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terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Anasazi, “a tribo dos antigos”.



Chaco Canyon, Chetro Keti, Grande Praça Kiva (National Park Service). Imagem: Obiviousmag.

            Os Anasazi eram um antigo povo indígena do sudeste norte americano que viveram apartir do ano 1.200 a.C. e desapareceram repentinamente por volta de 1300 d.C. Este antigo povo desenvolveu uma civilização complexa de grandes comunidades inter-relacionadas. Os Anasazi evoluíram de nômades, que viviam em habitações temporárias, até se tornarem agricultores. Com o tempo, criaram enormes construções de pedra com algumas de até cinco andares e moradias em penhascos. Não se sabe o que os levou a abandonar tudo. Alguns pensam que uma grave seca ocorrida em 1275-1300 d.C foi um fator importante na sua partida. O pó do deserto no sudoeste da América, a arte da cerâmica, o som harmônico da flauta e lugares de culto relembram uma das civilizações indígenas mais antigas – os Anasazi. O rasto destes antepassados procura água, paz e sobrevivência pelos Estados de Utah, Colorado, Arizona e Novo México.

            Siga as pegadas e conheça o ADN desses gênios da arquitetura, artesãos e potenciais astrônomos. Anasazi é o termo utilizado para designar “os antigos” ou “antigos inimigos” pelos Navajos, uma tribo indígena da América do Norte. Possíveis antecessores e detentores das instruções genéticas dos índios Hopi, os Anasazi são também rotulados como Hisatsinom (“os antigos”). Os nômades do sudoeste dos atuais EUA (Utah, Arizona e Novo México) testam a sua sobrevivência em lugares inóspitos, desertos e montanhosos.

            No Novo México encontra-se o berço da civilização pré-histórica Anasazi: Canyon Chaco. É aqui que estão as primeiras habitações desta tribo. Pueblo Bonito é não só a maior casa, como também a mais conhecida. Pedra e madeira eram transportadas pela própria comunidade a fim de edificar todas estas obras de uma engenharia, desenho e geometria complexa. Conta-se que estas amplas habitações circulares atraíam pequenos povos agrícolas que sobreviviam à base do cultivo de cereal e procuravam água. O cenário de Canyon Chaco nem sempre foi desértico e o lugar chegou a ser popular em períodos de mais chuva. No interior de Pueblo Bonito, há diferentes compartimentos que funcionam como o epicentro de rituais religiosos – as Kivas. Aqui ouviam-se os sons dos tambores e cânticos divinos, sentia-se o calor da fogueira e acompanhavam-se os ritmos das danças. Rezas de chuva e campos férteis invocavam o desejo pelo alimento. Porém, não eram só os rituais que sustentavam as suas crenças. Era, também, a arquitetura baseada nas estrelas.
            Alguns investigadores como, Gary David, em The Orion Zone, e arqueólogos defendem que a disposição geográfica das kivas, das janelas e o desenho da construção dos Anasazi espelham os movimentos dos corpos celestes, representando a constelação Orion. As habitações monitorizam as posições do sol e advinham o (des)equilíbrio da Terra, como um calendário arquitetônico-celestial. É possível que o povo Anasazi tenha, ainda, obervado a supernova que formou a Nebulosa do Caranguejo. Os Anasazi tiveram que partir quando Canyon Chacon cobriu-se de pó e a seca predominou. A leitura dos anéis dos troncos das árvore ainda presentes no monumento revelam que tem decrescido o valor da precipitação desde o ano de 1130. O clima desfavorável, a perda da estrutura de poder do povo e o acreditar que estavam em desequilíbrio com a Natureza apresentam-se como possíveis razões da sua migração para outro local.

            Próxima parada? Novo México, Aztec. O povo Anasazi voltou a reconstruir as suas habitações. Contudo, a natureza arbórea e verdejante não foi suficientes para esta civilização estabelecer raízes no local.   Sul do Colorado, Mesa Verde. As terras são férteis mas o local que enraíza a população é de difícil acesso. Apesar das típicas portas em forma de T e da presença das Kivas, Mesa Verde acaba por ser uma compressão das habitações em Canyon Chaco e Aztec. Escadas em pedra dão acesso ao aperto dos diferentes compartimentos. Que medos e inseguranças esconde esta comunidade? A resposta talvez se encontre em imagens simbólicas, fatos e mitos gravados nas rochas – os petróglifos. Combates, pontas de lança, escudos, guerreiros e caveiras são algumas das imagens. Alguns dos elementos são objetos de atração da chuva. Mas há segredos nesta sociedade desesperada, levada ao limite. Há quem se aproveitasse da bruxaria e das forças malignas para desenvolver práticas de canibalismo. O destino final é a floresta de Utah, onde se encontram os últimos vestígios desta comunidade. Neste local há as mesmas escadas pré-históricas, a aproximação aos recursos naturais, os petróglifos e a mesma cultura vibrante e defensiva.

            As pegadas de Anasazi param neste local, em meados do século XIV d.C. A tribo Hopi ainda mantém contacto com a época dos seus antepassados. A arte de trabalhar a cerâmica, a dança do búfalo, o equilíbrio do vaso na cabeça das mulheres para transportar água e os amuletos fazem parte desta cultura. Já se falou que o povo Zuni e Hopi – índios pueblo – seriam descendentes dos Anasazi, porém nunca foi provada a ligação genética entre eles. 

quinta-feira, 12 de junho de 2014

A Questão do Paleoíndio e as tradições culturais



A Questão do Paleoíndio
Pedro Ignácio Schmitz

As periodizações locais e regionais no Brasil apresentam algumas controvérsias por se basearem em diferentes pressupostos, métodos ou dados.

Para que possamos nos localizar no tempo e no espaço faremos abaixo uma tabela de comparação entre os nomes das periodizações usadas de uma forma geral e os nomes americanos aproximadamente correspondentes:

Periodização Geral

Periodização Americana

Paleolítico
(Inferior, Médio e Superior)
Período Lítico
(Pré-Pontas e Paleolíndio)
Mesolítico
Período Arcaico
Neolítico
Período Formativo

Conceitua-se Paleoíndio a cultura que possui os seguintes elementos: populações que teriam vivido predominantemente da caça de megafauna, sítios principalmente de matança, artefatos identificadores usados como facas, raspadores e raspadeiras, ambiente frio e seco, populações  pouco numerosas, dispersa e nômade. O Período Arcaico por sua vez caracteriza-se por uma cultura de adaptação ao clima pós-glacial e que buscava novos recursos alimentares de forma geral e diversificada.

O nome Tradição Itapirica criado pelo PRONAPA, a partir de material da Bahia, designa um complexo tecnológico que data cerca de 9.000 à 6.500 anos a.C, sendo que em alguns lugares teria alcançado datas mais recentes, predominantemente dentro do Holoceno mas com elementos paleoíticos que ultrapassavam o período e talvez o ambiente característico do Pleistoceno, daí a ideia de chama-lo de Paleoíndio Defasado.

Nesses sítios a alimentação era baseada na caça generalizada e no consumo de produtos vegetais, sua localização se dava  em abrigos rochosos, grutas e cavernas. Esta cultura arqueológica também se estende em Goiás de 9.000 a 6.000 a.C.

A fase Paranaíba, de Goiás caracteriza-se por uma cultura arqueológica em que as pontas de projétil estão ausentes, não podendo assim ser chamadas de Pré-pontas. Atualmente pesquisas  ainda nos revelam que as culturas arqueológicas dos caçadores das savanas tropicais têm como identidade a unifacialidade de seus artefatos.

A dúvida que resta é que esses materiais não contêm elementos paleolíticos suficientes para adequar- se ao conceito de Paleoíndio no Brasil Central.

Pré-história da Região do Parque Nacional Serra da Capivara
Anne-Marie Pessis

O Parque Nacional Serra da Capivara localiza-se no sudeste do Estado do Piauí. O clima da região hoje é semi-árido mas em épocas pré-históricas predominava um clima tropical úmido que se estendeu até cerca de 12.000 anos atrás, permitindo o desenvolvimento de uma grande vegetação.

Existem evidências de que a presença humana nesta região  remota 50.000 anos dado que autora nos mostra seguir a mesma linha de raciocínio da arqueóloga Niède Guidon. Por outro lado há também evidências da presença humana no sítio arqueológico Monte Verde que datam 33 mil anos. Ainda não é possível precisar as vias de penetração do continente nesse período, nem construir teorias que expliquem o processo do povoamento americano.

Comprova-se através de vestígios que durante milênios essa região teria uma única cultura material . Possuíam como habitação lugares abertos próximos a fontes de água independentemente do grau de nomadismo ou sedentarismo. Foram encontradas nas paredes do Parque Nacional uma grande quantidade de pinturas rupestres com representações de animais muito diversificadas.

A partir de 10.000 anos as transformações climáticas afetaram a sobrevivência dos grupos humanos, as populações ali instaladas desde o Pleistoceno iniciaram um novo período cultural que perdurou de 12 mil á 3.500 anos AP ( Tradição Nordeste e Agreste).

A Tradição Nordeste (12 mil a 6 mil anos AP) desenvolveu uma cultura material mais aperfeiçoada se comparada com seus antecessores. Aparece o uso de instrumentos feitos de sílex que eram mais duráveis, surge  o polimento do material lítico, introduzindo o uso da queima da argila para fabricação de cerâmica. Sua característica mais importante é a arte rupestre marcada por três estilos baseados na organização social dos grupos da Tradição Nordeste:

1 Estilo Serra Capivara: pinturas homogenias relacionadas com a vida, caça e mitos.
2 Estilo De Transição Serra Talhada: o aumento da população gerou variedades de grupos e rivalidade entre eles fato testemunhado pelos temas violentos nas pinturas.
3 Estilo Serra Branca: os grupos da Tradição Nordeste já tinham suas características étnicas bem diferenciadas e procuravam expressar essa diferença pintando ornamentos próprios de sua etnia.

A Tradição Agreste (10.500 a  3.500 anos AP) esse povo surge na região do Parque Nacional com uma cultura diferente, sua técnica de arte rupestre era grosseiramente pintada.
Em 3.500 anos aparecem os primeiros agricultores ceramistas na região.

Os mais Antigos Caçadores-Coletores do Sul Do Brasil
Pedro Augusto Mentz Ribeiro

Os mais antigos caçadores-coletores da região sul do Brasil, seriam os componentes da Tradição Umbu e Humaitá. Devido as paisagens abertas e fechadas encontradas no sul brasileiro, afirma-se que a Tradição Umbu e Tradição Humaitá apresentam traços característicos peculiares a cada uma delas, o que lhes diferencia.

Permanecem discussões sobre qual das duas tradições teria sido a primeira a penetrar na América e no sul do Brasil. Mas através das datações obtidas, acredita-se que a primeira teria sido a Tradição Umbu na qual encontrava-se nesta área em torno de 12.000 a 7.000 anos AP, sendo que a Tradição Humaitá só chegaria ao sudeste do Paraná e ao nordeste do Rio Grande do Sul a partir de 7.000 anos AP. Entretanto, não dispõem-se de dados, que poderiam referir-se aos caminhos percorridos por ambas tradições antes de chegar ao sul do Brasil.

Tradição Umbu

Os habitantes que formaram essa tradição conviveram com uma fauna extinta composta por tatu- gigante, tigre-dentes-de-sabre, mastodontes e etc.

A cultura material desta tradição, está dividida em :

I Período – O mais antigo, que vai de 6.000 à 11.500 anos AP, ocorreu no sudoeste e na encosta do planalto sul do Rio Grande do Sul.

II Período – Datado de 6.000 AP, a cultura material irá surgir na encosta do planalto, centro e leste do Rio Grade do Sul.

III Período – Datado de 6.000 AP até mais ou menos a época da conquista, 575, já será possível encontrar em toda a região a indústria pré-cerâmica Umbu.

O que vai indicar um aumento populacional e uma melhor adaptação ao meio ambiente, será a sofisticação na tipologia de pontas, os aterros nas áreas alagadiças, a adoção de cerâmica e o aumento de sítios arqueológicos com grande quantidade de material.

Foram os únicos a ocuparem áreas alagadiças, que no verão propiciaram melhor coleta de moluscos e caça de rãs, cuícas e etc.

Utilizavam a técnica de lascamento e polimento para obter seus instrumentos líticos, dominavam o lascamento por percussão direta  e indireta (bipolar) e pressão.

A Tradição Umbu possui como material característico a pedra lascada (furadores, raspadores, pré-formas bifaciais, facas bifaces), pedra utilizada (bigorna, polidores), pedra matéria corante (fragmentação de laterita com e sem sinais de utilização), ossos (furadores, agulhas, anzóis), dente (canídeo, tubarão) e as conchas que eram utilizadas na fabricação de discos de colar.

A arte rupestre encontrada no sul do Brasil, são atribuídas aos portadores desta tradição, quase todas estas manifestações são encontradas na encosta dos planaltos, foram produzidas utilizando a técnica de alisamento e picoteamento. Usam motivos geométricos, bimorfos (pegadas) e puntiformes.


segunda-feira, 9 de junho de 2014

Arqueologia do Paraná


Ponta. Altamirado Paraná.
                     
Arqueóloga Dra. Claudia Inês Parellada
Museu Paranaense

A atual exposição do Museu Paranaense podem ser observados vestígios relacionados a diferentes ocupações humanas, a partir de 12.000 anos atrás,  no atual território paranaense. Na visita faz-se uma grande viagem no tempo e no espaço por cerca de mil peças arqueológicas dispersas em vitrines, dioramas e contextualizadas com painéis e maquetes.

São peças provenientes de diversas regiões do Paraná, e que procuram iluminar ainda mais o passado. Trata-se de uma exposição resultante de um grande quebra-cabeças científico, no qual as pesquisas possibilitam a incorporação de novos materiais, e que o visitante pode percorrer e viajar pelo tempo...

Os primeiros povos, os paleoíndios, chegaram ao Paraná há mais de doze mil anos, vindas das terras altas do centro e oeste sul-americano: áreas andinas e amazônicas, encontrando aqui um clima diferente do atual, mais frio e seco, com a vegetação predominante de campos e cerrados.

Estes povos conviveram com animais da megafauna, como a preguiça gigante, o mastodonte e o tigre dente-de-sabre, fazendo grandes pontas de projéteis, e caçando também aves, pequenos mamíferos e roedores, além de praticarem a pesca.

Há dez mil anos, com  o clima tornando-se cada vez mais quente e úmido, outros grupos caçadores e coletores migram para o Paraná, ocupando em momentos diversos tanto o vale de grandes rios, tais como o Iguaçu, o Ivaí, o Tibagi e o Paraná, como topos de morros e montanhas, inclusive abrigos rochosos, e o litoral. São povos relacionados ao período arcaico, e no sul do Brasil denominados Umbu, Humaitá e Sambaquieiros.

Os sambaquis são aterros elaborados por diferentes populações pré-coloniais, principalmente de conchas de moluscos e gastrópodos, e em menor escala de ossos de animais, alguns  menores compostos por restos alimentares e outros, os maiores com altura de até 25 metros, planejados e construídos como grandes centros cerimoniais, com muitos sepultamentos associados. Deve ser destacado que parte dos sambaquis é formada por diversas camadas arqueológicas, originadas por ocupações de culturas muitas vezes distintas.


Abrigo Pontão. 

Ao lado está um sepultamento fletido, semelhante à posição fetal,  evidenciado a 3,20m de profundidade junto ao sambaqui do Poruquara, no litoral norte paranaense. A conservação de ossos humanos, mesmo que possam ter mais de dois mil anos, acontece em ambientes específicos, como os ricos em cálcio, devido à grande quantidade de valvas de moluscos e gastrópodos.

No planalto, como no vale do Ribeira, existem também os chamados sambaquis fluviais, onde ocorrem vestígios associados a gastrópodos terrestres nas proximidades de grandes rios.

Os povos Umbu e Humaitá eram nômades que permaneciam tempos curtos em cada acampamento, caçando animais, coletando frutos e raízes, e muitas vezes deixando representações simbólicas de seus mitos e histórias através de gravuras, pinturas e esculturas nas rochas. As pinturas, geralmente vermelhas ou pretas, são figuras de animais associadas a seres geométricos, seres humanos e plantas.
                
A maior parte das pinturas rupestres no Paraná está concentrada em abrigos e cavernas nos Campos Gerais, apesar da arte rupestre se distribuir por todo o território paranaense.


Esqueleto encontrado no Sambaqui de Poruquara.

Para caçar usavam armadilhas, arpões e flechas com pontas de osso, madeira e pedra, e preparavam os alimentos com auxílio de talhadores, raspadores e facas lascadas em rochas ou minerais.  Testemunhos desse período recuado foram encontrados em um dos sítios arqueológicos mais antigos do Paraná: Ouro Verde, situado no sudoeste paranaense, no vale do rio Iguaçu, e onde foram identificados vestígios de caçadores-coletores Umbu com mais de nove mil anos.

Os primeiros povos ceramistas e agricultores chegaram ao Paraná há quatro mil anos, vindos do planalto central brasileiro. Eram os Itararé-Taquara, ancestrais de índios da família linguística Jê como os Kaingang e Xokleng, que vivem até hoje no sul do Brasil, e que tiveram intensa miscigenação com os antigos caçadores-coletores aqui estabelecidos.
                   
Os agricultores Itararé-Taquara moravam em aldeias, com 200 a 300 pessoas, divididas em 4 a 6 casas comunitárias. Em áreas próximas plantavam roças de milho, amendoim, feijões e abóboras. No período em que aguardavam  o crescimento das plantações dividiam-se em pequenos grupos, para a coleta de mel, pinhão e diversos frutos. Assim, contribuíram bastante para a expansão de áreas com pinheiro araucária, pitanga, jaboticaba, araçá, jerivá e palmito, realizando o manejo dessas espécies.
  
Os Itararé-Taquara usavam flechas, algumas com ponta-virote, que serviam para caçar animais e derrubar pinhas, além de grandes pilões de pedra, lâminas de machado polidas petalóides e semi-lunares.


Enterravam os mortos construindo aterrros, algumas vezes na forma de grandes estruturas circulares, com pedras ou não, ou cremavam os mortos. Alguns cemitérios, com sepultamentos estendidos e fletidos, ficavam junto a abrigos rochosos, em áreas consideradas sagradas, onde eram feitas pinturas e gravuras, geométricas ou figurativas.

A cerâmica Itararé-Taquara possui geralmente forma cilíndrica e espessura fina, algumas vezes recoberta por engobo negro ou vermelho. A decoração externa da cerâmica era feita com impressão de carimbos ou malha grossa, e também incisões, antes da queima dos vasilhames. As técnicas de manufatura eram o acordelado, o paleteado e o modelado.
     
Há dois mil anos chegaram ao Paraná populações da família linguística Tupi-Guarani, os Tupiguarani, ancestrais de índios Tupi e Guarani, cujos descendentes vivem até hoje no Brasil e em países vizinhos. Vieram provavelmente da Amazônia, ocupando primeiro o norte e oeste paranaense, para depois fundarem aldeias no planalto curitibano e litoral.

Agricultores, plantavam especialmente mandioca, milho, batata-doce e feijão, e moravam em aldeias com 300 a 400 pessoas em grandes casas comunitárias. A cerâmica é diagnóstica para compreender aspectos do cotidiano dos índios Tupi e Guarani, a pintura em linhas vermelhas e pretas sobre engobo branco é muito comum e revela parte da cosmologia desses povos. A forma carenada, assemelhada a quilha de um navio, de algumas panelas cerâmicas é característica de povos Tupi e guarani.


Maquete de Villa Rica. 

Vasilhame GuaraniOs Tupiguarani costumavam sepultar os mortos acondicionados em grandes vasilhames cerâmicos, no interior das habitações, que em seguida eram queimadas e reconstruídas. O recipiente usado para enterrar geralmente pertencia ao morto, e tinha como funções básicas anteriores armazenar grãos, fermentar bebidas e preparar alimentos.
      
Os principais artefatos em pedra encontrados em sítios arqueológicos Tupiguarani  são lâminas de machado polidas ou lascadas, adornos labiais em forma de "T" (tembetás), raspadores, talhadores, polidores em canaleta e adornos polidos perfurados.

Nesta exposição ainda são mostrados materiais relativos a ocupação espanhola no Paraná, afinal o Tratado de Tordesilhas, celebrado entre Portugal e Espanha em 1494, colocava o atual território paranaense, a oeste de Paranaguá, como sendo espanhol.

Nesta área, denominada Província del Guairá, povoada por grupos indígenas das famílias linguísticas Tupi-Guarani e  Jê, a Coroa espanhola fundou, a partir de 1554, cidades, inicialmente Ontiveros, depois entre 1556 e 1557,  Ciudad Real del Guairá, cujas ruínas atualmente estão localizadas no município paranaense de Terra Roxa.

A terceira cidade espanhola  fundada  foi Villa Rica del Espiritu Santo, em 1570, nas proximidades do rio Cantu. Em 1589, depois de epidemias de varíola e gripe no local da primeira fundação, Villa Rica foi transferida para as proximidades da foz do rio Corumbataí no Ivaí. Lá, no atual município paranaense de Fênix, existe o Parque Estadual de Vila Rica do Espírito Santo, com um museu arqueológico aberto a visitantes.


Pinturas rupestres. Abrigo Floriano no Parque Guartela.

A partir de 1610, numa tentativa de conquistar o Guairá com menor número de conflitos com os grupos indígenas Guarani e Jê, foram criadas quinze missões jesuíticas, que tiveram apoio da Coroa espanhola.

As datas das fundações, algumas controversas, e os nomes das missões coordenadas por padres jesuítas  no Guairá foram:           

- 1610: Nuestra Señora de Loreto e San Ignacio Mini
- 1624: San Francisco Xavier
- 1625: San Joseph, Nuestra Señora de Encarnación
- 1626: Santa Maria
- 1627: San Pablo del Iniaí, Santo Antonio, Los Angeles, San Miguel, San Pedro, Concepción de Nuestra Señora de Guañaños
- 1628: San Thomas, Ermida de Nuestra Señora de Copacabana
- 1630: Jesus-Maria
                              
Os ataques dos bandeirantes paulistas, para capturar indígenas para trabalhar em áreas agrícolas de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia,  eram contínuos desde o final do século XVI, e assim até 1631 todas as missões foram destruídas  ou simplesmente abandonadas.


domingo, 9 de março de 2014

Chachapoyas, os guerreiros das nuvens.


Fortaleza de Kuélap.

Os antigos Chachapoyas, eram inimigos mortais dos poderosos Incas, eles arrancavam a cabeça das pessoas e eram famosos por sua crueldade. Os Chachapoyas desapareceram de repente no século XVI. Neste texto exploraremos uma das culturas mais incríveis e menos conhecidas do mundo, e revelaremos como estes poderosos guerreiros desapareceram.

Os chachapoyas transformaram as florestas de altitude, entre 2.000 m e 3.000 m, em vastas áreas de cultivo – por causa da região montanhosa e húmida em que viviam, ganharam o apelido de “guerreiros das nuvens”.

Tinham fama de ser um povo alto, belo e de pele clara, e construíram grandes cidades fortificadas na selva. Por causa de algumas dessas características, surgiu a lenda de que eles teriam ascendência europeia, a qual aparentemente não tem nenhum fundamento na realidade.


Ao longo do século XV, uma série de conflitos fez com que o nascente Império Inca subjugasse os chachapoyas. Por isso, quando os espanhóis invadiram o Peru, os muitos dos “guerreiros das nuvens” deram seu apoio aos europeus, facilitando a derrota dos incas.

O domínio espanhol, no entanto, trouxe pouquíssimas vantagens para os chachapoyas, que perderam sua independência política do mesmo jeito e sofreram muito com epidemias trazidas pelo invasor europeu. Calcula-se que, depois de 200 anos sob a Coroa espanhola, a população desse povo tenha se reduzido a só 10% do total pré-colombiano.


Muralhas de Kuélap. 

O principal vestígio arqueológico dos chachapoyas é a grande fortaleza de Kuélap, conhecida como a "Machu Picchu do norte", que recebe poucos visitantes por ser de difícil acesso.

O nordeste andino peruano ainda não está nos grandes roteiros turísticos internacionais, embora nada lhe falte para entrar nesse circuito. Bastaria que o governo e mais empreendedores turísticos levassem a sério o seu potencial. Paisagens grandiosas, natureza única e restos arqueológicos fascinantes se combinam com estradas de ótima qualidade, boa comida e gente acolhedora. Mas, é obvio que visitar o departamento de Amazonas, no norte do Peru, requer mais tempo que fazer o tradicional circuito que leva a Cusco e Machu Picchu e, eventualmente, ao Lago Titicaca.


Os Incas foram os romanos de América do Sul. Devido à interrupção provocada pelos conquistadores espanhóis, seu enorme império durou pouco, cerca de cinco séculos. Machu Picchu foi construída no século XV, quando os espanhóis já estavam nas portas do império. Os Incas dominaram por bem ou por força a muitos povos, bem mais antigos e desenvolvidos do que eles. Dentre estes, estão os Chachapoyas que reinavam sobre grande parte da Amazônia Alta, na bacia do rio Marañon, principalmente nos atuais departamentos peruanos de Amazonas e San Martín. Esta foi uma cultura muito avançada, originada mais de 2.000 anos antes de serem derrotados pelos Incas. Eram conhecidos como os “guerreiros das nuvens”, pois, além de serem grandes combatentes viviam num ambiente onde as neblinas são frequentes, floresta da nevoas, como é característico da Amazônia Andina alta.

Embora menos estudada que outras culturas, já se encontraram muitos sítios arqueológicos Chachapoyas. Os mais conhecidos são a fortaleza (cidadela) de Kuélap, em Amazonas e a cidade do Gran Pajaten, dentro do Parque Nacional Abiseo, em San Martín. Esta última, em plena selva, é de difícil acesso, mas, a primeira é fácil de visitar. Situada sobre um morro isolado a 3.000 metros de altitude dominando o vale do rio Utcubamba, Kuélap foi construída provavelmente no século VIII para defender a região contra o império Wari, que se expandiu antes que o Inca.


Chega-se a Kuélap por uma estrada que circunda montanhas elevadas, com vistas magníficas, nas quais ainda se pode apreciar remanescentes das florestas de neblina que até alguns séculos atrás dominavam toda a região e que agora foram substituídas por pastagens “naturais”, vegetação secundária arbustiva e um pouco de agricultura. Os antigos peruanos, como os da atualidade, não se destacaram por proteger as florestas e, na base do fogo, destruíram milhões de hectares de florestas dessa região. Hoje, a gente acredita que é natural essa paisagem desnuda, ainda bela e verde. Mas não é.

Cidadela

Kuélap está relativamente bem conservada. Estende-se sobre cerca de 600 metros de comprimento e dispõe de três plataformas superpostas que suportam uns 400 recintos. Suas muralhas externas chegam a 20 m de altura e tem apenas três entradas muito estreitas para facilitar a defesa. Uma delas tem paredões que se elevam a 10 metros de cada lado. Há edifícios sobre a plataforma principal realmente extraordinários. Em especial, um deles tem formato de um curioso cone invertido, cuja função não foi esclarecida. As casas são todas redondas, dotadas de silos, pedras para moenda de grãos e fogões. Muitas ostentam decorações feitas com o mesmo tipo de pedra com que foram construídas. Uma caraterística especial da cultura dos Chachapoyas são as máscaras funerárias e o costume de instalar os restos funerários em cavidades nas paredes quase verticais de montanhas.


Além das ruínas, a região oferece mais atrativos. Exibe grande diversidade de orquídeas e aves engalanam as paisagens. Sobram as cachoeiras. Uma delas, a de Gocta, é a mais alta do Peru, com 560 metros de queda livre. Se fossem consideradas todas as etapas dos seus saltos seria a quinta mais alta do mundo. Ela pode ser vista a partir de uma pequena localidade situada num platô rodeado de montanhas que formam um perfeito anfiteatro, ou melhor, um estádio completo e monumental. Quando chove, o que é frequente, pode-se observar umas 20 cachoeiras simultâaneas. No meio deste espetáculo, localiza-se uma pousada de ótima qualidade que serve de base para apreciar Kuélap e outros lugares nos arredores.

Culturas ancestrais

Kuélap e Gocta estão a mais de mil quilômetros de Lima. É longe, mas, seguindo a Panamericana Norte, outro benefício é passar pelos domínios dos Mochica e Chimu, duas das mais importantes culturas pré-hispânicas do Peru, mais avançadas e artísticas do que Incas. Se o visitante dispor de um pouco mais de tempo, pode também visitar também Caral, a cidade mais antiga das Américas, anterior inclusive às mexicanas. A cultura Caral precedeu todas as outras no Peru. Em Trujillo, desenterraram-se pirâmides que pelo seu volume são maiores que as egípcias e que exibem pinturas coloridas em alto relevo. Outras ruínas podem ser visitadas em Lambayeque, dentre elas as famosas tumbas mochica dos senhores de Sipam e Sicam, no meio de uma floresta protegida semidesértica. Museus de categoria internacional existem em cada um desses locais.


E tão importante como descobrir a cultura pré-hispânica peruana é apreciar a culinária da Costa Norte do Peru que é única e, para muitos, melhor que a cozinha sofisticada dos chefs de Lima ... além de custar uma fração do preço.

Onde se sai da Panamericana e se entra na Interoceânica Norte, o deserto costeiro entre Lima e Olmos é lindo, com extensas áreas de colinas coloridas. Os Andes estão sempre perto, de modo que o deserto exibe paisagens variadas. Com frequência, a estrada passa pertinho do mar. Impressionam os estreitos e vales costeiros densamente cultivados, que interrompem o deserto. O desgelo dos nevados andinos em consequência das mudanças climáticas aumentou a área, antes desértica, e agora dedicada à agricultura intensiva. Para quem fizer a viagem dirigindo, é preciso atenção, pois, apesar das boas estrada, é preciso aceitar as regras irregulares e um tanto excêntricas próprias da maior parte dos choferes peruanos.


domingo, 23 de fevereiro de 2014

O fim da civilização Maia.


Guerras, conflitos internos, destruição de ecossistemas, administração ineficaz, agricultura improdutiva e mudanças ambientais. A maior civilização pré-colombiana desapareceu de forma misteriosa.

Longa decadência

Por mil anos, a cidade de Tikal irradiou cultura e poder econômico-militar na região do Petén, na Guatemala. Sua pujança ficou talhada em templos de 70 m de altura, acrópoles, palácios e pirâmides. Mas a partir do século 8 Tikal foi abandonada. O mesmo aconteceu com outras cidades-estado. A causa divide os pesquisadores. "Hoje, a historiografia considera que não houve uma causa única. E está revendo a ideia de um colapso", diz o historiador Eduardo Natalino dos Santos, da USP. "Não existiu uma queda brusca, e sim um processo de abandono lento e gradual entre os séculos 8 e 12." Natalino lembra que a queda se restringiu a uma região: as terras baixas da Península de Yucatán (sul do México, Belize e Guatemala), na região do Petén. "Houve uma realocação da população nas regiões do norte de Yucatán e nas terras altas de Chiapas", diz o historiador. "Os maias continuaram a existir. Eles prosseguiram com cidades menos monumentais e menos populosas. Inclusive habitam hoje o México e a América Central."

Em muitos casos, o "colapso" foi mero rearranjo político. Centros de poder emergiam e declinavam - para então ressurgir e conquistar os vizinhos. Tikal foi derrotada pelas cidades de Caracol e Calakmul em 562, mas se reergueu e subjugou as rivais em 695. Copán, na atual Honduras, foi arruinada por Quirigua em 738, mas voltou a florescer meio século depois. Chichén Itzá, no norte da península, cresceu depois de 850 e floresceu ao redor do ano 1000, até ser destruída em 1250.

O geógrafo americano Jared Diamond reconhece que fatos como esses tornam a história maia bastante complexa. Ainda assim, ele sustenta que houve um, ou melhor, vários colapsos. "Entre 90% e 99% da população maia desapareceu depois do ano 800, sobretudo nas terras do sul", escreveu em Colapso. Ele afirma que a população de Petén Central no auge do Período Clássico era de 3 a 14 milhões de pessoas, mas só restavam cerca de 30 mil no século 16, quando os espanhóis chegaram. E não há evidências de que toda essa gente tenha migrado para o norte. Mais: cidades-estado desapareceram e o Conta Longa deixou de ser usado. "É por isso que falamos de um colapso que precisa ser explicado", diz Diamond.

Agricultura insustentável

Decadência, colapso, declínio... Seja qual for o nome, o certo é que o destino maia foi selado por uma conjunção de fatores. O primeiro: a péssima gestão ambiental. "Os maias danificaram o ambiente, especialmente com o desmatamento e a erosão do solo", diz Diamond.

Para entender isso, basta um pouco de geografia. O território maia tinha duas estações principais: a chuvosa, entre maio e outubro, e a seca, de janeiro a abril. O sul recebia mais chuva, mas sofria pior escassez de água. Isso porque o relevo de Yucatán se eleva em direção ao sul, tornando o lençol freático cada vez mais distante. No norte, mais baixo, os maias alcançavam a camada de água por meio de depressões naturais, os cenotes. Mas no sul o relevo era alto demais para que os cenotes atingissem o lençol freático. Pior: a maior parte da Península de Yucatán é formada pelo karst, uma formação rochosa porosa como esponja, que faz com que a água escoe pelas fendas.

"Para solucionar a falta de água, os maias selaram os vazamentos do karst. Também escavaram e engessaram o fundo das depressões a fim de criar reservatórios que estocavam a água da chuva para usar na estação seca", diz o geógrafo. "Os diques da cidade de Tikal continham água suficiente para satisfazer a necessidade de cerca de 10 mil pessoas por 18 meses."

Os moradores enfrentavam problemas quando a estiagem durava muito. E partiam para a barbeiragem. Foi o caso de Copán. No século 7, 27 mil pessoas se espremiam num vale de 16 km2 - 1 687 habitantes por km2 (como comparação, Bangladesh, o país mais denso do mundo, tem mil habitantes por km2). Para driblar a superpopulação, 40% das pessoas saíram do vale de Copán para ocupar as colinas. Derrubaram árvores e provocaram erosão nas encostas. O solo ácido das colinas desceu até o vale, prejudicando sua fertilidade. E como o solo das colinas era pobre, os desmatadores retornaram ao vale em busca de melhores terras.

Os maias tentaram aumentar a produção agrícola, usando sistemas de irrigação, campos drenados e terraceamento (rampas niveladas para prevenir erosão). Mas áreas como Copán e Tikal mostram pouca evidência dessas ações. "Devem ter usado meios arqueologicamente invisíveis para aumentar a produção de comida, como irrigação por inundação - em casos extremos, ignorando o descanso do solo", diz Diamond.

Tudo isso minou a eficiência da agricultura. Pelo menos 70% da sociedade era formada por camponeses. Cada um deles produzia duas vezes a necessidade de comida de sua família, um excedente muito pequeno. A estação de chuvas, muito úmida, estimulava a proliferação de fungos, impedindo a estocagem de milho por mais de um ano. Em suma: gente demais, comida de menos... mas o pior ainda estava por vir.

Guerras permanentes

Os maias nunca formaram um império, como aconteceu com os incas e os astecas. Cada cidade tinha autonomia e buscava cooptar ou submeter as vizinhas para formar confederações - que também competiam entre si. Os reis se orgulhavam de torturar os inimigos. Graças à decifração da escrita maia, sabemos que os monarcas mandavam arrancar os dedos e os dentes dos prisioneiros. Ou amarravam seus braços e pernas para jogá-los escada abaixo feito bolas humanas. Os conflitos não ocorriam só entre as cidades, mas dentro delas.

Como acontecia com os demais povos da Mesoamérica, a sociedade maia era extremamente hierarquizada. O rei funcionava como sumo sacerdote, alegando ter poderes sobrenaturais. Era responsável por trazer chuva à população, que em troca o apoiava. Bastava uma seca forte para romper o acordo. Isso talvez explique por que o palácio real de Copán foi incendiado por volta de 850, durante uma forte seca. Os reis também cobravam altos tributos para financiar suas batalhas, o que motivava guerras civis, rebeliões e a debandada de parte da população rumo a outra cidade.

Outro problema: era difícil formar um império porque os maias não possuíam animais de tração. O transporte era feito nas costas dos humanos. Assim, se um sujeito saía com um saco de milho para suprir um exército, iria comer parte da carga. Sobrava pouco para as tropas. Com a barriga vazia, os soldados não suportavam longas campanhas. "Isso ajuda a explicar por que a sociedade maia permaneceu dividida entre reinos pequenos, com guerras entre si, sem se unificar", diz o geógrafo.

Mudança climática

Guerras, conflitos internos, destruição dos ecossistemas, administração ineficaz, agricultura improdutiva... sob esse prisma, os maias foram culpados pelo próprio fim. Mas alguns autores sugerem uma explicação diferente. "O colapso resultou de circunstâncias naturais externas, que os maias não controlaram nem causaram. Eles foram as vítimas, não os perpetradores", afirma o arqueólogo americano Richardson Gill no livro The Great Maya Droughts ("As Grandes Secas Maias", inédito no Brasil). "O Período Clássico terminou devido a uma série de secas entre os séculos 9 e 10, gerando não só escassez de comida, mas principalmente de água."

As secas não eram novidade. Durante o Período Clássico, porém, teriam ficado mais intensas. A maior evidência vem de um estudo feito pelos pesquisadores David Hodell, Jason Curtis e Mark Brenner, da Universidade da Flórida. Ao analisar sedimentos de lagos das terras baixas, constataram que uma grave seca atingiu o local entre 800 e 1000 - a estiagem mais séria dos últimos 7 mil anos. "Parte da população declinou de fome e sede durante as secas, ou matando-se na disputa por recursos naturais cada vez mais escassos", diz Diamond. "Outra parte do declínio populacional se reflete na maior taxa de mortalidade infantil e numa taxa de nascimento baixa ao longo de décadas."

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Incrível escultura é descoberta em pirâmide maia


A descoberta foi conduzida pela equipe do arqueólogo Francisco Estra-Bellie, da Universidade de Tulane, EUA.

Arqueólogos descobriram uma incrível escultura de estuque de 1400 anos de idade vivamente decorada com imagens de deuses e governantes. Considerada uma grande obra de arte, o friso está lançando uma nova luz sobre esta cultura milenar.

Eles estavam explorando uma pirâmide maia que data de 590 dC, em uma área conhecida por conter outras antigas ruínas. A pirâmide está localizada perto da cidade de Holmul, na região de Petén, na Guatemala, onde a civilização maia floresceu em torno de 800 aC a 850 dC.


O friso, que mede quase 8 metros de comprimento e pouco mais de 2 metros de diâmetro, retrata um governante em cima de um espírito montanhoso.  Uma inscrição diz “A tempestade de Deus entra no céu.” Os arqueólogos dizem que a escultura está fornecendo pistas importantes sobre as mudanças no poder em grupos maias e como eles guerreavam uns contra os outros.

A escultura está tão bem preservada que muitas de suas cores originais permanecem.


sábado, 9 de novembro de 2013

O misterioso povo Pirarrã e o idioma mais estranho do mundo


Eles não sabem contar, não diferenciam cores, não conhecem arte ou mitos, não entendem ficção, não acreditam em nenhum deus. Vivem no agora, sem futuro, sem passado. Esses são os pirarrãs: 150 a 350 índios que vivem na selva amazônica e desafiam nosso entendimento da linguística moderna.

Os pirarrãs ou piraãs, também chamados de pirahãs ou mura-pirahãs, são um povo indígena brasileiro de caçadores-coletores, monolíngues e semi-nômades, que se destacam de outras tribos pela diferença cultural e linguística. 

Eles habitam as margens do rio Maici, afluente do rio Marmelos ou Maici, que por sua vez é um afluente do rio Madeira, um afluente do rio Amazonas. Se autodenominarem hiaitsiihi, categoria de seres humanos ou corpos que se diferenciam dos brancos e dos outros índios.

Antes mesmo de nascer, ainda no ventre materno, os pirarrãs recebem um primeiro nome, que eles acreditam ser responsável pela criação de seus corpos. Durante a vida, recebem nomes de seres que habitam camadas superiores e inferiores do cosmos, responsáveis pela criação de suas almas e destinos, e também de inimigos de guerra.

Linguagem

A língua pirarrã é um língua da família linguística mura. É a única língua do grupo mura ainda não extinta, sendo que todas as demais desapareceram nos últimos séculos. Essa língua não tem nenhuma relação com qualquer outra língua existente. Havia cerca de trezentos e cinquenta falantes em 2004, distribuídos em oito aldeias ao longo do rio Maici.

Apresenta características peculiares, não encontradas em outras formas de expressão oral. Foi identificada e teve sua gramática elaborada em 1986 pelo linguista estadunidense Daniel Everett em cerca de doze artigos. Everett viveu entre os Pirarrã por sete anos, dos anos 1970 aos 1980.

Entre suas peculiaridades, destacam-se:

Uma das menores quantidades de fonemas entre os idiomas existentes. Identificam-se os sons de apenas três vogais (A, I e O) e seis consoantes: G, H, S, T, P e B;

A pronúncia de muitos fonemas depende do sexo de quem fala;

Apresenta dois ou três tons, quantidade discutida entre estudiosos;

O falar pirarrã pode ser expresso por música, assobios ou zumbidos (como “M” com lábios fechados);

Apenas alguns dos homens, nunca mulheres, conseguem se expressar em nheengatu ou em português;

Sentenças muito limitadas, sendo o único idioma sem orações subordinadas;

Não tem numerais, apenas a noção do unitário (significando também “pequeno”) e de muito. Sua cultura e seu modo de vida, como caçadores e coletores, não exige conhecimento de numerais (um trabalho recente de Everett indica que a língua não trata nem mesmo de “um” e “dois”; não usam números, mas quantidades relativas);

Não há palavras para definir cores, exceto “claro” e “escuro”, embora isso seja discutido entre diversos autores;

Tudo é falado no presente, não há o tempo futuro, nem o passado. Trata-se de um povo, portanto, sem mitos da criação;

Não tem termos que identifiquem parentesco, descendência. A palavra para Pai e Mãe é uma única;

Os pronomes pessoais parecem ter-se originado na língua nheengatu, uma língua franca de origem tupi.

Entre as coisas que separam os homens dos outros animais, estão as sutilezas da linguagem. Os animais até são capazes de transmitir mensagens simples – em geral relacionadas a comida, sexo ou disputa de território –, porém não conseguem encaixar uma mensagem dentro de outra.

Por exemplo, um golfinho treinado pode transmitir a mensagem “A bola está na piscina” ou “Pegue a bola”, mas não é capaz de juntar as duas expressões dizendo “pegue a bola que está na piscina”. Esse é um atributo exclusivamente humano que os linguistas chamam de recursividade – que, salvo casos de deficiência mental, é considerado um denominador comum a todos os indivíduos da nossa espécie.

O que aconteceria se um grupo humano não dominasse isso? Essas pessoas seriam menos humanas que outras?

Os índios não são recursivos pelo “Princípio da Experiência Imediata”. O nome é mais complicado do que a coisa em si: os pirarrãs só vivem e falam do aqui-agora. Fazem apenas sentenças relacionadas ao momento em que estão falando, aos fatos vistos por eles. “As sentenças dos pirarrãs contêm somente situações vividas pelo falante ou testemunhadas por alguém vivo durante a vida do falante”. Por isso eles têm problema com as abstrações e tudo o que resulta delas: cores, números, mitos, ficção e a bendita recursividade. Também é isso que faz com que os pirarrãs, ao contrário de todas as outras comunidades linguísticas já estudadas, não aprendam a contar em outro idioma. “Eles não querem saber de nada que esteja fora do seu mundo”.

Outros linguistas rebatem: “A contagem ‘1, 2, bastante’, por exemplo, é típica de vários outros indígenas”, afirma Maria Filomena Sândalo, linguista da UNICAMP (Campinas, Brasil) que fez sua dissertação de mestrado sobre a tribo. “Isso não quer dizer que eles não reconheçam quantidades. Eles simplesmente fazem recortes diferentes da realidade, como qualquer outra língua”.

A professora argumenta que, enquanto esteve com os pirarrãs, encontrou uma linguagem tão complexa e recursiva como qualquer outra. Ela interessou-se pela questão pirarrã e, junto com dois outros pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA) e da Universidade Harvard (EUA), analisou os dados colhidos por Everett. Em 2007, o grupo publicou um artigo concluindo que a língua é normal. “Ela não é inexplicável ou especial. É tão interessante quanto uma língua de qualquer outro lugar do mundo. Não tem essa história de experiência imediata ou falta de recursividade”, diz a professora.

O linguista e filósofo estadunidense Avram Noam Chomsky, um dos maiores ícones dessa ciência, argumenta que os pirarrãs não são um “contra-exemplo” à gramática universal (termo usado no último século para a teoria do componente genético que habilita os humanos a se comunicar). Como os pirarrãs não são diferentes geneticamente do resto da humanidade, não há nada de extraordinário aí.

Cultura e crença