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sábado, 2 de janeiro de 2016

Pré-história do Rio grande do Sul.



O perfil geográfico do Rio Grande do Sul foi formado por sucessivas transformações que iniciaram há cerca de 600 milhões de anos. Esse território já foi um mar, já foi um deserto, e em várias regiões aconteceram soterramentos massivos por derrames de lava. Crê-se que somente há dois milhões de anos a geografia se definiu mais ou menos como hoje a conhecemos, quando se fixou a faixa arenosa do litoral. A vida na pré-história do Rio Grande do Sul foi rica em espécies animais e vegetais.

Há apenas cerca de 12 mil anos antes do presente (AP) iniciou a ocupação humana, com a chegada de grupos de caçadores-coletores vindos do norte.Várias regiões da América do Sul nesta época já haviam sido povoadas, algumas ao que parece desde alguns milênios antes, por populações de origem asiática. A tese predominante é que elas tenham originalmente cruzado o Estreito de Behring, no extremo norte da América do Norte, que então estava seco por causa de uma glaciação global, migrando em seguida para o sul, ocupando neste percurso muitos espaços ao longo de gerações.

Os pioneiros que chegaram no território do Rio Grande do Sul encontraram uma região bastante diferente da que hoje vemos. Em 12 mil anos AP, a glaciação, que cobrira de gelo toda a Patagônia (região ao sul da Argentina atual) e esfriara o clima global, começava a regredir, e o clima da região, mais seco e frio do que no presente, se aquecia e umedecia. No entanto, provavelmente a neve ainda caía na região todos os invernos. O nível do mar subia, ao derreter o gelo glacial que se acumulara no mundo, e inundava a planície litorânea. A vegetação local provavelmente era esparsa, composta principalmente de savanas, com matas apenas nas terras altas e nas margens dos rios. A fauna local também era outra, composta de muitas espécies gigantes, como os milodontes, gliptodontes e toxodontes.

A penetração humana deu-se aparentemente através da fronteira oeste, ao longo do rio Uruguai, onde o estado hoje faz divisa com a Argentina e o Uruguai. No município de Alegrete, localizado nesta área, às margens do rio Ibicuí, foi encontrado o sítio arqueológico com vestígios humanos mais antigo do estado, cuja datação o situou com 12.770 anos. Esses primeiros povos, que compartilhavam de uma mesma cultura material, conhecida como tradição Umbu, viviam da caça e da coleta nas planícies do pampa, entre seus campos abertos e matas ciliares. Eram nômades, e devem ter estabelecido acampamentos temporários de acordo com a abundância sazonal de determinados recursos naturais, seguindo rotas de migração de animais ou épocas de amadurecimento de vegetais comestíveis.

Deixaram registros relativamente pobres. Os sítios arqueológicos incluem vestígios de assentamentos, restos de alimentação como ossos de animais e sementes, além de adornos pessoais e artefatos líticos como pontas de flecha e lança em pedra lascada, boleadeiras, cortadores, raspadores e outras ferramentas. Sua cultura predominou por cerca de 11 mil anos, ainda que exibisse adaptações regionais ao variado cenário do território, que se compõe de diferentes tipos de ecossistemas.

Deve ser lembrado que as mudanças climáticas que a região atravessou ao longo de milênios determinaram importantes modificações na composição da flora e da fauna, às quais as populações humanas precisaram se adaptar, e isso se refletiu em variações em seus costumes e culturas. Durante o ótimo climático, um período de importante elevação nas temperaturas globais ocorrido a partir de 6 mil anos AP, esses povos passaram a colonizar as matas das serras e a subir o planalto. Aparecem gravuras rupestres e ferramental adaptado ao trabalho com madeira, especialmente machados bifaciais. Formava-se ali a chamada tradição Humaitá.

Enquanto isso, se completava a conquista do litoral, formando-se uma cultura específica, a tradição Sambaqui, adaptada à vida junto ao mar e nas planícies costeiras. São característicos dessa tradição os depósitos de conchas, carapaças de crustáceos e restos de peixes que lhe deram o nome, os sambaquis, onde também são encontrados enterramentos e artefatos indicativos de sua associação com o mar, tais como anzóis e pesos de redes. Também se encontram indícios de práticas agrícolas rudimentares, sugerindo que eram sedentários pelo menos em parte do ano. Outras características que os distinguem são os assentamentos sobre colinas artificiais baixas, conhecidas como cerritos, formadas em zonas alagadiças da planície costeira.

Por volta de 3 mil anos AP o clima esfriou novamente e se estabilizou em uma condição semelhante à do presente, produzindo novas adaptações na vida selvagem e nas culturas humanas que floresciam. Nas serras e no planalto, onde o clima permaneceu relativamente frio, com nevadas e geadas frequentes, os povos da tradição Humaitá, que colonizaram a área durante o ótimo climático, precisaram se adaptar, aparecendo então típicos abrigos subterrâneos cobertos de palha, que podiam se organizar em aldeias com várias unidades.

Pouco mais tarde, coincidindo com o início da era cristã, chega a segunda grande onda humana a atingir a região, composta de indígenas Guaranis procedentes da Amazônia. Cogita-se que eles também devem ter sido impelidos à migração pelas mudanças climáticas globais. Eles tinham uma desenvolvida cultura agrícola, domesticavam animais e dominavam a técnica da terracota e da pedra polida. Colonizaram os vales florestados da depressão central, o litoral e parte das serras, evitando porém as regiões mais altas e frias, e pouco avançaram sobre o pampa, já que preferiam climas mais quentes e o ambiente florestal a que estavam acostumados no norte, mas sua influência cultural foi mais ampla. Seus sítios se distinguem das outras tradições pela forma dos assentamentos, em aldeias mais estáveis e estruturadas, e pela abundância de artefatos em pedra polida como pontas de flecha, machados, maceradores, e vasos em cerâmica de diferentes formatos e decoração, técnicas que se observa doravante aparecer nos sítios de outros grupos. A sua influência também se revelou na expansão da agricultura.

Outro grupo a descer do norte junto com os guaranis foi o dos Jês, de cultura similarmente desenvolvida, deixando uma marca maior no planalto, onde primeiro influenciaram os povos da tradição Humaitá e logo os suplantaram. Mas quando o Brasil foi "descoberto", em 1500, quase todos os índios do estado, que somavam de 100 mil a 150 mil na estimativa dos estudiosos, já eram Guaranis ou estavam misturados a eles. Os grupos menos afetados por essa invasão foram os Jês do planalto médio, e os Charruas e Minuanos, do pampa.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Arqueologia brasileira: do privado ao público


            A Arqueologia brasileira do século XIX se encerra dentro do contexto nacionalista romântico, da valorização das origens de um povo. Na prática, seu objetivo era conferir nobreza ao passado de um lugar chamado Brasil, nação recém-nascida a quem o governo imperial procurava atribuir caráter de civilização (BARRETO, 1999-2000; FERREIRA, 2003; FUNARI, 2003; GUIMARÃES, 1988). As pesquisas arqueológicas da época dedicavam-se, portanto, a estudar povos indígenas e a buscar os vestígios de arquitetura monumental que confirmariam a tese de que os indígenas seriam a degeneração de uma grande civilização do passado. Esta suposta civilização seria a colonizadora do continente, e esta ideia delimitava temática e temporalmente as pesquisas arqueológicas. O estudo de épocas anteriores caberia à História Natural, ciência que buscava compreender do ponto de vista paleoambiental a evolução ou sucessão de eras geológicas.

            Dessa forma, a construção da ideia de uma pré-história americana, no século XIX, esbarrava em limitações metodológicas, mas, sobretudo em impedimentos de ordem ideológica. Isto pois, por mais que se considerasse alheios ao pensamento mitológico, quase não havia espaço entre os pressupostos da ciência da época que admitisse uma ocupação humana do continente americano em tempos remotos.

          A prática arqueológica era realizada por colecionadores, intelectuais amadores, curiosos e museus, que o faziam sem leis específicas ou regulamentações, mesmo após a elevação da Arqueologia ao status científico, conferido pelo IHGB em 1847. No âmbito privado, era encarada como uma atividade de prestígio, um hobby, mas também um indicador de refinamento. Não era incomum o trânsito internacional de peças arqueológicas raras, oriundas de escavações pela Grécia ou Egito, por exemplo, a fim de adornarem galerias e salões particulares.

            Por outro lado, as explorações arqueológicas científicas eram essencialmente fundamentadas em hipóteses criacionistas. Os princípios norteadores destas pesquisas buscavam quase sempre constatar a veracidade dos relatos bíblicos da criação, ainda que vestígios paleogeológicos testemunhassem fortemente contra a cronologia estabelecida pela Bíblia e pela Igreja. Quando Peter Lund realizou suas primeiras descobertas no carste de Lagoa Santa (MG), nos idos da década de 1840, seus achados atestaram evidências da convivência de seres humanos com “as grandes bestas extinctas”. Suas teses foram tão rapidamente difundidas quanto refutadas pela comunidade científica nacional e internacional (LUNA FILHO, 2007, p. 128).

            Entre o amadorismo e a cientificidade estavam, portanto, paleontólogos e arqueólogos no século XIX. Para a Ciência, de modo geral, a existência de seres humanos em eras anteriores à “atual” era hipótese descartada. Dessa forma, a relevância da pesquisa em sítios pré-históricos para o delineamento das primeiras ocupações do território brasileiro foi ignorada e a manutenção e preservação destes sítios foi severamente negligenciada. Mesmo no período republicano, o debate acerca da proteção do patrimônio arqueológico, a despeito de inúmeros esforços e projetos de lei, apenas em 1961 resultou em uma lei mais abrangente e em âmbito federal. Esta década é caracterizada pelo fortalecimento das instituições de pesquisa. Entretanto, Em um momento que não havia diferenças significativas entre “profissionais” e “amadores”, a categoria de “arqueólogo profissional” foi construída no bojo da campanha de proteção dos sítios e em oposição aos “amadores”. […]

            [Estes] foram proibidos de continuar o trabalho de coleta de dados, e sítios foram totalmente destruídos sem que houvesse qualquer tipo de registro. Por outro lado, os “arqueólogos” desenvolveram uma linguagem restrita à comunidade científica, sem qualquer compromisso com a divulgação dos resultados de pesquisa para a sociedade brasileira (GASPAR, 2004, p. 18-19). Assim, o estabelecimento da Arqueologia como ciência apenas será compreendido se considerarmos o processo de concepção de seus pressupostos científicos, além das influências sociais, políticas e ideológicas desta época. Mas é a partir da relação peculiar entre estes fatores que podemos entender a questão patrimonial no Brasil atual.

Patrimônio arqueológico sob a ótica legal

            No Brasil, a formalização legal da proteção a sítios arqueológicos foi resultado de um processo de décadas. Foram diversos esforços originários de várias instituições, políticas e intelectuais, entre o primeiro e já tardio projeto de lei, proposto pela Sociedade Brasileira de Belas Artes em 1920, defendendo a nacionalização dos recursos, até a lei atual, nº 3924/1961.

            Entretanto, o decurso da subordinação da questão às leis entre as décadas de 1920 e 1960 esbarrou na indefinição do valor pré-histórico dos sambaquis. Segundo Paulo Duarte (1968, p. 5), o primeiro Código de Minas (Decreto-Lei nº 1985/1940), assinado durante o Estado Novo, classificou indiscriminadamente terraços e sambaquis como “jazida mineral natural”, o que trouxe graves prejuízos à Arqueologia no Brasil. De fato, nesse contexto, a nacionalização das jazidas minerais, antes de visar a proteção de sítios pré-históricos, coadunava com as políticas desenvolvimentistas do período varguista. Dois anos depois, o Decreto-Lei nº 4146/1942 estabeleceu uma vaga discriminação entre as explorações econômicas e científicas. Duarte afirma ainda que “Em São Paulo, porém, graças à vigilância implacável do Instituto de Pré-História, a lei [nº3924/1961] vigora” (1968, p. 5). A particularidade da Lei nº nº3924/1961 é que esta abrange qualquer monumento pré-histórico ou arqueológico, a estatização destes bens, a preservação por parte do Estado e a insubmissão destes às regras gerais da propriedade privada.

           

domingo, 28 de dezembro de 2014

Sambaquis, Parte III: Sepultamentos nos Sambaquis e Conclusão - Relatório de Arqueologia.

Não deixe de ler a primeira e segunda postagens sobre o tema para ficar inteirado de todas as informações:



SEPULTAMENTOS NOS SAMBAQUIS 
              Quando durante as escavações os arqueólogos chegavam em profundidades que correspondiam aos primeiros sepultamentos, os arqueólogos encontraram covas com uma grande quantia de buracos de estacas que revelam o que um dia foi uma estrutura de madeira, hoje já decomposta, que demarcava o local onde estava o morto, na cova. Encontramos também grossas camadas de conchas que separam grupos de sepultamentos em níveis, algo que reflete sepultamentos de pessoas que não possuíam laços sentimentais com os sepultamentos anteriores, essas camadas de conchas são encontradas com dezenas de anos de diferença, o que explica a falta de laços com os antigos sepultamentos, pois o grupo atual desconhecia os indivíduos sepultados anteriormente.

              Ao serem escavados, alguns sambaquis revelaram que o sepultamento em si com conchas e objetos do morto e aonde algumas vezes são encontrados alimentos para o falecido ficava logo abaixo de onde havia ocorrido a cerimonia fúnebre devidos aos vestígios de oferendas e fogo ritual que foram encontrados acima do mesmo. Quando analisamos as práticas funerárias desenvolvidas pelos grupos sambaquianos, vemos desde o principio o desenvolvimento de uma hierarquização com base nos bens depositados juntos ao corpo na sepultura e também pelo modo como o corpo do individuo é tratado após a morte, pois indivíduos de status superior recebiam um tratamento de preparação de seus corpos antes do sepultamento em si. Embora alguns arqueólogos afirmam que não havia uma relação direta entre estes aspectos de tratamento, pois são verificados dois tipos de status: um é aquele que a pessoa adquiri com seus feitos durante o decorrer de sua vida e o outro é aquele que pode ser herdado de seus ancestrais.

              Os arqueólogos ao analisar os sepultamentos de jovens aonde são encontrados um tratamento diferenciado com deposito de artefatos lindamente pintados como esculturas em pedra e osso especialmente confeccionadas com motivos do cotidiano do seu povo denota um status herdado, pois alguém tão jovem não teria tido tempo de realizar algo significante para sua sociedade segundo os padrões e expectativa de vida de seu grupo.

Crânios de sambaquianos: 12. Crânios encontrados em sepultamentos em sambaquis, os indivíduos tinham entre 40 e 50 anos. Fonte: DUARTE, 1968, p.43.

              Nos sepultamentos os ossos humanos estão muitas vezes juntos com conchas os quais acabam como matéria-prima na construção moderna, uma falta de respeito com os povos que sepultaram seus parentes nessas estruturas denominadas Sambaquis. Se esses povos possuíam uma preocupação com o sepultamento provavelmente preocupavam-se com a vida pós-morte do sepultado o que nos remete que este individuo não foi simplesmente colocado ali.   Algo que se destaque nos sepultamentos em geral são os ossos robustos dos esqueletos encontrados que nos mostram que pertenciam a pessoas que realizavam atividade física de modo rotineiro com certeza relacionados a pesca e ao remar dos seus barcos, pois sabemos que os sambaquianos tinham barcos que os levavam até ilhas no litoral.
              Alguns corpos sepultados, devido a rituais religiosos tinham seus corpos pintados de vermelho com algum corante natural, isto é verificado nos ossos dos esqueletos que aparecem cobertos com este material. Conforme os sepultamentos iam ocorrem o sambaqui crescia no decorrer de centenas de milhares de anos, aliados ao acumulo de restos alimentícios e de utensílios era um verdadeiro monumento a vida e ao cotidiano desses povos que nos seu final culminava com seus próprios corpos os principais componentes destes maravilhosos monumentos aos seus grupos sociais.

Pobres que foram humildes e grosseiros, os homens dos sambaquis eram, no entanto, acompanhados frequentemente à sepultura de seus toscos utensílios de pedra e osso, de algum alimento como se verifica da omoplata duma anta ou dum veado, com frequência ao lado dos objetos, e até de restos humanos incompletos: crânio mais comumente, às vezes dentro de cerco de pedras brutas contornando os corpos. Daí o encontro duma pedra maior, atípica, ter-se tornado, a princípio, sinal de ossada perto, quando em trabalho de pesquisa em sambaqui. (DUARTE, 1968.p.103).

            Ao serem analisados devidamente, esses sepultamentos nos mostram em parte como eram as estruturas físicas desses povos paleo-americano, podemos encontrar ossos de crânios, com dentes muito fortes, desgastados pela areia dos mariscos ou pelo mastigo de raízes e outros alimentos duros, mas, incrivelmente, sem uma só cárie, algo incrível até para a atualidade. Verificaremos como eram realizados os rituais de sepultamento, uma área de estudo responsável pela escatologia. 


Mas embora grosseiros esses túmulos primevos não deixavam de insinuar outros túmulos toscos também, perfeitamente característicos e pequenos do Egito ainda selvagem, dos clãs e das tribos nilóticas, cujo culto dos mortos evoluiria para os megálitos, tipicamente documentados pelos menhires e dólmens de tantos sítios da Europa, da Ásia e da América, e também para as sepulturas coletivas do Egito nação, para as pirâmides faraônicas, possível estilização dos mastabas, cuja forma embora mais avançada atrai claramente as longínquas origens nos grosseiros amontoados de conchas mesolíticas. Das pirâmides e das tumbas, subterrâneas ou não, ao túmulo de Máusolo ou de Cleópatra, seria apenas uma questão de tempo. [...] Resumindo: estaria no sambaqui a forma primeva de um complexo sociológico iniciado em plena era totêmica? De um lado os ritos funerários, a sepultura do chefe e indivíduos diferenciados, o Panteão. De outro, as assembleias do grupo. Para decisões coletivas, combinações de guerra ou de paz; conselho dos velhos, característico das sociedades primitivas; ritos mágicos de caça, de pesca, de instituições sociais, nascimento, casamento, alianças; festejos, danças e cantos, refeições coletivas, comemorações de todo o grupo; refúgio para segurança noturna ou defesa contra as feras e os homens. Tudo se desenrolaria no sambaqui, como à influência de um mimetismo ou contágio sociológico das grutas pintadas do Magdalense, alguns milhares de anos antes. (DUARTE, 1968, p.104-5).

            Essa reflexão de Paulo Duarte me faz pensar até aonde poderiam ter ido os grupos sambaquianos senão tivessem desaparecido. Poderiam ter-se desenvolvido e aperfeiçoado suas tradições e culturas de modo que isto seria só uma questão de tempo? Algo que muitos arqueólogos respondem positivamente.


Sepultamento: Sambaqui Ilhote do Leste, Ilha Grande, RJ. Sepultamento. Fonte: WESOLOSKY, 2000 p.162.

Enquanto em outras culturas é comum uma certa separação do espaço destinado ao sepultamento, uma vez que o cemitério é visto como um lugar a ser ignorado e/ ou evitado, os construtores de sambaquis e acampamentos litorâneos criaram um vínculo espacial claro com seus mortos ao manterem as sepulturas na mesma área do sítio, e este fato deve ser considerado como o eixo principal de todo o padrão funerário estabelecido por estes grupos. (WESOLOSKY, Verônica. Práticas funerárias Pré-históricas do litoral de São Paulo. TENÓRIO, Maria Cristina (Org.) Pré-história da Terra Brasilis, Rio de Janeiro: UFRJ, 2000, p. 190-1).
  

CONCLUSÃO
            O relatório aqui apresentado visa expor de forma clara e extremamente curiosa esses grupos sambaquianos que habitaram os litorais do Brasil e expor de forma clara suas origens e motivos de existência. Vimos que alguns sambaquis chegam a ter mais de 6 mil anos de existência e que foram construídos grupos considerados não-indígenas, pois sambaquianos não eram índios. Entendemos que os sambaquis eram monumentos erguidos durante milhares de anos gerações e gerações de grupos que habitaram e utilizaram do mesmo em seu cotidiano como abrigo, cemitério e deposito de restos alimentares e artefatos. Sendo que os principais vestígios são os restos de conchas provindos de sua alimentação diária, além de ossos de mamíferos e peixes, incluindo também restos de tubarões e outros peixes que habitavam águas mais profundas.

            Verificamos que através de estudos os grupos sambaquianos tem origem nos primeiros habitantes da América que aqui chegaram a 10 mil AP e se estabeleceram nos litorais sul-americanos com cultura material própria e que denota grande habilidade com artefatos feitos de ossos e pedra. Na análise dos sítios sambaquianos do Sul do Brasil descobrimos que os primeiros datam de 3 mil AP e que em SC no Sambaqui de Jabuticabeira-II existem mais de 43 mil sepultamentos. Por meio dessa complexidade vemos que os grupos que habitavam o litoral brasileiro eram organizados em estruturas sociais hierarquizadas com redes de troca entre outros grupos, e com uma população alta se comparada com outros grupos e que eram sedentários. Não eram simples agrupamentos humanos, mas existia uma estrutura cultual envolvida em suas relações diárias entre si e o mundo que os rodeia. Possuidores de uma indústria lítica aonde eram preparados machados, armas (incluindo pontas de flecha e outros), moedores e outros artefatos como um grande número de artefatos lascados e lascas de quartzo. Registraram-se raspadores, furadores, pontas-de-arremesso triangular, facas, quebra-cocos, percutores, talhadores e alisadores. Não podemos esquecer é claro dos zoólitos, que são esculturas feitas de osso ou pedra com a forma dos animais das regiões onde habitavam, alguns zoólitos tem forma de animais marinhos, aves e raramente, mas existem alguns com forma humana. Mas a característica mais marcante dessa cultura sambaquiana é o hábito de acumular todas essas coisas é o que diferencia seu grupo de tantos outros que ocuparam o território brasileiro. Eles consideravam os restos alimentares como material construtivo e os acumulavam, dia a dia, erguendo uma plataforma que, com o passar do tempo, mais se destacava na paisagem.

            Esse costume de acumular restos alimentares e usa-los para erguer construções não é um costume que deva ser entendido segundo a visão pratica, pois se relaciona com o prestígio dos moradores de cada local em relação aos vizinhos.  Os sambaquis eram locais de moradia, sabemos disso, pois, são encontrados diferentes artefatos e nos mostram sua relação com o cotidiano desses povos e sua vida. Outro indicio importante é que nunca foi encontrado outro local de habitação dos povos sambaquianos além do sambaqui em si. Mesmo realizando muitas atividades do dia-a-dia no próprio sambaqui os seus construtores exploravam muito todos os locais nos arredores do sambaqui.

Autor: Leandro Claudir. Criador e administrador do Projeto Construindo História Hoje e Acadêmico de História.

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REFERÊNCIAS

CADASTRO NACIONAL DE SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS, sítio RS-LN-19: Capão Alto, sambaqui localizado no município de Xangri-lá/Rio Grande do Sul. Disponível em: http://www.iphan.gov.br/sgpa/cnsa_detalhes.php?11993. Acessado em 13 de nov. de 2014.
CUNHA, Manuela Carneiro da Cunha. Os mortos e os outros. São Paulo: Hucitec, 1978.
DUARTE, Paulo. O sambaqui visto através de alguns sambaquis. São Paulo: Instituto de Pré-história da Universidade de São Paulo, 1968. p.100-105.
FERREIRA, C. C.; TORRES, F. R.; BORGES, W. R. Cubatão: Caminhos da História. Cubatão: do autor, 2007.
GASPAR, Maria Dulce. Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
GASPAR, Maria Dulce. Os ocupantes Pré-históricos do litoral brasileiro. TENORIO, Maria Cristina (Org.) Pré-história da Terra Brasilis. Rio de Janeiro: UFRJ, 2000.
SCHMITZ, Pedro Ignácio. Pré-história do Rio Grande do Sul: arqueologia do Rio Grande do Sul, Brasil 2º Edição. São Leopoldo: Instituto Anchietano de Pesquisas, 2006.
WESOLOSKY, Verônica. Práticas funerárias Pré-históricas do litoral de São Paulo. TENÓRIO, Maria Cristina (Org.) Pré-história da Terra Brasilis, Rio de Janeiro: UFRJ, 2000.
Sambaqui Figueirinha I. Disponível em:
Sambaqui Figueirinha II. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Sambaqui#mediaviewer/File:Figueirinha_II_Areia.JPG> Acesso em 10 de nov. de 2014.
Modelo de estratificação das camadas de um sambaqui do litoral sul catarinense, no Brasil. Disponível em:
Sambaqui MAE-USP. Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo. Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sambaqui,_MAE-USP_(2).JPG> Acesso em 11 de nov. de 2014.
Zoólitos. Disponível em: <http://atmosferasapiente.blogspot.com.br/2013/08/sambaquis-arqueologia-no-litoral.html>. Acessada em 11 de nov. de 2014.
Rara escultura de pedra em forma humana: Disponível em:
Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville/MASJ. Disponível em:


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