O jovem Pu Yi já entronado Imperador da China. Imagem: O Último Imperador da China; autobiografia de Pu Yi.
Saudações construtoras a todos os amigos e
visitantes do Construindo História Hoje. Como todos já têm visto, tem sido
momentos de grandes transformações para o Projeto Construindo História Hoje, e
nenhuma dessas mudanças seria possível sem vocês, que de todos os meios
contribuem para o bom desenvolvimento de nossa empreitada pelas veredas da
história.
Recentemente terminei de ler o livro O Último
Imperador da China, a autobiografia de Pu Yi Xiansheng, o livro cujo
nome no original em Chinês chamava-se “A
Primeira Metade da Minha Vida”, foi traduzida para o inglês como “From Emperor to Citizen” que deu
origem ao clássico filme de Bernardo Betolucci, The Last Emperator de 1987. O filme de Bertolucci baseado na autobiografia de Pu
Yi foi o primeiro a receber permissão do governo Chinês para ser gravado dentro
da Cidade Proibida. A saga de Pu Yi é fantástica em todos os sentidos, pois podemos
acompanhar pelas próprias palavras do último imperador desde sua ascensão ao
trono até sua prisão nos campos de concentração do Partido Comunista Chinês. No
filme de Bertolucci, uma verdadeira obra prima da sétima arte, com tão boa direção, roteiro,
cenografia, iluminação e figurino, ainda assim nada se compara ao livro,
aonde podemos com os mais fantásticos detalhes compreender a epopeia vivida por
um homem que nasceu para ser imperador e acabou como jardineiro-botânico e
bibliotecário na China Comunista. Trago aos meus leitores um pequeno vislumbre
desta maravilhosa obra e espero por meio desta postagem leva-los a conhecer
está grandiosa história. Com um conteúdo
humano fantástico, pois uma pessoa que passou por tantas transformações em sua
vida “publica” e privada, sem enlouquecer, é forçosamente um personagem
interessante. Afinal, não é qualquer um que deixa de ser “deus” para ser
jardineiro, e Pu Yi recorda todas suas transformações com um notável bom humor.
Como entender a psicologia de um personagem desses?
O
Segundo Príncipe Chun Tsai Feng, sentado com Pu Yi (a sua direita), e seu irmão
bebê, Pujie em 1908. Imagem: O Último Imperador da China; autobiografia de Pu
Yi.
Como Imperador
Pu Yi Xiansheng nasceu em Pequim, filho do
Segundo Príncipe Chun, o Príncipe Tsai Feng na mansão
da família Chun, em sete de fevereiro de 1906. Seu avô, Yi Huan, o sétimo filho
do Imperador Tao Kuang que reinou de 1821 a 1850, foi o primeiro Príncipe de
Chun. Foi o filho mais velho de seu pai o segundo Príncipe Chun. Foi coroado em
dois de dezembro de 1908, aos três anos de idade na condição de décimo soberano
da dinastia Ching (A dinastia Ching reinou de 1644-1911) e último imperador da
China. Quando explodiu a Revolução de 1911 contra a Dinastia Ching. Foi
destronado aos seis anos de idade em 10 de outubro de 1911, por uma seção do
Novo Exército, instigado pelas sociedades revolucionárias da burguesia e da
pequena burguesia insurgiu-se. Mais insurreições, em outras províncias seguiram-se
a essa, e a Dinastia Ching não demorou a cair. Mesmo
destronado continuou vivendo na Cidade Imperial de Pequim com toda sua corte,
aonde manteve muitas de suas prerrogativas, inclusive o titulo de Imperador. Em
1924 quando as tropas do Kuomintang, o Partido Nacionalista Chinês
invade Pequim, ele é expulso pelos militares
quando contava 19 anos de idade e refugia-se na embaixada japonesa.
Aqui Pu Yi aparece como Imperador de Manchukuo à serviço do governo japonês. Imagem: O Último Imperador da China; autobiografia de Pu Yi.
Após a
Revolução de 1911sua família foi a primeira a abandonar os velhos costumes e seu pai
Tsai Feng (Segundo Príncipe Chun), foi o
primeiro dos príncipes a ter um automóvel e a instalar um telefone em sua casa.
Foram os primeiros a cortar os rabichos, e ele foi o primeiro dentre os
príncipes da nobreza a usar trajes ocidentais. Seu pai Tsai Feng, após
renunciar a Regência e ser expulso do palácio imperial pelas forças rebeldes de
1911 pronunciou estas palavras:
“Ter livros é riqueza verdadeira, e dispor de um
pouco de ócio é estar a meio caminho da imortalidade.”
Tsai Feng (Segundo Princípe Chun)
O Traidor
Quando em 1931
o Japão invade o nordeste da China no chamado Incidente de Mukden, Pu Yi aos
26 anos é obrigado pelos militares japoneses a
tornar-se o imperador fantoche da região ocupada na Manchúria, aonde o governo japonês
criou o Estado fantoche de Manchukuo.
Governaria o Estado de Manchukuo de 1934 á 1945, até o fim da Segunda Guerra
Mundial.
Na União Soviética
Ao fim da
Segunda Guerra Mundial, Pu Yi foi capturado pelos soviéticos junto com a
primeira leva de criminosos de guerra de “Manchukuo”, ao chegar a União
Soviética passaram por uma privilegiada detenção com três grandes refeições
russas e uma refeição intermediária à tarde. Havia empregados para atender,
médicos e enfermeiras para cuidar de nossa saúde, rádios, livros, jornais e
equipamentos para outros tipos de recreação. Havia até pessoas para leva-los
para caminhar. Durante os cinco anos que Pu Yi passou na União Soviética nunca
abandonou seu ar superior. Membros de sua família dobravam seus acolchoados,
arrumavam seu quarto, traziam a comida e lavavam suas roupas. Como não lhes era
permitido chamarem-no de “Majestade”, chamavam-no de “Elevado”; e exatamente
como nos velhos tempos vinham ao seu quarto para lhe prestar seus respeitos.
Nesta foto Pu Yi aparece junto a outros prisioneiros no presídio de Fushun. Imagem: O Último Imperador da China; autobiografia de Pu Yi.
Como Pu Yi não abandonava sua forma superior de
se portar e recusava-se a estudar e seus pensamentos não haviam mudado em nada
de fundamental para admitir sua culpa de traição.
Diante dessas atitudes Pu Yi foi levado pelas
autoridades soviéticas para testemunhar em um Tribunal Militar Internacional
para o Extremo Oriente, em agosto de 1946, ele denunciou veementemente
os crimes de guerra cometidos pelos japoneses que ele odiava por tê-lo usado
como Imperador fantoche por quase 15 anos. O Testemunho de Pu Yi durou oito
dias, e foi o mais demorado do julgamento, dando excelentes notícias para os
jornais que no mundo inteiro exploram o sensacionalismo.
Uma das últimas fotos de Pu Yi já em liberdade e trabalhando como jardineiro e bibliotecário. Imagem: O Último Imperador da China; autobiografia de Pu Yi.
A razão pela
qual Pu Yi foi chamado para testemunhar era para expor a verdade sobre a
invasão japonesa na China, e para demonstrar como o Japão havia me usado como
títere para ajuda-los a governar o Nordeste da China ao qual haviam denominado “Manchukuo”.
Mesmo denunciando todos os crimes cometidos pelos japoneses Pu Yi escondeu seus
próprios crimes do Tribunal Militar Internacional. Mesmo assim um advogado
americano gritou no tribunal para Pu Yi: “Você
põem a culpa nos japoneses para tudo, mas esquece dos seus próprios crimes, mas
cedo ou tarde o governo Chinês irá condená-lo por seus crimes”.
De volta à China
Em 31 de julho de 1950,
um trem soviético carregando os criminosos de guerra do “Manchukuo” chegou à
estação na fronteira sino-soviética. Devolvido à China depois de cinco anos, já
República Popular governada por Mao Tse-Tung, como criminoso de guerra certo de
que iria ser fuzilado por crimes de guerra. Não foi! Os soviéticos o levaram
até a cidade de Shenyang aonde foi entregue as tropas chinesas que o avisaram
que não seria executado, mas sim “reeducado”. De Shenyang foram levados para o
presídio de Fushun e colocados em celas! Nos dias que se passaram receberam
livros e jornais para começarem seus estudos voltados para o comunismo chinês
ou Maoismo.
Aqui Pu Yi aparece posando para uma foto com o uniforme de prisioneiro. Imagem: O Último Imperador da China; autobiografia de Pu Yi.