domingo, 11 de maio de 2014

The grand stately Jules Verne


Jules Verne

Jules Verne, (born Feb. 8, 1828, Nantes, France—died March 24, 1905, Amiens), prolific French author whose writings laid much of the foundation of modern science fiction.

Verne’s father, intending that Jules follow in his footsteps as an attorney, sent him to Paris to study law. But the young Verne fell in love with literature, especially theatre. He wrote several plays, worked as secretary of the Théâtre Lyrique (1852–54), and published short stories and scientific essays in the periodical Musée des familles. In 1857 Verne married and for several years worked as a broker at the Paris Stock Market. During this period he continued to write, to do research at the Bibliothèque Nationale (National Library), and to dream of a new kind of novel—one that would combine scientific fact with adventure fiction. In September 1862 Verne met Pierre-Jules Hetzel, who agreed to publish the first of Verne’s Voyages extraordinaires (“Extraordinary Journeys”)—Cinq semaines en balloon (1863; Five Weeks in a Balloon). Initially serialized in Hetzel’s Le Magasin d’éducation et de récréation, the novel became an international best seller, and Hetzel offered Verne a long-term contract to produce many more works of “scientific fiction.” Verne subsequently quit his job at the stock market to become a full-time writer and began what would prove to be a highly successful author-publisher collaboration that lasted for more than 40 years and resulted in more than 60 works in the popular series Voyages extraordinaires.

Verne’s works can be divided into three distinct phases. The first, from 1862 to 1886, might be termed his positivist period. After his dystopian second novel Paris au XXe siècle (1994; Paris in the 20th Century) was rejected by Hetzel in 1863, Verne learned his lesson, and for more than two decades he churned out many successful science-adventure novels, including Voyage au centre de la terre (1863, expanded 1867; Journey to the Centre of the Earth), De la terre à la lune (1865; From the Earth to the Moon), Autour de la lune (1870; Trip Around the Moon), Vingt mille lieues sous les mers (1870; Twenty Thousand Leagues Under the Sea), and Le Tour du monde en quatre-vingts jours (1873; Around the World in Eighty Days). During these years Verne settled with his family in Amiens and made a brief trip to the United States to visit New York City and Niagara Falls. During this period he also purchased several yachts and sailed to many European countries, collaborated on theatre adaptations of several of his novels, and gained both worldwide fame and a modest fortune.


Illustration from Jules Verne’s Twenty Thousand Leagues Under the Sea. Captain Nemo observes an octopus through the window of the submarine.

The second phase, from 1886 until his death in 1905, might be considered Verne’s pessimist period. Throughout these years the ideological tone of his Voyages extraordinaires began to change. Increasingly Verne turned away from pro-science tales of exploration and discovery in favour of exploring the dangers of technology wrought by hubris-filled scientists in novels such as Sans dessus dessous (1889; Topsy-Turvy), L’Île à hélice (1895; Floating Island), Face au drapeau (1896; For the Flag), and Maître du monde (1904; Master of the World). This change of focus also paralleled certain adversities in the author’s personal life: growing problems with his rebellious son, Michel; financial difficulties that forced him to sell his yacht; the successive deaths of his mother and his mentor Hetzel; and an attack by a mentally disturbed nephew who shot him in the lower leg, rendering him partially crippled. When Verne died he left a drawerful of nearly completed manuscripts in his desk.

The third and final phase of the Jules Verne story, from 1905 to 1919, might be considered the Verne fils period, when his posthumous works were published—after being substantially revamped—by his son, Michel. They include Le Volcan d’or (1906; The Golden Volcano), L’Agence Thompson and Co. (1907; The Thompson Travel Agency), La Chasse au météore (1908; The Chase of the Golden Meteor), Le Pilote du Danube (1908; The Danube Pilot), Les Naufragés du Jonathan (1909; The Survivors of the Jonathan), Le Secret de Wilhelm Storitz (1910; The Secret of Wilhelm Storitz), Hier et demain (1910; Yesterday and Tomorrow, a collection of short stories), and L’Étonnante aventure de la mission Barsac (1919; The Barsac Mission). Comparing Verne’s original manuscripts with the versions published after his death, modern researchers discovered that Michel Verne did much more than merely edit them. In most cases he entirely rewrote them—among other changes, he recast plots, added fictional characters, and made their style more melodramatic. Scholarly reaction to these discoveries has been mixed. Some critics condemn these posthumous works as contaminated; others view them as a legitimate part of the Verne père et fils collaboration. The debate continues With Michel Verne’s death in 1925, the final chapter of Jules Verne’s literary legacy was more or less complete. The following year American publisher Hugo Gernsback used a representation of Verne’s tomb as a logo for his Amazing Stories, the first literary magazine featuring tales of “scientifiction.” As the term scientifiction evolved into science fiction, the new genre began to flourish as never before, and Verne became universally recognized as its patron saint.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Erwin Rommel: a raposa do deserto


Rápido e astuto, o alemão colecionou feitos antológicos e tornou-se o maior estrategista militar da Segunda Guerra.

"O senhor é muito rápido para nós”, disse o general francês logo após se render ao comandante inimigo. A frase soaria frágil e covarde, não fosse dirigida a um dos mais astutos e mitológicos personagens dos campos de batalha. O tal “senhor”, no caso, é um general que conseguiu feitos inacreditáveis nas mais adversas situações. Colecionador de ações antológicas nas duas grandes guerras que a humanidade já assistiu, Erwin Rommel era um alemão ágil e sabido, que em pouco tempo se tornou o mais famoso estrategista da Segunda Guerra Mundial. Com suas tropas, conseguiu avançar cerca de 240 quilômetros em apenas 24 horas, feito que nenhum outro general foi capaz de produzir naqueles tempos. Logo ganhou o apelido de “A Raposa do Deserto”, após fortalecer as combalidas tropas italianas de Mussolini no norte da África, em 1941, e, de quebra, fazer as avançadas tropas britânicas recuarem no front africano.

Filho de um professor universitário com uma jovem de ascendência nobre, Rommel nasceu em 1891 na cidade de Heidenheim. Desde a infância, mostrava gosto por aviões e planadores, mas acabou ingressando aos 18 anos no 124º Regimento de Infantaria de Württemberg. Nas cartas trocadas com a mulher, durante o período em que esteve no deserto, transparece um dedicado pai de família, interessado com o desempenho escolar do único filho, a quem sempre cobria de elogios. Qualidade, por sinal, que também era vista na sua relação com os soldados. Sem grosserias, calmo, ensinava técnicas de combate salientando que a ousadia e a surpresa eram as grandes armas de um exército.


Nas correspondências, contava também parte do dia-a-dia no inóspito norte da África. Falava sobre o calor insuportável, sobre a guerra contra os percevejos na hora de dormir, derrotados depois de o general ter-se irritado a ponto de atear fogo na própria cama. Nas vazias noites do deserto, seu passatempo era matar moscas. A comida merecia capítulo especial. Eis um jantar caprichado descrito por ele: “Anteontem à noite, comemos uma galinha que devia provir das poeiras de Ramsés II. Apesar das seis horas que levou para cozinhar, ficou como sola de sapato e meu estômago não a pôde digerir”.
Best seller

Ainda na Primeira Guerra Mundial, Rommel ganhou a maior condecoração a oficiais concedida pelo governo germânico. Cerca de 9 mil soldados inimigos e 80 canhões caíram em suas mãos naquele conflito, ao vencer no norte da Itália a Batalha de Carporetto.

Em 1929, Rommel escreveu seu primeiro livro, Ataques de Infantaria, no qual compilou parte de suas idéias e técnicas de estratégia. A obra, lida com admiração por Hitler e mais de 400 mil alemães, instigou ainda mais o interesse dos germânicos pelo já reconhecido herói de guerra.

Foi na Segunda Guerra Mundial, porém, que a fama de Rommel fez o mundo estremecer. Sob o comando da 7ª Divisão Panzer, em 1940, ele foi um dos primeiros a ultrapassar a Linha Maginot, na França, antes em mãos de tropas britânicas e francesas. A inovadora e fulminante Blitzkrieg (guerra-relâmpago) surgia para o mundo de forma implacável: foi durante a invasão da França que Rommel conseguiu atingir a inigualável marca de deslocamento de 240 km em um único dia – feito que rendeu a seus homens a fama de "Divisão Fantasma".

AfrikaKorps

Em fevereiro de 1941, sob ordem do chefe do Estado-Maior do Reich, Walter von Brauchitsch, nascia um grupo especial que se tornaria lendário, batizado de Afrika Korps. Sua missão era auxiliar as frágeis frentes italianas no norte da África, que padeciam com armamento escasso. Mas a tarefa não seria simples. Com curto raio de ação, os canhões da divisão datavam de 1914 e estavam completamente obsoletos. A situação de outras armas não era muito diferente. Metralhadoras e veículos de defesa pouco podiam fazer diante do poder de fogo dos aliados. Para piorar, grande parte do exército italiano era constituída por infantaria não-motorizada, adequada para posições defensivas, mas de valor nulo nos embates no deserto.


Nessas horas, porém, a genialidade de Rommel fazia a diferença. Em uma ocasião, ele mandou seus mecânicos reformarem vários carros Fiat abandonados, cobrindo-os com telas e falsos canhões de madeira. Batizados de Pappedivision, os veículos engrossaram as fileiras junto aos Panzers verdadeiros, compondo frentes que se estendiam por até 1,5 quilômetro. O plano funcionou. Os inimigos recuavam só de vê-los se aproximando. A reconquista da Cirenaica foi rápida e implacável.

Rommel também se aproveitava dos erros do inimigo. Em suas palavras, o maior vacilo dos aliados, além do excesso de táticas de dispersão, era o uso de "técnicas metódicas de comando, a sistemática emissão de ordens até os mais ínfimos pormenores, deixando pouca iniciativa ao comando subalterno, e o seu fraco poder de adaptação ante uma mudança no decorrer da batalha". Maleabilidade no comando é essencial para embates no deserto, dizia ele. Nesse tipo de terreno, onde uma ventania é capaz de mudar a configuração de uma tropa por causa da falta de abrigo, os planos têm de ser alterados a qualquer momento. Várias vezes a falta de obstáculos terrestres deixou o caminho livre para Rommel aplicar as práticas de guerra entre tanques, até então inovadoras. Ele as usou com maestria e criou novas táticas, deixando os britânicos sem reação.

Hitler, o desafeto

Apesar da liberdade de que Rommel gozava, suas rusgas com o Reich eram constantes. Não se considerava nazista, apesar de respeitar Hitler. Mas a relação entre os dois degringolou no início de 1943, quando o Führer jogou as forças dos Afrika Korps em segundo plano. Os recursos escassearam, e a paciência de Rommel também. Se os suprimentos não viessem, teria de se retirar. Hitler e o marechal Hermann Goering, principal desafeto de Rommel, ficaram furiosos. O braço-direito do Führer acusava o general de desanimado e doentio, pois achava inconcebível um comandante descartar a vitória.

Em novembro de 1943, após a retirada dos Afrika Korps para a Tunísia (a contragosto de Hitler, claro), Rommel foi deslocado para supervisionar as defesas que restaram na Dinamarca, Bélgica, Países Baixos e França. No ano seguinte, foi cuidar da Muralha do Atlântico, região que os alemães acreditavam ser forte o suficiente para segurar o avanço dos aliados. Aumentou as fortificações, instalando bunkers, postos e cerca de 6 milhões de minas. Mas já suspeitava que o ataque dos inimigos seria pela Normandia, fato confirmado em 6 junho de 1944, o Dia D.


Em outubro de 1944, Rommel voltou para sua casa em Herrlingen. Com graves ferimentos, depois de ter seu carro atingido por um morteiro, passou seus últimos dias desiludido pela guerra e indignado com a resistência absurda imposta por Hitler ao exército alemão. A casa estava sendo vigiada pela Gestapo, que suspeitava da participação de Rommel no atentado a Hitler alguns meses antes. Na manhã do dia 14, vestindo sua farda cáqui dos Afrika Korps, ele morreu depois de ingerir veneno. Era o paliativo oferecido por Hitler, em respeito aos serviços prestados na África. Caso não aceitasse o suicídio, seria preso e sua família, acusada de alta traição.

Enterrado com pompa, foi um dos últimos grandes generais. Grande não só pela capacidade militar, mas também pelas atitudes. Rommel nunca foi acusado de crimes de guerra, tortura ou maus-tratos. Cortava a água de suas tropas no deserto, mas não deixava seus prisioneiros morrerem de sede.

Caça à raposa

Em pouco tempo, Rommel e os Afrika Korps fizeram uma reviravolta no front africano. O pânico tomou conta dos oficiais britânicos, que davam como certa a vitória sobre os italianos. Nesse momento de desespero, o general Alan Cunningham criou a Operação Caça à Raposa, um plano minucioso para atacar os alojamentos alemães e assassinar Rommel, única alternativa para tentar frear o avanço do Eixo no deserto. A operação envolvia o uso de dois submarinos para o transporte das tropas. Depois, os combatentes seriam divididos em três grupos: dois ficaram encarregados de sabotar as centrais de comunicações; outro atacaria o QG alemão em Beda Littoria e a instalação onde estava Rommel. Quando a operação começou, tudo aconteceu como planejado – tanto que os comandantes ingleses chegaram a abrir uma garrafa de champanhe para comemorar o sucesso da missão. Ledo engano. Na madrugada de 18 de novembro de 1941, os britânicos chegaram ao local planejado e, sem uniformes e respondendo ao sentinela em alemão, conseguiram entrar no QG. Para surpresa de todos, a Raposa havia ido embora no dia anterior. Por pouco eles não obtiveram sucesso. Ficaram no “quase”.

domingo, 4 de maio de 2014

Psicopata, na presença do criminoso.



Todo psicopata é, por definição, psicologicamente invencível. Por mais que você lhe mostre seus erros e prove os seus crimes, ele continuará não só proclamando inocência, mas cantando vitória.

O psicopata não sente culpa, não sabe o que é o arrependimento interior, mas foge da vergonha exterior com uma obstinação inflexível, defendendo com a ferocidade de mil leões o único patrimônio moral que possui: o amor próprio. Aquele mesmo amor próprio que o cristão destrói sistematicamente todos os dias ao confessar seus pecados num tribunal interior onde o autoengano não escapa ileso, é para o psicopata o supremo bem, a arma da qual depende para garantir sua subsistência, sua ascensão social, seu sucesso no mundo. Mesmo pego em flagrante, exibida ante os olhos do mundo a prova do seu crime, ele jamais admitirá: “Pequei, necessito do perdão.” Ele jamais sofrerá interiormente por ter feito o mal, por ter prejudicado um inocente, por ter lesado um irmão, por ter arruinado um amigo ou atacado covardemente um inimigo pelas costas. Em vez disso, produzirá do nada os mais extraordinários subterfúgios e racionalizações, apelando, se necessário e possível, ao mais rebuscado e postiço arremedo de erudição, para não dar o braço a torcer. Nenhuma lágrima de arrependimento correrá sobre a sua face, nenhum sincero pedido de perdão brotará da sua boca.

Essa é a reação normal de um ser humano, mesmo sem fé religiosa. A religião pode aprimorar a consciência moral, mas só quando esta existe antes disso. Nenhuma conversão religiosa, por si, corrigirá um psicopata. Será preciso uma dura fiscalização externa para mantê-lo nos limites da conduta tolerável. Ou, para mudá-lo por dentro, um milagre.

Numa situação normal, as pessoas têm geralmente alguma defesa instintiva contra esses indivíduos. Percebem vagamente que há neles algo de errado e, sem acusá-los de nada, se afastam deles por precaução.

A confusão moral generalizada no ambiente mental brasileiro, nos últimos anos, favorece, ao contrário, a ascensão de milhares desses tipos a lugares de destaque na sociedade: tornam-se jornalistas, professores, formadores de opinião, não raro políticos e governantes.

Dois fatores concorrem para o seu sucesso.

O primeiro é de ordem neurofisiológica. Eles não têm sentimentos morais, mas percebem os dos outros e sabem manipulá-los em vantagem própria. Isso acontece porque, diante de situações que normalmente deveriam tocar os seus corações, o que se ativa no seu cérebro não são as áreas emocionais, como nas demais pessoas, e sim a área da comunicação linguística. Com a maior facilidade, eles dissolvem a percepção moral alheia numa pasta confusa de subterfúgios verbais que bloqueiam a certeza intuitiva e a substituem por dúvidas e desconversas desesperadoramente artificiosas, em geral superiores à capacidade de análise lógica do cidadão comum. Groucho Marx satirizou a situação com a famosa tirada: “Afinal, você vai crer em mim ou nos seus próprios olhos?”

O segundo, decorrência do primeiro, pertence mais à sociologia. Os sentimentos morais profundos são em geral difíceis de verbalizar. Permanecem guardados no fundo das almas, só comunicáveis em relações de excepcional intimidade, quando um olhar diz mais que mil palavras. Ver os seus sentimentos morais mais pessoais e autênticos ser remexidos, contestados, esfarelados com as artes de uma lógica infernal é, para a quase totalidade das pessoas, uma experiência atemorizante. Daí que, se não conseguem evitar a companhia dos psicopatas mediante uma precaução instintiva, podem acabar cedendo e se submetendo ao domínio da mente mais agressiva, mais veloz, mais maliciosa e mais hábil.

Quando escrevo, procuro expressar não somente o que vejo e sinto, mas o que os meus leitores também veem e sentem. Milhares deles me enviam mensagens do tipo "Você disse exatamente o que eu estava tentando dizer e não conseguia." O psicopata, ao contrário, escreve para insinuar que você NÃO SENTIU O QUE SENTIU, NÃO VIU O QUE VIU, NÃO SABE O QUE SABE. E muitas vezes consegue mesmo instilar no cérebro das pessoas a Síndrome do Piu-Piu.

Quando começo alguma discussão, parto do princípio de que o meu antagonista, se não é um primor de honestidade, é pelo menos uma pessoa normal. Procuro então ater-me ao assunto da discussão, sem reparar muito na “forma mentis” do adversário. Meus leitores são testemunhas da atenção sem fim que dou aos argumentos de críticos e antagonistas, mesmo quando obviamente idiotas. Já quando percebo que o debatedor é um desequilibrado, que portanto o tema em discussão não é o verdadeiro foco dos seus pensamentos, mas apenas o pretexto ocasional para a busca de uma compensação neurótica ou a expressão de uma genuína fantasia psicótica, paro imediatamente a discussão para não ferir mais fundo uma mente que já vem ferida. Mas, se identifico nele algo de mais grave, não uma simples doença mental, uma neurose ou psicose, e sim uma psicopatia em sentido estrito, é preciso algo mais do que interromper um debate. É preciso advertir à platéia que estamos todos na presença de um criminoso.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

The Human Race - Crítica.


A trágica propensão humana à violência é dissecada de forma crua no filme The Human Race. Colocando dezenas de personagens em situações limite proporcionadas por uma competição mortal, o diretor Paul Hough mostra que, quando impelidos, muitos de nós somos capazes das maiores atrocidades para sobreviver. Já quem não cede à pressão costuma pagar um preço alto por isso.

No longa, 80 pessoas são retiradas de seus cotidianos e obrigadas a participar de um jogo bizarro em um local desconhecido. O grupo é composto por indivíduos de origens étnicas, sociais, religiosas e econômicas diversas. Os jogadores ouvem regras simples e cruéis que estabelecem uma corrida praticamente sem trégua na qual morrerá quem pisar na grama, desviar do caminho ou for ultrapassado duas vezes.

Incredulidade e pânico tomam conta de todos quando o primeiro participante torna-se vítima logo após o anúncio das regras. A morte é impactante, demonstrando que neste jogo o que importa é vencer. Assim, os envolvidos partem em uma maratona rumo à própria sobrevivência, na qual questões morais básicas viram pó.

O filme é pouco condescendente com a natureza do ser humano. Hough não alivia a barra para ninguém. Conflitos e traições tornam-se comuns até mesmo entre amigos. Católicos, muçulmanos, asiáticos, negros, brancos, surdos, crianças, grávidas, velhos, mocinhos ou bandidos, todos terão a sua vez. Apenas um se salvará.

Com seu roteiro, o diretor sugere que qualquer pessoa pode tornar-se um assassino psicótico, bastando para isso ser inserido em condições específicas. Ao mesmo tempo, indica que mesmo quem consegue manter padrões morais em situações opressoras e de risco de vida tende a ser subjugado pelos demais.

Não à toa, o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588 — 1679) estabelece em sua obra a necessidade de um Estado para controlar a propensão violenta e destrutiva dos homens. Porém, em The Human Race, a corrida que se realiza não tem origem em nenhum Estado diretamente relacionado com a nossa dimensão. Ou, pelo menos, não um sobre o qual tenhamos provas reais quanto a isso.