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terça-feira, 15 de setembro de 2015

Psicologia das Massas: condicionamento mental.


             A experiência do padre Kircher, faz parte da história da Hipnose. O padre Kircher amarrava as patas de uma galinha e deitava-a sobre uma tábua, punha-a de lado de barriga para baixo. No fim da agitação ela voltava a ficar calma. Depois ele traçava com um giz, sobre a tábua, um traço que partia do bico. Depois ele suavemente desamarrava-lhe as patas, então ela permanecia imóvel. A galinha permanecia nesse estado durante muito tempo, para tirá-la dessa posição teria que sacudi-la ou assustá-la.

            Ora a galinha, inutilizava os seus esforços para se libertar, apesar deste da desamarrá-la, ela continuava no seu lugar, porque imaginava o traço como um obstáculo e permanecia no estado de imobilidade, dessa maneira condicionava-se à sua situação.     
    
 Um parente meu, rejubilou-se da morte de um irmão, foi censurado pelos outros familiares, as próprias filhas do falecido lhe disseram depois que era altura de ele perdoar ao irmão. Era o irmão que ele competia e odiava na sua infância. No funeral do irmão chorou, parecia sentir remorsos e lamentou-se sobre ele. Então, começou a andar cabisbaixo, disse a alguém que morreria muito em breve, e precisamente depois de um mês da morte do irmão, morreu de morte repentina.

            Muitos de nós conhecemos casos semelhantes, em que as explicações variam, desde uma simples coincidência, segundo os cépticos, de uma chamada do além, segundo os espiritualistas, ou de uma precognição, segundo a parapsicologia. Eu diria antes de um condicionamento mental.

            Tal como a galinha na experiência do padre Kircher, que se condicionou que não podia fugir nesse círculo de giz, o ser humano também se condiciona. Ele próprio se limita muitas vezes como se estivesse num círculo traçado por giz. Há muitos anos eu li, que houve um incêndio num hospital na Índia, em que havia muitos acamados e vários fugiram, apesar de estarem entrevados há muitos anos. O medo de morrerem queimados foi tão grande que se esqueceram que não podiam andar. Dessa maneira se esqueceram do condicionamento mental que os limitava numas muletas e numa cama.

            Sabe-se que as pessoas que prolongam mais a existência, são as que têm mais esperança de viver. E as que se limitam nos anos, morrem mais cedo. Temos o exemplo de muitos aposentados ao ficarem inativos abreviam a morte. Tudo isso se deve ao seu condicionamento mental.

            É a nossa mente que limita os nossos horizontes, quando ficamos estagnados no nosso círculo mental.

            Nunca diga: “Eu não sou capaz”, porque antes de agir já está a limitar-se. Diga antes: “Eu vou experimentar”, ou “Eu vou conseguir”.

            Na nossa educação desde a mais tenra meninice aceitámos os conceitos dos nossos pais, ora alguns foram úteis para o nosso desenvolvimento, mas outros, porém, revelaram-se catastróficos ao longo da vida. Alguns conceitos tornaram-se crenças proféticas tão poderosas que se auto realizaram. 

            Todo o conceito limitador nos imobiliza em todos os aspectos. Vejamos alguns: Acreditar que viemos ao mundo para sofrer, com o objetivo de alcançar o Céu. Não fazermos o que gostamos por causa das críticas dos amigos ou vizinhos. Não avançar com os nossos projetos com medo de falhar. Julgar que somos velhos para estudar ou mudar de profissão. E muitos outros conceitos limitadores se poderiam incluir.

            O condicionamento mental paralisa-nos num círculo imaginário e espesso, criado por nós em que só saímos dele quando acreditamos no impossível.

sábado, 12 de setembro de 2015

Clive Staples Lewis, uma biografia.


Clive Staples Lewis, comumente mais referido como C. S. Lewis (Belfast, Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda, atual Irlanda do Norte, 29 de novembro de 1898 — Oxford, Inglaterra, Reino Unido, 22 de novembro de 1963), foi um professor universitário, escritor, romancista, poeta, crítico literário, ensaísta e apologista cristão britânico. Durante sua carreira acadêmica, foi professor e membro do Magdalen College, tanto da Universidade de Oxford como da Universidade de Cambridge. Ele é mais conhecido por seus trabalhos envolvendo a apologia cristã, incluindo as obras O Problema do Sofrimento (1940), Milagres (1947) e Cristianismo Puro e Simples (1952), e a ficção e a fantasia, sendo as obras As Crônicas de Nárnia (1950-56), Cartas de um diabo ao seu aprendiz (1942) e Trilogia Espacial (1938-45), exemplos de sua produção literária voltadas para esses temas. Foi também um respeitado estudioso da literatura medieval e renascentista, tendo produzido alguns dos mais renomados trabalhos acadêmicos envolvendo esses temas no século XX.

Em vida, foi grande amigo do também professor universitário e escritor britânico J. R. R. Tolkien (1892-73). Juntos, os dois serviram como membros do corpo docente da Faculdade de Língua Inglesa da Universidade de Oxford e lideraram o grupo informal de discussão e colaboração literária The Inklings. Apesar de ter sido criado ao longo da infância dentro das tradições da Igreja da Irlanda, se tornou um ateu convicto na altura de sua adolescência, seguindo essa linha de convicção pessoal até o início de sua idade adulta, quando, por intermédio de Tolkien, voltou a professar a fé cristã, se tornando um árduo defensor do cristianismo até o fim de sua vida e carreira.

Nascido na cidade de Belfast, Irlanda (atual Irlanda do Norte), em 29 de novembro de 1898, Clive Staples Lewis cresceu no meio dos livros da seleta biblioteca particular de sua família, criando nesta atmosfera cultural um mundo todo próprio, dominado por sua fértil imaginação e criatividade. Filho caçula de Albert James Lewis (1863-1929) e de sua esposa, Florence Augusta Lewis (1862-1908), Clive foi descrito como uma "criança sonhadora". Quando tinha três anos, decidiu adotar o nome de "Jack", pelo qual ficaria conhecido na família e no círculo de amigos próximos durante toda a vida.


Quando eram adolescentes, Lewis e seu irmão Warren Lewis (1895–1973), três anos mais velho que ele, passavam quase todo o seu tempo dentro de casa dedicando-se à leitura de livros clássicos, e distantes da realidade materialista e tecnológica do século XX. Aos 10 anos, em 1908, a morte prematura de sua mãe fez com que ele ainda mais se isolasse da vida comum dos garotos de sua idade, buscando refúgio no campo de suas histórias e fantasias infantis.

Na sua adolescência encontrou a obra do compositor Richard Wagner e começou a se interessar pelas mitologias nórdica e grega, e por línguas, como o latim e o hebraico.

Sua educação foi iniciada por um tutor particular, ainda na Irlanda, sendo enviado a Malvern College, em Worcestershire, Inglaterra, aos 12 anos de idade. Em 1916, aos 18 anos, foi admitido no University College, em Oxford, Inglaterra. O serviço militar exigido pela Primeira Guerra Mundial (1914–18) interrompeu seus estudos. Em 1918, aos 20 anos, retornou à Oxford.

Durante a Primeira Guerra Mundial conheceu outro soldado irlandês, Paddy Moore, com quem travou amizade. Os dois fizeram uma promessa: se um deles falecesse durante o conflito, o outro tomaria conta da família respectiva. Moore faleceu em 1918 e Lewis cumpriu seu compromisso. Após o final da guerra, procurou a mãe de Paddy Moore, a senhora Janie Moore, com quem estabeleceu uma profunda amizade até a morte desta em 1951. Lewis viveu em várias casas arrendadas com Moore e a sua filha Maureen, facto que desagradou o seu pai. Por esta altura Clive já abandonara o cristianismo no qual fora educado.


Formando-se com louvor em letras e literatura aos 22, em 1920, em Oxford. Também se formou em teologia e linguística. De 1925 a 1954, lecionou no Magdalen College, também em Oxford, fazendo parte do corpo docente e servindo de consultor literário e teólogo da Universidade até sua morte, em 1963. Foi professor de Literatura Medieval e Renascentista na Universidade de Cambridge, em Cambrigde. Tornou-se altamente respeitado neste campo de estudo em toda a Europa, tanto como professor quanto como escritor. Seu livro A Alegoria do Amor: um Estudo da Tradição Medieval, publicado em 1936, é considerado por muitos seu mais importante trabalho, pelo qual ganhou o prêmio Gollansz Memorial de literatura. Em Oxford conheceu vários escritores famosos, como J. R. R. Tolkien (autor de O Senhor dos Anéis, de quem viria a se tornar grande amigo, discutindo com quem, numa noite em 1931, converteu-se ao cristianismo), T. S. Eliot, G. K. Chesterton e Owen Barfield.

Lewis voltou à fé cristã no início da década de 1930. Dedicou-se a defendê-la e permaneceu na Igreja Anglicana (o conhecido teólogo evangélico J. I. Packer foi clérigo na igreja que Lewis frequentava). Tornou-se popular durante a II Guerra Mundial, por suas palestras transmitidas pela rádio e por seus escritos, sendo chamado de "apóstolo dos céticos", especialmente nos Estados Unidos.


Lewis notabilizou-se por uma inteligência privilegiada, e por um estilo espirituoso e imaginativo. "O Regresso do Peregrino", publicado em 1933, "O Problema do Sofrimento" (1940), "Milagres" (1947), e "Cartas de um diabo ao seu aprendiz" (1942), são provavelmente suas obras mais conhecidas. Escreveu também uma trilogia de ficção científico-religiosa, conhecida como a "Trilogia Espacial": "Além do Planeta Silencioso" (1938), "Perelandra" (1943), e "Aquela Força Medonha" (1945). Para crianças, escreveu uma série de fábulas, começando com "O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa" em 1950. Sua autobiografia, "Surpreendido pela Alegria", foi publicada em 1955.

É bastante conhecida sua influência sobre personalidades ilustres da nossa época, dentre elas Margaret Thatcher, ex primeira ministra do Reino Unido. Seus livros foram lidos pelos seis últimos presidentes americanos, e muitos de seus pensamentos foram citados em seus discursos. Venderam-se mais de 200 milhões de cópias dos 38 livros escritos por Lewis, os quais foram traduzidos para mais de 30 línguas, incluindo a série completa de Nárnia para o polonês, ainda durante a Guerra fria, e o russo. Entre 1996 e 1998, quando foi celebrado o seu centenário, foram escritos cerca de 50 novos livros sobre sua vida e seus trabalhos, completando mais de 150 livros desde o primeiro, escrito em 1949 por Chad Walsh: "C. S. Lewis: O Apóstolo dos Céticos". Deu-se seu nome a um asteróide, o 7644 Cslewis, descoberto em 4 de novembro de 1988 por Antonín Mrkos.


Lewis e Tolkien foram grandes amigos durante décadas, até a morte de Lewis (em 1963, aos 64 anos, quase dez anos antes da morte do próprio Tolkien), e essa amizade foi explorada no livro O Dom da Amizade: Tolkien e C. S. Lewis. De fato, Lewis contribuiu para a existência de O Senhor dos Anéis, sendo um dos primeiros a ler O Hobbit; Tolkien jamais deixou de admirar a grande inteligência e criatividade de Lewis, e vice-versa.

Frases Famosas de C.S. Lewis

“O perdão vai além da justiça humana; é perdoar aquelas coisas que absolutamente não podem ser perdoadas.”

(C. S. Lewis)

“Se você está à procura de uma religião que o deixe confortável, definitivamente eu não lhe aconselharia o cristianismo.”

(C. S. Lewis)

“[Eu] Pensava que nós seguíamos caminhos já feitos, mas parece que não os há. O nosso ir faz o caminho.”

(C. S. Lewis)

“Eu acredito no cristianismo como eu acredito no sol, não por aquilo que ele é,mas que através dele eu posso ver tudo ao meu redor.”

(C. S. Lewis)

“Existem coisas melhores adiante do que qualquer outra que deixamos para trás.”

(C. S. Lewis)

“O carinho é responsável por nove-décimos de qualquer felicidade sólida e durável existente em nossas vidas. “

(C. S. Lewis)

“Cada vez que você faz uma opção está transformando sua essência em alguma coisa um pouco diferente do que era antes.”

(C. S. Lewis)

“Deus sussurra em nossos ouvidos por meio de nosso prazer, fala-nos mediante nossa consciência, mas clama em alta voz por intermédio de nossa dor; este é seu megafone para despertar o homem surdo.”

(C. S. Lewis)

“Se você está à procura de uma religião que o deixe confortável, definitivamente eu não lhe aconselharia o cristianismo.”

(C. S. Lewis)

“Os conservadores são pessimistas quanto ao futuro e otimistas quanto ao passado.”

(C. S. Lewis)

“O cristianismo, se for falso, não tem valor; se for verdadeiro, tem valor infinito. A única coisa que lhe é impossível é ser mais ou menos importante.”

(C. S. Lewis)

“Comecei uma dieta, cortei a bebida e comidas pesadas e, em catorze dias, perdi duas semanas.”

(C. S. Lewis)

“A questão é saber se você pode obrigar as palavras a querer dizer coisas diferentes. A questão é mostrar a elas quem manda...”

(C. S. Lewis)

“Mera mudança não é crescimento. Crescimento é a síntese de mudança e continuidade, e onde não há continuidade não há crescimento.”

(C. S. Lewis)

“Quando se trata de conhecer a Deus, toda a iniciativa depende dEle. Se Ele não se quiser revelar, nada do que façamos nos permitirá encontrá-lo.”
(C. S. Lewis)

“Eu... eu... nem eu mesmo sei, nesse momento... eu... enfim, sei quem eu era, quando me levantei hoje de manhã, mas acho que já me transformei várias vezes desde então.”

(C. S. Lewis)

“Educação nunca foi despesa. Sempre foi investimento com retorno garantido.”

(C. S. Lewis)

“Mas os poços da fantasia acabam sempre por secar e o contador de histórias, cansado tentou escapar como podia: o resto amanhã... Já é amanhã.”

(C. S. Lewis)

“Eu acredito no Cristianismo como acredito no brilho do sol, não simplesmente porque eu o veja, mas porque, através dele, posso ver todas as outras coisas.”

(C. S. Lewis)

" O problema real da vida crista aparece onde as pessoas normalmente nao o procuram. Ele aparece no instante em que você acorda cada manha. Todos os desejos e esperanças para o dia correm para você como animais selvagens. E a primeira tarefa de cada manha consiste simplesmente em empurra-los todos para trás; em dar ouvidos a outra voz, tomando aquele outro ponto de vista, deixando aquela outra vida mais ampla, mais forte e mais calma entrar como uma brisa. E assim por diante, todos os dias. Mantendo distancia de todoas as inquietações e de todos os aborrecimentos naturais, protegendo-se do vento. No começo, nos somos capazes de faze-lo somente por alguns momentos. Mas então o novo tipo de vida estará se propagando por todo o nosso ser, porque então estamos deixando Cristo trabalhar em nos no lugar certo. Trata-se da diferença entre a tinta, que esta simplesmente deitada sobre a superfície, e uma mancha que penetra na. Quando Cristo disse "sede perfeitos", quis dizer isso mesmo. Ele quis dizer que temos que entrar no tratamento completo. Pode ser duro para um ovo se transforma e em um pássaro; seria uma visão deveras divertida, e muito mais difícil, tentar voar enquanto ainda se um ovo. Hoje nos somos como ovos. Mas você não pode se contentar em ser um ovo comum, ainda que decente. Ou sua casca se rompe ou você apodrecera."

(C.S Lewis) - Cristianismo Puro e Simples

“Amar é sempre ser vulnerável. Ame qualquer coisa e certamente seu coração vai doer e talvez se partir. Se quiser ter a certeza de mantê-lo intacto , você não deve entregá-lo á ninguém , nem mesmo a um animal. Envolva o cuidadosamente em seus hobbies e pequenos luxos, evite qualquer envolvimento, guarde o na segurança do esquife de seu egoísmo. Mas nesse esquife – seguro , sem movimento , sem ar - ele vai mudar. Ele não vai se partir – vai tornar se indestrutível, impenetrável , irredimível. A alternativa a uma tragédia ou pelo menos ao risco de uma tragédia é a condenação. O único lugar além do céu onde se pode estar perfeitamente a salvo de todos os riscos e pertubações do amor é o inferno.”

(C.S. Lewis) - Os quatro amores

 “O bem, quando amadurece, se mostra cada vez mais diferente, não só do mal, mas de qualquer outro bem. - O mal pode ser desfeito, mas não pode "transformar-se" em bem.”
(C.S. Lewis)

“Quando se trata de conhecer a Deus, toda a iniciativa depende dEle. Se Ele não se quiser revelar, nada do que façamos nos permitirá encontrá-lo.”
(C. S. Lewis)


quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A Sociedade dos Nove Desconhecidos


Por Lauro Edison, 18 de setembro a 27 de outubro de 2007
Esqueça a Roza-Cruz, os Iluminatti, a Golden Dawn ou a Maçonaria. Os Nove Desconhecidos formam a mais poderosa sociedade secreta do Universo. Poucos mitos são tão profusos em especulações: da manipulação das massas às viagens na velocidade da luz, da imortalidade às civilizações perdidas. E todas estas maravilhosas ideia sem nenhum apelo ao misticismo.
Segundo a versão principal da lenda, a ordem dos Nove foi fundada na Índia, em 246 a. C., pelo imperador Ashoka. Objetivo: tornar o conhecimento secreto; evitar que caia em mãos erradas. E toda a sabedoria seria armazenada em nove livros, constantemente atualizados e cada qual dedicado a uma ciência: psicologia, gravitação e luz são três delas.
Sobre um dos livros, Talbot Mundy escreveu: “uma única página tem segredos de propaganda o suficiente para que um ladrão possa começar, prontamente, a sua própria religião”.
Escondidos, os Nove interviriam sutilmente no mundo, de tempos em tempos, conduzindo a civilização por caminhos seguros. E muitos ocidentais, ao visitarem o Oriente, teriam entrado em contato com eles, ou com instruções de algum dos nove livros, e retornado com conhecimentos impressionantes.
Ora, e quais ligações poderia haver entre tudo isto e, por exemplo, as estranhas atividades de uma ilha perdida no pacífico? Obviamente, falo de Lost. Eles sobreviveram à queda de um avião, mas se viram presos em uma ilha cheia de eventos absurdos e, voilà, eis a trama mais indecifrável dos últimos tempos! Lost provoca o espectador com visões de mortos, sonhos proféticos e outros milagres, mas então despeja hipóteses tecnológicas, sugerindo (muitas vezes de forma direta) que nada há de realmente sobrenatural ocorrendo na ilha.
Uma fachada de mágica e misticismo para aquilo que, na verdade, é a pura ciência dissimulada, a técnica. Eis o que pode ser a ilha Lost. Eis o que é a Lenda dos Nove Desconhecidos. E parece haver outras conexões intrigantes entre estes dois universos. É fascinante ver um mito tão remoto fazer contato, e de forma tão inesperada, com um dos melhores mitos modernos.

Mas Lost seria apenas a manifestação mais recente da lenda dos Nove. Seja fornecendo a cura da cólera, guardando antigos projetos de vimanas ou enviando gurus bizarros ao ocidente, os Nove dão as caras em várias ocasiões. As pistas são péssimas. E as possibilidades, incríveis.
De qualquer modo, seguiremos as pistas péssimas.
Então rastrearemos a origem do mito. Conheça, enfim, a magnífica Lenda dos Nove Desconhecidos
Materialismo e Espiritualismo

Uma crença existente na humanidade desde tempos imemoriais de que existe uma segunda realidade para além do mundo físico. Seja metafísica, sobrenatural, plano divino, mundo das ideias, o além, a esfera do espírito. Cada um o imagina de um jeito, mas uma coisa é certa: é algo “não físico”, imaterial, intangível. É onde moram os deuses, anjos e fantasmas (e o próprio diabo), e para onde vamos quando morremos.
E materialista foi, por exemplo, Tales de Mileto, pai da filosofia e ciência. Também o foram Demócrito, Nietzsche, Darwin. Não é surpresa: são ocidentais, filhos do racionalismo grego (embora mesmo este inclua uma maioria de espiritualistas, de Platão a Kant). Mas seria estranho descobrir o materialismo entre os orientais, não? O Oriente, afinal, parece o berço do mais fantasioso misticismo.

Será?
Quem quer que tenha sido, o criador da Lenda dos Nove Desconhecidos pensa diferente: nada de fantasmas, deuses ou milagres, apenas Ciência. O misticismo prolífico das diversas tradições orientais – hinduísmo, budismo, confucionismo, etc. – seria apenas um engenhoso disfarce, elaborado pela própria influência dos Nove, para esconder tecnologia de ponta.
Enquanto as outras sociedades secretas são ditas possuidoras de saberes místicos, os Nove teriam a instigante característica de guardar um conhecimento puramente racional, científico.
Mas os Nove Desconhecidos não são Ciência, é claro. São paranoia, mito, teoria da conspiração. São, talvez, uma amostra lúdica daquilo que a Ciência pode se tornar nos próximos mil anos. E, se você possui uma mente excessivamente aberta, esta lenda pode até – quem sabe, vá lá, de repente, quiçá, porventura – se aproximar de alguma coisa real.
O importante, e a razão maior de esta matéria existir, é: seja ou não um completo disparate, esta lenda ilustra de modo simples aquilo que a Ciência não cansa de mostrar, ou seja, que fantasmas e milagres são inúteis. O Universo físico é mais fascinante do que você pensa. Além do quê, a simples ideias de um mito, situado no Oriente, que nega explicitamente as conhecidas realidades místicas orientais, é em si mesmo imperdível.

E por mais absurdo que seja (e ele é muito!), seus absurdos jamais invadem o terreno do sobrenatural. Eis o detalhe crucial. E não será isso algo espetacular? Afinal, dizem que a Ciência e seu materialismo são áridos e desencantados. Mas a Ciência também é absurda, pois o mundo é estranho. Lindamente estranho em suas revelações e possibilidades. Quando se trata de fascinar e assombrar, é realmente difícil superar os fatos. Duvido muito que a lenda dos Nove, ou qualquer outro delírio inspirado, possa conseguir tal feito.
E, no entanto, fugir do sobrenatural é um ótimo começo.
Por isso estamos aqui.
Qual será a origem deste tão improvável “mito sem misticismo”?
O Despertar dos Mágicos

Há uma exceção: os Nove Desconhecidos também são citados em um fórum. Onde? Na teoria de um fã americano de Lost… Mas, fora isso, se você digitar “nine unknown” no Google, será invariavelmente levado ao mesmo texto, repetido dezenas de vezes por toda a web. É um excerto do livro O Despertar dos Mágicos, escrito em 1960 por Louis Pauwels e Jacqües Bergier.
O livro é uma introdução ao “realismo fantástico”: uma visão de mundo que, em nome do entusiasmo, pretendeu buscar a verdade através de meios nada ortodoxos (leia-se: indo além do método científico), abrindo a mente para todas as possibilidades, mas tentando evitar o absurdo.

É difícil fugir do absurdo quando se atropela o método científico, mas a obra de Pauwels e Bergier está muito longe de qualquer delírio místico ou “new age”, destes que infestam as bancas e livrarias, seja na seção de esotéricos, seja na dos mais vendidos. Os “mágicos” de O Despertar dos Mágicos estão muito mais pra cientistas do que pra gurus. “Magia” é tecnologia. E, é claro, a Lenda dos Nove Desconhecidos é um exemplo perfeito, coroando um capítulo chamado “A conspiração em pleno dia”, sobre sociedades secretas.
Não é nenhum desfile de bizarrices. Sociedades secretas “comuns”, como Maçonaria e Iluminatti, são descartadas como brincadeiras ridículas. E Pauwels avança para uma tese engenhosa: quando a tecnologia se torna muito perigosa, é preciso escondê-la.
Isto esteve perto de ocorrer após a 2ª guerra mundial. De fato, houve uma mobilização geral contra a tecnologia. Quando armas de destruição em massa mostraram seu poder, autoridades cogitaram interditar a ciência pública. A ideia era entregar o avanço científico a uma comissão conscienciosa, que decidiria, sem riscos, que uso dar ao conhecimento.
E é aí que entram os Nove Desconhecidos.
Pauwels especula que, no passado distante, o avanço tecnológico teria sido alvo da mesma necessidade de segredo, porque igualmente perigoso. E vai buscar informações sobre os Nove, ao que parece, sobretudo no livro de Talbot Mundy, The Nine Unknown. Como o próprio Pauwels diz (e talvez aumentando), ele é “um misto de realidade e ficção”. Isto não ajuda a credibilidade da lenda, mas, como veremos, quase chega a ser melhor que nada.
Mais adiante, falaremos sobre Mundy e seu livro.
Antes, o ponto de partida da história dos Nove: o imperador Ashoka.
O Império de Ashoka

Tecnologia perigosa: eis o que permitiu que Ashoka, por volta de 270 a. C., expandisse seu Império, exterminando cem mil calinganeses em uma violenta e arrasadora conquista na Índia. Isto faria dele apenas mais um Gêngis Khan, um Alexandre, um Hitler. Mas Ashoka é historicamente famoso pela sua mudança: abandonou a violência e, segundo Pauwels, “quis proibir para sempre aos homens que utilizassem a inteligência de uma forma prejudicial”. A tática, adivinhe, foi tornar a ciência secreta, fundando os Nove Desconhecidos.
Que tecnologia Ashoka possuía? Basicamente, apenas a tecnologia de guerra. Uma versão mais louca, no entanto, diz que o imperador deparou com destroços impressionantes de uma guerra tecnológica ocorrida 20 mil nos antes. Por hora, não importa. Em posse de conhecimentos devastadores, os Nove interviriam de modo bastante sutil no mundo, poucas vezes deixando pistas.
O nome “Ashoka” lhe é familiar?
Talvez você tenha visto, na televisão, um dos recentes comercias da Ashoka Empreendedores Sociais, uma organização mundial sem fins lucrativos, mas que financia projetos profissionais de impacto social positivo. Começou, por sinal, justamente na Índia, embora fundada por um americano. A origem do nome é esclarecida no site da Ashoka do Brasil. E a explicação é tão boa e concisa que preciso repeti-la aqui:
“Em sânscrito – língua indo-européia de registro escrito mais antigo – Ashoka significa ‘ausência de sofrimento’. Ashoka foi também o nome de um imperador que governou a Índia durante o século III a. C. e é lembrado como um dos maiores inovadores sociais do mundo. Depois de uma guerra pela unificação do país, o imperador Ashoka renunciou à violência e dedicou sua vida à promoção do bem-estar social, da justiça econômica e da tolerância. Em seu governo instituiu serviços de saúde, lançou um amplo programa de abertura de poços, construiu alojamentos para viajantes e plantou milhares de árvores para fazer sombra nas estradas quentes e de muita poeira da Índia. Seus éditos, gravados em pilares de pedra em todo o império, testemunham sua fé na ética como guia para a ação pública.”
Tecnologia e bons propósitos, afinal.
E, como que para colocar minhocas na cabeça criativa dos paranoicos, o slogan deles é: “todo mundo pode mudar o mundo”.
Mas os empreendedores sociais nada dizem sobre “nove desconhecidos”, é claro. E, antes que especulem, também não encontrei nenhum “9” escondido no site da organização! Na verdade, os Nove não são citados em nenhuma história oficial do imperador Ashoka ou da dinastia Mauryan, da qual ele fazia parte. A lenda foi obviamente incorporada depois. Mas há uma pista de onde tudo começou, e que depois nos levará a Lost: a difusão do Dharma.
É fato que Ashoka enviou monges budistas pela Ásia e além, incluindo um de seus filhos, para difundir os princípios do Dharma, isto é, o budismo. Não se distraia pelo fato de Ashoka estar difundindo uma “religião”, pois o que “dharma” significa é: “o caminho das verdades mais altas” ou “o princípio universal que rege toda a realidade”. Trata-se (bem, faça um esforço, em nome da brincadeira) de puro conhecimento racional, e o resto seria fachada.
Pois bem, os monges eram dez, mas foram enviados a nove lugares. A sugestiva lista a seguir saiu de um livro antigo chamado “Mahavamsa”. Eis nossos primeiros “nove” (de muitos suspeitos):
1. Majjhantika
2. Mahadeva
3. Rakkhita
4. Yona Dhammarakkhita
5. Mahadhammarakkhita
6. Maharakkhita
7. Majjhima
8. Sona e Uttara
9. Mahamahinda (filho de Ashoka)
Não é difícil imaginar alguém que, partindo destes “nove”, tenha criado uma versão rudimentar do que, muito depois, viria a ser a rica mitologia dos Nove Desconhecidos. Vamos a ela, afinal.
Os Nove Livros do Conhecimento

Este é, quase com certeza, o aspecto mais instigante do excerto de O Despertar dos Mágicos. E o fato é o seguinte: diz-se que cada um dos Nove Desconhecidos era responsável por um livro, que conteria informações de uma determinada ciência. Tais livros seriam constantemente atualizados.
Estes seriam os seus conteúdos:
Livro I – Psicologia: técnicas de controle e manipulação psicológica das massas, através da compreensão do funcionamento da mente.
Livro II – Fisiologia: como matar ou curar alguém com um toque, por exemplo.
Livro III – Microbiologia: cura de doenças e engenharia biológica.
Livro IV – Química: a alquimia (transmutação dos metais) seria viável.
Livro V – Comunicação: incluindo, talvez, os meios corretos de telepatia.
Livro VI – Gravitação: seria possível controlar a gravidade.
Livro VII – Universo: “a mais vasta cosmogonia concebida pela nossa humanidade”, segundo Pauwels.
Livro VIII – Luz: viagem e Invisibilidade.
Livro IX – Sociologia: as leis que governam a evolução das sociedades.
Estes supostos nove livros se abriram a belas especulações. Ainda no excerto, diz-se que o Judô seria resultado de “vazamento” de informações do Livro II. E o Livro VI é muito citado, aludindo sempre à tecnologia dos “vimanas”, isto é, as supostas máquinas voadoras da antiquidade que infestam a narrativa do sagrado livro hindu, o Mahabharata.
Além da já citada “técnica para fundar uma religião”, presumivelmente vinda do Livro I, uma fonte remota (que ainda veremos) fala na possibilidade de que, com a disciplina correta, seja possível desfazer a própria sombra: obviamente o Livro VIII vem à mente. Como veremos, também não escapou à atenção dos fãs de Lost a possível ligação entre estes nove livros e os projetos de pesquisa financiados pela misteriosa Fundação Hanso.
Voltaremos aos livros durante o texto.
Manifestações dos Nove na História

Mesmo para uma lenda, as “manifestações” dos Nove Desconhecidos são abusivamente raras e esparsas. Era de se esperar que, para uma coisa inventada, ou sobre a qual se pode inventar o quanto quiser, existiria um sem número de histórias, versões e boatos. Mas só o que temos (?) é o que segue:
• 246 a. C. – Ashoka funda os Nove Desconhecidos (como já vimos)
• 370 d. C. (aproximadamente) – Pilar de Ferro de Délhi
Até hoje, na capital da Índia, existe um famoso monumento. É o Pilar de Ferro de Délhi, erigido há mais de 1500 anos pelo imperador Chandragupta II Vikramaditya, da dinastia dos Guptas. Ele resistiu à corrosão por todo este tempo, o que para muitos é um mistério inexplicável  mas, ao que parece, não para os especialistas. Seja como for, a obra é tida como exemplo da excelência e da habilidade dos antigos indianos no processamento de ferro.
Por ser um antigo mistério tecnológico em plena Índia, a coluna acabou sendo vagamente associada à ação dos Nove Desconhecidos. E há um segundo motivo óbvio. Tome fôlego: o imperador Chandragupta II, responsável pelo monumento, é neto de Chandragupta I, fundador da dinastia dos Guptas. Mas este adotou o nome de um imperador antigo que, 600 anos antes, unificara a Índia: era o Chandragupta da dinastia Mauryan, exatamente o avô de Ashoka.
Conclusão espalhafatosa: a Coluna de Ferro de Délhi foi construída pelo neto do imperador que copiou seu nome do avô do fundador dos Nove Desconhecidos (!). Talvez – e põe “talvez” nisso – haja alguma conexão maior entre a dinastia Mauryan e a dinastia Gupta, “explicando” esta suposta ação dos Nove na construção da coluna.
Ou é tudo coincidência e delírio.
• 999 d. C. – A Cabeça de Bronze do Papa
Esta Cabeça de Bronze tem mitologia própria e apenas resvala na lenda dos Nove. Seria um aparelho capaz de responder “sim” ou “não” a qualquer pergunta. Em algumas versões, seu funcionamento é mágico. O importante é que, em outras, o funcionamento é mecânico! Entre seus supostos donos, constam nomes como Roger Bacon, Alberto Magno e Boécio. Mas O Despertar dos Mágicos fala apenas em Gerbert d’Aurillac, o Papa Silvestre II.
E não é à-toa. D’Aurillac era cientista, e teve a fama de ultrapassar sua época. É considerado o inventor do relógio mecânico. Tornou-se Papa no paranoico ano de 999. Pauwels o define como “um dos homens mais misteriosos do Ocidente”. Tudo o que se diz é que, após uma suposta viagem à Índia, ele retornou com conhecimentos impressionantes. Índia? Tecnologia? Obviamente foram os Nove Desconhecidos!
Isto, ao menos, é fato: d’Aurillac realmente fala da cabeça de bronze, na Patrologia Latina, organizada por Migne. O que é de cair o queixo é a afirmação textual do Papa de que a Cabeça de Bronze possui um funcionamento baseado em “um cálculo feito com dois números”. Mesmo em 1960 isto fez Pauwels pensar em nosso moderno código binário de “0” e “1” da informática. É a cara dos Nove, não? Pense no Livro V, da comunicação.
• 1875 – Louis Jacolliot e o mistério das águas do Ganges
O rio Ganges é um dos sete rios sagrados da Índia e, para os hindus, a vida não está completa sem pelo menos um banho ali. Diz-se também que suas águas teriam efeitos curativos. Agora imagine a enorme população da Índia e a corrida de doentes a se banhar junto com pessoas saudáveis! O espantoso não é tanto a cura dos doentes (que decerto nem ocorre), mas o fato de que os saudáveis não são contaminados. Eis o mistério, se há algum.
O francês Louis-François Jacolliot viveu muitos anos na Índia, chegando a ser cônsul da França em Calcutá. Mas, por outro lado, escreveu muitos livros sobre os enigmas da humanidade. Em 1875 escreveu Trois mois sur le Gange et le Brahmapoutre, onde apresenta uma tese incrível: a água do Ganges é continuamente esterilizada pela radiação, o que evita que as pessoas saudáveis se contaminem com o banho dos doentes. De onde vem tal radiação? De um templo secreto dos Nove Desconhecidos, enterrado sob o leito do rio!
O que impressiona Pauwels, em O Despertar dos Mágicos, é que a ideia de “esterilização por meio de radiação” só foi levada a sério um século depois de Jacolliot escrever seu livro. Bem, para uma teoria da conspiração é melhor que nada… Em outros livros, ao que parece, Jacolliot afirmou cabalmente a existência dos Nove.
• 1890 – A. Yersin e a cura da cólera
A história de A. Yersin é rápida e óbvia. Ele foi o bacteriólogo europeu que descobriu a cura da cólera. Mas… Fez muitas viagens por toda a Ásia, inclusive morrendo em sua casa, no Vietnã. Então, é claro, a cura da cólera lhe teria sido fornecida pelos Nove Desconhecidos. Talvez tenha sido o próprio Jacolliot quem disse isto: Yersin teria viajado a Madrasta em 1890, tendo recebido instruções dos Nove sobre a peste e a cólera.
• 1923 – Talbot Mundy publica “The Nine Unknown”
O livro de Mundy não constaria da lista de “manifestações dos Nove” se Pauwels não houvesse dito que se trata de “um misto de ficção e realidade”. Ficção porque narra as aventuras de JimGrim, uma espécie de Indiana Jones com uma queda pelo Oriente. Realidade porque, supostamente, há eventos-chave da narrativa que possuem um fundo real.
Esta história é um pouco mais longa.
William Lancaster Gribbon (1879-1940), famoso como Talbot Mundy, foi um novelista inglês, conhecido por narrar aventuras que se passavam no Oriente. Afinal, Mundy trabalhou um certo tempo na polícia inglesa da Índia, se fascinando por sua cultura. Seu nome é pouco conhecido no Brasil, mas ele teve grande influência sobre Robert E. Howard, o criador de Conan.
O livro The Nine Unknown (“Os Nove Desconhecidos”sem tradução para o português) foi publicado em 1923 e é, sem dúvida, a maior fonte de informação de O Despertar dos Mágicos. É de lá que sai a ideia dos nove livros, por exemplo. Mas antes precisamos conhecer o enigma por trás do protagonista deste livro, isto é, o personagem JimGrim.
James Schuyler Grimm (JimGrim) é o herói de várias novelas de Mundy. Em suas primeiras aventuras, era um agente da inteligência britânica – como um 007, por exemplo. Mundy afirmou que JimGrim era baseado numa pessoa real. Especulou-se, então, que o personagem seria uma versão do próprio Mundy. Aos poucos, porém, o 007 foi se tornando Indiana Jones. As aventuras de JimGrim foram se deslocando para a Índia e ganhando aura de mistério, e The Nine Unknown é uma das primeiras novelas nesta direção.
Qual a história contada em The Nine Unknown?
Existe uma enorme quantidade de ouro na Índia, mas é sabido não haver senão uma mina em todo o país. De onde viria tanto ouro? Na narrativa, JimGrim vai justamente tentar resolver este mistério – pense no Livro IV dos Nove, sobre a transmutação dos metais.
O herói descobre um certo “reverendo”, que passou 80 anos coletando livros na Índia, obtendo conhecimentos proibidos e, por fim, chegando aos responsáveis pelo ouro indiano, isto é, os Nove Desconhecidos – talvez Mundy tenha realmente conhecido uma biblioteca abandonada deste tipo.
Mas, mesmo no romance, os Nove são tão evanescentes que JimGrim jamais os encontra, dando de cara apenas com imitadores – o que, por sinal, gerou a interpretação de que Mundy estaria falando de outros Nove, voltados para propósitos malignos. O autor, indo ainda mais fundo, acrescenta que os Nove Desconhecidos podem remontar à cidade perdida de Atlântida – o que nos levará bem longe, como você vai ver.
Sobre os nove livros do conhecimento, Mundy escreve que “uma única página tem segredos de propaganda o suficiente para que um ladrão possa começar, prontamente, a sua própria religião; e um meio eficiente de resistir a uma hipnose maligna é pensar em difíceis cálculos matemáticos”.
Como autor de extensa matéria sobre os Nove Desconhecidos, vou tentar incrementar a mitologia com pura especulação – que não será mais implausível do que a lenda já é. Veremos se, com os anos, minha sugestão assumidamente inventada será incorporada ao mito. É um teste. Vamos lá:
• 1963 – Auto-Imolação no Vietnã
Em protesto contra o governo de Ngô Đình Diệm, que oprimia a religião budista, o monge vietnamita Thích Quảng Ðức ateou fogo a si mesmo e queimou até a morte, sem mover um músculo. Como ele conseguiu? Diz-se (?) que ele teria tido acesso a instruções dos Nove Desconhecidos, em especial o Livro II, sobre fisiologia, com técnicas sobre a total anulação da dor.
Os Nove teriam interesse em lutar pela religião da qual seu fundador, Ashoka, era um adepto entusiasta, e promoveram um mártir exemplar: após a morte, o monge Quảng Ðức se tornou santo. É que seu corpo foi carbonizado pelo fogo, mas seu coração se manteve intacto e, até hoje, pode ser visto em público para adoração. Golpe de mestre contra Ngô Đình Diệm.
Os Outros Nove
A ideia de “nove entidades” que controlam o mundo, ou que são capazes de intervir nele de forma crucial, é um tema que vai bem além da lenda de Ashoka. Há versões gregas, egípcias, satanistas, hindus e modernas para o que, em geral, se chama de “O Conselho dos Nove”. Vejamos as outras possíveis origens dos Nove Desconhecidos:
• Versão Grega – O Conselho dos Nove
Prometeu ousou dar o poder do fogo aos humanos. Isto enfureceu Zeus. Todos conhecem este mito. Prometeu foi amarrado a uma pedra e teve o seu fígado eternamente devorado por uma águia. E a humanidade também foi punida. Zeus criou o “Conselho dos Nove”:
1. Aphrodite
2. Apollo
3. Athena
4. Demeter
5. Hephaestus
6. Hera
7. Hermes
8. Poseidon
9. Zeus
Este Nove presentearam a humanidade com a famosa Caixa de Pandora, tendo acrescentado que a caixa jamais deveria ser aberta. No mito, como se sabe, é dito que a caixa acaba sendo aberta, e dela saem todas as tragédias e males da humanidade. O interessante é que, neste caso, a curiosidade é a vilã. É por causa dela que a caixa é aberta, abrindo uma era de trevas no mundo.
• Versão Hindu – Os Navnath (Nove Senhores)
Os nomes que você vê a seguir são os “nove senhores”, ou nove santos, da linhagem Nath Sampradaya, da mitologia hindu. Esta última é muito importante, e teria sido fundada pelo próprio Shiva. Já os “navnath” seria uma de tantas ramificações secundárias. Mas como são hindus e são nove, não poderiam faltar nesta matéria:
1. Machindranath
2. Gorakhnath
3. Jalandernath
4. Kanifnath
5. Charpatnath
6. Nageshnath
7. Bharatnath
8. Revannath
9. Gahininath
• Versão Egípcia – A Ennead de Heliópolis
A tradição egípcia parece ser formada por vários grupos de nove deidades, sendo o principal deles a “Ennead de Heliópolis”, encabeçada pelo que seria o criador do Universo, Atum. Este teria sido capaz da façanha de “criar a si mesmo” e, talvez mais incrível, de ter gerado os demais deuses.  Os demais deuses, agora formados, completariam a estranha cosmogonia egípcia. O corpo de Geb, por exemplo, daria forma ao céu.
1. Atum
2. Shu
3. Tefnut
4. Nut & Geb
5. Osiris
6. Isis
7. Nephtys
8. Seth
9. Horus
• Versão “Moderna” – Os Nove Princípios
“E quando eu digo ‘Eu’, não sou eu, mas é o grupo – porque sou um mensageiro dos Nove. Nós somos nove princípios do universo, contudo junto nós somos um.”
As palavras do Dr. Vinod não precisam ser místicas. Pense no Livro VI dos Nove Desconhecidos e todas as suas técnicas de comunicação. Seja como for, as mensagens de Vinod atraíram um círculo de homens poderosos, que acabou se reunindo para ouvir, e talvez obedecer, as instruções dos “nove princípios”. E esses homens formaram uma espécie de contraparte do “Conselho dos Nove”.
A lista a seguir é uma vaga tentativa. São os possíveis membros:
1. Dr. D. G. Vinod (veio da Índia)
2. Andrija Puharich
3. Uri Geller (sim, o entortador de colheres)
4. John Whitmore
5. Phyllis Schlemmer
6. “Bobby Horne”
7. Lyall Watson
8. Ira Einhorn
9. Gene Roddenberry (criador da série Jornada nas Estrelas)
É interessante notar o último membro. A série Jornada nas Estrelas é cheia de “spin-offs”(seriados derivados). Um deles, sugestivamente, se chama Deep Space Nine. Pior: em um episódio deste spin-off há um personagem cujo nome é “Vinod”!
Em 1976 a sonda Viking obteve uma imagem clássica do solo marciano: o famigerado Rosto de Marte. Não apenas um rosto, mas pirâmides pareciam evidentes por todo o terreno ao seu redor. Muita gente criativa logo imaginou: os responsáveis pelas pirâmides do Egito e as marcianas são os mesmos.
Richard C. Hoagland é, até hoje, um dos maiores entusiastas da ideia de “egipcismo” marciano. Conspiração sobre conspiração, há quem diga que, neste ponto, ele teria sido diretamente influenciado pelos Nove, encabeçados por Vinod. O que tudo isto tem a ver com os Nove Desconhecidos de Ashoka?
A banda The Gak Omek parece ser a única entidade no planeta, além de mim, que “percebeu” alguma conexão. Em seu disco, Return of the All-Powerful Light Beingsdeu às músicas nomes derivados da conspiração. Uma delas era Dance of the Nine Unknown Men (sim, “Dança dos Nove Homens Desconhecidos”, mas a melodia é fantástica) e outra Cidonya, a região de Marte.
Mas vamos ao suposto link:
Primeiro, lembre que o Dr. Vinod veio da Índia. Segundo, lembre que Talbot Mundy falara sobre uma origem muito remota dos Nove, remontando à cidade perdida de Atlântida. Pois bem: uma fonte nada confiável diz que o livro sagrado dos hindus, o Mahabharata, falaria sobre uma guerra entre Atlantes e o Império de Rama há 20 mil anos.
Já o famoso manuscrito de Lhasa, em sânscrito, sugeriria que este tal “Império de Rama” seria também uma civilização avançada, capaz de construir veículos voadores (os tais vimanas do Mahabharata), e que existiu na mesma época dos Atlantes, situada ao longo do que hoje é o Paquistão e – adivinhe – a Índia. O resto teremos que “deduzir”.
Obviamente, a guerra tecnológica entre as duas civilizações, há 20 mil anos, se deu em plena Índia. Os destroços foram encontrados em 246 a. C. pelo imperador Ashoka. Havia técnicas impressionantes, e toda uma grandiosa ciência, discerníveis ali. Por exemplo, os segredos da gravitação, contidos no Livro VI, teriam vindo de destroços de vimanas.
20.000 a. C. – Uma guerra tecnológica entre os Rama e os Atlantes deixa incríveis destroços na Índia.
246 a. C. – O imperador Ashoka encontra os destroços. Talvez seguindo instruções, ou talvez deliberadamente, funda os Nove Desconhecidos, com o objetivo de tornar secreto aquele perigoso conhecimento – tudo seria guardado em nove livros, constantemente atualizados.
370 d. C. em diante – Os Nove se manifestam esporadicamente. Criam a estranha Coluna de Ferro de Délhi, entregam ao Papa uma cabeça falante que diz “sim” ou “não”, ajudam Yersin a curar a cólera, ajudam Quảng Ðức a pegar fogo sem dor, entre outras coisas.
2003 – O seriado Lost apresenta conexões interessantes com a lenda dos Nove Desconhecidos, como veremos a seguir.
Conexões com a ilha de Lost

Fãs de Lost: antes de ler o que vem a seguir, é recomendável ler pelo menos a INTRODUÇÃO desta matéria, para melhor compreender os Nove Desconhecidos. O texto a seguir é baseado, também, no universo expandido de Lost, com informações do Lost Experience, por exemplo.
Leigos em Lost: o texto a seguir entrega fatos das 3 primeiras temporadas do seriado. É imperativamente recomendado (na verdade, é ordenado!) que você não ouse estragar as surpresas da série. Se não viu as 3 primeiras temporadas de Lost, pule este capítulo.
Tanto os Nove Desconhecidos quanto Lost possuem uma fachada de misticismo para algo que, talvez, seja pura tecnologia e ciência avançada. Não é surpresa, portanto, que exista uma teoria para o mistério da ilha com base na lenda dos Nove rolando entre os fãs. E, bem… Agora há duas.
O link mais direto entre os Nove e a ilha misteriosa é o “Dharma”, isto é, “o único caminho verdadeiro” ou “caminho das verdades mais altas”. Por um lado, o objetivo do imperador Ashoka, o fundador dos Nove Desconhecidos, era a difusão dos princípios do Dharma. Por outro, a série Lost nos apresenta o ex-magnata das munições, Alvar Hanso, que fundou a Iniciativa Dharma.
Ashoka e Alvar Hanso têm algumas coisas em comum. Ambos usaram a tecnologia em nome da guerra. Depois, abandonaram a violência para, em seguida, fundar organizações secretas, destinadas a obter conhecimento científico e a usá-lo para o bem da humanidade. E ambos estão envolvidos com “o único caminho verdadeiro”, isto é, o Dharma.
Em Lost o termo “Dharma” também é uma sigla, e aliás muito instigante: o seu significado éDepartment of Heuristics And Research on Material Applications, isto é, Departamento de Heurística e Pesquisa em Aplicações Materiais. Dois termos se destacam: “heurística” é o ato de descobrir coisas novas; e “materiais” obviamente nos remete ao materialismo, e à ideia de que não há nenhum conhecimento místico nos planos.
No seriado, a Iniciativa Dharma foi criada com um propósito específico: alterar a chamada Equação de Valenzetti, cujos valores são os famosos “4 8 15 16 23 42”, que representam, cada um, um aspecto do planeta e da vida. Esta equação prediz o tempo que falta para o fim do mundo. Se os valores puderem ser alterados, o mundo será salvo. Coincidência ou não, veja as contas que o especial da Superinteressante sobre Lost publicou:
• Soma: 4+8+15+16+23+42 = 108 (1+0+8 = 9)
• Multiplicação: 4x8x15x16x23x42 = 7418880 (7+4+1+8+8+8+0 = 36; 3+6 = 9)
• Divisão: 4+8+15+16+23+42 divido por 6 = 18 (1+8 = 9)
Sugestivo?
Voltemos à Iniciativa Dharma. Ela financia seis entidades de pesquisa, certamente dedicadas ao objetivo maior de alterar os seis números da equação. E é interessante compará-las com os nove livros da lenda. A hipótese é que, precisando salvar o mundo, a Dharma estaria utilizando as valiosas informações dos Nove Desconhecidos para basear suas pesquisas. Vejamos:
• Iniciativa de Investigação Eletromagnética: está relacionada à anomalia eletromagnética da ilha, situada na estação O Cisne. E a anomalia é causada por um estranho efeito casimir que, em física, é o modo de abrir brechas no espaço-tempo. Os livros sobre gravitação (VI) e luz (VIII), dos Nove, podem ter ajudado na investigação.
• Iniciativa de Previsão Matemática: busca prever tendências e eventos sociais futuros, através de modelos matemáticos. A ideia de que a dinâmica social possa ser captada através de alguma equação exata é estranha, mas está no Livro IX, sobre as “leis que governam a evolução das sociedades”.
• Instituto de Avanço Genômico: parece que este seria o equivalente moderno do Livro II, que guarda os segredos da fisiologia. O objetivo de ambos seria conhecer completamente o corpo humano.
• Prog. de Desenvolvimento e Prevenção do Bem-estar Global: parece tratar da pesquisa de doenças, especificamente. Pode indicar que, em Lost, as quarentenas fossem pesquisas e os humanos, cobaias. A relação óbvia é com Livro III, sobre microbiologia.
• Apelo à Saúde Mental: o nome diz tudo, e nos leva ao Livro I, sobre a manipulação das massas “através da compreensão da mente”. Em Lost, talvez esteja relacionado ao manicômio de Hurley e Libby. A tática da Dharma seria fingir ajudar pacientes especiais, com fins de pesquisa.
• Projeto de Extensão de Vida: muito sugestivo. É possível que os Nove Desconhecidos não sejam trocados por substitutos ao longo do tempo, mas tenham obtido meios de prolongar a vida (outra vez, Livro II). E em Lost alguns personagens não estão envelhecendo.
Bem, hora de pirar de vez: não é apenas a Iniciativa Dharma que possui vínculo com os Nove. Há uma conexão mais profunda da ilha com as civilizações perdidas que, no passado, possuíram tecnologia avançada.
Existe um mistério que vai muito além de tudo o que vimos. Refiro-me a duas coisas que não parecem relacionadas à Dharma: a estátua do pé com quatro dedos e a fumaça negra da floresta. Já que estamos atrás de vestígios de alta tecnologia avançada no passado da ilha, ambos caem como uma luva.
A fumaça negra é, quase certamente, nanotecnologia avançadíssima.
E o pé… ora, o pé tem quatro dedos! Representa uma outra espécie humana distinta.
Seja como for, parece que ele existiu mesmo: a pintura do hatch, segundo alguns, ilustra a tsunami que varreu o povo da ilha, destruiu a estátua e, além disso, trouxe o navio Black Rock para o meio da selva.
O povo não teria sido completamente extinto. As pessoas escutam uns sussurros estranhos na selva, porém sem entender uma palavra. Talvez estejam ouvindo alguma “conversa” de antigos habitantes no subsolo que, é claro, não seria em inglês.
Agora que providenciamos os antigos habitantes com tecnologia avançada, falta ligá-los ao Egito. E, por ridículo que seja, podemos fazer isso: o contador da escotilha, que retorna ao 108 (por sinal, um múltiplo de 9) sempre que o código é digitado no computador, é nosso link. Assim que o código deixa de ser digitado, o contador passa a mostrar hieróglifos, sem mais nem menos. Sim, foi a Dharma que pôs aquilo lá. Mas eles pesquisaram a ilha antes de instalar-se. Vai saber o que descobriram.
Por que a ilha apresenta uma anomalia eletromagnética capaz de dobrar o espaço-tempo, enviando um personagem ao passado e, talvez, causando outros distúrbios temporais?
A teoria “Nove/Lost“, então, fica assim: essa civilização humana distinta que puseram pirâmides em Marte e no Egito, e forneceram tecnologia para povos antigos, e deixaram todos os vestígios que há nela (fumaça negra, anomalia eletromagnética, o pé de quatro dedos, etc). Milênios depois, Ashoka encontra tecnologia de povos antigos e funda os Nove Desconhecidos. Estes, atualmente, estão ligados à Iniciativa Dharma. E agora retornam à ilha, o lugar mais propício à alteração de algum dos valores ambientais da Equação de Vallenzeti.
Pra finalizar, deixo a frase atribuída a Alvar Hanso, que sintetiza a ideia básica que vejo por trás de Lost e da lenda dos Nove Desconhecidos:
“Desde o despertar de nossa espécie, o homem foi abençoado com a curiosidade. Nosso mais precioso presente, sem exceção, é o desejo de saber mais – olhar para o que é aceito como verdade e imaginar o que é possível.” – Discurso no Conselho de Segurança da ONU, 1967
Conclusões

Um fórum perdido, nos confins da internet, fala de antigos textos Yoga, relacionados aos Nove Desconhecidos, detalhando “práticas de disciplina do self (a mente, o Eu)” – incluindo um modo de “desativar” a própria sombra. Tudo seria feito através de técnicas corporais, físicas. Isto é muito adequado aqui: a mente, ou melhor, a consciência é um mistério para o materialismo.
Pela perplexidade que ela causa, os antigos lhe chamaram “alma” e afirmaram ser algo “não-físico”, uma substância etérea que “permeia” o cérebro. Como, afinal, nosso cérebro físico possui “experiência subjetiva”, isto é, consciência? Esta pode ser a última fronteira da Ciência moderna. Tal como é descrito, o Deus hindu bem poderia ser a própria consciência:
Armas não conseguem cortá-lo,
fogo não pode queimá-lo,
água não consegue molhá-lo,
ventos não podem secá-lo…
ele é eterno e tudo permeia,
sutil, imóvel e sempre o mesmo.
– Bhagavad Gita, II:23-24
A sugestão de que os Nove compreendem a mente e, por isso, são capazes de coisas estranhas como desativar a sombra, é muito instigante. Do que a Ciência será capaz quando compreender a consciência? Terá a mente ligação com a luz? Ou com o espaço e o tempo? Explicará ela os universos paralelos e o livre-arbítrio? E, é claro, estariam os Nove mantendo em segredo este conhecimento espetacular?
Tanta especulação desvairada sobre os Nove e, até aqui, ainda parecia faltar um sentido maior em tudo. O segredo da consciência é um coroamento perfeito para a Lenda dos Nove Desconhecidos: a fronteira final da visão materialista por ela representada, e a esperança de que, ao compreendermos nós mesmos e a nossa mente, as chaves do Universo se abram de uma vez por todas, revelando todas as suas maravilhas.
É impossível concluir este tour de force paranoico sem antes citar as palavras insubstituíveis com que, em O Despertar dos Mágicos, Louis Pauwels conclui o seu magnífico capítulo sobre sociedades secretas:
“Afastados das agitações religiosas, sociais e políticas, resoluta e perfeitamente dissimulados, os Nove Desconhecidos encarnam a imagem da ciência calma, da ciência com consciência. Senhora dos destinos da humanidade, mas abstendo-se de utilizar o seu próprio poder, essa sociedade secreta é a mais bela homenagem possível à liberdade em plena elevação. Vigilantes no âmago da sua glória escondida, esses nove homens veem fazer-se, desfazer-se e tornar a fazer-se as civilizações, menos indiferentes que tolerantes, prontos a auxiliar, mas sempre sob essa imposição de silêncio que é a base da grandeza humana.
Mito ou realidade? Mito soberbo em todo o caso, vindo das profundezas dos séculos – e ressaca do futuro.”
Dos navios aos astrolábios, da imprensa à anestesia: a tecnologia e a Ciência não cessam de melhorar nossas vidas há pelo dois mil anos. Ainda assim a chama do pensamento racional continua sendo hostilizada por inúmeras vertentes, de correntes filosóficas insanas a apologistas da fé cega. E tudo isto no momento mesmo em que os políticos parasitam um povo incapaz de reflexão e cientistas dão a dádiva da visão a pessoas sem olhos.
O pensamento racional é a nossa maior capacidade e esperança.
Lenda dos Nove Desconhecidos é, enquanto mito, uma celebração ao mesmo tempo estranha e bem-vinda dos poderes da razão e da Ciência. Como qualquer teoria da conspiração, é um disparate do começo ao fim – mas não precisamos misturar as coisas, isto é, não precisamos acreditar na lenda. Basta apreciar o fato de que, sendo mito, é um mito sem misticismo.
Sem evocar fantasmas ou deuses, a lenda se abre para possibilidades materialistas que, ao contrário do que dizem, nada têm de enfadonhas ou sem graça.
É claro que a Ciência ainda não avançou tanto. Mas tampouco estamos falando de coisas absurdas: átomos já viajam no tempo; a psicologia evolutiva vem explicando padrões sociais com sucesso inédito na última década; a tecnologia de invisibilidade foi capa da Scientific American recentemente; anéis girando diminuem o peso de objetos em seu centro.
Não estou dizendo que, por tudo isso, a lenda dos Nove pode ser real.
É outro o objetivo desta matéria:
Apresentar às pessoas um mito que, do mesmo modo que as brilhantes ficções científicas dos séculos XIX e XX, tem o poder de inspirar, de fascinar a mente das pessoas com possibilidades maravilhosas e, com isso, despertar-lhes o desejo de conhecer a Ciência e o poder da razão, seja para proveito próprio, seja para, quem sabe, ajudar a humanidade a concretizar sonhos.