PESQUISE AQUI!

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O aquecimento global é uma religião


O aquecimento global causado pelo homem é, para muitos, uma religião cujo deus a ser adorado é a Terra.  A característica essencial de qualquer religião é que suas declarações devem todas ser aceitas por uma questão de fé, e não pela apresentação de provas concretas.  Questionar tais declarações transforma qualquer um em pecador.

Ninguém nega que a temperatura da Terra se altera.  Milhões de anos atrás, grande parte do nosso planeta estava coberta de gelo - em alguns lugares com camadas de mais de 1,5 km de espessura -, um período que alguns cientistas chamam de "Terra bola de neve".  Como hoje a Terra não está mais coberta por essa camada de 1,5 km de gelo, então é seguro concluir que deve ter havido um pouco de aquecimento global.  Eu não sei a causa desse aquecimento, mas seria capaz de apostar toda a minha riqueza que esse aquecimento não foi causado por usinas termelétricas a carvão, lâmpadas incandescentes e automóveis andando incessantemente pelas rodovias.

A mera ideia de que a humanidade tem o poder de causar significativas mudanças paramétricas na Terra representa o ápice da arrogância.  Que tal algumas outras perguntas, já que a temperatura é apenas uma das características da Terra.  Por exemplo, peguemos a órbita da Terra.  Se todos nós, 6,5 bilhões de seres humanos que habitamos a Terra, começássemos ritmicamente a pular ao mesmo tempo e durante um longo período, você acha que conseguiríamos alterar a órbita ou a rotação da Terra?  Seguindo o mesmo raciocínio, você acha que a humanidade seria capaz de conseguir alterar a direção e a periodicidade das marés?  Existe alguma coisa que a humanidade possa fazer para provocar ou impedir um tsunami ou furacão?

Certamente você me diria, "Willians, é uma estupidez sugerir que a humanidade pode alterar a órbita ou a rotação da Terra, as marés, ou mesmo provocar ou impedir tsunamis ou furacões!".  E você estaria certo, é claro.  Da mesma maneira, é absurdo crer que as atividades da humanidade são capazes de provocar mudanças globalizadas na temperatura da Terra.

Todavia, existem muitos interesses em jogo, o que torna urgentemente necessário fazer as pessoas aceitarem e endossarem a religião do aquecimento global.  Existe tanta coisa em jogo que alguns cientistas, utilizando gordas subvenções governamentais, estão fraudulentamente manipulando dados climáticos e praticando abertamente atividades criminosas, como revelado no recente escândalo que vem sendo apelidado de "Climate gate".  Uma das mais perigosas características da religião do aquecimento global é o nível de intimidação feito sobre os hereges ou os aspirantes a hereges.

Alguns anos atrás, a Dra. Heidi Cullen, a climatologista do Weather Channel, exortou a Sociedade Meteorológica Americana a retirar seu selo de aprovação de qualquer meteorologista televisivo que expressasse ceticismo quanto às previsões sobre o aquecimento global antropogênico.  Scott Pelley, correspondente do programa "60 minutes", da rede CBS, comparou os céticos do aquecimento global a "negadores do Holocausto".  Já o ex-vice-presidente americano Al Gore chamou os céticos de "negadores do aquecimento global".  Mas a coisa fica ainda pior.  Em um de seus programas, a Dra. Cullen recebeu como convidado o colunista Dave Roberts, que, no dia 19 de setembro de 2006, em sua publicação online, disse que "Quando finalmente estivermos levando a sério o aquecimento global, quando estivermos sentindo todos os seus impactos e estivermos em uma luta em escala mundial para tentar minimizar os estragos, deveríamos implementar tribunais semelhantes aos de crimes de guerra para julgar esses canalhas - uma espécie de Nuremberg climático".

Como resultado, muitos climatologistas foram intimidados a ficar em silêncio.  Isso significa que o público não está informado sobre os seguintes fatos contra-alarmistas: Durantes longos períodos de tempo, não se percebe absolutamente nenhuma relação direta entre os níveis de CO2 e a temperatura.  Os seres humanos contribuem com aproximadamente 3,4% dos níveis anuais de CO2, ao passo que a natureza contribui com 96,6%.  Houve um aumento estrondoso das formas de vida 550 milhões de anos atrás (no Período Cambriano), quando os níveis de CO2 eram 18 vezes maiores que os de hoje.  Durante o Período Jurássico, quando os dinossauros perambulavam pela Terra, os níveis de CO2 eram até nove vezes maiores que os de hoje.  

O mundo sem ninguém: o sonho dos ambientalistas


 Os ambientalistas estão sempre pregando a preservação do ambiente.  O objetivo deles parece ser evitar que a ação humana altere a fauna e a flora.  No entanto, a própria sobrevivência do homem depende de sua interação com o ambiente, transformando-o para satisfazer suas necessidades e retirando dele o que é preciso para sobreviver (e viver).  Visto que é inevitável que o ser humano altere o meio em que vive, os ambientalistas parecem querer que o atual estado do ambiente seja preservado, e que não ocorra nenhuma alteração adicional na quantidade atual de plantas e animais — mesmo que isso implique uma diminuição da quantidade e qualidade de vida dos seres humanos, deixando claro que esta ideologia valoriza mais insetos, sapos, micos e mato do que o homem.  Uma pergunta que surge é por que o atual estado deve ser preservado?  O que há de tão bom nele?  Por que, por exemplo, o imenso deserto verde amazônico deve ter seu tamanho colossal mantido?  Murray Rothbard, ao analisar as conseqüências econômicas das leis de preservação faz exatamente essas perguntas:

Quantos e quantos escritores reclamam da brutal devastação que o capitalismo impõe as florestas americanas!  Porém, é evidente que a terra na América tem sido usada para produções que são mais valorizadas do que a produção de madeira, e, consequentemente, a terra foi destinada aos fins que melhor satisfaziam os desejos dos consumidores.[1]  Em que critério além deste os críticos podem se basear?  Se eles acham que muita floresta foi cortada, como eles podem estabelecer um critério quantitativo para determinar quanto é "muito"?  Na verdade, é impossível estabelecer um critério destes, do mesmo modo que é impossível estabelecer qualquer critério para a ação do mercado fora do mercado.  Toda tentativa de fazer isso vai ser arbitrária e não será baseada em nenhum princípio racional.[2]


 150 anos sem ninguém: O edifício mais alto de Boston desmorona sobre a mata que domina a cidade.

Então, se não existe este critério, poderíamos levar as reivindicações dos ambientalistas as suas últimas consequências lógicas.  O History Channel exibe uma série de documentários que mostra o que aconteceria com o planeta Terra se todas as pessoas desaparecessem de uma hora para outra.  Nos primeiros seis meses, os animais selvagens já estariam novamente vivendo nas cidades.  Com um ano, o mato estaria tomando conta da área urbana, e com cinco anos as ruas e estradas teriam desaparecido embaixo deste mato.  Passados 25 anos sem ninguém, as estruturas de concreto e aço começam a ruir sem o trabalho humano de conservação, e após 200 anos somente as mais resistentes estruturas de concreto reforçado ainda estarão de pé.  Mas transcorridos 500 anos, mesmo estas sucumbirão, e após mil anos quase todas as evidencias da civilização terão desaparecido e as cidades serão novamente grandes florestas.  Seria este o mundo ideal que os ambientalistas querem impor à humanidade?  Se não, por que não?  Em que ponto eles pretendem parar de advogar agressões contra a propriedade alheia em nome de uma preservação?

Há aqueles que alegam que as leis de preservação são essenciais para manter a vida humana; que caso os humanos não tivessem suas liberdades de ação cerceadas por um ente superior e altruísta, eles acabariam com os recursos naturais e deixariam o ambiente do planeta hostil à vida.  Estes ambientalistas falham em reconhecer que um sistema de inviolabilidade dos direitos de propriedade, que se oriente pelos preços do livre mercado para alocar os recursos, é a melhor maneira de garantir um ambiente sustentável e o maior bem estar para as pessoas (leia mais aqui e aqui).  E sobre a alegação da necessidade de se preservar recursos não-renováveis, Rothbard faz a seguinte análise:

.. há de se presumir que os recursos não-renováveis deverão ser usados em algum momento, e deve ser encontrado um ponto de equilíbrio entre a produção presente e a futura.  Por que as vontades da presente geração possuem tão pouco peso nessa decisão?  Por que a geração futura possui um valor tão maior, capaz de impor à atual um fardo muito mais pesado?  O que a futura geração tem para merecer este tratamento privilegiado?  Na verdade, uma vez que as futuras gerações tendem a ser mais ricas do que a presente, seria melhor aplicar o inverso! .. Além do mais, transcorridos alguns anos, o futuro terá se tornado o presente; então as gerações futuras também devem ter suas produções e consumos restritos em nome de outro "futuro" fantasmagórico?  Jamais devemos esquecer que o objetivo de toda atividade produtiva são bens e serviços que irão e poderão ser consumidos apenas em algum presente.  Não existe nenhuma justificação racional para penalizar o consumo em um presente e privilegiar um presente futuro; e seria ainda mais impossível justificar a restrição de todos os presentes em favor de algum "futuro" ilusório que pode nunca chegar e está sempre além do horizonte.  No entanto, este é o objetivo das leis de conservação.  As leis de conservação são na verdade legislações fantasiosas da Terra do Nunca. [3] [4]


O planeta-cidade Coruscant, capital da galáxia.

E a ausência do uso ou ameaça do uso de violência física para preservar o ambiente também não significa que ocorreria um cenário inverso ao mundo sem ninguém — um mundo superlotado e completamente alterado pela ação humana, algo como o planeta Coruscant, a capital da galáxia na saga Guerra nas Estrelas, que possui a totalidade de sua superfície ocupada por uma cidade.  Em um livre mercado, a simples satisfação que as pessoas obtêm ao apreciar uma paisagem natural seria o suficiente para que diversas áreas fossem mantidas intactas pelos seus proprietários.  Mas se um mundo como Coruscant fosse o resultado da ausência de agressão, seria, obviamente, muito bem vindo.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

De onde viemos? Para onde vamos?



"Por isso se alguém possui conhecimento, ele é do alto. Se for chamado, ouvirá. Ele responde e se volta para aquele que o chama, se eleva até ele. Ele sabe de que modo é chamado. Uma vez que possui conhecimento, ele realiza a vontade daquele que o chama. Ele deseja agradá-lo, ele recebe repouso... Quem desse modo adquire conhecimento sabe de onde vem e para onde vai."

Ev.Ver. dito 22:2-15
(Evangelium Veritatis)


Você quer saber mais? 

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

William Shakespeare, Parte V: A tragédia do Rei Ricardo III.



Dramaturgo e poeta britânico. Considerado poeta nacional inglês e maior dramaturgo da literatura universal. Suas obras foram amplamente publicadas e traduzidas para todas as principais línguas do mundo.
 
“Meu reino por um cavalo!”
(Ricardo, Ato V, Cena IV)

Esta frase célebre, fora de seu contexto, não revela o brilho e a força do gênio criativo de Shakespeare. Pois nessa única frase está sintetizado o mais poderoso estudo sobre a ambição humana que já tive a oportunidade de conhecer.

Altíssimo brilho, catarse sublime! A tragédia é um estilo fora de moda em nossos tempos, substituída que foi pelos terrores diários dos jornais televisivos. Mas as chacinas, corrupções e catástrofes com que somos bombardeados pela mídia são um pobre substituto para as obras inspiradas por Melpômene, a musa da Tragédia. Pois não há aprendizado e nem crescimento em testemunhar um sofrimento sem sentido.

“Ricardo III” é a segunda melhor tragédia de Shakespeare. Só perde para “Macbeth”, em minha opinião. As duas têm muito em comum, e principalmente uma característica que considero a mais alta expressão literária. Eu já havia detectado essa característica em algumas poucas e muito queridas obras, de cabeça agora lembro de “Sobre Meninos e Lobos” do Dennis Lehane. Mas foi só agora, ao ler pela segunda vez “Ricardo III”, que pude definir melhor que característica é essa.

No entender de Hermann Broch (autor de “Os Inocentes”), toda obra de arte deve expressar uma totalidade. Isso é admiravelmente alcançado em um romance (ou peça teatral) quando o autor consegue ligar efetivamente cada ato a sua consequência, cada ação ao seu resultado. Uma história esteticamente perfeita, percebo agora, é a que retrata bem o misterioso e inescapável conceito de “karma” (palavra em sânscrito que significa “ação”).

“Ricardo III” é um poderoso exemplo dessa totalidade. Que obra!!!


O lado Negro

A peça é repleta de passagens de grande lirismo, com a alta poesia sendo utilizada para retratar o lado mais sombrio do homem.

O cinismo de Ricardo, por exemplo, é expresso lindamente nessa fala que ele dirige a seu irmão mais velho:

“Tenho-te tal amor que dentro em pouco
mandarei para o céu tua alma cândida,
se aceitar destas mãos o céu a oferta.”
(Ricardo, Ato I, Cena I)

Ou então nessa passagem em que ele arquiteta casar-se com a mulher do homem que acabou de matar:

“Logo tomo
por mulher a mais nova filha de Warwick.
Que importa que ao seu pai e a seu marido
tivesse eu dado a morte? O melhor meio
de dar satisfações a essa donzela
é ficar sendo dela pai e esposo,
o que farei, não por amor, decerto,
mas por um fim profundamente oculto
que preciso alcançar com o casamento.”
(Ricardo, Ato I, Cena I)

A cena em que Ricardo faz a corte a Ana é sem dúvida uma das mais marcantes da história da literatura. Ele a conquista durante o funeral do Rei Henrique VI, assassinado por ele:

“Já houve, acaso, mulher, em todo o mundo,
que fosse cortejada desse modo?”
(Ricardo, Ato I, Cena II)


A força das palavras

“Ricardo III” é também um testemunho sobre a força das palavras. É impressionante como o Bardo conseguiu tecer uma trama tão intrincada, onde o destino de cada personagem é antecipado por toda sorte de profecias e maldições. Exemplar é o caso do Duque de Buckingham, que foi ele mesmo o autor das palavras que o condenaram:

“O Deus do alto,
que tudo vê, com quem eu gracejara,
fez contra mim voltar a falsa prece,
dando-me de verdade o que eu pedira
somente por gracejo.”
(Buckingham, Ato V, Cena I)

O próprio Ricardo demonstra em suas palavras a progressão e amargo fim de toda ambição. Ele começa cheio de gás e disposto a fazer todo tipo de maldade:

“Sol admirável,
brilha até que eu adquira um bom espelho
para eu ver com que monstro eu me assemelho.”
(Ricardo, Ato I, Cena II)

Logo, porém, ele percebe que se torna um escravo de suas próprias ações infames:

“Mas tão metido em sangue ora me encontro,
que um crime provoca outro.”
(Ricardo, Ato IV, Cena II)

A lei do Karma

Nenhuma ação humana, boa ou má, permanece sem consequência. Essa é, em essência, a lei do Karma. “O plantio é opcional, mas a colheita é obrigatória”, já diz o sábio ditado.

E as pérfidas ações de Ricardo maturam tetricamente e não tardam a produzir horrendos frutos. Cena poderosíssima é a aparição dos fantasmas dos assassinados pela ambição de Ricardo, na madrugada que antecede a batalha. Cada um deles, por sua vez, lança a pesada maldição:

“Amanhã pesarei sobre tua alma!
(...) Enche-te, pois, de desespero, e morre!”
(vários espectros, Ato V, Cena III)

Ricardo desperta assustado, e pela primeira vez tem um encontro com a voz da consciência:

“Ó consciência covarde, tu me assustas!”
(Ricardo, Ato V, Cena III)

E chega por fim à triste conclusão:

“Desespero; criatura alguma me ama.
Se eu morrer, nenhuma alma há de chorar-me.
Aliás, por que o fariam, se eu não tenho
piedade de mim próprio?”
(Ricardo, Ato V, Cena III)


Outras passagens marcantes:

“Perdida fora a mágoa
despendida por quem já está perdido.”
(Duquesa de York, Ato II, Cena II)

“É meu filho, de fato, e o meu opróbrio;
mas não bebeu, decerto, a hipocrisia
no leite destes peitos.”
(Duquesa de York, Ato II, Cena II)

“Não cedais facilmente aos nossos rogos;
neste ponto fazei como as donzelas
que dizem sempre não, mas vão cedendo.”
(Buckingham, Ato II, Cena VII)

“Ricardo apenas vive, o negro agente
do inferno, a quem foi dado o triste encargo
de comprar almas para o reino escuro.”
(Rainha Margarida, Ato IV, Cena IV)

“Veloz como a andorinha é a fé, eu o sei:
de reis faz deuses, de um campônio, um rei.”
(Richmond, Ato V, Cena II)

Last but not least

Foi uma sorte que justamente essa peça, que eu já havia lido no original, tenha sido a última das oito que li em sequência, na dedicada tradução de Carlos Alberto Nunes.

Pois não tem jeito mesmo: traduzir é trair. Que misteriosa é a linguagem humana, capaz de expressar uma cor única em cada idioma! Nunca fica a mesma cor depois de traduzida. Não é culpa da tradução, e sim uma condição inerente à linguagem!

Ao ler no original em inglês, duas passagens ficaram marcadas a ferro e fogo na memória, tamanha a sua força poética. E ao ler as duas em português, a decepção foi gigantesca!

A primeira é a frase que abre a peça:

William Shakespeare, Parte IV: Vida e morte do Rei João.



William Shakespeare não publicava suas peças já que a dramaturgia não era bem paga. Na época, não havia direitos autorais. O autor pretendia que suas peças fossem representadas em vez de publicadas.

Com o dinheiro adquirido na companhia teatral, comprou uma casa em Stratford-upon-Avon e muitas outras propriedades, tais como hectares de terras férteis e uma casa em Londres. Escreveu a maioria de suas peças entre 1590 e 1611. Por volta de 1611, ele aposentou-se em Stratford-upon-Avon, onde havia estabelecido sua família.

Principais obras:

- Comédias: O Mercador de Veneza, Sonho de uma noite de verão, A Comédia dos Erros, Os dois fidalgos de Verona, Muito barulho por coisa nenhuma, Noite de reis, Medida por medida, Conto do Inverno, Cimbelino, Megera Domada e A Tempestade.

- Tragédias: Tito Andrônico, Romeu e Julieta, Julio César, Macbeth, Antônio e Cleópatra, Coriolano, Timon de Atenas, O Rei Lear, Otelo e Hamlet.

- Dramas Históricos: Henrique IV, Ricardo III, Henrique V, Henrique VIII.

Frases de Shakespeare:

- "Dê a todos seus ouvidos, mas a poucos a sua voz."
- "Antes ter um epitáfio ruim do que a maledicência durante toda a vida."
- "Ser, ou não ser, eis a questão."
- "Sem ser provada, a paciência dura".
- "As mais lindas jóias, sem defeito, com o uso o encanto perdem".
- "Pobre é o amor que pode ser contado".
- "Nada me faz tão feliz quanto possuir um coração que não se esquece de seus amigos".

Bom demais voltar a ler o Bardo!

O contato com a Arte alimenta a alma, faz nascer um sorriso sereno no mais íntimo do ser.

Durante essa leitura fiquei refletindo muito sobre a Poesia, sobre a força que tem e o seu papel no mundo.

Uma fala poética nos conta muito mais do que o que a princípio se propõe a dizer. A poesia abre a porta para o maravilhoso, para um mundo mais amplo e verdadeiro que o “mundo vasto mundo”. É como um portal para outra dimensão, uma dimensão espiritual e mais próxima da realidade do ser.

Nenhum poeta houve como Shakespeare! Talvez Homero possa ombreá-lo, mas não superá-lo, certamente. Em Shakespeare a Poesia foi servida com excelência e brilhantismo inigualáveis!

E não estou falando de seus poemas hem! Estou falando da riquíssima linguagem poética que transborda de suas peças!

Ler uma peça de Shakespeare é uma profunda experiência poética. Sinto minha mente se alargando a cada nova metáfora estonteante, a cada nova imagem tão plena de sentido!

Realmente, Shakespeare é tão grande que é fácil duvidar que tenha sido um simples mortal.


Rei João

Essa peça faz parte dos dramas históricos de Shakespeare, ambientada no reinado de João Sem Terra, irmão do famoso Ricardo Coração de Leão. Foi o rei João quem assinou a Magna Carta, limitando os poderes do monarca e marcando um novo movimento na história.

É uma tragédia menos conhecida, escrita nos primeiros anos de Shakespeare, mas onde podemos ver o seu gênio em ação. Os personagens saltam das páginas e ganham vida. O destaque vai para o Bastardo, filho ilegítimo de Ricardo Coração de Leão, que sempre rouba a cena quando aparece.

“Juro que nunca amei tanto a mim mesmo
como agora, ao me ver reproduzido
na tela aduladora desses olhos.”
(Luís, ato II)

“Vou ensinar à tristeza a ter orgulho,
que a dor é altiva e ao sofredor faz digno.
Os reis que me procurem nos domínios
da minha grande dor.”
(Constança, ato III)

William Shakespeare, Parte III: A vida do Rei Henrique V.


Shakespeare é considerado um dos mais importantes dramaturgos e escritores de todos os tempos. Seus textos literários são verdadeiras obras de arte e permaneceram vivas até os dias de hoje, onde são retratadas frequentemente pelo teatro, televisão, cinema e literatura.

Os textos de Shakespeare fizeram e ainda fazem sucesso, pois tratam de temas próprios dos seres humanos, independente do tempo histórico. Amor, relacionamentos afetivos, sentimentos, questões sociais, temas políticos e outros assuntos, relacionados a condição humana, são constantes nas obras deste escritor. Essa peça encerra a tetralogia formada por “Ricardo II”, “Henrique IV partes I e II” e “Henrique V”.

A trama centra-se na famosa batalha de Azincourt, onde um reduzido efetivo comandado pelo rei Henrique conseguiu desbaratar o muito mais numeroso exército francês. Achei muito interessante como Shakespeare consegue transmitir as emoções e aflições da batalha sem que praticamente nada seja mostrado dela.

É claro que a leitura acabou me levando a pensar sobre a guerra de modo geral. Com o avanço tecnológico, as guerras de hoje são travadas à distância; mata-se apertando um botão ou um gatilho. As guerras hoje são muito mais cruéis e terríveis, mas penso que as guerras de antigamente exigiam muito mais coragem física e eram muito mais sanguinárias! Imaginem milhares de pessoas se matando na base da espadada e da marretada! Havia também, a julgar pelas peças de Shakespeare, um senso de honra muito maior entre os combatentes.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

William Shakespeare, Parte II: Ricardo II.


William Shakespeare (Stratford-upon-Avon, 23 de abril de 1564 — Stratford-upon-Avon, 23 de abril de 1616) foi um poeta e dramaturgo inglês, tido como o maior escritor do idioma inglês e o mais influente dramaturgo do mundo. É chamado frequentemente de poeta nacional da Inglaterra e de "Bardo do Avon" (ou simplesmente The Bard, "O Bardo"). O apelido de Shakespeare, “O Bardo” vem da história antiga da Europa, era uma pessoa encarregada de transmitir as histórias, as lendas e poemas de forma oral, cantando a história de seus povos em poemas recitados. Era simultaneamente músico e poeta e, mais tarde, seria designado de trovador.

De suas obras restaram até os dias de hoje 38 peças, 154 sonetos, dois longos poemas narrativos, e diversos outros poemas.


Ricardo II (no original, Richard II) é uma peça de teatro de William Shakespeare, do gênero drama histórico. Acredita-se que tenha sido escrita aproximadamente em 1595. É baseada na vida do rei Ricardo II da Inglaterra e é a primeira parte de uma tetralogia, tendo sido seguida por três peças sobre os sucessores de Ricardo II: Henry IV, Part 1, Henry IV, Part 2 e Henry V.

“Ricardo II” é a primeira parte de uma tetralogia, que é seguida por “Henrique IV, 1ª parte”, “Henrique IV, 2ª parte” e “Henrique V”.

O que mais marcou essa leitura foi a percepção de como o estudo dessas vidas de reis deve ter contribuído para a visão tão profunda que máster Shakespeare tem da alma humana!

O que esses reis aprontaram!

Sobre “Ricardo II”, basta dizer que o Bardo tornou sua morte mais heroica e poética. Pois há indícios de que na vida real Ricardo II foi morto de fome e sede, de tal modo que seus inimigos pudessem exibir seu corpo sem mostras de violência.

domingo, 27 de outubro de 2013

William Shakespeare, Parte I: Henrique IV.


Henrique IV de William Shakespeare. 

William Shakespeare (1564-1616) foi um dramaturgo e poeta inglês. É considerado um dos maiores escritores de todos os tempos. Viveu numa época de apogeu da Rainha Elizabeth I, considerada grande monarca da história da Inglaterra.

Breve biografia.

É difícil avaliar com precisão a vida particular de Shakespeare, já que os escritos encontrados não são confiáveis pelos historiadores. O que se sabe é que ele nasceu em Stratford-on-Avon e foi proprietário do Globe Theatre, uma companhia de teatro de Londres.

Shakespeare foi também poeta e publicou três livros em estilo renascentista: Venus and Adonis (1593), Lucrece (1594) e Sonnets (1609). Muitos de seus escritos foram perdidos, por isso, várias informações sobre o autor não são confiáveis. Das primeiras peças, se destacam Henry VI, Henrique III, Titus Andronicus (1589), The Comedy of the errors (Comédia de erros) e The Taming of the Shrew (Megera Domada) são as peças de sua mocidade.

Romeo and Juliet (Romeu e Julieta - 1597) e Midsummer Night’s Dream (Sonho de uma noite de verão - 1596), já são obras de sua juventude, ou primeira maturidade. A primeira é uma tragédia de amor conhecidíssima que encantou muitos jovens. A segunda é mais poética, com traços de humor. Merchant of Venice (O Mercador de Veneza - 1605), já possui traços mais sérios. Desta fase, destacam-se também: Richard II (1595), Henry IV ( Parte I, 1597; Parte II, 1600), Henry V e Julius César (1599). Esta última é muito conhecida, apesar de mostrar ainda certa imaturidade do autor.

A fase das tragédias sérias e maduras é a mais importante na carreira de Shakespeare. Hamlet (1599), embora criticada por muitos da época, é considerada uma das obras definitivas de Shakespeare. O enredo, cujo personagem central atormentado pela presença de seu pai morto numa trama para tomada de poder, é um dos temas mais comentados e conhecidos da literatura ocidental. Outras obras, tão importantes quanto Hamlet são dessa fase: Othello (Otelo - 1604), Macbeth (1611) e King Lear (Rei Lear - 1606). Macbeth é uma obra trágica baseada no tema da crueldade. É considerada a mais trágica das obras de Shakespeare e uma das melhores obras do dramaturgo.

A peça Otelo se baseia em temas como o ciúme e a perversão. Rei Lear é outra obra maior, que possui um enredo complexo e considerado de difícil representação. Da grande fase trágica, ainda pertencem Coriolanus e Anthony and Cleopatra (Antônio e Cleopátra - 1609).

No decorrer de sua vida, Shakespeare entrou num processo de reclusão, que durou até o fim de sua vida voltando para Stratford, lugar onde nasceu. Lá, produziu algumas obras como Henry III, Cymbeline, The Winter’s Tale (história do inverno - 1623). Mas a sua melhor peça dessa fase é Tempest (tempestade - 1623).

O grande mérito de Shakespeare é que ele juntou aspectos e características do estilo de vida inglês. As citações conhecidas da cultura anglo-saxônica e os folclores antigos foram incrementados em sua obra de forma organizada, num estilo peculiar. Suas peças foram encenadas pela Europa inteira, influenciando outros dramaturgos, inclusive, sobrepondo-se ao teatro francês, alemão e italiano.

É grande a sua influência até hoje, por conta da riqueza de seus personagens. O crítico literário americano Harold Bloom o considera o maior de todos os escritores.

Henrique IV (parte I) – William Shakespeare.

O Bardo dividiu as atribulações ocorridas durante o reinado de Henrique IV em duas peças sequenciais. Nessa primeira parte, o rei combate a rebelião de alguns nobres outrora seus amigos, que são liderados pelo intrépido Hotspur e pelo valoroso Douglas.

Bom, sobre “Henrique IV (parte I)”, só posso dizer que foi uma das peças que mais gostei de ler!!! Não chega a ser uma tragédia, é mais narrativa de aventuras pontuada por passagens cômicas. E nessas cenas cômicas é que está o melhor de “Henrique IV”, graças à impagável figura de Falstaff!!!

Já havia lido muito a respeito de Falstaff, e ansiava por finalmente conhecê-lo. Valeu a pena esperar! Mais uma criação imortal de Shakespeare, o roliço, fanfarrão, mentiroso e embusteiro Sir John Falstaff!!! Não há como não amar esse adorável patife!

Hotspur também aparece com destaque, um jovem nobre com fogo nas ventas! Os personagens de Shakespeare são tão ricos que acabam tornando-se mais vivos que a própria vida, mais reais que as figuras históricas nas quais foram inspirados.

Coisa boa demais é perceber como essa imersão em Shakespeare está me trazendo pensamentos e metáforas inspirados pelo Bardo! A vida é um caldeirão de poesia, aguardando só que a colher do Poeta pince daqui e dali um bocado de sabor e beleza.

Henrique IV (parte II) – William Shakespeare.


Nessa continuação ficam evidentes o carisma e a força que Falstaff adquiriu junto ao público. Falstaff ganhou ainda mais importância e destaque. Se na parte I, as cenas com Falstaff eram um contraponto cômico à narrativa histórica sobre o rei Henrique IV, podemos dizer que aqui é o contrário que acontece. A peça trata principalmente das reinações de Falstaff e seus companheiros, e a parte histórica serve de contraponto dramático!

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O lado B de Stalin e o culto ao ditador


O ditador que matou milhões de pessoas de fome, traiu companheiros e usou seu povo como bucha de canhão... Ainda tem fãs na Rússia, para quem ele foi responsável pela modernização do país e pela vitória sobre Hitler.

No começo do ano, no povoado de Akura, na Geórgia, a população reinaugurou um busto de Josef Stalin, o ditador que comandou a União Soviética com mãos de ferro e sede de sangue por três décadas, de 1922 até sua morte, há 60 anos. A estátua havia sido retirada pela prefeitura em 2010, mas os moradores resolveram gastar dinheiro do próprio bolso para restaurar a obra e devolvê-la ao seu pedestal na praça principal do lugar. "Não se pode esconder a história", disse a moradora Elgudja Bluishvili. "Se foi bom ou mau, ele agora é parte disso, e nasceu na Geórgia."


A história já deu a Stalin seu lugar: o de tirano cruel. O homem sem escrúpulos que não se importou em matar milhões de ucranianos, cazaques e siberianos de fome durante o perío-do de coletivização do campo na URSS, no início dos anos 30. O líder responsável pela morte de 700 mil bolcheviques e militares nos chamados Processos de Moscou, no qual a maioria das "confissões" era obtida por meio de tortura. O maquiavélico que fez alianças com membros do partido apenas para isolar supostos adversários e, em seguida, traí-los e condená-los à morte. O comunista sem princípios que se aliou ao nazismo com o pacto de não agressão de 1939. O general paspalho que usou a população russa como bucha de canhão na Segunda Guerra, na qual a URSS perdeu quase 24 milhões de pessoas (em comparação, as baixas da derrotada Alemanha não chegaram aos 8 milhões). Por fim, sua morte levou à divisão mundial do comunismo, com defensores e detratores que romperam com o monolito esquerdista que seguia os ditames de Moscou.

A volta do culto à personalidade de Stalin nos países da antiga União Soviética, em especial na Geórgia, onde nasceu, e na Rússia, a capital do império, não é obra de amadores nem se limita a fãs esparsos do ditador bigodudo. Ela encontra eco em intelectuais e historiadores. E pode ser vista nas ruas de Moscou. Desde outubro do ano passado, uma organização civil chamada Sindicato dos Cidadãos Russos recolhe assinaturas para devolver a Volgogrado o nome pelo qual a cidade se tornou célebre em todo o mundo: Stalingrado. Ali, durante a Guerra Civil que se seguiu à Revolução Bolchevique, Stalin conduziu o Exército Vermelho e conquistou uma grande vitória. Em 1925, quando ele já exercia plenamente o poder na URSS, o Comitê Central do Partido Comunista propôs que a cidade ganhasse seu nome - e como Stalingrado ela foi palco de uma das maiores, mais sangrentas e heroicas batalhas da Segunda Guerra. O nome perdurou até 1961.


Stalingrado

No site da organização, explica-se que "a posição do Sindicato dos Cidadãos da Rússia é simples e compreensível a cada patriota". O abaixo-assinado recolheu na internet 9 780 assinaturas a favor da mudança - e 687 contra. Na véspera das últimas eleições presidenciais, já se acreditava que o presidente russo, Vladimir Putin, rebatizaria a cidade para atrair eleitores. Membros do Clube de Especialistas de Volgogrado conseguiram mudar o nome da cidade por um dia em comemoração aos 70 anos da vitória das tropas soviéticas, em 2 de fevereiro. "A ideia é fazer disso uma tradição, enquanto não se resolve a questão da renomeação da cidade", diz o cientista político Vitáli Arkov, membro do grupo.

Stalin, batizado Iosif Vissarionovich Djugashvili, morreu em março de 1953. Desde então, a Rússia está na terceira onda de "desestalinização". A primeira, conduzida por Nikita Kruschev em seu discurso secreto no 20º Congresso do Partido Comunista da URSS, revelou os crimes de Stalin. Em 1961, quando Stalingrado foi rebatizada de Volgogrado, o corpo do tirano foi retirado do gélido mausoléu da Praça Vermelha, onde ainda hoje estão em exposição os restos de seu predecessor, Vladimir Lenin. Stalin foi enterrado próximo de um dos muros do Kremlin - ainda hoje é um dos túmulos mais visitados no local.

A segunda onda veio nos anos 80, com a perestroika de Mikhail Gorbachev. O líder que implodiu a URSS combatia qualquer manifestação de apoio ao totalitarismo. Um dos pontos altos dessa fase foi o filme Pokaianie (Confissão), de 1984. Uma crítica alegórica ao stalinismo, a ficção do georgiano Tenghiz Abuladze foi imediatamente proibida na União Soviética. Relançado três anos depois, com a abertura promovida por Gorbachev, ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes em 1987.

Por fim, a terceira onda é recente. Iniciou-se em 2010 com a nomeação de Mikhail Fedotov ao cargo de chefe do Comitê Presidencial para os Direitos Humanos. Uma das primeiras ações de Fedotov foi declarar guerra ao culto a Stalin. Ele contava com o apoio do então presidente Dmitri Medvedev para a criação de um novo projeto de "desestalinização da consciência russa" a partir de 2011. A confirmação de Fedotov no cargo em 2012 levou os russos, que antes acreditavam na contrariedade de Putin ao processo, a crer no seu apoio à desestalinização, apesar de seu silêncio quanto ao assunto.

O silêncio se explica. Até hoje o tirano goza da simpatia de uma boa parcela da população russa. De acordo com estudo do VtsIOM (Centro Russo de Pesquisas de Opinião Pública) publicado em abril de 2011, um em cada quatro russos afirma que sua família sofreu repressão na era Stalin. Mas só 26% dos entrevistados apoiam a "desestalinização" - e quase metade consideram os esforços como "tagarelice" e "mitificação". Também cresceu o número de russos que consideram o papel de Stalin como positivo: de 15% em 2007 para 26% em 2011.


Avanços econômicos

Combater o georgiano, notaram logo as autoridades russas, não era tarefa fácil. Na primeira vez em que se ensaiou uma reabilitação do tirano, não havia transcorrido nem dez anos de sua morte. O líder Leonid Brejnev, considerado um neostalinista, citou Stalin nas comemorações dos 20 anos do fim da Grande Guerra Patriótica, o nome como os russos chamam a Segunda Guerra. "Não devemos encobrir os erros, mas também não podemos encobrir os méritos. Portanto, respeitemos Stalin", disse Brejnev, sob aplausos.

Que méritos são esses? O ex-vice-presidente da Comissão Presidencial Contra a Falsificação da História em Favor dos Interesses da Rússia Issaak Kalina é conhecido por defender o uso de livros de história da Federação Russa redigidos por Aleksandr Filippov, os quais se referem a Stalin como "um administrador eficiente" e à repressão civil como "custos" do progresso. De fato, a habilidade como "administrador" é o principal argumento dos que advogam em seu favor hoje. Mesmo durante sua vida, teve seus méritos reconhecidos, até pela insuspeita revista conservadora norte-americana Time, que o escolheu "homem do ano" duas vezes, em 1939 e 1942.

Basta uma análise de alguns números dos dois primeiros Planos Quinquenais soviéticos, tocados a mando de Stalin. Vale lembrar que o planeta enfrentava a Grande Depressão que sobreveio ao Crash de 1929 (a URSS era um país isolado, mas ainda assim os avanços são impressionantes). "A economia soviética, segundo as mais recentes e confiáveis estimativas, cresceu no mínimo 70% entre 1933 e 1938", registra Richard Overy, professor do King¿s College de Londres, em seu livro Os Ditadores. Ainda que os esforços soviéticos não tenham valorizado o consumo de massa, o planejamento econômico dos comunistas foi capaz de, entre 1928 e 1937, fazer a produção de máquinas crescer incríveis 2 425%. O número da produção de automóveis foi catapultado de 800 unidades anuais para 200 mil no mesmo período. Muitos fundamentos do estudo da macroeconomia, hoje matéria obrigatória em cursos de economia, são resultado do trabalho dos burocratas soviéticos.

"Vinte milhões de pessoas morreram em três ou quatro anos com a Guerra Civil, e a Primeira Guerra resultou em ainda mais 1,5 milhão de mortos. O país sumiu do mapa da política mundial, era apenas sangue, chamas, violência", diz o historiador Aléksandr Vershínin, do Centro de Análises da Governança. "Stalin surgiu do sangue da guerra civil. E, no lugar do caos, instalou a calmaria."

Se houve calma, foi a paz dos cemitérios. Não existem números definitivos, mas fala-se em 8 milhões de mortos de fome na URSS, 5 milhões dos quais na Ucrânia, por causa da política de industrialização e da coletivização forçada do campo. Stalin enviava comissários para checar a produção e identificar desvio de grãos, mas não dava ouvidos às críticas. Quando um funcionário ousou relatar o que ocorria na Ucrânia, Stalin o cortou, como relata Simon Sebag Montefiore em Stalin, a Corte do Czar Vermelho: "Fabricar tal conto de fadas sobre a fome! Achou que nos assustaria, mas não vai funcionar". Em seguida, sugeriu que o burocrata deixasse o comitê central do partido na Ucrânia e entrasse para a União dos Escritores, onde poderia se dedicar à ficção. Mas a fome era real. Tristemente real.

Linha do tempo

1902 - A primeira das sete prisões de Stalin, que usava o codinome Koba, tirado de um romance

1905 - Atende ao congresso do partido, na Finlândia, onde atrai pouca atenção

1912 - Por indicação de Lenin, entra para o comitê central do partido e adota o nome Stalin

1913 - Publica um artigo sobre marxismo e questão nacional que vai ajudá-lo a crescer no partido

1917 - Torna-se editor responsável do Pravda, o jornal oficial dos bolcheviques

1917 - Na Revolução de Outubro, é ofuscado pelas ações de Leon Trotski

1918 - Destaca-se em vários fronts na Guerra Civil. Também vira comissário de nacionalidades

1921 - Em seu testamento político, Lenin pede que Stalin não ocupe o secretariado

1922 - Assume o posto que só deixaria morto: secretário-geral do comitê central do Partido Comunista

1924 - Lenin morre. Stalin e aliados eclipsam Trotski, o sucessor natural na liderança da União Soviética

1924 - Stalin assume o poder em um triunvirato, ao lado de Grigory Zinoviev e Lev Kamenev

1928 - Começa o processo de industrialização e de coletivização da agricultura na URSS

1929 - Stalin manda Trotski para o exílio, acusado de trair a revolução. Ele seria morto no México, em 1940

1934 - Sergo Kirov é assassinado em Leningrado. Foi o pretexto para os expurgos no partido

1936 - Kamenev e Zinoviev são julgados por traição, depois de confessarem sob tortura, condenados e mortos

1937 - Mikhail Tukhachevsky, maior autoridade militar do país, é condenado à morte por traição

1939 - URSS e Alemanha assinam o pacto de não agressão, que garante aos comunistas o leste da Polônia

1941 - Com a Operação Barbarossa, a Alemanha invade a URSS e em outubro chega perto de Moscou

1945 - Tropas soviéticas entram em Berlim e colocam a bandeira comunista no alto do Reichstag

1948 - Tito, o líder comunista da Iugoslávia, é o primeiro dirigente a romper com o stalinismo

1947 - Jdanov, membro do comitê central, inicia uma série de expurgos entre intelectuais e cientistas soviéticos

1953 - Stalin comanda a prisão e morte de médicos, a maioria judeus, que trabalhavam no Kremlin

1953 - Stalin morre sozinho em sua dacha depois de ser vítima de um acidente vascular cerebral

1956 - No 20º Congresso do Partido Comunista, Nikita Kruschev denuncia os crimes de Stalin


A vida íntima do ditador