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terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Feliz Natal!



"O construindo História Hoje vem desejar a todos as pessoas, independentes de seu credo, etnia, posição política, social ou qualquer outra criação humana que torne as pessoas menores ou maiores aos olhos de seus semelhantes um FELIZ NATAL! Que todos nós humanos, venhamos permitir que a mensagem do Cristo Jesus nasça em nossos corações e que a paz advinda dessa mensagem reine absoluta, assim como Cristo Reina acima de todos os povos e nações, acima de todo egoísmo e opressão. Dissipando toda as trevas pela luz do nascimento do Redentor. São os mais fraternos e sinceros votos que desejo a todos nós, filhos, irmãos, criação de um só Deus criador e construtor de tudo de vemos."

Leandro Claudir

(Criador e administrador do Projeto Construindo História Hoje)

Sambaquis, Parte I: Origens dos Sambaquis - Relatório de Arqueologia.

INTRODUÇÃO
                                                                                                                                                         Para dar inicio ao meu relatório farei primeiramente uma pequena exposição sobre a ciência que estuda os sambaquis: a Arqueologia é a ciência que procura entender os monumentos e vestígios de civilizações antigas e é uma ciência relativamente nova. Na segunda metade do século XIX, o campo e a prática dessa disciplina se firmaram e definiram suas bases. A arqueologia tem várias vertentes, cada uma voltada para uma área, com a arqueologia dos monumentos e obras de arte. A linha de seguimento arqueológico que nos interessa nesse relatório e a arqueologia pré-histórica cujas raízes remontam o século XVI, e foram fortalecidos no século XVII, com a multiplicação de achados associáveis a tempos remotos da história humanidade. No século XIX deu-se a cristalização da disciplina, com a formulação de princípios metodológicos.        
              O presente relatório tem por objetivo apresentar as pesquisas e estudos presentes sobre os Sambaquis do Litoral brasileiro. Suas origens e motivos de existência, quem os construíram e o mais importante o porquê os construíram e desse modo traçar um padrão das descobertas referentes aos mesmos. Por ser um tema muito importante para a arqueologia brasileira. Pois os sambaquis são praticamente encontrados em todo o litoral de nossa nação. Embora o que realmente importa é sabermos realmente o que é um Sambaqui e o porquê de sua construção.
              Compreendidos muitas vezes como sobras da alimentação dos homens Pré-históricos, e passam ainda sendo vistos como uma espécie de lixeira dos povos que ali próximos habitavam ou um acúmulo de detritos nos quais predominam conchas e ostras, misturadas costumeiramente com instrumentos de pedra e osso, esqueletos ou parte de esqueletos de animais e humanos, provas de que nos dão a certeza de não estarem definitivamente decifrados os significados plenos desses monumentos artificiais.  Mais um dos mistérios a ser revelado pelos estudos dos sambaquis é o fato de além de serem depósitos de restos alimentares são também monumentos funerários, aonde encontramos ossadas humanas e até sepulturas.

                                      Por definição, sambaquis – também conhecidos como casqueiros, concheiros, terraços, berbigueiros ou ostreiras – são grandes montes artificiais compostos por restos faunísticos característicos da região litorânea (mariscos, berbigões, conchas e ossos de aves e de pequenos mamíferos) que, acumulados ao longo de milhares de anos, conformaram enormes monumentos que serviram de acampamentos ou cemitérios, mas, sobretudo, como marcos paisagísticos para os colonizadores do litoral brasileiro, anteriores aos povos ceramistas dos quais descendem as comunidades indígenas atuais (GASPAR, 2004).

Muito trabalho tem sido feito por parte dos arqueólogos exigindo, dos políticos a criarem leis que regulamentem a preservação dos sambaquis, pois os sambaquis do Brasil podem atingir até uma idade de 10.000 A.P.

                                      A escatologia pode ser definida como um conjunto de representações  relativas ao destino post mortem do homem.  Tal conjunto faz            parte de uma herança cultural, de uma acervo da sociedade,          e não pode portanto, como assinala Max  Gluckman (1937:117) ser tido como uma reposta individual à ideia de morte.  (CUNHA, 1978, p.112).

              Nós, povos da atualidade, responsáveis por essas descobertas, deveríamos no mínimo respeitar a história destes povos que foram ancestrais de muitos de nós. Mesmo não sendo os monumentos mais velhos da Pré-história brasileira luta-se há muitos anos para defender a integridade dos sambaquis como reserva para a pesquisa cientifica.
              Este relatório será elaborado tendo em vista os sambaquis do litoral brasileiro e em particular os sambaquis do Sul do Brasil, e seu motivo de ser na história dos povos pré-históricos que habitavam os litorais do Brasil. Escolhi esse tema por diversas vezes ver os nativos das terras brasileiras serem considerados índios menos inteligentes ou desenvolvidos que os demais grandes impérios da América como os Incas, Maias e Astecas. Acredito que os Sambaquis possam ser o inicio de grandes descobertas que serviram para uma análise mais critica sobre essa opinião acerca da distinção cultura entre as tribos nativas do Brasil e os impérios da América pré-colombiana. Dou, por exemplo, a recente descoberta da hierarquização dos sambaquis pela altura. Quanto mais alto mais importante e respeitada era a tribo. Além do fato que esses nativos persuadiam outros povos com menos poder a deixarem seus restos materiais, alimentares em seu sambaqui, desse modo com mais pessoas cooperando mais rápido e maior eles ficavam. Como disse esse é só um pequeno nuance do que acredito que realmente tenha ocorrido pelo Brasil Pré-colonial. Conhecemos apenas uma ínfima parte da grande história que é a história dos nativos brasileiros.


Sambaqui Figueirinha I: Santa Catariana, com cerca de 18 metros de altura. Fonte: Wikipédia.


Sambaqui Figueirinha II: Santa Catarina, na praia de Nova Camboriú. Fonte: Wikipédia.


1. ORIGENS DOS SAMBAQUIS.

              Encontramos os sambaquis mais antigos entre os Estados de Paraná e São Paulo. Onde alcançam uma idade de até 4.000 anos a.C. Seguindo em direção norte e em direção ao sul desse ponto, os sambaquis são cada vez menos antigo, estimando que se os primeiros sambaquis surgidos em Torres tenham sido construídos mais ou menos a uns dois mil anos a.C.
              Quem foram seus fundadores e como essa adaptação ao litoral aconteceu ainda está por ser descoberta. Definimos os sambaquis como o acúmulo de conchas, ossos de peixes e outros resíduos de atividade humana, como resultado da ocupação do         litoral marítimo por grupos especializados em sua exploração para alimentação,          resíduos volumosos produzidos por população pré-histórica brasileira. Podendo chegar a formar morros de 30 metros da altura, ao longo de lagoas, lagunas, mangues, pântanos ou baías, onde os alimentos eram ricos, mas dificilmente são encontrados ao longo de praias retilíneas, onde o conjunto de alimentos calóricos é consideravelmente pouco.

Modelo de estratificação das camadas de um sambaqui do litoral sul catarinense, no Brasil: Fonte: Wikipédia.

              Podemos concluir que os homens que construíram os sambaquis, da região de Iguape, e Cananéia, viveram nesses lugares, entre 2 a 10 mil anos; ignoravam a olaria, e a agricultura, a domesticação de qualquer espécie, mesmo o cão, que os índios atuais conhecem. Viviam principalmente da pesca e da coleta e eram pouco ativos em relação à caça. Perante os estudos realizados nos sambaquis chegou-se a conclusão que não produziam instrumentos de grande eficácia para arremesso, como arcos e propulsores, devido a esse fator a caça terrestre era colocada em segundo plano.


Artefatos Líticos: 4. 1 a 4- Machados ou bifaces. 5 a 7- Afiadores. 8- Fragmento filito com depressões circulares artificiais. Uso hipótetico. 9 e 10- Machados de diabásio. Fonte: DUARTE, 1968. p. 24.

              Os sambaquis são monumentos artificiais construídos no decorrer do tempo por tribos que habitavam a região em tempos pré-históricos e que permanecem como seu legado a nossa civilização.


Artefatos líticos e ósseos: 1- Berloque de osso. 2,3 e 4 - Furadores. 5- Goiva de osso de mamífero. 6- Lâmina feita com osso de mamífero. 7 e 8- Agulhas com fundo. 9, 10 e 11- Pontas de osso. 12, 13 e 14 peças de osso sem perfuração. 15 e 17 - Goivas de osso. 16- Berloque de chifre de cervídeo. 18- Peça de osso. 19- Peça de osso com dimensão de 82 mm. 20- Peça longa feita com osso de Beleia, afiada numa das extremidades. Fonte: DUARTE, 1968. p. 33.
           
              A grande maioria dos sambaquis está localizada no litoral e são feitos de conchas marinhas, as praias eram uma das bases de aquisição de recursos alimentares do litoral, devendo-se isto ao farto fornecimento de fauna mamífera marinha, tais como cetáceos e penípedes, mesmo que seja raro encontrar vestígios em sítios da tradição Tupi-guarani desta espécie. Fragmentos de ossos de mamíferos calcinados foram encontrados nos sítios do Parque Nacional da Lagoa do Peixe.

                                     Tanto é a antiguidade dessas Ostreiras […] que a umidade pelo decurso dos tempos veio a dissolver as conchas de algumas delas, […] petrificando-se pouco a pouco com o calor, formou pedras tão sólidas […] Destas conchas dos mariscos que comeram os índios […] Na maior parte delas ainda se conservam inteiras as conchas e n'algumas acham-se machados (o dos índios eram de seixo muito rijo) pedaços de panelas quebradas, e ossos de defuntos, pois que se algum índio morria ao tempo da pescaria, servia de cemitério a Ostreira, na qual depositavam o cadáver e depois cobriam de conchas (Memórias para a História da Capitania de São Vicente apud FERREIRA et al., 2007, p.9).

              Entretanto são nos sambaquis marinhos que foram registradas significativas quantidades de ossos de fauna marinha descartada. Mas há sambaquis no interior, á margem de grandes e pequenos rios, cujas conchas provêm de moluscos fluviais e até terrestres. Todas as pessoas medianamente cultas têm notícia do que, em linhas gerais, seja um sambaqui. Os primeiros cronistas do século XV a XVIII tiveram já a sua atenção chamada para esses depósitos, atribuindo-os ao índio aqui encontrado. Não são poucas as referencias de Anchieta, Nobrega, Fernão Cardim, Gabriel Soares, Madre de Deus, e outros, aos numerosos sambaquis do Cubatão, de Itanhaem, alguns ao lado de São Paulo e, ainda hoje, o sítio chamado Casqueiro, na estrada São Paulo-Santos, conserva esse nome por causa dos sambaquis espalhados pelo Egá-guaçu, que é toda a baixada do Cubatão e Santos, área parte do Paleoarquipélago de alguns milhares de anos entre o oceano e a Serra do Mar. No próprio sambaqui pode haver grande diferença de idade, entre a última camada, no cume, e a primeira, na base, essa diferença pode atingir um longo período. Devido a isso, acontece, com frequência, que as camadas superiores sejam inteiramente diversas das demais, pela cultura diferente e até tipos humanos variados. A análise de todas essas descobertas, principalmente dos restos dos índios, tem conduzido a muita especulação disparatada, inclusive a de confundirem-se tais depósitos com a cultura do índio, quando o Homem do Sambaqui é muito anterior ao aqui encontrado. Essa informação somente os sambaquis dirão um dia se o índio do século XVI, do qual restam hoje muitos poucos, são descendentes do Homem do Sambaqui ou um invasor.


Sambaqui MAE-USP: acervo do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo. Fotografia de Eliel Bragatti e Renata Martins Rocha. Fonte: Wikipédia.

              O que temos por fato é que numerosos sambaquis continuam a existir como necrópole de nativos e em suas camadas superiores aparece, com frequência sepulturas dos selvagens atuais ou extintos pelo colonizador, cujos ossos e instrumentos são dados etnológicos e antropológicos ligados aos índios, de raça, cultura, cronologia, diferentes dos achados nas camadas inferiores, estes, sim, correspondentes aos sambaquianos, que pode ser colocado na categoria paleo-americana, em quase tudo diferente dos outros nativos.
              A verdade é que a atividade normal dos sambaquis terminou bem antes da chegada dos colonizadores europeus aqui na América. Pelo que sabemos os sambaquianos não teve olaria ou cerâmica, nem arco e flecha, talvez extinguiram-se devido a outros povos tecnicamente mais bem equipados e estes recém-chegados das migrações neolíticas, mais bem armados, portadores de uma cultura mais avançada marcaram o fim da Era dos Sambaquis.
                                   
                                    
Se considerarmos o problema apenas de um ponto de vistalógico, poderemos distinguir duas opções (1) entre outras ossíveis para uma sociedade: ela pode, por um  lado, enfatizar a oposição vivos/mortos e coloca-los sempre como divisão primária. Mas pode também fazer prevalecer a continuidade dos consanguíneos e relegar a oposição vivos/mortos ao segundo plano. A última opção poderá vir expressa – mas não virá necessariamente – em grupos de descendência unilineares e será consistente com existência de ancestrais concebidos como prolongamento senão parte integrante da sociedade. (CUNHA, 1978, p.142).

            Concentrados num único ponto estão os sambaquis lacustres que estão, nas margens da Lagoa dos Patos, enquanto que os marinhos distribuem-se ao longo da face intermareal. Isso ocorre porque naquele ponto da lagoa a salinidade é menor, favorecendo a proliferação do molusco e na praia a salinidade é homogênea em toda sua extensão, ocorrendo os sambaquis por uma área maior. Ao analisarmos a porção central da planície costeira, as áreas de captação de recursos estão inseridas em diferentes habitats e, às vezes, no mesmo nicho ecológico. Como exemplo, o marisco cujo habitat é a zona de arrebentação, está num mesmo nicho ecológico que os peixes, ou seja, a beira do mar. Existe  uma relação entre populações e recursos, que para determinarem estratégias particulares de exploração constatam a disponibilidade das fontes alimentares e seu potencial energético. Já na planície costeira central, entre os municípios de São José do Norte e Mostardas, as áreas que mostram melhores condições de habitabilidade e alimentação para a tradição Tupi-guarani são aquelas contíguas e próximas à Lagoa do Peixe, isto é, os campos de dunas vegetadas, as matas ciliares e a proximidade entre as lagoas internas e as matas insulares, pois a fauna é mais abundante e o solo mais fértil.
             

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

A história escondida: a participação dos soldados das colônias africanas nas grandes guerras

Por Herbert Ekwe-Ekwe; Professor britânico, especialista em Estados, genocídios e guerras na África e colaborador do Observatório das Nacionalidades. Tradutor: Sued Lima.

               Em texto primoroso de 2008, a bióloga e ativista ambiental queniana Wangari Maathai, primeira africana a receber o Prêmio Nobel da Paz, em 2004, reflete sobre o pouco conhecido papel dos africanos nas guerras mundiais:  

“Na minha família havia um membro ausente, cuja existência desconheci até atingir a idade adulta. Durante a Primeira Guerra, africanos das colônias foram recrutados para lutar e, no Quênia, os pais com filhos em idade para combater deviam apresentá-los às autoridades. Meus avós tinham um filho, Thumbi, de 20 anos, e não queriam que ele fosse para a guerra. Em desespero, minha avó o aconselhou a esconder-se na densa vegetação que margeia o rio Tucha. Mas Thumbi foi capturado pelos britânicos e tornou-se um dos mais de cem mil homens da etnia Kikuyus que morreram em combate, de fome ou de doença. Minha avó chorou a perda do filho pelo resto de sua vida”.

            Somente nessa guerra, a África perdeu cerca de um milhão de soldados em frentes de batalha a leste e oeste do continente e na própria Europa, lutando tanto pela Inglaterra, França, Itália, Bélgica e seus aliados, como pelos seus oponentes Alemanha e Impérios Austro-Húngaro e Otomano. As duas guerras mundiais foram confrontos nos quais os africanos se viram compulsados a atuar sem que os interesses de qualquer dos lados lhes dissessem respeito. Os dois principais protagonistas, Grã-Bretanha e Alemanha, eram os grandes usurpadores do território africano desde 1885, responsáveis por saques de recursos naturais e massacres de grandes parcelas dos povos autóctones, o que produzia uma cruel contradição: soldados naturais dos territórios ocupados combatiam ao mesmo tempo a favor e contra opressores de sua própria gente. 


             Nas comemorações do corrente ano que tiveram lugar em toda a Europa, lembrando efemérides de ambos os conflitos mundiais, um tema recorrente tem sido o de definir o papel dos africanos em tais confrontos, o que é desconhecido por muitos. A dificuldade que o cerca é a de explicar a forma perversa a que foram submetidos esses povos, mantidos longe dos acordos e tratados firmados após o cessar fogo. 

            O Tratado de Versalhes, de 1919, liberou todos os europeus subjugados, enquanto os africanos das regiões ocupadas por alemães na Namíbia, Tanzânia, Camarões, Togo, Ruanda e Burundi não tiveram sua liberdade restaurada; apenas assistiram a alternância de potências ocupantes, que passaram a ser a Grã-Bretanha, França e Bélgica. 

            A independência de países africanos no pós-Segunda Guerra foi claramente rejeitada pelo primeiro-ministro britânico Winston Churchill, em discurso proferido em novembro de 1942, em Londres: “Eu não me tornei primeiro-ministro do rei para presidir a liquidação do Império Britânico”. Na mesma linha, Charles de Gaulle, líder das Forças Francesas Livres exiladas na Inglaterra, desde que a Alemanha invadiu a França, em 1940, se opôs enfaticamente à independência de países africanos. 


             Em artigo publicado recentemente no tabloide britânico Mail on Sunday, George Carey, ex-arcebispo de Canterbury, lembra: “Este ano, somos lembrados pelas comemorações de duas guerras mundiais que nossas tradições democráticas são preciosas. Nossos pais e avós lutaram contra o totalitarismo pela sobrevivência desses valores”. A avaliação de Carey não incorpora o sacrifício africano, engrossando o caráter assimétrico da interpretação histórica, verdadeira camisa de força totalitária aplicada ao continente por todos os Estados que dominaram territórios na África. 

            Poucos anos após o término da Segunda Guerra, a Grã-Bretânia iria desfechar duas campanhas devastadoras em nações africanas que se colocavam na vanguarda da luta contra a ocupação: o povo gikuyu, do Quênia, na década de 1950, com a morte de dezenas de milhares de pessoas, e na Nigéria, com o genocídio do povo igbo, entre 1966 a 1970, produzindo o massacre de cerca de 3,1 milhões de pessoas. 

              Em seu depoimento sobre o tio Thumbi, Wangari Maathai escreve: “O governo britânico levou meu tio para a guerra dele, não o trouxe de volta e não se preocupou sequer em dizer aos meus avós o que havia acontecido com ele”. Eu complementaria dirigindo-me aos governos de todos os países europeus envolvidos em ambas as guerras: 

“Nossos irmãos foram recrutados para lutar por vocês e nunca voltaram. Ninguém se dignou a nos dizer o que havia acontecido com eles”. 

domingo, 7 de dezembro de 2014

Maconha prejudica tratamento de dependentes de crack


“As áreas de recompensa sofrem modificações com o uso das drogas que facilitam a adição no futuro. O cérebro fica pronto para a dependência.”

Rodrigo Grassi de Oliveira

GRUPO DE mulheres que usaram Cannabis sativa antes dos 15 anos tem 3,97 vezes mais chance de sofrerem sintomas de abstinência que as demais.

Por Ana Paula Acauan

          
 Ampla pesquisa sobre a vulnerabilidade de mulheres dependentes de crack e sua exposição ao trauma na infância rendeu publicações de artigos e defesas de teses e dissertações de integrantes do Grupo de Pesquisa Neurociência Cognitiva do Desenvolvimento, do Núcleo de Pesquisa em Trauma e Estresse, dos Programas de Pós-Graduação em Psicologia e Pediatria. Dois anos depois de finalizado o estudo, novas revelações vêm mostrar que a maconha prejudica o tratamento dessas mulheres. Das 93 investigadas, as que começaram a usar Cannabis sativa antes dos 15 anos têm 3,97 vezes mais chance de sofrerem com sintomas de abstinência durante a desintoxicação de crack do que as demais. Para aquelas que, nos últimos cinco anos, fumavam maconha regularmente (três vezes por semana, pelo menos), a chance de piorar aumentava para 2,84 vezes.

          Os pesquisadores, liderados pelo psiquiatra Rodrigo Grassi de Oliveira, procuraram saber se as mulheres precisaram voltar à Unidade Psiquiátrica São Rafael, do Sistema de Saúde Mãe de Deus, em Porto Alegre, dois anos e meio depois de completado o estudo. Oitenta por cento de todas as entrevistas (146 no estudo geral) fizeram novamente o tratamento no local, que dura no máximo, 21 dias (coberto pelo Sistema Único de Saúde). A média de reinternações foi maior entre as usuárias com histórico de abuso de maconha (5,29 vezes) em relação àquelas sem essa trajetória (4,41).

              Para Grassi de Oliveira, esses resultados evidenciam a necessidade de repensar o discurso defendido por alguns profissionais de que uma droga seria um substituto ao crack. “Na balança científica, ponderamos fatores que poderiam alterar os resultados, como uso de álcool e tabaco e idade, testamos todas as hipóteses e nos surpreendemos com o resultado.” O psiquiatra destaca que a dependência não começa de uma hora para outra; vai  se consolidando ao longo da vida. “As áreas de recompensa sofrem modificações com o uso das drogas que facilitam a adição no futuro. O cérebro fica pronto para a dependência.” Virá para a PUCRS, somar-se aos estudos, o professor Timothy Bredy, das Universidades da Califórnia (EUA) e de Queensland (Austrália), pelo programa Pesquisador Visitante Especial, do Ciência sem Fronteira (CNPq). Ele estuda em modelos animais como o ambiente altera o DNA.

           Os próximos passos do Núcleo são buscar alvos de proteção á mulher usuária, incluindo a realização de um manual de políticas e cuidado dirigido a profissionais da saúde. Os pesquisadores pretendem ainda entender o ciclo de vulnerabilidade. Noventa por cento das mulheres do estudo relataram histórico de algum tipo de abuso ou negligência na infância. Grande parte delas têm filhos e há preocupação de que os maus-tratos possam se repetir na relação com as novas gerações. Na amostra, grande parcela de mulheres morava na rua e todas haviam procurado tratamento voluntariamente. A maioria desejava largar o crack.


              Curiosidade científica

            Vasculhando o banco de dados, o psicólogo Thiago Viola, aluno do Programa de Pós-Graduação em Pediatria e Saúde da Criança, e seus colegas, notaram que as entrevistadas, em geral, reduziam os sintomas de abstinência do crack durante a desintoxicação. Mas um bom número não obteve efeitos positivos no tratamento, às vezes até piorando.

          Em debates com Grassi de Oliveira e atento a artigos recentemente veiculados, Viola deu-se conta de que o uso de maconha poderia ter implicações com esse resultado. Essa curiosidade científica rendeu uma conclusão inédita para a área de pesquisa em crack e uma publicação na revista científica Drug and Alcohol Dependence, uma das mais importantes da área.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

A cultura do sorriso


"Eu sou feliz," ela mente.

Filósofo Pascal Bruckner

              O que é felicidade? Como disse Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas, a felicidade acontece em pequenos momentos de distração. Segundo Pascal Bruckner, filósofo, romancista e ensaísta francês, a felicidade não é algo simples e não é possível controlar sua chegada ou seu momento de partida. Para ele, o importante é saber reconhecê-la. “Muitas pessoas, sobretudo jovens, esperam um destino fora do comum, e não sabem aproveitar a felicidade quando ela chega ou estão com ela. A arte de viver talvez a esteja em aceitar as pequenas felicidades, sem esperar uma espécie de redenção mágica que traz sofrimento”, comenta.

Será que a felicidade obtida em detrimento de outrem merece ser chamada de felicidade? Não poderíamos fazer da liberdade, da justiça, da solidariedade valores mais importantes que a felicidade propriamente dita? (Pascal Bruckner, 2014).

              Autor de 15 livros, vencedor de importantes prêmios literários europeus, doutro em Letras pela Universidade de Paris VII, Bruckner lecionou em Nova York e em San Diego e colabora com a Revista Nouvel Observateur. Sua obra Lua de fel foi adaptada para o cinema por Roman Polanski. Ele visitou Porto Alegre para a conferência no Curso de Altos Estudos Fronteiras do Pensamento, do qual a PUCRS é parceira cultural, e esteve na Universidade, em outubro, participando do Fórum Extensionista. Na ocasião, concedeu, com exclusividade, a seguinte entrevista à revista PUCRS.

O capitalismo transformou a felicidade em obrigação e produto a ser consumido? Como sair desse ciclo?

              A felicidade não é simplesmente um produto que se compra. Se fosse o caso, seria muito fácil recusar essa obrigação. A obrigação da felicidade vai além do consumismo; é algo que está ligado à imagem que temos de nós mesmos; tem mais a ver com construtivismo pessoal que com um simples gesto de um comprador no supermercado. Somos então intimados a construir nós mesmos nossa felicidade, dia a dia, do berço ao túmulo. Uma mudança do sistema econômico não mudaria essa obrigação.

Se a pessoa cria metas que têm como fins a felicidade, ao alcança-las corre o risco de ficar indiferente?

              Sim. Essa é a ironia da coisa. A felicidade recua à medida que procuramos alcança-la e às vezes acontece nas coisas muito pequenas e nos escapa quando fixamos metas grandiosas. Não há meio nenhum de prevê-la. Podemos tentar captura-la como a um pássaro numa armadilha, mas não podemos ter certeza de que o pássaro da felicidade vai pousar ali, mesmo que façamos todos os esforços para isso. Muitas vezes, a preparação para a felicidade leva mais tempo que a própria felicidade dura e, quando ela chega, estamos exaustos.

A felicidade real é muito diferente da mostrada em redes sociais?  Essa representação que as pessoas fazem, o desejo de mostrar que são felizes, atrapalha?

              É um código de representação de si mesmo que pressupõe uma espécie de euforia permanente, como nas eleições quando os candidatos se apresentam sempre sorrindo, sempre simpáticos, amantes, humanos. Da mesma forma, há uma espécie de sorrir perpetuo que habita nosso rosto hoje. Devemos todos estar bem, ser simpáticos, estar abertos e essa evidentemente é uma linguagem puramente artificial. É uma cultura do sorriso.

O desejo de ser feliz não é mais que uma ideologia, não é algo intrínseco? É possível não buscar a felicidade e conviver com essa escolha?

              Penso que o que é inerente em nós é a fuga da infelicidade, evitar a solidão, o sofrimento, o desamparo. A felicidade não é simplesmente a ausência da infelicidade, ela tem uma qualidade suplementar, de um momento particular da vida. Então, ao mesmo tempo em que buscamos não ser infelizes, buscamos também fugir do tédio. E tentamos levar uma vida mais intensa.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Misteriosos círculos gigantes de pedra no Oriente Médio


Esse é o círculo apelidado de J2 visto a partir do ar. Tem cerca de 390 metros de diâmetro.

Enormes círculos de pedra descobertos por via aérea no Oriente Médio foram fotografados com alta resolução para revelar sua idade e outros detalhes intrigantes.

Há décadas, arqueólogos na Jordânia tentam entender o que são esses círculos, chamados de “Big Circles” (Grandes Círculos). Onze deles, construídos com muros de pedra, foram descobertos na região em 1920 por aviões, e até hoje os cientistas não têm certeza da sua finalidade.

Desde então, pouca investigação havia sido feita sobre as estruturas. Agora, as novas imagens aéreas sugerem que os círculos foram criados pelo menos dois mil anos atrás, possivelmente datando de tempos pré-históricos.

Os círculos

Um poço expondo várias camadas da parede de pedra do círculo J3 pode ser visto na imagem abaixo. Os pesquisadores acreditam que uma dúzia de pessoas, trabalhando duro, poderia construir um círculo desses em aproximadamente uma semana, embora a criação de uma forma tão precisa fosse algo bastante complicado.


No geral, esses grandes círculos são parte de uma paisagem rica em estruturas de pedra, como as chamadas Rodas (estruturas com raios irradiando para fora) e Papagaios (estruturas de pedra usadas para canalizar e matar animais).

A fim de descobrir para que esses misteriosos círculos eram usados, os arqueólogos ainda precisarão fazer muito trabalho de campo.