Sambaqui Figueirinha II, praia de Nova Camboriú/SC.
Leandro Claudir Pedroso, graduado em História e pós-graduado em Metodologia do Ensino em História e Geografia. Trabalho realizado em novembro de 2014.
Para dar início ao meu relatório farei
primeiramente uma pequena exposição sobre a ciência que estuda os sambaquis: a
Arqueologia é a ciência que procura entender os monumentos e vestígios de
civilizações antigas e é uma ciência relativamente nova. Na segunda metade do
século XIX, o campo e a prática dessa disciplina se firmaram e definiram suas
bases. A arqueologia tem várias vertentes, cada uma voltada para uma área, com
a arqueologia dos monumentos e obras de arte. A linha de seguimento
arqueológico que nos interessa nesse relatório e a arqueologia pré-histórica
cujas raízes remontam o século XVI, e foram fortalecidos no século XVII, com a
multiplicação de achados associáveis a tempos remotos da história humanidade.
No século XIX deu-se a cristalização da disciplina, com a formulação de
princípios metodológicos.
O presente relatório tem por
objetivo apresentar as pesquisas e estudos presentes sobre os Sambaquis do Litoral brasileiro. Suas origens e motivos de existência,
quem os construíram e o mais importante o porquê os construíram e desse modo
traçar um padrão das descobertas referentes aos mesmos.
Compreendidos muitas vezes como
sobras da alimentação dos homens Pré-históricos, e passam ainda sendo vistos
como uma espécie de lixeira dos povos que ali próximos habitavam ou um acúmulo
de detritos nos quais predominam conchas e ostras, misturadas costumeiramente
com instrumentos de pedra e osso, esqueletos ou parte de esqueletos de animais
e humanos, provas de que nos dão a certeza de não estarem definitivamente
decifrados os significados plenos desses monumentos artificiais. Mais um dos mistérios a ser revelado pelos
estudos dos sambaquis é o fato de além de serem depósitos de restos alimentares
são também monumentos funerários, aonde encontramos ossadas humanas e até
sepulturas.
Por definição, sambaquis – também conhecidos
como casqueiros, concheiros, terraços, berbigueiros ou ostreiras – são grandes
montes artificiais compostos por restos faunísticos característicos da região
litorânea (mariscos, berbigões, conchas e ossos de aves e de pequenos
mamíferos) que, acumulados ao longo de milhares de anos, conformaram enormes
monumentos que serviram de acampamentos ou cemitérios, mas, sobretudo, como
marcos paisagísticos para os colonizadores do litoral brasileiro, anteriores
aos povos ceramistas dos quais descendem as comunidades indígenas atuais
(GASPAR, 2004).
Muito
trabalho tem sido feito por parte dos arqueólogos exigindo, dos políticos a
criarem leis que regulamentem a preservação dos sambaquis, pois os sambaquis do
Brasil podem atingir até uma idade de 10.000 A.P.
A escatologia pode ser
definida como um conjunto de representações
relativas ao destino post mortem do homem.
Tal conjunto faz parte de uma
herança cultural, de uma acervo da sociedade, e
não pode portanto, como assinala Max
Gluckman (1937:117) ser tido como uma reposta individual à ideia de
morte. (CUNHA, 1978, p.112).
Nós, povos da atualidade,
responsáveis por essas descobertas, deveríamos no mínimo respeitar a história
destes povos que foram ancestrais de muitos de nós. Mesmo não sendo os
monumentos mais velhos da Pré-história brasileira luta-se há muitos anos para
defender a integridade dos sambaquis como reserva para a pesquisa cientifica.
Este relatório será elaborado
tendo em vista os sambaquis do litoral brasileiro e em particular os sambaquis
do Sul do Brasil, e seu motivo de ser na história dos povos pré-históricos que
habitavam os litorais do Brasil. Escolhi esse tema por diversas vezes ver os
nativos das terras brasileiras serem considerados índios menos inteligentes ou
desenvolvidos que os demais grandes impérios da América como os Incas, Maias e
Astecas. Segundo os estudos arqueológicos os Sambaquis são o inicio de grandes
descobertas que serviram para uma análise mais critica sobre essa opinião
acerca da distinção cultura entre as tribos nativas do Brasil e os impérios da
América pré-colombiana. Por exemplo, a recente descoberta da hierarquização dos
sambaquis pela altura. Quanto mais alto mais importante e respeitada era a
tribo. Além do fato que esses nativos persuadiam outros povos com menos poder a
deixarem seus restos materiais, alimentares em seu sambaqui, desse modo com
mais pessoas cooperando mais rápido e maior eles ficavam. Como pudemos observar
esse é só um pequeno nuance do que foi escavado e pesquisado que realmente
tenha ocorrido pelo Brasil Pré-colonial. Conhecemos apenas uma ínfima parte da
grande história que é a história dos nativos brasileiros.
1.
ORIGENS DOS SAMBAQUIS.
Os sambaquis mais antigos estão
presentes entre os Estados de Paraná e São Paulo. Onde alcançam uma idade de
até 4.000 anos a.C. Seguindo em direção norte e em direção ao sul desse ponto,
os sambaquis são cada vez menos antigos. Quem
foram seus fundadores e como essa adaptação ao litoral aconteceu ainda está por
ser descoberta. Os sambaquis são resultantes do acúmulo de conchas, ossos de
peixes e outros resíduos de atividade humana, como resultado da ocupação do litoral marítimo por grupos
especializados em sua exploração para alimentação, resíduos volumosos produzidos por população
pré-histórica brasileira. Podendo chegar a formar morros de 30 metros da
altura, ao longo de lagoas, lagunas, mangues, pântanos ou baías, onde os
alimentos eram ricos, mas dificilmente são encontrados ao longo de praias
retilíneas.
Com
base nas pesquisas chegamos à conclusão que os homens que construíram os
sambaquis, da região de Iguape, e Cananéia, viveram nesses lugares, entre 2 a
10 mil anos; ignoravam a olaria, e a agricultura, a domesticação de qualquer
espécie, mesmo o cão, que os índios atuais conhecem. Viviam principalmente da
pesca e da coleta e eram pouco ativos em relação à caça. Perante os estudos
realizados nos sambaquis chegou-se a conclusão que não produziam instrumentos de
grande eficácia para arremesso, como arcos e propulsores, devido a esse fator a
caça terrestre era colocada em segundo plano.
Os
sambaquis são monumentos artificiais construídos no decorrer do tempo por
tribos que habitavam a região em tempos pré-históricos e que permanecem como
seu legado a nossa civilização.
A
grande maioria dos sambaquis está localizada no litoral e são feitos de conchas
marinhas, as praias eram uma das bases de aquisição de recursos alimentares do
litoral, devendo-se isto ao farto fornecimento de fauna mamífera marinha, tais
como cetáceos e penípedes. Fragmentos de ossos de mamíferos calcinados foram
encontrados nos sítios do Parque Nacional da Lagoa do Peixe.
Entretanto
são nos sambaquis marinhos que foram registradas significativas quantidades de
ossos de fauna marinha descartada. Mas há sambaquis no interior, á margem de
grandes e pequenos rios, cujas conchas provêm de moluscos fluviais e até
terrestres. Os primeiros cronistas do século XV a XVIII tiveram já a sua
atenção chamada para esses depósitos, atribuindo-os ao índio aqui encontrado. Não
são poucas as referencias de Anchieta, Nobrega, Fernão Cardim, Gabriel Soares,
Madre de Deus, e outros, aos numerosos sambaquis do Cubatão, de Itanhaem,
alguns ao lado de São Paulo e, ainda hoje, o sítio chamado Casqueiro, na
estrada São Paulo-Santos, conserva esse nome por causa dos sambaquis espalhados
pelo Egá-guaçu, que é toda a baixada do Cubatão e Santos, área parte do
Paleoarquipélago de alguns milhares de anos entre o oceano e a Serra do Mar. No
próprio sambaqui pode haver grande diferença de idade, entre a última camada,
no cume, e a primeira, na base, essa diferença pode atingir um longo período.
Devido a isso, acontece, com frequência, que as camadas superiores sejam
inteiramente diversas das demais, pela cultura diferente e até tipos humanos variados.
A análise de todas essas descobertas, principalmente dos restos dos índios, tem
conduzido a muita especulação (GASPAR, 2000).
O que temos por fato é que
numerosos sambaquis continuam a existir como necrópole de nativos e em suas
camadas superiores aparece, com frequência sepulturas dos nativos atuais ou
extintos pelo colonizador, cujos ossos e instrumentos são dados etnológicos e
antropológicos ligados aos índios, de raça, cultura, cronologia, diferentes dos
achados nas camadas inferiores, estes, sim, correspondentes aos sambaquianos,
que pode ser colocado na categoria paleo-americana, em quase tudo diferente dos
outros nativos.
A verdade é que a atividade normal
dos sambaquis terminou bem antes da chegada dos colonizadores europeus aqui na
América. Pelo que sabemos os sambaquianos não teve olaria ou cerâmica, nem arco
e flecha, talvez extinguiram-se devido a outros povos tecnicamente mais bem
equipados e estes recém-chegados das migrações neolíticas, mais bem armados, marcaram
o fim da Era dos Sambaquis.
Se considerarmos o
problema apenas de um ponto de vistalógico, poderemos distinguir duas opções
(1) entre outras ossíveis para uma sociedade: ela pode, por um lado, enfatizar a oposição vivos/mortos e
coloca-los sempre como divisão primária. Mas pode também fazer prevalecer a
continuidade dos consanguíneos e relegar a oposição vivos/mortos ao segundo
plano. A última opção poderá vir expressa – mas não virá necessariamente – em
grupos de descendência unilineares e será consistente com existência de
ancestrais concebidos como prolongamento senão parte integrante da sociedade.
(CUNHA, 1978, p.142).
Enquanto
que os marinhos distribuem-se ao longo da face intermareal. Isso ocorre porque
naquele ponto da lagoa a salinidade é menor, favorecendo a proliferação do
molusco e na praia a salinidade é homogênea em toda sua extensão, ocorrendo os
sambaquis por uma área maior. Ao analisarmos a porção central da planície
costeira, as áreas de captação de recursos estão inseridas em diferentes
habitats e, às vezes, no mesmo nicho ecológico. Como exemplo, o marisco cujo
habitat é a zona de arrebentação, está num mesmo nicho ecológico que os peixes,
ou seja, a beira do mar. Existe uma
relação entre populações e recursos, que para determinarem estratégias
particulares de exploração constatam a disponibilidade das fontes alimentares e
seu potencial energético. Já na planície costeira Meridional, entre os
municípios de São José do Norte e Mostardas, as áreas que mostram melhores
condições de habitabilidade e alimentação para a tradição Tupi-guarani são
aquelas contíguas e próximas à Lagoa do Peixe, isto é, os campos de dunas
vegetadas, as matas ciliares e a proximidade entre as lagoas internas e as
matas insulares, pois a fauna é mais abundante e o solo mais fértil.
Em ambiente lacustre, destaca-se o
molusco bivalve Erodona mactroides, que possui concha relativamente pequena.
Provavelmente usados na confecção de adorno e para a alimentação e pode ser
obtido através de coleta. Os sambaquis lacustres que possuíam cerâmica Tupi-guarani
em superfície eram compostos destas bivalves. Em sambaquis muito grandes,
compostos principalmente de conchas, os sepultamentos parecem formar a menor
parte dos restos; em sambaquis rasos os sepultamentos são muito evidentes.
Não temos uma ideia clara se há
sambaquis realmente pequenos, levantados por poucos indivíduos. Os arqueólogos
dão uma média de 50 a 100 indivíduos como responsáveis por todos os restos de
um sítio médio; para sítios grandes ou muito grandes o total da população,
proveniente de numerosas gerações sucessivas, poderia chegar a 600 indivíduos.
Isto daria, em qualquer um dos casos, uma ocupação simultânea de poucas
famílias no topo e arredores do sambaqui, unidas provavelmente por laços de
parentesco biológico ou social, típico dos pequenos bandos de caçadores e
coletores. Para os Tupi-guaranis por exemplo a religião e o idioma, são os dois
pontos mais importantes para a identidade do seu povo. Independente de cor da
pele e nascimento. O que vale é a cultura. Falar seu idioma é importantíssimo
para os índios. A crença em seus deuses e rituais também é um fator aglutinador
desses povos. Embora existam particularidades regionais e temporais, dados
arqueológicos apontam para a persistência de um conjunto bem estabelecido de
regras sociais no espaço e no tempo, a partir das quais foram definidos o local
de implantação dos sítios, suas características estruturais, seu processo
construtivo, sua função, e seu próprio significado simbólico (GASPAR, 2000). A
complexidade interna da sociedade sambaquiana, assim como a complexidade
estrutural destes sítios litorâneos devem, necessariamente, ser levadas em
consideração antes de se utilizar datações destes sítios como indicadores de
variações do nível relativo do mar.
Outra questão importante são os
debates mais antigos que perduram sobre os sambaquis se eram ou não uma jazida
natural ou artificial, não eram feitas por Paleontologistas nem
Pré-historiadores, nem Geólogos. Exceto pouquíssimos, em geral, engenheiros,
topógrafos, no máximo geógrafos e ninguém considerava sério ainda o estudo
desses discutidas jazidas. Hoje se pode afirmar a existência de ambas as
coisas, os depósitos naturais, os terraços e os sambaquis, que são monumentos
artificiais feitos gradualmente por nativos sambaquianos.
2.
OS POVOS SAMBAQUIANOS
Antes
da Revolução Agrícola o homem vivera sempre em pequenos bandos móveis, de
coletores de raízes e frutos, de caçadores e pescadores, rigidamente
condicionados ao ritmo das estações engordando nas quadras de fartura e
emagrecendo nos períodos de penúria. Só em regiões excepcionalmente dadivosas,
como as costas marítimas ricas em mariscos, e por isso mesmo muito disputada,
esses grupos podiam alcançar maiores concentrações. Ainda assim, o montante de
cada grupo era limitado pela capacidade de provimento alimentar nas quadras de
maior escassez e pelas dificuldades de ordenar socialmente o convívio de
unidades sociais maiores. O desenvolvimento aparece, uma visão global de
Humanidade, não geralmente de um povo. Pois são comuns as estagnações e mesmo
regressões culturais se considerarmos os povos um por um. Em sentido de
humanidade, porém, vê-se que o povo que atingiu o ponto de desenvolvimento mais
produtivo, vai aos poucos difundindo ao redor de si, seja por difusão, ou por
imposição, a própria cultura, “atualizando”, assim, os outros povos. É por isso
também que encontramos povos de um mesmo nível cultural, separados no tempo por
milênios.
Os distintos hábitos culturais e
alimentares levaram à conclusão de que eram construções de um grupo diferente
daquela dos Tupi-guaranis, que habitavam a região costeira do país. Na
atualidade, a ideia de construtores de sambaquis em tanto que “comedores de
moluscos” caíram em desuso. Enfatizando a questão, os Sambaquis são construções
artificiais feitas por populações pré-históricas que habitaram a costa do
Brasil mais ou menos entre 7 e 10 mil anos AP (GASPAR, 2000), são provável os
sítios mais antigos encontrados no litoral brasileiro. Muitos deles podem ter sido
destruídos pela do mar durante o Holoceno, e na atualidade estão submersos, ou
foram preservados em grandes profundidades no mar graças as armadilhas
geomórficas e sedimentares que os preservam. Estes tipos de sítios variam de
pequenas elevações de 2m de altura até grandiosas estruturas de 30m de altura
por 500m de comprimento, consideradas na atualidade como monumentos que marcar
a paisagem litorânea brasileira. Por um longo período da arqueologia
brasileira, os sambaquis eram considerados como acúmulos de restos alimentares
de grupos nômades coletores de grande mobilidade territorial e baixa densidade
populacional. Segundo os dados encontrados verificamos que, posteriormente,
estes grupos se tornaram pescadores.
Esta alteração de modo de
subsistência foi atribuída às mudanças climáticas e ambientais relacionadas a
variações do nível do mar e a um clima mais seco, que teriam reduzido à
quantidade de moluscos e levando-os a variar sua dieta com outros alimentos
encontrados através da pesca. Mesmo assim muitos estudos de Zooarqueologia apontam
que a pesca foi preponderante desde as ocupações mais antigas. Os restos de
moluscos representam um volume maior de material, sendo mais visíveis na
estratigrafia, mas os restos de peixes correspondem a um aporte nutricional e a
um volume de alimento muito superiores (FIGUTTI, 1993). A coleta de moluscos,
embora estratégica em sua economia, era, portanto uma fonte de alimentos
secundária para estes grupos pescadores.
Os sambaquis eram construídos por
cada grupo com o objetivo de atender suas necessidades, como por exemplo, para marcação
de território, observação e rituais fúnebres, dentre outros. Eram compostos por
diversos objetos naturais ou artificiais. Esses grupos que se alimentavam de
moluscos, frutos silvestres e caça de pequenos animais. Sua dieta era farta em
peixes, segundo análises químicas, o que permite concluir que, embora fosse uma
cultura de pescadores-coletores, também poderiam ter hábitos sedentários. Os
sambaquianos tinham o hábito de acumular os restos de alimentos, enfeites que
usavam no corpo e artefatos quebrados e inteiros no entorno de sua moradia.
Outro costume era o de realizar sepultamentos no próprio sambaqui, com o tempo
era aplainado o terreno e organizada novamente as camadas de cima do local.
Muitas atividades do seu dia-a-dia eram feitas no lugar onde eles moravam. Por
exemplo, objetos como raspadores de conchas e facas de pedra encontradas nos
sambaquis sugerem que eles fabricavam no próprio local objetos de madeira,
couro e fibra. Os batedores, suportes de pedra e a grande quantidade de
lasquinhas indicam a fabricação de objetos líticos. Os restos de fogueiras
mostram que também lá preparavam alimentos e se aqueciam. Os mortos ali
sepultados eram decorados com objetos que resistiam ao passar do tempo. Sendo
muito comum encontrar entre os esqueletos, dentes e vértebras de animais e
adereços feitos de conchas. Objetos, como pontas de osso e lâminas de machado,
são achados junto com os mortos. Sepultar os membros do grupo envolvia muito
cuidado como preparar a sepultura, muitas vezes revestida com argila ou areia e
madeira, mas não sendo muito comum. Os moradores tinham perto de onde habitavam
os materiais necessários para seus artefatos que deveriam ser de fácil
fabricação, pois somente as esculturas eram feitas em pedra polida, os
zoólitos, parecem ter exigido um esmero maior em sua fabricação.
Alguns arqueólogos já definiram a
sociedade sambaquieira como bando ou macro-bando, tendo por elemento definidor
o número de pessoas envolvidas na trama social e o tipo de ocupação. O limite
entre sociedades simples e complexas é o surgimento de permanente hierarquia
social [...] A especificidades dos locais de implantação de alguns sítios, as
dimensões de alguns assentamentos e o tratamento diferenciado dos mortos
apontam para uma sociedade com incipiente hierarquia social. (GASPAR, 2000.p.75,6).
O que mais impressiona é a
ocupação de diversas ilhas, sendo que muitas estão distantes da costa, e a grande quantidade e variedade de resíduos de
fauna aquática caracterizam intimidade com o mar. Certamente os povos
sambaquianos possuíam embarcações para poderem ir de diferentes pontos do
continente e das ilhas. Quando encontramos restos de peixes grandes entre os
resíduos faunísticos, incluindo tubarões, aponta para uma grande habilidade em
pesca marinha, chegando a verificar por meio de estudos que realizavam pescas
em águas profundas no mar. Sua estrutura óssea nos deixou um vestígio rico de
informações sobre suas atividades diárias, pois através deles podemos verificar
que eram pessoas robustas característica de povos que faziam uso frequente de
embarcações, sendo que o hábito de mergulhar também deixou seus traços. Fora as
embarcações, deviam existir armadilhas para pesca e redes de arrasto, mas,
devido ao fato destes objetos ficarem na água, não se tem vestígios de sua
presença entre os matériais recuperados nos sambaquis. Encontramos um eficiente
arsenal tecnológico para a pesca, formado por uma variedade de pontas ósseas,
tal qual uma farpa de arpão, que deveriam ficar presas a hastes para serem
lançadas durante a pesca.
Os
materiais escolhidos para fabricação destes artefatos são espinhas de peixes,
ossos longos de aves e de mamíferos, como macacos, porcos-do-mato e veados. Em
alguns sítios anzóis de osso complementam o acervo voltado para a captura de
peixe. Pequenos pedaços de quartzos eram raspados com conchas resistentes para
fazer adornos. Contavam também com objetos para triturar e moer alimentos, como
os quebra-coquinhos que facilitava o consumo de vegetais mais duros. Sua
indústria lítica possuía um significativo acervo de peças lascadas, polidas e
perfuradas que podiam ser usados tanto para a manufatura de artefatos práticos
relacionados com a alimentação ou como adereços pessoais.
3-
SAMBAQUIS DO SUL DO BRASIL
Os sambaquis brasileiros têm uma
grande amplitude geográfica sendo apontados em quase todo o litoral e em
algumas áreas fluviais. Existem registros desses assentamentos “pela faixa
litorânea do Rio Grande do Sul até a Bahia e do Maranhão até o Litoral do Pará,
incluindo o Baixo Amazonas” (GASPAR, 2000: 159). A homogeneidade tipológica das
indústrias lítica e em ossos, bem como as características das estruturas dos
sítios propriamente ditos, aponta que seus construtores sambaquianos de todo o litoral
brasileiro pertencessem ao mesmo grupo devido aos indícios de sua sociedade e
cultura.
Os Sambaquis são um fenômeno
cultural humano, que como tal possuí seu simbolismo e seu motivo de ser, os
Antropólogos definem a cultura como a herança social de uma comunidade humana,
os grupos sambaquianos construíam e erguiam seus monumentos que representam
pelo acervo coparticipado de modos estandartizados de adaptação à natureza para
o provimento da subsistência através dos restos faunísticos marinhos ou de
outras naturezas, de normas e instituições reguladoras das relações sociais e
de corpos de saber, de valores e de crenças que juntas movimentaram esse habitantes pré-históricos da América a
erguerem seus monumentos que explicam sua experiência, exprimem sua
criatividade artística e se motivam para a ação de construírem. Assim
conceituada, a cultura é uma ordem particular de fenômenos que tem de
característicos sua natureza, réplica conceitual da realidade em que vive, tal
como é percebida por suas experiências de vida, e transmitida simbolicamente,
de geração a geração como uma tradição para todos os seus descendentes.
Os principais vestígios dos grupos
sambaquianos é um tipo de sítio denominado sambaqui, base de diversos temas de
interesse científico desde o inicio da segunda metade do século XIX. Sendo a
palavra Sambaqui de origem Tupi, língua falada pelos horticultores e ceramistas
que viviam em parte significativa do litoral brasileiro quando os europeus
chegaram a América e iniciaram a colonização através do litoral. A palavra Tamba
significa conchas, Ki amontoado, que são as características mais marcantes
desse tipo de sítio arqueológico, sendo assim Tamba Ki, deu origem à palavra
Sambaqui (GASPAR, 2000, p.160). Alguns autores inclusive especulam sobre a
presença de chefias nesses sítios e enfocam o elaborado ritual funerário como
forte indício de complexidade e diferenciação social. Outros autores apontam
que esses construtores “formavam um grupo étnico, no sentido de que se tratava
de uma população, cujos membros se identificavam e eram identificados como
tais...” (GASPAR, 2000:34). Desse modo trata-se da denominação mais amplamente
utilizada pelos arqueólogos e que denota a capacidade de observação e síntese dos
habitantes nativos que construíram estes monumentos. São sítios positivos,
monumentos que demonstram liderança e poder (como uma pirâmide), que mostrasse
aos outros grupos sambaquianos ou não seu poder, pois quanto mais alto, mais
pessoas trabalhavam em prol daquele monumento, o que significava que possuíam
mais força perante outros.
Eles
são basicamente caracterizados como uma elevação de forma arredondada que, em
algumas regiões do Brasil, chegam a possuir até mais de 30 metros de altura.
São construídos dentre outros com restos de faunísticos como conchas, ossos de
peixe e mamíferos. Encontram-se também sementes, sendo que determinadas áreas
dos sítios foram espaços dedicados ao ritual funerário e onde foram sepultados
homens, mulheres e crianças de diferentes idades.
Sob uma apelação
genérica podemos incluir o envolvimento do corpo do morto em esteiras, a transladação
do defunto, a escavação da sepultura e seu preparo, e enfim a inumação
propriamente dita. Se englobamos todas estas etapas sob o título de ‘Remoção do
cadáver é porque este se afigura ser o ponto culminante da cerimônia, o nó da
tragédia: em nenhum outro momento serão os grupos e o conflito entre eles tão
claramente definidos e tão exacerbadas as expressões de dor. A inumação
propriamente dita não despertará depois senão um interesse limitado. (CUNHA,
1978, p.31).
Igualmente
contam com inúmeros artefatos de pedra e de osso, marcas de estaca e manchas de
restos de fogueiras, que compõem uma intricada estratigrafia que remonta as
muitas centenas de anos de utilização daquele local como sítio ritualístico e
monumental. Os restos que mais se sobressaem na composição dos sambaquis são de
origem marinha ou de lagoas como as conchas de berbigão. Estudos iniciados no fim
dos anos 90 do século passado colocam mais uma vez em evidência os esqueletos e
terminaram por teorizar a ideia de que os grandes sambaquis do sul de Santa Catarina
mostram indícios de terem sido usados somente como cemitério, devido a ausência
de locais de moradia, de resíduos de alimentação, de etapas de fabricação de
artefatos usados para alimentação e caça/coleta, ligados ao fato de que todos
os utensílios estão espalhados em relação aos esqueletos, como também estão as
estruturas verificadas e a própria construção dos monumentos sambaquianos.
Os estudos de arqueólogos que não
identificaram traços característicos de moradia nos grandes sambaquis do sul de
Santa Catarina demonstram que alguns desses grupos não habitavam o mesmo local
aonde eram construídos os monumentos sambaquianos. Deste modo reforçando também
a visão de grandes monumentos aos mortos e sua cultura, seu modo de vida e alimentação
ali eram deixados por meio de rituais.
Um dos exemplos mais interessantes
desses rituais são a ocorrência de
zoólitos, incríveis esculturas de pedra presentes juntos aos sepultamentos nos
sambaquis, são uma característica dos sítios do Sul do Brasil, expressões
elaboradas de arte demonstram práticas cerimoniais e grande habilidade na
fabricação destas peças líticas o
que aponta para uma sociedade complexa, se de modo que é possível reconhecer
atualmente que esses povos sambaquianos eram sedentárias e tinham uma população
consideravelmente alta se comparada com outros grupos distintos. Desse modo
podemos crer que existam na região diversos outros sítios de igual porte, e
eventualmente contemporâneos uns dos outros, de modo que taxas parecidas de sepultamentos
foram identificadas, podendo-se ter uma ideia do índice populacional desses
grupos que habitavam o litoral durante esse período. Várias características de
grande importância destes grupos nativos que habitavam o litoral brasileiro
apontam para um claro padrão de ordem social e cultural muito complexa daquilo
que considerávamos durante as primeiras descobertas.
Vemos
entre os apontamentos mais importantes, uma crescente relação com a coleta de
moluscos em uma escala bem alta para fins de construção de seus monumentos
sambaquianos, desse modo apontando para um trabalho organizado com a existência
de liderança organizada por um objetivo comum. No sul do Brasil entre os povos
construtores de sambaquis vemos uma produção especializada de artefatos líticos
e de ossos e a existência de grandes redes de troca e difusão conhecimento
entre esses grupos, assim como provas de tratamento diferenciado dos seus
mortos, bem como uma hierarquia social e de gênero e manejo um manejo do
cultivo de vegetais para fins de consumo.
Em Joinville/Santa Catarina encontramos
diversos sambaquis que são considerados Patrimônio Cultural Brasileiro e
protegidos por leis, na região já foram datados em até 5 mil AP, e que ocupavam
as regiões mais secas junto aos manguezais, lagoas e rios, de onde pescavam
seus recursos alimentares. São constituídos por restos faunísticos, como
conchas de moluscos e ossos de animais, principalmente peixes. Caracterizam-se
por sua forma circular/ovalar com dimensões muito variadas.
Existem também as oficinas líticas
localizadas na beira de rios, lagoas e oceano. Resultam da ação de polimento de
instrumentos de pedra de populações pré-históricas e, em Joinville, estão
associadas a sambaquis. A seguir segue-se a lista dos 42 principais sambaquis em
Joinville, Santa Catariana: Cubatão I, Cubatão II, Cubatão III, Cubatão IV, Cubatãozinho,
Espinheiros I, Espinheiros II, Gravatá, Guanabara
I, Guanabara II, Ilha do Gado I, Ilha do Gado II, Ilha do Gado III, Ilha do
Gado IV, Ilha dos Espinheiros I, Ilha dos Espinheiros II, Ilha dos Espinheiros
III, Ilha dos Espinheiros IV, Iririuguaçu,
Itacoara, Lagoa do Saguaçu, Morro do
Amaral I, Morro do Amaral II, Morro do Amaral III, Morro do Amaral IV, Morro do
Ouro (Parque da Cidade), Paranaguamirim II, Ponta das Palmas, Ribeirão do
Cubatão, Rio Bucuriuma, Rio Comprido, Rio das Ostras, Rio Fagundes, Rio
Ferreira,Rio Pirabeiraba, Rio Riacho, Rio Sambaqui, Rio Velho I, Rio Velho II, Rio
Velho III, Rua Guaíra e Tiburtius.
Diante do que estudamos até então
vemos que o fato de existirem sambaquis desde o nordeste do Brasil até o estado
do Rio Grande do Sul demonstrou a hipótese que esses grupos sambaquianos
seguiram o caminho de sua expansão através do próprio mar como demonstra os
diversos sítios destes grupos encontrados no litoral brasileiro.
Os sambaquieiros foram
o grupo que deixou a maior quantidade e diversidade de testemunhos de sua
permanência no território brasileiro. A expressão material de seus costumes está
ainda muito bem preservada e só sofreu intensos ataques com a exploração de cal
usado para a construção e com a expansão imobiliária atual. Os materiais estão
bem preservados porque, diferente de alguns grupos que estavam sempre mudando
de um lugar para outro ou limpando sistematicamente o local de moradia, os
sambaquieiros habitavam durante muito tempo o mesmo local e tinham o hábito de
acumular os restos faunísticos. Num mesmo lugar, acumulavam conchas de
moluscos, ossos de animais, especialmente peixes, mas também mamíferos, aves e
répteis. Restos de caranguejos, de ouriços, sementes e coquinhos. Com esses
materiais, em alguns lugares construíram morrinhos de 4m de altura e em outros
chegaram a erguer verdadeiras montanhas que ultrapassam 25m de altura. Essas
elevações feitas pelos pescadores-coletores-caçadores, que os arqueólogos,
usando uma palavra tupi, chamam de sambaqui (tamba=mariscos e ki=amontoado),
apresentam excelentes condições de preservação dos materiais arqueológicos. (GASPAR,
Maria Dulce. Os ocupantes Pré-históricos do litoral brasileiro. TENORIO, Maria
Cristina. Pré-história da Terra Brasilis.
Rio de Janeiro: UFRJ, 2000. p.160).
4.
SEPULTAMENTOS NOS SAMBAQUIS
Quando durante as escavações os
arqueólogos chegavam em profundidades que correspondiam aos primeiros
sepultamentos, os arqueólogos encontraram covas com uma grande quantia de
buracos de estacas que revelam o que um dia foi uma estrutura de madeira, hoje
já decomposta, que demarcava o local onde estava o morto, na cova. Encontramos
também grossas camadas de conchas que separam grupos de sepultamentos em
níveis, algo que reflete sepultamentos de pessoas que não possuíam laços
sentimentais com os sepultamentos anteriores, essas camadas de conchas são
encontradas com dezenas de anos de diferença, o que explica a falta de laços
com os antigos sepultamentos, pois o grupo atual desconhecia os indivíduos
sepultados anteriormente.
Ao serem escavados, alguns
sambaquis revelaram que o sepultamento em si com conchas e objetos do morto e
aonde algumas vezes são encontrados alimentos para o falecido ficava logo
abaixo de onde havia ocorrido a cerimonia fúnebre devidos aos vestígios de
oferendas e fogo ritual que foram encontrados acima do mesmo. Quando analisamos
as práticas funerárias desenvolvidas pelos grupos sambaquianos, vemos desde o
principio o desenvolvimento de uma hierarquização com base nos bens depositados
juntos ao corpo na sepultura e também pelo modo como o corpo do individuo é
tratado após a morte, pois indivíduos de status superior recebiam um tratamento
de preparação de seus corpos antes do sepultamento em si. Embora alguns
arqueólogos afirmam que não havia uma relação direta entre estes aspectos de
tratamento, pois são verificados dois tipos de status: um é aquele que a pessoa
adquiri com seus feitos durante o decorrer de sua vida e o outro é aquele que
pode ser herdado de seus ancestrais.
Os arqueólogos ao analisar os
sepultamentos de jovens aonde são encontrados um tratamento diferenciado com
deposito de artefatos lindamente pintados como esculturas em pedra e osso
especialmente confeccionadas com motivos do cotidiano do seu povo denota um
status herdado, pois alguém tão jovem não teria tido tempo de realizar algo
significante para sua sociedade segundo os padrões e expectativa de vida de seu
grupo (GASPAR, 2000).
Nos sepultamentos os ossos humanos
estão muitas vezes juntos com conchas os quais acabam como matéria-prima na
construção moderna, uma falta de respeito com os povos que sepultaram seus
parentes nessas estruturas denominadas Sambaquis. Se esses povos possuíam uma
preocupação com o sepultamento provavelmente preocupavam-se com a vida
pós-morte do sepultado o que nos remete que este individuo não foi simplesmente
colocado ali. Algo que se destaque nos sepultamentos em
geral são os ossos robustos dos esqueletos encontrados, que mostram pertencer a
pessoas que realizavam atividade física de modo rotineiro com certeza
relacionados à pesca e ao remar dos seus barcos, pois sabemos que os
sambaquianos tinham barcos que os levavam até ilhas no litoral.
Alguns corpos sepultados, devido a
rituais religiosos tinham seus corpos pintados de vermelho com algum corante
natural, isto é verificado nos ossos dos esqueletos que aparecem cobertos com
este material. Conforme os sepultamentos iam ocorrem o sambaqui crescia no
decorrer de centenas de milhares de anos, aliados ao acumulo de restos
alimentícios e de utensílios era um verdadeiro monumento a vida e ao cotidiano
desses povos que nos seu final culminava com seus próprios corpos os principais
componentes destes maravilhosos monumentos aos seus grupos sociais.
Pobres que foram
humildes e grosseiros, os homens dos sambaquis eram, no entanto, acompanhados
frequentemente à sepultura de seus toscos utensílios de pedra e osso, de algum
alimento como se verifica da omoplata duma anta ou dum veado, com frequência ao
lado dos objetos, e até de restos humanos incompletos: crânio mais comumente,
às vezes dentro de cerco de pedras brutas contornando os corpos. Daí o encontro
duma pedra maior, atípica, ter-se tornado, a princípio, sinal de ossada perto,
quando em trabalho de pesquisa em sambaqui. (DUARTE, 1968.p.103).
Ao
serem analisados devidamente, esses sepultamentos nos mostram em parte como
eram as estruturas físicas desses povos paleo-americano, podemos encontrar
ossos de crânios, com dentes muito fortes, desgastados pela areia dos mariscos
ou pelo mastigo de raízes e outros alimentos duros, mas, incrivelmente, sem uma
só cárie, algo incrível até para a atualidade. Verificaremos como eram
realizados os rituais de sepultamento, uma área de estudo responsável pela
escatologia.
Mas embora grosseiros
esses túmulos primevos não deixavam de insinuar outros túmulos toscos também,
perfeitamente característicos e pequenos do Egito ainda selvagem, dos clãs e
das tribos nilóticas, cujo culto dos mortos evoluiria para os megálitos, tipicamente
documentados pelos menhires e dólmens de tantos sítios da Europa, da Ásia e da
América, e também para as sepulturas coletivas do Egito nação, para as
pirâmides faraônicas, possível estilização dos mastabas, cuja forma embora mais
avançada atrai claramente as longínquas origens nos grosseiros amontoados de
conchas mesolíticas. Das pirâmides e das tumbas, subterrâneas ou não, ao túmulo
de Máusolo ou de Cleópatra, seria apenas uma questão de tempo. [...] Resumindo:
estaria no sambaqui a forma primeva de um complexo sociológico iniciado em
plena era totêmica? De um lado os ritos funerários, a sepultura do chefe e
indivíduos diferenciados, o Panteão. De outro, as assembleias do grupo. Para
decisões coletivas, combinações de guerra ou de paz; conselho dos velhos,
característico das sociedades primitivas; ritos mágicos de caça, de pesca, de
instituições sociais, nascimento, casamento, alianças; festejos, danças e
cantos, refeições coletivas, comemorações de todo o grupo; refúgio para
segurança noturna ou defesa contra as feras e os homens. Tudo se desenrolaria
no sambaqui, como à influência de um mimetismo ou contágio sociológico das
grutas pintadas do Magdalense, alguns milhares de anos antes. (DUARTE, 1968, p.104-5).
Nessa
reflexão de Paulo Duarte podemos analisar até aonde poderiam ter ido os grupos
sambaquianos senão tivessem desaparecido. Poderiam ter-se desenvolvido e
aperfeiçoado suas tradições e culturas de modo que isto seria só uma questão de
tempo? Algo que muitos arqueólogos respondem positivamente.
Enquanto em outras
culturas é comum uma certa separação do espaço destinado ao sepultamento, uma
vez que o cemitério é visto como um lugar a ser ignorado e/ ou evitado, os
construtores de sambaquis e acampamentos litorâneos criaram um vínculo espacial
claro com seus mortos ao manterem as sepulturas na mesma área do sítio, e este
fato deve ser considerado como o eixo principal de todo o padrão funerário estabelecido
por estes grupos. (WESOLOSKY, Verônica. Práticas funerárias Pré-históricas do
litoral de São Paulo. TENÓRIO, Maria Cristina (Org.) Pré-história da Terra Brasilis, Rio de Janeiro: UFRJ, 2000, p. 190-1).
CONCLUSÃO
O relatório aqui apresentado visa
expor de forma clara e extremamente curiosa esses grupos sambaquianos que
habitaram os litorais do Brasil, suas origens e motivos de existência.
Entendemos que os sambaquis eram monumentos erguidos durante milhares de anos
gerações e gerações de grupos que habitaram e utilizaram do mesmo em seu
cotidiano como abrigo, cemitério e deposito de restos alimentares e artefatos.
Sendo que os principais vestígios são os restos de conchas provindos de sua
alimentação diária, além de ossos de mamíferos e peixes, incluindo também
restos de tubarões e outros peixes que habitavam águas mais profundas.
Verificamos
que através de estudos os grupos sambaquianos tem origem nos primeiros
habitantes da América que aqui chegaram a 10 mil AP e se estabeleceram nos
litorais sul-americanos com cultura material própria e que denota grande
habilidade com artefatos feitos de ossos e pedra. Na análise dos sítios
sambaquianos do Sul do Brasil descobrimos que os primeiros datam de 3 mil AP e
que em SC no Sambaqui de Jabuticabeira-II existem mais de 43 mil sepultamentos.
Por meio dessa complexidade vemos que os grupos que habitavam o litoral
brasileiro eram organizados em estruturas sociais hierarquizadas com redes de
troca entre outros grupos, e com uma população alta se comparada com outros
grupos e que eram sedentários. Não eram simples agrupamentos humanos, mas
existia uma estrutura cultual envolvida em suas relações diárias entre si e o
mundo que os rodeia. Possuidores de uma indústria lítica aonde eram preparados
machados, armas (incluindo pontas de flecha e outros), moedores e outros
artefatos como um grande número de artefatos lascados e lascas de quartzo.
Registraram-se raspadores, furadores, pontas-de-arremesso triangular, facas,
quebra-cocos, percutores, talhadores e alisadores. Não podemos esquecer é claro
dos zoólitos, que são esculturas feitas de osso ou pedra com a forma dos
animais das regiões onde habitavam, alguns zoólitos tem forma de animais
marinhos, aves e raramente, mas existem alguns com forma humana. Mas a
característica mais marcante dessa cultura sambaquiana é o hábito de acumular
todas essas coisas é o que diferencia seu grupo de tantos outros que ocuparam o
território brasileiro. Eles consideravam os restos alimentares como material
construtivo e os acumulavam, dia a dia, erguendo uma plataforma que, com o
passar do tempo, mais se destacava na paisagem.
Esse
costume de acumular restos alimentares e usa-los para erguer construções não é
um costume que deva ser entendido segundo a visão pratica, pois se relaciona
com o prestígio dos moradores de cada local em relação aos vizinhos. Os sambaquis eram locais de moradia, sabemos
disso, pois, são encontrados diferentes artefatos e nos mostram sua relação com
o cotidiano desses povos e sua vida. Outro indicio importante é que nunca foi
encontrado outro local de habitação dos povos sambaquianos além do sambaqui em
si. Mesmo realizando muitas atividades do dia-a-dia no próprio sambaqui os seus
construtores exploravam muito todos os locais nos arredores do sambaqui.
Ao
cursar a disciplina de Estágio III ministrada pela professora Gislene
Monticelli tive a oportunidade de ampliar meus conhecimentos sobre os povos que
habitavam as terras que hoje chamamos de Brasil. Tivemos a oportunidade através
da Saída de Campo para Xangri-lá conhecer um Sambaqui e verificar pessoalmente
a habilidade e demonstração de força de vontade em construir um monumento para
seu grupo, de modo que estivesse visível no terreno até longa distancia. Por
meio deste estágio pude aperfeiçoar meus conhecimentos sobre as normas da ABNT
que me serão de grande importância. Somente tenho a agradecer pela oportunidade
de ter estudado a disciplina de Estágio III, pois ela ensinou-me acima de todas
as outras questões, o quão importante é conhecer profundamente a cultura de um
povo para então poder dizer ao menos que conheço.
Você quer saber mais?
Currículo Lattes Leandro Claudir Pedroso
http://lattes.cnpq.br/3735590007579581
Linkedin Leandro Claudir Pedroso
https://br.linkedin.com/in/construindohistoriahoje
REFERÊNCIAS
CADASTRO NACIONAL DE SÍTIOS
ARQUEOLÓGICOS, sítio RS-LN-19: Capão Alto, sambaqui localizado no município de
Xangri-lá/Rio Grande do Sul. Disponível em: http://www.iphan.gov.br/sgpa/cnsa_detalhes.php?11993.
Acessado em 13 de nov. de 2014.
CUNHA, Manuela Carneiro da Cunha. Os
mortos e os outros. São Paulo: Hucitec, 1978.
DUARTE, Paulo. O sambaqui visto através
de alguns sambaquis. São Paulo: Instituto de Pré-história da Universidade de
São Paulo, 1968. p.100-105.
FERREIRA, C.
C.; TORRES, F. R.; BORGES, W. R. Cubatão: Caminhos da História. Cubatão:
do autor, 2007.
GASPAR, Maria Dulce. Sambaqui: arqueologia
do litoral brasileiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
GASPAR, Maria Dulce. Os ocupantes
Pré-históricos do litoral brasileiro. TENORIO, Maria Cristina (Org.) Pré-história da Terra Brasilis. Rio de
Janeiro: UFRJ, 2000.
SCHMITZ, Pedro Ignácio. Pré-história do Rio Grande do Sul:
arqueologia do Rio Grande do Sul, Brasil 2º Edição. São Leopoldo: Instituto
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WESOLOSKY, Verônica. Práticas funerárias
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Sambaqui Figueirinha I. Disponível em:
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Sambaqui
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Rara
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Acessada em 10 de novembro de 2014.