Um resgate
impossível, o maior duelo homem a homem, um cozinheiro que derrubou aviões, um
espião que fez Hitler de bobo, cidadãos que se armaram contra o jugo nazista...
O mundo estava
sob grave ameaça. Adolf Hitler e os seguidores do Nationalsozialistische
Deutsche Arbeiterpartei (Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães,
o Partido Nazista) moviam sua máquina de guerra para estender os domínios do 3º
Reich pela Europa - e além dela. Ao mesmo tempo conduziam o infame expurgo das
"raças inferiores" matando em massa, nos campos de concentração e nas
câmaras de gás, judeus, poloneses, homossexuais, comunistas, deficientes...
Itália, Japão e algumas nações menores uniram-se ao Führer no chamado Eixo.
Cerca de 50 países, capitaneados por Reino Unido, União Soviética e Estados
Unidos, aliaram-se contra eles. Este capítulo é dedicado aos líderes militares,
aos guerreiros solitários, aos ousados espiões e aos cidadãos comuns que foram
às armas e deram sua contribuição - por vezes a própria vida - em nome do bem
maior: a liberdade.
O mais
condecorado da história dos EUA
QUEM?
AUDIE MURPHY
NASCIMENTO :
TEXAS (EUA)
ONDE ATUOU?
EUROPA OCUPADA
POR QUE É HERÓI?
GANHOU 32 MEDALHAS POR BRAVURA, UM RECORDE.
Primeiro ele tentou ser fuzileiro naval. Mas, com apenas 1,65 m de altura e
magro, acharam-no pequeno demais. De fato, quem olhava para Audie Leon Murphy
dificilmente adivinharia que ali estava o futuro soldado mais condecorado da
história dos Estados Unidos. Seriam 32 medalhas por bravura em combate (e
outras homenagens) nos 3 anos em que esteve no front.
Nascido em 1924 em uma numerosa e pobre família do Texas, Murphy trabalhava na
colheita de algodão ao lado dos nove irmãos. Ao chegar aos 17 anos, mentiu que
já era maior de idade para ser aceito no Exército - queria se alistar de
qualquer jeito depois do ataque japonês a Pearl Harbor. Não convenceu e teve de
esperar os 18. No treinamento, no qual o chamavam de "bebê", era
vítima constante das brincadeiras dos colegas. Até que chegou seu grande dia.
Primeiro foi destacado para a África do Norte. Em 1943, chegou à Sicília
(Itália) com a 3ª Divisão de Infantaria. E logo mostrou aos
"grandões" do que era capaz.
O feito mais
notável do pequeno soldado - agora segundo-tenente - se deu na gélida batalha
de Holtzwihr (França), em janeiro de 1945. Seu pelotão fora quase todo
dizimado. De 128 homens, restavam apenas 19. Murphy mandou seus companheiros
para trás. E começou a atirar. Quando acabou a munição, subiu em um tanque em
chamas e acionou a metralhadora na direção da infantaria alemã. Foi ferido na
perna, mas continuou sua luta solitária por mais 1 hora até o recuo do inimigo.
Estima-se que, nos combates dos quais participou na Itália, na França e na
Alemanha, tenha matado 240 nazistas. Voltou para casa sofrendo de estresse
pós-traumático, com crises de depressão e insônia.
Seus atos de heroísmo ficaram conhecidos do público. O astro James Cagney,
famoso por interpretar gângsteres violentos no cinema, viu a foto dele na capa
da revista Life e o convidou para ser ator em Hollywood. Murphy aceitou e
novamente se deu bem: fez 44 filmes em 25 anos, além de uma série de TV. Também
escreveu poemas e canções. Morreu quando o pequeno avião em que viajava a
trabalho bateu em uma montanha na Virgínia, em 1971.
O kamikaze
americano
QUEM?
HENRY MUCCI
NASCIMENTO:
CONNECTICUT (EUA)
ONDE ATUOU?
FILIPINAS
POR QUE É HERÓI?
LIBERTOU 500 ALIADOS PRESOS POR 8 MIL JAPONESES.
Henry Mucci. Imagem: National Archives.
As tropas do general de divisão Edward King tinham se rendido ao general
japonês Masaharu Homma em 9 de abril de 1942. Os prisioneiros ficaram detidos
em um lugar infernal chamado Cabanatuan, nas Filipinas, onde sofriam torturas e
mutilações. Um soldado foi decapitado por sair da fila para beber água em um
riacho. Todos, inclusive os japoneses, passavam fome. O número de mortes chegou
a 700 por mês - provocadas por desnutrição, doenças tropicais e maus-tratos.
Só três anos depois os 121 fuzileiros comandados pelo tenente-coronel Henry
Mucci foram enviados para libertar os 500 prisioneiros sobreviventes, ajudados
por guerrilheiros filipinos. Os americanos imaginaram que, naquele canto do
Pacífico, enfrentariam um pequeno número de inimigos, tão cansados de lutar quanto
eles. Encontraram 8 mil japoneses pela frente. Os primeiros
"olheiros" viram tantos tanques e soldados que compararam a
estradinha do acampamento a uma avenida central de Tóquio. Era tudo ou nada. Os
guerrilheiros tomaram uma ponte de acesso, e os fuzileiros abriram fogo
intenso. Um sentinela japonês levou tantos tiros que parte de seu corpo
desapareceu. Até os prisioneiros demoraram para entender o que acontecia. Quase
300 resgatados foram levados de navio aos EUA e ainda enfrentaram submarinos japoneses
no caminho. Em Cabanatuan, um muro de mármore lista o nome dos 2656 americanos
que lá morreram.
Inimigos: os
japoneses e o racismo
QUEM?
DORIS MILLER
NASCIMENTO:
TEXAS (EUA)
ONDE ATUOU?
PEARL HARBOR, HAVAÍ (EUA)
POR QUE É HERÓI?
COZINHEIRO, PEGOU UMA METRALHADORA E DERRUBOU 5 AVIÕES JAPONESES.
Para um negro americano, a vida na Marinha não era muito diferente daquela que
conhecia nas ruas de seu país: a segregação racial dava o tom das relações
sociais e profissionais. Doris Miller, aos 22 anos, não havia conseguido nada
além de um posto de cozinheiro no navio USS Pyro. Em janeiro de 1940, foi
transferido para o navio USS West Virginia, onde se tornou "campeão"
de boxe. Encarregado de preparar a comida e de pequenos serviços, recolhia a
roupa suja para a lavanderia na base de Pearl Harbor, no Havaí, quando o alarme
soou na manhã de 7 de dezembro de 1941. Era o início do ataque japonês. Miller
não recebeu treinamento militar formal e não sabia atirar. Mesmo assim, correu
para o tombadilho. Por seu tamanho, foi designado para ajudar no resgate de
vários feridos. Na confusão, assumiu uma das metralhadoras antiaéreas Browning
calibre 50 e começou a disparar contra os nipônicos. Teria derrubado cinco
aviões japoneses até ficar sem munição. Durante o ataque, aviões japoneses
lançaram duas bombas blindadas que perfuraram o convés do navio. Miller só
abandonou o West Virginia quando ele começou a afundar. Dos 1541 homens a
bordo, 130 foram mortos e 52 ficaram feridos. Tempos depois Miller declararia que
não teve problemas em derrubar os aviões. "Não foi difícil. Eu puxei o
gatilho, e a metralhadora funcionou muito bem. Eu tinha visto outros soldados
usando essas armas. Atirei por cerca de 15 minutos. Peguei alguns desses aviões
japoneses. Eles mergulhavam muito perto de nós."
Miller recebeu a Cruz da Marinha em 1942 - foi o primeiro negro da frota do
Pacífico a ganhar a honraria. Na ocasião, ele também foi elogiado pelo
secretário da Marinha Frank Knox e pelo comandante Chester Nimitz.
Na máquina de criar ídolos que movia a propaganda de guerra, o mais comum seria
poupá-lo de novos combates. Mas a Marinha insistiu em mandá-lo de volta ao
front. Estava novamente servindo mesas, agora a bordo do Liscome Bay, quando o
navio foi atingido por um torpedo japonês na Batalha de Tarawa, em 24 de
novembro de 1943. Apenas 272 marinheiros sobreviveram ao naufrágio; 646
morreram - Miller era um deles. Seu corpo nunca foi encontrado. Não recebeu a
Medalha de Honra, a mais alta condecoração militar americana, nem mesmo quando
ela foi concedida postumamente a 15 homens - todos brancos - que lutaram na
defesa de Pearl Harbor. Nenhum negro recebeu a honraria durante todo o
conflito.
Após a guerra, a história de Doris Miller se tornou um símbolo contra a
segregação. Ele foi retratado (como coadjuvante) nos filmes Tora! Tora! Tora!
(1970) e Pearl Harbor (2001).
25 missões por amor
QUEM?
ROBERT K. MORGAN
NASCIMENTO:
CAROLINA DO NORTE (EUA)
ONDE ATUOU?
EUROPA E JAPÃO
POR QUE É HERÓI?
DIRIGIU 50 ATAQUES AÉREOS.
Robert K. Morgan. Imagem: National Archives.
O Memphis Belle era um bombardeiro B-17 sem nome quando Robert K. Morgan
batizou-o com o apelido da namorada (Margaret Polk). Nos primeiros três meses
na base inglesa de Bassingbourn, as perdas de bombardeiros chegaram a 80%. O
moral estava baixo. Como incentivo, a Força Aérea Americana estabeleceu que,
após 25 missões, os sobreviventes poderiam voltar para casa. Em uma das
missões, Morgan pousou só com metade da cauda, destruída pelo fogo alemão.
Foram 128 horas de voo despejando 60 toneladas de bombas. Em maio de 1943, a
tripulação se tornou a primeira a completar, sem baixas, as 25 missões. No ano
seguinte, Morgan estava de volta à guerra para bater a mesma meta, agora no
Japão. Ele e Belle não se casaram.
Manila John: mito
ou verdade?
QUEM?
JOHN BASILONE
NASCIMENTO:
NOVA YORK (EUA)
ONDE ATUOU?
GUADALCANAL (ILHAS SALOMÃO)
POR QUE É HERÓI?
MONTOU UMA METRALHADORA E, COM MAIS DOIS SOLDADOS, ENFRENTOU MILHARES DE
JAPONESES.
John Basilone. Imagem: National Archives.
Três mil enfurecidos japoneses contra um só americano? Foi assim, segundo a versão
mais romântica do episódio, que o sargento John Basilone venceu a primeira
grande batalha em terra contra o Japão na ilha de Guadalcanal (Ilhas Salomão),
em 1942. Chamado de Manila John pelos colegas por ter servido em uma base nas
Filipinas, ele já era conhecido por sua habilidade com metralhadoras. Mas
ninguém tinha ideia de que seu talento em mecânica faria tanta diferença como
na noite de 24 de outubro. À frente de 16 homens, o sargento topou com um
regimento japonês inteiro. Todo o pelotão foi ferido ou morto até sobrarem
Basilone e mais dois soldados. Pior: suas metralhadoras, superaquecidas,
pararam de funcionar. Basilone, juntando peças, conseguiu montar uma nova arma.
E começou a atirar até derrubar 38, centenas ou 3 mil japoneses - os historiadores
divergem quanto ao número de vítimas. O que é consenso é a bravura do sargento.
De volta aos EUA, em 1943, ele foi o primeiro americano a receber a Medalha de
Honra do presidente Franklin Roosevelt, além de dezenas de homenagens. Logo
cansou da vida de celebridade e pediu para voltar ao front. A Marinha, temerosa
quanto ao efeito no moral do país caso ele viesse a ser ferido ou morto, tentou
convencê-lo a aceitar um posto longe dos combates. Recusou. Estava entre os
fuzileiros que desembarcaram na ilha de Iwo Jima em fevereiro de 1945 para
enfrentar 22 mil japoneses entrincheirados. Atingido por um morteiro, morreu
diante do pelotão. John Basilone virou nome de porta-aviões, prédios e
monumentos nos EUA. Mas ficou mais conhecido graças à série The Pacific, da
HBO.
O maior duelo
QUEM?
VASILI GRIGORIEVITCH ZAÏTSEV
NASCIMENTO:
ELINISK (RÚSSIA)
ONDE ATUOU?
STALINGRADO (URSS)
POR QUE É HERÓI?
FOI O MAIOR FRANCO-ATIRADOR DA GUERRA.
Vasili Grigorievitch Zaïtsev. Imagem: National Archives.
O cenário eram os escombros de Stalingrado. De um lado, o major Heintz Thorvald,
tido como o melhor atirador alemão e enviado ao front especialmente para matar
"o exterminador de nazistas". Do outro lado, o tal exterminador, o
russo Vasili "Zaitsev" Grigorievitch, que só na Batalha de
Stalingrado tinha aniquilado, com seu rifle e sua pontaria extraordinária, 242
alemães. Thorvald, também conhecido como Erwin Konig, tinha uma vantagem:
estudou todos os passos e métodos do adversário.