Anjo da morte (detalhe) por Evelyn De Morgan
Segue-se abaixo uma seleção do significado da morte para diversas
religiões, que a interpretam de maneiras diferentes. Entendo a palavra morte do latim mors, o óbito do latim obitu,
falecimento (falecer+mento) ou passamento (passar+mento), ou ainda desencarne
são termos que podem referir-se tanto ao cessamento permanente das atividades
biológicas necessárias à manutenção da vida de um organismo, como ao estado
desse organismo depois do evento. As alegorias comuns da morte são o Anjo da
Morte, a cor negra, ou o famoso túnel com luminosidade ao fundo. A morte é o
fenômeno natural que mais se tem discutido tanto em religião, ciência, opiniões
diversas. O Homem, desde o princípio dos tempos, tem a caracterizado com
misticismo, magia, mistério, segredo. Confira, em ordem o que as religiões
dizem sobre o tema:
Significado: Os protestante acreditam que a morte é apenas uma passagem
para outra vida e não aceitam a reencarnação.
"O movimento protestante acredita na próxima vida, mas em comunhão com
Deus. Falar na vida eterna da alma é limitado porque acreditamos na
ressurreição do corpo", diz o pastor da Igreja Metodista Fernando Marques.
Céu e inferno: Para os protestantes, existe o céu e o inferno. O
julgamento ocorre não pelas ações da pessoa em vida, mas pela fé que ela teve
na palavra de Deus e pelo amor ao Senhor.
Rituais: Os rituais de velório e enterro são semelhantes aos dos demais
religiosos. No entanto, quando um protestante morre, o velório é feito em
função da família e não para o morto. O mais comum é que o velório ocorra na
igreja, mas também pode ser feito no próprio cemitério.
Os seguidores do protestantismo não usam velas, apenas flores. O ritual,
chamado de Liturgia para Ofício Fúnebre, costuma ser feito pelo pastor, mas na
ausência dele um leigo pode fazê-lo. A participação da comunidade é muito
importante. São feitas leituras bíblicas e orações espontâneas.
O corpo do morto, de acordo com as tradições protestantes, pode ser cremado ou
enterrado. Se for enterrado, no cemitério o corpo é acompanhado até o túmulo,
onde a família recita um versículo da bíblia e o pastor faz uma breve
despedida.
Não há cerimônias após a morte: Diferentemente da Igreja Católica, não
há celebrações após a morte. Se a família desejar, pode fazer um culto de
gratidão a Deus pela vida da pessoa, mas não é uma norma.
Os protestantes não têm imposição quanto ao luto.
CATOLICISMO
Significado: Para os católicos, a morte é uma passagem. "Não
existem mortos, mas vivos e ressuscitados. O Senhor nos toca e nos reerguemos
para a vida eterna", diz o padre Paulo Crozera, coordenador da pastoral
Universitária da PUC-Campinas.
Não há reencarnação: Os seguidores do catolicismo acreditam que a morte
é o batismo definitivo, o caminho para a vida eterna. Para eles, corpo e alma
são uma só coisa. A reencarnação não é aceita.
Rituais: Os católicos velam os corpos do mortos e, além das orações
populares que costumam ser feitas durante o velório católico, como o Pai Nosso
e a Ave Maria, um padre ou ministro leigo das Exequias faz uma celebração para
encomendar a vida da pessoa às mãos de Deus. Nesse ritual, há a celebração da
passagem do morto à luz do mistério da morte, por meio de orações e da benção
do corpo.
Simbolismo: As velas, colocadas ao lado do caixão, simbolizam a luz do
Cristo ressuscitado, e as flores são a "primavera da vida que floresce na
eternidade".
Celebrações: O corpo pode ser enterrado ou cremado. No momento do
enterro, há a "benção do túmulo", cujo objetivo é pedir o acolhimento
do corpo pela terra. Depois de enterrado, ocorrem celebrações em memória do
morto no sétimo dia, no primeiro mês e no primeiro ano.
JUDAÍSMO
Significado: Para os judeus, a morte não é o final da vida, apenas o fim
do corpo, da matéria. "A verdadeira pessoa, que é a alma, é eterna",
diz o rabino Avraham Zajac.
Reencarnação: Os seguidores da leis judaicas acreditam na existência de
outro mundo, para onde as almas vão, chamado de olam habá (mundo vindouro). No
entanto, a alma pode voltar para a terra, num outro corpo, para completar sua
missão (reencarnação).
"Acreditamos que a situação de vida que a alma terá depende de como a
pessoa viveu no nosso mundo. Não são dois mundos diferentes porque o tipo de
vida levado aqui afeta a vida no olam. Cada alma está na terra por alguma razão
e tem uma missão a cumprir", diz o rabino.
Rituais: Apesar de acreditar que a alma seja eterna, os judeus sentem a
dor da perda e acreditam que ela deve ser expressada de várias maneiras.
Quando um judeu morre, há um ritual chamado de tahará (purificação), no qual o
corpo é lavado pelo chevra kadisha (grupo sagrado). Os judeus não permitem que
seus mortos passem por autópsia.
Depois de lavado, o corpo é envolvido em panos brancos e o caixão é fechado
para que ninguém mais o toque. O enterro deve ocorrer o mais rápido possível.
"Tudo usado no enterro deve ser de materiais simples, das vestimentas ao
caixão, para não haver distinção entre um e outro", diz o rabino. Por isso
não são usadas flores nem velas.
Não é permitida a cremação: As leis judaicas não permitem que o corpo
seja cremado. "Tudo tem que voltar para a sua origem, da mesma forma que a
alma volta. Se o nosso corpo saiu do barro, da terra, a maneira mais
respeitável é colocá-lo de volta", afirma o rabino.
Cerimônias: Junto do corpo, familiares e amigos rezam salmos e partes da
Torá (livro sagrado dos judeus). Os parentes mais próximos rasgam um pedaço da
roupa para mostrar o luto, que tem três etapas.
A primeira delas dura uma semana. Durante este período, os parentes mais
próximos não saem de casa nem para trabalhar. A roupa rasgada usada no enterro
não é trocada durante a primeira semana. Não há cuidado com o corpo porque a
preocupação é voltada apenas à parte espiritual. Por isso, todos os espelhos da
casa são cobertos.
Na primeira etapa, todos os amigos e familiares visitam a família que está de
luto e conversam sobre a pessoa que morreu. "Não é saudável fazer de conta
que nada aconteceu. Acreditamos que as pessoas tem que demostrar seus
sentimentos", diz.
Até o final da segunda etapa do luto, que acaba depois de 30 dias, os homens
não fazem a barba e os cabelos também não podem ser cortados. O luto termina no
primeiro aniversário de morte, mas a pessoa sempre é lembrada na data de morte
por todos os anos seguintes.
ISLAMISMO
Significado: Para os seguidores do islamismo, a morte é uma passagem
desta vida para outra eterna. "Quem fizer o bem será julgado por Deus e
vai para o paraíso. Quem fizer o mal também será julgado e irá para o
inferno", diz Abdul Nasser, secretário-geral da Liga Juventude Islâmica do
Brasil.
Os muçulmanos acreditam que o corpo após a morte não significa mais nada, mas a
alma continua tendo valor. A morte se dá, portanto, quando o corpo se separa da
alma.
Rituais: De acordo com as leis islâmicas, o corpo do morto é lavado
pelos familiares -sempre do mesmo sexo- e enrolado em três panos brancos.
Depois, é colocado num caixão para que os parentes mais próximos se despeçam
dele.
Em seguida, o corpo é levado à mesquita do cemitério islâmico e a partir deste
momento apenas os homens participam da cerimônia. O sheik faz as orações para a
alma da pessoa, numa celebração que dura cerca de duas horas.
O caixão é carregado para o túmulo, composto por quatro paredes de pedra, onde
o corpo será colocado sem o caixão em que foi transportado. O buraco é tampado
com pedras e só depois de totalmente fechado a terra é jogada sobre a tampa.
Não é permitida a cremação: A cremação do corpo não é permitida pelas
leis islâmicas.
O luto pela pessoa morta dura três dias. No entanto, quando a mulher perde o
marido, o tempo de luto é de 4 meses e 10 dias. Na ocasião, a mulher não pode
sair de casa, a não ser em caso de emergência.
Pela tradição muçulmana, quando a mulher perde o marido e está no começo de uma
gravidez, ela deve se despedir passando debaixo do caixão, para mostrar aos
presentes que espera uma criança.
"Acreditamos num Deus único, absoluto e individual, que jamais gerou ou
foi gerado", diz Nasser.
Significado: Para os budistas, a morte é a única certeza. "Se nos
lembrarmos da inevitabilidade da morte, geraremos o desejo de usar nossa
preciosa vida humana de modo significativo", diz Ani-la Kelsang Pälsang,
do Centro Budista Mahabodhi.
"Treinamento": Os budistas acreditam que treinando a mente
durante a vida, o indivíduo estará tranquilo e sereno quando chegar a hora de
morrer, o que garantirá um renascimento afortunado.
Reencarnação: Os seguidores do budismo acreditam na reencarnação.
"A única coisa que passa de uma vida para outra é nossa mente sutil. Como
um pássaro mudando de ninho em ninho. Buda compara o processo de morrer e
renascer com o ciclo de dormir, sonhar e despertar", diz Ani-la.
Reflexo da vida: De acordo com o budismo, toda ação em vida influencia
decisivamente na vida futura. Para Buda, se a pessoa quiser saber quem foi no
passado, basta olhar para sua condição no presente.
Ajuda: Diante da morte, os budistas procuram manter o equilíbrio e
ajudar os amigos ou parentes que estejam morrendo. Evitam o choro e o desespero
para que a mente da pessoa permaneça positiva.
Rituais: No Japão, de acordo com a monja zen-budista Coen de Souza,
usam-se flores dentro do caixão, tradicionalmente, e, além disso, uma tigela
com arroz cozido, água, um vaso com flores, velas e incenso são colocados sobre
uma mesa para que nada falte ao morto.
Os budistas têm vários rituais funerários. Um deles é o powa (transferência de
consciência), quando toda prece feita com intenção de ajudar o morto é válida e
traz benefícios.
Não há luto: Há apenas preces e dedicação dos pensamentos positivos à
pessoa que morreu. No entanto, nos lugares lugares mais tradicionais, como no
Japão, a família guarda até 49 dias de luto como sinal de respeito.
Significado: Para os seguidores do espiritismo, a morte não existe. O
espírito usa o corpo físico como instrumento para se aprimorar. "O corpo é
uma veste e a reencarnação serve para o espírito evoluir", diz Ana Gaspar,
das Casas André Luiz.
Reencarnação: Quando o corpo morre, o espírito se desliga e fica no
mundo espiritual estudando e se preparando para uma nova encarnação. Com a
reencarnação, o espírito adquire experiências e evolui em outro corpo
sucessivamente.
Rituais: Os espíritas velam e enterram seus mortos da mesma maneira que
os demais religiosos. Durante o velório, fazem preces e procuram manter o
equilíbrio porque o espírito do desencarnado pode continuar por perto durante
um período.
Os espíritas não usam velas nem flores nas cerimônias fúnebres. O corpo pode
ser enterrado ou cremado. Não existe luto e a vida dos familiares segue
normalmente. "O espírita não tem fé, ele tem certeza", diz Ana.
Posicionamento dos Luteranos em
relação a enterro e cremação.
Foto de Cemitério Luterano no RS. O anjo segura uma faixa com epitáfio
em alemão: “Abençoados
são os que morrem no senhor.”
A
morte não faz parte do propósito salvífico de Deus para com a sua criação. Está
diametralmente oposta à vida, que é característica de Deus (Rm 6.23). Portanto
deve ser vencida. É o último inimigo de Deus. A vitória de Deus sobre a morte
já aconteceu no evento da cruz e da ressurreição de Jesus Cristo. Jesus,
integralmente, se expôs ao poder da morte e com isso a venceu em seu bojo. Por
ser Cristo o primogênito dentre os mortos, cremos em vida para além da morte.
Esta vida nos é dada por Deus, e nós a podemos viver já agora em comunhão com
ele. Temos a certeza de que a realidade de Deus é mais forte que a morte (Rm.
8.31-39), razão pela qual esperamos em que faça nova criação e dê nova vida ao
ser humano. Esta certeza norteia também o sepultamento cristão.
Consequentemente,
o sepultamento
é para a Igreja oportunidade de testemunho público de sua fé na ressurreição e
de consolo aos enlutados. Representa igualmente um ato de respeito ao defunto,
lembrando que o corpo humano, mesmo falecido, é criação de Deus.
O
sepultamento é mais que um ato familiar. É um ato comunitário. A Comunidade
cristã é chamada a cuidar de seus doentes, de seus moribundos, de sepultar os
mortos condignamente e de acompanhar os enlutados. Como o sepultamento diz
respeito a toda a Comunidade, deve-se dar especial atenção à participação desta
Comunidade.
A
esperança é o centro do sepultamento cristão. Ela é testemunhada em meio ao
sofrimento e ao lamento diante da morte. Expressa-se nas leituras bíblicas, nos
hinos, nas orações e principalmente na pregação. Confessa-se, pois:
- que
Deus é o Senhor dos vivos e dos mortos;
- que
a "comunhão dos santos" engloba os vivos e os que morreram em
Cristo;
- que
todos os presentes ao sepultamento estão caminhando em direção ao dia da
ressurreição.
Assim a família e a Comunidade despedem-se da pessoa tirada de seu meio
pela morte, na certeza de que Jesus Cristo ressuscitou e há de ressuscitar
também a nós.
A
pregação deve orientar-se na situação específica. Esta também determinará a
escolha do texto. (...) A mensagem do juízo e da graça de Deus deverá ser
anunciada em relação ao momento específico.
É
convicção luterana que nada podemos fazer para influenciar a sorte das pessoas
falecidas junto a Deus. Deus é soberano em seu juízo e em sua graça. Por isto
se proíbem "cultos em favor dos falecidos" ou atos semelhantes. O que
podemos fazer é agradecer por suas vidas, recomendá-los à graça divina e por
eles interceder. (...)
Na
fórmula de sepultamento importa evitar falar em "entregarmos seu
corpo...". Tal linguagem pode fomentar compreensões espíritas, de que o
corpo é sepultado enquanto a alma ou o espírito continuariam vivendo e se
reencarnando. Sugerimos formulações como "entregamo-lo/a" o
"entregamos o/a falecido/a".
A
forma de sepultamento é livre. Os familiares do/a falecido/a decidem sobre ela.
A comunidade evangélica de confissão luterana respeitará a decisão tomada e
acompanhará o sepultamento na forma escolhida.
Na
Igreja cristã tem prevalecido a forma de enterro. O cadáver está sendo
devolvido à terra de que, conforme Gn 3,19, foi formado. Mas também a cremação
é uma forma de devolução da pessoa à terra. Ela não contradiz os princípios
cristãos, e mais e mais tem se tornado praxe nas Igrejas luteranas.
A
membros que se escandalizam com a cremação de uma pessoa falecida, ou que se
sentem inseguros diante da decisão a tomar, diga-se:
- A
fé cristã não prescreve a forma de sepultamento; portanto, não existe um
modo especificamente cristão deste ato;
- A
escolha da forma de sepultamento faz parte do exercício da liberdade
cristã;
- Dentro
desta liberdade é lícito levar em consideração aspectos econômicos,
higiênicos, de espaço físico, de distância geográfica ou outros, na opção
por uma ou outra modalidade.
Quanto
a possíveis objeções teológicas à cremação, convém lembrar:
- O
receio de que a destruição do corpo impediria a ressurreição é infundado.
Deus saberá recriar o que uma vez criou, mesmo que aos olhos humanos a
pessoa falecida tenha desaparecido completamente;
- Quando,
no início da Igreja cristã, mártires foram queimados/as e suas cinzas
espalhadas ao vento ou na água pelos inimigos da Igreja, esta sempre
afirmou que estes/as mártires, sem dúvida, participariam da ressurreição
dos mortos.
A
cremação, pois, não se presta a demonstração anti-cristã. Ela não limita ou
impossibilita a ação re-criadora de Deus.
Há
que se combater, isto sim, a idéia de que a cremação liberta ou purifica a alma
ou o espírito de seus laços materiais e atinge somente o corpo. Toda a pessoa
com corpo, alma e espírito, morre e desaparece desta vida, não havendo aí
nenhuma diferença entre enterro e cremação.
Recomenda-se,
ainda, com insistência, que a urna com as cinzas não seja guardada em casa, mas
enterrada em local apropriado, para evitar que surja veneração de mortos/as ou
que se criem amarras psicológicas.
Diante
da falta de prática da IECLB no acompanhamento a familiares que optaram pela
cremação de uma pessoa falecida, sugere-se que sejam realizados estudos a
respeito, por instituições ou Sínodos, e seja elaborada orientação para os/as
obreiros/as da Igreja.
"Porque eu estou bem certo de que nem a
morte, nem a vida, nem anjos, nem principados, nem cousas do presente, nem do
porvir, nem poderes, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura
poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor."
(Rm 8.38,39)
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