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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O mal e o belo: os artistas e as doenças.

As doenças - assim como a paixão, a felicidade, o infortúnio e a solidão - influenciam a vida de todo mundo. Mas, quando atingem artistas geniais, elas podem inspirar algumas de suas melhores criações.

Vincent Van Gogh, auto-retrato 1887
Por Sérgio Miranda

Uma crise de apendicite foi responsável pelo surgimento de um dos mestres da pintura. A depressão de um jovem artista ajudou-o a criar um novo movimento artístico. Problemas neurológicos permitiram a outro superar os limites da própria consciência e criar cores impensáveis. A história está cheia de exemplos da relação entre a arte e as doenças que acometeram os artistas. E de como elas ficaram refletidas – e muito mais bonitas – em suas criações.

Embora seja possível que sempre tenha sido assim, só no século 19 filósofos e artistas insatisfeitos com os limites da “arte como imitação” (ou representação) lançaram a teoria da “arte como expressão”. Desse modo, o foco para a compreensão da arte deslocou-se do objeto para o artista, da criação para o criador. É a partir daí que, pelo menos para a crítica de arte, passou a ser importante o que o artista sentia. E, às vezes, como todo mundo, ele sentia dor.

“As doenças influenciam a forma como o indivíduo se relaciona consigo mesmo e com o mundo, e muitas delas podem estimular o potencial de cada um”, diz a professora Leila Cury Tardivo, do departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da USP. “Diante do sofrimento, o artista ganha uma força de sublimação e sua arte pode ajudá-lo a discutir, compreender e conviver com a própria doença.”

Alguns superaram o mal sem que isso aparecesse em sua obra, como Antônio Francisco Lisboa (1730-1814), conhecido como Aleijadinho, que sofreu de uma doença degenerativa (não se sabe ao certo se sífilis, escorbuto, hanseníase ou reumatismo), sem que isso refletisse em suas esculturas. Outros acusaram o golpe de forma sutil, como o espanhol Francisco Goya (1746-1828), cuja pintura variou de graciosa para trágica depois que o artista perdeu a audição aos 46 anos de idade. O norueguês Edvard Munch (1863-1944) começou a pintar aos 17 anos, depois que sua mãe e uma irmã morreram de tuberculose, e colecionou tragédias (seu pai e um irmão morreram e outra irmã foi internada em um hospital psiquiátrico) antes que completasse 30 anos e pintasse seu quadro mais famoso: O Grito, uma mistura de dor, desespero e tinta a óleo.

Henri e Henry

Na exuberante Paris do final do século 19, o infortúnio atingiu a rica família burguesa do conde Alphonse. No dia 30 de maio de 1878, então com 13 anos de idade, o pequeno Henri tentou pular uma cadeira em seu quarto, tropeçou e quebrou a perna esquerda. A recuperação foi lenta e não tinha terminado quando o menino saiu para uma caminhada e caiu depois de pisar em um buraco: quebrou a direita. Nunca mais ele foi o mesmo. Dono de um talento natural para o desenho, Henri Toulouse-Lautrec chegou à idade adulta com apenas 1,37 metro de altura e nunca esteve à vontade com isso. Superprotegido pela mãe, Adèle, sentia-se humilhado em seu meio social, não tinha amigos nem namoradas. “Por causa do trauma físico, abandonou a doce vida de menino rico e preferiu a companhia de outros excluídos, como jogadores, artistas e prostitutas”, afirma Daisy Peccinini, pesquisadora do Museu de Arte Contemporânea da USP. Passou a viver (chegou a morar, mesmo) em cabarés que eternizou em suas obras, como o Chat Noir e o Moulin Rouge. Mas a vida boêmia cobrou seu preço. Toulouse-Lautrec morreu aos 47 anos de idade, com a saúde debilitada pelo álcool e pela sífilis.

Numa manhã quente do verão de 1890, na cidade francesa de Le Cateau-Cambrésis, quando Héloise Gérars deixou a loja onde vendia sementes com o marido para visitar o filho acamado depois de uma cirurgia de apendicite, algo no mundo das artes estava para mudar. Com 20 anos, o outro Henri era estudante de direito em Paris, onde dividia seu tempo entre os livros, um escritório de advocacia e visitas ao Louvre.

Dona Héloise levou-lhe um estojo de pintura, tinta guache e alguns pincéis, e a França perdeu um advogado para ganhar um mestre das artes. Henri Matisse largou a faculdade para se dedicar à pintura e à escultura. Quando expôs no Salão de Outono de Paris, em 1905, aos 35 anos de idade, conquistou fama internacional como um dos mais inova-dores – e modernos – artistas de todos os tempos. Matisse morreu em 1954, aos 65 anos, de câncer no intestino.

Jackson e Vicent

Em 1912, enquanto Matisse renovava as cores da arte moderna ocidental, nascia do outro lado do Atlântico um homem que, marcado sobretudo pelo alcoolismo, revolucionaria a arte da expressão. O mais novo de cinco filhos, Jackson teve uma infância conturbada. Aos 10 anos de idade já havia morado em seis estados diferentes e ainda na escola envolveu-se com a bebida. Aos 16 anos começou a estudar arte, primeiro em Riverside, na Califórnia, de onde foi expulso após uma briga, e depois em Nova York.

Aos 25 anos, foi internado pela primeira vez para tratamento psiquiátrico, tentando livrar-se do alcoolismo. Várias internações se seguiram, sem que conseguisse deixar o vício. Reconhecido como um artista realmente original, Jackson Pollock deixou Nova York e, na época, admitiu que as tentativas de desintoxicação passaram a nortear sua produção, cada vez mais expressiva de suas angústias, ansiedades e depressões. “Pollock transformou os conceitos surrealistas com sua rebeldia e seu método de pintar. Ele não tinha paciência para o tradicional e ansiava por descobrir coisas novas”, diz Daisy.

Esse anseio acabou refletindo em sua pintura. Imensas telas eram esticadas no chão e ele deixava a tinta escorrer de latas furadas ou a espalhava usando pedaços de madeira ou escovas de dente. Tudo feito de maneira muito rápida e intuitiva. “Quando me encontro na minha pintura, não tenho consciência do que estou fazendo. Mas apenas quando perco o contato com ela é que o resultado é uma confusão. Do contrário, há pura harmonia”, escreveu o artista em 1947, citado pelo crítico americano Frank O’Hara no livro Jackson Pollock.

Aos 44 anos, Pollock voltava para casa embriagado depois de uma festa quando seu carro chocou-se com uma árvore. A morte foi instantânea.

Distúrbios psicológicos são comumente associados à criatividade, como se fossem indícios de genialidade ou mesmo condições necessárias para a manifestação artística. É possível que Theodore tenha pensado nisso quando encontrou aquele envelope. Impossível não reconhecer a letra do irmão, Vincent. Na carta, ele dizia que decidira instalar-se em Paris. Era 1880 e o holandês Vincent van Gogh acabara de sofrer uma crise nervosa. A ida a Paris era uma decisão importante. Ele deixaria para trás uma carreira religiosa e a família e apostaria tudo na arte. Havia decidido expressar seus sentimentos por meio da pintura.“Preferiria minha loucura à sabedoria dos outros”, escreveu. “Em Paris, seus quadros ganharam cores fortes que foram além da representação da natureza, expressando o estado do artista”, diz Daisy. Mas não parece que tenha conseguido a paz que almejou.

Em 1888, Van Gogh foi para Arles e convidou o amigo e artista francês Paul Gauguin para ir com ele. No mesmo ano, passou a sofrer de epilepsia, o que o deixou extremamente nervoso e sujeito a surtos psicóticos. Durante uma crise, discutiu com Gauguin e, no extremo de sua condição, cortou um pedaço da própria orelha.

Em 1889, foi internado no hospital de Saint-Remy para doentes mentais. Lá pintou paisagens, internos, pátios e médicos. Seus últimos quadros mostram fortes deformações da realidade. Seus trigais estão inquietos, os ciprestes trêmulos, as oliveiras retorcidas. Em 27 de julho de 1890, depois de pintar 70 quadros em poucas semanas, Van Gogh saiu para o campo que havia pintado dias antes com um revólver na mão. Deu um tiro no próprio estômago e, dois dias depois, aos 37 anos de idade, morreu.

Amedeo e Frida

A vida nunca foi fácil para o mais novo dos quatro filhos de Flaminio e Eugenia. A família lutava com muitas dificuldades em Livorno, Itália, e o pequeno Amedeo já ajudava no orçamento dando aulas particulares e fazendo traduções. Apesar da pobreza, seguiam uma tradição de interesses literários e filosóficos. Aos 14 anos, o caçula contraiu febre tifóide e teve que abandonar a escola, passando a dedicar-se ao estudo da arte. Dois anos depois caiu novamente doente, dessa vez com tuberculose.

Mas manteve-se firme no propósito de estudar arte. Foi para Florença e depois Veneza, onde tomou contato com artistas impressionistas e as esculturas de Rodin. Foi em Veneza também que Amedeo Modigliani rendeu-se ao hábito do haxixe. Em 1906, chegou a Paris e aderiu, apesar da saúde débil, à vida sensual e dissoluta dos artistas de Montmartre. Sob efeito da pobreza, consolado pelo vinho e pelas drogas, Modigliani passou a pintar retratos. Pintava pescoços alongados e rostos e olhos mortiços, inteiramente azuis ou cinza.

Em 1919, a tuberculose o atacou de forma aguda e Modigliani pintou seu único auto-retrato, em que aparece vestindo sobretudo e cachecol. As mãos finas e frágeis acompanham o rosto magro de olhos vazados. Poucos meses depois, em 24 de janeiro de 1920, morreu aos 35 anos de idade.

Modigliani talvez pudesse ter cuidado melhor da saúde. Muitos não têm essa chance. A mexicana Frida Khalo teve poliomielite aos 6 anos. Com o pé direito ligeiramente deformado, ela seguiu uma vida normal e ingressou na Escola Nacional Preparatória em 1922. Atraída para as artes pelo maior pintor mexicano, Diego Rivera, conseguiu emprego como aprendiz, em 1925. No mesmo ano, sofreu uma grave lesão na coluna em um acidente de trânsito.

No mês em que ficou no hospital, apesar de amparada em talas de gesso e com os movimentos limitados, fez as primeiras tentativas na pintura. Quando foi para casa, sua mãe providenciou para que a cama fosse adaptada para permitir a ela pintasse.

Em 1930, já casada com Rivera, sofreu um aborto. E outro, em 1932. Em 1934 teve nova gravidez interrompida e os dedos do pé doente amputados.

Apesar das limitações físicas, Frida Khalo continuou participando de exposições e lecionando. Em 1944, pintou A Coluna Partida. Três anos depois teve a coluna vertebral operada e permaneceu meses imobilizada. Em 1950 passou por mais sete cirurgias: mais nove meses no hospital. Em 1953, quando foi organizada sua primeira exposição individual, ela compareceu instalada numa cama, ao lado de suas telas. No mesmo ano teve a perna direita amputada até o joelho.

Ainda em 1953, Frida Khalo tentou o suicídio. No ano seguinte, desafiou os conselhos médicos e, apesar de uma infecção pulmonar, participou das manifestações contrárias à intervenção americana na Guatemala. Morreu logo depois, em julho, aos 47 anos.

Só dói quando eu escrevo

Para alguns escritores, o declínio da saúde pode ter despertadouma nova sensibilidade
Leandro Sarmatz

“O mais prático dos sóis, / o sol de um comprimido de aspirina.” Quem escreveu esses versos não foi um publicitário a soldo da indústria farmacêutica, mas o poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999). Vítima de enxaqueca por décadas, João Cabral tomava o comprimidinho branco como quem chupa dropes de hortelã.

Nem todos tiveram o sangue-frio e a ironia do autor de Morte e Vida Severina. Para grandes nomes da literatura, experimentar a dor e a degradação física significou penetrar em um mundo diferente. Em alguns casos, a provação foi demais. Noutros, a doença os fez descobrir um outro tipo de sensibilidade e talvez tenha até influenciado suas obras. Há estudiosos capazes de jurar que o estilo frondoso de Marcel Proust (1871-1922) nas quase 3 mil páginas de Em Busca do Tempo Perdido seja conseqüên-cia direta da asma. Encerrado num quarto forrado com cortiça durante vários anos, Proust fez o retrato da fina flor parisiense entre crises que o obrigavam a passar longos períodos afastado do mundo. Os críticos dizem que, se não fosse a doença, Proust teria sido apenas mais um esnobe da aristocracia da Cidade Luz.

Pulmões, aliás, parecem ser o calcanhar-de-aquiles de vários autores. Entre a metade do século 19 e o início do 20, a tuberculose ceifou dezenas de poetas e ficcionistas. O bacilo de Koch assombrou a existência de vários autores românticos, inspirando poemas melancólicos, liris-mo saudosista e elegias a granel. A cons-ciência da brevidade da vida forçava escritores mal saídos da adolescência a uma espécie de maturidade forçada. Por volta de 1870, o impacto da doença entre poetas europeus e latino-americanos era devastador. Como os britânicos lorde Byron e John Keats e os brasileiros Castro Alves e Álvares de Azevedo – todos invariavelmente boa-pinta, talentosos e com muito ainda a oferecer para as letras –, que feneceram como flores do jardim das musas.

Mas a ciranda fatal de tosse, fraqueza e catarro escarlate não foi exclusividade da geração “mal do século”. Ainda no século 20, o checo Franz Kafka (1883-1924), autor de A Metamorfose, teve a doença diagnosticada no período mais produtivo de sua carreira. Durante os sete anos entre a descoberta da tuberculose e a morte num sanatório austríaco, Kafka deixou alguns de seus melhores contos e textos biográficos que, por sua lucidez quase sobre-humana, só poderiam ter sido escritos por alguém que estivesse com um pezinho no outro mundo (qualquer que seja!).

Contemporâneo de Kafka, o irlandês James Joyce (1882-1941) presenciou o gradativo ocaso de sua acuidade visual. Vítima de glaucoma (pressão ocular), o autor de Ulysses já não enxergava quando completou Finnegans Wake, talvez o romance mais enigmático da história. Já se aventou a possibilidade de a atmosfera sombria do livro ter estreita relação com a doença de Joyce. Para um escritor, perder a visão pode parecer o mesmo que o Ronaldinho ter a perna amputada. Mas para o argentino Jorge Luis Borges (1899-1986) a cegueira não significou o ocaso da carreira. Dono de uma memória proverbial, Borges compunha textos de cabeça e depois pedia para transcrevê-los no papel. Mas essa forma de “escrever” teve pelo menos uma conseqüência danosa: seus contos tornaram-se simples e até esquemáticos – ao contrário da sofisticação da época em que o autor de O Aleph enxergava.

Cândido

Um dos maiores artistas brasileiros morreu intoxicado pelo amarelo

A dor enfrentada pelo artista pode estar presente em sua obra. Mas, às vezes, é a própria arte o motivo da dor. Um dos mais importantes artistas brasileiros, o filho de imigrantes italianos Cândido Portinari, expressava através da pintura as dores sociais do país e do mundo à sua volta. Desde Despejados, de 1934, ele soube mostrar a força expressiva dos tipos humildes, coti-dianos e verdadeiros. Seu trabalho marcou uma produção nacional independente e rapidamente alcançou reconhecimento internacional. Portinari era apaixonado pela pintura e pela cor.

Em 1954, no entanto, essa dedicação seria colocada à prova. Enquanto realizava os painéis Guerra e Paz – encomenda do governo brasileiro que hoje ocupa a sede da ONU, em Nova York –, Portinari começou a ter crises respiratórias e foi internado para testes e exames. Os médicos detectaram uma intoxicação causada pelo elevado índice de chumbo contido nas tintas que usava, particularmente num tipo de amarelo, e recomendaram que o artista passasse um tempo sem pintar. A biografia do artista publicada pelo Projeto Portinari conta que o artista reclamou à amiga e escritora Dinah Silveira de Queiroz: “Imagine! Não posso mais pintar. Estou proibido de viver!”

Por um tempo, Portinari dedicou-se ao desenho, compôs a série Dom Quixote em 1956, e passou a escrever memórias e poemas. Mas, mesmo em menor escala, continuou a pintar.

Em 1961, o artista sofreu diversas crises e alternou períodos de repouso com outros de trabalho entusiasmado. No ano seguinte, enquanto preparava uma exposição em Milão, descuidou-se da saúde e das recomendações médicas e voltou a usar os amarelos proibidos. O escritor português José Cardoso Pires escreveu sobre esse momento, no livro E Agora, José?: “O veneno das tintas lhe tinha corrompido o sangue, e ele sabia-o. O óxido das cores circulava nele como uma silicose de artesão, era o seu secreto respirar. E indo assim, em irmandade com a morte”. O estado de saúde do artista se agravou na madrugada de 6 de fevereiro de 1962. Portinari morreu no mesmo dia, às 23h40, no Rio de Janeiro.

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Brasil pré-histórico teve troca de povos.

Ossadas encontradas no Piauí indicam que populações negroides e mongoloides conviveram na região entre 5 e 8 mil anos atrás.

Esqueletos localizados no Piauí revelam que povos de diferentes origens podem ter vivido no país há milhares de anos

Por Heloísa Broggiato

Um enigma para os antropólogos que estudam as populações pré-históricas pode estar chegando ao fim. Até agora não se entendia como os índios brasileiros apresentam características físicas típicas de povos mongóis, se há 11 mil anos vivia no Brasil uma população com traços negroides – como atesta a famosa ossada de Luzia, o mais antigo fóssil humano encontrado nas Américas.

No entanto, prospecções feitas nos últimos anos pela Fundação Museu do Homem Americano (Fundham) no Piauí encontraram esqueletos de adultos e fragmentos de ossos humanos queimados revelando que uma população com características mongoloides habitava a região entre 5 e 8 mil anos atrás. Teria ocorrido, portanto, uma troca de populações.

A arqueóloga Gisele Daltrini Felice, uma das responsáveis pelas descobertas no sudoeste do Piauí, ressalta que serão realizados estudos específicos de antropologia física em todos os esqueletos humanos encontrados. Ela explica que a importância dessas descobertas é a possibilidade de se verificar o tipo físico e conseguir dados sobre ritos funerários para identificar como se comportavam os diferentes grupos que ocuparam a região. O local dos achados não poderia ter nome mais adequado: Serra das Confusões.

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Alemanha bane retratos de embaixadores da era nazista.

Bandeira da Alemanha

BERLIM (Reuters) - O Ministério de Relações Exteriores da Alemanha disse na quarta-feira que decidiu retirar de sua sede e de suas embaixadas todos os retratos de embaixadores anteriores a 1951, a fim de eliminar associações com a era nazista.

Sobreviventes do Holocausto elogiaram esse "sinal simbólico da moral moderna da Alemanha e de maturidade política", no dizer de Elan Steinberg, vice-presidente da Congregação Americana de Sobreviventes do Holocausto e seus Descendentes.

A decisão foi tomada após a publicação de um livro que revela que o ministério teve um papel mais importante no Holocausto do que se imaginava.

"A intenção é apenas incluir retratos de diplomatas enviados ao exterior desde que o Ministério do Exterior foi restabelecido, em 1951, como já é o caso na sede do Ministério do Exterior", disse um porta-voz.

Ele acrescentou que retratos de embaixadores pós-1951 que tenham tido um passado nazista serão acompanhados de legendas explicativas.

(Reportagem de Michelle Martin)

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Pequeno terópode pode ser antecessor dos T-rex.

Com os mesmos hábitos e comportamentos o Raptorex kriegsteini era um T-rex em miniatura.

Nesta imagem, o crânio do Raptorex é comparado com o crânio de um T. rex adulto.

Milhões de anos antes do primeiro Tyrannosaurus rex existir e aterrorizar todos os dinossauros, a espécie Raptorex kriegsteini possuía todas as características próprias de um tiranossauro, porém, em miniatura.

Pesando cerca de 1% da massa corpórea do grande terópode (T-rex), os Raptorex eram exímios caçadores e tinham a mesma forma bípede de locomoção, os mesmos braços curtos e o mesmo faro aguçado de seus grandes e assustadores “primos”. Apesar de ser um dinossauro bem menor que o T-rex, tinham quase três metros de comprimento e pesavam cerca de 80 kg. Provavelmente conseguia caçar mamíferos de até 2 metros e meio.

"Não há outro exemplo melhor sobre a evolução dos grandes Tyrannosaurus rex, esse dinossauro era um “projeto” 100 vezes menor do que acabaria se tornando milhões de anos depois", explica Paul Sereno, paleontólogo da University of Chicago, em uma declaração preparada. Ele e outros cinco co-autores descrevem o novo carnívoro em um artigo recentemente publicado na revista Science.

Nesta imagem, o crânio do Raptorex é comparado com o crânio de um T. rex adulto.

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Língua de 4000 anos volta a ser falada.

Tablete número 11 do Épico de Gilgamesh.

O som de uma das línguas da antiga Mesopotâmia pode ser ouvido pela primeira vez em 2000 anos. Estudiosos da Universidade de Cambridge disponibilizaram na internet gravações de leituras de poemas escritos em acadiano, idioma usado por habitantes da Babilônia e da Assíria mais de um milênio antes do início da era cristã e que, segundo estimativas, desde o ano 500 a.C. deixou de ser falado.

Os documentos transcritos pelos especialistas – em geral tabletes de barro com inscrições em escrita cuneiforme – vão de trechos do famoso Código de Hammurabi, um dos primeiros sistemas de leis do mundo, a hinos compostos pelo soberano Ammi-Ditana à deusa Ishtar, cultuada entre os antigos babilônios. Os textos foram encontrados ao longo de décadas em escavações no Iraque, na Síria, na Turquia e no Irã.

Os estudiosos conseguiram desvendar parte dos fonemas acadianos comparando as inscrições mesopotâmicas com alguns documentos escritos em idiomas mais familiares para os linguistas, como o grego, o aramaico ou o hebraico. As semelhanças entre certos símbolos e letras permitiram aos pesquisadores deduzir parcialmente como esses poemas eram lidos, mas não resolveram todos os problemas: vários dos textos selecionados possuem mais de uma versão, o que mostra que ainda há debates sobre como essa língua perdida era de fato falada pelos antigos.

O professor Martin Worthington, pesquisador da Universidade de Cambridge, da Escola de Estudos Africanos e Orientais de Londres e autor do livro Teach yourself complete Babylonian, ainda inédito no Brasil, afirmou que conforme o trabalho dos estudiosos for avançando, novas leituras serão colocadas no site. O endereço conta, por enquanto, com cerca de 30 leituras de poemas, todas feitas pelos próprios professores envolvidos no projeto.

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terça-feira, 23 de novembro de 2010

A Origem do Halloween

O nosso Halloween nasceu na Antiguidade Festa do Dia das Bruxas foi criada pelos celtas há mais de 2000 anos para homenagear os espíritos de seus antepassados

No próximo domingo, dia 31 de outubro, diversos países vão comemorar o Halloween. A festa, importada há algumas décadas dos Estados Unidos, ganha cada vez mais popularidade entre nós brasileiros e a cada ano que passa movimenta parcelas maiores do mercado. No entanto, se engana que pensa que a origem do “Dia das Bruxas” é americana: as raízes mais profundas da comemoração remontam à Antiguidade.

Sabe-se que os primeiros a realizar uma celebração semelhante à que conhecemos hoje foram os celtas. Esse povo, que viveu há cerca de 2000 anos onde atualmente estão a Irlanda, a Inglaterra e o norte de França, comemorava o seu ano novo no dia 1º de novembro, data que marcava o fim do verão, o término da colheita e o início de um rigoroso inverno. Por conta disso, a passagem do ano era associada com o início de um período sombrio, gélido, e na noite de 31 de outubro os celtas realizavam um festival chamado Samhain (se pronuncia “sow-in”). Nesse dia, acreditava-se que a fronteira entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos era desfeita, e as almas dos antepassados caminhavam sobre a Terra. Era justamente nesse dia que os druidas, espécies de “feiticeiros” celtas, aproveitavam a influência dessas presenças espirituais para realizar previsões sobre o próximo ano e a colheita vindoura.

Em meados da década de 40 da era cristã, os romanos já haviam conquistado a maior parte do território celta. Pelos 400 anos seguintes, essas regiões seriam dominadas pelo império dos césares, que promovia um festival muito semelhante à tradição do Samhain, chamado Feralia. Nesse dia, sempre no final de outubro, os romanos celebravam a passagem dos mortos para a outra vida. O convívio entre os dois povos fez com que os costumes se misturassem e incorporassem elementos em comum.

Durante a Idade Média, o catolicismo aumentou sua influência sobre as regiões do antigo Império Romano e reprimiu ou “cristianizou” antigas práticas pagãs. Com o Feralia – ou Samhain – não foi diferente: no século IX, o papa Bonifácio IV determinou que o dia 1º de novembro, antigo ano novo celta, seria o “Dia de Todos os Santos”. Ou seja, em vez de celebrar as almas dos antepassados em rituais e festividades nada ortodoxos, a população deveria venerar os mártires cristãos.

Também foi nesse período que surgiu o nome que a festa assumiu hoje: a data foi nomeada, em um tipo de inglês arcaico, de All-hallows ou All-hallowmas, um derivado de Alholowmesse, que significa all saints’ day (“Dia de Todos os Santos” em inglês). Assim, a noite anterior à festa, ou seja, dia 31 de outubro, passou a ser chamada de All-hallows Eve (referência a evening, que significa “noite” em inglês), o que se transformou, ao longo dos séculos, na forma moderna Halloween.

O resto da história já é um pouco mais conhecida: o festival desembarcou na América com os colonizadores ingleses e ganhou popularidade ao longo das décadas, assumindo um caráter de “confraternização entre vizinhos”. O “Dia das Bruxas” ganhou características modernas, como as fantasias ou a prática do “doce-ou-travessura”, mas, ainda assim, algumas de suas brincadeiras típicas mantêm relação com rituais de mais de 2000 anos.

O Apple bobbing, competição comum nos Estados Unidos que consiste em pegar maçãs de uma bacia cheia d’água usando somente a boca, provavelmente tem relação com a Feralia romana: o “Dia das Bruxas” do tempo dos césares coincida com as comemorações em homenagem à deusa Pomona, guardiã das árvores e das frutas, cujo símbolo é a maçã. Assim, vários ritos e jogos praticados por séculos envolveram a fruta, o que acabou derivando a brincadeira atual. Outra mostra de que os nossos “rituais” podem esconder muito mais história do que aparentam.

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