Pioneiro na criação de
sacis, município paulista de Botucatu encontrou uma maneira divertida de lidar
com o mito brasileiro.
Neste 31 de outubro, muitas
cidades brasileiras comemoram o Halloween. A festa, originária da cultura
celta, veio parar no Brasil por influência principalmente dos Estados Unidos.
Muitos brasileiros, entretanto, ficam arrepiados só de pensar nisso. Não pelas
típicas bruxas e abóboras iluminadas, mas porque eles acreditam que os mitos
brasileiros são tão ou mais ricos do que os importados, como é o caso do
nacionalmente conhecido saci-pererê.
O Brasil tem até mesmo um
projeto de lei para transformar a data em “Dia
do Saci e seus Amigos”. Uma das associações mais atuantes na defesa da
personagem é a Sociedade dos Observadores de Saci (Sosaci), de São Luiz do
Paraitinga (SP). Mas foi outra cidade paulista, Botucatu, situada na região das
“cuestas”, a pioneira na criação. A Associação Nacional dos Criadores de Sacis
(ANCS) existe desde 1981 e conta com cerca de 100 associados.
Muita gente deixou de
acreditar em saci – personagem imaginário do interior do Brasil, ora visível,
ora invisível. Virou coisa do passado. Mas, na região de Botucatu, interior de
São Paulo, eles voltaram a aparecer – com pito no canto da boca e carapuça
vermelha. Dar nó em crina de cavalo, bagunçar as roupas estendidas no varal,
sumir com óculos e ferramentas, coalhar o leite e desandar o doce são suas
estripulias prediletas. E tudo culpa do engenheiro José Oswaldo Guimarães, 39
anos, que foi buscar dois casais de sacis em Itajubá, sul de Minas Gerais, e
obteve permissão para “criá-los” no sítio de um amigo. “Os sacis andavam
sumidos de Botucatu por causa do desenvolvimento. Com a urbanização e a luz
elétrica, muitos morreram ou fugiram. Eles odeiam a claridade”, explica Guimarães,
sério como se criar sacis fosse a coisa mais normal do mundo. Para ele, de fato
é. Guimarães preside a curiosa Associação Nacional dos Criadores de Saci.
Fundada há dez anos, com sede em Botucatu, tem o objetivo de resgatar o hábito
de contar histórias.
“Quando o trabalho começou
houve uma série de resistência”, diz o presidente da associação, José Oswaldo
Guimarães, um gerente de telecomunicações que está com os criadores desde o
começo. “Hoje, o saci tem movimentado a economia rural da cidade”, explica.
Para quem não sabe, o saci é um animalzinho, um pequeno primata da fauna
brasileira que estava quase em extinção, sobretudo na em Botucatu, quando
Oswaldo soube que ainda havia animais vivendo na região de Itajubá (MG). Ele
foi até lá e, a muito custo, conseguiu levar dois casais dos bichinhos para
serem criados livremente nas matas botucatuenses.
“Ele fica solto nas matas e reservas de
Botucatu para que não haja uma visitação intensa ao local”, explica Oswaldo,
temendo o risco que um turismo desenfreado possa trazer aos animais. A
estratégia deu certo e hoje Botucatu tem 60 animais recenseados, o que tem
provocado uma pequena transformação na economia da cidade, cuja produção
agrícola está baseadas nas plantações de laranja, na silvicultura e na
pecuária. “Muitas pessoas estão investindo em suas chácaras e sítios para
tornar os ambientes propícios ao saci”, diz Oswaldo. Tanto, que, desde 2001,
sempre no mês de outubro, a Secretaria de Turismo da cidade realiza o “Festival
do Saci”.
Oswaldo
acha perfeitamente natural que o saci seja conhecido como um menino negro de
capuz vermelho e uma perna só. “Houve uma série de mudanças, o próprio mito vai
recebendo informações”, diz. “O povo negro, grande contador de histórias,
acrescentou elementos à personagem, uma figura que zombava dos brancos e era
totalmente livre”, explica.
A associação não gosta muito
da ideia de sobrepor o mito brasileiro ao norte-americano. “Acaba reforçando o
dia do Hallowen e nós achamos que essa energia deveria ser canalizada para
fortalecer o mito do saci. Eu não consigo fazer um movimento que seja contra
outra cultura, mas acho que nós temos mitos muito mais legais que o Hallowen”,
diz.
Quem quiser uma prova viva,
pode dar um pulo em Botucatu. “A probabilidade de ver o bichinho é grande, mas
a pessoa também pode não ver, e digo isso para não passar por mentiroso”,
acrescenta Oswaldo. Mentira que, em se tratando de mitos, confunde-se com a
própria imaginação.
Para Guimarães, criar saci
significa divulgar os “causos” e atuar para manter acesas tradições como essa.
“Mais do que criar o saci na mata, queremos criá-lo na imaginação das pessoas”,
explica. “Quando não havia luz elétrica e a maioria da população morava na
roça, muita gente criava saci. Os contadores de histórias eram os ídolos da
meninada. Talvez o racionamento de energia ajude nossa causa”, diz. Para ele, a
tevê é uma das maiores responsáveis pela extinção dos sacis. O horário das
histórias se transformou no horário da novela. “Já não existem figuras como Tio
Barnabé”, resume Guimarães. No Sítio do pica-pau amarelo, de Monteiro Lobato,
Tio Barnabé é o velho matuto que ensina Pedrinho a capturar o negrinho de uma
perna só: “Arranja-se uma peneira de cruzeta, dessas com duas taquaras mais
largas que se cruzam bem no meio e servem de reforço, e fica-se esperando um
dia de vento forte em que haja rodamoinho de poeira e folhas secas. Chegada
essa ocasião, vai-se com todo o cuidado para o rodamoinho e zaz! – joga-se a
peneira em cima. Em todos os rodamoinhos há saci dentro”, garante o velho.
Lobato é considerado o maior
“sacizólogo” do País. Em 1917, antes mesmo de inventar o Sítio, incentivou os
leitores do jornal O Estado de S.Paulo a enviar “causos” à redação. O resultado
foi a publicação do livro O sacy-pererê – resultado de um inquérito. Para o pai
de Emília e Tia Nastácia, os sacis nascem em bambuzais, vivem 77 anos, têm um
furo na palma da mão e, quando morrem, se transformam em orelhas-de-pau. Os
sacis imaginados por José Oswaldo Guimarães são diferentes. Primatas de pele
escura, parecidos com o homem, eles atingem um metro e meio de altura e têm uma
penugem cor de fogo na cabeça, parecida com um gorro. “O cachimbo também não
passa de um pedaço de bambu que eles gostam de mastigar”, explica
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