La Fontaine
Diógenes e o Homem do Rio
Durante uma viagem, Diógenes, o cínico, parou diante da correnteza de um rio. E ficou ali na margem, sem saber o que fazer, quando um homem que tinha o hábito de atravessar as pessoas, vendo-o indeciso, aproximou-se e, com sua bondade, colocou-o nos ombros para levá-lo à outra margem. Diógenes ficou constrangido por ser muito pobre e não ter como pagar-lhe. Estava assim absorto em seus pensamentos quando o homem, vendo um outro viajante com as mesmas para atravessar o rio, correu até ele e ajudou-o a passar. Diógenes se aproximou dele e disse-lhe:
-Pelo que vejo, não posso lhe ser agradecido, pois o que fazes é antes fruto de uma mania que de um discernimento.
Quando prestas serviço tanto às pessoas honestas quanto aos néscios, terminas sendo visto não como um homem de boa vontade mas como um imbecil.
A Formiga
A formiga era, em tempos passados, um homem que laborava a terra. Mas suas próprias colheitas não lhe bastavam. Ele invejava as dos outros e freqüentemente ia roubar os frutos dos vizinhos. Zeus se irritou com tal cupidez e o transformou no inseto que chamamos formiga. O homem, assim metamorfoseado, não perdeu seus hábitos: ainda hoje percorre os campos alheios e põe de reserva o trigo e a cevada que outro colheu.
Por mais que se castigue o homem mau, ele nunca se emenda.
O Leão e o Javali
Era verão e os animais estavam sedentos. Um leão e um javali foram matar a sede numa pequena fonte. Estavam brigando para ver quem ia beber primeiro. A briga terminou numa luta sangrenta. De repente, tendo-se separado momentaneamente para recuperar o ar, viram os abutres que só estavam esperando quem um deles morresse para devorá-lo. Pararam então de brigar:
-Melhor ficarmos amigos que servir de pasto aos abutres e aos corvos.
Querelas e disputas nos expõem ao perigo. Melhor acabar com elas.
A Serpente, A Doninha e os Ratos
Uma serpente e uma doninha tinham ido brigar numa casa. Ao ver isso, os ratos, que normalmente eram a presa de uma ou de outra, saíram para esticar as pernas. Mas, quando viram os ratos, uma e outra pararam a briga e os atacaram.
Sejamos discretos enquanto os grandes se batem, senão os golpes sobram para nós.
O Lobo e a Garça
Um lobo que engolira um osso corria pelo campo procurando quem o salvasse. Ao encontrar uma garça, disse:
-Por favor, tira-me esse osso da garganta e te recompensarei.
A garça enfiou a cabeça na goela do lobo e retirou o osso. Depois ela reclamou a recompensa prometida. O lobo então respondeu:
-Já não te basta ter tirado tua cabeça sã e salva da boca de um lobo?
O reconhecimento do homem mau se limita a não causar um novo mal a quem lhe fez o bem.
O Homem e o Leão
Um homem e um leão que caminhavam juntos se gabavam o tempo todo. E eis que encontraram uma estela com um homem estrangulando um leão. Mostrando a seu companheiro, o homem lhe disse:
-Estás vendo como somos mais fortes que vocês.
Mas o animal, mal escondendo o riso, replicou:
-Se os leões soubessem esculpir, verias uma porção de homens destruídos por um leão.
Alguns se vangloriam – e são muitos – de serem fortes e ousados, até serem desmascarados e confundidos pela experiência.
A Víbora e a Hidra
Uma víbora ia regularmente beber água numa fonte. Mas uma hidra tinha feito ali sua morada e resolveu proibir-lhe o acesso:
- Aqui é meu domínio, a víbora que se contente com o seu.
O conflito chegou a tal ponto que elas decidiram se enfrentar. Quando chegou o dia da luta, as rãs que detestavam a hidra, foram ao encontro da víbora para encorajá-la e lhe prometeram combater a seu lado. A luta começou. Enquanto a víbora enfrentava a hidra, as rãs, incapazes de fazer qualquer coisa, coaxavam até mais não poder. Vitoriosa na luta, a víbora lhes repreendeu a conduta: ”Vocês tinham prometido lutar comigo, mas, em vez de me ajudar, ficaram cantando!”
“Saiba”, responderam elas, “que é com a voz e não com os braços que nós ajudamos nossos aliados.”
Quando se precisa de força, as palavras não servem para nada.
Você quer saber mais?
Fábulas de Esopo. Esopo; tradução de Antônio Carlos Vianna. Porto Alegre: L&PM, 2007.
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