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sexta-feira, 18 de julho de 2014

O pioneirismo inglês durante a Revolução Industrial.


Indústria têxtil na Inglaterra do séc. XVIII.


            A Revolução Industrial na segunda metade do século XVIII na Inglaterra não foi acontecimento casual. Ela se verificou então e aí e só poderia ter lugar aí, pois os outros países não estavam preparados. Há fortes razões para o pioneirismo inglês, vivendo no século XVIII o que outros só conheceriam no século XIX. Muitos fatores contribuíram: a Inglaterra tinha unidade política que a Europa não atingira, pois foi a primeira a superar em parte o atomismo do regime feudal.

            As grandes mudanças verificadas preparam o terreno para o industrialismo, impondo-o antes que em qualquer outra parte. São alterações em profundidade em três setores, convencionalmente chamadas revoluções: Comercial, Agrária e Intelectual. Prepara-se a área para o novo, propiciador de outra Revolução,  a industrial.

            Em primeiro lugar, caracteriza-se a Revolução Comercial. O comércio, estagnado grande parte da Idade Média, começa a renascer com as Cruzadas. Seu impulso se dá nos séculos XV e XVI, com os descobrimentos, realizados sobretudo por portugueses e espanhóis. Ante o êxito desses povos, outros, como holandeses, franceses, ingleses se empenham na aventura. Com os viajantes novos povos e terras são conhecidos. Produtos até então ignorados são descobertos e integram a pauta de consumo do europeu.  Outros, já vistos e sabidos, tem o uso aumentado. O europeu vai buscar especiarias, sedas, metais e outros artigos ainda não de seu conhecimento, intensificando o comércio. Os europeus exploram os povos obtendo preciosidades em troca de quase nada ou do simples saque. O resultado é o impulso do processo criativo, Os inventos são provocados pela maior procura. Verifica-se a Revolução Comercial, na qual destacam-se Inglaterra e Holanda.

            A Grã-Bretanha obtém maiores êxitos, sobretudo com a política de Cromwell durante a qual é votado o ato de Navegação estabelecendo que cabotagem e pesca só podem ser realizadas por navios britânicos, produtos de outra origem só trazidos por navios das respectivas nacionalidades ou por navios com três quartos da equipagem e comandante britânicos. A Holanda, grande prejudicada protestou, chegando mesmo à guerra. Em 1652-54, na qual é naturalmente derrotada.

            Ainda no século XVII verifica-se a revolução de 1688, eminentemente religiosa e política, em defesa do protestantismo e das liberdades parlamentares e públicas em geral, contra o absolutismo e a religião do rei. A revolução gloriosa teve um caráter econômico porque foi fundado o Banco de Inglaterra, a Companhia das Índias, de tanta importância no futuro. Expandem seu comércio para Oriente e trazem o algodão e vários tecidos da Índia. Também trazem o chá e as porcelanas da China e outros artigos.

            Esta é uma das formas do Mercantilismo, o Comercialista, em que os ingleses se distinguiram. Num primeiro momento, o desenvolvimento econômico é um processo de expansão do comércio. O agente dinâmico é o comerciante.

            Em segundo lugar houve a Revolução Agrária.  O estudo da Revolução Industrial implica em conhecimento da propriedade fundiária e da produção agrícola, não só pela ocupação da terra por atividades industriais como pelo abastecimento das populações urbanas e das fábricas.

            A Inglaterra é país de grandes propriedades. Tal característica não é antiga, pois durante séculos foi partilhada por inúmeras porções de terra, que se dividiam entre grande parte da população.

            Um dos elementos fundamentais da história inglesa são essas demarcações ou lei das cercas. É um golpe no open Field system ou no sistema de campos abertos. Acontece que com as cercas não se faz uma reforma agrária popular, mas forma-se a grande propriedade.

            As pessoas são obrigadas a migrar para as cidades que abrigam populações que não têm onde morar o não têm habilitação para tarefas urbanas. Vão constituir a farta mão-de-obra disponível, que se sujeita a qualquer salário vivendo em condições de miséria, promiscuidade, falta de conforto e higiene, em condições sub-humanas.

            Constituem variantes do que Marx chamou “o exército industrial de reserva”. A esses desalojados pelas leis acresce a presença dos imigrantes notadamente irlandeses, como judeus da Europa Central, que deixam suas terras em busca de uma esperança de vida melhor.

            A Inglaterra, antes exportadora de cereais, tem de comprar de outros países, se sua produção é insuficiente para atender a população cada vez mais numerosa. Aumentaram a pobreza, a miséria, a má situação das cidades: feias, insalubres, insuficientes para abastecer as populações. O país deixou as plantações pelas pastagens. Pensava-se na indústria, não na agricultura. Na indústria estava o futuro da riqueza.

            Em terceiro lugar temos como fator principal a Revolução intelectual. Provoca uma mudança de mentalidade, com o abandono da posição tradicional do pensamento, dominante na Antiguidade e na Idade média, com o desprezo do trabalho manual ou mecânico, da experiência.

            Na renascença, com os humanistas, a filosofia torna-se naturalista. Multiplicam-se os nomes de filósofos e cientistas, com o culto da natureza, da experiência, da mecânica. Agora a ciência dá sentido científico ao estudo e as inquietações. A técnica, em suas feições mecânicas passa a ser considerada. Essa mudança de mentalidade representa transformação intelectual e cria o clima de crítica sistemática. Uma das conseqüências da mudança de mentalidade é o interesse pela indústria que contribuiu significativamente para que a Revolução Industrial pudesse se originar na Inglaterra.

Autor: Leandro Claudir. Criador e administrador do Projeto Construindo História Hoje e Acadêmico de História.

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IGLESIAS, Francisco. A revolução Industrial. São Paulo: Editora Brasiliense, 1982.

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