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quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Quem foi Sherlock Holmes de Sir Arthur Conan Doyle?



Sherlock Holmes (direita) e o Dr. Watson, por Sidney Paget.


“É um velho preceito meu que, quando se excluí o impossível, o que resta, por mais improvável que seja, deve ser a verdade!”

Sherlock Holmes

Estátua de Sherlock Holmes em Londres.


Autor: Leandro Claudir Pedroso

Todos os dados presentes no trabalho que se segue foram estudados e analisados nas obras completas de Sherlock Holmes, publicadas em quatro volumes pela editora Nova Fronteira Participações S. A do Rio de Janeiro, no ano de 2015 sob licença da Casa dos Livros Editora Ltda, detentora dos direitos de edição da obra na língua portuguesa no Brasil.

O personagem Sherlock Holmes foi criador pelo escritor escocês, Sir Arthur Conan Doyle (1859-1930), que publicou sua primeira estória em 1887 e a última em 1927.  O personagem Sherlock Holmes segundo o autor era de biótipo magro, de estatura alta que gostava de usar um boné de viagem com um protetor de orelhas. O longo cachimbo de barro ou cerejeira era uma das marcas de seu personagem tornando-se um elemento praticamente indissociável de Holmes. Também estava sempre acompanhado de sua bengala longa e fina que utilizava como arma, bem como um chicote de caça com a mesma função, que segundo Watson era sua arma favorita. Tinha um olhar semicerrado sobre as pálpebras. Possuí um discreto requinte na maneira de vestir e uma capacidade de ocultar suas emoções que deixava seu amigo Watson impressionado.

Características do personagem:

Sherlock Holmes e Dr. John Hamish Watson se conheceram por intermédio de Stamford, auxiliar de enfermagem e amigo de Watson, pois ambos estavam procurando um lugar para alugar e partilhar o valor do aluguel diante das dificuldades financeiras. Watson acabará de vir do Afeganistão, após lutar na segunda guerra afegã. Holmes já estava de olho em um apartamento na Baker Street, número 221B.

Holmes trabalhava em um hospital de Londres, no laboratório de química. Para sua locomoção, Watson e Holmes usavam um Cabriole alugado e às vezes charrete e trem.

Cabriolet do século XIX.

Homes não fazia seu trabalho por dinheiro, mas por amor a arte da investigação, pois não cobrava pelos serviços ou cobrava um valor insignificante. Segundo seu código de conduta cobrava na maioria das vezes somente os gastos referentes aos custos da investigação. Não tinha preço pelos serviços, só pelas despesas com a investigação. Dizia que sua profissão tinha sua própria recompensa.

Entre suas excentricidades, Holmes guarda os charutos no balde de carvão e o tabaco no chinelo persa perto da lareira. Sua correspondência ainda não respondida era presa com um punhal no meio do consolo da lareira. Praticava tiro ao alvo dentro de casa, sentado na poltrona.


A sala de Holmes na Baker Street 221B, construída conforme as especificações dos livros. Foto: Museu Sherlock Holmes.

Tinha um amor platônico por Irene Adler, uma mulher com quem nunca teve uma vida ao lado e faleceu muito jovem.

Guardava relíquias criminais por todos os lugares da casa.

Considerava o exercício físico sem finalidade uma pura perda de energia.

Holmes falava com uma voz tranquila ao tratar com os clientes, sempre dava conselhos para ficarem calmos até saber o que realmente estava acontecendo.

Raramente vai a algum lugar a não ser por motivos profissionais.

Perito na ciência da dedução e da análise.

Sua profissão era detetive-consultor.

Gostava de agir extraoficialmente, pois assim podia seguir seus próprios métodos e revelar ou esconder oque quiser.

Usa um grupo de meninos de rua para auxiliar em suas investigações, como ouvidos que ninguém se importa de ter por perto.

Tem semanas de atividade intensa e semanas de depressão. Sofrendo crises de apatia e atividade. Quando tomado por crises de apatia usava cocaína, droga na qual foi viciado, pois caia em depressão quando não possuía casos para resolver. Depois de intensa atividade durante um caso, ao termino caia em depressão.  Graças ao seu amigo e companheiro Doutor Watson conseguiu livrar-se do vicio que ameaçou destruir sua carreira como detetive consultor. Por esta característica de sua personalidade o próprio Sherlock Holmes se considerava um preguiçoso quando não estava disposto.

Uma de suas peculiaridades era que em seus momentos mais intensos ele não se permitia nenhuma comida, até em algumas ocasiões desmaiar de inanição.

Quando está sem um caso para resolver fica sonhador, introspectivo e pálido.

Quando estava reflexivo, mergulhado em seus pensamentos, costumava juntar a ponta dos dedos.

Gostava de tocar violino para relaxar ou refletir sobre as investigações em andamento.


Seu amigo e companheiro Dr. Watson usava um revólver Eley Nº2.

Mestre na arte de obter a confiança de uma testemunha humilde.

Considerava-se um pioneiro na arte da investigação particular.

Às vezes Holmes usava cães em suas investigações para seguir pistas.

Toda a manhã Holmes gostava de ler os jornais e estar inteirado dos acontecimentos.

Entre seus clientes encontravam-se reis, nobres, pessoas comuns, etc.


A própria Scotlandd Yard indicava Holmes para as pessoas com problemas a serem solucionados.

Amante da lógica e do raciocínio rígido.

Holmes chamava seu trabalho de arte.

Gostava de meditar sobre os casos.

Era considerado pelos jornais e inclusive pela própria Scotland Yard um mestre da dedução.

Adorava fazer pesquisas químicas a noite toda.

Expert no estudo de caligrafias.

Conhecido por sua discrição em resolver os casos.

Nunca faz algo sem um bom motivo.

Além do cachimbo de cerejeira Holmes gostava de fumar cigarros.

Sempre muito crítico e não poupava nem seu parceiro Watson.

Quando queria Holmes tinha, um jeito especialmente insinuante com as mulheres, que conseguia ganhar rapidamente a confiança delas.

Curiosidades e aventuras:

Dr. Watson, amigo, colega e biógrafo de Holmes, foi com base nos relatos de Watson que as histórias de Sherlock Holmes, segundo as próprias obras ficaram famosa na estória. Holmes nunca fazia referência a sua família e muito pouco sobre sua infância.

Da personalidade de Holmes, o próprio Watson afirma que causa uma impressão pouco humana como um cérebro sem coração, desprovido de simpatia humana. Com aversão a novas amizades e de temperamento seco.

Os antepassados de Holmes pertenciam a nobreza do campo, sua avó era irmã do artista francês Vernet. De onde acredita que herdou a arte da dedução pois a arte assume várias formas como ele mesmo afirma.

Quando se mudou para Londres o primeiro lugar em que morou foi na Montague Street perto do Museu Britânico.

Admitia não ser sociável e na faculdade onde ficará dois anos fizer um único amigo Vitor Trevor. Holmes preferia ficar em seus aposentos elaborando métodos de raciocínio e nunca se envolvia com os colegas de classe, com raras exceções de esgrima e boxe, tinha pouca inclinação para o esporte.

Foi recomendação do pai do amigo de Holmes, Sr. Trevor, que transformasse sua habilidade em profissão invés de hobby.

Segundo seu companheiro de aventuras e melhor amigo Dr. Watson, que descreve Holmes como nota zero em filosofia, astronomia e política. Em botânica tinha conhecimento variável, em geologia era bem instruído desde que tivesse ligação com manchas de lama de qualquer região a uma distância de setenta quilômetros da cidade de Londres, em química Holmes era excêntrico, em anatomia não era muito organizado, em literatura era sensacional, bem como em registro de crimes era único. Além de violinista, lutador de boxes, espadachim, advogado e envenenador de si mesmo com cocaína e tabaco.

O break fast, café da manhã era um momento importante para Holmes. Lia os jornais principalmente anúncios pessoais. Na realidade Holmes adorava ler anúncios sobre perda, desaparecimentos, pois tudo era uma oportunidade de casos para ele resolver.

Escreveu várias monografias sobre investigação com temas como: tipos de tabaco, charutos, cigarros, pegadas, dentre outros temas que auxiliavam nas suas investigações.

Sherlock Holmes era hábil em criar disfarces para si com um toque de genialidade que o deixavam irreconhecível.

Homes só aceitava casos com características fora do comum, e até fantásticas.
Seu amigo Dr. John H. Watson se casou possivelmente três vezes diante das idas e vindas aonde ambos moraram juntos na Baker street.

Uma vez por ano limpava seus documentos, mas raramente jogava algo fora, tinha o costume de guardar todos os recortes, anúncios e anotações dos casos por ele tratados.
Possuía um álbum aonde guardava os recortes dos anúncios policiais dos jornais.

Guardava suas anotações, relatos de ocorrências e crimes em um baú. Tinha um registro de todos os seus casos anotados e arquivados.

Era conhecido pela polícia como pela Suprema Corte de apelação em casos duvidosos.
Demorou muitos anos até ser reconhecido em sua carreira.

Durante alguns casos chegava há trabalhar 15 horas por dia para solucionar os mesmos.
No caso “O Aleijado”, Holmes usa pela primeira vez a palavra que se tornou famosa: “elementar” que marcaria seu personagem (ao contrario do que afirmam, a expressão aparece nas obras originais e não somente no teatro, como afirmam alguns ter sido usado originalmente.

Não possuía atração nem pelo campo ou mar em tratando-se de férias, preferia ficar no meio de Londres aonde qualquer caso o levasse a uma investigação.

Mycroft Holmes, como imaginado por Sidney Paget em the Strand Magazine.

No volume 2 na página 161 das obras completas, Holmes admite possuir um irmão chamado Mycroft Holmes, sete anos mais novo que Sherlock. Seu irmão Mycroft era membro do clube Diógenes. Mesmo possuindo habilidades de dedução e observação superiores a de Holmes, segundo ele mesmo, Mycroft não era ambicioso e nem tinha energia para ir a campo e prová-las. Sendo incapaz de lidar com as questões práticas.
Holmes levava alguns casos para seu irmão ouvir e apresentava suas deduções e observações a Mycroft que acrescentava as suas.

Oque para Holmes havia se tornado em uma profissão para Mycroft era um hobby, pois também tinha uma cabeça excelente para números e faz auditoria  nos livros de departamentos do governo inglês.

Holmes e Watson chegando ao Clube Diógenes para conversarem com Mycroft.

No Clube Diógenes que Mycroft é membro fundador encontrava-se os homens menos sociáveis e agrupáveis de Londres. Nenhum membro tem permissão de dar atenção ao outro, exceto na Sala dos Estranhos, a conversa não é permitida em nenhuma circunstância, os homens ficam sentados em poltronas confortáveis lendo jornais.

Holmes fazia uso de anúncios em jornais para solucionar seus casos como recompensa por informação sobre certo acontecimento, pessoa ou item desaparecido.


Holmes e Moriarty lutando. Por Sidney Paget, 1893.

Professor Moriarty, professor de matemática aposentado e chefe de uma organização criminosa chamada Sindicato do Crime da Europa. Esse caso passou-se em 1891. Moriarty mandou atear fogo ano apartamento de Holmes considerou Moriarty seu equivalente intelectual. Holmes conseguiu que prendessem toda a gangue de Moriarty, mas Moriarty escapou. No dia 3 de maio de 1891, Watson e Holmes chegaram à Suíça na aldeia de Meiringen. Holmes supostamente morre em uma luta corpo-a-corpo com Moriarty quando os dois caem nas quedas d’água de Reichenbach.

Watson encontra a bengala de Holmes próximo da qued'água de Reichenbach.

Holmes nunca queria que seu nome aparecesse nos jornais ou nos arquivos da polícia, pois afirmava: “O trabalho é a própria recompensa.”

Ao se concentrar em um problema, podia ficar horas direto refletindo e durante esses momentos cantava e assoviava enquanto estudava o caso. Quando sentia-se confuso cerrava as sobrancelhas e o olhar ficava distante. E deixava para fazer suas revelações na hora que achasse conveniente e à sua maneira.

Os inspetores policiais locais e da Scotland Yard, tinham orgulho de trabalhar com Holmes. Ainda que muitas vezes houvesse competição por parte da polícia em resolver o caso antes de Holmes.

Possuía amigos na polícia de todo o mundo como em Nova Iorque, o inspetor Wilson Hargeave.

Entre os anos de 1894 e 1901, Holmes foi consultado pela polícia em todos os casos públicos de grande dificuldade e outras centenas de casos particulares.
Amava acima de tudo a precisão e a concentração de pensamento, se ressentia de tudo que distraísse sua atenção do assunto em que estivesse envolvido.

Possuía uma enciclopédia de referências sobre os personagens importantes da época.
Conhecedor de mais de 42 marcas de pneus de bicicletas e as impressões deixadas por elas. Isso ajudava nas investigações da época como das rodas dos cabrioles e charretes.
Na estória “A aventura da Priory School”, Holmes aparece pela primeira vez cobrando diretamente a recompensa por um caso resolvido do desaparecimento do filho do Duque de Holdernesse. O valor cobrado era de 5.000 libras por achar seu filho Saltire desaparecido e 1.000 libras por dar o nome do culpado.

Recusava ajudar poderosos e ricos, quando o problema não o atraía, mas seria capaz de dedicar semanas da mais intensa concentração ao caso de um cliente humilde que tivesse aquelas qualidades estranhas e dramáticas que apelavam para sua imaginação e desafiavam seu talento.

Stanley Hopkins, jovem inspetor de polícia no qual Holmes tinha grandes esperanças com profissional e o mesmo admirava o trabalho de Holmes como um aluno.

A cidade de São Paulo, no Brasil, é citada na estória, “A aventura de Black Peter”.

Sherlock Holmes é tão obstinado em resolver seus casos que na estória, “A aventura de Charles Augustus Miverton”, chegou a ficar noivo da empregada da casa do investigado. Utilizando-se do subterfugio do disfarce de um bombeiro chamado Escott. Tudo para saber mais sobre a vida de Milveton.

Pela Scotland Yard e pelos jornais, Holmes era conhecido como perito-consultor.
Sempre que podia Holmes gostava de consultar seus arquivos de velhos jornais que ficavam em um dos quartos de seu apartamento na Baker Street.

Holmes ao resolver a prisão de Huret, o assassino do boulevard – façanha que lhe rendeu uma carta de agradecimentos assinada pelo presidente da França e a Ordem da Legião de Honra.

Na estória, “A aventura de ‘Three-quarter’ desaparecido”, Watson relata ter conseguido gradativamente tirar as drogas da vida de Holmes que certa vez ameaçaram a sua notável carreira.

Em algumas estórias, como “A aventura de Abbey Grange” Holmes ao descobrir indícios que o crime havia sido ocasionado por legitima defesa, mas com agravantes que poderiam levar ‘boas’ pessoas à cadeia, Holmes decide por si próprio e não informa tudo que descobriu à Scotland Yard. Para permitir que um casal de amantes separados pelo infortúnio da vida e pela classe social distinta ficassem juntos.

Gosta de revelar seus resultados em uma investigação quando achar que deve e de uma só vez e não por etapas.

Sherlock Holmes foi dado por morto durante três anos, mas então no caso “A aventura da casa vazia”, ele reaparece e esclarece que ficou escondido disfarçado de velho. Que somente Moriarty morreu ao cair na que d’água. Ele não caiu e decidiu se esconder porque ainda haviam criminosos tentando mata-lo e que para pegá-los seria mais fácil se eles acharem que ele estivesse morto, pois se descuidariam em suas ações criminosas. Passou os anos viajando pelo Tibet, Persia, cidade de Meca, Cartum e por fim a França. Usando o nome falso de SIGERSON, um norueguês explorador. Depois que soube de um caso interessante em Londres sobre a morte de Ronald Adair, voltou para Baker Street em seus antigos aposentos que seu irmão Mycroft conservará como deixou. Após seu retorno Watson volta a morar com ele na Baker Street, e a pedido do mesmo vende sua clínica (nesse ínterim algo acontece com a esposa de Watson que não é mais citada na estória).

Um retrato de Sherlock Holmes por Sidney Paget em The Strand Magazine, em 1891, em .O Homem com a boca torta.

Na estória “A aventura da segunda mancha” Holmes saiu de Londres e se dedica ao estudo e a criação de abelhas em Sussex Downs. Teria sido sua aposentadoria assim?

Autor: Leandro Claudir Pedroso.


Referência:

DOYLE, Sir Arthur Conan. Sherlock Holmes: obras completas. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2015.

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segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Exemplar de canis lupus familiaris de 1.500 anos encontrado no Rio grande do Sul




Cachorro com anatomia "moderna" de um Canis Lupus familiaris está presente na América do Sul a 1.500 anos segundo novas descobertas. 


Cientistas encontraram vestígios de cão que viveu há cerca de 1.500 anos, o que revela que o animal pode ter sido domesticado antes da chegada dos europeus.




Com porte médio, pelagem escura e aspecto semelhante ao de um doberman, o cão mais antigo do Brasil vivia em acampamentos humanos no Rio Grande do Sul, há cerca de 1.500 anos.




Com base em dois dentes molares e fragmentos do maxilar de um cachorro encontrado às margens da Lagoa dos Patos, cientistas reconstruíram a história da domesticação dos cães no país e descobriram que, cerca de 1.000 anos antes da chegada dos europeus, já vivíamos com cães de estimação. É a primeira vez que os pesquisadores encontram vestígios de um cachorro tão antigo no país.


Para chegar a essa conclusão, uma equipe composta pela bioarqueóloga brasileira Priscilla Ulguim, pesquisadora da Universidade de Teesside, na Inglaterra, e por cientistas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e do Instituto Nacional de Antropologia e Pensamento Latinoamericano, na Argentina, analisou os vestígios do cão e comparou-os a seus parentes selvagens e nativos da América do Sul, para verificar se se tratava de um exemplar de Canis lupus familiaris, nome científico do cão doméstico que conhecemos hoje.


Em seguida, os pesquisadores fizeram datações pelo o método do carbono-14 e descobriram que o animal tinha morrido entre 1.700 e 1.500 anos atrás, ou seja, pelo menos um milênio antes da chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil. Isso é uma descoberta importante, pois quase não há registros de cachorros domésticos antes da chegada dos europeus ao Sul da América do Sul.


Análises químicas indicaram também que o animal tinha uma dieta que consistia em recursos aquáticos, como peixes. Ainda são necessários mais estudos para confirmar essa ideia – porém, se comprovada, é possível que o animal se alimentasse dos restos das pescarias humanas feitas na lagoa. O estudo foi publicado na revista científica International Journal of Osteoarchaeology.


Cães domésticos


A domesticação dos cachorros na América parece ser mais complexa que na Europa, onde estudos demonstram que os primeiros cães passaram a viver com humanos há, no mínimo, 18.800 anos. Os animais, que evoluíram a partir dos lobos, ajudavam na caça, em atividades como guardar e proteger rebanhos, além de fazer companhia aos homens.


Nas Américas do Norte e Central foram encontrados fósseis de cães domésticos de 10.000 anos e, na América do Sul, os registros têm cerca de 7.500 anos, achados principalmente nas regiões andinas. Contudo, na região mais ao Sul, que inclui o Brasil, a maior parte dos registros indica a presença dos cachorros após a chegada europeia, o que torna a idade do cão analisado pelos pesquisadores um indício de que a domesticação dos animais pode ter acontecido nas Américas de maneira independente – e também por razões diferentes.


Segundo os cientistas, o próximo passo do estudo será a realização de uma análise genética para descobrir a que raça pertencia a espécie.





segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Popol Vuh I, a criação segundo a mitologia maia.



O Popol Vuh é o livro sagrado dos maias, repositório fundamental das crenças desse povo que conheceu o seu apogeu durante o chamado Período Clássico, que vai de 250 d.C. até cerca de 900 d.C. Popol Vuh quer dizer “livro do conselho”, e a versão que hoje conhecemos, escrita após a conquista espanhola, é a cópia feita pelos próprios quiches de uma outra mais antiga, hoje desaparecida.  A história divide-se em três partes: a primeira conta a criação do mundo e dos homens, a segunda narra as peripécias dos heróis gêmeos no inframundo, e a terceira é uma crônica da dinastia quiche. Vejamos primeiro como os maias descreveram, em seu poema mítico, o começo do mundo.


Antes que o mundo fosse criado, só havia um grande mar escuro, vazio e silencioso. Os deuses, que preexistiam ao próprio caos, viviam imersos em meio a toda aquela quietude.
Um desses deuses era Kukulcán, que por possuir o corpo de serpente recoberto de penas da ave quetzal foi chamado de Serpente Emplumada (que é a tradução do seu nome).


A exemplo dos demais deuses, Kukulcán passava o tempo mergulhado nas águas escuras e silentes do grande caos aquoso. Nadando e pensando. Ele e os demais adoravam pensar, pois eram sábios.


Mas um dia, depois de tanto pensarem, os deuses decidiram que era hora também de falar.
E foi então que, do meio da treva aquosa, soou a voz majestosa de Kukulcán.


Dentre os deuses aos quais ele dirigiu a palavra estava Huracán, o deus das tormentas (Huracán, que no idioma quiche quer dizer “Um-Perna”, se tornou o termo utilizado para designar, tanto na língua espanhola quanto inglesa, um furação – Huracán e hurricane, respectivamente). Como o nome maia está a indicar Huracán possuía apenas uma perna, tal qual os furações, mas seus braços, enormes como pás, tinham o dom de girar velozmente, provocando uma furiosa ventania.


Além de Huracán, outro deus que travou diálogo primordial com Kukulcán foi Tepeu, deus do céu. Juntos, os três deuses decidiram criar a luz, e o fizeram através de três raios. Depois para criar a Terra, utilizaram apenas a Palavra.


-- Ulev! – gritaram eles, e a Terra emergiu do oceano, pois “ulev” quer dizer terra”.


No começo, a terra, com seus vales e montanhas, era apenas como uma nuvem, que aos poucos foi ganhando forma e consciência. Logo, por cima da terra, criou-se a vegetação, e com ela as árvores, até se formarem em muitas partes imensos bosques e florestas.


Ao verem o resultado do seu ato criativo verbal, os três deuses congratularam-se:
--Nossa obra está benfeita! – disseram eles, banhados em divina satisfação.


E foi assim que o mundo passou a ter, cada qual no seu lugar, o céu, a terra e as águas.

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A origem de tudo, segundo os Kami anciãos.



Eis as lendas do Japão, segundo o registro dos kami anciãos primordiais, esta mitologia foi transmitida para os antigos sábios e de onde se basearam os eternos livros Kojiki e Nihon Shoki:

No início dos tempos, havia apenas uma disforme esfera oval, duplamente maior que a Terra, flutuando, plácida e silenciosa, no negro infinito. Vida alguma abrigava em seu abaulado ventre e astro algum iluminava o céu para além desta longínqua esfera, solitária como uma pedra perdida num mar escuro e vazio – nem Sol, nem Lua, nem estrelas havia.

Mas esse não era ainda o mundo no qual os kami e mortais viriam a habitar. Não passava este corpo ástreo, na verdade, de uma massa única, sem distinção entre o céu e a Terra.

Durante muito tempo assim foi, até que esta indefinida esfera foi lenta e vagarosamente repartindo-se em duas, como quando o corpo dorme e a alma se põe a sonhar. Mas não é porque dormia que este corpo não se debateu como em pesadelos e não é porque não havia viva alma para ouvi-lo que ele silenciou. Divorciou-se de sua outra metade, fazendo saltar pedras, lascas e pedregulhos para todos os lados, na ânsia de libertar-se, e desprendeu-se, enfim, esta incorpórea criatura, como se desprende a alma do corpo morto.

Eis que se põe a subir calma, leve e vaporosa, alcançando com suave perícia o pai de todos os cumes, o monte Takachiho, e instalou-se  acima do seu topo, que já era tão alto que perfurava uma densa camada de nuvem. Takaamahara é como passou a se chamar esta parte azulada espiritual que virou o que poderíamos intitular de céu japonês. Acomodou-se lá no altíssimo firmamento e ali permaneceu à espera dos kami, que em poucas eras estavam por vir.

A outra metade da esfera, no entanto, pesada, parda e densa, foi tombando como o peso da gema de um ovo na leve clara, precipitando-se pelo abismo infinito. As pedras que haviam saltado da separação foram sendo atraídas gradativamente a ela mais uma vez, unindo-se de modo a carreá-la mais e mais até atingir uma consistência firme e puramente física mudando sua cor para um tom negro-encarvoado. Assumiu, enfim, uma forma geoide, e a água espalhou-se em volta dela. Os dedos gelados de uma névoa densa e escura envolveram esta parte descartada dos céus que permaneceu esquecida pelos imortais durante sete gerações de deuses.

Takaamaharaq, a Planície dos Céus Elevados, ao contrário da Terra, logo atraiu os kami, deuses habitantes. Três deles, mais gigantescos de todos – colossais demais para serem apreendidos numa única olhada – surgiram nos céus, vindos de um lugar incógnito só conhecido por eles. Chegaram já prontos para criar e desenvolver o caótico e misterioso mundo celeste que a mente humana não prima por entender.

A criação da Estrela Polar

Acenderei uma luz na escuridão – disse altamente venerável e desenvolvido Amano Minakanushi no Mikoto, falando na linguagem dos deuses.

Focalizou o firmamento com o Terceiro Olho, a visão além do alcance dos olhos, e fez brotar de suas longas e finas mãos uma bola de fogo dourada que arremessou às alturas, onde ela se fixou para todo o sempre. Deu-lhe o nome de Estrela Polar.

Criação da Lua e do Sol

Honoráveis irmãos – disse o segundo deus, Takami Musubi no Mikoto. – Eu criarei as Maravilhas Celestes.

Pôs-se a mover as mãos envoltas em chispas chamejantes e fez brotar uma imensa bola branca de fogo que arrojou para o alto, ao modo de como fez o deus primeiro. Nomeou novo ser de Lua. Concentrou novamente todo seu KI – fogo que queima nas entranhas e é a energia vital de todos os seres vivos – e fez surgir outra bola de fogo, porém de uma cor vermelho-alaranjada e quatrocentas vezes maior do que a anterior. Arremessou-a igualmente ao alto dos céus, ofuscando instantaneamente as criações anteriores. Chamou-a  de Sol.

Colocou, então, dois dedos no centro da testa e tornou a se concentrar: flocos de neve caíram dos céus, levando os três irmãos a se encolherem de frio e cobrirem com o capuz as cabeças ainda quentes do Sol. Expulsaram os flocos da neve resplandecente que cobria seus mantos coloridos e se puseram a observar o campo celeste que ia ficando mais alvo e fofo do que as brancas nuvens.

A nevasca se transformou em uma chuva muito fina e fortes ventos varreram os quatro cantos da galáxia, de ponta a ponta, controlados docilmente pelas mãos do honrável kami. Raios e relâmpagos cortaram, neste dia, o firmamento com seus clarões dourados e estrondos retumbantes e o vento uivou ferozmente como mil lobos, virando uma terrível tempestade. A pouca chuva se transformou num aguaceiro que lavou e fertilizou o solo celestial pela primeira vez na vida.

Surge a vida vegetal e animal pelo terceiro kami

- Eu, por minha vez, criarei os Tesouros Celestes – disse a seus irmãos a terceira divindade, Kami Musubi no Mikoto, tão logo a tempestade amenizou.
Espalmou as longas e finas mãos sobre o solo irrigado e fez surgir os mais exóticos bosques, pomares e jardins, que se ergueram do chão de um minuto para o outro, crescendo a olhos vistos, como se um segundo representasse um século. Deleitou-se o deus criando montanhas e penhascos, mares e rios, pássaros e peixes, flores e corais.

Cachoeiras desciam agora livremente ao pé da montanha, abaixo do voo de esplêndidos faisões de penas rubras como o fogo douradas como o metal amarelo (modo com o qual os deuses primordiais referiam-se ao ouro). A límpida água corria nos largos e lentos córregos celestiais com toda sorte de murmúrios, fluindo através do coração de Takaamahara, brilhando entre musgos, pedras e peixes. Brotaram o arroz e demais cereais, que, sem cultivo ou trabalho algum, cobriram os campos alagados com seus tapetes amarelos, independente do clima, do tempo e das estações de maduração.

Logo o céu borbulhava de cores e arte, graças ao capricho destes fecundos criadores de inesgotável imaginação. Tão logo concluíram suas obras-primas, retiraram-se anonimamente dos céus e seguiram para um refúgio incógnito que somente os deuses conheciam, sem deixar atrás de si nem o brilho das caudas de seus faiscantes mantos multicoloridos e nem o mínimo resquício de vaidade.