A Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha foi a mais longa rebelião do período regencial do Brasil. Ocorreu no Rio Grande do Sul e durou quase dez anos, de 1835 até 1845, época que compreende a regência de Feijó e o Segundo Reinado. O termo “farrapo” se referia aos trajes maltrapilhos que o exército rebelde usava. A revolta foi mobilizada pelos grandes proprietários de terra do Rio Grande do Sul, insatisfeitos com os altos impostos cobrados pelo governo imperial sobre seus produtos. Por isso, constataram que a separação e a república seriam uma forma de obter liberdade comercial e política. Os negros escravizados também foram recrutados para lutar, sob a promessa de liberdade, no caso de vitória na guerra contra o império. A Revolução Farroupilha se encerra com o Tratado de Poncho Verde, em 1º de março de 1845.
Eclodiu em 1835, no Rio Grande do Sul, a Guerra dos Farrapos, ou Farroupilhas. “Farrapos” e “farroupilhas” são expressões sinônimas, que significam “maltrapilhos”, “gente vestida com farrapos”. Elas pareciam ter-se referido inicialmente aos trajes usados por Cipriano Barata nas ruas de Lisboa, com o acréscimo de um chapéu de palha. Assim, ele se distinguia dos portugueses como se fosse um matuto brasileiro. Os adversários dos farrapos gaúchos deram a eles esse apelido para depreciá-los. Mas a verdade é que se suas tropas podiam ser farroupilhas, os dirigentes pouco tinham disso, pois representavam a elite dos estancieiros, criadores de gado da província. O nome farroupilha, vem da expressão farroupa, aplicada pela primeira vez em meados de 1700, designava agricultores e criadores de gado que usavam roupas gastas e simples. Ela foi assimilada pelos revolucionários gaúchos, mesmo que não se vestissem se trapos, pois eram ricos estancieiros.
O Rio Grande do Sul era um caso especial entre as regiões brasileiras, desde os tempos da Colônia. Por sua posição geográfica, formação econômica e vínculos sociais, os gaúchos tinham muitas relações com o mundo platino, em especial com o Uruguai. Os chefes de grupos militarizados da fronteira, os caudilhos, que eram também criadores de gado, mantinham extensas relações naquele país. Aí possuíam terras e se ligavam pelo casamento com muitas famílias. Por outro lado, a economia rio-grandense, do ponto de vista da destinação de seus produtos, estava tradicionalmente ligada ao mercado interno brasileiro. A criação de mulas teve importante papel no transporte de mercadorias no Centro-Sul do país, antes da construção das ferrovias. No período de renascimento agrícola das últimas décadas do século XVIII, colonos vindos dos Açores plantaram trigo no Sul, consumido nas outras regiões do Brasil. Quando foi proclamada a Independência, em 1822, esse período de expansão do trigo já se encerrara, devido às pragas e a concorrência americana, mas os vínculos com o resto do país permaneceram.
A criação de gado se generalizou, na região, assim como a transformação da carne bovina em charque (carne-seca). O charque era um produto vital, destinado ao consumo da população pobre e dos escravos do Sul e do Centro-Sul do Brasil. Criadores de gado e charqueadores formavam dois grupos separados. Os criadores estavam estabelecidos na região da Campanha, situada na fronteira com o Uruguai. Os charqueadores tinham suas indústrias instaladas no litoral, nas áreas das lagoas, onde se concentravam cidades como Rio Grande e Pelotas. Criadores e charqueadores se utilizavam de mão de obra escrava, além de trabalhadores dependentes deles.
As queixas do Rio Grande do Sul contra o governo central vinham de longe. Os gaúchos achavam que, apesar da contribuição da província para a economia brasileira, ela era explorada por um sistema de pesados impostos.
As reivindicações de autonomia, e mesmo de separação, eram antigas e feitas, muitas vezes, tanto por conservadores como por liberais. A Regência e o Ato Adicional não abrandaram as queixas. As províncias que não podiam arcar com todas as suas despesas recebiam recursos do governo central provenientes em parte de outras províncias. Isso acontecia antes do Ato Adicional e continuou a acontecer depois dele. O Rio Grande do Sul mandava, seguidamente, fundos para cobrir despesas de Santa Catarina e de outras regiões.
Entretanto, a revolta não uniu todos os setores da população gaúcha. Ela foi preparada por estancieiros da fronteira e algumas figuras da classe média das cidades, obtendo apoio principalmente nesses setores sociais. Os charqueadores que dependiam do Rio de Janeiro — maior centro consumidor brasileiro de charque e de couros — ficaram ao lado do governo central. Além das queixas gerais já apontadas, os estancieiros tinham razões próprias de descontentamento. Eles pretendiam acabar com a taxação de gado na fronteira com o Uruguai ou reduzi-la, estabelecendo a livre circulação dos rebanhos que possuíam nos dois países. Além disso, como já estavam organizados militarmente com seus pequenos exércitos particulares, baseados em uma chefia indiscutível, consideravam uma novidade perigosa a criação da Guarda Nacional, com cargos eletivos de oficiais.
Os farrapos contaram com o concurso de alguns oficiais do Exército, chegados recentemente ao Rio Grande do Sul, entre eles João Manuel de Lima e Silva, irmão de um dos primeiros regentes e tio de Caxias. Nas fileiras dos revoltosos, destacaram-se pelo menos duas dezenas de revolucionários italianos refugiados no Brasil, sendo o mais célebre deles Giuseppe Garibaldi. A figura mais importante do movimento foi Bento Gonçalves, filho de um rica estancieiro, com larga experiência militar nas guerras da região. Ele organizou lojas maçônicas na fronteira e usou o serviço postal dos maçons como alternativa para sua correspondência secreta. Estendeu, assim, à fronteira as sociedades maçônicas que proliferavam em todo o Rio Grande. A luta foi longa e baseada na ação da cavalaria. Garibaldi e Davi Canabarro levaram a guerra para o norte da província, assumindo por uns tempos o controle de Santa Catarina. Na região gaúcha dominada pelos rebeldes, foi proclamada na cidade de Piratini, em 1838, a República de Piratini cuja presidência coube a Bento Gonçalves. A República não existiu apenas no papel, mas teve uma existência real, incluindo o estímulo à criação de gado e à exportação de charque e de couros.
Os Conflitos Farroupilhas
A Guerra dos Farrapos foi promovida pela classe dominante gaúcha. Constituída de estanceiros que eram os donos de grandes propriedades rurais, gado e negros escravizados. Indignados com os elevados impostos territoriais, além de altas taxas sobre as exportações de charque, couro e sebos. Os estanceiros protestavam, pois o charque gaúcho devia pagar 25% de impostos enquanto o uruguaio pagava somente 4% para ser vendido no Rio de Janeiro. Também havia um ressentimento contra o governo imperial que sempre recrutava homens e cavalos para as lutas com os territórios fronteiriços, mas pouco beneficiava a sociedade local.
Você quer saber mais?
BORIS, Fausto. História do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004.
RIBEIRO, Celia. O Jornalista farroupilha. Porto Alegre: Libretos, 2012.
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