Cro-Magnon: Representação artística à esquerda e esqueletos pertencentes a dois sepultamentos distintos. Imagem: Arquivo Pessoal CHH.
Chegamos
na terceira e última parte do estudo sobre A Evolução do Homem. Até agora vimos
na primeira parte: A Evolução do Homem: os primatas (Leia aqui), a origem comum entre os Símios ou macacos antropomórficos
muito próximos evolutivamente dos humanos e suas variedades dentro da Superfamília Hominoidea. Estudamos suas
distintas classificações entre Símios e Pró-símios
e os principais membros de cada família respectivamente. Já durante a segunda
parte de nosso estudo: A Evolução do Homem: a aurora da humanidade (Leia aqui), nos localizamos no tempo e no espaço, para
compreendermos a evolução dos Hominídeos, dentro dos períodos históricos. Entendendo-se
dessa forma as três divisões da Pré-história no Paleolítico: o Paleolítico Inferior, Médio e Superior. Estudamos o
surgimento dos primeiros Australopitecinos e sua respectiva evolução para o Homo habilis, Homo erectus e consequentemente para o Homo sapiens neanderthalensis. Vemos suas respectivas indústrias líticas bem como sua formação biológica até o pensamento simbólico do Homo sapiens
neanderthalensis. Daremos continuação ao nosso estudo que concluíra nossa
reflexão sobre nossas origens com o surgimento do Homo sapiens sapiens na África e sua migração para todo o restante do mundo. Lembrando! Não deixem de ler
os dois primeiros artigos, pois eles concluem o raciocínio para uma melhor
compreensão dessa conclusão.
Paleolítico Superior
Iniciou
por volta de 35 mil anos antes do presente (A.P) e estende-se
até cerca de 10 mil A.P,
quando ocorre a transição Neolítica. Do
ponto de vista biológico, encontramos o Homo sapiens sapiens. Com relação à tecnologia lítica
encontramos uma grande diversidade de
indústrias que marcam uma nova forma de produzir instrumentos [1].
Na
história das civilizações europeias, o Paleolítico Superior aparece como um
fenômeno brutal, rápido, profundo e definitivo. Após dois séculos de pesquisas,
uma coincidência marcou esta ruptura; o aparecimento de uma nova forma
anatômica humana e um novo comportamento. Está coincidência é indicativa de uma
migração de populações vindas de fora. Tal
fenômeno foi universal e ocorreu em toda a humanidade, depois que ela se
originou mas, nesse caso [2]:
“(...) possuindo
um aspecto particular devido à ausência de uma transição lenta.”
No
Paleolítico Superior tratamos com um fenômeno de ordem histórica (deslocamento de um povo), biológica (modificações anatômicas secundárias) e
antropológica: a adaptação de manifestações culturais a seus novos contextos
geográficos (a
arte rupestre por exemplo).
Cro-Magnon (Homo sapiens
sapiens)
Tradicionalmente,
associamos esse período ao Homem de Cro-Magnon (variável europeia do Homo sapiens sapiens advindo da África)
que foi parcialmente contemporâneo do Homo sapiens neanderthalensis (Gênero humano
distinto com um ancestral comum com o Homo sapiens sapiens, o Homo erectus). Antes do
Cro-Magnon já haviam sido descobertos restos humanos modernos associados ao
Paleolítico Superior, com a forma Homo sapiens neanderthalensis [2].
As
características gerais do Cro-Magnon
(Homo sapiens sapiens) são uma grande estatura, superior a 1,65 m e um crânio do tipo ‘evoluído’,
uma fronte direta com face alta e plana,
um queixo saliente e uma redução alveolar, além de uma caixa craniana alta, com uma capacidade
de volume idêntica a atual, entre 1.500
cm³ e 1.750cm³ [3].
Com
podemos ver as diferenças são, portanto, bastante claras em comparação com os neanderthalensis (ver A Evolução do Homo: a aurora da
humanidade) e no entanto, ambos foram parcialmente
contemporâneos. Podemos mostrar que houve uma evolução autônoma entre as populações humanas da África que
migraram há mais ou menos 45 mil anos atrás para a Europa (Cro-Magnon) e os Neandertais
que já habitavam a Europa desde 300 mil anos atrás. Dessa forma chegamos a
conclusão que as formas modernas humanas são de origem africana. Houve um constante influxo de origem externa e a
dissociação necessária, fora da Europa,
entre as conquistas
culturais e a forma anatômica neste momento crucial da história da
humanidade.
Indústrias Líticas
Foi
no Paleolítico Superior que o homem ocupa todos os continentes, chegando
inclusive a América. A partir desse período, o lascamento atinge seu mais alto
grau de desenvolvimento
técnico, baseando-se fundamentalmente na retiradas de lascas através
da preparação do núcleo e do plano de percussão [1].
Indústria Aurignacense: as
datas mais antigas estão por volta de 44 a 40 mil anos A.P.
Indústria Gravettiense: estende-se
a partir de 28 até cerca de 20 mil anos A.P.
Indústria Solutrense: estende-se
a partir de 20 até cerca de 15 mil anos A.P.
Indústria Magdalenense:
estende-se a partir de 15 até cerca de 10 mil A.P.
Dentre
a grande gama de artefatos produzidos por estas industrias líticas citamos os raspadores,
destinados ao trabalho com pele; os buris, utilizados para o trabalho com o material
ósseo e os furadores
para material duros, como sementes ou osso (as peles são perfuradas com a ajuda
de furadores em osso). Temos também as lâminas, facas e pontas de projéteis, feitas de material ósseo [2].
O fogo foi
intensamente utilizado nestas técnicas e completamente dominado.
Encontrou-se uma espécie de ‘isqueiro’ feito de blocos de marcassita percutida,
lamparinas (depressões com marcas de queima) na rocha, traços de resina
queimada e modelagem em terra cozida.
Alimentação
O
Cro-Magnon baseava sua alimentação principalmente na caça, a dieta alimentar no
Paleolítico Superior foi progressivamente complementada com a pesca
e posteriormente com a coleta intensiva de mariscos. A coleta de
vegetais não poderia ser um aporte calórico substancial em razão do ambiente
generalizadamente frio que reinara na Europa.
As
armas mais frequentemente empregadas na caça, são o uso esporádico do arco,
ao lado do uso sistemático da azagaia e do propulsor. Outra arma típica usada
apartir da propulsão eram os arpões, que foram usados na pesca bem como na caça
de pequenos mamíferos [1].
Modos de Vida
O
habitat propriamente dito, consiste em uma estrutura de proteção (frio, vento, umidade) de
natureza variada, segundo os recursos naturais locais. Os abrigos ou as entradas das
cavernas foram intensamente utilizados. As cabanas para moradia são
reconhecidas pelos traços que deixaram, em arcos e círculos vazios, junto aos
vestígios observados sobre o solo. Estima-se que havia grupos nômades com habitats diversificados de caça com em torno de 50 a 100 pessoas. Os grandes
grupos sociais, com estrutura mais complexa e flexível, organizam encontros periódicos
para fins de intercâmbio ( de bens, esposas, informações) [3].
Religião
Presente
desde o Paleolítico Médio, os traços de religiosidade são extremamente ricos e variados no
Paleolítico Superior. A Arte
Rupestre, suporte evidente
dos ritos
religiosos, opera sobre um mundo de preocupações espirituais
coerentes, significativas, extremamente variadas de acordo com os grupos
étnicos, mas toda elaborada e estruturada. As mitologias explicativas de mundo foram
criadas, instituídas e difundidas pelos caçadores paleolíticos, se
expressando sob a forma de imagens monumentais, que deveriam reger os
comportamentos cotidianos e refletir nos valores, mentalidades e regras sociais
[2].
Homo sapiens
neanderthalensis versus Homo sapiens sapiens. O que houve?