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quarta-feira, 27 de maio de 2015

Pós-estruturalismo

Jacques Derrida,  foi um dos mais importantes filósofos do pós-estruturalismo e pós-modernismo.

Pós-estruturalismo refere-se a uma tendência à radicalização e à superação da perspectiva estruturalista. No campo propriamente filosófico seus principais representantes são: (Jacques Derrida, Gilles Deleuze, Jean-François Lyotard).

Também podem ser considerados pós-estruturalistas ou próximos às teses pós-estruturalistas Giorgio Agamben, Jean Baudrillard, Judith Butler, Félix Guattari, Julia Kristeva, Sarah Kofman, Philippe Lacoue-Labarthe e Jean-Luc Nancy.

O prefixo pós não é todavia interpretado como sinal de contraposição ao estruturalismo. De fato, esses pensadores levaram às últimas conseqüências os conceitos e desenvolvimentos do estruturalismo, até dissolvê-los no desconstrutivismo, construtivismo ou no relativismo e no pós-modernismo. O movimento pós-estruturalista está intimamente ligado ao pós-modernismo - embora os dois conceitos não sejam sinônimos.

O pós-estruturalismo instaura uma teoria da desconstrução na análise literária, liberando o texto para uma pluralidade de sentidos. A realidade é considerada como uma construção social e subjetiva. A abordagem é mais aberta no que diz respeito à diversidade de métodos. Em contraste com o estruturalismo, que não afirma a independência e superioridade do significante em relação ao significado, para eles os dois são inseparáveis, os pós-estruturalistas não veem o significante e o significado como inseparáveis e sim como separáveis.

Não se trata exatamente de um movimento, e poucos desses pensadores aceitam o rótulo de 'pós-estruturalista' - criado por outros para designar genericamente um conjunto de diferentes reações ao estruturalismo. Consequentemente, nenhum dos ditos pós-estruturalistas se sentiu na obrigação de elaborar um "manifesto" do pós-estruturalismo.

Como corrente filosófica, embora não constituindo propriamente uma "escola", o pós-estruturalismo caracteriza-se pela recusa em atribuir ao cogito cartesiano, ao sujeito ou ao homem, qualquer privilégio gnoseológico ou axiológico, privilegiando, em vez disso, uma análise das formas simbólicas, da linguagem, mais como constituintes da subjetividade do que como constituídas por esta.

São tipicas da abordagem pós-estruturalista a retomada dos temas nietzscheanos, como a crítica da consciência e do negativo (por Deleuze) ou o projeto genealógico (por Foucault), a radicalização e a superação da valorização ontológica da linguagem heideggeriana e uma perspectiva anti-dogmática e anti-positivista. De modo geral, os pós-estruturalistas rejeitam definições que encerrem verdades absolutas sobre o mundo, pois a verdade dependeria do contexto histórico de cada indivíduo.

O conceito pós-estruturalismo "pode" ser, ou não, interligado ao de pós-modernismo (verificando que pós-modernismo é referido a movimentos culturais, não políticos e sociais), aos quais, os últimos, retrata a ruptura com os grandes esquemas meta-narrativos que pretendem explicar ou significar o mundo social, mas, em sua grande pretensão, não explicam nada (retoricamente vazio). Assim, é possível dizer que o pós-estruturalismo não condiz com o positivismo, já, que o mesmo, se utiliza de meta-teorias para embasar esquemas teóricos de pré-conceituação de uma certa visão de mundo que retrata o social como coisa. 

Em relação a abordagem nietzscheana, exitem dúvidas, pois, a crítica da consciência não significa elimina-la, ao contrário, mas, transforma-la, considerando o fator sócio histórico em que a problemática esta inserida ao discernir um determinado assunto. Ao contrário da genealogia de Foucault, que incide em descontruir justamente os grandes esquemas metanarrativos, pondo um "ponto" no significante e libertando a pluralidade de significados. Assim, pode haver alguma intersecção entre pós-estruturalismo e modernidade, ou não, se, se considerado o inverso da penúltima afirmação do referido texto, pois, as duas vertentes consideram exatamente o contrário, não pretendem "rejeitar definições que encerrem verdades absolutas sobre o mundo", mas, sim, rejeitam definições que pretendem ser verdades absolutas sobre o mundo, já, que se trata exatamente da diferença entre estruturalismo X pós-estruturalismo e modernidade X pós-modernidade.

Relativismo


Protágoras de Abdera

O relativismo é uma doutrina que prega que algo é relativo, contrário de uma ideia absoluta, categórica. O relativismo, dessa forma, leva em consideração diversos tipos de análise, mesmo sendo análises aparentemente contraditórias. As diversas culturas humanas geram diferentes padrões segundo os quais as avaliações são geradas.

Relativismo e historicismo

Em sentido amplo, o qualificativo, originário do alemão Historismus, é dado a correntes do pensamento, segundo as quais é a história que faz o homem e não o homem que faz a história. Baseia-se no modelo romântico inaugurado por Herder e Schelling, para os quais o universo deixou de ser um sistema e passou a ser entendido como história, numa passagem do cosmológico para o antropocêntrico. De certa maneira, é o exato contrário do conservadorismo, gerando uma fuga para a frente, através do evolucionismo e do progressismo.
O historicismo ensina que “tudo é histórico” ou provisório e variável; o que ontem era importante, hoje deixa de ser tal. Ora a verdade é conhecida e vivida na história, sujeita a contínuas mudanças; ela é “filha do seu tempo”. Tudo o que é verdadeiro e bom é tal unicamente para o seu tempo, e não de modo universal, para todos os tempos e todos os homens. Nenhuma cultura tem o direito de se julgar melhor do que as outras; todos os modos de pensar e viver têm o mesmo direito.

 Max Weber, em suas obras sobre epistemologia, abre espaço para o relativismo nas ciências da cultura quando diz que a ciência é verdade para todos que querem a verdade, ou seja, por mais diferentes que sejam as análises geradas por pontos de vista culturais diferentes, elas sempre serão cientificamente verdadeiras, enquanto não refutadas.

Assim podemos concluir que o Relativismo é um termo filosófico que se baseia na relatividade do conhecimento e repudia qualquer verdade ou valor absoluto. Todo ponto de vista é válido.

Na filosofia moderna o relativismo por vezes assume a denominação de "relativismo cético", relação feita com sua crença na impossibilidade do pensador ou qualquer ser humano chegar a uma verdade objetiva, muito menos absoluta.

Nietzsche na sua obra "A Gaia Ciência", no tópico intitulado "Nosso novo infinito", assim afirma: "o mundo para nós tornou-se novamente infinito no sentido de que não podemos negar a possibilidade de se prestar a uma infinidade de interpretações"; frase que Michel Foucault objeta: "Se a interpretação nunca se pode completar, é porque simplesmente não há nada a interpretar...pois, no fundo, tudo já é interpretação".

No diálogo platônico "Teeteto", atribui-se a Protágoras uma concepção relativista do conhecimento, por haver afirmado que "o homem é a medida de todas as coisas". Nesse caso, cada um de nós é, por assim dizer, o juiz daquilo que é e daquilo que não é. Sócrates levanta então uma série de objeções contra essa forma radical de relativismo subjetivista, tentando mostrar a incoerência interna da suposição de que o que parece verdadeiro a alguém é verdadeiro para ele ou ela. Se são verdadeiras todas as opiniões mantidas por qualquer pessoa, então também é preciso reconhecer a verdade da opinião do oponente de Protágoras que considera que o relativismo é falso. Ou seja, se o relativismo é verdadeiro, então ele é falso (desde que alguém o considere falso). Haveria, por assim dizer, uma auto-refutação (ou uma autodestruição) do relativismo cognitivo.

Em nossos dias, o relativismo cognitivo tem assumido várias formas distintas. Nas versões mais radicais, entende-se que quaisquer opiniões são igualmente justificáveis, dadas suas respectivas regras de evidência, e que não há questão objetiva sobre qual conjunto de regras deve ser preferido ("igualitarismo cognitivo" ou tese da "equipolência das razões"). Em suma, é possível dar boas razões tanto para se admitir quanto para se recusar qualquer opinião. E, portanto, o procedimento de dar boas razões nunca permite decidir entre opiniões rivais, nunca nos obriga a substituir uma crença por outra. Nesse caso, uma crítica do relativismo cognitivo pode ser feita de acordo com a seguinte linha argumentativa (seguida, por exemplo, por Paul Boghossian em "What the Sokal Hoax Ought to Teach Us"): se toda regra de evidência é tão boa quanto qualquer outra, então para que uma opinião qualquer seja tomada como justificada basta formular um conjunto apropriado de regras em relação ao qual ela está justificada. Em particular, a opinião de que nem toda regra de evidência é tão boa quanto qualquer outra deve poder ser igualmente justificada. (E o relativista assim não consegue mostrar, mas deveria mostrar, que a sua posição é melhor que a de seu oponente.) Uma alternativa seria dizer que algumas regras de evidência são melhores do que outras; mas então deveria haver fatos independentes de perspectiva sobre o que as torna melhores do que outras, e nesse caso estaríamos assumindo a falsidade do relativismo cognitivo.

Em contraposição, há espécies de relativismo que são bastante triviais, como, por exemplo, a tese da diversidade (também chamada de "relativismo cultural"): consiste em registrar que diferentes pessoas mantêm crenças diferentes; que as opiniões variam de comunidade para comunidade, de uma época para outra. Nesse caso, não se afirma que tais crenças ou opiniões sejam verdadeiras ou justificadas, e portanto não se tem ainda um relativismo cognitivo (epistemológico). Tal diversidade de crenças é plenamente compatível com uma visão absolutista ou objetivista do conhecimento.

Dentro deste conceito antropófago, o relativismo cultural é um ponto de vista extremo oposto ao etnocentrismo, que leva em consideração apenas um ponto de vista em detrimento aos demais. Porém, os críticos dessa visão apontam que o relativismo torna impossível um avanço científico nas ciências da cultura na medida em que coloca todos os tipos de análise, absurdas ou não, em igualdade de veracidade.

Todavia, não são essas formas de relativismo (extremamente fortes ou fracas) que encontramos nas filosofias de Kuhn, Rorty e até mesmo Feyerabend (em alguns de seus últimos escritos). O que eles sugerem, a partir de evidências históricas, é que as preferências por certos padrões de investigação, por certos objetivos cognitivos variam com o tempo e dependem do contexto considerado. E mais do que isso: sua validade e autoridade dependem da prática estabelecida no interior de uma comunidade. Eles questionam as tentativas de codificar a racionalidade científica mediante um certo conjunto de regras metodológicas que guiam a atividade científica; mas não apenas isso, questionam também a tese de que a racionalidade científica permaneça em grande parte estável e invariante com o passar do tempo, apesar das novas descobertas e das mudanças sociais e culturais. Eles criticam o que Shakespeare chamou "essencialismo": a suposição de que as marcas características da racionalidade científica não estão elas próprias sujeitas a mudanças e revisões. Eles reconhecem que as normas do que conta como "boa ciência" também se transformam ao longo da história e não devem ser consideradas como uma estrutura rígida que não sofre mudanças substanciais.

No caso específico das ciências naturais, eles reconhecem, fazendo justiça à história da ciência, que as mudanças e as divergências envolvem não apenas as teorias (não apenas afirmações fatuais), mas também os critérios e os valores característicos da prática científica. Por exemplo, é possível, em certas ocasiões, justificar uma teoria T1 com respeito aos princípios e valores de um sistema evidencial E1 (por exemplo, que permite hipóteses sobre inobserváveis) e ainda justificar uma teoria alternativa T2 (incompatível com T1) com respeito aos princípios e valores de outro sistema evidencial E2 (por exemplo, do empirismo indutivista), mesmo na ausência de uma fundamentação independente que sem petição de princípio "favoreça inequivocamente" E1 ou E2 (ou seja, um caso de incomensurabilidade) A justificação de uma crença é sempre relativa a um sistema evidencial e, havendo uma disputa entre E1 e E2, poderia não haver acordo racional quanto à aceitação de T1 ou T2, mesmo que tivéssemos à disposição todas as evidências possíveis.

Por outro lado, quando se dá preferência a um sistema evidencial a partir de um meta-sistema dominante, tal escolha racional não pressupõe que esse meta-sistema represente uma visão objetiva ou correta (em todo tempo e lugar) que permita justificar de modo absoluto. Quando ocorre de abandonarmos a ciência normal anterior, de transcendermos nossa própria tradição de pesquisa, não somos levados a um "ponto arquimediano", fora do espaço e do tempo, que defina absolutamente o que deva ser racional, visto que a própria racionalidade científica pode transformar-se no processo evolutivo da ciência. Como diz Feyerabend (1993), os padrões de um debate científico só parecem ser "objetivos" porque se omite a referência à tradição considerada, ao grupo de adeptos que os utilizam.

Assim sendo, o relativismo cognitivo não consiste apenas em afirmar que a verdade (ou a justificação) de toda crença é relativa a princípios e padrões de um sistema de regras de evidência; trata-se ainda de recusar a suposição de um sistema absoluto, neutro (independente) e universal em relação ao qual toda crença possa ser julgada. Nesse sentido, o relativista não atribui "estatuto privilegiado" a nenhuma visão particular, nem mesmo ao relativismo. O relativista não pode impedir que o absolutista sustente que o relativismo é falso; mas ainda assim é permitido ao relativista manter a preferência por sua posição (que a seus olhos se "salienta" em relação às demais), pois (segundo o relativista) o absolutista também não tem como evitar que o relativista se mantenha relativista. As tentativas de mostrar que o relativismo é inconsistente (ou se auto-refuta) baseiam-se na suposição de que o relativista deva apresentar uma defesa em que sua posição se mostre, sem petição de princípio, melhor que a de seu oponente e possa compeli-lo a optar pelo relativismo. Mas o relativista consistentemente admite que não é só o relativismo que tem boas razões em seu favor; também o absolutista pode ter suas boas razões para manter-se em tal posição, numa típica situação de incomensurabilidade. Enfim, não há nada de paradoxal em o relativismo ser mantido por uns e não por outros, pois ninguém está obrigado a aceitar todas as opiniões dos outros como sendo verdadeiras. Por exemplo, um relativista poderia acreditar que a Terra gira em torno de si mesma e que é falso que está fixa, ao mesmo tempo em que está ciente de que alguém acredita que ela se mantenha fixa. (Harré e Krausz, 1996, p. 98) O que o relativista tenciona é, nas palavras de Goodman, converter alguém ao seu ponto de vista, sem tentar fundamentar absolutamente esse seu ponto de vista. O que ele diz é: "Veja como as pessoas naquela época tinham uma outra concepção de mundo. Se você estivesse no lugar delas, não manteria suas crenças atuais". Com efeito, o relativista não se obriga a demonstrar que a partir de certas premissas segue-se inexoravelmente a verdade do relativismo.

Putnam

Voltando agora ao tema da mudança científica (que envolve teorias, métodos, valores etc.), coloca-se a seguinte questão central em nossa análise: podemos abandonar o "essencialismo" (isto é, as tentativas de apresentar cânones a-históricos, absolutos, objetivos e imutáveis de racionalidade científica) sem nos comprometermos pelo menos com uma forma moderada de relativismo acerca do valor cognitivo da ciência? Dois importantes filósofos contemporâneos, Putnam e Laudan, dizem que sim, ou seja, que podemos encontrar uma alternativa ao essencialismo (positivismo) e ao relativismo. Vejamos como isso ocorre.

Putnam utiliza-se de uma proposta de Peirce que consiste em caracterizar a verdade como o limite ideal de uma investigação conduzida racionalmente. Ou seja, a verdade é o que se obtém, a longo prazo, com a aplicação sistemática dos métodos racionais da ciência. Desenvolvida por Putnam em seu realismo interno, essa teoria da verdade encerra duas ideias centrais:

"(...) a verdade é independente da justificação aqui e agora, mas não de toda justificação. Afirmar que um enunciado é verdadeiro é afirmar que ele poderia ser justificado, e presume-se que a verdade seja estável e "convergente"; se um enunciado assim como sua negação pudessem ser "justificados", mesmo em condições tão ideais quanto se possa esperar, não haveria sentido em pensar o enunciado como tendo um valor-de-verdade" . Portanto, sem pretender formular uma exata definição de verdade, Putnam explica a noção de verdade como uma idealização da aceitabilidade racional e, portanto, como um conceito-limite objetivo e transcultural. Para Putnam (1983), a verdade é um ideal regulador em direção ao qual nossa investigação racional deve convergir. Para a maioria dos enunciados, existem condições epistêmicas melhores e piores, embora Putnam saliente que "não há uma simples regra geral ou método universal para saber que condições são melhores ou piores para justificar um juízo empírico arbitrário" (p. xvii). Ainda que Putnam reconheça que a "verdade" é tão vaga e dependente do interesse e do contexto quanto nós, e que não há uma matriz fixa e a-histórica de padrões de racionalidade, uma tese central do seu realismo interno é que se trata de uma questão objetiva a de "qual seria o veredicto se as condições fossem suficientemente boas, um veredicto a que a opinião deveria ‘convergir’ se fôssemos razoáveis"4 . Em termos comparativos, "deve haver um sentido objetivo em que alguns juízos sobre o que é ‘razoável’ são melhores que outros"5 , não importa qual seja o contexto histórico e cultural.
Mas se não temos a mínima ideia de o que pode ser corretamente asseverado por nós em situações epistemicamente ideais e perfeitas, que papel a verdade (no sentido do realismo interno) pode desempenhar na prática e no avanço da ciência? Tal noção idealizada de verdade não seria, do ponto de vista do agente, totalmente indiferente a suas crenças atuais sobre a realidade. Além disso, o que seria para uma investigação ter um final? De fato, é difícil imaginar um resultado da pesquisa científica que sobreviveria a todas as objeções que pudessem ser levantadas, pois não temos como antecipar tudo que possa ocorrer durante uma conversação. Concordamos com Field que não é necessário haver sistemas "maximamente bons", ou seja, para cada sistema científico, sempre poderia haver outro melhor.

Contudo, se "considerar uma certa investigação como ideal é supor que não se deveria questionar seu resultado" , ou que foram eliminadas as possibilidades de erro, então podemos estar seguros (da verdade) das conclusões fundamentadas a partir de uma tal investigação. A afirmação de que uma investigação ideal conduz à verdade torna-se, entretanto, uma conseqüência trivial da própria caracterização da investigação ideal (como a que estabelece resultados para além de qualquer controvérsia) e da verdade (tal que a proposição de que p é verdadeira se e somente se p), e por isso não detém nenhuma força explicativa. Desse modo, podemos com Davidson (1990) suspeitar que "se fossem explicitadas as condições sob as quais alguém está idealmente justificado em asseverar alguma coisa, ficaria claro que ou essas condições permitem a possibilidade de erro, ou elas são tão ideais que não fazem uso da tencionada conexão com as habilidades humanas" .

Por outro lado, ainda que toda investigação ideal resulte em conclusões verdadeiras, não se segue que todas as proposições verdadeiras possam ser alcançadas por uma investigação ideal. Talvez existam hipóteses que mesmo em condições ideais não poderíamos justificar sua asserção ou negação. Horwich considera, a título de exemplo, as proposições com conceitos vagos, as teorias subdeterminadas pelos dados e certas suposições probabilísticas.

Além disso, por que haveria uma situação ideal única em que as opiniões poderiam ser corretamente julgadas? Ou, em termos comparativos, por que existiriam objetivamente "melhores e piores situações epistêmicas com respeito a enunciados particulares", como supõe Putnam ? Pelo contrário, as evidências históricas indicam que as preferências científicas por certas teorias, métodos e objetivos cognitivos variam com o tempo, dependem do contexto da pesquisa científica, sem que se possa vislumbrar "um término ideal" a que todas essas transformações convergem.

Laudan

Uma outra importante alternativa de compreensão da mudança científica é apresentada por Laudan. Inicialmente, Laudan (1977) também foi um adepto da tese essencialista de que "existem certas características muito gerais de uma teoria da racionalidade científica que são transtemporais e transculturais" , desde o pensamento dos pré-socráticos até hoje. Todavia, a partir de sua proposta de um modelo reticulado de racionalidade, Laudan (1984) muda de posição e considera que a avaliação epistêmica é sempre feita dentro de um amplo sistema de crenças fatuais, metodológicas e valorativas, que dependem uma das outras e podem sofrer mudanças ao longo do tempo. Com o tempo, podem ocorrer revisões e mudanças racionais nos três níveis da rede de compromissos científicos. Num processo holístico de arranjos parciais no interior dessa rede, cada uma de suas partes pode ser modificada e aperfeiçoada, de modo paulatino e local (portanto, sem revoluções científicas), com base em outras partes que temporariamente são admitidas, desde que certas condições relevantes sejam satisfeitas. E diferentes caminhos racionais podem ser seguidos no intento de aumentar a consistência entre os valores explícitos e implícitos na ciência. É possível assim compreender a objetividade e racionalidade das reformas científicas (na ontologia, na metodologia ou na especificação dos objetivos epistêmicos) sem assumir que exista algum núcleo fundamental de princípios e juízos de racionalidade que permaneçam invariantes durante a evolução da ciência. Desse modo, "o reconhecimento do fato de que os valores e objetivos da ciência mudam em nada impede nosso uso de uma noção robusta de progresso científico cognitivo". No caso de uma mudança científica, espera-se um ganho na credibilidade e coerência de diversos tipos de suposições (fatuais, metodológicas e epistemológicas), explícitas ou implícitas, do corpo total da ciência. Todavia, como salientam os críticos, de diferentes modos é possível obter racionalmente coerência no sistema de proposições, regras e valores da ciência. Em certos casos, diante de uma inovação incompatível com a ciência atual, podemos rejeitar a inovação e manter a credibilidade do sistema de hipóteses científicas anterior, utilizando certos tipos de razões que autorizam essa escolha. Mas podemos, em outras circunstâncias, aceitar a inovação científica e alterar algumas suposições do sistema existente, fazendo uso de padrões metodológicos conflitantes com os precedentes. Ou seja, a "racionalidade como coerência epistêmica pode subdeterminar as mudanças científicas que ela sanciona", e assim pode haver boas razões tanto para se manter quanto para se substituir uma parte do sistema. Com isso, volta-se a admitir alguma forma de "essencialismo" (em que a racionalidade se define em termos coerências, num nível metametodológico) e também de relativismo cognitivo, pois se abrem diferentes caminhos igualmente bons para se alcançar a coerência epistêmica.

As referidas propostas de Putnam e Laudan nos mostram as dificuldades dos projetos epistemológicos que buscaram combater o essencialismo sem cair no relativismo. Parece legítimo perguntar: Não seria o caso de se reconsiderar a possibilidade de admitir um relativismo "moderado"? Afinal, com ele podemos conceder "juízos de superioridade relativa" em certos domínios de investigação (em que um paradigma predomina), ainda que não exista um critério universal de validade pelo qual podemos mostrar que uma mudança científica é racional e progressiva. Como o próprio Laudan reconhece, só podemos dizer que o progresso ocorreu em relação aos padrões que hoje aceitamos. Não temos de pressupor algum tipo de medida objetiva ou investigação ideal para compreendermos as mudanças racionais da ciência. Ou seja, a possibilidade de transcender nossas práticas presentes por outras práticas futuras (que expressem o melhor de nós) não requer uma noção de "validade absoluta e universal" ou de "aceitabilidade para uma comunidade ideal". Como salienta Kuhn (1970), compreendemos o progresso da ciência (as mudanças racionais da ciência) de modo retrospectivo - avaliando comparativamente um paradigma com seus predecessores -, não como um processo dirigido a um fim último e perfeito.

Deve-se notar que em um tal relativismo epistemológico "moderado" e limitado, a existência de boas razões para uma mudança científica não exclui a possibilidade de haver outras boas razões para se defender o sistema global anterior, não exclui portanto a possibilidade de incomensurabilidade local. O que se considera ser uma "forte razão" também pode sofrer modificações, dependendo das circunstâncias e dos compromissos assumidos. Assim sendo, a apresentação de boas razões nem sempre é decisiva na escolha entre constelações alternativas de crenças científicas. Em outras palavras, mesmo que a mudança científica seja racional (com apresentação de boas razões), isso não quer dizer que não seja racional manter o sistema antigo em vez de optar pelo novo (afinal, eles não lidam com os mesmos problemas, não adotam os mesmos critérios de adequação das respostas etc.). Isso se nota quando a transição de um paradigma a outro acarreta as chamadas "perdas epistêmicas", que constituem boas razões para se resistir à mudança e manter a tradição. (Por exemplo, a mecânica newtoniana não explicava, até sua plena aceitação, por que todos os planetas do sistema solar giram em um mesmo sentido, embora tal fenômeno fosse naturalmente explicado pela teoria cartesiana dos vórtices.

domingo, 10 de maio de 2015

Estruturalismo e a Antropologia




Antropologia estrutural, é um termo criado por Claude Lévi-Strauss (1908-2009), título de dois de seus livros, na "busca de elementos duradouros e correspondências estruturais entre sociedades de tipos diferentes para descobrir se existem estruturas fundamentais que seriam a base da Antropologia". Segundo ele, a noção de estrutura social em termos de complexidade se associa às noções ou estudo do estilo, das categorias universais da cultura e da linguística estrutural. A antropologia estrutural portanto situa-se no âmbito da antropologia cultural

Para Laplantine,  foi a partir do estudo do parentesco que se constituiu o estruturalismo de Lévi-Strauss. O parentesco para ele, é uma linguagem onde não basta conhecer os seus termos, é necessário conhecer as relações entre esses termos, regidas por leis de troca análogas às leis sintáticas da língua. Quando se estuda o parentesco, a linguagem ou economia das trocas estamos diante de diferentes modalidades de uma única e mesma função: a comunicação (ou a troca), que é a própria cultura.

Teoria e Método

Para a Antropologia estrutural as culturas definem-se como sistemas de signos partilhados e estruturados por princípios que estabelecem o funcionamento do intelecto. Em 1949 Lévi-Strauss publica "As estruturas elementares de parentesco", obra em que analisa, entre outros povos, os aborígenes australianos e, em particular, os seus sistemas de matrimônio e parentesco. Nesta análise, Lévi-Strauss demonstra que as alianças são mais importantes para a estrutura social que os laços de sangue. Termos como exogamia, endogamia, aliança, consanguinidade passam a fazer parte das preocupações etnográficas.

Antropologia estrutural de Lévi-Strauss

Lévi-Strauss é o principal expoente da corrente estruturalista na Antropologia. Para fundá-la, Lévi-Strauss buscou elementos das ciências que, no seu entender, haviam feito avanços significativos no desenvolvimento de um pensamento propriamente objetivo. Sua maior inspiração foi a Lingüística Estruturalista da qual faz constante referência, por exemplo, a Jakobson.

Ao apropriar-se do pensamento estruturalista para aplicá-lo à antropologia, Lévi-Strauss pretende chegar ao modus operandi do espírito humano. Deve haver, no seu entender, elementos universais na atividade do espírito humano entendidos como partes irredutíveis e suspensas em relação ao tempo que perpassariam todo modo de pensar dos seres humanos.

Nesta linha de pensamento, Lévi-Strauss chega ao par de oposições como elemento fundamental do espírito: todo pensamento humano opera através de pares de oposição. Para defender esta sua tese, Lévi-Strauss analisa milhares de mitos nas mais variadas sociedades humanas encontrando nelas modos de construção análogas em todas.

Para fundamentar o debate teórico, Lévi-Strauss recorre a duas fontes principais: a corrente psicológica criada por Wilhelm Wundt e o trabalho realizado no campo da lingüistica, por Ferdinand de Saussure, denominado Estruturalismo. Influenciaram-no, ainda, Durkheim, Jakobson (teoria linguística), Kant (idealismo) e principalmente Marcel Mauss.

Estruturalismo, corrente de pensamento nas ciências humanas.



O estruturalismo é uma corrente de pensamento nas ciências humanas que se inspirou do modelo da linguística e que apreende a realidade social como um conjunto formal de relações.

Origem

O termo estruturalismo tem origem no livro Cours de linguistique générale (em português, Curso de lingüística geral) de Ferdinand de Saussure (1916), que se propunha a abordar qualquer língua como um sistema no qual cada um dos elementos só pode ser definido pelas relações de equivalência ou de oposição que mantém com os demais elementos. Esse conjunto de relações forma a estrutura.

O estruturalismo é uma abordagem que veio a se tornar um dos métodos mais extensamente utilizados para analisar a língua, a cultura, a filosofia da matemática e a sociedade na segunda metade do século XX. Entretanto, "estruturalismo" não se refere a uma "escola" claramente definida de autores, embora o trabalho de Ferdinand de Saussure seja geralmente considerado um ponto de partida. O estruturalismo é mais bem visto como uma abordagem geral com muitas variações diferentes. Como em qualquer movimento cultural, as influências e os desenvolvimentos são complexos.

De um modo geral, o estruturalismo procura explorar as inter-relações (as "estruturas") através das quais o significado é produzido dentro de uma cultura. Um uso secundário do estruturalismo tem sido visto recentemente na filosofia da matemática. De acordo com a teoria estrutural, os significados dentro de uma cultura são produzidos e reproduzidos através de várias práticas, fenômenos e atividades que servem como sistemas de significação. Um estruturalista estuda atividades tão diversas como rituais de preparação e do servir de alimentos, rituais religiosos, jogos, textos (literários e não-literários) e outras formas de entretenimento para descobrir as estruturas profundas pelas quais o significado é produzido e reproduzido em uma cultura. Por exemplo, o antropólogo e etnógrafo Claude Lévi-Strauss (um antigo e proeminente praticante do estruturalismo), analisou fenômenos culturais incluindo mitologia, relações de família e preparação de alimentos.

Lévi-Strauss explicou que os antônimos estão na base da estrutura sócio-cultural. Em seus primeiros trabalhos demonstrou que os grupos familiares tribais eram geralmente encontrados em pares, ou em grupos emparelhados nos quais ambos se opunham e se necessitavam ao mesmo tempo. Na Bacia Amazônica, por exemplo, duas grandes famílias construíam suas casas em dois semi-círculos frente-a-frente, formando um grande círculo. Também mostrou que os mapas cognitivos, as maneiras através das quais os povos categorizavam animais, árvores, e assim por diante, eram baseados em séries de antônimos. Mais tarde, em seu trabalho mais popular, "O Cru e o Cozido", descreveu contos populares amplamente dispersos da América do Sul tribal como inter-relacionados através de uma série de transformações - como um antônimo aqui transformava-se em outro antônimo ali. Por exemplo, como o título indica, Cru torna-se seu oposto, Cozido. Esses antônimos em particular (Cru/Cozido) são simbólicos da própria cultura humana que, por meio do pensamento e do trabalho, transforma matérias-primas em roupas, alimento, armas, arte, idéias. Cultura, explicou Lévi-Strauss, é um processo dialético: tese, antítese, síntese.

Ao fazer estudos em literatura, um crítico estruturalista examinará a relação subjacente dos elementos ('a estrutura') em, por exemplo, uma história, ao invés de focalizar em seu conteúdo. Um exemplo básico são as similaridades entre 'Amor, sublime Amor' e 'Romeu e Julieta' . Apesar de as duas histórias ocorreram em épocas e lugares diferentes, um estruturalista argumentaria que são a mesma história, devido à estrutura similar: em ambos os casos, uma garota e um garoto se apaixonam (ou, como podemos dizer, são +AMOR) apesar de pertencerem a dois grupos que se odeiam (-AMOR), um conflito que é resolvido por suas mortes. Consideremos agora a história de duas famílias amigas (+AMOR) que fazem um casamento arranjado entre seus filhos apesar deles se odiarem (-AMOR), e que os filhos resolvem este conflito cometendo suicídio para escapar da união. Um estruturalista argumentaria que esta segunda história é uma 'inversão' da primeira, porque o relacionamento entre os valores do amor e dos dois grupos envolvidos foi invertido. Adicionalmente, um estruturalista argumentaria que o 'significado' de uma história se encontra em descobrir esta estrutura ao invés de, por exemplo, descobrir a intenção do autor que a escreveu.

O Curso de Saussure

Geralmente, Ferdinand de Saussure é visto como o iniciador do estruturalismo, principalmente devido a seu livro de 1916 'Curso de Linguística Geral'. Ainda que Saussure fosse, assim como seus contemporâneos, interessado em linguística histórica, desenvolveu no 'Curso' uma teoria mais geral de semiologia (estudo dos signos). Essa abordagem se concentrava em examinar como os elementos da linguagem se relacionavam no presente ('sincronicamente', ao invés de 'diacronicamente'). Assim ele focou seus estudos não no uso da linguagem (o falar, ou a parole), mas no sistema subjacente de linguagem (idioma, ou a langue) do qual qualquer expressão particular era manifestação. Enfim, ele argumentou que sinais linguísticos eram compostos por duas partes, um 'significante' (o padrão sonoro da palavra, seja sua projeção mental - como quando silenciosamente recitamos linhas de um poema para nós mesmos - ou sua realização física como parte do ato de falar) e um 'significado' (o conceito ou o que aquela palavra quer dizer). Era totalmente diferente das abordagens anteriores à linguagem, que se focavam no relacionamento entre palavras e as coisas que elas denominavam no mundo. Concentrando-se na constituição interna dos sinais ao invés da sua relação com os objetos no mundo, Saussure fez da anatomia (estrutura da linguagem) algo passível de ser analisado e estudado.

Estruturalismo na Linguística

O Curso de Saussure influenciou muitos linguistas no período entre a I e a II Grandes Guerras. Nos Estados Unidos, por exemplo, Leonard Bloomfield desenvolveu sua própria versão de linguística estrutural, assim como fez Louis Hjelmslev na Escandinávia. Na França, Antoine Meillet e Émile Benveniste continuariam o programa de Saussure. No entanto, ainda mais importante, membros da Escola de Linguística de Praga como Roman Jakobson e Nikolai Trubetzkoy conduziram pesquisas que seriam muito influentes.

O mais nítido e mais importante exemplo do estruturalismo da Escola de Praga encontra-se na fonética (estudo dos fonemas). Em vez de simplesmente compilar uma lista dos sons que ocorrem num idioma, a Escola de Praga procurou examinar como elas se relacionavam. Determinaram que o catálogo de sons em um idioma poderia ser analisado em termos de uma série de contrastes.

Por exemplo, em inglês as palavras 'pat' e 'bat' são diferenciadas devido ao contraste de sons do /p/ e do /b/. A diferença entre eles é que as cordas vocais vibram enquanto se diz um /b/ e não vibram quando se diz um /p/. Também no inglês existe um contraste entre consoantes pronunciadas e não-pronunciadas. Analisar sons em termos de características contrastantes também abre um espaço comparativo: deixa claro, por exemplo, que a dificuldade que falantes japoneses têm em diferenciar o /r/ do /l/ no inglês deve-se ao fato de esses dois sons não serem contrastantes em japonês. Enquanto essa abordagem é atualmente padrão em linguística, foi revolucionária na época. A fonologia viria a tornar-se a base paradigmática para o estruturalismo num diferente número de formas.

Estruturalismo na Literatura

O Estruturalismo teve vigência nos estudos literários pelos trabalhos do Grupo Tel Quel/Communications, formado por Roland Barthes, Algirdas Julien Greimas, Juri Lotman, Tzvetan Todorov, Claude Bremond etc. Dentre as obras principais estão Análise Estrutural da Narrativa, Ensaios de Semiótica Poética e As Estruturas Narrativas.

Estruturalismo na Antropologia

Claude Lévi-Strauss é o expoente da corrente estruturalista na Antropologia. Para fundá-la, Lévi-Strauss buscou elementos das ciências que, no seu entender, haviam feito avanços significativos no desenvolvimento de um pensamento propriamente objetivo. Sua maior inspiração foi a Lingüística estruturalista da qual faz constante referência, por exemplo, a Jakobson.

Ao apropriar-se do pensamento estruturalista para aplicá-lo à Antropologia, Lévi-Strauss pretende chegar ao modus operandi do espírito humano. No seu entender, deve haver elementos universais na atividade do espírito humano, elementos entendidos como partes irredutíveis e suspensas em relação ao tempo, que perpassariam todo o modo de pensar dos seres humanos.

Nesta linha de pensamento, Lévi-Strauss chega ao par de oposições como elemento fundamental do espírito: todo pensamento humano opera através de pares de oposição. Para defender essa tese, Lévi-Strauss analisa milhares de mitos nas mais variadas sociedades humanas, encontrando modos de construção análogos em todas.

Estruturalismo na Filosofia da Matemática

Estruturalismo na matemática é o estudo de que estruturas dizem o que um objeto matemático é, e como a ontologia (estudo do Ser) dessas estruturas deveria ser entendida. É uma filosofia crescente dentro da matemática que não deixa de ter sua porção de críticos. Em 1965, Paul Benacerraf escreveu um ensaio intitulado: "O que os números não poderiam ser." É um artigo seminal em estruturalismo matemático, num estranho modo de dizer: ele iniciou o movimento pela resposta que gerou. Benacerraf endereçou uma noção em matemática para tratar enunciados matemáticos em valor nominal, e nesse caso estamos comprometidos a uma abstrata e eterna esfera de objetos matemáticos. O dilema de Bernacerraf é como nós viemos a saber desses objetos se não nos encontramos em relação casual com os mesmos. Esses objetos são considerados casualmente inertes ao mundo. Outro problema levantado por Bernacerraf são as múltiplas teorias de grupos que existem através da redução de teoria elementar dos números para teoria de grupos. Decidir qual das teorias é verdadeira não foi praticável. Benacerraf concluiu em 1965 que números não são objetos.

A resposta às reivindicações negativas de Benacerraf é como o estruturalismo tornou-se um programa filosoficamente viável dentro da matemática. O estruturalismo responde a essas reivindicações negativas que a essência dos objetos matemáticos são relações em que os objetos sejam pacientes com as estruturas. Estruturas são exemplificadas em sistemas abstratos em termos de relações que contêm a verdade para aquele sistema.

Estruturalismo no pós-Guerra

Após a II Guerra Mundial, e particularmente nos anos 60, o estruturalismo emergiu à proeminência na França e foi a popularidade inicial do estruturalismo nesse país que o levou a se expandir pelo globo.

Durante as décadas de 40 e 50, o existencialismo como era praticado por Jean-Paul Sartre era o modo dominante. O estruturalismo rejeitava a noção existencialista de liberdade humana radical e, ao invés disso, concentrava-se na maneira que o comportamento humano é determinado por estruturas culturais, sociais e psicológicas. O mais importante trabalho nesse sentido foi o volume de 1949 de 'As Estruturas Elementares do Parentesco' de Claude Lévi-Strauss. Lévi-Strauss havia conhecido Jakobson durante sua estada em Nova Iorque durante a II Guerra Mundial e foi influenciado tanto pelo estruturalismo de Jakobson quanto pela tradição antropológica americana. Em 'Estruturas Elementares' ele examinou os sistemas de relações de parentesco de um ponto de vista estrutural e demonstrou o quanto organizações sociais aparentemente diferentes eram de fato permutações de algumas poucas estruturas de parentesco. No final dos anos 50 ele publicou 'Antropologia Estrutural', uma coleção de ensaios que delineavam seu programa para o estruturalismo.

No início dos anos 60 o estruturalismo como movimento começava a andar com suas próprias pernas e alguns acreditavam que isso ofereceu uma singular abordagem unificada da vida humana que poderia abraçar todas as disciplinas. Roland Barthes e Jacques Derrida se concentraram em como o estruturalismo poderia ser aplicado à literatura. Jacques Lacan (e, de outro modo, Jean Piaget) aplicaram o estruturalismo ao estudo da psicologia, combinando Freud e Saussure. O livro de Michel Foucault 'A Ordem do Discurso' examinou a história da ciência para estudar como estruturas de epistemologia (teoria do conhecimento) davam forma a como as pessoas imaginavam o conhecimento e o saber (apesar de que Foucault, mais tarde, negaria explicitamente uma pretensa afiliação com o movimento estruturalista). Louis Althusser combinou Marxismo com estruturalismo para criar seu próprio tipo de análise social. Outros autores na França e no exterior têm desde então estendido a análise estrutural a praticamente toda disciplina.

A definição de 'estruturalismo' também mudou como resultado de sua popularidade. Como sua popularidade como movimento passava por altos e baixos, alguns autores se consideravam 'estruturalistas' e logo depois abandonavam o rótulo. Adicionalmente, o termo teve significados levemente diferentes em inglês e em francês. Nos EUA, por exemplo, Derrida é considerado o paradigma do pós-estruturalismo enquanto na França é rotulado como estruturalista. Enfim, alguns autores escreveram em vários estilos diferentes. Barthes, por exemplo, escreveu livros claramente estruturalistas e outros que claramente não o eram.

Estruturalismo na Psicologia

O estruturalismo define a psicologia como ciência da consciência ou da mente, definição herdada de Wundt. Mostra-nos que a mente seria a soma dos processos mentais. Edward Titchener afirmava que cada totalidade psicológica compõe-se de elementos. O objetivo da psicologia seria a tarefa de descobrir quais são os elementos mentais, o conteúdo e a maneira pela qual se estrutura. Três parâmetros estão em relação ao objeto: "o que é?" - através da análise se chega aos componentes da vida mental; "o como?" - a síntese mostra como os elementos estão associados e estruturados e que leis determinam essas associações; e "o por quê?" - investiga a causa dos fenômenos. Titchener afirma que, embora o sistema nervoso não seja a causa da mente, pode ser usado para explicá-la.

Titchener considera que os elementos ou as unidades que compõem o conteúdo da mente são as sensações, as imagens, as afeições e os sentimentos. Usa-se a introspecção para chegar a eles, através de uma observação treinada e preparada para garantir os dois pontos essenciais de toda a observação: a atenção e o registro do fenômeno.

Reações ao Estruturalismo

Hoje o estruturalismo tem sido substituído por abordagens como o pós-estruturalismo e desconstrutivismo. Há muitas razões para isso. O estruturalismo tem sido frequentemente criticado por ser não histórico e por favorecer forças estruturais determinísticas em detrimento à habilidade de pessoas individuais de atuar. Enquanto a turbulência política dos anos 60 e 70 (e particularmente os levantes estudantis de maio de 68) começou a afetar a academia, questões de poder e briga política tornaram-se o centro das atenções da população. Nos anos 80, o desconstrutivismo e sua ênfase na ambiguidade fundamental da língua - ao invés de sua estrutura cristalina lógica - tornou-se popular. No final do século o estruturalismo era visto historicamente como uma importante escola de pensamento, mas eram os movimentos que ele gerou, e não o próprio estruturalismo, que detinham a atenção.

domingo, 26 de abril de 2015

Calvinismo e Capitalismo: análise das ideias de Max Weber e H.R. Trevor-Roper

   
Professor de história da Universidade de Oxford por vinte e três anos, H.R. Trevor-Roper, possui conclusões diferentes acerca da origem do capitalismo nas potencias protestantes. Primeiramente, Trevor-Roper propõe um período diferente do de Weber como marco do capitalismo. O historiador postula alguns problemas que fragiliza as conclusões de Weber, vejamos:

Em primeiro lugar, Trevor-Roper apresenta que empiricamente a tese de Weber não passa no teste, pois nações que se mantiveram na tradição religiosa católica, como é o exemplo da Áustria e da França e que, portanto, não gozavam do mesmo rigor moral e das concepções doutrinárias dos calvinistas que lastrearam o sucesso econômico dos países onde foram beligerantes, contudo, progrediram à semelhança dos países protestantes. Ao mesmo tempo em que nos pergunta o porquê da Escócia, com forte tradição calvinista e recursos naturais generosos, não teve o mesmo ímpeto desenvolvimentista que a anglicana Inglaterra. Para Trevor-Hope, situações como estas são pontuais na hora de avaliar com cautela alguns axiomas propostos por Weber.

Em segundo lugar, Trevor-Roper também aponta para o fato de que nem todos os calvinistas eram rigorosos em sua piedade e nem todos agiam conforme suas crenças, colocando em xeque, então, o depósito moral que Weber alega possuir os calvinistas e que tanto foi primordial no desenvolvimento das potências protestantes. Na verdade, Trevor-Roper indica até mesmo a circulação nas trincheiras morais por parte de alguns calvinistas, haja vista que muitos, mesmo defendendo confessionalmente o calvinismo, ajudaram a financiar causas católicas contra os protestantes e isso por causa do lucro e poder.

Em terceiro lugar, Trevor-Roper também pontua que muitas das nações que abraçaram o calvinismo como expressão da fé cristã protestante não se desenvolveram economicamente por causa de tais crenças, mas sim porque em seus territórios circulavam comerciantes estrangeiros (flamengos) que já eram empreendedores em seu país de origem e uma vez expulsos de sua terra natal, encontraram em países como a Holanda, por exemplo, as circunstâncias necessárias à livre empresa. Hoper faz questão de dizer, inclusive, que as idéias calvinistas sobre economia pouco efeito fizeram sobre os naturais de Escócia, Holanda e Suíça. E, mesmo cem anos após a militância de João Calvino, não se produziu um único grande empresário calvinista em terras suíças.

Trevor-Roper afirma categoricamente que havia fortes movimentos capitalistas antes da Reforma Protestante, especialmente capitaneada por Lisboa, Antuérpia, Milão, só para citar alguns. Tais centros eram economicamente ativos e foram eles que deixaram a herança do capitalismo para o século XVI e não a ética calvinista.

Para Trevor-Roper a confusão começa quando Weber não percebe que o que aconteceu foi tão somente à emigração destes capitalistas para as regiões onde afluíam às idéias protestantes. Eles levaram o conhecimento e as técnicas de mercado para tais lugares, fugindo das perseguições que lhes eram impostas. Na verdade, o que para Weber foi uma contribuição doutrinária e prática do calvinismo, para Trevor-Roper tudo não passou de contingência histórica, pois tais empreendedores aportaram em bolsões calvinistas, mas, independentemente de onde estivessem, levariam seus conhecimentos de mercado a efeito, até mesmo para lhes garantir a sobrevivência, possibilitando assim o progresso econômico de qualquer maneira. Destarte, para Trevor-Roper, o calvinismo levou a fama, sem merecer, de padrinho do capitalismo nas proposições de Max Weber.

Trevor-Roper é conclusivo ao afirmar que perseguições praticadas por autoridades católicas contra alguns poderosos homens de negócios na Europa que compartilhavam das idéias do humanista Erasmo de Roterdã, o que atraiu o ódio da Igreja Católica, foi o que forçou tais empresários a fugir para ambientes mais seguros, geralmente em países protestantes, sendo este, enfim, o evento catalisador para o florescimento do capitalismo em domínios calvinistas.

Nossa proposta foi à abordagem resumida de duas proposições distintas que explicam a origem do capitalismo e qual a relação deste com a Reforma Protestante. Avanços no intuito de chegar a conclusões mais aprofundadas serão necessários em investigações posteriores. O assunto é rico. O contexto histórico situado é amplo. O tema é instigante. Outros autores precisarão ser convocados à contribuição.

Humanismo muito além da religião


Em meados do século XVII a Europa viveu uma transformação que seria fundamental para quase tudo que se passou no mundo desde então. Na expressão do historiador inglês Hugh Trevor-Roper (1914-2003), ela virou “de cabeça para baixo” em termos políticos, econômicos e intelectuais. Ou melhor, sua cabeça virou para o norte: países como Inglaterra e Holanda passaram a ser as potências do continente; Itália e Espanha entraram em decadência. O poder, em outras palavras, se deslocou das regiões católicas – que incluíam ainda Flandres e o sul da Alemanha – para as protestantes, como também Suíça e a França dos huguenotes, comandada por banqueiros e industriais calvinistas. O capitalismo tal como o conhecemos nasceu, e com ele as diferenças de ritmo e mentalidade que marcariam o jogo das nações nos séculos seguintes.

Em seu fascinante volume de ensaios sobre o tema, A Crise do Século XVII – Religião, A Reforma e Mudança Social, enfim publicado no Brasil (editora Topbooks), Trevor-Roper tenta entender o que se passou no intervalo que vai do fim do Renascimento, que data em 1620, até o surgimento do Iluminismo, ao redor de 1660. Um movimento, de certo modo, era continuidade do outro, mas sofreu um deslocamento geográfico tão rápido quanto evidente. Segundo a conhecida tese do sociólogo alemão Max Weber, essa mudança se deu por uma razão ética: a moral protestante estava mais predisposta ao espírito capitalista, por infundir no indivíduo mais autonomia intelectual e menos aversão ao lucro. Trevor-Roper está de acordo, mas tenta acrescentar nuances importantes à visão. Para ele, a religião foi um dos fatores, não o único.

O primeiro e melhor ensaio do livro, que está no subtítulo do volume (originalmente publicado em 1967 pela Liberty Fund), é eloquente ao mostrar que os países católicos no início daquele século estavam, por assim dizer, preparados para dar o salto capitalista, para converter seu mundo comercial e financista em uma economia baseada na indústria, em novas escalas de produção. Havia condições materiais e culturais para tanto. Mas uma série de acontecimentos mudou o panorama. Nos países protestantes, empreendedores calvinistas formavam “a elite econômica da Europa”; nos católicos, existia um hiato entre a Igreja e as forças produtivas. Só que a diferença não se deve apenas à mentalidade calvinista.

Um dos acontecimentos centrais foi a expansão do poder da Espanha, responsável maior pela Contra-Reforma, pela aproximação entre Estado e Igreja que se intensificou com as novas concorrências. Diferentemente da Itália, em especial de cidades mercantis como Veneza, a Espanha tinha sua riqueza apoiada em uma sociedade ainda feudal e burocrática que havia sido “acidentalmente alçada ao poder mundial pela prata da América”. Como tal, essa riqueza da monarquia espanhola era mais aparente do que duradoura, porque fora de sintonia com os novos tempos. O seu era um capitalismo de Estado, centralizador e opressor, menos tolerante com heresias, dominado por príncipes personalistas. Ou seja: não foi apenas o protestantismo que abriu espaço para o capitalismo, mas também o catolicismo que fechou as portas para ele.

Outros fatos se passaram no campo das idéias. Não por causa da moral protestante, e sim porque tolerada por ela, a filosofia iluminista começou a vicejar nos países do norte europeu. Pensadores do protestantismo francês (huguenotes), como Languet e Duplessis-Mornay, formulavam a nova ciência política, pós-Maquiavel. Na Holanda o conceito de Direito Natural era forjado por Grotius e outros intelectuais. Na Inglaterra de Cromwell, apesar do messianismo de seu líder, o ensaísmo de Francis Bacon lançava as bases da ciência moderna, empírica, e Thomas Hobbes propunha a submissão do poder religioso ao político. Na terra de Calvino, a Suíça, assim como na Escócia, as universidades fomentavam o pensamento laico de Montesquieu, David Hume, Adam Smith e Voltaire, influenciando cabeças como as do grande historiador Edward Gibbon e a do fundador americano Thomas Jefferson.

Qual era então a conexão entre calvinismo e Iluminismo? Era moral, social ou teológica? Para responder a essa pergunta, Trevor-Roper, no quarto ensaio, As Origens Religiosas do Iluminismo, vai primeiro às raízes do movimento no final da Renascença. E lá encontra, em destaque, o pensamento de Erasmo de Roterdã (1466-1536), representante mais completo de uma era liberal, pacífica e cosmopolita, anterior às guerras religiosas da primeira metade do século 17. Era uma época em que se acreditava numa Igreja unida, consensual, em que correntes como os arminianos (seguidores de Armínio, que dizia que a fé depende da vontade individual) e os socinianos (seguidores de Socino, que não acreditava em pecado original) discordavam de Calvino e não eram perseguidas por isso. Trevor-Roper resume: “Podemos dizer que as diferentes sociedades calvinistas da Europa contribuíram para o Iluminismo apenas na medida em que se afastaram do calvinismo.”

O Iluminismo teve, sim, bases religiosas, mas delas se distanciaria cada vez mais. O calvinismo mudou o paradigma ético, ao romper com o antiindividualismo católico, mas foram movimentos dissidentes do calvinismo que abriram caminho para a afirmação da razão crítica e do livre-arbítrio. Weber estava certo em seu diagnóstico a respeito da nova ética, mas não em associá-la com tanta ênfase ao calvinismo. O humanismo de outro herdeiro de Erasmo, Montaigne, na virada para o século 17, era também produto dessa reação ao puritanismo religioso. Sem as “heresias” ao próprio protestantismo, sem o pensamento laico ou laicizante de todos esses inimigos de utopias e ideologias, o novo mundo capitalista não teria irrompido com a mesma força.