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quarta-feira, 20 de agosto de 2014

O Ludismo: a Rebelião contra as máquinas


O medo do homem à máquina 

            O assalto às lavouras experimentais de transgênicos que se processam no Brasil de hoje e os protestos dos ambientalistas à engenharia genética em outras partes da mundo, particularmente na Europa, nos faz lembrar dos luditas, um movimento popular que surgiu na Grã-Bretanha entre 1811-1818, dedicado à destruição das máquinas e protestos contra a tecnologia.

Ludd ataca

"Sua obra de destruição não se atém a método nenhum/ O fogo e a água serve-lhe para destruir/ pois os elementos ajudam no seu designo.../ ele destruirá tudo de dia ou à noite/ e nada poderá escapar da sua sentença."

General Ludd's Triumph, 1812

            Certa vez, no ano de 1812, há quase dois séculos atrás, Mr. Smith, um dono de uma tecelagem no distrito de Huddersfild, no leste da Inglaterra, recebeu uma estranha carta assinada por um tal de "general Ludd". Continha pesadas ameaças. A sua fábrica em breve seria invadida e as máquinas destruídas caso ele não se desfizesse delas. Um incêndio devoraria o edifício e até a sua casa, se ele tentasse reagir. O nome Ludd era conhecido nos meios fabris desde que um maluco chamado Ned Ludd, uns trinta anos antes, em 1779, invadira uma oficina para desengonçar as máquinas a marteladas. A missiva não era brincadeira.
           
A chegada das máquinas
           
            Uns meses antes, nos finais de 1811, uma onda de assaltos aos estabelecimentos mecânicos espalhara-se pela região de Nottingamshire, uma antiga área ligada à criação de ovelhas e que desde o século 17 vira crescer por lá, espalhadas, pequenas empresas de fiação e tecelagem. A revolução industrial, com a rápida disseminação da máquina a vapor, como era de esperar, provocou ali uma radical mutação socio-econômica. Por todo lado novos teares e máquinas tricotadeiras embaladas pela nova tecnologia da energia à vapor, substituíram os antigos procedimentos das rocas de fiar. As reações não demoraram.

A Carta do General Ludd

"Possuímos informações de que você é um dos proprietários que têm um desses detestáveis teares mecânicos e meus homens me encarregaram de escrever-lhe, fazendo um advertência para que você se desfaça deles... atente para que se eles não forem despachados até o final da próxima semana enviarei um dos meus lugar-tenentes com uns 300 homens para destruí-los, e, além disso, tome nota de que se você nos causar problemas, aumentaremos o seu infortúnio queimando o seu edifício, reduzindo-o a cinzas; se você tiver o atrevimento de disparar contra os meus homens, eles têm ordem de assassiná-lo e de queimar a sua casa. Assim você terá a bondade de informar aos seus vizinhos de que esperem o mesmo destino se os seus tricotadores não sejam rapidamente desativados.."

Ass.: General Ludd, março de 1812


Outras Destruições
    
             Atacar e destruir máquinas é uma atividade bem mais antiga do que se supõe. Bem antes do desencadeamento do Movimento Ludita registraram-se, no princípio do século XVIII, ações depedradoras na periferia de Londres contra uma serra movida a água, como também contra uma tosquiadeira automática, inventada por um tal de Everet em 1758. O próprio Marx assinala (no cap. XIII, 5, d'O Capital) as rebeliões ocorridas em certas partes da Europa provocadas pela introdução de moinho de fazer fitas e galões. O que levava aquele gente humilde, geralmente cordata, a cometer tais atos desesperados? Medo e insegurança. Assustavam-se com a possibilidade das máquinas estreitarem ou suprimirem com o trabalho deles, além do receito sobrenatural ao novo tão comum entre as gentes.

O Movimento Ludita

"E noite trás noite, quando tudo está tranqüilo/ e a lua se esconde por detrás da colina/ Nós marchamos para executar a nossa vontade/ Com acha, lança ou fuzil/ Oh meus valentes cortadores/ Os que com um só forte golpe/ rompem com as máquinas cortadeiras/O grande Enoch dirigirá a nossa vanguarda/ Quem se atreverá a detê-lo?/ Adiante sempre todos homens valentes/ Com acha, lança e fuzil/ Oh meus valentes cortadores..."


- Canção ludita –
As modernas tecelagens, alvo dos luditas
           
            Os Luditas, porém, foram mais além dos quebra-quebras. Se bem que no seu princípio houve incursões antimáquinas espontâneas, tal como se deu em março de 1811, em Arnold, um lugarejo de Nottingham, onde um bando devastou 60 teares sob o aplauso de um multidão de desempregados, em Yorkshire, Leicestershire e em Derbyshire, regiões vizinhas, não se tratava mais de explosões irracionais, esparsas e desordenadas. Nos momentos seguintes, nunca tendo um líder só, foram pequenos grupos organizados e disciplinados, atuando segundo um plano, quem entraram em atividade. Estima-se que o seu número oscilou de três a oito mil integrantes, dependendo do distrito.

Os Esquadrões Luditas
            
            Liderados pelos assim apontados "homens de maus desígnios", usando máscaras ou escurecendo o rosto, os esquadrões luditas, armados com martelos, achas, lanças e pistolas, aproveitando-se para deslocarem-se à noite, vagavam de um distrito ao outro demolindo tudo o que encontravam, apavorando os donos das fábricas. O comandante da operação chamava-se de "General Ludd", com poder de vida e morte sobre os companheiros Em Nottingham revelou-se um tipo enorme, Enoch Taylor, um ferreiro que levava ao ombro uma poderosa maça de ferro batizada com o seu nome mesmo: Enoch. Bastava uma martelada daquelas para que a porta do estabelecimento viesse abaixo, enquanto que mais uma outra aplicada num engenho qualquer reduzia-o a um monte de ferro inútil.

Um Quadro Insurrecional
            
           
            O pano de fundo em que o ludismo emergiu formou-se pelas dificuldades sofridas pelas exportações britânicas, decorrentes do bloqueio continental imposto em 1806 por Napoleão Bonaparte, e, em seguida, pelos problemas enfrentados com a obtenção do algodão para a as tecelagens, visto que em 1812 os ingleses estavam em guerra contra os Estados Unidos (o seu principal fornecedor). Naquele mesmo ano, no dia 11 de maio, algo raro na história política inglesa ocorreu: o assassinato do seu primeiro ministro Perceval, em plena Câmara dos Comuns, vítima de um malucão. O clima, pois, era de generalizada revolta em larga parte da Inglaterra, sendo que E.P. Thompson - um dos maiores historiadores da classe operária britânica - acredita que o movimento extrapolou seu objetivos originais, como assegurou um testemunho da época, ambicionando "derrubar o sistema de governo pondo em revolução o país inteiro". Esta foi a razão do Parlamento ter aprovado em Londres em 1812, apesar da eloqüente oposição de Lord Byron, a Frame Braking Act, que estabeleceu a pena de morte para quem destruísse as máquinas.
  
O Massacre de Peterloo

            Uns sete anos depois dos amotinamentos luditas, por volta de 1818-9, as coisas voltaram a se acalmar. A insurgência sofreria um rude golpe com a mobilização do exército e dos corpos auxiliares e com os enforcamentos coletivos que as autoridades submeteram os insurretos, como deu-se em York onde um dos líderes, George Mellor, subiu ao patíbulo com 13 companheiros. Repressão que atingiu sua culminância nos Massacres de Perterloo (uma paródia jocosa de Waterloo, porque deu-se no comando-geral do generalíssimo Duque de Wellington, o vencedor de Napoleão), quando 15 manifestantes foram mortos pelas tropas nas redondezas de Manchester. No dia 16 de agosto de 1819, no parque de Saint-Peter, uma multidão de umas 50 mil pessoas, reunidas num protesto, foi exposta a uma brutal carga de cavalaria que chocou a Grã-Bretanha inteira.
  
Marxismo e Ludismo       
            
            A literatura marxista a respeito do ludismo (E.P.Taylor, E.Hobsbawn, e o próprio Marx) procurou retirar a pecha de analfabetos ignorantes que o restante da população inglesa havia lançado sobre os inimigos das máquinas (tornando desde então o termo ludita algo pejorativo). Entenderam-no, o movimento, como um proto-sindicalismo, uma reação desculpável e natural contra algo que provocava o desemprego e o rebaixamento salarial. Além, claro, de ser uma contestação ao capitalismo, ainda que no quadro da grande transformação operada na transição do trabalho manual para o trabalho automatizado. Mesmo assim, não conseguiram evitar as óbvias associações do ludismo com o obscurantismo medieval, tão comuns a certos setores das classes populares. Marx, socorrendo-se de um tal de Andrew Ure (The Philosophy of the Manufactures, 1835), um teórico, defendeu a tese de que graças às ameaças dos trabalhadores é que os capitalistas, para reduzirem as pressões e as rebeldias, aceleravam as implementações tecnológicas, concluindo que a máquina era estruturalmente uma "potência hostil ao trabalhador" (O Capital, vol. I, cap. XIII, 5).

Estranheza ao Mundo da Técnica

            Ocorre que, como é sabido, toda a inovação tecnológica realmente profunda excita inevitáveis efeitos fóbicos de toda a ordem. Ainda que tendente à razão, o homem é um animal conservador, rotineiro e assustadiço. Na história, até bem pouco tempo, eram minorias insignificantes que viviam em cidades, e um número reduzidíssimo de pessoas é ligado diretamente às coisas da técnica e da mecânica. Grande parte da humanidade, como ainda hoje no Terceiro Mundo, vive perto ou à beira dos matos, sofrendo-lhe a inevitável influência psicológica.

Opiniões Controversas
            
            Lord Byron, o poeta, viu no ludismo a transgressão das normas. Algo assim como uma espécie de reforma religiosa - um luteranismo aplicado às fábricas. William Blake, outro poeta, entendeu-os como os instrumentos de uma revolta sagrada contra os dark Satanic Mills, os tenebrosos moinhos satânicos (o clima geral dentro das fábricas daquela época), nos quais as mulheres e crianças inglesas eram obrigadas a trabalhar em condições deprimentes. A romancista Charlote Brontë, no seu livro Shirley, de 1849, entretanto, não devotou-lhes simpatia. Além de assegurar a um master (um patrão), de nome Cartwright (nome de um inventor) o papel de herói resistente, frente a uma assalto de uma turba armada, disse que os chefes luditas "não vinham das classes operosas", vendo-os como gente "fracassada, decaída, um bando de endividados e desocupados, muitos deles entregues à bebida". Mas o pavor às máquinas não partiu só de gente iletrada.
  
A máquina como desumanização
           
            O filósofo Martin Heidegger, o mais significativo pensador alemão deste século, oriundo da Floresta Negra, irmanou-se a eles na sua tecnofobia, denunciando a mecanização como vil, interesseira, inclinada ao lucro e, pior, desumanizante. Aliou-se aos nazistas em 1933 na expectativa de que Hitler cumprisse o programa Blut und Boden, o do sangue e solo, um reacionário projeto de ruralização de desmecanização da Alemanha (nos quadros de Baumgartner, Wisser e Janesh, Junghanns, pintores nazistas, o campo aparece sem uma máquina sequer, toda a lavoura é orgânica). O pensador via a tecnologia como pertinente ao mundo moderno, levando-o à devastação da natureza, à massificação sufocadora da criatividade, à estandardização do comportamento e da cultura, à banalização da existência, provocando-lhe por fim uma doença quase que incurável.

Neoluditismo 
           
            Logo não é de se estranhar a ocorrência de periódicos assaltos em vários cantos do mundo contra laboratórios que fazem experiências biogenéticas, nem às lavouras transgênicas. Da mesma forma que os luditas ingleses atacaram nos começos do século XIX as máquinas, a tecnologia e o capitalismo laissez-faire então nascente, hoje, na transição do milênio, é um neoluditismo globalizado quem encabeça a vanguarda das ações antiliberais e anticientíficas.

Em "A revolução que vem", Ted Kaczynski esboçou o que ele via como os novos "Luddists" novos valores que irão libertá-los do jugo do actual sistema technoindustrial ":

    Rejeição de toda a tecnologia moderna - "Este é logicamente necessário, porque a tecnologia moderna é um todo em que todas as partes estão interligadas, você não pode se livrar das partes ruins, sem dar igualmente até aquelas partes que parecem boas."
  
     Rejeição do materialismo e sua substituição por uma concepção de vida que valoriza a moderação e auto-suficiência enquanto depreciativo a aquisição de bens ou de status.

    Amor e reverência para com a natureza, ou até mesmo a adoração da natureza.

    Exaltação da liberdade.

    Punição dos responsáveis pela atual situação. "Os cientistas, engenheiros, executivos de corporações, políticos, e assim por diante ..."

            Em 1990, Chellis Glendinning publicou suas "Notas em direção a um manifesto neo-ludita" no Utne Leitor , recuperando o termo ludita '. De acordo com Glendinning, neoluditas são "cidadãos do século 20 - ativistas, trabalhadores, vizinhos, críticos sociais e acadêmicos - que questionam a visão de mundo moderna predominante, que prega que a tecnologia desenfreada representa progresso ". Glendinning propõe destruir as seguintes tecnologias : tecnologias eletromagnéticas (isso inclui comunicações, computadores, eletrodomésticos e refrigeração), tecnologias químicas (isso inclui materiais sintéticos e medicina), tecnologias nucleares (isso inclui armas e energia, bem como o tratamento do câncer, esterilização e detecção de fumaça), engenharia genética (isso inclui as culturas, bem como a produção de insulina). Ela argumenta em favor da "busca de novas formas tecnológicas" que são locais em escala e promover a liberdade social e política. Glendinning então propõe os seguintes princípios para Neo-ludismo:

terça-feira, 1 de julho de 2014

A Pesquisa na Internet e seu uso no meio acadêmico


            O surgimento da Internet provocou uma série de mudanças nos cenários social e econômico da humanidade e, atualmente, se configura como uma ferramenta fundamental para a realização de atividades habituais do nosso dia a dia,seja nas formas de comunicação, no modo de consumo, na área da educação, nas relações interpessoais, no acesso às informações, entre outras.

            Nesse sentido, o volume, a variedade e a velocidade com que as informações trafegam na grande rede, tríade que caracteriza o fenômeno chamado Big Data, vem sendo objeto de análises e estudos. Nunca se produziram tantas informações quanto nos últimos tempos.

            Atualmente 2,5 exabytes de informações são produzidas diariamente pela humanidade, para ter uma noção exata do que tal medida significa, 3 exabytes era tudo o que se conseguia armazenar no ano de 1986 e, no presente, são produzidas quase o dobro disso em apenas dois dias (PETRY, 2013, p. 74). Torna-se necessário então, avaliar essas informações, sua credibilidade e onde encontrá-las. Abaixo segue uma relação de alguns Portais e Sites, que podem ser considerados excelentes fontes de pesquisa virtual:

            SciELO - Scientific Electronic Library Online (Biblioteca Científica Eletrônica em Linha) é um modelo para a publicação eletrônica cooperativa de periódicos científicos na Internet. Disponível em: http://www.scielo.org/php/index.php

            Portal do Domínio Público - O "Portal Domínio Público", lançado em novembro de 2004 (com um acervo inicial de 500 obras),  propõe o  compartilhamento de conhecimentos de forma equânime, colocando à disposição de todos os usuários da rede mundial de computadores - Internet - uma biblioteca virtual que deverá se constituir em referência para professores, alunos, pesquisadores e para a população em geral. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp

            O Portal de Periódicos da Capes é uma biblioteca virtual que reúne e disponibiliza a instituições de ensino e pesquisa no Brasil o melhor da produção científica internacional. Ele conta atualmente com um acervo de mais de 35 mil periódicos com texto completo, 130 bases referenciais, além de livros, enciclopédias e obras de referência, normas técnicas, estatísticas e conteúdo audiovisual. Disponível em: http://www.periodicos.capes.gov.br/?option=com_phome&mn=68

            PROSSIGA - Programa de Informação para Gestão de Ciência, Tecnologia e Inovação do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia Criado em 1995, o programa Prossiga tem por objetivo promover a criação e o uso de serviços de informação na Internet voltados para as áreas prioritárias do Ministério da Ciência e Tecnologia, assim como estimular o uso de veículos eletrônicos de comunicação pelas comunidades dessas áreas. Disponível em: http://prossiga.ibict.br/

            Portal Ibict - A transferência de tecnologias da informação é uma das ações que consolidaram o IBICT como referência na área no Brasil e no exterior. O seu corpo técnico realiza a absorção e personalização de novas tecnologias, repassando-as a outras entidades interessadas na captura, distribuição e preservação da produção intelectual científica e tecnológica. Disponível em: http://www.ibict.br/

            Google Acadêmico - É um serviço de busca acadêmica e apresenta seus resultados em diversos idiomas. O novo recurso relaciona artigos técnicos, teses, livros, resumos, relatórios técnicos e outros tipos de publicações. Disponível em: http://scholar.google.com.br/schhp?hl=pt-BR

            CNPq - O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), agência do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), tem como principais atribuições fomentar a pesquisa científica e tecnológica e incentivar a formação de pesquisadores brasileiros. Disponível em: http://www.cnpq.br/index.htm

            Plataforma Lattes - Plataforma Lattes representa a experiência do CNPq na integração de bases de dados de Currículos, de Grupos de pesquisa e de Instituições em um único Sistema de Informações. Sua dimensão atual se estende não só às ações de planejamento, gestão e operacionalização do fomento do CNPq, mas também de outras agências de fomento federais e estaduais, das fundações estaduais de apoio à ciência e tecnologia, das instituições de ensino superior e dos institutos de pesquisa. 

segunda-feira, 23 de junho de 2014

A Viagem do “Dragão Feliz” Fukuryu Maru.


            O trabalho que se segue é uma exposição clara da falta de respeito e responsabilidade das autoridades envolvidas em testes com armamentos nucleares tanto no passado, quanto no presente. E nós como historiadores não podemos deixar eventos como o ocorrido com o navio pesqueiro Fukuryu Maru (Dragão Feliz) serem esquecidos. O perigo nuclear está presente hoje tão vivo quanto estava na década de 1950, do século passado, a diferença é a aparente estabilidade das grandes nações nucleares, mas elas mesmas são cientes de quão tênue é está paz, que negam-se a desfazerem-se de seus arsenais. Sendo os Estados Unidos o líder com 13 mil ogivas (ICBM’s - intercontinental ballistic missile) em mísseis, seguido da Rússia com 10 mil ogivas em mísseis (ICBM’s). Compete agora a cada leitor do Construindo História Hoje, tirar suas próprias conclusões a respeito do perigo nuclear.

“A comovente história de um pequeno barco de pesca japonês e seus 23 tripulantes, vítimas de uma catástrofe inesperada (...) com efeitos de significação para todo o mundo em toda parte.”


            Pouco antes do alvorecer do dia 1° de março de 1954, o barco japonês de pesca de arrasto Fukuryu Maru (Dragão Feliz) vagava com os motores parados pelas águas clamas do Pacífico Central. Tinha lançado suas linhas de pesca de atum pela última vez e não tardaria a rumar para seu porto de Yaizu, 200 quilômetros ao sul de 
Tóquio.

            De repente os céus se incendiaram a oeste e um grande clarão de luz amarelo-esbranquiçada se esparramou de encontro às nuvens. Foi como se a transição gradual da noite para a aurora tivesse sido afastada bruscamente para que se inundasse de luz o oceano. A cor mudou para um vermelho-amarelo e finalmente para uma bola de chama vermelho-alaranjada no horizonte. O vistoso espetáculo parecia um sol poente, sendo, porém várias vezes mais brilhante, embora não o fosse bastante para magoar a vista.

            Na ponte, o mestre-de-pesca Yoshio Misaki fitou sem acreditar o estranho espetáculo. A tripulação subiu para o tombadilho, falando excitadamente.

            __O Sol está nascendo no ocidente! __ exclamou um dos homens.

            Disse outro:

            __Não será um pika-don?



            O termo é novo na língua japonesa. Nascido no terror em Hiroshima compõe-se das palavras “trovão” e “clarão”.

            O comandante Hisakichi Tsutsui, que dormia no seu beliche, reagiu devagar. Quando se reuniu a Misaki, na ponte, a cor a oeste mal se distinguia. A escuridão voltara. Reinava completo silêncio.

            Alguns minutos depois o barco estremeceu como se tivesse sido sacudido por baixo e um grande ruído o envolveu, parecendo vir ao mesmo tempo de cima e de baixo. Aterrorizados, alguns homens se atiraram ao chão e cobriram a cabeça.

            Os oficiais tiveram uma rápida conferência. Em seguida Misaki deu a ordem:

            __Ligar os motores e recolher as linhas.

            Os homens trabalhavam depressa ansiosos por deixar aquelas águas.

            O radiotelegrafista Aikichi Kuboyama de 39 anos era um dos mais velhos dos 23 homens da tripulação. Tinha também fama de ser o mais inteligente. Provou isso calculando a velocidade do som. Haviam transcorrido quase sete minutos desde que viram o clarão até que ouviram o estrondo. A multiplicação desse tempo pela velocidade do som daria a distancia entre o navio e a explosão.


             O resultado aproximado foram 140 quilômetros ---- e os cálculos de Misaki com o sextante indicaram que o navio se encontrava a 137 quilômetros a lés-nordeste do Atol de Biquíni, nas Ilhas Marshall. Não podia haver: dúvida: o clarão brilhante viera de Biquíni.

            Umas duas horas depois o céu começou a mudar de aspecto, como se um grande nevoeiro estivesse se formando. Os homens que estavam trabalhando no tombadilho ficaram espantados a principio quando começaram a cair minúsculas partículas de uma cinza arenosa.

            __Parece o começo de uma tempestade de neve --- disse um deles.

            De repente vários tripulantes começaram a sentir dor nos olhos. O guincheiro Sanjiro passou a mão pelo cabelo e esfregou os olhos ardidos. Alguns dos homens provaram os flocos cinzentos-esbranquiçados. Uns disseram que era sal, outros que era areia. Todos concordaram em que era uma coisa muito desagradável.

            Pouco depois do meio-dia, todas as linhas tinham sido recolhidas. A estranha poeira branca havia, afinal, parado de cair, e Misaki ordenou ao timoneiro que rumasse para o norte. Os tripulantes que estavam limpando o convés principal verificaram que havia algo de esquisito naquelas areias brancas: não era fácil removê-las com água. A hora do almoço vários dos tripulantes manifestaram pouco apetite --- coisa rara, porque eles estavam sempre famintos depois de trabalhar tantas horas.


Queimaduras, efeitos da Bomba de Hidrogênio nos marinheiros.

            Após o almoço os tripulantes foram limpar o equipamento de pesca. Os quilômetros de corda molhada pareciam absorver especialmente bem a poeira branca. A corda foi guardada em caixas de madeira e estas empilhadas na popa, logo atrás da cozinha.

            Na manhã seguinte a tripulação acordou estranhamente indolente. O guincheiro Masuda verificou, consternado, que não podia abrir os olhos, pois tinha as pálpebras grudadas por um grosso corrimento amarelo. O chefe de máquinas Todashi Yamamoto teve dificuldade em enxergar, quando quis verificar os manômetros na casa de máquinas. Vários homens tinham enjoado durante a noite, mas apenas um, cujo beliche ficava na cabina de ré, passara tão mal que não aguentara o quarto de serviço da meia-noite. Os homens que tinham pegado nas cordas se queixavam de coceira e ardor na palma das mãos.

            Um dos marinheiros deu um pouco daquela cinza branca, embrulhada num papel, a Kuboyama. O radiotelegrafista, tencionando examiná-la depois, colocou a cinza debaixo do travesseiro em sua cabina. Ali ficou ela durante os 14 dias que o Dragão Feliz levou para chegar ao porto. Outros tripulantes também recolheram um pouco da estranha cinza; um deles pensou que poderia ser um símbolo de sorte.

            No dia 1° de março foi divulgada a seguinte comunicação, em Washington: “Lewis L. Strauss, Presidente da Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos comunicou hoje que a Sétima Força Mista Especial detonou um dispositivo atômico no Campo de Provas da C.E.A. , nas Ilhas Marshall. Esta detonação foi a primeira de uma série de experiências”.


Perda de cabelo e queimaduras, resultantes da exposição a radiação.

            Não fora noticiado antes que a C.E.A. levaria a efeito uma experiência nuclear na data em questão. A Junta Japonesa de Segurança Marítima havia recebido uma comunicação no dia 10 de outubro de 1953, aumentando a área interditada em torno do Atol de Eniwetok, que fora isolada para a experiência da primeira bomba de hidrogênio no dia 1° de novembro de 1952. Essa área acrescida incluía o Atol de Biquíni, mas nem o Comandante Tsutsui nem o mestre-de-pesca Misaki sabiam que Biquíni ia ser o local dessas novas experiências. Na realidade, o Dragão Feliz, no ponto em que mais se aproximara da zona perigosa, ainda ficara mais de 30 quilômetros para além de seu limite oriental. Ao que tudo indica, ventos de grande altitude arrastaram a nuvem da bomba na direção oposta à que esperavam os técnicos das provas.

            Aconteceram coisas curiosas durante a viagem de volta daquele pequeno barco de pesca ao seu porto. A tripulação da casa de máquinas subia constantemente ao tombadilho, queixando-se de estar passando mal. Todos os homens ficaram com um aspecto terroso, como se estivessem seriamente queimados de sol. O guincheiro Masuda disse aos companheiros de cabina que seu sentia febril. Quando o contramestre Masayoshi Kawashima coçava a cabeça, seu cabelo caía. Espantado, puxou o cabelo e um punhado dele ficou-lhe na mão.


Marinheiro Sangiro Masuda, do Fukuryu Maru.

            Isso fez soar uma campainha na mente de Kuboyama. Sua tia estava em Hiroshima quando a bomba atômica foi lançada, e ele se lembrava de que a queda de cabelo era um efeito ulterior da “doença da bomba atômica”. Kuboyama e Misaki conversaram sobre a possiblidade de uma relação entre a doença da tripulação e a estranha cinza que tombara do céu.

            Logo que o “Dragão Feliz” atracou em Yaizu, no dia 14 de março, seu proprietário notou que a tripulação estava escura. E, quando o mestre-de-pesca lhe falou na doença dos homens, concordou que deviam ir imediatamente para o Hospital.

            O Dr. T. Ooi, médico do hospital não conseguiu explicar o aspecto dos homens. Masuda, o mais gravemente afetado, apresentava queimaduras no rosto e nas mãos, mas todos estavam com boa disposição. Um dos pescadores opinou que haviam sido atingidos pelo que lhes pareceu uma explosão de uma bomba atômica. Mas como a luz não fora ofuscante, o médico concluiu que deviam estar a uma distância segura; se assim não fosse, alguns dos homens já teriam morrido. Alarmado, e com razão, concordou, não obstante, em mandar dois dos tripulantes para Tóquio a fim de serem examinados por um especialista em doenças provocadas por emanações radioativas. Foram escolhidos Masuda, por causa de suas graves queimaduras, e o maquinista Yamamoto, que apresentava a contagem de glóbulos brancos mais baixa.


             Na manhã de 16 de março, terça-feira, o Yomiuri Shimbun, um dos maiores jornais do Japão, dava este furo, em manchete, de um lado a outro de sua primeira página:

TESTE DE BOMBA ATÔMICA EM BIQUÍNI ATINGE PESCADORES JAPONÊSES.
23 Homens Sofrendo de Doença Atômica
BOMBA DE HIDROGÊNIO?

            Alertada pela notícia do jornal (cujo ponto de partida fora a indicação de um estudante de 17 anos que tinha parentes em Yaizu), a Divisão Sanitária da Prefeitura de Yaizu pediu ao Dr. Takanobu Hiokawa que fosse ao hospital e ao cais da cidade e verificasse se havia radioatividade. No hospital, o Dr. Shiokawa colocou o contador Geiger perto da cabeça de um dos tripulantes. O homem estava radioativo! Como não devia estar então o barco de pesca?

            O Dr. Shiokawa correu para o cais. Estava ainda a 30 metros do Dragão Feliz e já o contador Geiger começara a tiquetaquear aceleradamente. Nunca o Dr. Shiokawa encontrara radioatividade tão forte. O navio se encontrava superlotado de jornalistas, e, quando o Dr. Shiokaw abriu caminho através do tumulto, ficou evidenciado que a principal fonte de radioatividade estava localizada em algum ponto acima do compartimento de ré da tripulação. Era ali que os rolos de corda se achavam empilhados. Estavam intensamente radioativos. Durante toda a longa viagem de volta os homens da cabina de ré tinham dormido debaixo de uma poderosa fonte de irradiação.


Atum contaminado com radiação.

            Yaizu não foi à única cidade japonêsa a ser presa de nervosismo por causa da radioatividade. Em Osaka, o Dr. Yasushi Nishiwaki, professor de Biofísica na universidade local, foi chamado ao mercado central para ver se tinham sido mandados peixes de Yaizu para lá. Encontrou um atum que fez seu contador Geiger chocalhar com uma contagem alta. Os presentes murmuraram, com espanto: “Os peixes estão chorando!” --- e dali por diante o peixe radioativo passou a ser chamado “peixe chorão”. As autoridades descobriram que umas cem pessoas haviam comido  peixes contaminados. O medo invadiu a cidade e todos deixaram imediatamente de comprar peixe. Ao saber-se que o peixe fora eliminado do regime alimentar do Imperador, a história espalhou-se por todo o Japão. Alguns industriais do pescado foram levados à falência.

            Entrementes, os médicos que cuidavam dos marinheiros lutavam contra o tempo para descobrir o conteúdo da cinza. Podiam recorrer a dados médicos oriundo do estudo de milhares de sobreviventes de Hiroshima e Nagasaqui. Mas o que tornava então confusa a situação era a presença de radioatividade residual. O cabelo do guincheiro Masuda, por exemplo, estava ainda tão radioativo que um pouco dele colocado sobre um filme fotográfico reproduzia no filme revelado uma imagem perfeita, como se tivesse sido fotografado com luz comum. Mesmo depois de se terem lavado e esfregado bem, os pescadores conservavam certa radioatividade na pele. Isso era algo sem precedentes na Ciência Médica.


Médico verifica o nível de contaminação em marinheiro do Fukuryu Maru.

            Por esse tempo foram divulgadas informações semi-oficiais sobre a tremenda explosão. O Deputado James Van Zandt, do Comitê Misto Sobre Energia Atômica do Congresso dos Estados Unidos, declarou que a bomba de hidrogênio que explodira em Biquíni possuía um incrível poder de destruição. A explosão equivalera ao rebentar de 12 a 14 milhões de toneladas de TNT --- era mil vezes mais forte do que a bomba atômica de Hiroshima.

            Aquela altura, todos os pescadores tinham sido transferidos para dois hospitais de Tóquio. Verificou-se que estavam sofrendo de uma redução do nível de glóbulos brancos e vermelhos do sangue e, para combater a anemia, fizeram-se repetidas transfusões. Ministraram-lhes antibióticos para aumentar sua resistência. Como as células sexuais são muito sensíveis à radiação, durante os meses de abril e maio os pescadores ficaram completamente estéreis.

            Ao chegar à primavera, os doentes se sentiram mais animados com cicatrização das lesões da pele e o renascimento dos pelos do corpo. Isso foi um bom sinal, porque com doses quase letais de radiação pode ocorrer perturbação permanente do crescimento do pelo. Parecia que os homens estavam sarando. O Japão inteiro respirou mais aliviado, também, quando os Estados Unidos comunicaram, em meados de maio, que as experiências de 1954 com as bombas, em Biquíni, haviam terminado.

            Mas o enigma persistia: que eram as “cinzas da morte”, as shi no hai que tinham caído sobre o Dragão Feliz? Duas vezes foi feita esta pergunta por cientistas japoneses a representantes norte-americanos, e duas vezes, por motivos de “segurança nacional”, ela deixou de ter resposta. Na terceira vez, Merril Eisenbud, Diretor do Laboratório de Saúde e Segurança e perito em poeira atômica, deu esta enigmática resposta.

            __Perguntem ao Dr. Kimura.

            O Dr. Kenjiro Kimura, brilhante radioquímico da Universidade de Tóquio, havia trabalhado em 1939 com o físico japonês Yoshio Nishina na desintegração do átomo de urânio e na produção de um tipo até então desconhecido, que denominaram urânio-237. O Dr. Kimura e uma equipe de 16 membros, juntamente com outros grupos de cientistas japoneses, passaram a trabalhar dia e noite na análise da cinza de Biquíni. Não tinham dúvida quanto ao fato de que o grosso da radioatividade da cinza era causada por átomos de urânio desintegrados. Era inevitável que o Dr. Kimura e os outros cientistas descobrissem a verdade sobre a bomba. Não se poderia esperar que o homem que descobriria o urânio-237 deixasse de nota-lo quando fosse posto diante dos seus olhos.

            Pela primavera de 1954 os cientistas japoneses tinham decifrado o enigma: a bomba de Biquíni era uma superarma numa embalagem de três em um. Primeiro estágio consistia numa espoleta comum de bomba atômica, que por sua vez fazia detonar um segundo estágio e provocava a fusão de átomos de hidrogênio. Essa reação da bomba de hidrogênio liberava então um dilúvio de nêutrons de alta energia que provocava o rompimento de uma camisa de urânio. No processo, produzia-se o urânio-237 como denunciador subproduto.

            Uma vez conhecida a natureza da cinza radioativa, puderam os cientistas japoneses avaliar a quantidade de radiação a que os pescadores tinham estado expostos. Calcularam que os tripulantes que estavam trabalhando no convés durante a manhã do dia 1º de março podiam ter, até ao meio-dia, recebido até 100 roentgens (medida de radiação ionizante) de radiação. (Uma dose letal vai de 300 a 700 roentgens.) Dali por diante a exposição devia ter diminuído de dia para dia.

            O Dragão Feliz não foi o único navio pulverizado com chuva atômica. Dez navios de guerra norte-americanos encontravam-se nas imediações, a 50 quilômetros de Biquíni, para observar a detonação, numa área que se considerava segura. Cerca de uma hora após se ter espalhado a enorme nuvem em forma de cogumelo, os oficiais notaram que o vento estava arrastando para o lado deles resto de nuvem. Os contadores Geiger do tombadilho começaram a funcionar. Na mesma hora os navios foram “abotoados”, isto é, todos os marinheiros desceram, depois de prenderem as escotilhas e vigias e cobrirem os respiradouros de bordo. Grandes quantidades de água foram espalhadas sobre os navios por meio de mangueiras e esguichos especiais para lavar a contaminação radioativa. Durante metade de um dia as tripulações suaram lá embaixo. Afinal, decidiu-se que já se podia “desabotoar” os navios sem perigo, e homens com roupas de borracha, capuzes e máscaras foram limpar a poeira caída que a cortina protetora de água não tinha lavado. Assim a C.E.A. e o Departamento de Defesa dos Estados Unidos ficaram conhecendo, poucas horas depois da experiência, as dimensões e a intensidade da chuva atômica. Mas nenhum aviso foi irradiado para os navios que se achavam nas imediações, provavelmente porque os lábios das pessoas participaram da experiência estavam selados por motivos de segurança.


 Aikichi Kuboyama, a vítima fatal da atrocidade com o Fukuryu Maru.

            Em setembro, os tripulantes japoneses sofreram um choque terrível; morreu o seu querido companheiro, o radiotelegrafista Kuboyama. Com tantas transfusões de sangue tinham aumentado as probabilidades de hepatite infecciosa. Embora os outros não tardassem a sarar dos ataques de icterícia, a de Kuboyama persistira. Na noite de 20 de setembro ele parecia estar sofrendo muito; foi chamada a sua família. Em dado momento gritou:

“Sinto como se meu corpo estivesse sendo queimado com eletricidade.”
            Kuboyama morreu no dia 23.

            Ao saberem de sua morte, as tripulações de inúmeros barcos de pesca e navios, no mar, enviaram mensagens de pêsames para o hospital. No dia seguinte o Embaixador dos Estados Unidos enviou uma nota ao Ministro dos Negócios Estrangeiros do Japão, com um cheque de um milhão de ienes em favor da Sr.ª Kuboyama, “como prova de solidariedade do povo e do governo norte-americano”. (mais tarde foi-lhe acrescentado um milhão e meio).


Familiares de Aikichi Kuboyama. 

            No dia 20 de maio de 1955, os 22 tripulantes tiveram altas dos dois hospitais de Tóquio onde haviam passado mais de um ano. Tinham pela frente um futuro incerto: já não aguentariam o pesado trabalho de um barco de pesca.  Dedicaram-se, então, a ocupações como agricultura e comércio; apenas dois voltaram ao mar, e assim mesmo em navios de treinamento. Pouco depois, os Estados Unidos ofereceram ao Governo Japonês dois milhões de dólares --- ex gratia, isto é, sem que o oferecimento importasse no reconhecimento de qualquer culpa --- dos quais cada membro da tripulação recebeu cerca de 5.000; o restante se destinou ao pagamento de suas despesas de hospitalização e tratamento e dos prejuízos causados à indústria do atum pela chuva atômica.

            O que aconteceu aos 23 pescadores a bordo do Dragão Feliz, naquela fatídica manhã de março, foi um pequeno exemplo do perigo radioativo que seria desencadeado por uma guerra nuclear. Quando homens que se encontram a uma distância de 160 quilômetros da explosão podem ser mortos pelo silencioso toque de uma bomba, revela-se o terrível poder de destruição do átomo desintegrado. A bomba que explodiu em Biquíni foi uma arma nova e revolucionária. Mas se não fosse o acidente do Dragão Feliz, o mundo poderia encontrar-se ainda na ignorância quanto à natureza dessa arma e à sua significação para todos os homens.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Cidade subterrânea de Derinkuyu é um dos maiores mistérios da humanidade


Cidade subterrânea de Derinkuyu, Capadócia – Turquia.

Desde que foi descoberta de maneira casual, em 1963, a cidade subterrânea e perdida de Derinkuyu, na Capadócia, na parte oriental da Turquia, se tornou um mistério sem solução para os pesquisadores que investigam um dos achados mais enigmáticos da humanidade.

Esta cidade sob a terra tem ao menos 13 andares subterrâneos, unidos por passagens e um perfeito sistema de ventilação. Seu último piso fica a 85 metros de profundidade e acredita-se que outros andares poderão ser descobertos.

Em sua área de 400 km quadrados foram encontrados uma igreja, adegas com utensílios para fabricação de vinho, moradias, locais para armazenagem e lojas comerciais. Especula-se que o local tenha abrigado em torno de 20 mil pessoas. As pesquisas realizadas até agora indicam que a cidade foi construída há três mil anos, mas pouco se sabe sobre quem a construiu ou quais foram os motivos.

Várias histórias, contudo, surgiram em torno desta cidade, como a de que seus habitantes seriam o povo Frígio ou Hitita, ou que o local seria algum refúgio diante de uma invasão. São várias as teorias criadas, entretanto, ainda não forma encontradas evidências que as comprovem.


O que está certo é que os métodos e a tecnologia usada para a construção da cidade não correspondem com o que a humanidade possuía naquela época. Por conta disso, também aparecem pessoas que defendem que Derinkuyu possa ser obra de seres extraterrestres. Mas a pergunta ainda persiste: como naquela época foi possível construir galerias a quase 100 metros de profundidade?

Derinkuyu

Esta cidade-caverna existe desde o tempo dos hititas que expandiram-se ao longo dos séculos à medida que vários exércitos atravessavam a Anatólia Central pilhando e fazendo das pessoas suas cativas. Há 36 cidades subterrâneas na Capadócia e a mais profunda é a de Derinkuyu enquanto que a mais ampla é a de Kaymakli.

A Cidade Subterrânea de Derinkuyu localiza-se na vila com o mesmo nome, situada a cerca 40 km de Goreme (uma viagem de 30 minutos). Há cerca de 600 portas exteriores na cidade, escondidas nos pátios de casas à superfície. Esta cidade tem cerca de 85 m de profundidade. Contém estábulos, armazéns, refeitórios, igrejas, adegas, etc. À parte disto, um grande quarto, com um teto abobadado no 2º andar, era uma escola missionária e os quartos à sua esquerda eram para estudo.


Do 3º ao 4º andares a descida faz-se através de escadas verticais que levam a uma igreja em forma de cruz no andar mais baixo.

Derinkuyu possui um sistema de ventilação de 55 m de profundidade que também era usada como poço. Nem todos os andares tinham acesso a poços de água até à superfície para proteger os habitantes de envenenamento durante as invasões. Derinkuyu contém, pelo menos, 15.000 tubos de ventilação que forneciam ar fresco. A Cidade Subterrânea de Derinkuyu foi aberta aos visitantes em 1965, mas até agora menos de metade pode ser visitada.

Duvida-se que as cidades subterrâneas tenham sido usadas como colónias permanentes, ou até para estadias longas, mas foram, claramente, construídas para aguentar ataques e suportar um grande número de pessoas e os seus animais domésticos, durante largos períodos de tempo. A organização urbana era muito complexa e era, provavelmente, um trabalho em curso constante.


Possuem extensas passagens, túneis, poços e corredores que ligam os quartos das famílias e os espaços comunitários onde as pessoas se encontravam, trabalhavam e rezavam. As cidades estavam completas, com chaminés para a circulação do ar, nichos para candeeiros a óleo, lojas, reservatórios de água e zonas onde os mortos podiam ser depositados até as condições à superfície permitirem o seu enterro. Muito importantes eram as portas em forma de mó, desenhadas para bloquear os corredores em caso de ataque, que só se podiam mover de um dos lados.


A Maravilhosa Cidade Subterrânea

Muitas cidades antigas se desenvolveram na superfície, algumas com construções que resistem até hoje, mas Derinkuyu é quase um formigueiro, com vários andares subterrâneos, o que a torna ainda mais misteriosa...Então convido vocês, meu caros Atormentados, a conhecerem comigo essa cidade, que parece ter saído de algum filme do Indiana Jones.

Sua origem é controversa, alguns arqueólogos datam suas origens por volta do ano 4 000 a.C., outros defendem que suas origens são ainda mais remotas, por volta do ano 9 000 a.C., embora a datação por carbono-14 realizada em esqueletos do cemitério paleolítico-cristão situado nessa cidade datam do ano 1 800 a.C.. Estima-se que a cidade começou a ser abandonada por completo por volta do século VIII.


A cidade é formada por 20 níveis, embora apenas 8 estejam abertos a visitação pública. Neles podem-se encontrar vários artigos de “luxo” para uma cidade debaixo da terra, como: cisternas para armazenagem de azeite de oliva, armazéns de alimentos, cozinhas com sistema de dispersar fumaça de forma que não fosse notada na superfície, bares, poços de água, templos de culto, estábulos e até 52 tubos formando um incrível sistema de ventilação para que o ar entrasse e percorresse todos o níveis, até aos mais inferiores!

A temperatura ambiente sempre gira em torno dos 13°C, independente da temperatura que faça na superfície (originando uma das teorias de sua origem, que poderia ter servido de refúgio, durante alguma era glacial).


Escavada em rocha vulcânica, foram usados sistemas engenhosos para bloquear a entrada de intrusos, como portas em forma de rodas esculpidas de uma rocha de consistência mais dura. Tal sistema pressupõe que provavelmente essas cidades também foram construídas como cidades de defesa.


Foram descobertas mais de 600 saídas à superfície e se calcula que essa cidade poderia abrigar até 100.000 habitantes possuindo também um túnel com aproximadamente 8 km de extensão que a conecta com outra cidade subterrânea de Kaymakl. A maior dessas cidades subterrâneas foi descoberta em 2007, em Gaziemir, no distrito de Güzelyurt, pertencente a uma antiga rota da seda, permitindo aos viajantes descansar em uma cidade-fortaleza sob o solo.

A Descoberta

Em 1963, um habitante de Derinkuyu (na região da Capadocia, Anatolia central, Turquía), ao derrubar uma parede de sua casa, descobriu assombrado que por detrás da mesma se encontrava uma misteriosa habitação que nunca havia visto; esta habitação levou-o a outra e esta a outra e a outra… Por casualidade havia descoberto a cidade subterrânea de Derinkuyu, cujo primeiro nível foi escavado pelos hititas cerca de 1400 a.C.

Os arqueólogos começaram a estudar esta fascinante cidade subterrânea abandonada. Conseguiram chegar aos 40 m de profundidade, acreditando-se contudo que chegue aos 85 metros. Atualmente já se descobriram 20 níveis subterrâneos. Só podem ser visitados os oito níveis superiores; os restantes estão parcialmente obstruídos ou reservados aos arqueólogos e antropólogos que estudam Derinkuyu. A cidade foi utilizada como refúgio por milhares de pessoas que viviam no subsolo para se proteger das frequentes invasões que sofreu a Capadócia, nas diversas épocas da sua ocupação, e também pelos primeiros cristãos.


Os inimigos, conscientes do perigo que corriam ao introduzir-se no interior da cidade, geralmente tentavam que a população viesse à superfície envenenando os poços.

O interior é assombroso: as galerias subterrâneas de Derinkuyu (onde há espaço para, pelo menos, 10.000 pessoas) podiam refugiar-se em três pontos estratégicos deslocando portas circulares de pedra. 

Estas pesadas rochas que encerravam as entradas impediam a invasão dos inimigos. Tinham de 1 a 1,5 metros de altura, uns 50 centímetros de espessura e um peso de até 500 quilos.

De cidades subterrâneas desta zona já falava o historiador grego Jenofonte. Na sua obra “Anábasis”, ele explicava que as pessoas que viviam na Anatolia haviam escavado suas casas no sub-solo e viviam em alojamentos suficientemente grandes para albergar uma família, seus animais domésticos e armazém de alimentos.


Nos níveis recuperados, encontraram-se estábulos, comedouros, uma igreja (de planta cruciforme de 20 por 9 metros, com um teto de mais de 3 metros de altura), cozinhas (todavia já enegrecidas pelo fumo das fogueiras que acendiam para cozinhar), prensas para o vinho e para o azeite, tabernas, cantinas, uma escola, numerosas habitações e até um bar. A cidade beneficiava da existência de um rio subterrâneo; tinha poços de água e um magnífico sistema de ventilação. (Encontraram 52 poços de ventilação que assombraram os engenheiros da atualidade).

O Enigma

Até hoje, ninguém sabe exatamente como esse complexo subterrâneo foi construído e pra que servia exatamente. Teóricos auternativos defendem que a cidade é muito mais velha do que se imagina e foi criada por uma civilização humana antiquíssima que posteriormente teria a abandonado. Por seguinte, a cidade teria sido encontrada por moradores e reutilizada. 


Aruma-Mazda

Os construtores das cidades subterrâneas eram descendentes dos Aquemênidas do Zoroastrismo, uma das mais antigas culturas do globo, que influenciou Hinduísmo, Judaísmo e Cristianismo. Nesta religião, o profeta Imah foi instruído que construísse um refúgio abaixo da Terra, Deus dos céus, Aúra-Masda. Uma história muito parecida com a de Noé na Bíblia Hebraica. Porém, agora Imah deveria proteger o povo de uma terrível Era do Gelo. E a última Era do Gelo, segundo cientistas se iniciou em 18000 a.C. e terminou 10000 a.C.


Seria então nesta época que foi feita a cidade de Derinkuyu para que se protegessem de um terrível e longo inverno?

Como não existem testes de Carbono com pedras e areia, não se pode calcular a idade da cidade. Mas se a cidade for mesmo a que Aúra-Masda pediu que fosse construída, quem na realidade seria Aúra-Masda? Seria ele um ser sobre-humano? Podemos então supor que ele poderia ter trazido a tecnologia para fazer as cidades abaixo da terra? Não poderia ser, na verdade, de outro mundo?

Realmente a região é impressionante. Tamanha complexidade é equiparável aos maiores monumentos de nossa história, como as pirâmides do Egito e o Stonehenge. Aliado ao fato da cidade ser extremamente antiga, e a impossibilidade de concebermos sua construção, seria mais um caso de uma hipotética intervenção de outras tecnologias alheias a terrestre. Dadas as parcas ferramentas e recursos de antigamente, tal cidade adquire um aspecto ainda mais fascinante e intrigante. Outro caso fascinante, que assusta tanto como nos atrai.


A superfície Capadócia, na Turquia, é de uma beleza única, mas seu subsolo também guarda grandes surpresas. São mais de 100 cidades subterrâneas, das quais apenas 37 já foram abertas. Elas surgiram entre os Séculos VI e VII, quando exércitos persas e árabes invadiram a região e os cristãos bizantinos que viviam no local se viram obrigados a fugir através de túneis secretos. 

Essas cidades subterrâneas, declaradas Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1985, nunca foram usadas como moradias permanentes, eram habitadas por algum tempo quando os cristãos precisavam se esconder da perseguição religiosa. Períodos esses que chegavam a quatro meses debaixo da terra.  As mais conhecidas são Derinkuyu, a mais profunda, e Kaymaklı, a maior delas.

Visitei a cidade subterrânea de Derinkuyu, onde viveram cerca de 10 mil pessoas ao mesmo tempo. Ela tem 85 metros de profundidade, mais de 600 portas que ligam as casas aos pátios, e era formada por cavernas, estábulos, armazéns, refeitórios, igrejas, escolas, quartos e adegas.

Nem todos os andares tinham acesso a poços de água, que não ficavam perto da superfície para evitar envenenamento durante as invasões. A ventilação chegava por meio de um poço de 55 metros e vários de tubos que fornecem ar fresco até hoje. Você pode estar no último subsolo que sentirá a brisa que vem do exterior. Existem também espécies de exaustores naturais que funcionavam para extrair a fumaça do preparo dos alimentos das profundezas desta cidade subterrânea.


Percorrer os túneis sem fim de Derinkuyu dá uma sensação um tanto quanto claustrofóbica. Muitas vezes é preciso subir ou descer escadarias agachado. Não é à toa que algumas pessoas do meu grupo desistiram e esperaram o resto da turma em um dos bares do lado de fora da cidade.

Mas é interessantíssimo andar por esses corredores que ligavam os quartos às áreas comunitárias, onde as pessoas se encontravam para conversar, trabalhar, estudar ou rezar.

Existe inclusive uma igreja neste subterrâneo da Capadócia em formato de cruz, onde os cultos eram celebrados. É quase impossível acreditar que milhares de pessoas viveram ali durante meses, sem ver a luz do sol.


A Cidade Subterrânea de Derinkuyu foi aberta aos visitantes em 1965, mas até agora menos de metade pode ser visitada.