O estruturalismo é uma
corrente de pensamento nas ciências humanas que se inspirou do modelo da
linguística e que apreende a realidade social como um conjunto formal de
relações.
Origem
O termo estruturalismo tem
origem no livro Cours de linguistique générale (em português, Curso de
lingüística geral) de Ferdinand de Saussure (1916), que se propunha a abordar
qualquer língua como um sistema no qual cada um dos elementos só pode ser definido
pelas relações de equivalência ou de oposição que mantém com os demais
elementos. Esse conjunto de relações forma a estrutura.
O estruturalismo é uma
abordagem que veio a se tornar um dos métodos mais extensamente utilizados para
analisar a língua, a cultura, a filosofia da matemática e a sociedade na
segunda metade do século XX. Entretanto, "estruturalismo" não se
refere a uma "escola" claramente definida de autores, embora o
trabalho de Ferdinand de Saussure seja geralmente considerado um ponto de partida.
O estruturalismo é mais bem visto como uma abordagem geral com muitas variações
diferentes. Como em qualquer movimento cultural, as influências e os
desenvolvimentos são complexos.
De um modo geral, o
estruturalismo procura explorar as inter-relações (as "estruturas")
através das quais o significado é produzido dentro de uma cultura. Um uso
secundário do estruturalismo tem sido visto recentemente na filosofia da
matemática. De acordo com a teoria estrutural, os significados dentro de uma cultura
são produzidos e reproduzidos através de várias práticas, fenômenos e
atividades que servem como sistemas de significação. Um estruturalista estuda
atividades tão diversas como rituais de preparação e do servir de alimentos,
rituais religiosos, jogos, textos (literários e não-literários) e outras formas
de entretenimento para descobrir as estruturas profundas pelas quais o
significado é produzido e reproduzido em uma cultura. Por exemplo, o
antropólogo e etnógrafo Claude Lévi-Strauss (um antigo e proeminente praticante
do estruturalismo), analisou fenômenos culturais incluindo mitologia, relações
de família e preparação de alimentos.
Lévi-Strauss explicou que os
antônimos estão na base da estrutura sócio-cultural. Em seus primeiros
trabalhos demonstrou que os grupos familiares tribais eram geralmente
encontrados em pares, ou em grupos emparelhados nos quais ambos se opunham e se
necessitavam ao mesmo tempo. Na Bacia Amazônica, por exemplo, duas grandes
famílias construíam suas casas em dois semi-círculos frente-a-frente, formando
um grande círculo. Também mostrou que os mapas cognitivos, as maneiras através
das quais os povos categorizavam animais, árvores, e assim por diante, eram
baseados em séries de antônimos. Mais tarde, em seu trabalho mais popular, "O
Cru e o Cozido", descreveu contos populares amplamente dispersos da
América do Sul tribal como inter-relacionados através de uma série de
transformações - como um antônimo aqui transformava-se em outro antônimo ali.
Por exemplo, como o título indica, Cru torna-se seu oposto, Cozido. Esses
antônimos em particular (Cru/Cozido) são simbólicos da própria cultura humana
que, por meio do pensamento e do trabalho, transforma matérias-primas em
roupas, alimento, armas, arte, idéias. Cultura, explicou Lévi-Strauss, é um
processo dialético: tese, antítese, síntese.
Ao fazer estudos em
literatura, um crítico estruturalista examinará a relação subjacente dos
elementos ('a estrutura') em, por exemplo, uma história, ao invés de focalizar
em seu conteúdo. Um exemplo básico são as similaridades entre 'Amor, sublime
Amor' e 'Romeu e Julieta' . Apesar de as duas histórias ocorreram em épocas e
lugares diferentes, um estruturalista argumentaria que são a mesma história,
devido à estrutura similar: em ambos os casos, uma garota e um garoto se
apaixonam (ou, como podemos dizer, são +AMOR) apesar de pertencerem a dois
grupos que se odeiam (-AMOR), um conflito que é resolvido por suas mortes.
Consideremos agora a história de duas famílias amigas (+AMOR) que fazem um
casamento arranjado entre seus filhos apesar deles se odiarem (-AMOR), e que os
filhos resolvem este conflito cometendo suicídio para escapar da união. Um
estruturalista argumentaria que esta segunda história é uma 'inversão' da
primeira, porque o relacionamento entre os valores do amor e dos dois grupos
envolvidos foi invertido. Adicionalmente, um estruturalista argumentaria que o
'significado' de uma história se encontra em descobrir esta estrutura ao invés
de, por exemplo, descobrir a intenção do autor que a escreveu.
O
Curso de Saussure
Geralmente, Ferdinand de
Saussure é visto como o iniciador do estruturalismo, principalmente devido a
seu livro de 1916 'Curso de Linguística Geral'. Ainda que Saussure fosse, assim
como seus contemporâneos, interessado em linguística histórica, desenvolveu no
'Curso' uma teoria mais geral de semiologia (estudo dos signos). Essa abordagem
se concentrava em examinar como os elementos da linguagem se relacionavam no
presente ('sincronicamente', ao invés de 'diacronicamente'). Assim ele focou seus
estudos não no uso da linguagem (o falar, ou a parole), mas no sistema
subjacente de linguagem (idioma, ou a langue) do qual qualquer expressão
particular era manifestação. Enfim, ele argumentou que sinais linguísticos eram
compostos por duas partes, um 'significante' (o padrão sonoro da palavra, seja
sua projeção mental - como quando silenciosamente recitamos linhas de um poema
para nós mesmos - ou sua realização física como parte do ato de falar) e um
'significado' (o conceito ou o que aquela palavra quer dizer). Era totalmente
diferente das abordagens anteriores à linguagem, que se focavam no
relacionamento entre palavras e as coisas que elas denominavam no mundo.
Concentrando-se na constituição interna dos sinais ao invés da sua relação com
os objetos no mundo, Saussure fez da anatomia (estrutura da linguagem) algo
passível de ser analisado e estudado.
Estruturalismo
na Linguística
O Curso de Saussure
influenciou muitos linguistas no período entre a I e a II Grandes Guerras. Nos
Estados Unidos, por exemplo, Leonard Bloomfield desenvolveu sua própria versão
de linguística estrutural, assim como fez Louis Hjelmslev na Escandinávia. Na
França, Antoine Meillet e Émile Benveniste continuariam o programa de Saussure.
No entanto, ainda mais importante, membros da Escola de Linguística de Praga
como Roman Jakobson e Nikolai Trubetzkoy conduziram pesquisas que seriam muito
influentes.
O mais nítido e mais
importante exemplo do estruturalismo da Escola de Praga encontra-se na fonética
(estudo dos fonemas). Em vez de simplesmente compilar uma lista dos sons que
ocorrem num idioma, a Escola de Praga procurou examinar como elas se
relacionavam. Determinaram que o catálogo de sons em um idioma poderia ser
analisado em termos de uma série de contrastes.
Por exemplo, em inglês as
palavras 'pat' e 'bat' são diferenciadas devido ao contraste de sons do /p/ e
do /b/. A diferença entre eles é que as cordas vocais vibram enquanto se diz um
/b/ e não vibram quando se diz um /p/. Também no inglês existe um contraste
entre consoantes pronunciadas e não-pronunciadas. Analisar sons em termos de
características contrastantes também abre um espaço comparativo: deixa claro,
por exemplo, que a dificuldade que falantes japoneses têm em diferenciar o /r/
do /l/ no inglês deve-se ao fato de esses dois sons não serem contrastantes em
japonês. Enquanto essa abordagem é atualmente padrão em linguística, foi
revolucionária na época. A fonologia viria a tornar-se a base paradigmática
para o estruturalismo num diferente número de formas.
Estruturalismo
na Literatura
O Estruturalismo teve
vigência nos estudos literários pelos trabalhos do Grupo Tel
Quel/Communications, formado por Roland Barthes, Algirdas Julien Greimas, Juri
Lotman, Tzvetan Todorov, Claude Bremond etc. Dentre as obras principais estão
Análise Estrutural da Narrativa, Ensaios de Semiótica Poética e As Estruturas
Narrativas.
Estruturalismo
na Antropologia
Claude Lévi-Strauss é o
expoente da corrente estruturalista na Antropologia. Para fundá-la,
Lévi-Strauss buscou elementos das ciências que, no seu entender, haviam feito
avanços significativos no desenvolvimento de um pensamento propriamente
objetivo. Sua maior inspiração foi a Lingüística estruturalista da qual faz
constante referência, por exemplo, a Jakobson.
Ao apropriar-se do
pensamento estruturalista para aplicá-lo à Antropologia, Lévi-Strauss pretende
chegar ao modus operandi do espírito humano. No seu entender, deve haver
elementos universais na atividade do espírito humano, elementos entendidos como
partes irredutíveis e suspensas em relação ao tempo, que perpassariam todo o
modo de pensar dos seres humanos.
Nesta linha de pensamento,
Lévi-Strauss chega ao par de oposições como elemento fundamental do espírito:
todo pensamento humano opera através de pares de oposição. Para defender essa
tese, Lévi-Strauss analisa milhares de mitos nas mais variadas sociedades
humanas, encontrando modos de construção análogos em todas.
Estruturalismo
na Filosofia da Matemática
Estruturalismo na matemática
é o estudo de que estruturas dizem o que um objeto matemático é, e como a
ontologia (estudo do Ser) dessas estruturas deveria ser entendida. É uma
filosofia crescente dentro da matemática que não deixa de ter sua porção de
críticos. Em 1965, Paul Benacerraf escreveu um ensaio intitulado: "O que
os números não poderiam ser." É um artigo seminal em estruturalismo
matemático, num estranho modo de dizer: ele iniciou o movimento pela resposta
que gerou. Benacerraf endereçou uma noção em matemática para tratar enunciados
matemáticos em valor nominal, e nesse caso estamos comprometidos a uma abstrata
e eterna esfera de objetos matemáticos. O dilema de Bernacerraf é como nós
viemos a saber desses objetos se não nos encontramos em relação casual com os
mesmos. Esses objetos são considerados casualmente inertes ao mundo. Outro
problema levantado por Bernacerraf são as múltiplas teorias de grupos que
existem através da redução de teoria elementar dos números para teoria de
grupos. Decidir qual das teorias é verdadeira não foi praticável. Benacerraf
concluiu em 1965 que números não são objetos.
A resposta às reivindicações
negativas de Benacerraf é como o estruturalismo tornou-se um programa
filosoficamente viável dentro da matemática. O estruturalismo responde a essas
reivindicações negativas que a essência dos objetos matemáticos são relações em
que os objetos sejam pacientes com as estruturas. Estruturas são exemplificadas
em sistemas abstratos em termos de relações que contêm a verdade para aquele
sistema.
Estruturalismo
no pós-Guerra
Após a II Guerra Mundial, e
particularmente nos anos 60, o estruturalismo emergiu à proeminência na França
e foi a popularidade inicial do estruturalismo nesse país que o levou a se
expandir pelo globo.
Durante as décadas de 40 e
50, o existencialismo como era praticado por Jean-Paul Sartre era o modo
dominante. O estruturalismo rejeitava a noção existencialista de liberdade
humana radical e, ao invés disso, concentrava-se na maneira que o comportamento
humano é determinado por estruturas culturais, sociais e psicológicas. O mais
importante trabalho nesse sentido foi o volume de 1949 de 'As Estruturas
Elementares do Parentesco' de Claude Lévi-Strauss. Lévi-Strauss havia conhecido
Jakobson durante sua estada em Nova Iorque durante a II Guerra Mundial e foi
influenciado tanto pelo estruturalismo de Jakobson quanto pela tradição
antropológica americana. Em 'Estruturas Elementares' ele examinou os sistemas
de relações de parentesco de um ponto de vista estrutural e demonstrou o quanto
organizações sociais aparentemente diferentes eram de fato permutações de
algumas poucas estruturas de parentesco. No final dos anos 50 ele publicou
'Antropologia Estrutural', uma coleção de ensaios que delineavam seu programa
para o estruturalismo.
No início dos anos 60 o
estruturalismo como movimento começava a andar com suas próprias pernas e
alguns acreditavam que isso ofereceu uma singular abordagem unificada da vida
humana que poderia abraçar todas as disciplinas. Roland Barthes e Jacques
Derrida se concentraram em como o estruturalismo poderia ser aplicado à
literatura. Jacques Lacan (e, de outro modo, Jean Piaget) aplicaram o
estruturalismo ao estudo da psicologia, combinando Freud e Saussure. O livro de
Michel Foucault 'A Ordem do Discurso' examinou a história da ciência para
estudar como estruturas de epistemologia (teoria do conhecimento) davam forma a
como as pessoas imaginavam o conhecimento e o saber (apesar de que Foucault,
mais tarde, negaria explicitamente uma pretensa afiliação com o movimento
estruturalista). Louis Althusser combinou Marxismo com estruturalismo para
criar seu próprio tipo de análise social. Outros autores na França e no
exterior têm desde então estendido a análise estrutural a praticamente toda
disciplina.
A definição de
'estruturalismo' também mudou como resultado de sua popularidade. Como sua
popularidade como movimento passava por altos e baixos, alguns autores se
consideravam 'estruturalistas' e logo depois abandonavam o rótulo.
Adicionalmente, o termo teve significados levemente diferentes em inglês e em
francês. Nos EUA, por exemplo, Derrida é considerado o paradigma do
pós-estruturalismo enquanto na França é rotulado como estruturalista. Enfim,
alguns autores escreveram em vários estilos diferentes. Barthes, por exemplo,
escreveu livros claramente estruturalistas e outros que claramente não o eram.
Estruturalismo
na Psicologia
O estruturalismo define a
psicologia como ciência da consciência ou da mente, definição herdada de Wundt.
Mostra-nos que a mente seria a soma dos processos mentais. Edward Titchener
afirmava que cada totalidade psicológica compõe-se de elementos. O objetivo da
psicologia seria a tarefa de descobrir quais são os elementos mentais, o
conteúdo e a maneira pela qual se estrutura. Três parâmetros estão em relação
ao objeto: "o que é?" - através da análise se chega aos componentes
da vida mental; "o como?" - a síntese mostra como os elementos estão
associados e estruturados e que leis determinam essas associações; e "o
por quê?" - investiga a causa dos fenômenos. Titchener afirma que, embora
o sistema nervoso não seja a causa da mente, pode ser usado para explicá-la.
Titchener considera que os
elementos ou as unidades que compõem o conteúdo da mente são as sensações, as
imagens, as afeições e os sentimentos. Usa-se a introspecção para chegar a
eles, através de uma observação treinada e preparada para garantir os dois
pontos essenciais de toda a observação: a atenção e o registro do fenômeno.
Reações
ao Estruturalismo
Hoje o estruturalismo tem
sido substituído por abordagens como o pós-estruturalismo e desconstrutivismo.
Há muitas razões para isso. O estruturalismo tem sido frequentemente criticado
por ser não histórico e por favorecer forças estruturais determinísticas em
detrimento à habilidade de pessoas individuais de atuar. Enquanto a turbulência
política dos anos 60 e 70 (e particularmente os levantes estudantis de maio de
68) começou a afetar a academia, questões de poder e briga política tornaram-se
o centro das atenções da população. Nos anos 80, o desconstrutivismo e sua
ênfase na ambiguidade fundamental da língua - ao invés de sua estrutura
cristalina lógica - tornou-se popular. No final do século o estruturalismo era
visto historicamente como uma importante escola de pensamento, mas eram os
movimentos que ele gerou, e não o próprio estruturalismo, que detinham a
atenção.