quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Espiões cubanos deram assessoria a Chávez, mostra WikiLeaks.

Presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

CARACAS (Reuters) - Os serviços de inteligência cubanos prestaram assessoria direta ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, como parte daquilo que um diplomata norte-americano chamou de "Eixo da Travessura", segundo uma comunicação sigilosa divulgada pelo site WikiLeaks.

A comunicação diplomática dos EUA, datada de 2006 e divulgada na quarta-feira, releva a preocupação de Washington com a influência cubana na Venezuela, um dos principais fornecedores de petróleo para o mercado norte-americano.

"Embora o impacto econômico dos cubanos trabalhando na Venezuela possa ser limitado, a inteligência cubana tem muito a oferecer para os serviços de inteligência antiamericanos da Venezuela", diz a comunicação postada no site do WikiLeaks.

Em seus 12 anos como presidente da Venezuela, Chávez estabeleceu uma forte aliança com o regime comunista cubano, subsidiando a venda de petróleo ao país, em troca do envio de milhares de médicos e consultores cubanos para a Venezuela.

Ele criou milícias semelhantes às existentes em Cuba para defender seu governo, e especialistas há muito tempo dizem que os serviços cubanos de inteligência treinam seguranças de Chávez.

O novo documento sugere que Chávez confia nas informações cubanas quase mais do que nos seus próprios serviços de inteligência.

"Os agentes cubanos de inteligência têm acesso direto a Chávez e frequentemente lhe fornecem informações que não são verificadas por agentes venezuelanos", diz o documento.

"Relatos estratégicos indicam que os laços de inteligência entre cubanos e venezuelanos são tão avançados que as agências dos dois países parecem estar competindo entre si pela atenção da RBV (República Bolivariana da Venezuela)."

A comunicação é parte dos mais de 250 mil documentos do Departamento de Estado que o WikiLeaks vem divulgando nesta semana em seu site ou por meio da imprensa. O site não revela como obteve os documentos.

Essa comunicação havia sido considerada sigilosa pelo seu autor, o então conselheiro político da embaixada dos EUA em Caracas, Robert Downes.

O título do relatório era "O Eixo da Travessura Cuba/Venezuela: a Visão de Caracas", numa aparente referência ao "Eixo do Mal", expressão criada pelo ex-presidente George W. Bush para se referir a três inimigos dos EUA - Coreia do Norte, Irã e o Iraque do ditador Saddam Hussein.

(Reportagem de Frank Jack Daniel)

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http://br.reuters.com/

Falar a Verdade ou Mentir? Eis a Questão!

Por que as pessoas mentem?

Em uma sociedade onde a mentira é louvada e a verdade é ridicularizada, vemos um aumento vertiginoso de grandes mentirosos que trabalham a tal ponto de tornar a mentira uma epidemia, tornando a verdade latrina de mentirosos.

Há uma área de pesquisa em psicologia que se chama “correspondência entre o fazer e o dizer”, que investiga as variáveis relacionadas ao que se pode chamar de “dizer a verdade” ou “contar mentira”. Estudos (Paniagua, 1989; Lima, 2004) têm investigado situações geradoras da apresentação de relato coerente (verdade) ou relato incoerente (mentira). Os parágrafos a seguir estão baseados numa interpretação dos achados desses autores.

Pode-se dizer que há uma dicotomia, que seria falar a verdade, ou seja, descrever de forma coerente fatos acontecimentos comportamentos ou contar mentira, que seria apresentar uma afirmação pouco adequada ou incompatível com o que, de fato, ocorreu. Tanto falar a verdade quanto contar uma mentira, são comportamentos verbais aprendidos e mantidos pelas conseqüências que produzem, em primeiro lugar, para aquele que fala. Assim, se alguém é beneficiado por contar uma mentira, tal comportamento pode ser aprendido. Se mentir mais vezes trouxer “vantagens”, ele será mantido em alta freqüência. É importante, ainda, considerar que o comportamento de mentir pode afastar ou adiar conseqüências desagradáveis, como no exemplo do marido infiel que insiste em dizer à sua mulher que não cometeu traição. Assim sendo, mentir também seria aprendido e mantido.

As crianças mentem com freqüência para seus pais quando estes costumam repreendê-las pelo que fazem, quando punem deliberadamente seus relatos sobre o que consideram ser errado ou quando limitam muito as possibilidades sobre o que as crianças podem fazer. Então, elas mentiriam para ter a oportunidade de brincar com um coleguinha que não é benquisto pela sua família, mentiriam sobre ter realizado a tarefa de casa para assistir ao seu desenho favorito.

É necessário diferenciar o comportamento de mentir enquanto relato em desacordo com acontecimentos/ fatos do relato impreciso sobre algo pela falta de habilidade em descrever. Na mentira, uma pessoa tem consciência de que (sabe que) sua descrição não é coerente com o que fez. Por outro lado, uma secretária pode relatar (incoerentemente) ao chefe que entrou na primeira sala à direita do corredor da empresa e não atendeu à solicitação dele porque a sala estava fechada. Ela apresenta este relato (que não é verdadeiro) por não ter aprendido a diferença entre esquerda e direita.

Você quer que as pessoas digam a verdade?

Os psicoterapeutas procuram ter, na relação com seus clientes, uma audiência não-punitiva. Isso significa ouvir e não julgar, ouvir e não criticar, ouvir e não punir. Tal contexto é que torna possível o relato do cliente sobre coisas que não seriam ditas nem para os bons amigos.

Como foi afirmado anteriormente, pode-se mentir para ter acesso a alguma vantagem ou evitar “mal maior”. Assim sendo, as pessoas têm maior probabilidade de dizer a verdade diante de contextos em que o que elas dizem não é julgado, não é criticado, nem punido. Se um pai pune o filho quando ele relata que assistiu TV quando deveria estudar, é importante observar que ele puniu o comportamento do filho ter feito o que não devia, mas, puniu principalmente o comportamento de dizer a verdade. Pense, após ter sido punido por dizer a verdade, você a diria novamente?

É claro que nem sempre se pode aceitar a verdade sem que algum tipo de sanção seja administrada. Mas, se todo relato de alguém sobre o que fez ou como agiu diante de uma situação passa a ser criticado, julgado ou o relato passa a ser motivo para uma discussão, é provável que esse relato não ocorra mais ou que passe a ser um relato que apresente algo diferente do que ocorreu. Isso vale para qualquer relação interpessoal. Um amigo continuará dizendo a verdade sobre o que pensa sobre você se ele sentir-se ouvido. Por isso, dar espaço para as pessoas dizerem o que pensam, relatarem o que fizeram é um bom caminho seja para um pai ou uma esposa continuar ouvindo a verdade.

Outra forma de aumentar a probabilidade do dizer a verdade em crianças ou adultos é valorizar, enaltecer e gratificar os momentos em que a verdade é dita. No caso das crianças, pode-se ensiná-las a dizer a verdade, expondo-as a algumas situações em que sejam acompanhadas e solicitando que elas relatem o que experienciaram. Elogiar, enaltecer e gratificar relatos mais próximos da experiência estabelece condição para a aprendizagem do “dizer a verdade”.

Você quer saber mais?

Beckert, M. E. (2004). Correspondência verbal/não-verbal: Pesquisa básica e aplicações na clínica. Em J. Abreu-Rodrigues e M. R. Ribeiro (Orgs.), Análise do comportamento: pesquisa, teoria e aplicação (pp.229-244). Porto Alegre: Artmed.

Lima, E. L. T. A. (2004). Efeitos da história de reforçamento e do tipo de verbalização sobre a aquisição e generalização da correspondência dizer-fazer. Dissertação de Mestrado não publicada, Universidade de Brasília, Brasília, DF.

Paniagua (1989). Lying by children: Why one children say one thing, do another? Psychological Reports, 64, 971-984.

InPA - Instituto de Psicologia Aplicada
E.mail para contato: clinica@inpaonline.com.br

Quem tem medo de Plínio Salgado?

Plínio Salgado, Jornal Offensiva

GERARDO MELLO MOURÃO (1917-2007) foi poeta, escritor, presidente da Academia Brasileira de Filosofia e membro do Conselho Nacional de Política Cultural do Ministério da Cultura. Foi também professor de história e cultura da América na Universidade Católica do Chile (1964-67) e correspondente da Folha em Pequim (China) de 1980 a 82”.

Hélio Jaguaribe, que teve sempre a coragem e a lucidez de tocar a pele viva de todas as zonas da realidade brasileira, dizia, em seu trabalho “Idéias para a Filosofia no Brasil”, que “depois do integralismo seguiu-se o silêncio dos que são incapazes de emprestar um sentido geral e historicamente atualizado a suas aspirações de poder”.

Esse silêncio tenta estender sua cortina de chumbo e de cultivada estupidez não só sobre a obra política, mas também sobre a obra literária de Plínio Salgado. A tal ponto que neste ano em que se comemora o centenário de seu nascimento apenas algumas homenagens esparsas cuidaram de evocar seu nome e sua presença na história deste país.

Que se saiba, até aqui, o centenário de um homem que assinalou como um marco de pedra e como um signo de contradição a aventura do pensamento brasileiro foi celebrado apenas _o que não é pouco_ por um artigo de Miguel Reale, uma sessão na Academia Paulista de Letras e um comovido festival de encontros culturais em sua doce cidade natal de São Bento do Sapucaí (SP), que, parece, vai durar o ano inteiro.

Afinal, quem tem medo de Plínio Salgado? Jornalista militante era redator do “Correio Paulistano", de onde partiu para a literatura e para a política. Os desmemoriados se esquecem de que Plínio foi um dos protagonistas da Semana de Arte Moderna, cujos participantes, segundo lembra, “apontaram novos caminhos, libertações integrais, nacionalismo espontâneo”.

Ocupado com a política e as letras, era secretário da Coligação Paulista, presidida por Altino Arantes e, ao mesmo tempo, devorava a literatura mais avançada da Europa, lendo Marinetti e Soffici, Govoni, Apollinaire, Cocteau, Max Jacob e Cendrars, que alternava com a literatura revolucionária de Marx e Trotski, de Lênin e Sorel, de Plekhanov e Feuerbach. Foi deputado estadual, com estrondosa votação, acompanhando Júlio Prestes. Em 1926, publica o primeiro romance, “O Estrangeiro".

O romance trouxe um “frisson nouveau” às letras do país. Mário de Andrade o saudou como a obra mais importante de sua geração. Cassiano Ricardo disse do autor: “É um Alencar corrigido por um Machado”. Para Tristão de Athayde, era “o romance mais dramático de nosso tempo”.

Foi o primeiro livro de uma tetralogia, em que a genealogia das inquietações de São Paulo e do Brasil passou, com "O Esperado", "O Cavaleiro de Itararé" e "A Voz do Oeste", pelo proletariado do Brás, pelos últimos barões do café, pelo contraponto dos imigrantes italianos, pelos anarquistas românticos e os marxistas geométricos, como lembrou seu sucessor na Academia Paulista. Os heróis de Plínio, um apaixonado pela poesia de Eliot e de Auden, transitam do tempo dos bandeirantes ao dos bacharéis do antigo PRP e ao tempo futuro que fermentava nas esperanças de uma geração de fronteiras.

Plínio Salgado foi o profeta da geração de fronteiras a que pertencemos todos os que vieram do mundo criado entre a Primeira Guerra Mundial, entre o fascismo e o comunismo, até o crepúsculo wagneriano da Segunda Guerra. Neste país de "Phds de cacaracá"", ensurdecido pela "merdopéia" das ideologias e das covardias políticas, ainda não se fez o estudo que algumas universidades da Europa e dos EUA estão empreendendo sobre a obra de Salgado.

Como no refrão da elegia de Lorca, as pessoas, acuadas pelo patrulhamento stalinista, não querem ver a verdadeira face do velho que está fazendo cem anos. Foram buscar suas vertentes no fascismo ou no nazismo. Num samba do crioulo doido, confundem seu pensamento político com o anti-semitismo.

Vale a pena lembrar que a primeira denúncia brasileira contra o anti-semitismo e a perseguição aos judeus pelo menos a primeira denúncia de peso foi clamada por Plínio Salgado, quando advertiu que no movimento por ele fundado em 1932, o integralismo, ninguém ousaria uma palavra contra a raça a que pertencia a mãe de Jesus Cristo.

De resto, havia um grande número de judeus nas fileiras do integralismo, e eu mesmo me lembro com emoção e com saudade de um querido companheiro daqueles tempos, o brilhante e bravo judeu Aben-Atar Neto. E tantos outros. Mas isso é outra história.

É e não é. Porque no mesmo berimbau se tocou a cavatina das inspirações fascistas do Sr. Plínio Salgado. Na verdade, desde 1935, em pleno esplendor do fascismo e do nazismo, ele repeliu um sistema político em que a massa engendra um "führer", ou um "führer" engendra a massa, porque no primeiro caso, o que se engendra é um sapo, e no segundo, um monstro (sic).

Além de seus romances, deixou obras fundamentais, como "A Quarta Humanidade", "Psicologia da Revolução" e a monumental "Vida de Jesus". Em toda a sua obra, o que ele tenta pronunciar é a palavra brasileira. Não há como não lembrar aquele episódio patético de seu romance, em que Juvêncio, personagem que se confunde com o autor, estrangula e joga numa cachoeira um papagaio que só cantava a "Giovinezza" e não falava nossa língua.

Nem no nazismo nem no fascismo. O entendimento do Brasil, da reengenharia do país e de sua sociedade, ele o fundava em Euclides da Cunha, a quem Cassiano e Menotti del Picchia o comparavam, em Oliveira Viana, em Pandiá Calógeras, em Alberto Torres. Buscava na doutrina social da Igreja e na obra de Farias Brito a inspiração social e espiritual de seu pensamento.

Seria curioso fazer um inventário dos líderes políticos e dos intelectuais brasileiros que acompanharam Salgado. Dei-me um dia ao trabalho, junto com o mestre Luís da Câmara Cascudo e com o então senador José Guiomard: contamos três presidentes da República (pós-64) e 123 deputados e senadores. Escritores, professores, diplomatas, empresários e oficiais das Forças Armadas não dá para contar.

O presidente FHC e o ministro da Educação deviam instituir 1995 como o "ano Plínio Salgado". Ou será que também eles e o ministro da Cultura nunca terão lido o velho de São Bento de Sapucaí e os autores que ele ensinava Euclides, Oliveira Viana, Torres, Manuel Bonfim? Só quem não os leu é que pode ter medo de Plínio Salgado.

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http://pliniosalgado.blogspot.com/

JOÃO CARLOS D'ÁVILA PAIXÃO CÔRTES.

JOÃO CARLOS D'ÁVILA PAIXÃO CÔRTES


O renascimento do tradicionalismo gaúcho confunde-se com a figura de João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes. Em uma época em que as tradições rio-grandenses eram ignoradas, ele foi atrás das raízes de seu povo e, junto com Barbosa Lessa, cruzou a Argentina, o Uruguai, Paraguai e Peru. Como pesquisador, sua preocupação centrou-se em promover e desenvolver a cultura popular dentro da história do Rio Grande do Sul.


Nascido em 12 de julho de 1927, na cidade de Santana do Livramento, fronteira do Brasil com o Uruguai, Paixão Côrtes tem suas heranças ligadas à agricultura e pecuária. De sua infância nas estâncias familiares veio o interesse pelo campo, o qual o levou a formar-se em Agronomia, com especialização em Ovinotecnia.
O distanciamento da vida do campo, fez Paixão notar a necessidade de fixar certos valores que havia aprendido de ancestralidade. Em 1947, com Glauco Saraiva, Barbosa Lessa, e Orlando Degrazia, grupo de estudantes secundaristas do Colégio Júlio de Castilhos, em Porto Alegre, deu origem ao Movimento Tradicionalista Gaúcho, que hoje congrega mais de 1.500 entidades. Na época, como relata , só se ouvia, nos galpões, a gaita, os versos de improviso e especialmente o Boi Barroso. Já Prenda Minha, era ouvida em um ambiente mais urbano. Neste mesmo ano, os rapazes saíram às ruas pilchados para escoltar os restos mortais do herói Farroupilha David Canabarro. Assim, surgiram as Rondas Crioulas, que mais tarde, originaram a Semana Farroupilha, em 11 de dezembro de 1964. Paixão também fundou o primeiro Centro de tradições Gaúchas, chamado de 35, em 24 de abril de 1948.
O primeiro contato de Paixão Cortes com o rádio foi em 1953, na rádio Farroupilha. Ele levou um grupo do Centro de Tradições Gaúchas 35 para uma apresentação ao vivo no programa de J. Antônio D’Ávila . Acabou sendo convidado pelo comunicador para apresentar, em estúdio, Festa no Galpão, programa que ficou no ar até 1957. Em primeiro de maio de 1955, ainda na rádio Farroupilha, Augusto Vampré diretor da emissora, convidou-o a apresentar um programa de auditório de caráter puramente regional. Paixão chamou o amigo Darci Fagundes, com quem formou uma dupla. Juntos lançaram o programa Grande Rodeio Coringa, que foi ao ar até 1957 e reformulou toda a história da fonografia riograndense, na comunicação dos temas regionais, abrindo caminho para músicos, cantores e compositores populares.
Em 1958, Paixão Côrtes foi convidado por Maurício Sirotsky e Frederico Arnaldo Balvé para apresentar "Festança na Querência", na rádio Gaúcha, programa de auditório, com uma hora de duração. Paixão dividia com Dimas Costa a animação do programa que era veiculado aos domingos. Festança na Querência foi ao ar de 1958 a 1967.
No ano de 1968, Paixão estava na Europa, levando o folclore do Rio Grande do Sul. Na ocasião encontrou Flávio Alcaraz Gomes, então diretor da rádio Guaíba. Ele convidou o tradicionalista para apresentar um programa de na emissora. Paixão passou, então, a apresentar dois programas na Guaíba; Querência, programa diário de lançamentos musicais, com dez minutos de duração e, Domingo com Paixão Côrtes, programa temático, com meia hora de duração.
De acordo com Paixão, a rádio Guaíba, com seu perfil de programação e audiência qualificados, foi importantíssima para a transformação de "grossura em cultura". Nesta época, a indústria fonográfica, já desenvolvida pela repercussão dos programas regionais no rádio, apresentava uma grande diversidade de artistas ligados à cultura do Rio Grande, o que facilitava a seleção musical dos programas de Paixão, que veio, também, a gravar, como intérprete, oito LPs (Long Plays ). Paixão Côrtes recebeu dois importantes prêmios fonográficos: Melhor Realização Folclórica Nacional (1962) e Melhor Cantor Masculino (1964).


Há 40 anos, meados da década de 50, existiam apenas cinco músicas gauchescas catalogadas. Essa pobreza de sons moveu Paixão Côrtes a promover novos grupos musicais. Em seus programas foram lançados Os Gaudérios, o conjunto vocal Farroupilha e outros. O comunicador viajava com freqüência para pesquisar e identificar novos valores, liderando um processo de desenvolvimento da cultura regional. Isto foi essencial para a ampliação da cobertura e expansão dos centros de tradições. No final de 1999 contava-se, aproximadamente,4200 Centros de Tradições Gaúchas espalhados pelo mundo.
Paixão Côrtes permaneceu na Rádio Guaíba até 1995. É convidado com reqüência para falar sobre assuntos ligados à cultura regional. O pesquisador possui um acervo de milhares de slides, centenas de fitas gravadas, filmes super 8 e vídeos sobre os costumes rio-grandenses. Todo esse material foi reconhecido e aprovado em vários Congressos Tradicionalistas. Suas investigações estenderam-se, também, a documentos e peças originais nos Museus do Louvre e Les Invalides, em Paris, no Museu do Trajo Português, em Lisboa, nos Museus Militar e do Padro, em Madrid, no Victória e Albert, em Londres e no Museu Militar da Escócia.
Por sua importância dentro da história gaúcha, a figura de Paixão Côrtes ficou eternizada em bronze na estátua do Laçador, reproduzida pelo escultor pelotense Antônio Caringi, instalada, em 1954, na rótula de entrada de Porto Alegre ( confluências das avenidas Farrapos, Ceará e dos Estados), frente ao Aeroporto Salgado Filho. Pelos seus mais de 50 anos de dedicação aos estudos sobre a cultura rio-grandense-do-sul, que lhe renderam mais de 30 obras sobre ovinocultura e folclore, recebeu a Ordem de Mérito Cultural.

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http://www.pucrs.br/famecos/vozesrad/paixao.htm

Entrevista com Paixão Côrtes, fundador dos Centros de Tradição Gaúcha.

Entrevista com Paixão Côrtes

Por Anselmo Cunha dos Santos

Qual é a sensação de ser mais uma vez homenageado, agora como patrono da Feira do Livro?

A distinção que me fazem os participantes da Câmara do Livro e os demais livreiros e editoras é muito grande para quem não se considera um escritor, e sim um escrevinhador, ou seja, eu vou à fonte de origem da pesquisa, junto ao povo, registro, fotografo, analiso, escrevo, publico e devolvo ao povo o que é da sua sapiência, da sua vivência anterior ou atual. Na feira, pela primeira vez me parece, estão vindo essas expressões espontâneas de conjunto, de vivenciar os dias atuais que não são coisas do passado para serem cultuadas, nem são símbolos remotos, são vivencias das comunidades atuais. E como o livro não tem idade, nem pelo ou cor, acho que a Feira do Livro é o momento de reencontro com o povo através das próprias manifestações espontâneas, ao lado das erudições dos livros internacionais, dos pensadores dos mais variados setores humanos e tudo isso faz parte de uma única manifestação, que é cultura. Não tem superior nem inferior, não tem mais bonita nem menos bonita, não tem mais rica nem mais pobre, é cultura do povo.

Então o senhor acha que como patrono trará mais cultura, mais raízes?

Eu acho que trago raízes do Rio Grande do Sul ao lado das próprias culturas urbanas e internacionais. A feira tem como uma de suas finalidades cumprir essa função maior de universo, porque os pensamentos de escritores e livros que estão aqui, retratam o mundo que cada um de nós busca dando, a base para um grande progresso.


O senhor acha que as pessoas estão se afastando mais do tradicionalismo e procurando uma outra forma de se encontrarem culturalmente?

Em 1947, nós éramos sete quando começamos o movimento no Rio Grande do Sul, no colégio Júlio de Castilhos. Nove meses depois se fundou o '35' Centro de Tradições, que foi a primeira entidade. E naquela época éramos 24. Hoje, passados 60 anos, são 4 mil entidades, em torno das quais giram 5 milhões de pessoas. Isso, em todo o universo, deixou de ser de galpão para se tornar universal. Então, diz bem mais do que minhas palavras, os números do envolvimento dos mais variados segmentos da nossa sociedade.


O que o senhor acha da Tchê Music?

É uma ideia, não sei quanto tempo vai durar. A palavra é Che, que significa gente, pessoa, amigo, irmão. Pronuncia-se tchê, mas se escreve Che, se tu vais levar uma idéia e a escreve errado eu fico meio surpreso e preocupado, de que realmente não há fundamentação maior, o tempo dirá. É um direito que assiste as pessoas, não me cabe a pretensão de inventar normas. Folclore é uma ciência e se prima pela espontaneidade e não pela forma determinada.


O que o senhor acha que deve ser feito para atrair novamente os jovens aos prazeres da leitura?

Os jovens de hoje estão mais afeitos à tecnologia, à cultura tecnológica do que aquela espiritual e aquela de herança materna e paterna. E às vezes, quando tu atravessa um ciclo de dificuldades e que tu ficas na interrogação da vida, tu voltas às tuas origens para encontrar reforço e solidez para avançar. E ao regredir para avançar, as vezes, se perdem no tempo e no espaço.

O senhor acha que o Ipad substituirá o livro?

Eu acho que, como todas as inovações, deverão ter uma consolidação maior ou menor, só o tempo irá dizer. Mas eu acho que o processo acrescenta, em determinados aspectos, uma maior oportunidade, mas, ao mesmo tempo, dificulta a grandeza dos autores ou dos livreiros para que as coisas fiquem gramaticamente mais concisas do que simplesmente a orabilidade.


Para finalizar, qual o recado que o senhor deixa aos nossos leitores?

A leitura não tem marca, sinal ou pelo. Ela é aragana, é de todos nós. Então eu não tenho pretensão de, como simples vivente escrevinhador, querer acrescentar as outras facetas tão importantes que existem, e que dependem de cada um, da sua herança e do patrimônio que você tem para ver o rumo que você vai seguir. Oxalá seja florido e de gama a paz.

Você quer saber mais?

http://www.queb.com.br/