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quinta-feira, 30 de julho de 2015

Os nativos brasileiros e os indígenas da América do Norte.



Os nativos do Brasil: No território do Brasil atual, os portugueses entraram em contato com povos diversos. Havia grande heterogeneidade étnica, linguística e cultural. A maioria dos grupos vivia da coleta, a da caça e da pesca, e alguns praticavam a agricultura. Não há um consenso entre os especialistas sobre a quantidade de nativos que vivia no território hoje pertencente ao Brasil quando ocorreu a invasão portuguesa. Os números oscilam entre 2,5e 5 milhões de pessoas pertencentes a centenas de povos. Cada povo tinha costumes e tradições próprios. De forma geral, pode-se dizer que os grupos se organizava em aldeias fixas ou itinerantes (no caso de grupos nômades), dependendo da etnia.

A visão religiosa era semelhante,  respeitando a diversidade de cada grupo. Cultuavam elementos e algumas forças da natureza como o Sol, a Lua, o trovão, as águas. Organizavam rituais, danças festas, criavam adornos e faziam pinturas corporais e com motivos religiosos. Não havia entre eles a noção de propriedade. A terra e o que nela fosse produzido ou coletado eram bens comuns a todos da mesma aldeia. A aldeias eram organizadas hierarquicamente e havia um chefe, responsável pela tomada de decisões e pela liderança do grupo em caso de guerras. As decisões eram tomadas de acordo com os costumes de cada grupo : alguns consultavam os membros masculinos do grupo ou os homens mais idosos, por exemplo. Alguns grupos relacionavam-se com outros, mantendo contatos pacíficos e por sua vez reunindo-se em festas e rituais. Outros eram considerados inimigos e era para caça, coleta,  agricultura e armazenamento.

As técnicas de produção, dependendo da cultura e do local onde habitam; alguns, por exemplo, usavam cerâmica queimada, outros não. Para os portugueses, o contato com os saberes indígenas foi muito importante. Eram os nativos que conheciam as matas e seus recursos, como as plantas comestíveis ou as que podiam ser usadas como remédios, bem como a localização de fontes de água. O contato inicial dos portugueses foi com os tupis, habitantes do litoral. Por isso, os missionários que fizeram parte da colonização do Brasil elegeram o tupi como língua geral, desconsiderando a imensa variedade linguística  entre os nativos. Muitas manifestações culturais e línguas indígenas, que existiam quando os portugueses fizeram contato com eles, permaneceram entre seu descendentes nos diversos grupos  indígenas atuais. Os tupis se referiram aos demais grupos indígenas como tapuia, que quer dizer “inimigo”. Por isso, os portugueses classificaram os indígenas brasileiros em dois grupos: tupis, os do litoral, e tapuia, os do interior do território. Pelo que se sabe por cronistas e viajantes que estiveram no Brasil nos primeiros séculos da colonização, os indígenas aceitaram melhor os portugueses do que o contrário.

Os indígenas da América do Norte: Centenas de grupos indígenas habitavam a região hoje chamada de América do Norte, antes da chegada dos europeus. E assim, como nos outros lugares do continente, os indígenas norte-americanos também apresentavam grande diversidade étnica e cultural. Estima-se que havia mais de 300 línguas diferentes na região. Havia tribos nômades e sedentários que ocupavam a extensão entre os oceanos Atlântico e Pacífico. Sioux (ou Dakotas), apaches, comanches iroqueses, cheroquis, algonguinos, cheyennes e crow são alguns dos grupos indígenas norte-americanos. Nas regiões do Ártico, viviam os inuits ou esquimós, com características bastantes distintas dos demais grupos em razão da adaptação a um ambiente extremamente hostil.

A economia desse grupo estava fundamentada na busca pelo que a natureza oferecia, como a caça da foca e de aves, a pesca da baleia e de outros animais de grande porte. Dos animais caçados, aproveitavam a pele para o vestuário, e o marfim e os ossos para a confecção de instrumentos de caça, como pontas de lanças e flechas, além da produção de esculturas. A domesticação do cachorro possibilitou aos esquimós o uso de trenós para locomoção e caça. Cada etnia indígena tinha seu idioma e, entre os grupos diferentes, a comunicação ocorria por meio de sinais. Entre as tribos nômades, uma das formas de obter alimentos era a caça de grandes animais, como antílopes, alces, búfalos e bisões. Dentre os grupos citados, destacavam-se os iroqueses, que ocupavam a área do Grandes Lagos e dos Apaches centrais. Sua organização social era matriarcal. Tinham uma forte estrutura guerreira, o que lhes possibilitou resistir por quase sois séculos à dominação inglesa, dificultando a expansão das colônias.


domingo, 26 de julho de 2015

A América antes dos europeus:



Estudar a história da América antes da invasão europeia é uma tarefa difícil, pois muitas sociedades ameríndias não deixaram textos escritos, e os documentos encontrados até hoje sofreram diversas interpretações, o que dificulta um percepção adequada de como os nativos americanos viviam. Devemos destacar ainda que inúmeros povos desapareceram sem deixar muitos vestígios, tornando o estudo complexo e sujeito a constantes revisões.

A procura e interpretação desses vestígios feitos pelos arqueólogos que buscam, em objetos, pinturas e outros registros, indícios de costumes, cultos religiosos, hierarquia social, alimentação, hábitos funerários, entre outras pistas possibilita-nos entender melhor as sociedades ameríndias anteriores à chegada dos europeus. Durante um longo período, o continente americano foi povoado por caçadores e coletores. Somente por volta de 5000 a.C. iniciou-se na região um processo que culminou na agricultura. Esse processo não abrangeu todas as sociedades, e aquelas que desenvolveram a agricultura não o fizeram da mesma forma.

Enquanto alguns grupos de nativos americanos mantiveram a caça e a coleta como atividades principais – como foi o caso dos esquimós, que habitavam as regiões geladas, outros incorporaram também a agricultura a suas atividades, por exemplo, algumas sociedades indígenas brasileiras. Outras sociedades, como a dos maias, astecas e incas, por sua vez, organizaram-se em torno de Estados, com uma hierarquia bem definida e construção de grandes centros habitacionais e áreas agrícolas capazes, inclusive, de produzir excedentes utilizados em relações de troca de produtos.

Quando os europeus chegaram à América no século XV, encontraram sociedades organizadas vivendo na região da América do Norte, da Mesoamérica (terras do atual México e parte da América Central) e na região andina (atuais territórios do Peru, Equador, norte do Chile e Bolívia). Algumas  dessas culturas apresentavam sistemas de escrita, desenvolvimento matemático e astronômico, calendários (muitos deles mais precisos que os dos europeus) e grandes centros habitacionais que chegaram a surpreender os recém chegados.

►Os maias: A civilização maia desenvolveu-se na Península de Yucatán, onde hoje é o sul do México, Guatemala, Belize e partes de El Salvador e Honduras. A data mais antiga de uma inscrição maia e de 292 a.C., e foi encontrada em Tikal, atual Guatemala. Contudo, sabe-se que essa civilização começou a se desenvolver muito antes e foi influenciada culturalmente por povos que os antecederam na região, destacando-se os olmecas, zapotecas e teotihuacanos. Sabe-se da existência de mais de 50 centros maias que se sucederam em importância durante vários períodos.

De 250 a 900, denominado pelos historiadores de Período Clássico: Tikal, Uaxactún e Piedras Negras, na Guatemala; Nakum, em Belize; Copán, em Honduras; Palenque, Bonampak e Yaxchilán, no estado mexicano de Chiapas.

De 900 a 1250,  (Período Pós-Clássico), destacaram-se, na Península de Yucatán, os centros de Chichén Itzá e Uxmal. A hegemonia de Chichén Itzá foi quebrada por volta de 1250 d.C. pela cidade de Mayapán.

A base da economia maia era a agricultura. As terras eram cultivadas coletivamente, porém os camponeses tinham de pagar tributos pelo seu uso, já que, em última instância, elas pertenciam ao Estado. Do ponto de vista político, os centros urbanos estavam ligados a vários tipos de ‘confederações’ ou ‘reinos’. Uma elite de sacerdotes e militares detinha o poder e executava as cerimônias religiosas. Á frente dos ‘reinos’, estava o halac uinic (o ‘homem verdadeiro’), uma espécie de rei-sacerdote. Corporações de artistas, artesãos, camponeses e escravos completavam o quadro social. Os maias eram politeístas, sua religião deificava a natureza e seus cultos eram singulares. Em falta de registros precisos, não podemos afirmar com segurança quais foram os motivos que levaram ao declínio da sociedade maia. Mas acreditasse que um processo de desestruturação social iniciado em 900 d.C, levou a população a abandonar os grandes centros urbanos e a dispersar-se. Somado isso a um período de seca que assolou a América Central nesse período a fragmentação gradativa da sociedade maia foi uma questão de tempo.

►Os astecas: ao chegar ao México, vindos da região de Aztlán, os astecas (ou mexicas), guerreiros conquistadores, foram paulatinamente influenciados pelas culturas toltecas e zapotecas, que já estavam em declínio. Por volta de 1325, os mexicas fundaram Tenochtitlán, que se tornou uma das mais importantes cidades astecas. Depois de violentas lutas durante o reinado de Itzcoatl (Serpente de Obsidiana), este, em aliança com o governador de Texcoco, formou a Tríplice Aliança (Tenochtitlán, Texcoco e Tlacopán). O fortalecimento militar, combinado com a confiança que tinham em seu próprio destino, possibilitou a contínua expansão política e econômica. Povos de línguas e costumes diferentes foram submetidos pelos mexicas (Astecas). Com relação a estrutura social sabe-se que a sociedade asteca era estratificada e diretamente relacionada com a hierarquia política e econômica. O grupo dominante, dividido em vários níveis hierárquicos, referencias e cargos e títulos diversos, controlava os altos cargos administrativos e não pagava tributos. Ciosos de seus privilégios, os nobres teriam forjado a imagem de que eles eram os responsáveis pela urbanização e embelezamento da cidade, pelo estabelecimento de rotas comerciais, por artes e ofício, pela propagação da língua náhuatl, pela boa administração e pela manutenção e renovação do Sol e da humanidade por intermédio das oferendas, cujo objetivo era a restauração da energia divina. O poder político era centralizado e o tlatoani (aquele que comanda) era eleito vitaliciamente pela elite mexica. Os mexicas estabeleceram uma intensa área de comércio. Os comerciantes chamados pochtecas, constituíam um grupo social a parte, que, além dos produtos trazidos pelos mercadores recebiam tributos pagos pelos povos dominados.

Os astecas adotavam um calendário solar com 18 meses de 20 dias, mais um décimo nono mês de cinco dias, perfazendo 365 dias.

Sua arquitetura era grandiosa sofisticada. A cidade de Tenochtitlán tinha pontes, canais, calçadas, praças e avenidas. Os manuscritos hieroglíficos e pictográficos (chamados códices) atestam a habilidade dos escribas-pintores.

Já a religião mexica caracterizou-se pela variedade de manifestações, pelo politeísmo, pela origem heterogênea e pelos sacrifícios aos deuses. Os astecas empreendiam as chamadas ‘guerras floridas’ para conseguir prisioneiros que, depois, seriam sacrificados.

►Os incas: Na região da Cordilheira dos Andes, na costa oeste da América, desenvolveu-se um grande império: ou Império de Tawantinsuyu – que significa ‘quatro caminhos’ -, também chamado de Império Inca. A origem dos incas é incerta, mas sabe-se que eles estabeleceram na região a partir do século XIV, tendo Cuzco como o centro de seu império. Ao longo do século XIV, uma série de monarcas guerreiros conquistou a hegemonia local e Cuzco passou a ser o centro do mundo incaico. A maioria da população inca vivia em uma multiplicidade de pequenas coletividades agropastoris. O chefe do ayllu era o kuraka, que, entre outras funções, distribuía terras, organizava os trabalhos coletivos e era responsável pela resolução dos conflitos. O território do ayllu chamava-se marca. Cada família tinha, para usufruto, lotes de terra. Extensas áreas de estepes eram utilizadas coletivamente para a atividade agropastoril, com a criação da alpaca e da lhama animais típicos da região. A terra, em última instância, pertencia ao Império Inca, que recebia parte da produção e tinha o direito de exigir a prestação de serviços dos súditos. Todos tinham de trabalhar, somente os inválidos e doentes estavam dispensados. Os instrumentos de trabalho eram simples, como a enxada de madeira chamada taclla. Cultivavam cerca de 300 variedades de batatas, plantavam milho nos vales mais quentes, produziam uma bebida chamada chicha. Nas áreas úmidas produziam a coca, a mastigação dessa planta reduzia a fome e o cansaço e possuía importância em seus rituais religiosos. Produziam a quinoa o arroz andino. As técnicas agrícolas eram avançadas, com a construção de terraços e canais. O guano (excremento de ave marinha) era utilizado como fertilizante.

A sociedade inca era hierarquizada e subdividia-se: No topo da pirâmide social estava o sapa inca ( o ‘único inca’), soberano absoluto e adorado como um deus. Os incas construíram estradas pavimentadas, criaram um sistema de correio. Os templos e palácios bem como as fortalezas, destacavam-se, ainda hoje, pelas técnicas de construção. Os incas integraram as construções às paisagens andinas, como podemos observar em Machu Picchu e Ollantaitambo. Produziam cerâmica e tecidos. Quanto a religião, os incas eram politeístas e idólatras. Cultuavam o deus Sol (Inti) que ocupava um lugar de destaque no panteão andino. Acreditavam em um deus criador Viracocha, cultuavam os mortos e realizavam sacrifícios principalmente de animais, mas também de humanos. Os soberanos eram mumificados e guardados no templo do Sol. Procissões, sacrifícios, danças, jejum e abstinência sexual caracterizavam o ritual dos diversos festivais religiosos.


quarta-feira, 22 de julho de 2015

A chegada dos europeus a América



O caso dos espanhóis: A serviço da Espanha, Cristóvão Colombo (1451-1506) chegou ao continente que mais tarde foi chamado de América no dia 12 de outubro de 1492, em uma ilha que os indígenas denominavam de Guaanani, pertencente ao atual arquipélago das Bahamas e a qual batizou de São Salvador. Acreditando ter chegado às ilhas do continente asiático, na região que era chamada genericamente de Índias, denominou os nativos de índios. Colombo realizou ainda mais três viagens à América (493-1494; 1498; 1502-1504), sempre acreditando tratar-se da Ásia Oriental. O nome América apareceu pela primeira vez em um mapa de Martin Waldseemüller (1507), como homenagem ao navegador florentino Américo Vespúcio, que, na obra Mundus Novus (Novo Mundo), relatara suas viagens ao novo continente. Em seus contatos com os povos originários da América, Colombo escreveu que nunca tinha encontrado pessoas de tão bom coração e tanta franqueza e descreve os indígenas como curiosos e amistosos com os desconhecidos. No entanto, desde o primeiro momento, Colombo deixou claro seus objetivos colonizadores construindo um forte e aprisionando alguns indígenas para enviá-los como curiosidade ao rei Fernando e à rainha Isabel , da Espanha. A partir do século XVI, os espanhóis instalaram-se nos territórios americanos, apropriaram-se deles e submeteu a população local pela força, assumindo desse modo o controle da região.

O caso dos portugueses: No decorrer do século XV, os portugueses enviaram diversas expedições em busca de caminhos alternativos para alcançar as Índias. Assim, encontraram diversas regiões habitadas e passaram a conquista-las. A primeira foi Ceuta, em 1415, seguindo a exploração das regiões costeiras do continente africano. Somente em 1498, numa expedição comandada por Vasco da Gama, os portugueses aportaram em Calicute, na Índia. Após o retorno de Vasco da Gama, o reino português enviou uma nova expedição para formalizar as relações comerciais com as Índias. Essa expedição, que partiu de Portugal em março de 1500, era comandada por Pedro Álvares Cabral, que, propositalmente ou não, desembarcou em terras ao sul do atual estado da Bahia em 22 de abril de 1500. Assim como as regiões a que os espanhóis chegaram, a porção sul da América era habitada por  povos étnica e culturalmente diferentes, espalhados por um imenso território. Os contatos iniciais foram pacíficos, conforme relata o escrivão Pero Vaz de Caminha na carta escrita ao rei de Portugal, Dom Manuel, descrevendo as terras e os povos que habitavam a ilha de Veraz Cruz, primeiro nome dado às terras que hoje formam o Brasil. Nas expedições dos anos seguintes, eles perceberam que não se tratava de uma ilha e alteraram o nome para Terra de Santa Cruz. A primeira riqueza encontrada nessas terras e enviada à Europa foi o pau-brasil, árvore abundante, cujo tronco se extraía um corante para tecidos de alto valor comercial. Nas primeiras décadas (1500-1530), os portugueses vieram ao Brasil basicamente para extrair pau-brasil. Essa árvore acabou inspirando um apelido para as novas terras portuguesas: Terra do Brasil. Inseridos no modo de pensar europeu, o portugueses não procuravam compreender o universo cultural do indígena. Sua concepção de mundo estava fundamentada na religião e  nas práticas mercantilistas, e era difícil entender as crenças e práticas dos nativos que cultuavam elementos da natureza e praticavam (alguns grupos) a antropofagia (canibalismo ritual). Os nativos também não entendiam o conceito europeu de propriedade da terra ou de exploração de seus recursos naturais para a obtenção de lucro. A relação dos indígenas com a terra era bem diferente da estabelecida pelos europeus. Além de usufruir coletivamente dela, os nativos identificavam nos elementos naturais suas representações religiosas. Dessa forma, os indígenas não tinham a intenção de explorar a terra com exclusividade, uma vez que eles se consideravam parte dos elementos presentes nela. Apesar da associação dos indígenas à imagem de passividade, a curiosidade e amorosidade iniciais, descritas nos relatos de colonizadores e visitantes do Novo Mundo, foram substituídas por reações contrárias à colonização a partir do momento em quem as intenções portuguesas de implantação de um sistema agrícola para exploração, escravização dos povos indígenas, catequização, entre outros objetivos religiosos e mercantilistas foram reveladas.

O caso dos britânicos: Os ingleses não foram pioneiros na chegada ao território que hoje conhecemos como América. Há, por exemplo, vestígios concretos da presença dos Vikings no atual Canadá, quase cinco séculos antes da chegada de Colombo ao continente. Franceses, espanhóis e muitos outros já haviam chegado aos atuais Estados Unidos e feito, inclusive, contato com as populações indígenas da região. Entretanto, a partir do século XV, os portugueses e espanhóis, que detinham o controle hegemônico da navegação no Oceano Atlântico, dividiram a nova porção de terras encontradas com o intuito de explorá-las com exclusividade. Contestado o controle do novo continente exercido por Portugal e Espanha, a Inglaterra passou a praticar pirataria realizando muitos saques às riquezas carregadas pelas embarcações das potências de então. A Inglaterra, todavia, não se concentrou apenas em roubar os navios ibéricos. No fim do século XV, a Coroa inglesa nomeou encarregados para explorar a América e, na década de 1580, a rainha Elizabeth I concedeu permissão para que a colonização na região fosse iniciada. O projeto inicial de colonização inglês era parecido com os projetos ibéricos, nos quais o soberano europeu concedia partes das novas terras a nobres, que passavam a ser responsáveis por seu povoamento e desenvolvimento econômico. Mesmo assim, os ingleses inicialmente tiveram muitas dificuldades para se instalar nas novas terras, pois sofreram com doenças e ataques indígenas. 

terça-feira, 14 de abril de 2015

Hy Brazil: a ilha fantasma e os “Antigos”.


Detalhe do mapa europeu de 1572 do cartógrafo Abraham Ortelius.

“On the ocean that hollows the rocks where ye dwell,
A shadowy land has appear’d, as they tell;
Men thought it a region of sunshine and rest,
And they call’d it ‘O Brazil – the Isle of the Blest’.
From year unto year, on the ocean’s blue rim,
The beautiful spectre show’d lovely and dlim;
The golden clouds curtain’d the deep where it lay,
And look’d like an Eden, away, far away.”

Trecho de um antigo poema irlandês sobre Hy Brazil.

“Hy Brazil” — “Ilha Afortunada”, no irlandês — aparece na mitologia gaélica irlandesa, cuja lenda está relacionada a diversos avistamentos por marinheiros de uma porção de terra encontrada no Atlântico Norte que desaparecia em meio à neblina. Ao longo dos séculos, a ilha foi deslocada por diversas vezes nos mapas, inclusive chegando onde seria a costa da América do Sul, em algumas ocasiões.

Considerada como existente na cartografia européia medieval, Hy Brazil, portanto, nunca teve uma localização específica.

Aparentemente os cartógrafos da época, baseados nas lendas e relatos de avistamentos, ficaram confiantes o suficiente de sua existência para incluírem o local mítico em mapas a partir do século XIV; como no mapa da Catalunha (1325-1330). A inclusão de Hy Brazil na cartografia marítima pode ter inspirado diversas viagens e aventuras malfadadas que ocorreram até o final do século XV.


Mapa mostrando a localização de Hy Brazil. Detalhe do mapa catalão de 1350 mostrando a localização de Hy-Brazil. (imagem de Donald Johnson, “Ilhas Fantasma do Atlântico” )

A ilha aparece na mitologia irlandesa muito antes da data oficial do descobrimento de Vera Cruz (Brasil). Assim, como é possível verificar nos trechos abaixo, algumas vertentes históricas atribuem que o nome “Brasil” tenha sido dado em decorrência da lendária ilha e não da árvore Pau Brasil, visto que durante os séculos seguintes, a fantasiosa porção de terra já era conhecida na Europa.

Para Roger Casement, não existe a menor dúvida que tanto os livros escolares, enciclopédias e dicionários como os brasileiros indagados individualmente estavam cometendo um engano. ‘Por mais estranho que possa parecer, o Brasil deve o seu nome não à abundância de um certo pau-de-tinta, mas à Irlanda. “A distinção em nomear o grande país da América do Sul, eu acredito, pertence seguramente à Irlanda e a uma antiga crença irlandesa tão remota como a própria mente celta'”. — Geraldo Cantarino.

“Assim, tal qual Duarte Pacheco que, com sua etimologia selvagem havia dado à madeira ibirapitanga dos indígenas o nome de brisilicum, frei Vicente também contribuía, à sua maneira, para obscurecer a origem mítica do nome Brasil. De erros em enganos foi-se sedimentando a assimilação do vocábulo brasa ao nome Brasil, perdendo seu significado primitivo como metonímia do Outro Mundo dos celtas atlânticos.” — Ana Donnard.


Hy Brazil em mapa de 1572
Mapa europeu de 1572 do cartógrafo Abraham Ortelius.

Histórias sobre o lugar vinham circulando por toda a Europa durante séculos, alegando que era a Terra Prometida dos Santos, um paraíso terrestre onde seres puros viviam. Mas supostamente Hy Brazil era cercada por uma névoa espessa, escondida dos olhos dos mortais. Na mitologia celta, ela aparecia a cada 7 anos, mas não era possível alcançá-la, pois a mesma desaparecia sempre que uma embarcação se aproximava. Entretanto, o monge irlandês São Brandão alegou descer na ilha, considerando-a o Éden.

As buscas pela Hy Brazil tiveram ápice entre os anos de 1300 e 1500, sendo patrocinadas por inúmeros monarcas. Ainda que outras ilhas míticas da época tenham sido descobertas, a ilha fantástica nunca foi encontrada.

Tradução do poema:

“No oceano que esculpe as rochas onde moras,
Uma terra enigmática apareceu, é o que contam;
Os homens a consideraram uma região de luz e descanso,
E a chamaram de O’Brazil, a ilha dos Bem-Aventurados.
Ano após ano, na margem azul do oceano,
A linda aparição se revelava encontadora e suave;
Nuvens douradas encortinavam o mar onde ela se encontrava,
Parecia um Éden, distante, muito distante.”

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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Ilha Mítica de Aztlan

Representação da partida de Aztlan no códice Boturini.
Aztlan é "altepetl" talvez mítica da qual futuro astecas teriam começado sua migração para a região central do México no ano 1 Flint, de acordo com os escritos astecas e testemunhos recolhidos pelos cronistas espanhóis no século XVI.
Aztlan era uma ilha no meio de um lago. Depois de deixar a ilha, os astecas teriam chegado em um lugar chamado Chicomoztoc, ou seja, "as sete cavernas"; ao contrário de Aztlan, que aparece apenas nas narrativas astecas Chicomoztoc é considerado por muitos grupos nahuas como seu lugar de origem lendária. Os astecas teriam encontrado uma imagem de seu deus Huitzilopochtli e juntou-se outras tribos. 
Análise 
Aztlan é considerado por muitos estudiosos contemporâneos como um lugar puramente simbólica, um reflexo de uma cidade de verdade, talvez México-Tenochtitlan. De fato, as histórias são cheias de simbolismo, como a data de partida, 1 Flint, representando o início.
Diego Durán refere uma das tradições mais curiosas sobre Aztlan, que o imperador Moctezuma I enviou emissários em busca do lugar de origem dos astecas. Liderados por magia Aztlan, eles vão ter encontrado Coatlicue, a mãe de Huitzilopochtli, que lhes perguntou notícias de seus parentes distantes em Tenochtitlan. As receitas de novo magicamente Aztlan, emissários foram, portanto, capaz de indicar a localização. Esta história mostra que os astecas em si não eram claros sobre a localização de Aztlan, exceto que ele estava em algum lugar ao norte. 
As sete cavernas de Chicomoztoc, na História Tolteca-Chichimeca
Pressupostos Localização 
Muitos especialistas, postulando que era um lugar histórico, tentou descobrir Aztlan em diferentes partes do norte ou da Mesoamérica, a partir do qual as tribos chichimecas, os astecas são um ramo. 
O cosmógrafo francês do século XVI, André Thevet o variou de sua parte na Flórida. 
Pesquisadores proponentes modernos dessa visão têm procurado encontrar um site norte em uma ilha em um lago. Entre os locais mais citados são a ilha de Janitzio no meio do lago Patzcuaro, no estado mexicano de Michoacán, ou Mexcaltitán ilha no estado de Nayarit.
Aztlan [em espanhol Aztlán (AFI: [asˈtlan]), do nauatle Aztlān, (AFI: [ˈastɬaːn])] é a lendária terra ancestral dos povos nauas, um dos principais grupos culturais da Mesoamérica. Asteca deriva do termo nauatle que significa "povo de Aztlan". 
As lendas nauatles relatam que sete tribos viviam em Chicomoztoc ("lugar das sete cavernas"). Cada caverna representava um diferente grupo naua: xochimilcas,tlahuicas, acolhuas, tlaxcaltecas, tepanecas, chalcas e mexicas. Devido à origem linguística comum, estes grupos são também chamados nahuatlaca (ou povos nauas). Estas tribos acabaram por abandonar as cavernas e estabeleceram-se "próximo" de Aztlan, ou Aztatlan.
As diferentes descrições de Aztlan são aparentemente contraditórias.Enquanto algumas lendas descrevem Aztlan como um paraíso, o códice Aubin diz que os astecas estavam sujeitados por uma elite tirânica (Asteca Chicomoztoca). Guiados pelo seu sacerdote, os astecas fugiram, e no caminho, o seu Deus Huitzilopochtli proibiu-os de se autodenominarem astecas, dizendo-lhes que deveriam ser conhecido como os mexicas. Ironicamente, os acadêmicos do século XIX - em particular, William H. Prescott - denominá-los-iam como astecas.
O papel de Aztlan nas histórias lendárias astecas é ligeiramente menos importante que a própria migração paraTenochtitlan. Segundo a lenda, a migração para sul teve início em 24 de Maio de 1064; 1064 é também o ano da explosão vulcânica de Sunset Crater no Arizona e o primeiro ano solar asteca, começando em 24 de Maio, após o evento da Supernova do Caranguejo de Maio a Julho de 1054, que deixou os céus à noite tão claros quanto de dia. Cada um dos sete grupos é creditado com a fundação de uma grande cidade-estado no México Central.
Segundo as lendas astecas, os mexicas foram a última tribo a partir. Quando chegaram ao actual vale do México, toda a terra havia sido ocupada, e foram forçados a ocupar uma área na margem do lago Texcoco.
Após a conquista do México, a história de Aztlan ganhou importância e foi relatado por Diego Durán em 1581 e por outros que tratar-se-ia de um paraíso tipo Jardim do Éden, livre de doenças e morte, que existia algures no norte longínquo. Tais histórias impulsionaram as expedições espanholas à actual Califórnia.
Locais postulados para Aztlan
Aztlan tem muitos dos traços próprios de um mito, como sucede comTamoanchan, Chicomoztoc, Tollan e Cibola, mas ainda assim os arqueólogos tentaram identificar o local geográfico original para os mexicas.
O nome de Aztalan, Wisconsin (um sítio da cultura mississippiana), foi proposto por N. F. Hyer em 1837, pois ele pensava que poderia ter sido Aztlan, seguindo uma sugestão etimológica de Aztatlan de Alexander von Humboldt. Esta informação é incompatível com a correlação feita pelos académicos modernos dos relatos recolhidos por cronistas em Tenochtitlan após a conquista espanhola.
Existe um lago em redor de Cerro Culiacan, o lago Yuriria, que faz com que a montanha se pareça bastante a uma ilha quando fotografada desde a água, e semelhante à ilustração à direita.
Em meados do século XIX, Ignatius Donnelly, no seu livro Atlantis: The Antediluvian World, procurou estabelecer a ligação entre Aztlan e o suposto "continente perdido" Atlântida da mitologia grega; contudo os pontos de vista de Donnelly nunca foram reconhecidos como credíveis pela maioria dos académicos.
Em 1887, o antropólogo mexicano Alfredo Chavero sugeriu que Aztlan estava situado na costa do Pacífico no estado de Nayarit. Apesar de tal sugestão ter sido refutada por académicos seus contemporâneos, recebeu ainda assim alguma aceitação popular. No início da década de 1980, o presidente mexicano José López Portillo sugeriu que Mexcalititán, também em Nayarit, era a verdadeira localização de Aztlan, mas tal foi denunciado por historiadores e políticos mexicanos como uma jogada política.1 Mesmo assim, o estado de Nayarit incorporou o símbolo de Aztlan no seu brasão de armas com a legenda "Nayarit, berço dos mexicanos". Vários estudos académicos demonstram que esta pretensão artificial foi um ardil político para aumentar o turismo nesta zona costeira.
Eduardo Matos Moctezuma presume que Aztlan se situa algures nos actuais estados de Guanajuato, Jalisco e Michoacán. De facto, os académicos são consistentes em chamar a atenção para a medida de "150 léguas" desde Tenochtitlan, documentada pelos escribas espanhóis que recolhiam relatos dos mexicas, como sendo a distância ao local de origem, coincidindo com Chicomoztoc, "Cerro del Culiacan", que é na realidade uma montanha com uma bossa quando vista da face sul.
Foi também proposto que o local original de Aztlan fosse a área em redor do actual lago Powell. Parte da lenda da migração descreve também uma paragem em Culhuacan ("monte inclinado"). Os proponentes da teoria do lago Powell equivalem Culhuacan com a antiga casa dos anasazi no Palácio dos Penhascos, no Parque Nacional de Mesa Verde.
As fontes primárias sobre Aztlan são os códices Boturini, Telleriano-Remensis e Aubin. Aztlan é também mencionado naHistória de Tlaxcala (de Diego Muñoz Camargo, um mestiço tlaxcalteca do século XVII) bem como na História Tolteca-Chichimeca.
O significado do nome Aztlan é incerto. Um significado sugerido é "lugar das garças" - a explicação dada na Crónica Mexicáyotl— mas tal não é possível segundo a morfologia nauatle: "local das garças" seria Aztatlan. Outras derivações avançadas incluem "lugar da alvura" e "no lugar na vizinhança de ferramentas", partilhando o elemento āz- de palavras como teponāztli, "tambor" (de tepontli, "toro de madeira").

domingo, 8 de fevereiro de 2015

A lenda da origem do povo Inca.



As origens do povo inca são particularmente obscuras e a lenda leva a melhor sobre a História. E a lenda tal como a consignou o cronista peruano Garcilaso Inca de la Veja, autor de Comentários reales, publicados em Lisboa em 1609, relata que aquele que será o primeiro soberano inca, Manco Capac, os seus irmãos e as suas irmãs brancos, saíram de Paracec-Tambo, (a caverna do futuro, no primeiro dia em que o sol tomou lugar no céu). Eis por que se chamavam Churi-Inti, os filhos do sol; adoravam e veneravam o Deus-Sol como seu pai. O primeiro inca teria, pois sido Manco Capac, esse semideus branco que tinha por esposa a sua própria irmã, Mama Ocllo Huaco. E a lenda apresenta:

Chegaram ao vale de Cuzco. Sobre a eminência que tem hoje o nome de Huanacauti, o Inca  plantou no solo o seu bastão de ouro; no mesmo instante, o bastão mergulhou na terra e desapareceu. O Inca disse: “Nosso pai, Inti (o Sol servo de Viracocha o grande deus branco criador do esplendor original), ordena-nos que fiquemos neste vale, que aqui nos estabeleçamos e reinemos...” Partindo de Huanacauti, desceram ao vale, o príncipe para norte, a princesa para sul. Assim que os homens viram os dois incas cobertos de magníficas vestes e que pelas suas palavras e pela sua pele clara os reconheceram neles. O inca ordenou aos homens que cultivassem o campo da comunidade, para evitar que a fome os expulsasse de novo para a floresta; a outros, ordenou que construíssem choupanas e casas, e foi assim que povoou a nossa cidade real. Pelo seu lado, a rainha ensinou as mulheres a fiar e a tecer.

O povo , esse é governado com mão de ferro. No reino, não há dinheiro nem comércio. O trabalho é distribuído e remunerado em gêneros, pelos governadores. As colheitas, as ceifas, tudo pertence ao Inca, que tudo divide em três partes: uma para ele, outra para o Deus-Sol, outra para os camponeses. Estes não podem possuir tecidos finos, nem a mínima parcela de ouro. Não há trégua nem repouso para o agricultor: mal termina o trabalho nos campos, tem de passar para a construção ou manutenção das estradas, ou ainda à das fortalezas.


Os etnólogos, esses, sustêm, na sua maioria, uma tese de que os Incas de pele clara, como se afirma na lenda não teriam sido os primeiros habitantes do Peru. Tanto mais que falam uma língua que os indígenas não compreendem. Talvez fossem sobreviventes do cataclismo que, quase no florescer da humanidade, aniquilou um continente inteiro. Em todo caso, uma coisa é certa: existem mais do que simples analogias entre certos vocábulos de raízes quichas, utilizados pelos incas e palavras de raízes indo-europeias.

domingo, 29 de junho de 2014

As Intervenções Militares brasileiras no Prata durante o II Império.


Imagem: Manuel Ceferino Oribe y Viana.

A Guerra contra Oribe (Uruguai) e Rosas (Argentina) em 1851-1852.

            O governador de Montevidéu, o blanco Manuel Oribe, alia-se a Juan Manuel de Rosas, governador de Buenos Aires e cria entraves para os negócios brasileiros em Montevidéu e impedimentos para os estancieiros brasileiros que tinham propriedades no Uruguai, para passagem de seu gado pela fronteira rumo às suas estâncias no Rio Grande do Sul.

            Decidido a derrubar os dois caudilhos, do Uruguai e da Argentina, o Brasil firmou alianças com o Paraguai presidido por Carlos López e com os inimigos políticos do blanco Oribe (frutuoso Rivera -Colorado) e de Rosas (Justo Urquiza –governador da província de Entre-Rios e da província de Corrientes).

            Irineu Evangelista de Sousa financiou a resistência à Oribe em Montevidéo. Caxias (comandou o Exército) e Grenfell (comandou a Marinha) que derrotam Oribe em 1851. Rosas é derrotada na batalha de Montecaseros em 1852. O império estabelece um domínio ostensivo no Prata.  

            Os brasileiros em número de mais de vinte mil, constituíam mais de 10% da população uruguaia possuindo cerca de 30% de terras do país.

            O blanco Berro procurou limitar o assentamento de brasileiros no Uruguai, assim como o direito de possuírem escravos e, além disso, se recusou a renovar os Tratados de Comércio e Navegação com o Brasil que expiraram em 1861 e tentava controlar e taxar o comércio bovino através da fronteira com o RS.

A Guerra contra Aguirre no Uruguai (1864-65).


Foto: Atanásio da Cruz Aguirre.

            No Uruguai, em abril de 1863, iniciou-se uma guerra Civil do general colorado Venâncio Flores contra os Blancos de Berro. O Brasil e a Argentina (unificada com Bartolomeu Mitre) apoiaram Venâncio Flores. Em 1864, o Brasil enviou uma missão diplomática chefiada por José Antônio Saraiva, já sob a presidência do sucessor de Berro, o também blanco Atanásio Aguirre e a pretexto de proteger os direitos adquiridos pelos brasileiros no Uruguai buscava de fato criar condições para justificar uma intervenção militar no Uruguai. Acompanhado por uma esquadra comandada pelo então vice-almirante Tamandaré. Saraiva tentou impor uma substituição dos blancos por colorados. Aguirre, que já entrara em entendimentos com o Paraguai, esperando o apoio do presidente Solano López, recusa-se ceder às pressões brasileiras o que motivou o ultimato imperial ameaçando invadir o país, caso as exigências brasileiras não fossem atendidas em um prazo de seis dias. Como Aguirre manteve sua posição, em 12 de setembro tropas brasileiras invadiram o Uruguai.
           
    

quinta-feira, 12 de junho de 2014

A Questão do Paleoíndio e as tradições culturais



A Questão do Paleoíndio
Pedro Ignácio Schmitz

As periodizações locais e regionais no Brasil apresentam algumas controvérsias por se basearem em diferentes pressupostos, métodos ou dados.

Para que possamos nos localizar no tempo e no espaço faremos abaixo uma tabela de comparação entre os nomes das periodizações usadas de uma forma geral e os nomes americanos aproximadamente correspondentes:

Periodização Geral

Periodização Americana

Paleolítico
(Inferior, Médio e Superior)
Período Lítico
(Pré-Pontas e Paleolíndio)
Mesolítico
Período Arcaico
Neolítico
Período Formativo

Conceitua-se Paleoíndio a cultura que possui os seguintes elementos: populações que teriam vivido predominantemente da caça de megafauna, sítios principalmente de matança, artefatos identificadores usados como facas, raspadores e raspadeiras, ambiente frio e seco, populações  pouco numerosas, dispersa e nômade. O Período Arcaico por sua vez caracteriza-se por uma cultura de adaptação ao clima pós-glacial e que buscava novos recursos alimentares de forma geral e diversificada.

O nome Tradição Itapirica criado pelo PRONAPA, a partir de material da Bahia, designa um complexo tecnológico que data cerca de 9.000 à 6.500 anos a.C, sendo que em alguns lugares teria alcançado datas mais recentes, predominantemente dentro do Holoceno mas com elementos paleoíticos que ultrapassavam o período e talvez o ambiente característico do Pleistoceno, daí a ideia de chama-lo de Paleoíndio Defasado.

Nesses sítios a alimentação era baseada na caça generalizada e no consumo de produtos vegetais, sua localização se dava  em abrigos rochosos, grutas e cavernas. Esta cultura arqueológica também se estende em Goiás de 9.000 a 6.000 a.C.

A fase Paranaíba, de Goiás caracteriza-se por uma cultura arqueológica em que as pontas de projétil estão ausentes, não podendo assim ser chamadas de Pré-pontas. Atualmente pesquisas  ainda nos revelam que as culturas arqueológicas dos caçadores das savanas tropicais têm como identidade a unifacialidade de seus artefatos.

A dúvida que resta é que esses materiais não contêm elementos paleolíticos suficientes para adequar- se ao conceito de Paleoíndio no Brasil Central.

Pré-história da Região do Parque Nacional Serra da Capivara
Anne-Marie Pessis

O Parque Nacional Serra da Capivara localiza-se no sudeste do Estado do Piauí. O clima da região hoje é semi-árido mas em épocas pré-históricas predominava um clima tropical úmido que se estendeu até cerca de 12.000 anos atrás, permitindo o desenvolvimento de uma grande vegetação.

Existem evidências de que a presença humana nesta região  remota 50.000 anos dado que autora nos mostra seguir a mesma linha de raciocínio da arqueóloga Niède Guidon. Por outro lado há também evidências da presença humana no sítio arqueológico Monte Verde que datam 33 mil anos. Ainda não é possível precisar as vias de penetração do continente nesse período, nem construir teorias que expliquem o processo do povoamento americano.

Comprova-se através de vestígios que durante milênios essa região teria uma única cultura material . Possuíam como habitação lugares abertos próximos a fontes de água independentemente do grau de nomadismo ou sedentarismo. Foram encontradas nas paredes do Parque Nacional uma grande quantidade de pinturas rupestres com representações de animais muito diversificadas.

A partir de 10.000 anos as transformações climáticas afetaram a sobrevivência dos grupos humanos, as populações ali instaladas desde o Pleistoceno iniciaram um novo período cultural que perdurou de 12 mil á 3.500 anos AP ( Tradição Nordeste e Agreste).

A Tradição Nordeste (12 mil a 6 mil anos AP) desenvolveu uma cultura material mais aperfeiçoada se comparada com seus antecessores. Aparece o uso de instrumentos feitos de sílex que eram mais duráveis, surge  o polimento do material lítico, introduzindo o uso da queima da argila para fabricação de cerâmica. Sua característica mais importante é a arte rupestre marcada por três estilos baseados na organização social dos grupos da Tradição Nordeste:

1 Estilo Serra Capivara: pinturas homogenias relacionadas com a vida, caça e mitos.
2 Estilo De Transição Serra Talhada: o aumento da população gerou variedades de grupos e rivalidade entre eles fato testemunhado pelos temas violentos nas pinturas.
3 Estilo Serra Branca: os grupos da Tradição Nordeste já tinham suas características étnicas bem diferenciadas e procuravam expressar essa diferença pintando ornamentos próprios de sua etnia.

A Tradição Agreste (10.500 a  3.500 anos AP) esse povo surge na região do Parque Nacional com uma cultura diferente, sua técnica de arte rupestre era grosseiramente pintada.
Em 3.500 anos aparecem os primeiros agricultores ceramistas na região.

Os mais Antigos Caçadores-Coletores do Sul Do Brasil
Pedro Augusto Mentz Ribeiro

Os mais antigos caçadores-coletores da região sul do Brasil, seriam os componentes da Tradição Umbu e Humaitá. Devido as paisagens abertas e fechadas encontradas no sul brasileiro, afirma-se que a Tradição Umbu e Tradição Humaitá apresentam traços característicos peculiares a cada uma delas, o que lhes diferencia.

Permanecem discussões sobre qual das duas tradições teria sido a primeira a penetrar na América e no sul do Brasil. Mas através das datações obtidas, acredita-se que a primeira teria sido a Tradição Umbu na qual encontrava-se nesta área em torno de 12.000 a 7.000 anos AP, sendo que a Tradição Humaitá só chegaria ao sudeste do Paraná e ao nordeste do Rio Grande do Sul a partir de 7.000 anos AP. Entretanto, não dispõem-se de dados, que poderiam referir-se aos caminhos percorridos por ambas tradições antes de chegar ao sul do Brasil.

Tradição Umbu

Os habitantes que formaram essa tradição conviveram com uma fauna extinta composta por tatu- gigante, tigre-dentes-de-sabre, mastodontes e etc.

A cultura material desta tradição, está dividida em :

I Período – O mais antigo, que vai de 6.000 à 11.500 anos AP, ocorreu no sudoeste e na encosta do planalto sul do Rio Grande do Sul.

II Período – Datado de 6.000 AP, a cultura material irá surgir na encosta do planalto, centro e leste do Rio Grade do Sul.

III Período – Datado de 6.000 AP até mais ou menos a época da conquista, 575, já será possível encontrar em toda a região a indústria pré-cerâmica Umbu.

O que vai indicar um aumento populacional e uma melhor adaptação ao meio ambiente, será a sofisticação na tipologia de pontas, os aterros nas áreas alagadiças, a adoção de cerâmica e o aumento de sítios arqueológicos com grande quantidade de material.

Foram os únicos a ocuparem áreas alagadiças, que no verão propiciaram melhor coleta de moluscos e caça de rãs, cuícas e etc.

Utilizavam a técnica de lascamento e polimento para obter seus instrumentos líticos, dominavam o lascamento por percussão direta  e indireta (bipolar) e pressão.

A Tradição Umbu possui como material característico a pedra lascada (furadores, raspadores, pré-formas bifaciais, facas bifaces), pedra utilizada (bigorna, polidores), pedra matéria corante (fragmentação de laterita com e sem sinais de utilização), ossos (furadores, agulhas, anzóis), dente (canídeo, tubarão) e as conchas que eram utilizadas na fabricação de discos de colar.

A arte rupestre encontrada no sul do Brasil, são atribuídas aos portadores desta tradição, quase todas estas manifestações são encontradas na encosta dos planaltos, foram produzidas utilizando a técnica de alisamento e picoteamento. Usam motivos geométricos, bimorfos (pegadas) e puntiformes.