terevaka), a Ilha de Páscoa chegou ao seu apogeu com aproximadamente 15 mil habitantes que se alimentavam das culturas ali plantadas, aves selvagens e golfinhos que eram pescados em alto mar.


Caverna no Setor Ana Kai Tangata.

Quando o navegador holandês Jacob Roggeveen chegou a esse remoto ponto do Pacífico, em 1722, encontrou uma terra escassamente povoada, cuja “aparência desgastada não daria outra impressão que não fosse a de uma singular aridez e pobreza”. A partir dos relatos dos habitantes locais, encadeou-se uma série de eventos que explicava como a ilha chegara àquela condição: degradação ambiental, superpopulação, disputas entre clãs, surtos de fome que degeneraram inclusive em canibalismo. O biólogo norte-americano Jared Diamond abordou o caso detalhadamente em seu livro Colapso, de 2005, citando-o como amostra do que os homens podem gerar ao destruir o ambiente que os abriga.

Os relatos tradicionais da derrocada da Ilha de Páscoa estão sendo revistos. N ão há, por exemplo, muitas evidências que confirmem uma onda de fome.


"Janela"  de uma caverna no complexo de Ana Te Pahu.

O antropólogo Terry Hunt, da Universidade do Havaí, e o arqueólogo Carl Lipo, da Universidade Estadual da Califórnia, Long Beach, têm reparos a fazer em relação a esse roteiro. Segundo seus estudos, divulgados em 2006, o desflorestamento, por exemplo, foi causado não apenas pelo corte para a produção de embarcações, mas também pela ação de ratos que vieram nos barcos dos primeiros ocupantes da ilha. Os dados disponíveis sobre a erosão do solo foram extrapolados de um único ponto da ilha para todo seu território. E as severas ondas de fome produzidas enquanto Páscoa era desmatada têm poucas evidências comprobatórias. Pesquisas mais recentes, aliás, apontam na direção contrária: a população pascoana cresceu durante o processo de desflorestamento.


Pictogramas representando homens-pássaros na Caverna do Setor Ana Kai Tangata. 

Mas e a descrição de Roggeveen? Hunt e Lipo não a explicam, mas contrapõem a ela o relato de um membro de uma expedição francesa à ilha em 1789: “Em vez de encontrar homens exaustos pela fome (...), deparei, ao contrário, com uma população considerável, com mais beleza e graça do que os que encontrei depois em qualquer outra ilha; e um solo que, com muito pouco trabalho, oferecia excelentes provisões.”


Puna Pau, lugar onde era estraida a argila para fazer os pukao, o chapéus dos moais.

As únicas evidências mais nítidas de um colapso populacional, segundo Hunt e Lipo, surgiram apenas depois da chegada de navegadores ocidentais à ilha. Entre 1722 e 1862, cerca de 50 navios europeus aportaram ali. Há relatos da difusão de doenças transmitidas sexualmente nos anos 1830, e a varíola se espalhou após a passagem de navios escravos com bandeiras do Peru e da Espanha, nos anos 1860. Em 1877, as doenças e as expedições em busca de escravos reduziram a população pascoana a cerca de 100 pessoas.


Interior de uma caverna do complexo Ana Te Pahu.

Em suma: foi a presença europeia, e não a devastação ambiental, a principal responsável pelo desastre pascoano, afirmam Hunt e Lipo. “As coisas funcionaram bem para os antigos ilhéus por séculos antes de os forasteiros chegarem”, diz Hunt. “Os visitantes europeus viram um estado patético e quiseram saber sobre um passado mais glorioso. O que eles não reconheceram foi que as doenças que haviam introduzido explicavam o triste estado que testemunharam.”


Petróglifos no Setor Papa Vaka.

A misteriosa escrita pictográfica Rongorongo.


E será nessa mesma Ilha de Páscoa que iremos encontrar estranhas inscrições, elaboradas em um alfabeto desconhecido. 

O Rongorongo é uma escrita pictográfica, registrada em entalhes feitos em tabuletas de madeira e em outros artefatos da ilha. O sistema não é conhecido nas ilhas vizinhas.

Neste processo, o Rongorongo quase desapareceu. Os colonizadores-missionários (cristãos) decidiram que a escrita fazia parte do paganismo popular e devia ser banida junto com outras tradições "heréticas". Os nativos foram incentivados e brigados a destruir a tábuas de Rapanui.

Em 1864, o padre Joseph Eyraud tornou-se o primeiro não-ilhéu a registrar o Rongorongo. Ele escreveu antes do último declínio da sociedade da ilha: "Em todas as casas pode-se encontrar tabuletas de madeira e outros objetos com a escrita hieroglífica." Eyraud não pôde encontrar ninguém que pudesse traduzir os textos; o povo tinha medo de tratar do assunto por causa das proibições dos missionários.


Um close das inscrições do Tablete Pequeno de Santiago, mostrando partes das linhas.

Em 1886, William Thompson, do navio americano USS Mohican, em viagem na ilha, coletando objetos para o National Museum, de Washington, se interessou pela escrita dos nativos. Ele obteve duas raras tabuletas e conseguiu que um ilhéu traduzisse o texto. A transcrição obtida é um dos poucos documentos que podem servir de parâmetro para decifrar o Rongorongo.

As semelhanças entre os signos rongo-rongo, da ilha da Páscoa e a antiga escrita hindu foram observadas por Wilhelm de Hevesy, em 1932.

Os estudos continuaram nas décadas seguintes. Em 1932, Wilhelm de Hevesy tentou encontrar uma conexão entre o Rongorongo e a escrita hindu. Ele havia encontrado correlação entre as duas escritas em 40 exemplos de símbolos mas suas conclusões não foram adiante.

Em 1950, Thomas Barthel foi o primeiro lingüista contemporâneo a se interessar pelo Rongorongo. Barthel estabeleceu que o sistema era composto de 120 elementos básicos que, combinados, formavam mil e quinhentos diferentes signos que representam objetos e idéias.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Civilizações esquecidas: Reino de Aksum.


Aksum, foi um poderoso império comercial que floresceu no nordeste da África há vários séculos. Aksum também era o nome da capital do reino. Atualmente, é uma cidade do norte da Etiópia.

A localização de Aksum entre o mar Vermelho e o rio Nilo ajudou a transformá-la num dos mais importantes e ricos centros comerciais da época. Entre os produtos que circulavam por seus portos estavam marfim, couro de hipopótamo, perfumes, ouro e animais.

O reino também era famoso por sua arquitetura. Na praça central da cidade de Aksum ainda estão alguns dos obeliscos de granito entalhado da época do império. (Um obelisco é uma coluna alta e estreita, com uma pequena pirâmide no topo.) Acredita-se que alguns obeliscos de Aksum estejam sobre túmulos subterrâneos dos governantes do reino.

Aksum se expandia à medida que se tornava mais poderosa. No século IV d.C., conquistou o reino de Kush, ao norte. Os soberanos de Aksum então ampliaram suas fronteiras até o sul da península Arábica, depois de cruzar o mar Vermelho. Nos séculos VII e VIII, o reino se enfraqueceu enquanto os árabes muçulmanos emergiam como um novo centro de poder.


O povo de Aksum sempre fora cristão desde o século IV. Os árabes permitiram que mantivessem a religião cristã, porque, no passado, Aksum havia dado refúgio aos seguidores do fundador do islamismo, o profeta Maomé. Atualmente, Aksum é considerada uma cidade sagrada da Igreja Ortodoxa Etíope. Aksum tem 54.000 habitantes (estimativa de 2011).

Aksum foi sede de um dos estados mais poderosos da região entre o Império Romano do Oriente e a Pérsia, cujo poder estendeu-se do século I ao XIII dC. O auge da cidade e do Império de Aksum ocorreu no século IV dC, quando o território controlado abrangia a atual Etiópia, o sul do Egipto e parte da Arábia, no sul do atual Iêmem. O comércio marítimo, com rotas que chegavam até o Ceilão, era realizado através do porto de Adulis (na atual Eritreia). Segundo o autor grego anônimo do Périplo pelo Mar da Eritreia, datado do século I dC, Adulis exportava escravos, marfim e cornos de rinoceronte. Relações comerciais foram mantidas com o Egito (então uma província romana) desde o século I e com a Índia a partir do século III; o comércio continuou com o Egito, Síria e o Império Bizantino até o século VII. A área da cidade chegou a cobrir 250 acres e estima-se que a população alcançou 20.000 pessoas no seu auge. A desaparição do Império de Meroe, por volta de 320, pode estar relacionado ao crescimento de Aksum, que com isso pôde redirecionar o comércio de marfim do rio Nilo ao porto de Adulis. Sinal da importância econômica da cidade foi a cunhagem de moedas, que começou no século III e continuou até o século VII.


Durante os primeiros séculos do primeiro milênio dC foram levantados, no campo de Mai Hedja, grandes estelas de pedra que recordavam grandes reis. Essa prática, que durou até cerca de 330 dC, terminou na época do rei Ezana, que converteu-se ao Cristianismo. Em total há 126 obeliscos em Aksum, incluído o de maior tamanho conhecido, quase todos atualmente caídos e partidos em pedaços.

O Cristianismo foi adotado como religião estatal em 330, o que criou laços religiosos com o Egito (então cristão) e o Império Bizantino. Segundo a história, o rei Ezana foi convertido por Frumêncio, um monge sírio que foi mais tarde feito bispo pela Igreja Copta egípcia. A partir dessa época, os reis cristãos de Aksum construíram palácios e igrejas, entre estas a primeira Igreja de Santa Maria, levantada em finais do século IV, segundo uma lenda, na área de um lago que secou milagrosamente. Achados arqueológicos e antigos textos mostram que a cidade contou com palácios e casas nobres de pedra com vários andares, mas a maioria das moradas em Aksum eram de barro e cobertas de palha.