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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Panteão Maia



Panteão Maia. Imagem: Seu History.

O panteão maia, que fundamenta a crença mitológica da cultura maia, possui um conjunto de deuses adorados em uníssono. Os maias basearam suas crenças na observação de fenômenos naturais, o que foi traduzido em um caráter místico com expressões naturalistas, em que tanto o conhecimento cientifico quanto as crenças religiosas, constituem um todo indissolúvel, sobre o qual estão organizadas a sociedade, a politica e as mais diferentes atividades humanas. Hunab Ku, principal divindade no Universo Maia, centro da galáxia, mente e coração do Criador, reúne em si o aspecto masculino e feminino da natureza sendo a divindade criadora, por excelência.

YUMKAX

O senhor do milho jovem, é o deus maia da agricultura, da prosperidade, da abundância e da vida. É representado como um jovem com uma espiga de milho nas duas mãos. Durante o período clássico foi considerado uma invocação de Hunahpú (gêmeo divino de Popol Vuh), que ao morrer, ressuscita na forma de Yumkax e é comumente representado surgindo da terra, emergindo do casco de uma tartaruga, imagem que é narrada na “ressurreição do milho”. É o deus do milho, das montanhas, dos bosques, da selva e da juventude, atacado constantemente pelo deus da seca e defendido pelo deus das chuvas.

Entre os maias de Yucatán, era considerado filho de Itzamná e Ixchel e vigia da selva. É o governante, a inteligência diretriz da agricultura e da vida na natureza. Segundo os maias, a alma, antes de tomar o corpo humano, atravessa diferentes partes do reino da natureza, adquirindo consciência plena; por isto, todo ser humano possui em seu interior um instrutor elementar, feito com substâncias básicas da natureza, que conhecem a sabedoria de milhões de espécies. A doutrina maia de Yumkax revela os mistérios da evolução e da relação íntima entre a vida elementar e a humana; considera impossível separar nossa vida do grande oceano da vida universal, e, que o ser humano preparado pode desencadear uma tempestade de fazer tremer a terra, curar ou fazer prodígios.

CHAAC

Chaac, uma das manifestações de Itzmaná, é uma importante divindade associada à água e, sobretudo à chuva. Representado com um grande tronco inclinado até o alto, tinha grande importância e o povo o invocava para obter boas colheitas. Segundo relatos, esse deus vivia nas cavernas ou nos “cenotes” (depressões aquíferas muito comuns na península), que eram também consideradas a entrada para o inferno. Por vezes, é representado como quatro deuses, separado pelos quatro pontos cardiais, e como um homem velho com aparência semelhante a um anfíbio ou um réptil, com seu característico nariz grande e curvado, carregando um machado que representa o trono, o raio. Já o associaram com a rã ou sapo. Diante de seu poder está à seca, a chuva, o granizo, o gelo e o raio, motivo pelo qual, os feiticeiros antigos, temiam sua cólera. Seu nome provém de fontes escritas na época colonial, nas quais aparece também como herói cultural; o Dicionário de Motul diz que Chaac “... foi um homem de grande estatura que ensinou a agricultura, e que também foi conhecido como deus dos pães, da água, dos trovões e relâmpagos”. Efetivamente, Chaac é uma das divindades quádruplas, que são as que dominam os quatro rumos do cosmos. É importante no cultivo do milho e outros produtos, e, por sua vez, também é o símbolo da fertilidade. A esse deus também se relacionavam as águas internas do ser humano, ou seja, a energia criadora.


AH PUCH


Ah Puch é o rei e Deus de Xibalbá, o inferno. Descrito como um esqueleto ou cadáver com um rosto de jaguar adornado com sinos, é o deus da morte. Tem como cabeça um crânio, e as costas nuas mostrando partes da coluna vertebral; se seu corpo está coberto de carne, ela aparece inchada e com círculos negros que sugerem a sua decomposição. Os acessórios imprescindíveis de sua vestimenta são ornamentados em forma de cascavéis. Ah Puch, antítese de Itzamná, tem, como ele, dois hieróglifos de seu nome, e é depois dele, a única divindade que se distingue desta maneira. O primeiro representa um cadáver com os olhos fechados pela morte, e o segundo, é a própria cabeça do deus com seu nariz longo, as mandíbulas descarnadas e como prefixas, uma faca de sílex (vidro vulcânico) para os sacrifícios. O deus da morte era a divindade padroeira do dia Cimí, que significa morte, em maia. No caso de Ah Puch, estamos diante de uma divindade de primeira classe, fato comprovado pela frequência em que é representado nos códigos. Como chefe dos demônios, reinava no mais baixo dos nove mundos subterrâneos dos maias.

sábado, 15 de dezembro de 2012

PANTEÃO ASTECA



Panteão Asteca. Imagem: Seu History.

A religião asteca, assim como as de outras civilizações, representava uma síntese de diversas culturas e tradições milenares dos diferentes povos que dela faziam parte. Sua cosmogonia foi tão profunda quanto complexa, buscando resolver os eternos dilemas com relação à existência, criação do cosmos e da raça humana, explicação de fenômenos naturais e sua ligação aos astros. Os deuses estavam em constante comunicação com os homens e, como estes, tinham características tanto positivas quanto negativas. Aliás, tudo e todos os que habitavam o mundo possuíam esta dualidade, que afinal, estabelecia um equilíbrio dinâmico entre o micro e o macrocosmo, relação que era mantida através de cultos e oferendas.

QUETZALCOATL

Quetzalcoatl, filho de Ometeotl, é a principal divindade do panteão pré-hispânico. Seu nome é composto por duas palavras: "coatl", que quer dizer serpente e "quetzal", significando ave de rica plumagem. De acordo com a filosofia asteca, esta divindade possui também diferentes conotações, "dupla rica", "ave dos tempos", "gema dos séculos", "umbigo ou centro sagrado", "serpente aquática fecundadora", "o das barbas da serpente", "o grande aconselhador", "divina dualidade", "feminino e masculino", "pecado e perfeição", "movimento e tranquilidade". Em função da dualidade de sua natureza ela tanto cria, quanto destrói o mundo. Sua parte destruidora tem o nome de Tezcatlipoca, "o Senhor do Espelho Fumegante". Quetzalcoaltl também representa a dualidade inerente à condição humana: a serpente representa o corpo, com suas limitações; as penas representam os princípios espirituais. Os ensinamentos de Quetzalcoatl ficaram registrados em certos documentos conhecidos como "Huehuetlahtolli", "palavras antigas", transmitidos verbalmente através dos tempos e depois registrados pelos primeiros cronistas espanhóis. Uma das representações desta divindade é um homem branco e barbado, razão pela qual, durante a conquista, os indígenas acreditaram que Hernan Cortez era Quetzalcoatl. Segundo a lenda, entre suas conquistas e feitos, Quetzalcoatl chegou à região maia e foi reconhecido como um grande chefe e guerreiro. Fundou a Liga de Mayapan e conquistou a cidade de Chichen Itza.

 TEZCATLIPOCA


Filho de Ometeotl, Tezcatlipoca, "O Senhor do Espelho Fumegante", é o senhor do céu e terra. fonte de vida, amparo do homem, origem de todo o poder e da felicidade, dono das batalhas, onipresente, forte e invencível. Era representado como um jovem com arranjo na cabeça e no rosto e as pernas enfeitadas com listras. Trazia postas pulseiras de penas coloridas de quetzal e um escudo na mão, também feito de penas, além de uma bandeira de papel. Quetzalcoatl e Tezcatlipoca, sendo irmãos, representam a dualidade e a antagonia. Em uma das lendas, Tezcatlipoca e Quetzalcoatl criaram o mundo. No começo existiam apenas o oceano e a terra, onde vivia o monstro Cipactli. Tezcatlipoca ofereceu seu pé como isca e o monstro da terra apareceu e o devorou. Foi assim que ambos o dominaram e o estiraram para que fosse transformado em solo. Os espíritos dos mortos tinham que se apresentar diante de Tezcatlipoca para receber seu destino. Trazia no peito um espelho onde podia ver os atos e pensamentos da humanidade e de onde brotava uma fumaça que matava seus inimigos. Portava também uma faca, representando o vento negro e cortante, como as palavras que criam desarmonia. Era considerado o senhor do norte do Universo, região do descanso, destino dos mortos. Deus da noite e da tentação; provedor e juiz da riqueza. Protetor dos escravos. 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

PANTEÃO INCA



Panteão Inca. Imagem: Seu History.

A cosmovisão andina se caracterizou pelo fato de ser totêmica e animista voltada para a adoração dos fenômenos naturais. Apesar de Inti ser considerado o deus principal, fonte de toda a existência e criador de todos os deuses, cabe destacar que na verdade o culto foi difundido por Sapa Inca Pachacútec, que o hierarquizou com religião oficial do Tahunatinsuyo (Império Inca). Entretanto, Viracocha foi o deus primordial para toda a região dos Andes e figura central do culto dos nobres de Cuzco que estabeleceram a base do povo inca. O mito tribal o descreve como criador do Céu e da Terra, após emergir das águas do sagrado lago Titicaca.

INTI

Inti era o deus sol, na mitologia inca. Pouco a pouco, foi evoluindo até transformar-se numa divindade mais complexa e universal. Terminou por absorver a divindade, sem nome, da criação e incorporou-se a Viracocha, que é a definição mais ampla de seu poder, já que este nome representa a enumeração de seus poderes (supremo ser da água, da terra e do fogo), sobre os elementos em que baseou a criação do Universo. Inti era acompanhado por sua esposa e irmã, a lua, que também era chamada, Mama Quilla. Apresentava-se como um elipsóide de ouro, de onde saíam raios, representando os atributos de seu poder. Inti, como criador, era adorado e reverenciado, mas também, recorria-se a ele, em busca de ajuda e favores, para resolver problemas e aliviar necessidades, já que, somente ele, podia fornecer colheitas, curar doenças e dar a tranquilidade e segurança que o ser humano necessita. Os incas adoravam Inti, pois acreditavam que o sol, através de sua energia, alimentava a terra. Era a origem e a definição do povo inca, em si. Inti e sua esposa eram considerados divindades benéficas. Segundo um antigo mito inca, Inti ensinou seu filho, Manco Capac e sua filha, Mama Ocollo, a arte da civilização, enviando-os a Terra para ensinar à humanidade o que haviam aprendido. Inti ordenou aos filhos que construíssem uma capital inca num lugar onde um selo de ouro, que transportavam, caísse no chão. Os incas acreditavam que isto aconteceu em Cuzco.

MAMA QUILLA

Mama Quilla é a irmã e esposa do Deus Inti. Esta deusa, representada pela lua, dividia com Inti o poder na corte celestial. Era simbolizada, durante os rituais, por um disco de prata, de onde saíam raios, como outro atributo de seu poder. Era a mãe do firmamento e, no Templo do Sol, mantinha-se uma estátua dela a qual uma ordem de sacerdotisas lhe prestava homenagem. Naturalmente, Mama Quilla era cultuada fervorosamente pelas mulheres, que formavam seu fiel núcleo de seguidoras, já que ela podia compreender como ninguém, seus temores e desejos concedendo o amparo buscado. Os incas acreditavam que ela reinava sobre todas as estrelas, que estavam todas a seu serviço. Depois do sol, para os incas, estava a lua. Este segundo lugar era devido ao fato de a lua não ter o mesmo brilho do sol e, portanto, governava apenas a noite. Enquanto o sol representava o ouro, a lua representava a prata. Isto correspondia ao brilho do sol e o branco resplandecente da lua. Mama Quilla e Pachamama estão muito ligadas, já que ambas são divindades femininas, uma do céu e outra da terra. Naturalmente também porque as fases da lua estão totalmente ligadas ao plantio e colheita. O calendário solar, apesar de sua precisão, não é tão determinante na hora de iniciar uma plantação.

VIRACOCHA

Viracocha é o deus criador e organizador do mundo, o mais reverenciado na cultura andina. Uma das lendas conta que, no começo, Viracocha criou o céu e a terra, povoando-a com plantas, animais e homens primitivos que viviam em total desordem e obscuridade. Um dia, emergiu do Lago Titicaca, juntamente com alguns ajudantes e castigou os primeiros homens por seus desvarios, transformando-os em pedras. Dividiu o cosmos em três partes: Hanan Pacha (“mundo de cima”), Kay Pacha (“mundo daqui”) e Uqu Pacha (“mundo interior”). Para povoar o Kay Pacha, criou uma nova geração de homens e mulheres, usando como molde, rochas e pedras que ganharam vida e povoaram os diferentes povoados e reinos. Satisfeito com a raça humana, este deus deu continuação a seu projeto, deixando em seu lugar seus filhos, o sol (Inti), a lua (Mama Quilla) e todas as estrelas do infinito, cobrindo todo o céu. Depois, Viracocha dirigiu-se para o norte e chamou todas as criaturas a quem havia dado vida própria. Depois de determinar as funções de povos, plantas, animais, rios e todos os seres do mundo, Viracocha e seus ajudantes dirigiram-se até o mar e partiram, caminhando sobre as espumas. Viracocha foi um nômade e tinha um companheiro alado, o pássaro Inti, uma espécie de pássaro-mago, conhecedor do presente e do futuro, que é simbolizado em histórias, como um beija-flor de asas de ouro. O Deus todo poderoso, tem o poder de reger a construção ou criação de tudo, visível ou invisível.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Os vikings não passavam de meros saqueadores?



Vindos de um mundo pagão, eles ganharam a fama de bestas violentas por não respeitarem igrejas e mosteiros. Imagem: Revista História Viva.

Esses “homens do norte” ou nordmanni, como eram chamados nos séculos IX e X, não eram meros selvagens que atacavam as pobres populações cristãs indefesas. Seus objetivos eram variados; poderiam ser comerciais, trabalhos como mercenários protegendo reinos europeus. O esquema empregado foi o mesmo que opôs os romanos a bárbaros. Uma imagem negativa, pois revela mais sobre as representações do “outro” por parte dos clérigos carolíngios que sobre a realidade histórica dos próprios vikings.
O termo viking designa os homens que surgiram no litoral da Europa ocidental no fim do século VIII. Oriundos da Escandinávia, eles organizavam expedições a bordo de seus navios, os knorr, pelas margens do Báltico e do Mar do Norte.

Seus objetivos eram variados. Praticavam atividades comerciais importantes, mas também pilhavam as populações costeiras, às vezes subindo rios como o Reno, o Sena e o Loire. A primeira grande incursão teve como alvo as ilhas britânicas na década de 790. Pouco depois, os vikings chegaram à costa do continente europeu.

Durante grande parte do século IX, o reino da Frância Ocidental foi particularmente visado, e Carlos, o Calvo, foi obrigado a lhes pagar tributo. Em certos casos, eles se instalavam em terras estrangeiras. Foi assim com a Normandia, concedida ao líder viking Rollo por Carlos, o Simples, em 911. Em troca, o chefe viking comprometeu-se a proteger o litoral franco contra futuros ataques.

No entanto, convém relativizar a oposição entre francos e vikings. Estes não eram os únicos que praticavam a pilhagem. No século VIII, os pipinidas, à frente do reino dos francos, promoveram expedições contra os saxões ou os turíngios que não se distinguiam dos ataques vikings.

O saque representava uma ação heroica para os reis carolíngios. O butim era frequentemente exibido como prova de valor guerreiro. Pode-se dizer que, durante muito tempo, o "viking" foi o franco. Afinal, as pilhagens do século IX nada tinham de novo. Incomum foi o fato de os francos passarem a ser as vítimas.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Dinastia Tudor: a era de ouro da monarquia inglesa

Personagens emblemáticos como Henrique VIII, Mary, a Sanguinária, e Elizabeth, a Virgem, deram à Inglaterra um brilho inédito, marca de um período áureo repleto de tensões religiosas, lutas pelo poder e problemas conjugais.


A família de Henrique VIII: uma alegoria da sucessão Tudor (detalhe), óleo  sobre  tela,  Lucas de  Heere,  c. 1570-1575. Imagem: National Museum Wales/ The Bridgeman Art Library/Glowimages.

Henrique Tudor não herdou a coroa da Inglaterra, ele a conquistou. Derrotou Ricardo III na Batalha de Bosworth Field, o último episódio da guerra travada durante 30 anos entre a casa real de Lancaster e a de York. A chamada Guerra das Rosas causou estragos nas famílias nobres do reino, de modo que Henrique Tudor acabou sendo o herdeiro da casa de Lancaster. Pelo lado da mãe, Lady Margaret Beaufort, Henrique pertencia aos Lancaster. Mas pelo lado do pai, o galês Edmund Tudor, ele não tinha nenhum sangue Plantageneta. Buscando antepassados gloriosos, Henrique diria ser descendente de Cadwaladr, filho de Cadwallon, poderoso rei galês do século VII, e reivindicaria o legado do lendário rei Artur, ancorando assim as raízes Tudor no mais antigo solo inglês.

O verdadeiro fundador da casa de Tudor foi Owen, um jovem senhor galês, bonito, corajoso e inteligente, que se tornara famoso por seu romance com Catarina de Valois, viúva de Henrique V, e pelo importante papel que desempenhou na Guerra das Rosas. Owen e Catarina tiveram cinco filhos, entre os quais Edmund, pai de Henrique VII. Mas, apanhado pelo turbilhão sangrento da guerra fratricida, Edmund Tudor morreu antes do nascimento do filho. Henrique foi educado, instruído e treinado na arte da guerra por seu tio Jasper, conde de Pembroke, que fora o arquiteto da conquista da Inglaterra e do País de Gales pelos Lancaster.

O Parlamento o recebeu como um novo Josué, enviado por Deus para libertar o povo da tirania. Henrique Tudor, no entanto, estava consciente da fragilidade das suas pretensões à coroa. Sua linhagem era boa, porém havia quem estivesse mais perto do trono do que ele. Por precaução, ele mandou levar para a Torre de Londres Eduardo, conde de Warwick, um menino simplório de 10 anos de idade, fi lho de George de York, duque de Clarence. Prudente, escolheu como conselheiros homens de valor selecionados entre os York e entre os Lancaster, e, para consolidar a legitimidade da sua descendência, casou-se com Elizabeth de York, a fi lha mais velha de Eduardo IV. Teriam sete filhos, dos quais quatro sobreviveriam: Arthur (1486-1502), Margareth (1489-1541), Henrique (1491-1547) e Mary (1496-1533). A descendência da dinastia estava garantida.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Saiba tudo sobre os fenícios e sua importância para o comércio



Globalização antiga. Imagem: Revista Aventuras da História.

A partir do Líbano, os fenícios dominaram o comércio do Mediterrâneo por séculos. Em Cartago, descobriram a guerra. Fundaram um império, mas acabaram erradicados da História.

Por mais de mil anos, os fenícios foram o shopping center ambulante da Antiguidade. Se algo pudesse ser vendido, eles vendiam: vinho, azeite, móveis, joias, ferramentas, armas, tecidos, peles, escravos e, por uma taxa especial, seus serviços como os melhores marinheiros do mundo. Entre 1200 a 730 a.C., sua rede conectava povos da Inglaterra até a Grécia e com ela também viajou sua grande invenção: o alfabeto, que deu origem ao grego, latim, hebraico e árabe.

Os fenícios originais não eram muito de guerra – preferiam fundar colônias com a permissão dos habitantes locais, sem avançar para o interior. Mas uma colônia fenícia mudou tudo: Cartago se tornou um verdadeiro império, e por pouco não pôs abaixo o futuro Império Romano. Como a criatura superou o criador e como ambos foram varridos da História é o que veremos a seguir.

Fenício? Que fenício?


Originários do que é atualmente o Líbano, a própria geografia empurrou os fenícios para o mar. A cadeia de montanhas que forma o monte Líbano limita a habitação humana à costa. Ao sul e ao norte, impérios bloqueavam o caminho. Partindo das cidadesestado de Tiro, Sidon e Biblos, as primeiras colônias foram em ilhas próximas, como Chipre e Malta. 

Aliás, não existia isso de “fenício” para os próprios fenícios. “A Fenícia não existiu como entidade política unificada até os romanos fazerem uma província com esse nome, milhares de anos depois”, afirma o historiador Richard Miles, da Universidade de Sidney, na Austrália. O nome vem do grego e era um apelido: a palavra phoinix quer dizer algo como “os roxos”, por causa de um dos seus principais produtos, os tecidos tingidos de roxo. “Eles provavelmente chamavam a si próprios de cananeus. Foram os gregos que os agruparam como fenícios”, diz Miles.

Canaã designava mais que apenas as terras dos ditos fenícios, era toda a região entre o sul da Síria e a Palestina, habitada também por outros povos, como os hebreus e os filisteus – cuja história, de fato, se confunde com a deles. “Até 1200 a.C., não havia diferença entre a história das cidades do litoral e do interior. Ou seja, nós temos uma civilização sírio-palestina, não fenícia. É só com a independência das cidades-estado (que já existiam) que começa a história fenícia propriamente dita”, afirmou o historiador italiano Sabatino Moscati (1922-1997) em The Phoenicians (sem tradução).

O que fez surgir o comércio fenício foi o chamado colapso da Idade do Bronze, que ocorreu por volta de 1200 a 1100 a.C.. Por motivos não muito claros, grandes civilizações como egípcios, gregos micênicos e hititas entraram em rápida decadência. O vácuo de impérios permitiu às cidadesestado uma independência inédita, que propiciou o surgimento de sua rede comercial. No começo, os fenícios ofereciam os produtos de sua própria região para os vizinhos: madeira de cedro-do-líbano, o mesmo material do qual seus barcos eram feitos, e tecidos pintados com extrato dos caramujos do gênero Murex, de um púrpura belo e intenso.

Conforme novos povos entravam em sua rede comercial, os fenícios os apresentavam a produtos de outros povos que conheciam. Assim eles passaram a vender vinho grego aos egípcios, e papiro egípcio aos gregos – a palavra “byblos” passou a significar “papiro” em grego por que eram os comerciantes de Biblos que os supriam com o material. Com o tempo, “biblos” passou a querer dizer também o conteúdo do papiro, isto é, o livro – daí as palavras biblioteca e Bíblia.

Dependendo de remos quando o vento não ajudava, os navios fenícios não tinham muita autonomia e faziam rotas próximas à costa, com paradas constantes. Assim, eles estabeleceram mais de 300 colônias, normalmente meras vilas costeiras de menos de mil habitantes. Essas vilas não eram possessões coloniais no sentido moderno – eram estabelecidas com o consentimento dos moradores da região e não tinham zona rural, dependendo dos locais para suprir-lhes alimentos. Era mais um free shop que colônia, num modelo que os portugueses repetiram 2 mil anos depois com suas feitorias asiáticas.
A grande exceção ao modelo fenício era Cartago, que tinha territórios no interior, e passou a ser o entreposto principal. Localizada na atual Tunísia, ficava no meio do caminho para as rotas que vinham da Espanha, e próxima da Sardenha e Sicília.

O preço da paz

A independência e prosperidade vinham a um custo – em espécie. O método fenício de sobrevivência era basicamente pagar pela paz. Sem um grande exército e sem qualquer aliança durável entre as cidades-estado, eles sobreviviam por causa de sua conveniência para os impérios vizinhos. Com a imensa fortuna de sua rede de comércio, aplacavam a ira dos conquistadores com tributos. Assim eles sobreviveram ao novo reino do Egito (1550-1069 a.C.) e o reino de Israel (1030-930 a.C.), que os tornaram vassalos – “protegidos” mediante pagamento.