quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Balaão, o profeta exortado por uma jumenta!



Bíblia Sagrada; Livro de Números, capítulos 22-24.

Os israelitas partiram e acamparam nas planícies de Moabe, a leste do rio Jordão e na altura de Jericó, que ficava no outro lado do rio.

O rei de Moabe, Balaque, temia uma invasão dos israelitas às suas terras. Por isso ele mandou chamar o profeta Balaão e ofereceu muitas riquezas, para amaldiçoar o povo de Israel.

Balaão ficou tentado por causa das riquezas que ele iria receber, mas Deus não deixou que o povo fosse amaldiçoado. Mas por causa da insistência de Balaão em se encontrar com Balaque, Deus permitiu que ele partisse para falar com Balaque.

No dia seguinte Balaão se aprontou, pôs os arreios na sua jumenta e foi com os chefes moabitas.

De repente, o Anjo de Deus se pôs na frente dele no caminho, para barrar a sua passagem.

Quando a jumenta viu o Anjo parado no caminho, com a sua espada na mão, saiu da estrada e foi para o campo.

Aí Balaão bateu na jumenta e a trouxe de novo para a estrada.

E o anjo apareceu mais duas vezes, fazendo a jumenta parar. E Balaão ficou com tanta raiva, que surrou a jumenta com a vara. Aí Deus fez a jumenta falar, e ela disse a Balaão:

— O que foi que eu fiz contra você? Por que é que você já me bateu três vezes?

Ele respondeu: — Foi porque você caçoou de mim. Se eu tivesse uma espada na mão, mataria você agora mesmo!

Então a jumenta disse a Balaão:

— Por acaso não sou a sua jumenta, em que você tem montado toda a sua vida? Será que tenho o costume de fazer isso com você?

— Não — respondeu ele.

Aí Deus fez com que Balaão visse o anjo, que estava no caminho com a espada na mão. Balaão se ajoelhou e encostou o rosto no chão.

Então o anjo de Deus disse: — Por que você bateu três vezes na jumenta? Ela me viu e se desviou três vezes de mim. Se ela não tivesse feito isso, eu já teria matado você.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O rei Dom Afonso Henriques, fundador de Portugal.



D. Afonso Henriques, nascido por volta de 1109, era filho do Conde D. Henrique de Borgonha e de sua esposa, D. Teresa. Pelo pai, era neto do Duque Henrique de Borgonha e trineto de Roberto II, Rei de França.

Sua mãe era filha ilegítima de Afonso VI, Rei de Leão e de Castela. Este confiara ao genro o Condado Portucalense, que se estendia do sul do Minho às proximidades do Tejo.

Sucedendo a seus pais no governo do Condado Portucalense (em 1130), o jovem D. Afonso Henriques empenhou-se em fazê-lo independente, por meio de repetidas lutas contra Afonso VII, que sucedera a Afonso VI no trono de Leão.

Desde então começou a intitular-se Rei de Portugal. Afonso VII reconheceu-lhe esse título em 1143, na conferência de Zamora, à qual assistiu o Cardeal Guido de Vico, Legado do Papa Inocêncio II.

Para esse resultado concorreu o juramento de vassalagem que D. Afonso Henriques havia prestado ao Papa na pessoa do Legado, talvez ainda antes da conferência.

Na carta de enfeudamento que escreveu a Inocêncio II nesse mesmo ano, prometeu o tributo anual de quatro onças de ouro, com a condição de gozar da proteção pontifícia para si e seus sucessores, e não reconhecer nenhum outro senhorio espiritual ou temporal além do Papa e seus legados.

Devido a reclamações de Afonso VII contra esse enfeudamento, só em 1179 Alexandre III reconheceu D. Afonso Henriques como Rei, tomando a ele e a seus sucessores sob a proteção da Cúria Romana.

A paz com os leoneses permitiu ao novo Rei prosseguir a cruzada contra os mouros. Em 1147 liberta Santarém e Lisboa, esta com o auxílio de um grande exército de cruzados que seguia para a Terra Santa.

Depois toma os castelos de Sintra, Almada e Palmeda, a praça de Alcácer do Sal (1158), Évora e Beja (1159). Perde estas duas últimas cidades, e as retoma em 1162.

Em 1165 e 1166, Giraldo "Sem Pavor" conquista Trujillo, Cáceres, Serpa e Juromeña para o Rei de Portugal. Em 1184, tendo o Rei 90 anos de idade, sua chegada a Santarém bastou para pôr em fuga os infiéis que ameaçavam a cidade.

D. Afonso faleceu em 1185, tendo reinado 57 anos. Foi casado com D. Mafalda de Sabóia.

Além de guerreiro consumado, foi "político enérgico e tenaz, que bem conhecia os meios de se afirmar e vencer", como escreve um historiador.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Marcha Fúnebre (Madrugada do Espírito,1931)



O mundo moderno perdeu o senso puro da alegria. Porque confundiu a alegria com o prazer. E tendo esgotado todos os prazeres, caminhou para a morte e o aniquilamento.

A liberdade política transformou-se em liberdade moral e essa criou a liberdade dos instintos. O subconsciente cresceu sobre o consciente e clamou pelos seus direitos. Era o mundo ignorado, o segundo plano confuso e impreciso que se trans¬portava ampliando-se como uma escuridão que avulta sobre a inteligência.

Proclamada a libertação de todos os limbos desconhecidos, entrou pela alma do homem moderno o tropel alucinante das formas de pensamento, em estado de elaboração, fantasmal e trágico. O mundo subconsciente (caos gerador ensaiando as expressões em lineamentos disparatados como fetos informes e monstruosos) veio dominar o sentido da vida contemporânea com a violência de forças brutais desencadeadas.

Forças sem governo, forças desordenadas, heterogêneas, sem direção. Forças telúricas do mundo interior, amorfas, nebulosas, de ritmos fragmentários, dissociantes.

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O fenômeno que se dera com as antigas civilizações arra¬sadas pelos bárbaros repetiu-se de maneira inversa, dentro do próprio homem. Pois todo esse caos que a consciência disciplinava era contido pela pressão de uma força exterior dominadora. O século da máquina virou a alma pelo avesso, porque, tendo-se esta libertado do que se denominou o "terror cósmico", que mantinha o equilíbrio contendo a deflagração das energias interiores, viu-se, subitamente, dominada pelos estranhos duendes larvais, dos instintos desenfreados.

A alma foi invadida pelos hunos dos seus próprios recessos...

A isso fora o homem levado pela sede de liberdade. Essa liberdade chegou às suas últimas conseqüências. E de tal forma, que o pobre títere humano perdeu o sentido dela.

O homem já não sabe exatamente o que significa ser livre.

Pugnando pela progressão infinita do direito de se afirmar e de agir, acaba negando a própria personalidade e adotando o senso do coletivismo, aceita a subordinação do indivíduo à feição de um grande todo social.

Esse mesmo homem, que ergueu audaciosamente a cabeça para negar a metafísica, e substituiu a teologia pela crítica, o espiritualismo pelo materialismo, o sentimento da disciplina pela utilidade da disciplina, foi prosseguindo de tal forma que acabou por aceitar uma nova metafísica, criando o deus-coletividade, o misticismo da negação, o cativeiro social em nome de uma coisa tão vaga como o paraíso sonhado e uma humanidade mecânica.

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De sorte que o homem moderno retornou ao estado de espírito anterior ao monoteísmo e à revelação cristã, para viver apavorado diante dos elementos. Pois, se hoje já não treme diante dos trovões e dos raios começa a tremer e vai até ao delírio, sentindo o rumor "freudiano" do seu subconsciente em tropel, que ele procura decifrar através da psicanálise, como outrora os povos primitivos procuravam conhecer o mundo ex¬terior através dos seus sortilégios e superstições.

E, do mesmo modo que o troglodita recuava apavorado diante de uma tempestade, o "gentleman" recua hoje atordoado diante do seu próprio complexo, que é tão grande ou tão pe¬queno, ou pelo menos tão incondicional à inteligência, como as complexas nebulosas no infinito do tempo e do espaço.

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Quem ouvir um marxista, dos mais conhecedores da sua doutrina, discorrer sobre a teoria dos movimentos e das relações da matéria, sobre os processos dialéticos, sobre a concepção evolucionista da natureza, ficará pasmado diante das abstrações a que a sua inteligência é conduzida e dos planos metafísicos em que o raciocínio vai agir, usando da mesma força criadora com que o homem da caverna, perdida a luz da graça, ideali¬zava os seus primeiros deuses. E quem atentar melhor sobre os sentimentos que animam o prosélito de Marx, verificará que esse sentimento, analisado à luz crua da crítica, tem muito de misticismo e até de feiticismo.

É o homem, de novo, sob o domínio do terror, que pre¬cedeu o monoteísmo e o cristianismo e de onde se originou todo o pavor do infinito.

Tal é o fundo espiritual desta civilização, que finge desde¬nhar do problema da causa e do fim. Essa a expressão do burguesismo libertário, do capitalismo científico, do anarquismo e do socialismo.

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O equilíbrio do Homem e do seu "sentimento do Universo" provinha exatamente do equilíbrio entre as duas forças, uma que está dentro, outra que está fora de si.

Anulada uma, desaparecida a pressão exterior, rompe-se o equilíbrio e efetiva-se o desdobramento dos planos interiores. É o mundo dos instintos, são as formas larvares do pensamento, que passara a dominar sobre o homem moderno.

Esses espectros de ideias conduzem o homem contemporâneo à interpretação errônea da alegria e do sentimento do prazer e da dor.

Tudo se indefine. O prazer passa a ser uma forma de sensação, sem limites bem traçados com a dor. É uma dor bastarda, como afirmaria um notável escritor brasileiro. E, como todos os planos morais, estéticos e políticos se baseiam na concepção do bem e do mal do agradável e do desagradável, do útil e do inútil, do feio e do belo, e uma vez que o mundo caótico dos instintos estabeleceu o tumulto crítico, a Humanidade vai hoje caminhando sem disciplina, entregue a essas forças bárbaras que arrastam a todas as degradações e a todos os crimes.

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Não admira que se afirme que a moral é um ponto de vista. Não admira que se dê hoje ao amor entre o homem e a mulher uma finalidade puramente egoísta. Não admira que se queira anular a personalidade em nome do individualismo. Nem que se queira fazer uma coletividade infeliz, em holocausto a uma pura ideia abstrata, a uma pura concepção ideal de coletividade feliz. Nem, ainda, que se persigam as religiões em nome da liberdade. Que se venham mais tarde a perseguir os próprios indivíduos que clamarem pela liberdade, em nome dessa própria liberdade. Que se atente contra a afirmação integral do amor entre o homem e a mulher, em nome da liberdade do prazer. Que se negue o direito dos pais, em nome da justiça social e dos interesses de uma ideal coletividade. Não admira ainda que se suprima a propriedade em nome dos próprios direitos da propriedade, como faz o capitalismo, como pretende fazer o comunismo. Nem espanta que desapareçam todas as garantias da lealdade e da honra, quando todos estão certos que a moral não passa de um ponto de vista.

É que o Homem perdeu o senso do equilíbrio. E, perdendo esse equilíbrio, torna-se um instrumento imperfeito de interpretação do Universo e dos seus fenômenos.

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Estamos vivendo o grande período humano da confusão. E, nesse estado de espírito, o Homem é triste. Profundamente triste. Todas as suas barulhentas expressões exteriores não passam de dissimulações.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Anasazi, “a tribo dos antigos”.



Chaco Canyon, Chetro Keti, Grande Praça Kiva (National Park Service). Imagem: Obiviousmag.

            Os Anasazi eram um antigo povo indígena do sudeste norte americano que viveram apartir do ano 1.200 a.C. e desapareceram repentinamente por volta de 1300 d.C. Este antigo povo desenvolveu uma civilização complexa de grandes comunidades inter-relacionadas. Os Anasazi evoluíram de nômades, que viviam em habitações temporárias, até se tornarem agricultores. Com o tempo, criaram enormes construções de pedra com algumas de até cinco andares e moradias em penhascos. Não se sabe o que os levou a abandonar tudo. Alguns pensam que uma grave seca ocorrida em 1275-1300 d.C foi um fator importante na sua partida. O pó do deserto no sudoeste da América, a arte da cerâmica, o som harmônico da flauta e lugares de culto relembram uma das civilizações indígenas mais antigas – os Anasazi. O rasto destes antepassados procura água, paz e sobrevivência pelos Estados de Utah, Colorado, Arizona e Novo México.

            Siga as pegadas e conheça o ADN desses gênios da arquitetura, artesãos e potenciais astrônomos. Anasazi é o termo utilizado para designar “os antigos” ou “antigos inimigos” pelos Navajos, uma tribo indígena da América do Norte. Possíveis antecessores e detentores das instruções genéticas dos índios Hopi, os Anasazi são também rotulados como Hisatsinom (“os antigos”). Os nômades do sudoeste dos atuais EUA (Utah, Arizona e Novo México) testam a sua sobrevivência em lugares inóspitos, desertos e montanhosos.

            No Novo México encontra-se o berço da civilização pré-histórica Anasazi: Canyon Chaco. É aqui que estão as primeiras habitações desta tribo. Pueblo Bonito é não só a maior casa, como também a mais conhecida. Pedra e madeira eram transportadas pela própria comunidade a fim de edificar todas estas obras de uma engenharia, desenho e geometria complexa. Conta-se que estas amplas habitações circulares atraíam pequenos povos agrícolas que sobreviviam à base do cultivo de cereal e procuravam água. O cenário de Canyon Chaco nem sempre foi desértico e o lugar chegou a ser popular em períodos de mais chuva. No interior de Pueblo Bonito, há diferentes compartimentos que funcionam como o epicentro de rituais religiosos – as Kivas. Aqui ouviam-se os sons dos tambores e cânticos divinos, sentia-se o calor da fogueira e acompanhavam-se os ritmos das danças. Rezas de chuva e campos férteis invocavam o desejo pelo alimento. Porém, não eram só os rituais que sustentavam as suas crenças. Era, também, a arquitetura baseada nas estrelas.
            Alguns investigadores como, Gary David, em The Orion Zone, e arqueólogos defendem que a disposição geográfica das kivas, das janelas e o desenho da construção dos Anasazi espelham os movimentos dos corpos celestes, representando a constelação Orion. As habitações monitorizam as posições do sol e advinham o (des)equilíbrio da Terra, como um calendário arquitetônico-celestial. É possível que o povo Anasazi tenha, ainda, obervado a supernova que formou a Nebulosa do Caranguejo. Os Anasazi tiveram que partir quando Canyon Chacon cobriu-se de pó e a seca predominou. A leitura dos anéis dos troncos das árvore ainda presentes no monumento revelam que tem decrescido o valor da precipitação desde o ano de 1130. O clima desfavorável, a perda da estrutura de poder do povo e o acreditar que estavam em desequilíbrio com a Natureza apresentam-se como possíveis razões da sua migração para outro local.

            Próxima parada? Novo México, Aztec. O povo Anasazi voltou a reconstruir as suas habitações. Contudo, a natureza arbórea e verdejante não foi suficientes para esta civilização estabelecer raízes no local.   Sul do Colorado, Mesa Verde. As terras são férteis mas o local que enraíza a população é de difícil acesso. Apesar das típicas portas em forma de T e da presença das Kivas, Mesa Verde acaba por ser uma compressão das habitações em Canyon Chaco e Aztec. Escadas em pedra dão acesso ao aperto dos diferentes compartimentos. Que medos e inseguranças esconde esta comunidade? A resposta talvez se encontre em imagens simbólicas, fatos e mitos gravados nas rochas – os petróglifos. Combates, pontas de lança, escudos, guerreiros e caveiras são algumas das imagens. Alguns dos elementos são objetos de atração da chuva. Mas há segredos nesta sociedade desesperada, levada ao limite. Há quem se aproveitasse da bruxaria e das forças malignas para desenvolver práticas de canibalismo. O destino final é a floresta de Utah, onde se encontram os últimos vestígios desta comunidade. Neste local há as mesmas escadas pré-históricas, a aproximação aos recursos naturais, os petróglifos e a mesma cultura vibrante e defensiva.

            As pegadas de Anasazi param neste local, em meados do século XIV d.C. A tribo Hopi ainda mantém contacto com a época dos seus antepassados. A arte de trabalhar a cerâmica, a dança do búfalo, o equilíbrio do vaso na cabeça das mulheres para transportar água e os amuletos fazem parte desta cultura. Já se falou que o povo Zuni e Hopi – índios pueblo – seriam descendentes dos Anasazi, porém nunca foi provada a ligação genética entre eles.