sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Evola e Gentile (parte 2 de 3)

Julius Evola

“Existem alguns homens que se encontram, por assim dizer, de pé entre as ruínas e em meio à dissolução”, mas que, de maneira mais ou menos consciente, pertencem a outro Mundo [19], ao Mundo da Tradição, que não é senão o Mundo regido por princípios que transcendem os sós elementos puramente humanos. Dentre estes Homens singulares, podemos destacar um, filho legítimo da Roma dos Césares e depositário dos princípios de sua Tradição, em especial os de Imperium e de Auctoritas. Este Homem não é senão o Barão Giulio Cesare Andrea Evola, mais conhecido como Julius Evola.


Como afirmamos há pouco, Julius Evola, Mestre do denominado Tradicionalismo Integral e mais importante pensador esotérico antimoderno de todos os tempos ao lado de René Guénon, é, sem dúvida alguma, o autor mais influente nos círculos da denominada Nova Direita europeia.


No Brasil, contudo, permanece praticamente desconhecido o autor de Revolta contra o Mundo Moderno (Rivolta contro Il Mondo Moderno), mesmo nos círculos de resistência contra o Império de Calibã, isto é, contra a Idade das Trevas em que está mergulhado o Mundo em geral e o Ocidente em particular. Neste País só foi até hoje publicado, com efeito, um livro de Evola: O mistério do Graal [20]. As demais obras deste heróico homem contra o tempo são conhecidas, entre nós, por pouquíssimos privilegiados e por meio, sobretudo, das edições portuguesas e, mais recentemente, da rede mundial de computadores, onde há páginas em português do nível dos blogues Cadernos evolianos [21] e Grupo de Ur [22] , sem mencionar o Boletim Evoliano [23] e o próprio portal do Encontro Nacional Evoliano [24]. Agora, porém, com o Encontro Nacional Evoliano, que esperamos ser apenas o primeiro de muitos, e a publicação de Revolta contra o Mundo Moderno pelo instituto René Guénon de Estudos Tradicionais e de A Tradição Hermética pela Editora Ascese, certamente o nome e a obra do autor de A metafísica do sexo (La metafísica del sesso) serão bem mais conhecidos entre nós do que têm sido até hoje.


Isto posto, cumpre assinalar que muitos vêm conhecendo o pensamento evoliano por meio de traduções de obras em que há páginas a respeito do grande doutrinador antimoderno, tais como Sol Negro, de Nicholas Goodrick-Clarke [25], e Elogio da Tradição, de Marcello Veneziani [26]. No primeiro de tais livros, há um interessante e consideravelmente honesto capítulo dedicado a Evola, bem como igualmente interessantes e consideravelmente honestos capítulos dedicados a Savitri Devi, Miguel Serrano e outros pensadores que vêm exercendo influência sobre os círculos do vulgarmente denominado nazismo esotérico. No segundo livro, um rigoroso e vigoroso ensaio sobre a Tradição, publicado, no Brasil, pelas Edições Loyola, há também algumas interessantes páginas dedicadas a Evola. Seu autor, o escritor, filósofo e jornalista Marcello Veneziani, é, ainda, autor de duas importantes obras sobre Evola [27] .


Faz-se mister ressaltar, ademais, que o autor de Os homens e as ruínas (Gli uomini e le rovine) exerceu considerável influência sobre dois dos mais notáveis filósofos brasileiros: Vicente Ferreira da Silva e Heraldo Barbuy, o primeiro pagão como Evola e o segundo um fervoroso católico que soube como nenhum outro aproveitar o que há de válido à luz da Tradição Católica no pensamento do metafísico e doutrinador tradicionalista italiano. Isto sem mencionar a influência que o pensador gibelino exerceu sobre o jornalista e ensaísta Olavo de Carvalho, que em seu livro Jardim das aflições reconhece em Evola o maior escritor esotérico do século XX ao lado de Guénon [28] e que, em sua página pessoal na rede mundial de computadores menciona A Tradição Hermética, uma das obras-primas do autor de A doutrina do despertar (La dottrina del risveglio), como um dos principais livros que formaram sua visão de mundo [29].


O tema de nossa palestra não é, contudo, a penetração das ideias evolianas no Brasil, mesmo porque a respeito de tal tema há um excelente artigo da autoria do ilustre professor e pensador tradicionalista gaúcho César Ranquetat Junior [30]. O tema de nossa palestra é, sim, Julius Evola e seu revolucionário pensamento e Giovanni Gentile e seu igualmente revolucionário pensamento.


Havendo qualificado como revolucionário o pensamento de Evola, julgamos necessário destacar que pelo termo Revolução compreendemos a revolta contra um estado de coisas que traz a ideia de retorno, correspondendo à tradicional concepção astronômica da palavra, segundo a qual esta significa o retorno de um astro ao ponto de partida e o seu moto ordenado em torno de um centro. Este é o sentido que o próprio Evola considera o mais apropriado para tal palavra [31] e é, também, o sentido que preferimos, seguindo o exemplo de João Ameal [32], insigne pensador tradicionalista e historiador português, e de Plínio Salgado [33], fundador, Chefe Nacional e mais importante doutrinador do Integralismo Brasileiro e máximo expoente do pensamento tradicionalista no Brasil ao lado de José Pedro Galvão de Sousa, na abalizada opinião de Francisco Elías de Tejada y Spínola [34], mais importante pensador tradicionalista espanhol do século XX, que, diga-se de passagem, é autor de um fundamental estudo sobre Evola a partir dos ideais do tradicionalismo católico hispânico [35].


Tal é, ademais, a opinião de José Antonio Primo de Rivera, fundador, principal doutrinador e Chefe da Falange Espanhola e mártir da Cruzada Espanhola de 1936-39, como podemos ver, por exemplo, em seu texto A Tradição e a Revolução (La Tradición y la Revolución), prólogo ao livro ¡Arriba España!, de J. Pérez de Cabo [36], e no artigo Acerca da Revolução (Acerca de la Revolución), publicado a 12 de outubro de 1935 no periódico Haz [37]. E é, ainda, a posição de Corneliu Zelea Codreanu, fundador, mais notável doutrinador e líder máximo do Movimento Legionário Romeno, além de mártir da Grande Romênia, que assim afirma:


“O homem novo e a nação renovada, pressupõem uma grande revolução espiritual de todo o povo, isto é, uma mudança da orientação espiritual moderna, e uma ofensiva categórica contra essa orientação” [38].


Ainda nesse sentido, Arlindo Veiga dos Santos, fundador, maior doutrinador e Chefe Geral do Patrianovismo, nos fala da “verdadeira Revolução, REVOLUÇÃO DA ORDEM, contra os aspectos vários da república ‘moderna’: demo-liberal; socialista; nazista ou comunista (totalitária); pagã e satânica” [39].


Feitas estas considerações acerca do termo Revolução, voltemos a tratar de Evola.


Nascido Giulio Cesare Andrea Evola em Roma no ano de 1898 no seio de uma família siciliana de nobres origens, o futuro autor de Cavalgar o tigre (Cavalcare la tigre) recebeu uma rigorosa educação católica, contra a qual logo se revoltou. Mais tarde, após uma longa fase em que o ódio que nutria contra o Catolicismo só não era maior do que aquele que nutria contra o judaísmo, o protestantismo e aquilo a que considerava o “cristianismo das origens”, Evola, aliás cada vez mais influenciado pelo pensamento de tradicionalistas católicos como Joseph De Maistre e Donoso Cortés, finalmente reconheceria o caráter tradicional do Catolicismo autêntico.


Ainda bastante jovem, logo depois da fase dos romances de aventuras, Evola – como relata em O caminho do cinábrio (Il cammino del cinabro), sua autobiografia espiritual – planejou compilar, juntamente com um amigo, uma história da Filosofia. Nesta época era ele atraído por autores como Oscar Wilde e Gabriele D’Annunzio. E é neste tempo, ainda, que, durante as longas horas que passava na biblioteca, tomou contato com a obra de pensadores como Friedrich Nietzsche, Carlo Michelstaedter e Otto Weininger [40], que muito contribuíram para a formação de sua cosmovisão.


Juntamente com os estudos universitários em Engenharia Industrial, que não terminaria por se recusar a discutir a tese de conclusão de curso em razão do desprezo que nutria por títulos acadêmicos, Evola cultivava vivo interesse pela Literatura vanguardista italiana, que gravitava em torno de intelectuais como Giovanni Papini, Giuseppe Prezzolini e Filippo-Tomaso Marinetti.


Papini, que por essa época ainda não se havia convertido ao Catolicismo, foi fundador, diretor e principal colaborador das revistas Il Leonardo, Voce e Lacerba, que, com sede em Florença e ideais autenticamente revolucionários, agitaram toda a Itália dos primeiros anos do século XX, constituindo, segundo Evola, “forças alérgicas ao clima da pequena Itália burguesa” daqueles tempos e cuja erupção marcou, ainda de acordo com o pensador e Homem de ação antimaterialista, um verdadeiro Sturm und Drang que conheceu a Nação Italiana [41].


Foi por esse tempo que Evola se aproximou do Futurismo, passando a manter relações pessoais com alguns de seus vultos, tais como Marinetti e o pintor Giacomo Balla [42].


Não demoraria, porém, para que ficassem patentes as profundas diferenças que separavam Evola dos futuristas e do grupo de Papini. Isto se deu por ocasião da I Grande Guerra, quando Evola – que, ao contrário destes, - era antinacionalista, havendo já certamente concebido a ideia, aliás, em nosso sentir, totalmente antitradicional, de pátria eletiva, defendeu que a Itália deveria entrar no conflito ao lado da Tríplice Aliança (Império Alemão, Império Austro-Húngaro e Império Turco-Otomano), enquanto os outros, bem como D’Annunzio e Mussolini, sustentaram que o país devia lutar ao lado da Tríplice Entente (França, Império Britânico e Império Russo), identificando os Impérios Centrais (Alemanha e Áustria-Hungria) à tirania e à barbárie.


Alguns simpatizantes burgueses da Kultur germânica, tais como Benedetto Croce, defendiam que a Itália permanecesse neutra, mas o jovem Evola, como vimos, sustentava não a simples neutralidade, mas a entrada do país na guerra ao lado dos Impérios Centrais. Ele admirava a “tradição mais essencial” dos povos germânicos em geral e da Alemanha em particular, que buscava em sua concepção de Estado, nos princípios de ordem e disciplina, na ética prussiana e nas sãs divisões sociais que subsistiam apesar da revolução do terceiro estado e do capitalismo, que não as havia comprometido senão parcialmente [43].


Por esses dias, Evola redigiu um artigo em que sustentou que, ainda que a Itália não combatesse ao lado da Alemanha, mas sim contra ela, “devia fazê-lo assumindo seus princípios, e não em nome das ideologias [sic.] [44] nacionalistas e irredentistas ou ideologias democráticas, sentimentais e hipócritas da propaganda aliada”. Havendo lido tal artigo, Marinetti disse a Evola que suas ideias estavam mais distantes das dele do que as de um esquimó [45].


Algum tempo depois da entrada da Itália no conflito, ao lado da Tríplice Entente, Evola, após haver recebido, em Turim, formação rápida para oficiais, seguiu para a frente de combate, permanecendo inicialmente nas montanhas perto de Asiago.


Ao final da guerra, Evola retornou a Roma. Em 1919, após haver participado da Exposição Nacional Futurista de Milão, rompeu para sempre com Marinetti e o Futurismo, aderindo no ano seguinte ao Dadaísmo, movimento de que logo se tornou o principal expoente em terras italianas. Suas pinturas carregadas de espiritualismo idealísitico foram expostas em Roma, Milão, Lausanne, Berlim e no Salon Dada de Paris, a Meca do Dadaísmo. No opúsculo Arte abstrata (Arte astratta), explicou os motivos de seu afastamento do Futurismo, cujos adeptos eram, a seu sentir, incapazes de percorrer coerentemente as vias do Voluntarismo e do Attualismo [46].


Foi por esse tempo, ainda, que Evola colaborou em revistas artísticas como Bleu e Noi, declamou seus revolucionários poemas em locais como o Cabaret Grotte dell’Augusteo, em Roma, e publicou, em Lausanne, o poemeto intitulado La parole obscure du paysage interieur.


Foi nos anos de militância dadaísta que Evola se aprofundou nos estudos filosóficos, em especial do Idealismo, corrente então predominante na Itália e cujos principais expoentes eram Giovanni Gentile e Benedetto Croce, e iniciou os estudos do Yoga, do Tantrismo, do Zen-Budismo, da magia e do ocultismo. Em 1923, ano em que parou de pintar, foi curador de uma tradução italiana do Tao-te-King, de Lao-Tsé.


Em 1926, Evola publicou um estudo a respeito do Tantra intitulado O homem como potência (L’uomo come potenza). Um ano antes, publicara a obra Ensaios sobre o idealismo mágico (Saggi sull’idealismo magico), que juntamente com a Teoria do Indivíduo absoluto (Teoria dell’Individuo assoluto) e a Fenomenologia do Indivíduo absoluto (Fenomenologia dell’Individuo assoluto), publicadas, respectivamente, em 1927 e 1930, embora escritas alguns anos antes, representam a passagem de Evola pela Filosofia do Idealismo.


Em meados da década de 1920, Evola colaborou nas revistas Atanòr e Ignis, dirigidas pelo tradicionalista pitagórico Arturo Reghini, e também nos jornais Il Mondo e Lo Stato democratico. Neste último, dirigido pelo Duque Giovanni Colonna di Cesarò, publicou Evola, em 1925, o trabalho Estado, potência, liberdade (Stato, potenza, libertà), onde criticou tanto o Fascismo quanto a liberal-democracia. Na mesma época colaborou também nas revistas Ultra, de Decio Calvari, presidente da Liga Teosófica Independente de Roma, e L’idealismo realistico, de Vittore Marchi, onde escreveu uma crítica desfavorável a um livro de René Guénon sobre o Vedanta [47]. A resposta de Guénon à crítica de Evola marcou o início da longa e fecunda correspondência entre os dois, que, ressalvadas algumas interrupções, em especial a provocada pela II Grande Guerra, durou até a morte do autor de O reino da quantidade e os sinais dos tempos (Le règne de la quantité et les signes des temps), no Cairo, em 1951.


O Sheik Abdel Wahid Yasha, mais conhecido pelo nome de René Guénon, com o qual foi batizado na pequena cidade medieval de Blois, no vale do Loire, influenciou muitíssimo o pensamento de Evola, que decerto não haveria escrito a Revolta contra o Mundo Moderno caso não houvesse lido A crise do Mundo Moderno. “O mestre de nossos tempos, o defensor do ‘tradicionalismo integral’, o mais radical de todos os ‘antimodernos’”, na expressão de Evola [48], somente, a nosso sentir, não influenciou mais o autor de O arco e a clava (L’arco e la clava) do que Friederich Nietzsche, o genial poeta de Assim falava Zaratustra (Also sprach Zarathustra) , maior poema em prosa da Literatura alemã, e profeta do Super-homem, do Eterno Retorno e da Vontade de Potência.


Como observa Francesco Lamendola, Evola recebeu de Guénon, em particular, o conceito de Tradição, compreendida, na opinião do pensador, filósofo e por meio de “escolas esotéricas tanto orientais quanto ocidentais”, com o fim precípuo de conduzir a humanidade através do nefasto Kali Yuga do Mundo Moderno, lhe permitindo, ou melhor, permitindo a alguns poucos privilegiados, “não perder o verdadeiro significado, que é – agora e sempre – aquele da total afirmação da liberdade interior através das práticas e da doutrina de um individualismo absoluto” [49].


Cumpre ressaltar que tal não é a nossa concepção de Tradição. Para nós, a Tradição é a cadeia sagrada que une os homens ao passado e ao futuro, aos ancestrais e aos descendentes; o patrimônio de valores comuns que herdamos de nossos pais e que devemos legar, aprimorado, a nossos descendentes; a base de todo progresso autêntico, que, ao contrário do que defende Evola, nunca se tornou invisível e secreta e não une poucos a poucos [50], não sendo, com efeito, somente esotérica e invisível, mas a um só tempo exotérica e esotérica, visível e invisível e ligando muitos a muitos. Do mesmo modo, rejeitamos por completo a ideia de liberdade total, bem como o individualismo, ao qual opomos o personalismo e o grupalismo e consideramos que o verdadeiro significado da existência humana repousa na busca da santidade.


Isto posto, cumpre ressaltar que, para Guénon e Evola, a Tradição teria este caráter esotérico, aristocrático e secreto apenas a partir do final da denominada Idade Média e do início da Idade Moderna, quando a Tradição inegavelmente perdeu o caráter universal.


Voltemos, contudo, à biografia de Evola. Em 1926-27, deu ele vida, ao lado de Arturo Reghini, Guido De Giorgio e outros, ao chamado Grupo de Ur, passando a publicar os cadernos mensais Ur (1927-28) e Krur (1929), reunidos na coletânea em três volumes intitulada Introdução à magia como ciência do Eu (Introduzione alla magia quale scienza dell'Io) e publicada entre os anos de 1955 e 1956. Em 1930, fundou a revista quinzenal La Torre, que chegou ao décimo número, sendo fechada por ordem das autoridades fascistas em virtude de suas visões pouco ortodoxas da Doutrina do Fascio, visões que Evola expressava desde 1927, quando se aproximara do Fascismo, passando a colaborar na revista Critica Fascista, de Giuseppe Bottai, onde escreveu artigos anticristãos também publicados em Vita Nuova e Il lavoro d’Italia.


Em 1928, Evola publicou a sua obra mais polêmica e radical: Imperialismo pagão: o fascismo diante do perigo euro-cristão (Imperialismo pagano: Il fascismo dinnanzi al pericolo euro-cristiano). Em tal obra, o autor, que jamais ingressaria no Partido Nacional Fascista, defende um fascismo novo, um fascismo gibelino, um superfascismo livre dos valores cristãos e dos valores hegelianos e mazzinianos tão ao gosto de seus principais doutrinadores, em especial Giovanni Gentile, e clama pelo ressurgimento do Império e dos Deuses de Roma. Em uma palavra, Evola, dirigindo-se “a cada fascista que seja digno de tal nome, e que verdadeiramente vibre à vontade de regeneração, de dignidade romana, de potência proclamada pelo Duce” [51], proclama que “à superstição semítica de nossos pais nós hoje, reevocando Roma, opomos em tudo e por tudo a tradição verdadeira e antiga de nossos avós, a tradição mediterrânea” [52].


No ano anterior, Evola assim escrevera, na revista Critica Fascista:



"O pressuposto é: que o fascismo, na sua força mais pura, se identifique à vontade de império; que a sua reevocação da Águia e do Fascio possa não ser tão somente retórica; que, de qualquer modo, esta é a condição para que ele represente algo de novo, não uma revolução risível, mas uma ressurreição heróica" [53].




Isto posto, faz-se mister assinalar que, ao contrário do que então julgava o autor de O caminho do cinábrio (Il cammino del cinabro), o Catolicismo não é, de forma alguma, incompatível com a Vontade de Império, como, aliás, bem o sabia Mussolini, realizador do Pacto de Latrão, que, plenamente consciente de que a Itália, como herdeira e continuadora de Roma, foi destinada ao Império, assim aduziria, no X ano da Era Fascista, em trabalho sobre a doutrina política e social do Fascismo publicado na Enciclopédia Italiana:




"O Estado fascista é vontade de potência e de império. A tradição romana é aqui uma ideia de força. Na doutrina do fascismo o império não é apenas uma expressão territorial ou militar ou mercantil, mas espiritual ou moral. Pode-se pensar em um império, isto é, em uma nação que direta ou indiretamente guia outras nações, sem necessidade de se conquistar um só quilômetro de território" [54].



No ano de 1933, logo após a ascensão de Adolf Hitler ao poder na Alemanha, veio à luz, em Leipzig, a edição alemã, totalmente revista e ampliada, de Imperialismo pagão, Heidnischer Imperialismus, obra recebida como “uma espécie de evangelho do moderno gibelinismo”, fazendo enorme sucesso nos círculos nacional-socialistas [55].


Em 1934, Evola, que três anos antes publicara a obra A Tradição Hermética (La Tradizione Hermetica) e em 1932 lançara Máscara e vulto do espiritualismo contemporâneo (Maschera e volto dello spiritualismo contemporaneo), deu a lume sua obra-mestra, a Revolta contra o Mundo Moderno (Rivolta contro Il Mondo Moderno), que, a exemplo de Heraldo Barbuy, classificamos como “monumental” [56], a considerando mesmo uma das principais obras político-filosóficas de todo o século XX e a verdadeira “bíblia” do chamado Tradicionalismo Integral.


Em Revolta contra o Mundo Moderno, livro em que, ao contrário de em Imperialismo pagão, o anticristianismo não ocupa o papel central, Evola defende, em suma, que a única salvação possível ao Ocidente é “um retorno ao espírito tradicional em uma nova consciência ecumênica europeia”; o “retorno à tradição em sentido lato, universal, unânime, compreendendo todas as formas de vida e de luz; no sentido, outrossim, de um espírito e de uma ordem única que imperam soberanos em cada homem e em cada classe de homens. Não se trata da tradição em sentido aristocrático e secreto, como depósito custodiado por poucos”, pois, neste “sentido subterrâneo”, a Tradição, segundo Evola, sempre existiu e sempre existirá, mas isto não impediu o declínio da Civilização Ocidental [57].


Em 1937 foi publicado O mistério do Graal (Il mistero del Graal), obra em que o doutrinador antimoderno e antimaterialista analiza o caráter do mistério do Graal, que é, segundo ele, iniciático e regal, remontando a uma tradição anterior ao Cristianismo.


Em princípios do ano seguinte, Evola viajou para a Romênia, onde conheceu pessoalmente Mircea Eliade, com quem se correspondia desde fins da década de 1920, quando o pensador romeno estudava sânscrito e Filosofia Indiana na Universidade de Calcutá e já lia as obras do então jovem filósofo idealista italiano, admirando “sua inteligência e, sobretudo, a densidade e claridade de sua prosa” [58]. Foi também durante esta visita à Romênia que o autor de Revolta contra o Mundo Moderno (Rivolta contro Il Mondo Moderno) conheceu Corneliu Zelea Codreanu, fundador e líder máximo do Movimento Legionário, ao qual Eliade era então ligado e que, a despeito de sua posição nacionalista e ortodoxa romena confessional, contava com a profunda admiração de Evola, que, com efeito, o admirava mais do que qualquer outro dos diversos movimentos cívico-políticos europeus de caráter tradicionalista, patriótico e nacionalista surgidos no século XX como reação ao materialismo e ao espírito burguês. Mais tarde, Evola escreveu alguns seminais artigos a respeito do grande Homem de pensamento e de ação, que fisicamente parecia, segundo o metafísico italiano, “uma reaparição do mundo ário-itálico” [59] e que, assassinado em 1938, por ordem do Rei Carol II, na prisão de Jilava, juntamente com outros líderes do Movimento Legionário, transformou-se em um dos mais importantes mártires da História da heróica Dácia.


O Movimento Legionário surgira em 1927, com a fundação da Legião do Arcanjo Miguel por um grupo de jovens nacionalistas romenos encabeçado por Codreanu. Tendo como lema a divisa “Deus, Pátria, Rei, Família, Propriedade e Exército” e insistindo sobremaneira nos conceitos de Revolução Espiritual e de formação de um Novo Homem, que, em última análise, não é senão o Homem Tradicional, o Movimento Legionário, autêntico representante romeno dos grandes movimentos tradicionalistas e nacionalistas surgidos em todo o Mundo nos primeiros decênios do século XX, é, pela sua doutrina e pela fé e rigor moral, ético e cívico que inspira, uma prova cabal da grandeza moral a que podem chegar os movimentos defensores da Tradição e da Ordem Tradicional.


Estudioso das questões étnicas, Evola propugnou um racismo espiritual com o qual não concordamos e que a partir de 1938 se tornou predominante no Fascismo italiano, até então majoritariamente antirracista. Tal racismo está presente em obras como Três aspectos do problema hebraico (Tre aspetti del problema ebraico), de 1936, O mito do sangue (Il mito del sangue), de 1937, Diretrizes para uma educação racial (Indirizzi per una educazione razziale), de 1941, e Síntese de doutrina da raça (Sintesi di dottrina della razza), também de 1941, bem como em diversos artigos publicados na revista La difesa della razza.


Em 1941, Mussolini, - que havia lido a Síntese de doutrina da raça durante uma viagem à Alemanha e que via em Evola um teórico capaz de interpretar como nenhum outro o racismo espiritual que vinha defendendo e que não devia ser confundido com o racismo biológico do nacional-socialismo, convidou o autor para uma conversa com ele no Palazzo Venezia. Foi este o início da amizade que uniu o mais irredutível dos antimodernos e o último dos Césares.


Não sendo aceito como voluntário da frente soviética em virtude de não ser filiado ao Partido Nacional Fascista, Evola se dedicou então a escrever um ensaio sobre a ascese budista publicado em 1943 e intitulado A doutrina do despertar (La dottrina del risveglio). No mesmo ano viajou para a Alemanha, estando no Quartel-General de Hitler, em Rastenburg, Prússia Oriental, a 14 de setembro, quando Mussolini ali chegou após ter sido libertado de seus captores por Otto Skorzeny e seus homens. De volta à Itália, apoiou a República Social Italiana, fundada por Mussolini e também conhecida como República de Salò, apesar de ser antirrepublicano e possuir verdadeiro horror à palavra “social”. Em 1945 se encontrava em Viena, colaborando com as SS na tradução de textos maçônicos, quando foi gravemente ferido durante um bombardeio aliado ocorrido pouco antes da entrada dos soviéticos na antiga capital dos Habsburgos, quase morrendo e ficando paralítico até o fim de seus dias.


De volta à Itália em 1948, publicou, dois anos mais tarde, o opúsculo Orientações (Orientamenti), que, dirigido em particular aos jovens do Movimento Social Italiano (MSI), contém todas as ideias posteriormente desenvolvidas em Os homens e as ruínas (Gli uomini e le rovine), de 1953, Metafísica do sexo (Metafisica del sesso), de 1958, e Cavalgar o tigre (Cavalcare la tigre), de 1961, que constituem, em nossa singela opinião, as mais importantes obras do pensador e Homem de ação depois de Revolta contra o Mundo Moderno.


Em 1963, foi publicado O caminho do cinábrio (Il cammino del cinabro), espécie de autobiografia espiritual e intelectual de Evola, que constitui excelente roteiro de sua obra e de seu pensamento.


Falecido em Roma a 1º de junho de 1974, Evola, cujas cinzas foram depositadas em uma geleira do Monte Rosa, nos Alpes Italianos, se transformou em um símbolo da heróica luta em defesa dos valores autênticos, perenes e superiores da Tradição contra os valores inautênticos, passageiros e inferiores da Civilização Ocidental Contemporânea, que associava à Kali Yuga dos hindus, à Idade do Ferro dos helenos e romanos e à Idade do Lobo dos antigos germanos.


Infelizmente Evola, – a exemplo de Nietzsche, por quem tanto foi influenciado, para o bem e para o mal, - nunca compreendeu o verdadeiro significado do Cristianismo, da Família, da Nação e do nacionalismo e mesmo da Pátria e do patriotismo, havendo chegado a pregar o fim da “superstição da ‘pátria’ e da ‘nação’”, por ele vistas como “larvais e tenazes resíduos do impersonalismo democrático” [60] e defendendo, mais tarde, que é na Ideia e somente na Ideia que se deve reconhecer a verdadeira Pátria [61], que, para ele, há muito perdeu o caráter original de terra dos pais [62]. Mesmo, porém, com estes e outros erros e falhas, tais como o desconhecimento da verdadeira essência do Direito Natural Tradicional, ou Clássico, Evola merece ser lido, estudado e reconhecido como um dos mais importantes mestres do pensamento tradicional, pois teve o mérito de condenar, com a argúcia e lucidez de poucos, a mediocridade burguesa, a superstição do progresso indefinido, a liberal-democracia, o comunismo, o coletivismo, a dessacralização da Sociedade, o cientificismo, o economicismo, ou, em uma palavra, o Mundo Moderno, a idade obscura, antitradicional por natureza.


Mais, porém, do que pelas críticas ao Mundo Moderno, Julius Evola merece ser lido, estudado e lembrado por sua defesa da restauração da Sociedade Tradicional, por ele definida como a Sociedade “regida por princípios que transcendem aquilo que é tão somente humano e individual”, como a Sociedade “em que cada domínio próprio é formado e ordenado do alto e para o alto” [63]. Merece ser evocado pela defesa da Monarquia Tradicional e de princípios tradicionais como os de Honra, Lealdade, Obediência, Fé, Hierarquia e Autoridade, bem como pela defesa do Estado Orgânico, que define como o Estado “que possui um centro, e este centro é uma ideia que informa a partir de si, de modo eficaz, aos diferentes domínios”, como o Estado que “ignora a excisão e a autonomização do particular e, em virtude de um sistema de participações hierárquicas, cada parte em sua relativa autonomia tem uma funcionalidade e uma íntima conexão com o todo” [64]. Merece, por derradeiro, ser recordado pela defesa da ideia transcendente de Imperium, Imperium que jamais se poderá erigir “sobre a base de fatores econômicos, militares, industriais, e mesmo ideais” [65].


Julius Evola, mestre incontestável do Tradicionalismo Integral e um dos mais geniais pensadores do século XX, foi a um só tempo brahmin e kshatriya, sábio e guerreiro, Homem de pensamento contemplativo e de ação. Tendo a consciência de que nada de grande e belo pode existir fora da Tradição e de que, como preleciona Heidegger, “não é na vida banal, mas na audácia angustiosa do Herói que repousa a grandeza final do existir humano” [66], teve a coragem de permanecer de pé entre as ruínas e de cavalgar o tigre da modernidade, sempre preparado para o momento do cansaço do tigre, que não se pode lançar contra quem o cavalga. Sua mais importante lição é esta: “A criação de um novo Estado e de uma nova civilização será sempre algo efêmero quando estes não tiverem como substrato um novo homem” [67].




[19] EVOLA, Julius. Cabalgar el tigre. Trad. argentina de Marcos Ghio. Buenos Aires: Ediciones Heracles, 1999, p. 22.
[20] Idem. O mistério do Graal. Trad. de Pier Luigi Cabra. São Paulo: Editora Pensamento, 1972.


[21] http://cadernosevolianos.blogspot.com/. Acesso em 17 de novembro de 2010.
[22] http://grupodeur.blogspot.com/. Acesso em 17 de novembro de 2010.
[23] http://www.boletimevoliano.pt.vu/. Acesso em 17 de novembro de 2010.
[24] http://encontronacionalevoliano.com.br/. Acesso em 17 de novembro de 2010.
[25] GOODRICK-CLARKE, Nicholas. Sol Negro: Cultos arianos, nazismo esotérico e políticas de identidade. Trad. de Fábio Rezende. São Paulo: Madras, 2004.
[26] VENEZIANI, Marcello. De pai para filho: Elogio da Tradição. Trad. de Orlando Soares Moreira. São Paulo: Edições Loyola, 2005.
[27] As duas obras de Veneziani sobre Evola são: La ricerca dell'assoluto in Julius Evola. Palermo: Thule, 1979; Julius Evola tra filosofia e tradizione. Roma: Ciarrapico, 1984.
[28] Citamos de memória.
[29] CARVALHO, Olavo de. Livros que fizeram a minha cabeça. Disponível em: www.olavodecarvalho.org/textos/livros.htm. Acesso em 17 de novembro de 2010.
[30] RANQUETAT JUNIOR, César. O pensamento de Julius Evola no Brasil. Disponível em: http://www.juliusevola.it/documenti/template.asp?cod=563. Acesso em 17 de novembro de 2010.
[31] EVOLA, Julius. Introduzione. In GUÉNON, René. La crisi del Mondo Moderno, cit., p. 7.
[32] AMEAL, João. No limiar da Idade-Nova. Coimbra: 1934, pp. 12-14.
[33] Vide SALGADO, Plínio. Psicologia da Revolução. 6ª ed. In Idem . Obras Completas, 2ª ed., vol. 7. São Paulo: Editora das Américas, 1957.
[34] TEJADA, Francisco Elías de. Plínio Salgado na Tradição do Brasil. In VÁRIOS. Plínio Salgado – “In Memoriam” - vol. II. São Paulo: Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1985/1986, p. 70.
[35] Idem. Julius Evola desde el Tradicionalismo Hispánico. In Ethos, ano I, nº 1, Buenos Aires, 1973.
[36] PRIMO de Rivera, José Antonio. Obras completas. Edição cronológica. Recopilação de Agustín del Río Cisneros. Madri: Delegación Nacional de la Sección Feminina de FET y de las JONS, 1954, pp. 645-649.
[37] Idem, pp. 661-664.
[38] CODREANU, Corneliu Zelea. Manual del Jefe de la Guardia de Hierro.Trad. para o espanhol de Manuel de la Isla Paulin. 2ªed. Barcelona: Ediciones Ojeda, 2004, p. 93.
[39] SANTOS, Arlindo Veiga dos. As raízes históricas do Patrianovismo. São Paulo: Pátria Nova, 1946, p. 18.
[40] EVOLA, Julius. Il cammino del cinabro. I capítulo, p. 5. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/2596256/Julius-Evola-Il-Cammino-del-Cinabro Acesso em 17 de novembro de 2010.
[41] Idem, p. 6.
[42] Idem, loc. cit.
[43] Idem, loc. cit.
[44] Para nós, que neste aspecto temos posição contrária à de Evola, o verdadeiro nacionalismo não é uma ideologia, mas uma Doutrina sã e intimamente ligada à Tradição. Concordamos, pois, com Marcello Veneziani, para quem a defesa da Identidade Nacional e da Tradição Nacional, longe de ser “uma negação da ideia de Tradição” (como querem Guénon e Evola), é como que “um defender a tradição e a identidade de um povo da erradicação e do cosmopolitismo, da colonização e da globalização” (VENEZIANI, Marcello. De pai para filho: Elogio da Tradição, cit., p. 130). Do mesmo modo, consideramos o Irredentismo parte nobilíssima da Tradição e da História Italiana.
[45] EVOLA , Julius. Il cammino del cinabro, cit., loc. cit.
[46] LAMENDOLA, Francesco. Alcuni aspetti del pensiero filosofico di Julius Evola, cit..
[47] Idem. Alcuni aspetti del pensiero filosofico di Julius Evola, cit.
[48] EVOLA, Julius. René Guénon, un maestro de los tiempos últimos. Trad. argentina de Marcos Ghio. Serie Cuadernos Tradicionales, nº 4. Buenos Aires: Ediciones Heracles, 2001, p. 7.
[49] LAMENDOLA, Francesco. Alcuni aspetti del pensiero filosofico di Julius Evola, cit.
[50] EVOLA, Julius. Heidnischer Imperialismus. II ed. italiana revisada com Imperialismo pagano. Roma: Edizioni Mediteranee, 2004, p. 197.
[51] Idem. Imperialismo pagano: Il fascismo dinnanzi al pericolo euro-cristiano. 4ª ed. corrigida, com dois apêndices e Heidnischer Imperialismus. Roma: Edizioni Mediteranee, 2004,p. 177.
[52] Idem, p. 76.
[53] Idem, p. 177.
[54] MUSSOLINI, Benito, apud PAGLIARO, A. L’azione storica del fascismo. In PNF (Partito Nazionale Fascista). Fascismo (republicação fac-similar do verbete Fascismo do Dizionario di política do PNF, do ano de 1937). Milão: ARS, 1999, pp. 81-82; Idem. A Doutrina do Fascismo. Trad. para o português. Florença: Vallecchi Editore, 1935-XIII, pp. 38-39.
[55] LAMENDOLA, Francesco. Alcuni aspetti del pensiero filosofico di Julius Evola, cit.
[56] BARBUY, Heraldo. Cristianismo e angústia. In BARBUY, Heraldo. O problema do Ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio/EDUSP, 1984, p. 249, nota.
[57] EVOLA, Julius. Rivolta contro Il Mondo Moderno. 2ª ed. revista e ampliada. Milão: Fratelli Boca Editori, 1951, pp. 453-454.
[58] ELIADE, Mircea. Exile’s Odyssey. Chicago: University of Chicago Press, 1988, p. 152.
[59] EVOLA, Julius. Colloquio col capo delle “Guardie di Ferro”. In Il Regime Fascista, 22/03/1938. Disponível em http://www.centrostudilaruna.it/evolalegionarismoascetico.html. Acesso em 18 de novembro de 2010.
[60] EVOLA, Julius. Imperialismo pagano: Il fascismo dinnanzi al pericolo euro-cristiano, cit., p. 88.
[61] Idem. Los hombres y las ruinas.Trad. argentina de Marcos Ghio. Buenos Aires: Ediciones Heracles, 1994, p, 43.
[62] Idem, p. 42.
[63] Idem. Cabalgar el tigre, cit., p. 21.
[64] Idem. Los hombres y las ruínas, cit., p. 64.
[65] Idem. Imperialismo pagano: Il fascismo dinnanzi al pericolo euro-cristiano, cit, p. 62.
[66] HEIDEGGER, Martin apud BARBUY, Heraldo. Sartre e Heidegger. In BARBUY, Heraldo. O problema do Ser e outros ensaios, cit., p. 211.
[67] EVOLA, Julius. Los hombres y las ruínas, cit., pp. 193-194.

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Evola e Gentile (parte 1 de 3)

Segue a primeira parte de nosso trabalho sobre "Evola e Gentile", que seria a base de nossa palestra no "Encontro Nacional Evoliano" iniciado hoje (15/12) na Paraíba, mas que infelizmente não poderemos proferir por motivos alheios à nossa vontade.


Evola e Gentile
Por Victor Emanuel Vilela Barbuy

Mestre do denominado Tradicionalismo Integral e mais importante pensador esotérico antimoderno de todos os tempos ao lado de René Guénon, de quem se considerava discípulo e cuja obra A crise do Mundo Moderno (La crise du Monde Moderne) traduziu para o idioma italiano e prefaciou[1], Evola é, sem sombra de dúvida, o autor mais influente nos círculos da chamada Nova Direita europeia. Giorgio Almirante, fundador e secretário do Movimento Social Italiano (MSI) e principal líder da denominada Direita italiana entre a segunda metade da década de 1940 e o final da década de 1980, declarou, certa feita, que Evola era “o nosso Marcuse, mas melhor”[2], e o filósofo Franco Volpi, que foi Professor de História da Filosofia da Universidade de Pádua e colaborador do jornal La Repubblica, afirmou, de acordo com o escritor e jornalista Giano Accame, em entrevista ao telejornal Tg1, da RAI, que “os grandes do pensamento italiano do século XX são três: Croce, Gentile e Evola”[3].
Mestre do Attualismo, Giovanni Gentile é, na abalizada opinião do filósofo e historiador da Filosofia Michele Federico Sciacca, o maior filósofo italiano do século 20[4]. Conhecido como o “filósofo do Fascismo”, ou, como diria Evola, o filósofo “especificadamente fascista”[5], Gentile é inegavelmente o principal doutrinador do Fascismo ao lado de Benito Mussolini, com quem, aliás, colaborou na redação do famoso texto A Doutrina do Fascismo (La Dottrina del Fascismo), que, publicado em 1932 na Enciclopédia Italiana (Enciclopedia Italiana), se constitui no mais importante texto doutrinário fascista. Organizada por Gentile e publicada graças ao mecenato do Senador Giovanni Treccani, a Enciclopédia Italiana é, sem dúvida, uma das mais importantes enciclopédias de todo o Mundo e um dos grandes legados do autor da Teoria geral do espírito como ato puro (Teoria generale dello spirito come atto puro), ao lado da reforma do ensino que levou a cabo como Ministro da Instrução Pública do Reino da Itália e, é claro, de sua Filosofia Atual, que faz dele o maior filósofo idealista desde Hegel.
Patrick Romanell, que foi Professor de Filosofia da Universidade do Texas, afirma, na introdução que fez à sua tradução do Breviário de estética (Breviario di estetica), de Benedetto Croce, que Gentile “carrega tanto a honra de haver sido o mais rigoroso neo-Hegeliano de toda a história da filosofia ocidental quanto a desonra de haver sido o filósofo oficial do Fascismo na Itália”[6].
Concordamos com Romanell quando este afirma que Gentile porta a honra de haver sido o mais rigoroso pensador neo-Hegeliano da história da filosofia ocidental. Discordamos dele, porém, quando afirma que o filósofo do Attualismo leva a desonra de haver sido o “filósofo oficial do Fascismo na Itália”, posto que, embora discordemos de certos aspectos da Doutrina do Fascio, todos eles de caráter não-tradicional, reconhecemos o valor e a importância histórica do Fascismo, lídimo representante italiano dos Movimentos tradicionalistas de renovação nacional florescidos em todo o Mundo durante os primeiros decênios do século XX e que teve o mérito de salvar a Itália do liberalismo e do comunismo, de dar a ela a Ordem e o Desenvolvimento e de reconduzi-la a sua vocação histórica, herdada do Império Romano, de dilatar o Imperium e a Auctoritas.
Dentre os aspectos não-tradicionais do Fascismo a que fizemos referência no parágrafo precedente, podemos destacar a estatolatria e o modelo corporativo de cunho estatizante, que via nas corporações meros órgãos do Estado Totalitário, ao passo que o corporativismo tradicional, que encontrou seu apogeu na tão gloriosa quanto achincalhada era conhecida como Idade Média, se caracterizou pela autonomia das corporações, que, em vez de meros órgãos do Estado eram a peça-mestra da Sociedade.
Isto posto, cumpre assinalar que os aspectos não-tradicionais do Fascismo não são suficientes para fazer dele um Movimento não-tradicional. Aliás, a Revolução Fascista, movida pela Vontade de Transcendência e pela Vontade de Império e profundamente inspirada na Tradição da Eterna Roma dos Césares, foi, inegavelmente, uma Revolução Tradicional no mais alto sentido da palavra. E, uma vez que falamos em Fascismo e em Tradição, julgamos oportuno transcrever algumas palavras do Duce Benito Mussolini, no Breve prelúdio (Breve preludio) ao primeiro número da revista Gerarchia, por ele dirigida, em 1922, e transcritas no livro Tempos da revolução fascista (Tempi della rivoluzione fascista): “A tradição é certamente uma das maiores forças espirituais dos povos, porquanto forma sucessiva e constantemente o seu espírito”[7].
Pouco adiante, observa o Duce que, conciliando os conceitos de “conservação e de renovação, de tradição e de progresso”, os fascistas “não nos agarramos desesperadamente ao passado, como a uma tábua suprema de salvação, nem nos atiramos de olhos fechados nas nuvens sedutoras do futuro”[8].
Registre-se, ademais, que o Fascismo é, inegavelmente, um “movimento revolucionário que modelou grande parte da história do século XX”, como registra A. James Gregor (cujo verdadeiro nome é Anthony Gimigliano), Professor da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e um dos mais importantes e honestos estudiosos do fenômeno fascista na Itália[9]. Ainda segundo Gregor, o principal aspecto que diferencia o totalitarismo de Mussolini daqueles de Stálin e de Hitler é a coerência de sua doutrina. Como sublinha o referido autor, “mesmo antes de sua ascensão ao poder, o Fascismo havia articulado uma consistente e relevante ideologia [diríamos doutrina] de renovação nacional e desenvolvimento, predicada na suposição de que somente uma unidade ‘orgânica’ de todos os elementos da comunidade serviria aos propósitos de uma nação ‘proletária’ em sua desigual disputa com as ‘plutocracias’”[10] Ademais, de acordo com o autor de Giovanni Gentile: Filosófo do Fascismo (Giovanni Gentile: Philosopher of Fascism), “o Fascismo possui uma ideologia [mais uma vez, diríamos doutrina] que era mais coerente e relevante para a revolução moderna do que praticamente qualquer outra coleção de ideias do século XX”[11], havendo os “intelectuais do Fascismo de Mussolini criado a mais consistente, coerente e relevante lógica doutrinária para a reação nacionalista e as revoluções desenvolvimentistas em nosso tempo”[12].
Feito este longo parêntese, voltemos a falar de Evola e de Gentile, que são os temas centrais da presente palestra.
Gentile jamais admirou Evola e o seu ideário, havendo sido devido, sobretudo, a ele o fato de o pensamento evoliano haver marchado no silêncio durante a Era Fascista. Isto se explica em virtude de Gentile haver sido a figura de proa da nau da Cultura Italiana durante o vintênio fascista e também durante os primeiros meses da República Social Italiana, também conhecida como República de Salò, isto é, até seu assassinato, em abril de 1944.
Faz-se mister sublinhar, contudo, que Gentile reconheceu, ao menos parcialmente, o valor de Evola nos campos do esoterismo e da alquimia, tanto que solicitou ao pensador tradicionalista esotérico que fosse o curador do verbete sobre a revista iniciática Atanòr na Enciclopédia Italiana.
Evola também jamais admirou Gentile, a quem votou mesmo, na expressão do pensador e escritor português António José de Brito, “injusto desprezo”[13], havendo chegado a afirmar que era tão somente por ignorância ou por um “provincialismo intelectual” que pensadores como Croce e Gentile, que ele sequer considerava filósofos, haviam podido ser levados a sério e mesmo admirados na Itália. Na opinião do pensador esotérico, era necessário não haver estudado diretamente “os grandes sistemas do idealismo transcendental germânico”, não haver tomado conhecimento dos “problemas imanentes que conduziram, por exemplo, além de Hegel, ao ’segundo’ Fichte e ao ‘segundo’ Schelling, a Schopenhauer e ao próprio von Hartmann, para não perceber que Croce e Gentile não são senão dois fracos epígonos, cujo único mérito é o de haver conduzido ao absurdo as posições do idealismo absoluto, até um verdadeiro e próprio colapso especulativo”[14].
O pensamento filosófico e religioso de Evola e de Gentile é muito diverso, o mesmo se dando em relação ao pensamento político de ambos, tanto que os aspectos que Evola mais condena no Fascismo são os aspectos do mesmo mais afirmados por Gentile, a exemplo do Estado Ético de inspiração hegeliana, do nacionalismo, do culto do Trabalho e do culto do Risorgimento e de seus heróis, ou profetas, vistos como precursores do Fascismo. Com efeito, assim afirma o filósofo do Idealismo Atual em seu artigo intitulado Risorgimento e Fascismo, publicado em 1931, na revista Politica sociale e em diversos jornais e transcrito na obra Memórias italianas e problemas da filosofia e da vida (Memorie italiane e problemi della filosofia e della vita), de 1936:

"O Fascismo é filho do Risorgimento: do Risorgimento heróico, criador de um Estado moderno, que é potência política na medida em que é potência econômica e civilização: um homem novo, vivo, são, inteligente, original.
Perder este fio, rompê-lo, não pode ser e não é de interesse do Fascismo. Cuja revolução é progresso na medida em que é restauração: consolidação das bases para edificar-vos sobre um sólido edifício, alto, na luz. Toda originalidade sem tradição, como toda espontaneidade sem disciplina, é veleidade estéril, não vontade viril. Capricho, não programa. Não é o espírito do Fascismo, mas sua caricatura"[15].

Isto posto, cumpre assinalar que, na opinião do autor de Os profetas do “Risorgimento” Italiano (I profetti del Risorgimento Italiano), o Risorgimento foi um movimento de cunho tradicionalista, coincidindo com aquela renovação geral que pode ser considerada lato sensu como Romantismo, considerando Vincenzo Gioberti e Antonio Rosmini, dois dos principais vultos do Risorgimento, como os mais importantes pensadores tradicionalistas italianos[16].
Tal não é, como bem sabemos, a opinião de Evola. Ao contrário, sempre foi ele um agudo crítico do Risorgimento. Com efeito, para o filósofo do Idealismo Mágico, Giuseppe Mazzini – que para Gentile era um dos grandes precursores da Nova Itália[17] – “não é senão o expoente italiano do protestantismo e do mal europeu[18].
A despeito, porém, de todas as divergências, Evola e Gentile têm importantes elementos em comum: ambos são grandes filósofos e doutrinadores políticos; ambos são tradicionalistas, ainda que cada qual a seu modo; ambos, por fim, pertencem ao rol dos maiores vultos do pensamento universal do século XX e também ao rol dos maiores vultos da denominada Terceira Posição, ao lado de nomes como os de Gabriele D’Annunzio e Giovanni Papini, Luigi Pirandello e Alfredo Rocco, Filippo-Tomaso Marinetti e Ardengo Soffici, Ugo Spirito e Giuseppe Prezzolini, Giorgio Del Vecchio e Gino Arias, Sergio Panunzio e Robert Michels, Martin Heidegger e Carl Schmitt, Gottfried Feder e Ferdinand Fried, Ernst Jünger e Knut Hamsun, Ezra Pound e T.S. Eliot, G.K. Chesterton e Hilaire Belloc, Sir Oswald Mosley e Wyndham Lewis, D.H. Lawrence e Louis-Férdinand Céline, Drieu la Rochelle e Robert Brasillach, Charles Maurras e Maurice Barrès, Léon Degrelle e Henri de Man, Corneliu Codreanu e Mircea Eliade, José Antonio Primo de Rivera e Ramiro de Maeztu, António Sardinha e João Ameal, Francisco Rolão Preto e Fernando Pessoa, sem falar nos nossos Plínio Salgado e Gustavo Barroso, Miguel Reale e Alfredo Buzaid, Câmara Cascudo e San Tiago Dantas, Gerardo Mello Mourão e Tasso da Silveira, Goffredo e Ignacio da Silva Telles, Jackson de Figueiredo e Arlindo Veiga dos Santos.
Feitas essas considerações, passemos a falar, separadamente, da vida e da obra dos dois grandes pensadores de que cuida a presente palestra, principiando por Julius Evola.

[1] GUÉNON, René. La crisi del Mondo Moderno. Trad. italiana e intr. de Julius Evola. Roma: Edizioni Mediteranee, 2003.
[2] ALMIRANTE, Giorgio, apud LAMENDOLA, Francesco. Alcuni aspetti del pensiero filosofico di Julius Evola. Disponível em: http://www.juliusevola.it/documenti/template.asp?cod=615. Acesso em 16 de novembro de 2010.
[3] Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=YMUtRc3u4SI. Acesso em 16 de novembro de 2010.
[4] SCIACCA, Michele Federico. História da Filosofia - vol. III. São Paulo: Mestre Jou, 1962, p. 216.
[5] EVOLA, Julius. Gli uomini e le rovine. 1ª ed. Roma: Edizioni del`Ascia, 1953, p. 21. Apud BRITO, António José de. Apontamentos sobre Julius Evola. Disponível em: http://cadernosevolianos.weblog.com.pt/arquivo/093086.html. Acesso em 16 de novembro de 2010.
[6] ROMANELL, Patrick. Translator's Introduction. In CROCE, Benedetto. Guide to Aesthetics. Trad., intr. e notas de Patrick Romanell. 2ª ed. Indianápolis: Hackett Pub Co Inc, 1995, p. VIII.
[7] MUSSOLINI, Benito. Tempi della rivoluzione fascista. Milão: Alpes, 1930, p. 13.
[8] Idem, p. 14.
[9] GREGOR, A. James. Presentazione. In PIRAINO, Marco e FIORITO, Stefano. L’identità fascista: Progetto politico e dottrina del fascismo. 2ª ed. Lulu Enterprises, 2009, p. 5.
[10] Idem. Phoenix: Fascism in our time. 1ª ed., 4ª reimpr. New Brunswick: Transaction Books, 2009, p. 176.
[11] Idem, p. 21.
[12] Idem, p. 184.
[13] BRITO, António José de. Apontamentos sobre Julius Evola. Disponível em: http://cadernosevolianos.weblog.com.pt/arquivo/093086.html. Acesso em 16 de novembro de 2010.
[14] EVOLA, Julius. Gentile non è il nostro filosofo. Disponível em: http://www.juliusevola.it/documenti/template.asp?cod=373. Acesso em 16 de novembro de 2010.
[15] GENTILE, Giovanni. Risorgimento e fascismo. In Idem. Memorie italiane e problemi della filosofia della vita. Florença: G. C. Sansoni – Editore, 1936-XIV, p. 120.
[16] Idem. La tradizione italiana. In Idem Frammenti di estetica e di filosofia della storia. Florença: Le Lettere, 1992, pp. 112-113.
[17] Cf. Idem. Mazzini e la Nuova Italia. In Idem. I profetti del Risorgimento Italiano. 3ª ed. acresc. Florença: G. C. Sansoni-Editore, 1944-XXII, pp. 127-152.
[18] EVOLA, Julius. Imperialismo pagano: Il fascismo dinnanzi al pericolo euro-cristiano. 4ª ed. corrigida, com dois apêndices e Heidnischer Imperialismus. Roma: Edizioni Mediteranee, 2004,p. 93.

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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

AS CIVILIZAÇÕES QUE OS EUROPEUS DESTRUÍRAM

O Grande "Achado" da história!

Captura de Atahualpa por Francisco Pizarro

1-É possível nomear aquele que já tem nome?

2- É possível colocar-se como deus diante dos homens e ditar seus caminhos?

3-É possível chegar a uma terra e dizer que a História começa com a sua chegada, como se os nativos estavam estáticos; sem idioma, cultura ou organização própria como se estivessem parados no tempo e só começassem a se movimentar com a chegada do europeu?

4-É possível destruir culturas que em muitos aspectos supera a sua?


R-Os Espanhóis mostraram para a humanidade que sim!

Quando os europeus chegaram ao continente que denominariam América (A popularidade trazida pelas narrativas das viagens de Américo Vespúcio converteu-o num dos autores mais vendidos à época. Foi o cartógrafo Martin Waldseemüller quem primeiro nomeou o novo continente de América em sua homenagem em 1507).

Eric o vermelho (Eiríkur rauði). Xilogravura frontispício de 1688 Icelandic publication of Arngrímur Jónsson's Gronlandia (Greenland). Fiske Icelandic Collection.

Agora que sabemos porque nosso continente traz um nome de um europeu ao invés de um nome de um herói ou deus nativo, vamos olhar um pouco para o homem que foi Ele chegou à costa do atual Canadá e EUA, aonde denominaram a terra de o primeiro europeu a chegar a América, no ano 1000 dc Erik o Vermelho um Viking. Vinland devido ao grande número de vinhas ali encontradas, mas devido à distância impediu que realizassem um contato mais freqüente com o continente. O ponto do continente onde mais permaneciam é hoje a denominada Ilha da Groenlândia aonde na época chegaram a cultivar cereais em toda parte sul da ilha devido ao clima local mais ameno que o atual.

Malinche e Cortés in Tlatelolco. Codex da História de Tlaxcala (s.XVI)

Agora falaremos de quem oficialmente segundo eles mesmos foram os primeiros europeus a chegarem na nomeada América, falaremos de Colombo e sua chegada ao novo continente, e sua repercussão no mundo que pensavam na época ser bem menor e isso se dava não só na Europa em relação ao restante da Ásia e África, mas também aqui na América onde os povos nativos não se conheciam em sua totalidade.

O desembarque de Colombo é um símbolo de um grande processo, cuja conseqüência é a globalização da humanidade. Segundo o autor Miguel Leon Portilla nós americanos só podemos comemorar esse acontecimento e não celebrar, porque nesse processo houve abusos e a morte de 50 milhões de nativos. O mesmo número de mortos que houve na II Guerra Mundial.

Engraçado ninguém lembrar disso? Mas devemos comemorar, pois não podemos permitir que esse fato horrendo ocorrido com os nativos caia no esquecimento.

Outro problema a ser abordado é alguns conceitos inseridos pelos europeus aos nativos, como certas terminologias errôneas.

Quando Colombo teve o primeiro contato com os nativos chamou-lhes de “Índios”. Essa denominação surgiu porque se julgou terem chegado às Índias e por isso passou a se chamar de índios aos habitantes da região. Uma denominação errada que não foi corrigida mesmo depois de descobrirem que não estavam nas Índias, pois não se deram ao trabalho de respeitar a designação que cada povo tinha e mantiveram a sua absurda nomenclatura.

No período colonial, índio para o espanhol era aquele que deveria trabalhar nas minas, cidades e fazendas, ser reconhecido como índio era sinônimo de trabalho compulsório para aqueles de sangue e cor de pele que consideravam inferiores, bem apropriado para o colonizador espanhol branco.

Cortés e a Malinche com Monctezuma em Tenochtitlán. Facsimile (c. 1890) Lienzo de Tlaxcala.

Dentro do mesmo problema temos a designação de “altas culturas” que era aplicada pelos europeus somente aos povos da Confederação Asteca e ao Império Inca que sobrepujaram outros povos das suas respectivas regiões. Enquanto o correto é que todas as sociedades americanas que passaram pelo processo de adoção da agricultura extensiva e da revolução urbana deveriam receber essa designação.

Abordando a terminologia altas culturas da outra forma da se uma impressão de dominação política dos Astecas e Incas sobre os outros povos. Tanto Astecas como os Incas, no período anterior as suas expansões, eram tribos no mesmo estágio cultural que seus vizinhos e em certo momento, chegaram a estar a eles subordinados. Por um processo especifico, e numa expansão rápida, passaram a subjugar, dominar e tributar outros povos, outrora seus iguais.

Desta forma identificar somente Astecas e Incas como as altas culturas é esquecer a rede de dominação e tributação construída por estes Estados, além de referir-se a culturas que se tornaram hegemônicas e dominantes a partir de uma expansão militar, e não por uma suposta sofisticação cultural própria e autônoma.

Outro termo avassalador para aqueles que almejam o respeito aos nativos da nomeada América é o Pré-Colombiano, pois essa expressão supõe que estas sociedades não têm História e que, no máximo, a História se inicia com a chegada do europeu civilizado e culto. Posicionando como marco da História da nomeada América é a chegada de Colombo e com ele veio a forma civilizada de viver.

Quando estudamos o Império Inca (América do Sul) e Asteca (América Central) nos é revelado a existência de sociedades extremamente complexas e hierarquizadas com mitologia e religião próprias a sua realidade.

A Confederação Asteca tem sua origem na cultura mãe da civilização meso-americana a cultura Olmeca (um exemplo de sua cultura é o centro cerimonial de La Ventana) e seus predecessores. Os mexicas provenientes do norte instalaram-se no vale do Anahuac em 1168 as margens do lago Texcoco e assimilaram para sua cultura muito da cultura Olmeca. O conflito pela terra com as cidades vizinhas leva-os lentamente a vitórias consecutivas onde foram edificando templos, casas, palácios, aquedutos e montou-se uma burocracia estatal e hierarquizou-se a religião. Sua economia baseava-se no modo de produção tributário que exige que as comunidades aldeãs extraiam da terra o alimento necessário para sua auto-sustentação e a manutenção da Classe-Estado. Teotihuacán era sua capital e era composta por um conjunto arquitetônico ligado por diversas estradas. O fim de sua civilização veio com a chegada de Hernando Cortes um navegado Português a serviço da coroa espanhola que esteve no México em 1519, em expedição onde submeteu os Astecas tornando-se governador geral do México em 1521. Praticou uma serie de castigos aos nativos da região, tornando-se famoso por suas crueldades.

Conquistadores espanhoís massacraram o glorioso Império Inca

Falaremos um pouco sobre o Império Inca que não foi nada mais nada menos que o sucessor de culturas anteriores, períodos em que as autoridades centrais conseguiram controlar as comunidades das montanhas e costeiras. O Horizonte (Império) Primitivo era centrado em Chavín de Huantar um templo nas montanhas lestes que teve seu apogeu a uns 3000 anos atrás, quando influenciou outras colônias da região. No Horizonte (Império) Médio temos Tiahuanaco perto do lago Titicaca na Bolívia e Huari no atual Peru, ambos foram verdadeiras colônias urbanas de Estados de vasta extensão há 2500 anos atrás. No Período Intermediário Tardio que corresponde aos séculos imediatamente anteriores a expansão inca, tinha sido um tempo de guerras. A expansão inca daria se por meio de 8 comunidades que procediam da região Colha próxima do lago Titicaca, de língua aimará. Apos submeterem as populações locais de língua quíchua concentraram esforços em dominar o vale onde construiriam sua futura capital.

O Império Inca, respeitando as antigas funções das comunidades aldeãs chamadas ayullus, incorporou militarmente outros estados impondo uma unidade política, econômico-social e religiosa, justificando a denominação de Império. A ideologia transmitida pelos incas aos povos submetidos referia-se ao soberano como filho do sol que lhe outorgava proteção divina. Sendo assim o Império Inca era apresentado desta forma: os historiadores oficiais escreviam duas historias; uma para a hierarquia e outra para o povo. Na segunda versão se excluía tudo o que pudesse diminuir o respeito e a fidelidade ao soberano, a História foi deliberadamente falsificada para divinizar o inca e tornar sua vontade a dos deuses.

Fato interessante em relação às conquistas incas é a apropriação e adaptação de costumes e técnicas de outros povos a sua sociedade. Aquilo que encontrassem em uma cultura que fosse ser útil ao Império eles utilizavam, um exemplo é o sistema de correio e o sistema numérico através de cordas que foram assimilados da cultura Chimu pelos incas conquistada.

A partir de Cuzco o Império estava dividido em duas partes subdivididas em quatro. Nas regiões rebeldes os incas designaram governadores para substituir o senhor natural.

O Império organizava sua economia pelo sistema de Mita que correspondia ao serviço prestado ao inca nas mais diferentes formas. Como na função de soldados, na agricultura, no trabalho de pedreiros, todos eles constituíam dispêndio de energia em beneficio do Estado, devidos, em proporções diferentes, por quase todos os grupos étnicos incorporados pelos incas (Tahuantinsuyo: Quatro cantos).

Não havia doação ou pagamento de qualquer coisa com seus próprios recursos se não contarmos as terras cultivadas em beneficio do Estado. Os únicos itens cedidos em espécie ao estado eram fornecidos por aqueles que não haviam constituído família. A real grande renda do Estado consistia na prestação de energia e tempo gasto em beneficio do Estado num grande numero de empreendimentos.

Outra política utilizada pelos incas para manter o controle sobre os povos conquistados era o reassentamento que funcionava num sistema de deportação da população local para outro local e suas fazendas eram concedidas aos mitmacs (povos fieis aos incas e que manteriam a região sob vigilância e controle dos incas).

Esse processo foi intensificado com a expansão rápida, pois a necessidade de povos fieis em meio a recém conquistados se fazia necessária. Para contabilizar a produção os incas utilizavam os quipos, longos cordões aos quais eram amarrados cordõezinhos onde se faziam diferentes tipos de nós, como sinais que eram usados tanto na contabilidade como para registrar fatos históricos.

O Império Inca, igual ao Asteca ou ao Maia, era um sistema econômico-politico-ideologico que tinha como base o modo de produção tributário avançado, baseado na exploração da comunidade aldeã por uma classe-Estado, formada por sacerdotes, guerreiros e burocratas.

O socialismo no Império Inca como proposto por diversos autores não passa de uma ilusão, pois se o socialismo é o ato pelo qual todos os bens de uma sociedade são distribuídos de modo eqüitativo entre todos os seus membros isso não se refere ao Estado inca onde na região do Titicaca o Estado exigia 80 mil cabeças (lhamas, Guanacos, Vicunhas e Alpacas) por ano para cada 15 mil tributados. Se isso corresponde a um sistema socialista não compreendo como devo denominar um sistema opressor.

O conquistador Espanhol Francisco Pizarro foi o carrasco dos incas, pois em 1530 desembarcaram em San Mateo e atingiram Cuzco, apoderando-se da cidade e capturando o inca Atahualpa, que ficou prisioneiro como refém. Os espanhóis assassinaram traiçoeiramente Atahualpa, originando lutas, que terminaram coma a vitória dos conquistadores. Pizarro recebeu o título de marquês com jurisdição até os confins da nação inca. Sua crueldade e orgulho desmedidos empanaram suas qualidades militares e seu arrojo.

Quando chegaram no continente que seu egocentrismo nomeou América os europeus somente queriam três coisas metais preciosos, especiarias e expandir a fé cristã. Todos esses três itens em detrimento de qualquer coisa ou até mesmo pessoas que se opusessem a eles ou simplesmente estavam no caminho deles. Não pouparam crianças, idosos e mulheres nesta devastadora jornada da ganância.

Quando abordamos os quesitos de metais preciosos e especiarias nossos invasores não tinham a menor idéia de respeito à natureza como também não tinham pelos nativos. Agora quando falamos de expansão da fé Cristã não podemos aceitar como dizem alguns autores que a religião legitimou toda a barbárie e usando da Bíblia esses autores se valendo de trechos isolados colocam o Homem Cristão servo de um Deus Antropocêntrico que permite ao mesmo utilizar a natureza como quiser até mesmo destruí-la por completo, não vou citar versículos, mas é notório ao mais leigo cristão praticante que as Sagradas Escrituras jamais legitimam a destruição da criação de Deus. É algo contraditório com a natureza divina e sua própria palavra.

Os espanhóis mataram, estupraram, torturam e mutilaram em nome de sua própria ganância, em nome de sua luxuria, em nome da coroa e de seus reis. Tudo o que fizeram foi simplesmente porque sabiam que sairiam impunes que não havia nada nem ninguém para os impedir, pois o que faziam segundo o conceito que a eles foi dado era em nome do progresso do reino do povo desse reino que os receberia como heróis por mais desumanos que fossem. A fé pode ter sido uma mola propulsora que levou o homem às terras distantes, mas nunca legitimou a desumanidade e a destruição da natureza.

Os eurocentristas (aqueles que consideram ter sido benéfica a chegada dos europeus ao novo continente e que esse continente não era civilizado) ignoram qualquer possibilidade do surgimento na América de algum povo civilizado.

Desconhecem que, enquanto os camponeses morriam de fome durante o feudalismo europeu, Estados centralizados construíam na América complexas obras hidráulicas, controlavam o tempo através do calendário, conseguiam alimentar decentemente todo o povo, que possuíam aposentadoria, pública e gratuita, ou que as primeiras universidades envolvidas com a tecnologia da produção de alimentos surgiram fora da Europa ocidental.

Partindo desse pensamento supomos que o sentimento Europeu em relação aos povos nativos era de medo, por encontrar tão vasto conhecimento e riquezas pertencentes a pessoas que pensavam tão diferentes e estavam tão distantes do mundo Europeu e possuíam ciência, tecnologia e organização social superior a sua.

Os americanistas encontraram nas instituições sociais existentes antes da chegada dos Europeus idéias defendidas na Europa pelos iluministas como: preocupação cientifica, modificação social, critica a realidade existente, luta contra o poder e o obscurantismo. Muitos dos ideais de reciprocidade, liberdade, fraternidade e solidariedade, perseguidos pelos homens da Revolução Francesa, lemas esquecidos nas comemorações européias estavam presentes entre astecas, maias e incas.

Sem sombra de dúvidas as sociedades existentes no continente denominado pelos europeus América não eram o paraíso na terra no qual os Espanhóis esperavam encontrar, pois a exploração dos camponeses pelas classes que controlavam o Estado era algo comum entre os povos astecas, maias e incas.

Mas essa mesma classe que explorava também protegia as comunidades contra ataques exteriores, fome, doenças ou frio sendo capazes de organizar as estruturas produtivas para conseguir alimentar decentemente milhões de pessoas, fato que nenhum Estado moderno latino-americano baseado nos moldes dos “desenvolvidos” e “cultos” europeus conseguem repetir hoje.

Com certeza ainda temos muito o que aprender com os nativos, pois se tivéssemos seguido o modelo desses povos a América Latina poderia ser um diferencial no mundo do capitalismo “selvagem”. Mostrando ao mesmo que o modelo socioeconômico e cultural europeu não é o senhor da verdade e muito menos da igualdade.

Autor: Leandro CHH

Você quer saber mais?

Peregalli, Enrique, A América que os europeus encontraram / 2000 Atual,

A conquista da América Latina vista pelos índios : relatos astecas, maias e incas / 1984 Vozes,

León-Portilla, Miguel, A conquista da América Latina vista pelos índios : relatos astecas, maias e incas / 1985 Vozes,

Clare, John D.,
Astecas : vida cotidiana / 2002 Melhoramentos,
Jennings, Gary, Orgulho Asteca / 2002 Record,

Lemos, Maria Teresa Toríbio Brittes. Corpo calado : imaginários em confronto / 2000 7Letras,

Ganem, Roberto. Senk Rá : perigosa busca na terra dos Incas / 1999 Melhoramentos,

Ribeiro, Pedro Freire. O soldado Pedro de Cieza de León e o império incaico / 2000 EDUERJ,

Dziekaniak, Leon Hernandes. Machu Picchu : viagem à cidade sagrada dos Incas / 1999 L&PM,

Rossi, Geraldo Abud, Machu Picchu : na trilha dos Incas / 2001 Artes e Ofícios,

Daniel, Antoine B. Os Incas, volume um : a princesa do sol / 2001 Objetiva,

Arquivo secreto do Vaticano publica pedido de divórcio de Henrique 8º

Pedido de anulação contribuiu para cisma entre católicos e anglicanos

O Arquivo Secreto do Vaticano anunciou que irá publicar cópias da carta de 1530 em que nobres e religiosos ingleses pedem ao papa para anular o casamento do rei inglês Henrique 8° com Catarina de Aragão para que ele pudesse se casar com Ana Bolena.

O documento original, arquivado no Vaticano com o nome de "Causa Anglica - O atribulado caso matrimonial de Henrique 8°", contribuiu para desencadear o cisma entre a Igreja Anglicana e a Igreja Católica.

O original e um fac-símile, a partir do qual serão feitas outras cópias, foram apresentados para a imprensa na última terça-feira, na sede do Arquivo Secreto do Vaticano.

O lançamento oficial das cópias do documento está marcado para o dia 24 de junho, durante as comemorações dos 500 anos da ascensão de Henrique 8º ao trono da Inglaterra.

O texto é considerado uma das páginas fundamentais da história inglesa. Nele, 85 nobres e religiosos ingleses se dirigem ao papa Clemente 7° pedindo a anulação do casamento do rei com Catarina de Aragão, a primeira das seis esposas de Henrique 8°.

Para se casar com Catarina, o rei da Inglaterra, que subiu ao trono em 1509, já tinha pedido uma autorização especial do pontífice, porque ela era viúva de seu irmão.

Cópias

A primeira cópia da carta vai ser dada ao papa Bento 16, que deve visitar a Inglaterra até o final do ano. As demais publicações serão vendidos a museus, institutos de cultura e colecionadores privados.

Os interessados deverão desembolsar cerca de R$ 130 mil para comprar uma das cópias e, provavelmente, comprometer-se a expô-la a um público mais amplo.

Até agora, o documento podia ser visto apenas por chefes de Estado ou outras autoridades em visita oficial ao Vaticano.

Segundo o diretor do Arquivo Secreto do Vaticano, monsenhor Sergio Pagano, o dinheiro arrecadado com as vendas vai ser usado para restaurar parte do acervo da instituição, um dos mais ricos do mundo.

Cisma

A carta ao papa foi redigida em duas cópias, ambas assinadas pelos nobres e religiosos com os tradicionais lacres. Uma delas está no Arquivo Secreto Vaticano e a outra no arquivo Nacional de Kew, na Inglaterra.

Um trecho do documento, publicado pela imprensa italiana, mostra que os nobres ingleses já previam a possibilidade de que uma resposta negativa do papa pudesse agravar a situação já delicada da Igreja Católica na Inglaterra.

"Mas se (o papa) não quiser fazê-lo (anular o casamento de Henrique 8º), menosprezando as exigências dos ingleses, eles se sentiriam autorizados a resolver a questão sozinhos e procurariam soluções em outro lugar. A causa do rei é a causa deles. Se (o papa) não intervir ou demorar a agir, a condição deles se tornará mais grave, mas não irresoluta: os remédios extremos são sempre os mais desagradáveis. Mas o doente quer sobretudo sarar", diz o documento.

O cisma entre os anglicanos e a Igreja Católica ocorreria quatro anos mais tarde, em 1534.

Conservação

Pedido de anulação de casamento de Henrique 8º enviado ao papa Clemente 7º (Scrinium/Divulgação)

Selos do documento estão em bom estado de conservação

Segundo os técnicos da editora que vai publicar as cópias para a Santa Sé, o texto de propriedade do Vaticano está em excelentes condições.

"No pergaminho (do Vaticano) estão pendurados lacres magnificamente conservados, enquanto o documento que ficou na Inglaterra está em estado de conservação precário. Em algumas partes chega a ser ilegível e não há nenhum lacre", diz um comunicado da editora.

O pergaminho com os 85 lacres, emoldurados em metal e unidos por uma fita de algodão e seda de 40 metros de comprimento, pesa 2,5 kg.

Arquivo secreto

No Arquivo Secreto Vaticano, criado em 1610, são conservados mais de 2 milhões de documentos relativos a 800 anos de história, em um espaço de 85 quilômetros de prateleiras.

Usado sobretudo pelo papa e pela Cúria romana, o arquivo secreto foi aberto aos estudiosos e pesquisadores a partir de 1881.

Além de documentos sobre a história cristã, o arquivo possui importante material sobre a história dos vários países.

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Tempestade desenterra estátua romana em Israel.

Embora danificada, escultura tem sandálias esculpidas com delicadeza

Uma tempestade que atingiu a cidade israelense de Ashkelon revelou uma estátua romana que estava enterrada havia séculos.

A escultura feminina de mármore branco foi encontrada por um transeunte depois que uma tempestade na costa israelense derrubou parte de um rochedo.

A obra tem 1,2 m de altura e pesa 200 kg. Segundo a autoridade que cuida das antiguidades de Israel, a estátua tem entre 1,8 mil e 2 mil anos.

A porta-voz da entidade, Yoli Schwartz, disse que, embora sem os braços e a cabeça, a estátua conta com "sandálias delicadamente esculpidas" e intactas.

O órgão de antiguidades já levou o achado para uma série de testes e estudos.

Por outro lado, a tempestade danificou outros sítios arqueológicos, como o porto romano de Caesarea. As autoridades devem visitar a área para avaliar os danos.

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Alemanha reduz Forças Armadas e suspende serviço militar obrigatório

Os líderes da coalizão de governo da Alemanha concordaram em suspender o serviço militar obrigatório a partir de julho próximo e em reduzir o contingente. A decisão marca uma mudança profunda para o país.

As lideranças do governo de coalizão da Alemanha concordaram em suspender o serviço militar obrigatório a partir de 1° de julho de 2011. A proposta do ministro da Defesa, Karl Theodor zu Guttenberg, foi aceita durante as conversações realizadas a portas fechadas na noite desta quinta-feira (9/12) em Berlim.

A União Democrata Cristã (CDU), da chanceler Angela Merkel, e seu partido-irmão bávaro, a União Social Cristã (CSU), já haviam aprovado a ideia em suas convenções, realizadas nas últimas seis semanas. O Partido Liberal (FDP), parceiro de coalizão, já tinha incluído a proposta em seu programa de governo, divulgado durante as eleições parlamentares do ano passado.

O próximo passo será a aprovação de um projeto de lei, a ser preparado durante uma reunião de gabinete na próxima quarta-feira, para posteriormente ser levado à aprovação do Parlamento alemão.

Menos soldados

O plano prevê ainda a redução do contingente militar dos quase 250 mil soldados, que os país possui atualmente, para 185 mil. Destes, 170 mil seriam soldados profissionais, com voluntários compondo o restante. O governo espera economizar com a reforma até 8,3 bilhões de euros.

Reforma foi proposta pelo  ministro GuttenbergBildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Reforma foi proposta pelo ministro GuttenbergEntretanto, a suspensão do serviço militar obrigatório pode criar alguns problemas novos. O serviço comunitário prestado por aqueles que se recusam a servir as Forças Armadas também seria prejudicado.

Instituições sociais e de assistência temem que a medida leve à falta de pessoal, já que essas entidades dependem em grande parte da mão de obra de jovens que cumprem o serviço civil como alternativa ao serviço militar obrigatório. A suspensão significa também que o número de estudantes tende a crescer, o que eventualmente causaria problemas para as universidades.

O período do serviço militar obrigatório na Alemanha fora encurtado em 2010, ficando com a duração de seis meses. A obrigatoriedade aplicava-se apenas aos rapazes. As mulheres podiam ingressar nas Forças Armadas alemãs, a Bundeswehr, como profissionais ou voluntárias, não sendo obrigadas a se alistar.

A proposta apresentada pelo ministro da Defesa, Karl-Theodor zu Guttenberg, é uma das maiores reformas da história da Bundeswehr. Será a primeira vez que não haverá alistamento militar obrigatório desde a reintrodução do serviço militar, em 1957. A exigência do serviço militar permanece, porém, prevista na Lei Fundamental (Constituição) alemã, podendo ser reativada, caso necessário.

Durante a Guerra Fria, a Bundeswehr tinha cerca de 500 mil soldados, e o chamado Exército Nacional do Povo, da Alemanha Oriental, dispunha de cerca de 170 mil homens. Após a queda do Muro de Berlim, o exército oriental foi dissolvido e parcialmente integrado às forças da Alemanha reunificada. Estas foram inicialmente reduzidas a 370 mil integrantes, sendo enxugadas paulatinamente nas décadas seguintes.

MD/dpa/ap/rtr
Revisão: Alexandre Schossler

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