Não deixe de ler a primeira
e segunda postagens sobre o tema para ficar inteirado de todas as informações:
SEPULTAMENTOS NOS SAMBAQUIS
Quando durante as escavações os
arqueólogos chegavam em profundidades que correspondiam aos primeiros sepultamentos,
os arqueólogos encontraram covas com uma grande quantia de buracos de estacas
que revelam o que um dia foi uma estrutura de madeira, hoje já decomposta, que demarcava
o local onde estava o morto, na cova. Encontramos também grossas camadas de
conchas que separam grupos de sepultamentos em níveis, algo que reflete
sepultamentos de pessoas que não possuíam laços sentimentais com os
sepultamentos anteriores, essas camadas de conchas são encontradas com dezenas
de anos de diferença, o que explica a falta de laços com os antigos
sepultamentos, pois o grupo atual desconhecia os indivíduos sepultados
anteriormente.
Ao serem escavados, alguns
sambaquis revelaram que o sepultamento em si com conchas e objetos do morto e
aonde algumas vezes são encontrados alimentos para o falecido ficava logo
abaixo de onde havia ocorrido a cerimonia fúnebre devidos aos vestígios de
oferendas e fogo ritual que foram encontrados acima do mesmo. Quando analisamos
as práticas funerárias desenvolvidas pelos grupos sambaquianos, vemos desde o
principio o desenvolvimento de uma hierarquização com base nos bens depositados
juntos ao corpo na sepultura e também pelo modo como o corpo do individuo é
tratado após a morte, pois indivíduos de status superior recebiam um tratamento
de preparação de seus corpos antes do sepultamento em si. Embora alguns
arqueólogos afirmam que não havia uma relação direta entre estes aspectos de
tratamento, pois são verificados dois tipos de status: um é aquele que a pessoa
adquiri com seus feitos durante o decorrer de sua vida e o outro é aquele que
pode ser herdado de seus ancestrais.
Os arqueólogos ao analisar os
sepultamentos de jovens aonde são encontrados um tratamento diferenciado com
deposito de artefatos lindamente pintados como esculturas em pedra e osso
especialmente confeccionadas com motivos do cotidiano do seu povo denota um
status herdado, pois alguém tão jovem não teria tido tempo de realizar algo
significante para sua sociedade segundo os padrões e expectativa de vida de seu
grupo.
Crânios
de sambaquianos: 12. Crânios encontrados em sepultamentos em sambaquis, os
indivíduos tinham entre 40 e 50 anos. Fonte: DUARTE, 1968, p.43.
Nos sepultamentos os ossos humanos
estão muitas vezes juntos com conchas os quais acabam como matéria-prima na construção
moderna, uma falta de respeito com os povos que sepultaram seus parentes nessas
estruturas denominadas Sambaquis. Se esses povos possuíam uma preocupação com o
sepultamento provavelmente preocupavam-se com a vida pós-morte do sepultado o
que nos remete que este individuo não foi simplesmente colocado ali. Algo
que se destaque nos sepultamentos em geral são os ossos robustos dos esqueletos
encontrados que nos mostram que pertenciam a pessoas que realizavam atividade
física de modo rotineiro com certeza relacionados a pesca e ao remar dos seus
barcos, pois sabemos que os sambaquianos tinham barcos que os levavam até ilhas
no litoral.
Alguns corpos sepultados, devido a
rituais religiosos tinham seus corpos pintados de vermelho com algum corante
natural, isto é verificado nos ossos dos esqueletos que aparecem cobertos com
este material. Conforme os sepultamentos iam ocorrem o sambaqui crescia no
decorrer de centenas de milhares de anos, aliados ao acumulo de restos
alimentícios e de utensílios era um verdadeiro monumento a vida e ao cotidiano
desses povos que nos seu final culminava com seus próprios corpos os principais
componentes destes maravilhosos monumentos aos seus grupos sociais.
Pobres que foram
humildes e grosseiros, os homens dos sambaquis eram, no entanto, acompanhados
frequentemente à sepultura de seus toscos utensílios de pedra e osso, de algum
alimento como se verifica da omoplata duma anta ou dum veado, com frequência ao
lado dos objetos, e até de restos humanos incompletos: crânio mais comumente,
às vezes dentro de cerco de pedras brutas contornando os corpos. Daí o encontro
duma pedra maior, atípica, ter-se tornado, a princípio, sinal de ossada perto,
quando em trabalho de pesquisa em sambaqui. (DUARTE, 1968.p.103).
Ao
serem analisados devidamente, esses sepultamentos nos mostram em parte como
eram as estruturas físicas desses povos paleo-americano, podemos encontrar
ossos de crânios, com dentes muito fortes, desgastados pela areia dos mariscos
ou pelo mastigo de raízes e outros alimentos duros, mas, incrivelmente, sem uma
só cárie, algo incrível até para a atualidade. Verificaremos como eram
realizados os rituais de sepultamento, uma área de estudo responsável pela
escatologia.
Mas embora grosseiros
esses túmulos primevos não deixavam de insinuar outros túmulos toscos também,
perfeitamente característicos e pequenos do Egito ainda selvagem, dos clãs e
das tribos nilóticas, cujo culto dos mortos evoluiria para os megálitos,
tipicamente documentados pelos menhires e dólmens de tantos sítios da Europa,
da Ásia e da América, e também para as sepulturas coletivas do Egito nação,
para as pirâmides faraônicas, possível estilização dos mastabas, cuja forma
embora mais avançada atrai claramente as longínquas origens nos grosseiros
amontoados de conchas mesolíticas. Das pirâmides e das tumbas, subterrâneas ou
não, ao túmulo de Máusolo ou de Cleópatra, seria apenas uma questão de tempo.
[...] Resumindo: estaria no sambaqui a forma primeva de um complexo sociológico
iniciado em plena era totêmica? De um lado os ritos funerários, a sepultura do
chefe e indivíduos diferenciados, o Panteão. De outro, as assembleias do grupo.
Para decisões coletivas, combinações de guerra ou de paz; conselho dos velhos,
característico das sociedades primitivas; ritos mágicos de caça, de pesca, de
instituições sociais, nascimento, casamento, alianças; festejos, danças e
cantos, refeições coletivas, comemorações de todo o grupo; refúgio para
segurança noturna ou defesa contra as feras e os homens. Tudo se desenrolaria
no sambaqui, como à influência de um mimetismo ou contágio sociológico das
grutas pintadas do Magdalense, alguns milhares de anos antes. (DUARTE, 1968, p.104-5).
Essa
reflexão de Paulo Duarte me faz pensar até aonde poderiam ter ido os grupos
sambaquianos senão tivessem desaparecido. Poderiam ter-se desenvolvido e
aperfeiçoado suas tradições e culturas de modo que isto seria só uma questão de
tempo? Algo que muitos arqueólogos respondem positivamente.
Sepultamento:
Sambaqui Ilhote do Leste, Ilha Grande, RJ. Sepultamento. Fonte: WESOLOSKY, 2000
p.162.
Enquanto em outras
culturas é comum uma certa separação do espaço destinado ao sepultamento, uma
vez que o cemitério é visto como um lugar a ser ignorado e/ ou evitado, os
construtores de sambaquis e acampamentos litorâneos criaram um vínculo espacial
claro com seus mortos ao manterem as sepulturas na mesma área do sítio, e este
fato deve ser considerado como o eixo principal de todo o padrão funerário
estabelecido por estes grupos. (WESOLOSKY, Verônica. Práticas funerárias
Pré-históricas do litoral de São Paulo. TENÓRIO, Maria Cristina (Org.) Pré-história da Terra Brasilis, Rio de
Janeiro: UFRJ, 2000, p. 190-1).
CONCLUSÃO
O
relatório aqui apresentado visa expor de forma clara e extremamente curiosa
esses grupos sambaquianos que habitaram os litorais do Brasil e expor de forma
clara suas origens e motivos de existência. Vimos que alguns sambaquis chegam a
ter mais de 6 mil anos de existência e que foram construídos grupos
considerados não-indígenas, pois sambaquianos não eram índios. Entendemos que
os sambaquis eram monumentos erguidos durante milhares de anos gerações e
gerações de grupos que habitaram e utilizaram do mesmo em seu cotidiano como
abrigo, cemitério e deposito de restos alimentares e artefatos. Sendo que os
principais vestígios são os restos de conchas provindos de sua alimentação
diária, além de ossos de mamíferos e peixes, incluindo também restos de
tubarões e outros peixes que habitavam águas mais profundas.
Verificamos
que através de estudos os grupos sambaquianos tem origem nos primeiros
habitantes da América que aqui chegaram a 10 mil AP e se estabeleceram nos
litorais sul-americanos com cultura material própria e que denota grande
habilidade com artefatos feitos de ossos e pedra. Na análise dos sítios
sambaquianos do Sul do Brasil descobrimos que os primeiros datam de 3 mil AP e
que em SC no Sambaqui de Jabuticabeira-II existem mais de 43 mil sepultamentos.
Por meio dessa complexidade vemos que os grupos que habitavam o litoral brasileiro
eram organizados em estruturas sociais hierarquizadas com redes de troca entre
outros grupos, e com uma população alta se comparada com outros grupos e que
eram sedentários. Não eram simples agrupamentos humanos, mas existia uma
estrutura cultual envolvida em suas relações diárias entre si e o mundo que os
rodeia. Possuidores de uma indústria lítica aonde eram preparados machados,
armas (incluindo pontas de flecha e outros), moedores e outros artefatos como
um grande número de artefatos lascados e lascas de quartzo. Registraram-se
raspadores, furadores, pontas-de-arremesso triangular, facas, quebra-cocos,
percutores, talhadores e alisadores. Não podemos esquecer é claro dos zoólitos,
que são esculturas feitas de osso ou pedra com a forma dos animais das regiões
onde habitavam, alguns zoólitos tem forma de animais marinhos, aves e raramente,
mas existem alguns com forma humana. Mas a característica mais marcante dessa
cultura sambaquiana é o hábito de acumular todas essas coisas é o que
diferencia seu grupo de tantos outros que ocuparam o território brasileiro.
Eles consideravam os restos alimentares como material construtivo e os
acumulavam, dia a dia, erguendo uma plataforma que, com o passar do tempo, mais
se destacava na paisagem.
Esse
costume de acumular restos alimentares e usa-los para erguer construções não é
um costume que deva ser entendido segundo a visão pratica, pois se relaciona
com o prestígio dos moradores de cada local em relação aos vizinhos. Os sambaquis eram locais de moradia, sabemos
disso, pois, são encontrados diferentes artefatos e nos mostram sua relação com
o cotidiano desses povos e sua vida. Outro indicio importante é que nunca foi
encontrado outro local de habitação dos povos sambaquianos além do sambaqui em
si. Mesmo realizando muitas atividades do dia-a-dia no próprio sambaqui os seus
construtores exploravam muito todos os locais nos arredores do sambaqui.
Autor: Leandro Claudir. Criador e administrador do Projeto Construindo
História Hoje e Acadêmico de História.
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REFERÊNCIAS
CADASTRO NACIONAL DE SÍTIOS
ARQUEOLÓGICOS, sítio RS-LN-19: Capão Alto, sambaqui localizado no município de
Xangri-lá/Rio Grande do Sul. Disponível em: http://www.iphan.gov.br/sgpa/cnsa_detalhes.php?11993.
Acessado em 13 de nov. de 2014.
CUNHA, Manuela Carneiro da Cunha. Os
mortos e os outros. São Paulo: Hucitec, 1978.
DUARTE, Paulo. O sambaqui visto
através de alguns sambaquis. São Paulo: Instituto de Pré-história da
Universidade de São Paulo, 1968. p.100-105.
FERREIRA,
C. C.; TORRES, F. R.; BORGES, W. R. Cubatão: Caminhos da História.
Cubatão: do autor, 2007.
GASPAR, Maria Dulce. Sambaqui:
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GASPAR, Maria Dulce. Os ocupantes
Pré-históricos do litoral brasileiro. TENORIO, Maria Cristina (Org.) Pré-história da Terra Brasilis. Rio de
Janeiro: UFRJ, 2000.
SCHMITZ, Pedro Ignácio. Pré-história
do Rio Grande do Sul: arqueologia do Rio Grande do Sul, Brasil 2º Edição. São
Leopoldo: Instituto Anchietano de Pesquisas, 2006.
WESOLOSKY, Verônica. Práticas funerárias
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Sambaqui Figueirinha I. Disponível em:
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Sambaqui
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Acesso em 10 de nov. de 2014.
Modelo de estratificação das camadas
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Sambaqui MAE-USP. Museu de Arqueologia
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Acesso em 11 de nov. de 2014.
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Acessada em 11 de nov. de 2014.
Rara
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<http://www.museunacional.ufrj.br/exposicoes/arqueologia/exposicao/sambaquis>
.Acessado em 10 de novembro de 2014.
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Acessada em 10 de novembro de 2014.
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